LIÇÃO Nº 10 – A PROMESSA DA PROTEÇÃO DIVINA
Deus promete proteção ao justo.
INTRODUÇÃO
-Na sequência do estudo das promessas que Deus nos dá, estudaremos a promessa da proteção divina, também chamada de promessa da segurança, que é uma das consequências da salvação e da paz interior que desfrutamos quando aceitamos a Cristo como nosso Senhor e Salvador.
-Segurança não se confunde, porém, com imunidade a problemas e dificuldades, algo que não foi prometido por Deus. Jesus, aliás, disse que, no mundo, teríamos aflições (Jo.16:33), prova de que segurança não é imunidade ao dia mau, sempre presente na vida do homem (Ec.12:1).
I – O QUE É SEGURANÇA
-“Segurança” é palavra de origem latina, que vem do radical “cur”, que tem o significado de “cuidado, guarda, proteção”. Em latim, “assecuro” significa “dar tranquilidade, sossego’”, enquanto que “securus” é “aquele que está livre de cuidados ou preocupações, confiante, tranquilo, sossegado” e “securitas” tem o sentido de “tranquilidade, sossego, paz”.
-No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra “segurança” é apresentada com os seguintes significados:
“ação ou efeito de tornar seguro; estabilidade, firmeza, seguração”; ”ação ou efeito de assegurar e garantir alguma coisa; garantia, fiança, caução”; ”estado, qualidade ou condição de uma pessoa ou coisa que está livre de perigos, de incertezas, assegurada de danos e riscos eventuais, afastada de todo mal”; “estado, condição ou caráter daquilo que é firme, seguro, inabalável, ou daquele com quem se pode contar ou em quem se pode confiar inteiramente”; “situação em que não há nada a temer; a tranquilidade que dela resulta”; “conjunto de processos, de dispositivos, de medidas de precaução que asseguram o sucesso de um empreendimento, do funcionamento preciso de um objeto, do cumprimento de algum plano etc”; “certeza, infalibilidade; convicção; evidência”; “força ou firmeza nos movimentos; firmeza de ânimo, resolução, afoiteza, autoconfiança”; “protesto, afirmação”; “prenhez das fêmeas dos quadrúpedes”; “atitude de confiança nos próprios recursos, presença de espírito, autodomínio, geralmente aliada à certeza de pertencer a um grupo social valorizado ou de ser respeitado em seu grupo social”; “estado em que a satisfação de necessidades e desejos se encontra garantida”.
-No Antigo Testamento, a palavra “segurança” (Is.32:17; Os.2:18. v.g.), no mais das vezes, é tradução do hebraico “betach”(תשנ), que “… aparece mais de 40 vezes no AT e é mais frequentemente traduzido por ‘seguro’, ‘em segurança’ ou ‘com confiança’(…). De ‘betach’ provém ‘betachon’, que significa ‘confiança’, ‘convicção’ ou ‘esperança’” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Palavra-chave seguro . Dt.33:12, p.320).
-Conforme os estudiosos das Escrituras, ‘betach’ denota “…o estado de confiança, proteção e segurança que pertencem àqueles que confiam e contam com o Senhor” (op.cit).
-Em o Novo Testamento, a palavra “segurança” 9Fl.3:1; I Ts.5:3, v.g.) é o grego “asphaleia” (άσφάλεια), cujo significado é “certeza”, “estabilidade”, “estado de liberdade contra a ação dos inimigos e dos perigos”, “ausência de dúvidas”, “verdade inabalável”. Aliás, a palavra, no grego, também tem o sentido de “prender”, “firmar”, “apertar” (At.16:24, v.g.).
-A segurança é, em primeiro lugar, o “ato ou efeito de tornar seguro, estabilidade, firmeza”. Vemos, portanto, que a segurança é uma ação, um ato que faz com que alguém se torne estável, se torne firme.
-Quando o Senhor formou o homem, pô-lo num jardim que fez especialmente para ele no Éden (Gn.2:8), jardim que tinha toda árvore agradável à vista, e boa para comida, além da árvore da vida no meio e da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:9). Como se não bastasse, vinha o Senhor ao encontro do homem na viração do dia (Gn.3:8).
-Todas estas circunstâncias, mostram, claramente, que um dos objetivos do Senhor ao fazer o homem foi o de que este ser não tivesse qualquer preocupação, tivesse consciência de que tudo que estava à sua volta contribuía para a sua sobrevivência e para a seu bem-estar.
-Tinha condições psicológicas favoráveis (árvores agradáveis à vista), condições físicas favoráveis (árvores boas para comida), condições espirituais favoráveis, que permitiam a comunhão com o Senhor (a árvore da vida, a comunicação diária com o Senhor e a manutenção da obediência mediante a abstenção do fruto da árvore da ciência do bem e do mal).
-Isto é a segurança com que Deus criou o homem: um ambiente à sua volta que conferisse ao ser humano condições para um completo bem-estar, para seu crescimento espiritual contínuo e para o exercício do domínio sobre a criação terrena.
-No entanto, ao pecar, o homem perdeu este estado de firmeza, de estabilidade. Ao desobedecer ao Senhor, já não pôde mais manter a comunhão com Deus, tanto que, na viração do dia, tentou esconder-se.
-Não teve mais acesso à árvore da vida e, também, perdeu as condições favoráveis que a natureza lhe oferecia. Passou a depender de seu esforço contínuo para poder sobreviver, numa terra que passou a produzir espinhos e cardos, que passou a ser um obstáculo para a sua sobrevivência, sobrevivência esta que jamais se perduraria, vindo a morte física a ser um inimigo insuperável. Surge, então, a insegurança do homem, cuja “única certeza” passou a ser a morte, esta “angústia de quem vive”, como afirmou o poeta brasileiro Vinícius de Moraes, reproduzindo o pensamento de uma corrente filosófica denominada de “existencialismo”.
-Vemos, portanto, que a segurança que havia sido criada por Deus como um necessário invólucro da existência humana, foi perdida com o pecado e, portanto, passou a ser algo que o homem não mais poderia alcançar, vez que o pecado impediu que o homem tivesse qualquer segurança.
-Este mundo não pode oferecer qualquer segurança e, mesmo quando o ser humano, por causa de sua posição privilegiada na vida terrena, acha estar em situação de bem-estar e livre de qualquer perigo e dificuldade, a Bíblia nos mostra que tal sensação de segurança é uma ilusão, uma fantasia que, cedo ou tarde, assim se demonstrará.
-Asafe, no salmo 73, mostra ter quase acreditado nesta “falsa segurança” (Sl.73:3,12), mas, ao entrar no santuário de Deus, pôde entender a verdade, a realidade, o “fim deles” (Sl.73:17), fim este que, às vezes, é verificado nesta própria vida, mas que, para muitos, só será observado claramente “naquele dia” (Ml.3:17,18).
Da mesma forma, Jesus, na parábola do rico insensato, mostra-nos quão ilusória é esta “falsa segurança” decorrente da posição privilegiada na vida terrena (Lc.12:13-21) ou o que é profetizado a respeito daqueles
que se sentirão extremamente seguros durante a Grande Tribulação por ocuparem posições de prestígio e prosperidade material durante a ditadura do Anticristo (I Ts.5:3).
-Vemos, portanto, que a segurança de que estamos a tratar nada tem que ver com esta ilusão, com esta sensação advinda de uma posição privilegiada do homem na sua vida terrena, que nada mais é que uma sensação mentirosa, um engano decorrente da natureza pecaminosa do ser humano, um ardil do inimigo de nossas almas.
Não é desta segurança que vamos tratar, mas da verdadeira e genuína segurança, cuja origem está única e exclusivamente em Deus.
-Segurança, em segundo lugar, é “ação ou efeito de assegurar e garantir alguma coisa; garantia, fiança, caução”. A segurança é um ato que garante alguma coisa a alguém.
-Quem garante algo, demonstra sua firmeza, sua condição de dar proteção a um compromisso. Eis mais um motivo pelo qual o homem não pode conferir segurança a si mesmo, tendo, mesmo, as Escrituras demonstrado que “maldito é o homem que confia no homem (Jr.17:5)”, numa clara afirmação de que o homem não tem condição alguma de oferecer segurança a quem quer que seja, muito menos a si próprio.
-Com efeito, dominado que está pelo pecado (Gn.4:7; Jo.8:34), o homem jamais faz o que quer, mas, sim, o que determina a sua natureza pecaminosa (Rm.7:14-24).
-Diante disto, não pode o homem garantir coisa alguma, nem a si mesmo. Não é à toa que o apóstolo Paulo denunciou que os homens, no pecado, têm como característica a infidelidade aos contratos (Rm.1:31), pois são incapazes de honrar os compromissos que assumem. Como, pois, pode oferecer segurança? Como pode ter segurança?
-Em terceiro lugar, segurança é “estado, qualidade ou condição de uma pessoa ou coisa que está livre de perigos, de incertezas, assegurada de danos e riscos eventuais, afastada de todo mal”.
-Ora, o homem, após ter pecado, só adquiriu, como vimos supra, uma certeza, a de que morrerá fisicamente.
A vida debaixo do sol é repleta de lutas e infortúnios, de uma luta contínua pela sobrevivência, com a oposição da natureza, uma vida de aflições, como disse o Senhor Jesus.
-As adversidades, as tempestades são uma constante e, como os homens não são fiéis, há uma constante tensão e desconfiança reinantes nas relações entre os homens, relações, aliás, absolutamente necessárias, pois o homem não é um ser solitário, mas um ser que necessita viver em grupo para poder sobreviver.
-Não bastasse isso, que já cerca a vida humana de perigos, riscos e incertezas, vemos que o mal habita o próprio homem, como já mencionamos na descrição que Paulo faz do homem no pecado, de forma que como pode o homem ter segurança se não tem como se afastar dos perigos, das incertezas e do mal?
-Em quarto lugar, “segurança” é “estado, condição ou caráter daquilo que é firme, seguro, inabalável, ou daquele com quem se pode contar ou em quem se pode confiar inteiramente”.
-Ora, pelo que temos visto, na sua condição pecaminosa, não há como o homem poder confiar em si mesmo ou em qualquer outro.
“Maldito é o homem que confia no homem” (Jr.17:5), de forma que não há como o homem se fiar em outro homem, muito menos nas riquezas ou em qualquer outro bem que exista em todo este Universo. Nada lhe pode dar a firmeza.
O homem no pecado, como bem afirmou o salmista, está em um “charco de lodo”, num “lago horrível” (Sl.40:2), expressões que designam a falta de firmeza em que se baseia a vida humana.
-Em quinto lugar, “segurança” é “situação em que não há nada a temer; a tranquilidade que dela resulta”.
-Ora, o homem, como demonstrou o primeiro casal na viração do dia da queda, tem medo de Deus, não tem condições de sequer contemplá-l’O, porquanto sabe que está nu espiritualmente, que se encontra em falta diante do Senhor.
O homem busca sempre esconder-se de Deus, inclusive ao negar a Sua própria existência (Sl.14:1), numa vã tentativa de poder justificar a sua maldade.
-Neste medo do Senhor, neste pavor no qual sente a total falta de sentido da vida sem a presença divina, o homem mostra toda a sua insegurança, insegurança esta que, quanto mais se tenta fugir da presença divina, mais se intensifica, gerando a situação de violência e criminalidade hoje reinantes neste mundo, onde a vida humana não tem mais valor algum, onde há um completo aviltamento até da existência.
-Oportuno aqui observar que o medo de Deus, característica que, pasmem, existe em alguns que cristãos se dizem ser, é um sentimento que revela a falta de segurança, o que, como ainda haveremos de ver neste estudo, é incompatível com quem serve verdadeiramente ao Senhor e pertence ao Seu povo.
-A palavra “temer”, em língua portuguesa, possui dois significados bem distintos: um é o de reverência, respeito, consideração, submissão, que é o sentido da expressão bíblica “temer ao Senhor”. Os “tementes a Deus” são pessoas que têm a Deus como seu Senhor, fazem a Sua vontade, consideram-n’O e Lhe obedecem.
-Um segundo significado de “temer”, porém, é “ter medo”, algo que, ao contrário do primeiro significado, não é apreciado pela Palavra de Deus que, aliás, por 365 vezes, recomenda ao servo de Deus que “não tema”, ou seja, “não tenha medo”.
-O medo é sinal de insegurança, de falta de confiança, de falta de tranquilidade e, como temos visto, este sentimento é notório naqueles que não têm comunhão com Deus, que não desfrutam da salvação.
-Em sexto lugar, “segurança” é “conjunto de processos, de dispositivos, de medidas de precaução que asseguram o sucesso de um empreendimento, do funcionamento preciso de um objeto, do cumprimento de algum plano etc.”
-Ora, como temos visto, o homem, embora possa planejar o que pretende fazer, não é digno de crédito, não é fiel, até porque não faz o que quer, mas o que o pecado, que nele habita, deseja.
-Por isso, não há como se ter “segurança” nos projetos humanos, no cumprimento do plano estabelecido pelo homem, até porque o ser humano controle algum tem sobre os fatores que se fazem presentes no cumprimento de um determinado plano. Tiago mostra que o homem pode tudo planejar, mas nada pode garantir (Tg.4:13- 17).
-“Segurança”, em sétimo lugar, é “certeza, infalibilidade; convicção; evidência”. Já vimos que o ser humano vive em constante incerteza, é falível, não pode garantir sequer o cumprimento de seus desejos, não tem qualquer firmeza. Como, então, dizer que tem ele segurança?
-“Segurança”, em oitavo significado que lhe dão os dicionaristas, é “força ou firmeza nos movimentos; firmeza de ânimo, resolução, afoiteza, autoconfiança”.
-Também já observamos que a autoconfiança é ilusória, mesmo quando se entende firmada numa posição privilegiada, como Jesus deixou claro na parábola do rico insensato.
-Qualquer movimento que se mostre firme, resoluto, forte, mas baseado no próprio homem, que é falível e sem qualquer condição de garantir seja lá o que for, é tão duradouro quanto este homem em que se baseia, não passa de algo passageiro, cuja consistência e durabilidade é a mesma da flor da erva (I Pe.1:24).
-Quem faz a sua própria vontade, ainda que modo aparentemente firme e resoluto, faz algo que é passageiro, sem qualquer durabilidade, porque “o mundo passa e a sua concupiscência” (I Jo.2:17a).
-A nona acepção de “segurança” é “protesto, afirmação”. Neste sentido, aproximamo-nos do estudo deste trimestre, pois já temos visto que a promessa é uma “afirmação”. A segurança, portanto, é uma afirmação, uma demonstração de posição, uma declaração que define um lugar, uma postura.
-Mas, como pode o homem, tão falível, tão sem autoridade, em virtude do pecado, declarar algo ou afirmar alguma coisa que seja digna de crédito?
-Lembramos, aliás, o significado jurídico de “segurança”, que é a ordem emanada da autoridade judiciária a uma outra autoridade para que se faça valer um direito líquido e certo de alguém que foi prejudicado por essa autoridade.
Trata-se, assim, da reafirmação da autoridade da lei contra alguém que detém uma autoridade. Como o homem pode querer fazer algo semelhante, se não domina sequer a si próprio?
-O décimo significado de “segurança” é “prenhez das fêmeas dos quadrúpedes”, um significado que, a princípio, nada teria que ver com aspectos espirituais como os que estamos a estudar.
-Entretanto, ao se denominar de “segurança” a prenhez das fêmeas dos quadrúpedes, a nossa língua mostra que, na segurança, há uma situação de prisão, de vinculação.
Além do mais, esta prisão, esta vinculação são associadas a uma atitude de espera, espera esta inconsciente, vez que os quadrúpedes são irracionais.
-Aprendemos com este significado que a segurança é uma atitude que nos vincula a uma espera, espera esta que independe do exercício da razão, que deve ser feita ainda que a lógica nos tenda a tomar um outro caminho.
-O décimo primeiro significado de “segurança” é “atitude de confiança nos próprios recursos, presença de espírito, autodomínio, geralmente aliada à certeza de pertencer a um grupo social valorizado ou de ser respeitado em seu grupo social”.
-Este significado é o da “falsa segurança”, que, como salientamos, mais de uma vez, foi condenado pelo próprio Jesus na parábola do rico insensato.
-A verdadeira segurança, embora se dê pelo fato de se pertencer a um grupo todo especial, que é a Igreja, não é confiança nos próprios recursos, mas, pelo contrário, a confiança única e exclusiva em Deus (Sl.20:7).
-O décimo segundo significado de “segurança’ é “estado em que a satisfação de necessidades e desejos se encontra garantida”.
-Ora, com o pecado, esta garantia se perdeu e as necessidades do homem nunca foram satisfeitas, até porque, dentro dos propósitos divinos, sem o acesso à árvore da vida e a comunhão com Deus, jamais o homem estaria completo.
II – O QUE É PROTEÇÃO
-Após analisarmos o que é “segurança”, outro nome com que se conhece a promessa divina que estamos a estudar, também falaremos aqui do significado de “proteção”.
-Já vimos que “segurança” significa “cuidado, guarda, proteção”, de modo que a ideia de segurança abarca, de certo modo, a proteção.
-O Dicionário Michaelis diz que proteção é “o ato ou efeito de proteger(-se)”, “ato de proteger alguém ou algo de um perigo, de um mal”; “auxílio para o que é mais fraco ou menor”; “cuidado ou assistência especial dispensados a alguém”; “auxílio de ordem material ou moral, concedido por um indivíduo, um grupo etc.”; “abrigo contra os rigores do tempo, resguardo”; “o que acondiciona, protegendo contra rachaduras, quebra, esmagamento, embalagem”.
-Na Versão Almeida Revista e Corrigida, segundo a Concordância Bíblica Joshua, a palavra “proteção” aparece apenas duas vezes. Em Sl.59:16, num mictão de Davi (i.e., um salmo que é uma “inscrição”, uma “preciosidade”, que deve ser particularmente apreciado) é dito que o Senhor foi o seu alto refúgio e proteção no dia da angústia do salmista.
-Em Is.4:5, o profeta traz uma mensagem em que se diz que o Senhor criará sobre toda a habitação do monte de Sião e sobre as suas congregações, uma nuvem de dia e uma fumaça e um resplendor de fogo chamejante de noite, porque sobre toda a glória haverá proteção.
-Em ambos os textos, a palavra hebraica é “mânôs” (מןנוס), cujo significado é “…uma retirada (literal ou figurado); (abstrato)uma fuga: rapidamente, fuga, refúgio” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 4498, p.1756).
-O que se percebe é que “proteção” é uma ação divina que dá escape, fornece fuga às adversidades, intempéries existentes nesta vida, a criação de um local onde o servo do Senhor está livre das ações de quem lhes quer o mal, de quem lhes faz o mal.
-Notemos que, por primeiro, a palavra é utilizada para se referir ao livramento dado pelo Senhor nos momentos difíceis, que não foram poucos, da vida do rei Davi. O Salmo 59 começa com um pedido do salmista para que o Senhor o livre de seus inimigos, daqueles que se levantam contra ele.
-Agora, agradecido, o salmista reconhece que o Senhor foi seu alto refúgio e proteção no dia da sua angústia, foi “o lugar em que o salmista se escondeu” (Sl.32:7), “o esconderijo do Altíssimo à sombra do Onipotente” (Sl.91:1).
-A proteção, portanto, é uma “retirada para um lugar seguro”, é o deslocamento para um abrigo, para um lugar aonde os inimigos e as maldades não podem chegar.
-Daí porque o profeta ter dito que este lugar seria criado pelo Senhor no monte de Sião e sobre as suas congregações, ou seja, no lugar da “habitação de Deus”, pois é o monte em que se encontrava o templo e onde estava a glória divina, no lugar santíssimo.
-O profeta faz, então, alusão à nuvem que guiava o povo no deserto durante o dia e que se tornava uma coluna de fogo durante a noite (Ex.40:36-38). O povo vivia debaixo desta nuvem e coluna e, assim protegidos pelo Senhor, puderam chegar à Terra Prometida.
-A proteção é, pois, a guarda do mal e do perigo. Temos a segurança de que já falamos porque o Senhor nos protege, ou seja, providencia um escape para que o mal não nos atinja, para que não fiquemos à mercê do inimigo.
-Proteção é “o auxílio para o mais fraco ou menor” e é exatamente isto que o Senhor faz conosco. O salmista, por mais de uma vez, reconhece que o Senhor é o seu auxílio (Sl.33:20; 40:17; 63:7; 70:5; 94:17; 115:9-11; 146:5).
-Proteção é “o cuidado ou assistência especial dispensados a alguém”. É exatamente isto que o Senhor faz conosco, Ele cuida de nós (Sl.40:17).
-Proteção é, também, “abrigo contra os rigores do tempo, resguardo, o que acondiciona, protegendo contra rachaduras, quebra, esmagamento”.
-O Senhor é o abrigo em que Seus servos se refugiam até que passem as calamidades (Sl.57:1). O Senhor fundou a Sião para que os opressos do povo nela encontrem abrigo (Is.14:32).
III – A PROMESSA DA PROTEÇÃO DIVINA OU SEGURANÇA
-Diante do que verificamos, em doze significados da palavra “segurança” e em quatro significados a palavra “proteção”, o homem, em razão de seu estado pecaminoso, jamais se encontra em segurança, jamais está protegido.
-Desde que o pecado entrou no mundo, a segurança tornou-se algo impossível para o ser humano. Assim, a segurança somente poderia retornar a existir no homem se o problema do pecado fosse resolvido.
-Eis a razão pela qual a segurança ou proteção é um efeito da salvação, que somente se pode falar em segurança ou proteção para quem alcançou a salvação.
-A segurança, portanto, é algo destinado ao povo de Deus, motivo por que está, nas Escrituras, vinculada ou a Israel, ou à Igreja. Não se trata, portanto, de uma promessa geral, mas, sim, de uma promessa “nacional’, válida tanto para Israel quanto para a Igreja.
-O profeta Isaías bem o demonstra, ao afirmar que “…a operação da justiça será repouso e segurança para sempre” (Is.32:17).
-A segurança é resultado da operação da justiça e já vimos que a justiça, no homem, resulta da justificação, que é um dos instantes do processo da salvação (Rm.5:1).
-Assim como a paz interior, que já estudamos em lição anterior, a segurança é uma consequência da salvação, uma promessa que Deus dá àqueles que resolvem Lhe obedecer (os israelitas na antiga aliança e, na atual dispensação, a Igreja).
-Notemos que, ao falar em “proteção”, o texto bíblico fala no “monte de Sião” ou se reporta à “nuvem-coluna de fogo”, em nítida alusão ao povo de Deus, pois o Seu povo é aquele que “habita no tabernáculo, no santo monte” (Sl.15:1), aquele que, por ter feito um pacto com o Senhor, tem a Sua companhia de dia e de noite durante a sua peregrinação terrena.
-Como vimos, o homem não pode alcançar segurança em si mesmo. A segurança é impedida pelo pecado. Desta maneira, somente poderá haver segurança se houver salvação e a salvação tem origem em Deus.
-Daí porque a segurança ser algo que somente pode provir da parte do Senhor. O salmista, no Salmo 27, o esclarece quando afirma que “o Senhor é a minha luz e a minha salvação: a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida: de quem me recearei?” (Sl.27:1)
Não nos esqueçamos de que o salmista em questão é Davi, um guerreiro, alguém cuja coragem era digna de nota, mas que fazia questão de afirmar que a origem de sua segurança não estava em seus méritos supostos, mas única e exclusivamente na salvação proveniente de Deus.
-A segurança é um sentimento, um estado, uma qualidade que só desfruta aquele que tem Deus como o seu Salvador, que tem comunhão com Deus, que estabeleceu paz com o Senhor ao ter perdoados os seus pecados e sido justificado pela fé (Rm.5:1).
Não é possível segurança sem que o pecado seja extirpado e, por isso, somente haverá paz e segurança na sociedade humana quando o próprio Jesus reinar sobre a Terra no milênio, época em que o diabo estará preso e, portanto, a atuação do pecado radicalmente diminuída, quase que completamente extirpada. Num ambiente assim, não há porque não haver segurança.
-A segurança está reservada ao “amado do Senhor” (Dt.33:12). Em suas bênçãos às tribos, Moisés, que ali estava sendo um porta-voz do Espírito de Deus, ao se dirigir a Benjamim, fala que “o amado do Senhor habitará seguro com Ele, todo o dia o Senhor o protegerá e Ele morará entre os Seus ombros”.
-Esta afirmação é uma promessa de Deus, pois é a afirmação de algo feita num instante e que se concretizará em outro, sempre sob o ponto-de-vista humano. Esta promessa destina-se ao “amado do Senhor”.
-Aqui, a expressão não é geral, no sentido de toda a humanidade, mas, sim, daquele que agrada a Deus, de “amigos de Deus”, daqueles que conhecem a Deus (Jo.15:15).
É, precisamente, aquele que “habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente”, de que fala o Sl.91:1. Somente tem segurança aquele que se submete ao Senhor, que é Seu servo obediente e fiel.
-Josafá também isto entendeu, ao declarar ao povo de Judá que deveriam crer no Senhor para estarem seguros (II Cr.20:20), ainda que a palavra aqui não seja “betach”, mas “’aman” (ךמא), cujo significado é “firme”, “estabelecido” e que, portanto, é um sinônimo da palavra “betach”.
-Sem que se tenha fé em Deus, não se pode ter segurança, pois a segurança é decorrência da fé em Deus, da fé salvadora que, como vimos, é um dos elementos indispensáveis para a salvação.
-A segurança é uma sensação que decorre da convivência com Deus. Quando somos justificados, temos paz com Deus (Rm.5:1). Ora, ao termos paz com Deus, voltamos a desfrutar da comunhão com Ele, ou seja, passamos a nos comunicar com o Senhor, a ter a Sua mesma vontade, a dialogarmos com Ele, a sermos guiados por Ele.
-Ora, a partir do momento em que mantemos esta comunhão com Deus, temos a Sua orientação e a Sua direção, passamos a estar no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente.
-A expressão do salmo 91 é reveladora. Quando aceitamos a Cristo como Senhor e Salvador das nossas vidas, passamos a ser escondidos em Deus. Estar escondido em Deus é ter intimidade com o Senhor, é passar a saber o que Deus quer, passar a conhecê-l’O.
-Somente quem tem o Espírito de Deus alcança esta posição, passando a ser um homem espiritual, que tem a mente de Cristo (I Co.2:9-16). São-nos revelados os mistérios de Deus, os Seus segredos, motivo pelos quais passamos a ser porta-vozes do Senhor (Am.3:7). Passamos a ser amigos de Deus (Jo.15:15), assim como Abraão, isto porque passamos a viver por fé.
-Para termos intimidade com Deus, para desfrutarmos do gozo de conhecer os Seus segredos e mistérios, além de crermos em Jesus, faz-se necessário que aprendamos da Sua Palavra, que nela meditemos de dia e de noite (Sl.1:2), porquanto é principalmente na Palavra que ouvimos Deus falar e a vida do verdadeiro e genuíno servo do Senhor é uma vida de comunicação contínua com Deus.
-A orientação e direção de Deus na vida do Seu servo dá-se, primordialmente, pela Palavra, que é “lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho” (Sl.119:105).
Quando passamos a conhecer ao Senhor, Ele Se torna a nossa luz e, iluminados, passamos a conhecê-l’O cada vez mais, a nos deixar envolver por Ele com cada vez maior intensidade (Os.6:3), de tal modo que passamos a ter o Senhor como a nossa luz (Sl.27:1).
-Envolvidos por Deus na Sua Palavra, passando a ter a mente de Cristo, estando na luz (I Jo.1:7), temos a experiência de nossa contínua purificação no sangue de Cristo, praticando a verdade (I Jo.1:5,6).
Não é à toa que, no Salmo 91, quando o salmista fala da segurança daquele que está debaixo das asas do Senhor, imediatamente faz menção da verdade, isto é, da Palavra de Deus (Sl.91:4; Jo.17:17).
-É interessante verificar que, enquanto nos envolvemos mais e mais com o Senhor, entramos na “sombra do Onipotente”, somos “escondidos em Deus”, de modo que o mundo já não nos consegue discernir, não consegue entender onde estamos e em que pensamos, porque não são capazes de um discernimento espiritual, mas, enquanto para o mundo nos tornamos “escuros”, isto é, incompreensíveis, impenetráveis, para Deus somos luz, estamos na luz e nossas obras são manifestas e conhecidas (Jo.3:20,21), a tal ponto que, mesmo com o entendimento cego pelo deus deste século (II Co.4:4), os ímpios acabaram por glorificar a Deus por causa destas obras feitas em Deus (Mt.5:16).
-Esta vida sob orientação de Deus, de acordo com a Palavra de Deus é a responsável pelo surgimento da “segurança”.
-O salmista, no salmo 40, disse que nossos pés são postos em uma rocha, rocha esta que simboliza a Cristo, que simboliza a Sua Palavra, como o Senhor deixa claro no término do sermão do monte (Mt.7:24-27).
No Salmo 27, o salmista também diz claramente que o lugar de segurança que o impede de ter medo de seus inimigos, mesmo no dia da adversidade, é sobre a rocha, o lugar mais íntimo da casa do Senhor, do tabernáculo, do pavilhão do Senhor (Sl.27:5).
-A segurança é prometida a Deus, mas somente pode alcançá-la o “amado do Senhor”, aquele que aceita ser orientado e dirigido pela Palavra do Senhor, aquele que busca a luz para a sua senda, luz esta que é a Palavra de Deus, as Santas Escrituras.
Quando se aceita a direção e orientação divinas para a vida, passa-se a ter uma vida segura, pois, assim como ocorreu com o povo de Israel no deserto, o Senhor guia a Igreja, durante esta peregrinação terrena, em segurança (Sl.78:53).
-A segurança é um estado de tranquilidade, de certeza que vem do aprendizado dos segredos de Deus, da experiência da comunhão com o Senhor.
Por isso, em Seu diálogo com Nicodemos, o Senhor Jesus disse que o novo nascimento produz a visão do reino de Deus (Jo.3:3), mas é o nascimento pela água e pelo Espírito que gera a entrada no reino de Deus (Jo.3:5).
-A segurança que confirma a fé salvadora proveniente da parte de Deus, a convicção de que se está caminhando para o céu, de que se está agindo de acordo com a vontade de Deus e que gera a certeza de que se está agradando a Deus e de que não há o que temer, isto vem de uma vida de aprendizado na Palavra de Deus e de direção por parte do Espírito Santo.
-Como temos visto, a “segurança”, em primeiro lugar, é um ato de estabilidade, de firmeza, mas, para que tenhamos tal firmeza, é preciso que tenhamos os nossos pés bem firmados, ou seja, que possamos ter uma garantia, algo sólido, algo em que possamos confiar.
-Quem aceita a Cristo, crê n’Ele e na Sua Palavra e, ao experimentar a libertação do pecado, pode bem confiar ainda mais em Deus, pois começam a se cumprir as promessas feitas a nós.
O servo de Deus, ao experimentar o derramamento do amor de Deus em seu coração, a vinda do Espírito Santo para nele fazer morada, o perdão dos pecados e a vivificação do seu espírito, não tem como deixar de ter a esperança e ver aumentada a sua confiança nas demais promessas vindas da parte de Deus. Esta esperança, como diz Jó 11:18, gera a confiança, gera a segurança do salvo.
-A esperança que vem da parte do Senhor, resultado da nossa salvação, não traz confusão (Rm.5:5), de forma que, como passamos a ser dirigidos pelo Senhor e a ter a mente de Cristo, nossos olhos espirituais não se guiam mais pela vista, mas pela fé (II Co.5:7).
-Esta esperança, aliás, é a âncora da alma segura e firme (Hb.6:19). Temos a garantia do Espírito (II Co.5:5) e, por termos garantia, temos segurança, pois, como vimos, segurança é ter garantia. Por isso, “temos confiança” e nem a morte física nos impressiona mais, pois “desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (II Co.5:8).
-A segurança dá-nos uma certeza, certeza esta decorrente do aprofundamento do estudo da Palavra de Deus, do entendimento da Sua vontade, da revelação de Seus segredos.
Enquanto o mundo permanece na escuridão, procurando, com sua razão, quando muito tatear a Deus para poder entendê-l’O, embora não esteja longe deles (At.17:27), o salvo tudo vê claramente, tem ampla revelação do que Deus deseja, podendo, pois, ter firmeza e convicção do que está a acontecer, não sendo surpreendido com relação às circunstâncias que os cercam (II Co.3:12,17,18).
-O salvo tem segurança porque tudo vê claramente, é filho do dia (I Ts.5:4-8), sendo esta uma das razões principais pelas quais o servo de Deus deve ser vigilante e estar preparado, como as virgens prudentes, para o dia do arrebatamento da Igreja.
-A segurança advinda da salvação permite-nos entender tudo o que está acontecendo, a discernir tudo espiritualmente e, assim, a não ter incertezas, dúvidas nem temores. Muito pelo contrário, o salvo, como tudo vê, está sempre seguro, firme, confiante em seu Senhor.
-Esta convicção, esta certeza de que se está agradando a Deus e que nada nos poderá impedir de prosseguir rumo a Canaã celestial é prometida a Deus aos Seus servos.
No Salmo 91, o Senhor promete àquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente, que não terá medo do “espanto noturno”, nem da “seta que voe de dia” (Sl.91:5), mas, antes, debaixo das asas do Senhor estará seguro (Sl.91:4).
Também o Senhor promete aos Seus que não temeriam os “maus rumores” (Sl.112:7), nem tampouco sofrerá o salvo de insônia em virtude das preocupações (Pv.3:24).
-Estas promessas de Deus mostram-nos uma realidade: a de que o inimigo sempre tenta roubar a nossa segurança, apresentando problemas, dificuldades, circunstâncias que têm o único propósito de nos abalar diante do Senhor, de retirar a nossa confiança em Deus.
-Na estratégia militar, é conhecida a tática do chamado “tiro de inquietação”, ou seja, ações militares cujo único objetivo é tirar a coragem do adversário, trazer um clima de desconfiança e de medo, que, por si só, levarão o inimigo à confusão e, não raras vezes, à própria autodestruição.
O próprio Deus, em diversas oportunidades, fomentou esta reação nos inimigos de Israel, que, sozinhos, sem que os israelitas lutassem, destruíram-se por causa deste pavor repentino.
-O inimigo de nossas almas também fomenta estes “tiros de inquietação”, buscando, com isto, retirar a nossa confiança em Deus. Entretanto, somente cai nestas ciladas aquele que não está firmando seus passos na rocha, aquele que negligencia o estudo das Escrituras, aquele que deixa de ter comunhão com Deus.
-Quando o salvo está em perfeita sintonia com o seu Senhor, ele logo discerne a ação do inimigo e não se deixa intimidar, prosseguindo a sua caminhada segundo a direção de Deus, assim como fez Neemias (Ne.4:8- 15). Não podemos desanimar, mas, como diz o apóstolo Paulo, estar inteiramente seguros em nosso próprio ânimo (Rm.14:5).
-Estes “tiros de inquietação” devem ser identificados e não devemos dar-lhes crédito. Precisamos ter comunhão com Deus, crer única e exclusivamente na Sua Palavra, para que, então, não nos deixemos abalar. As dificuldades existem, mas se não desanimarmos, se mantivermos a nossa confiança em Deus, seremos vitoriosos, prosseguiremos.
É por isso que os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala mas permanece para sempre (Sl.125:1).
-As preocupações do dia-a-dia são um obstáculo para que desfrutemos a promessa de segurança. “Preocupar- se” é “dar ou ter cuidados; tornar-se apreensivo; impressionar-se, inquietar-se; prender ou ter presa a atenção; interessar-se; fazer questão de dar importância a”.
-Pelo que verificamos, pois, quem se preocupa demonstra falta de confiança em Deus, porque dá lugar, em seu coração, ao problema, à dificuldade, à circunstância trazida, coisas que ocupam a posição que deveria ser do Senhor.
Quem se preocupa, ao contrário do que ocorreu com Neemias, deixa que o foco de sua atenção, que o seu intento seja desviado de Deus para outra coisa, o que mina a segurança.
Devemos tudo entregar a Deus, n’Ele confiar e impedir que a ansiedade venha a ocupar a primazia que o Senhor deve ter em nossas vidas.
Por isso, o apóstolo Pedro recomenda que lancemos toda a ansiedade sobre o Senhor, porque Ele tem cuidado de nós (I Pe.5:7), como também o salmista diz que, por ter posto o Senhor sempre diante d’Ele, sua carne repousa segura (Sl.16:9).
-Isto não significa que o salvo não sinta ansiedade, angústia, não venha a sofrer com as circunstâncias adversas.
-Logicamente que, por sermos humanos, somos levados, naturalmente, a nos preocupar diante das dificuldades que nos surgem, e que são cada vez maiores à medida que se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja.
-As aflições que temos no mundo (Jo.16:33) nada mais são que angústias, ânsias, agonias, sentimentos de persistentes dores físicas ou morais, opressões, pois é isto que significa “aflição”.
-Entretanto, como salvos, quando surgirem as aflições, devemos entregá-las ao Senhor e n’Ele descansar, o que somente é possível se desfrutamos da promessa da segurança.
Não podemos reter o problema em nossos corações, perdermos nossa paz e alegria por causa deles, mas entregá-los ao Senhor e prosseguirmos a nossa caminhada sabendo que Ele cuida de nós.
-A segurança permite-nos enxergar que estamos debaixo da mão protetora do Senhor e, andando debaixo da Sua proteção, nada de mau pode acontecer ao Seu servo. “Ora, quem vos fará mal, se fordes zelosos do bem?” (I Pe.3:13 ECA)
-Devemos confiar em Deus, o que significa entregar a Ele toda a nossa vida, sem qualquer reserva, renunciando-nos a nós mesmos. Não se pode confiar em Deus se, antes, não se renuncia a si mesmo. O salmista é claro ao dizer que devemos entregar o nosso caminho ao Senhor e, então, confiar n’Ele, que Ele tudo fará (Sl.37:5).
-Este tem sido, aliás, um dos grandes equívocos dos nossos dias. Muitos andam falando nas promessas de Deus, andam afirmando, declarando e decretando vitórias e bênçãos, gerando uma “falsa segurança” no meio do povo de Deus, do que se diz povo de Deus porque também, a exemplo destes falsos pregadores, são tão ignorantes quanto eles a respeito da verdade, que é a Palavra de Deus (Jo.17:17).
-Deus fará tudo o que Lhe apraz, o que está de acordo com a Sua vontade, não o que é conforme nossos desejos e sentimentos.
Deus fará tudo, mas, antes, devemos entregar nosso caminho ao Senhor, ou seja, renunciar ao “eu”, renunciar à nossa vontade. Como, então, se renunciamos a nossa vontade, poderemos achar que Deus fará tudo o que quisermos? Como repousar nossa segurança em nossos caprichos em vez de em Deus?-Deus
disse que Ele concederá o desejo de nosso coração, mas, antes, quer que nos deleitemos no Senhor (Sl.27:4), ou seja, devemos, antes, aprender a desejar o que Deus deseja, a ter uma sintonia entre a nossa vontade e a vontade divina. Só depois que passarmos a querer o que Deus quer é que seremos atendidos.
Tem- se, pois, uma renúncia da nossa vontade em favor da vontade de Deus, algo bem diferente do que ensinam estes falsos pregoeiros.
-A segurança do cristão é resultado de sua entrega a Deus, de sua confiança em Deus e da experiência da imutabilidade e fidelidade divinas.
O salvo passa a não ter incertezas, a não ter medo, a não se intimidar com as inquietações do inimigo porque passa a conhecer quem Deus é, a servir a Deus pelo que Ele é e não pelo que Ele pode fazer e, assim, a confiar que tudo quanto ocorre contribui para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28), os que andam segundo o espírito (Rm.8:1), os que são guiados pelo Espírito de Deus, ou seja, os filhos de Deus (Rm.8:14).
-A segurança elimina o medo, a incerteza, o pavor. A segurança faz-nos conhecer a vontade de Deus e a nos guiarmos de acordo com ela.
-A segurança traz-nos firmeza, porquanto passamos a estar baseados no Senhor, em Seu caráter e não no homem e em sua falibilidade e pecaminosidade. A segurança faz-nos ter esperança, uma esperança que é
resultado da fé e não de exercício de lógica e qual uma fêmea de quadrúpede, sem razão, passamos a esperar algo que está certo, firme e seguro em nosso interior, porque proveniente da Palavra de Deus, que, ao contrário das coisas humanas, permanece para sempre (I Pe.1:25).
-A segurança advinda da salvação permite que o homem não se inquiete, pois tudo passa a ser previsível, porquanto o salvo está a tratar com alguém que não muda (Ml.3:6).
Verdade é que não se pode compreender a Deus, pois Deus está acima de nós, Seus pensamentos são muito mais elevados que os nossos (Is.55:8,9) e nem tudo o que Ele faz é compreendido de imediato (Jo.13:7), mas, quando o ser humano está no esconderijo do Altíssimo, pode discernir senão os motivos imediatos, que tudo contribui para o seu bem.
-Assim, até a morte física, certeza que se torna angústia, passa a ser algo desejável para o salvo, um meio de se encontrar com o seu Senhor (II Co.5:8), e, por paradoxal que possa parecer, deixa de ser uma certeza inevitável, pois o salvo não mais espera a morte física, mas, sim, o arrebatamento da Igreja (I Co.15:51,52).
Assim, a única “coisa certa na vida terrena” passa a não ser mais tão certa assim e esta “incerteza” confere mais firmeza espiritual. Mais uma vez, Deus confunde as coisas que são com as que não são (I Co.1:28).
-A segurança faz o crente confiar em Deus e, por isso, passa a ter garantias, a ter firmeza, pois em Deus nós podemos confiar, pois Ele é fiel e não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).
Tornamo-nos inabaláveis, assim como o monte de Sião, porque sabemos que estamos a tratar com alguém que não muda, que não pode voltar atrás.
-A segurança faz, também, que saibamos precisamente o que temos a fazer, pois passamos a conhecer o plano de Deus para o homem, plano este que tem se cumprido integralmente, sem que ninguém possa impedir a operação de Deus (Is.43:13).
-Assim, vemos, a cada dia, o cumprimento das promessas de Deus, de Sua Palavra e prosseguimos nossa caminhada pela fé, dando glória a Deus, agindo como Abraão, que não se deixou confundir pelas circunstâncias adversas, mas permaneceu confiando e, por causa disto, viu a promessa realizada (Rm.4:18- 21).
-Esta caminhada de fé tornou Abraão “certíssimo”, ou seja, extremamente seguro. É esta segurança que Deus requer de cada um de nós e, para tanto, precisamos tão somente dar glória a Deus.
-Mas o que é dar glória a Deus? É praticar a verdade, é fazer o que Jesus manda, é obedecer à Palavra de Deus, é ser luz do mundo e sal da terra (Mt.5:13-16).
Nosso testemunho é fundamental para termos segurança em meio a este mundo sem Deus e sem salvação e, por isso, um mundo inseguro. Nosso comportamento gerará, em nós, segurança, firmeza, porque a fé sem obras é morta (Tg.2:14-26).
-Muitos dos que cristãos se dizem ser não têm qualquer segurança, vivem temerosos, receosos, têm medo de morrer, não têm certeza da salvação, única e exclusivamente porque, além de não estudarem as Escrituras, de não terem uma vida de oração e de comunhão com Deus, além de tudo, fazem o que querem e não o que Deus quer, vivem uma vida pecaminosa, igualzinha aos que não são crentes.
-São “falsos crentes”, que podem até ter visto o reino de Deus, ter sido colocados sobre a rocha, mas que não sabem andar, que não caminham porque não têm como firmar seus passos e que, por isso, caíram da graça, já não têm comunhão com o Senhor, deixaram que a semente que até chegou a germinar em seus corações, morresse sem frutificar (Mt.13:20-22). A sua insegurança denuncia esta falência da fé, a necessidade de uma nova experiência salvadora, antes que seja tarde demais.
-A segurança, por outro lado, não gera atrevimento nem precipitação. Muitos querem demonstrar firmeza e segurança espirituais através de gestos tresloucados, que dizem ser alicerçados na fé, mas que é pura carnalidade.
-O seguro conhece os segredos de Deus, desfruta de intimidade com o Senhor e, por isso, age sempre guiado pelo Espírito Santo.
Assim, embora possa fazer coisas que confundam os homens em sua razão e lógica, o que é comum ocorrer pois Deus não está preso à lógica humana, antes usa as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias (I Co.1:27), não deixa de ser alguém que, como o seu Deus, é um Deus que não é de confusão (I Co.14:33).
-Destarte, a segurança não se confunde com desordem, anarquia ou quaisquer manifestações que levem ao ridículo e à falta de reverência. Episódios como a “unção de Toronto” e suas manifestações ridículas e sem qualquer propósito (“risada santa”, “vômito santo”, “unção do leão” etc.) são demonstração cristalinas de que atrevimento e invencionice não é prova de segurança, mas, sim, subterfúgio para quem não tem comunhão com Deus, que não tem firmeza na Sua Palavra.
-A visão de quem tem segurança é totalmente diversa destas carnalidades (que, muitas vezes, são puras operações satânicas).
É a visão da poetisa norte-americana Fanny Jane Crosby (1820-1915), que, mesmo sendo cega desde a infância, por causa de um acidente, deixou para a história da Igreja o belíssimo hino ”Que segurança!
Sou de Jesus!”, onde mostra que a segurança é consequência de se pertencer ao povo de Deus, de pertencer a Jesus Cristo (“que segurança, sou de Jesus”); é resultado da experiência com Deus, da comunhão diária com Ele (‘Eu já desfruto as bênçãos da luz”), é resultado do conhecimento da vontade e do propósito do Senhor para conosco (“Sou por Jesus, herdeiro de Deus, Ele me leva à glória dos céus”) e, por isso, nada do que aconteça pode abalar o verdadeiro e genuíno cristão.
-Ter segurança é resultado de uma vida de adoração a Deus (‘Canta, minha alma, canta ao Senhor, rende- Lhe sempre ardente louvor”); é resultado da submissão à vontade de Deus (‘Ao Seu amor eu me submeti”) e da alegria da salvação (“Extasiado, então me senti”); é o resultado de uma vida de intimidade com o Senhor (“Anjos cantando nos altos céus louvam a excelsa glória de Deus”); é resultado de um comportamento agradável a Deus, de um testemunho de sal da terra e luz do mundo (“Sempre vivendo em Seu grande amor, me regozijo em meu Salvador), um comportamento animado pela esperança da redenção, que é reconhecidamente imerecida (“Esperançoso vivo na luz, pela bondade de meu Jesus”).
– Trata-se, como se observa, de uma promessa condicional, pois somente teremos segurança enquanto estivermos no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente, debaixo da potente mão do Senhor (I Pe.5:6).
A segurança, sendo efeito da salvação, assim como esta depende da perseverança até o fim. Se não permanecermos na fé, não teremos como ser firmes (Is.7:9 “in fine”). A firmeza está vinculada à constância (I Co.15:58). Temos desfrutado desta promessa de Deus? Temos tido segurança em Jesus?
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/11056-licao-10-a-promessa-da-protecao-divina-i