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LIÇÃO Nº 10 – O CATIVEIRO DE ISRAEL: O REINO DO NORTE

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, estudaremos hoje a destruição do reino do Norte, o reino de Israel, levado cativo para a Assíria.

– O reino de Israel é exemplo das consequências de quem rejeita o conhecimento de Deus.

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I – A ANARQUIA MILITAR AO TÉRMINO DA HISTÓRIA DO REINO DO NORTE

– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, estudaremos a destruição do reino do Norte, o reino de Israel.

– Temos um novo salto cronológico neste breve estudo dos livros dos Reis, pois deixamos o reino de Israel ainda sob o governo de um filho de Acabe, Jorão, na lição 8.

– Consoante havia sido dito pelo Senhor ainda ao profeta Elias, no monte Horebe, o Senhor destronaria a casa de Onri, tendo em vista a sua atitude de fomentar e institucionalizar o culto a Baal e a Aserá, por intermédio de Jeú, filho de Ninsi (I Rs.19:16), mas tal destituição se daria somente após a morte de Acabe, já que ele havia se humilhado diante do Senhor (I Rs.21:29).

– Foi exatamente o que ocorreu. No décimo segundo ano do reinado de Jorão, ou seja, 14 anos após a morte de Acabe, houve uma guerra entre Israel e a Síria, já então governada por Hazael, que havia sido ungido rei da Síria pelo próprio profeta Eliseu (II Rs.8:11-13).

Nesta guerra, Jorão foi gravemente ferido, sendo retirado do campo de batalha e levado para Jezreel (II Rs.8:29).

– Estando Israel sobremodo enfraquecido pela derrota militar, Eliseu manda que um dos filhos dos profetas fosse até Ramote-Gileade e lá ungisse a Jeú, um general do exército de Israel, como novo rei.

Jeú é ungido e, ante a mensagem recebida do profeta, inicia a tomada do poder, tendo, então, matado a linhagem real, inclusive o rei de Judá, Acazias, que também era neto de Acabe, que tinha vindo visitar o rei Jorão.

Jeú também matou Jezabel e exterminou o culto institucional a Baal e Aserá em Samaria, dando, assim, início à quarta dinastia do reino de Israel (II Rs.9,10).

– Apesar de todo este zelo para com o Senhor, Jeú não pôs fim aos “pecados de Jeroboão”, mantendo os cultos dos bezerros de ouro, motivo pelo qual o Senhor disse que a sua dinastia se estenderia somente até a quarta geração (II Rs.10:29-31).

– Assim, embora Deus tivesse posto novamente no trono de Israel uma pessoa escolhida por Ele próprio, o ungido não foi fiel ao Senhor, não rompeu com a idolatria instituída por Jeroboão e, em virtude disso, o reino teve apenas uma “sobrevida”.

– Não há espaço nesta lição para discorrermos sobre estas quatro gerações da dinastia de Jeú, o que faremos num apêndice, mas o fato é que, depois de Jeú, quatro gerações de sua família efetivamente ocuparam o trono do reino do norte:

Jeoacaz, que reinou 17 anos (II Rs.13:1);

Jeoás, que reinou 16 anos (II Rs.13:10);

Jeroboão II, que reinou 41 anos (II Rs.14:23) e, por fim,

Zacarias, que reinou apenas 6 meses (II Rs.15:8).

Somados aos 28 anos do reinado de Jeú (II Rs.10:36), vemos que a dinastia de Jeú reinou 102 anos e seis meses sobre o reino do norte, a mais longa dinastia.

Esta longevidade da dinastia de Jeú foi a recompensa por ter Jeú destruído a Baal de Israel (II Rs.10:28), mas não significou a perpetuidade nem da linhagem real nem do próprio reino do norte porque não se pôs fim aos “pecados de Jeroboão” (II Rs.10:29-31).

Tanto assim é que, ainda nos dias de Jeú, o reino de Israel começou a perder território (II Rs.10:32,33).

– Para bem entendermos o porquê desta situação, necessário se faz relembrar o chamado “pacto palestiniano”, que foi firmado entre o Senhor e Israel assim que os israelitas entraram na Terra Prometida, conforme havia sido determinado por Deus a Moisés ainda no deserto.

Este pacto, selado entre os montes Ebal e Gerizim, nos dias de Josué, estabeleceu as bênçãos e maldições que viriam sobre o povo de Israel na Terra Prometida em função da sua obediência, ou não, ao Senhor.

Tratou-se de compromisso assumido diante de Deus de observância da lei, sob pena de sofrer as maldições decorrentes do descumprimento (Lv.26; Dt.27,28; Js.8:30-35).

– Este pacto é chamado pelos estudiosos de “palestiniano” porque diz respeito às condições estabelecidas por Deus para que Israel permanecesse na Terra Prometida, em Canaã, que os romanos denominaram de “Palestina” depois da destruição de Jerusalém e do seu templo no ano 70.

– Por este pacto, a maior punição que se daria aos israelitas pela sua desobediência seria a perda da Terra Prometida, a dispersão entre as nações (Lv.26:33-35; Dt.28:63,64).

– A perspectiva da perda da Terra Prometida por desobediência sempre estava presente entre os israelitas, tanto que é mencionada por Salomão quando da inauguração do templo (I Rs.8:46-49).

– Contudo, apesar de todos estes avisos já previstos na lei, bem como as mensagens dos profetas que foram seguidamente levantados por Deus ao longo da história do reino do norte, o fato é que o povo jamais se apartou dos “pecados de Jeroboão” e da idolatria em geral.

– A situação espiritual não melhorou com o término do culto institucional a Baal e a Aserá, porque não houve uma conversão a Deus, tendo sido mantidos os “pecados de Jeroboão”.

– Verdade é que, no longo reinado de Jeroboão II, o país gozou de prosperidade, inclusive com recuperação territorial, recuperação esta que foi profetizada por Jonas (II Rs.14:25), como mais uma demonstração de amor de Deus para com o Seu povo (II Rs.14:26,27), mas, mesmo assim, o povo não se converteu.

– Pelo contrário, após a morte de Jeroboão II, que foi sucedido pelo seu filho Zacarias, iniciou-se um período que é conhecido como “anarquia militar”, porque houve uma sucessão de reis que eram militares e que tomaram o poder à força, sem que houvesse tido qualquer consulta ao Senhor para saber se era, ou não, de Sua vontade que tais pessoas ocupassem o trono.

– Como afirmou o profeta Oseias, que foi testemunha ocular deste triste período da história do reino do norte, os israelitas, em sua soberba e distanciamento de Deus, entenderam que eram eles quem deviam escolher seus governantes:

 “Eles fizeram reis, mas não por Mim; constituíram príncipes, mas Eu não o soube; da sua prata e do seu ouro fizeram ídolos para si, para serem destruídos” (Os.8:4).

– Assim é que, quando Zacarias estava há apenas seis meses no trono, Salum conspirou contra ele e o matou, assumindo o trono, tendo reinado apenas um mês (II Rs.15:10,13).

Em seguida, o próprio Salum é morto por Menaém, que reina em seu lugar, reinado que durou dez anos (II Rs.15:17).

– Nesse meio tempo, a Assíria estava estabelecendo o seu império na região. Os assírios habitavam na região que hoje pertence ao Iraque e haviam se sobressaído em toda a Mesopotâmia e estavam expandindo o seu domínio no Oriente Médio, em nítido confronto com o Egito.

A capital da Assíria era Nínive e isto explica, inclusive, porque o profeta Jonas não quis pregar lá, pois sabia que os assírios eram a maior ameaça a Israel naquele tempo.

– O rei da Assíria veio atacar Israel durante o governo de Menaém e este rei conseguiu impedir a invasão do país mas a um preço caríssimo, pois pagou ao rei assírio mil talentos de prata (valor que, em 7 de maio de 2021, equivaleria a R$ 141.804.000,00), confiscando este valor de todos os poderosos e ricos de Israel (II Rs.15:20).

– A propósito, esta circunstância revela-nos uma das grandes mazelas que havia no reino do norte nesse tempo, consequência da vida pecaminosa levada pelo povo, que era a grande desigualdade social existente, que foi denunciada, entre outros, pelo profeta Amós (Am.4:1; 5:11-13),

que o Senhor mandou sair do reino de Judá para profetizar em Betel (Am1:1; 7:12,13), que era um dos centros do culto dos bezerros de ouro, profeta, aliás, que profetizou o cativeiro do reino do norte (Am.5:27).

– Menaém foi sucedido pelo seu filho Pecaías, que reinou apenas dois anos (II Rs.15:23), sendo destronado por um outro militar, Peca, que reinou durante 20 anos (II Rs.15:27).

Nos dias de Peca, o rei da Assíria tomou parte do território do norte de Israel e levou alguns para o cativeiro (II Rs.15:29).

Aproveitando-se desta derrota militar, Oseias conspirou contra Peca e o destronou, reinando em seu lugar, reinado que durou 9 anos, tendo sido o último rei do reino do norte.

– Em toda esta sequência de reis, como dissemos, não houve qualquer consulta ao Senhor, uma situação de desordem, injustiça e uma luta pelo poder, tendo havido sempre a prática dos “pecados de Jeroboão” e a resistência a todos os profetas que foram levantados por Deus durante todo este período.

II – O REINADO DE OSEIAS

– Oseias, filho de Elá, conspirou contra Peca e o feriu e matou, assumindo o trono de Israel (II Rs.15:30). Notamos, de pronto, que o novo monarca assumia o reino cometendo um assassinato, que era a transgressão de um dos mandamentos da lei de Moisés (Ex.20:13; Dt.5:17).

– Tal circunstância não era porém de se admirar, uma vez que o próprio Peca havia feito isto para também reinar, pois também havia matado Pecaías (II Rs.15:25), de modo que a própria morte de Peca acabou sendo o cumprimento da lei divina (Gn.9:6; Ex.21:12).

– Entretanto, este era o lamentável quadro espiritual vivido por Israel nesse tempo, que é descrito pelo profeta Oseias:

“Ouvi a palavra do Senhor, vós, filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra, porque não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na terra. Só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o matar, e o furtar, e o adulterar, e há homicídios sobre homicídios” (Os.4:1,2).

– Israel vivia uma decadência espiritual profunda e, diante desta situação, não se teria mais o que fazer senão a perda da Terra Prometida, porque Deus vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12).

– Oseias não era um rei tão ruim quanto seus antecessores (II Rs.17:2) e, talvez por isso, quando o rei da Assíria veio novamente a Israel, não o destronou, tendo-lhe mantido no trono, ainda que na condição de servo, devendo dar-lhe presentes (II Rs.17:3).

– Tem-se, então, que Israel passou a ser um reino tributário, ou seja, embora mantivesse ainda liberdade para ter o próprio governante, tinha agora de pagar tributos periodicamente a Assíria, repassar parte da riqueza produzida para os assírios em troca desta manutenção de relativa independência.

– Os próprios israelitas haviam feito isto com alguns habitantes da terra de Canaã, quando a conquistaram, deixando de destruí-los, como havia ordenado o Senhor, em troca de serem periodicamente abastecidos com recursos deles (Jz.2:28).

– Agora era Israel que se tornava tributário em sua própria terra, numa eloquente demonstração que Deus estava a apenar o povo pela desobediência. Mesmo assim, o povo não se arrependeu.

– Como se isto fosse pouco, Oseias ainda resolveu trair o rei da Assíria, deixando de cumprir com o prometido, não mais dando presentes ao rei.

Ora, tal atitude era, antes de mais nada, uma nova ofensa à lei de Deus, que manda que se cumpra o que foi prometido, que manda se manter a palavra dada, que é contra o engano e o ardil (Ex.20:16; 23:7).

– Esta falsidade, este engano era uma característica do “modus vivendi” dos israelitas, que eles não queriam de modo algum abandonar, apesar das intervenções divinas, como foi denunciado pelo profeta Oseias:

“Sarando Eu a Israel, se descobriu a iniquidade de Efraim, como também as maldades de Samaria, porque praticaram a falsidade; e o ladrão entra, e a horda dos salteadores rouba cá fora.

E não dizem no seu coração que Eu Me lembro de toda a sua maldade; agora, pois, os cercam as suas obras; diante da Minha face estão. Com a sua malícia alegram ao rei e com as suas mentiras, aos príncipes” (Os.7:1-3).

– Oseias assim agiu porque resolveu confiar no Egito, que era a potência adversária da Assíria, pois ambos os impérios estavam em confronto pelo domínio do Oriente Médio. Esta confiança de Oseias no Egito foi denunciada pelo profeta Oseias, que disse que não seria no Egito que os israelitas conseguiriam refúgio.

– Oseias, que foi o profeta levantado por Deus para contemplar a própria destruição de Israel, foi claríssimo ao afirmar que os israelitas deveriam buscar a Deus e não ao Egito e que esta atitude era nada mais nada menos que recusa de conversão ao Senhor (Os.11:5).

– Na sua recusa a converter-se a Deus, em voltar a servi-l’O, o povo do reino do norte acabou sendo enganado, tanto que é chamada de “pomba enganada, sem entendimento”, por isso invocavam o Egito e acabariam sendo levados para a Assíria (Os.7:11).

– Israel havia fugido de Deus, se rebelado contra o Senhor, não clamou a Deus, que, afinal de contas, tinha sido quem o pusera na Terra Prometida e, por isso, recorreu ao Egito, precisamente de onde Deus os havia tirado (Ex.20:2).

– Israel não cria em Deus e a incredulidade o faria perder a Terra Prometida, assim como a incredulidade havia impedido a geração do êxodo de entrar em Canaã (Hb.3:19).

– Esta situação espiritual de Israel pode ocorrer com cada um de nós, se não atentarmos em nossa vida de comunhão com Deus.

Se insistirmos em resistir ao Espírito Santo, em pouco tempo estaremos como os israelitas daquele tempo, não dando ouvidos ao Senhor e tendo esperança e buscando as coisas desta vida.

Era esta, aliás, a situação de muitos apontada pelo apóstolo Paulo que os chamou de “inimigos da cruz de Cristo”, cujo fim é a perdição e o deus deles é o ventre e cuja glória é para confusão deles mesmos, que só pensam nas coisas terrenas (Fp.3:18-20).

– Diante desta atitude de Oseias, o rei da Assíria deixou a sua atitude de complacência com Israel e veio até Samaria, cercando-a durante três anos e, por fim, tomando a cidade e levando Oseias preso para o estrangeiro (II Rs.17:4).

– Como se isto não fosse bastante, o rei da Assíria acabou por levar todo o povo de Israel cativo para o estrangeiro, fazendo-os habitar em Hala e em Habor, junto do rio Gozã e nas cidades dos medos (II Rs.17:6).

– Quando Tiglate-Pileser, rei da Assíria, levou cativos os habitantes do norte do reino, nos dias de Peca, levou-os para a Assíria, região que hoje corresponde ao Iraque (II Rs.15:29).

-Quando Salmaneser tomou Samaria, levou o restante do povo para outras localidades, que têm sido identificadas como uma região da Síria perto da fronteira com a Turquia. Já as cidades dos medos são mais para o lado do Irã.

Cumpria-se, então, a dispersão determinada como maldição divina na lei de Moisés. Deus é fiel, vela pela Sua Palavra para a cumprir!

III – O CATIVEIRO DE ISRAEL

– O texto sagrado diz claramente porque Israel foi levado cativo para a Assíria:

“E sucedeu assim por os filhos de Israel pecarem contra o Senhor, seu Deus, que os fizera subir da terra do Egito, de debaixo da mão de Faraó, rei do Egito; e temeram a outros deuses.

E andaram nos estatutos das nações que o Senhor lançara fora de diante dos filhos de Israel e nos costumes dos reis de Israel” (II Rs.17:7,8).

– O motivo de eles terem perdido a Terra Prometida foi o pecado. Consoante já dissemos, eles quebraram o “pacto palestiniano” e, por desobedecerem seguidamente, acabaram recebendo a máxima punição prevista por Deus neste concerto firmado com Israel.

– Não podemos nos esquecer que o Senhor não tratou de fazer os israelitas perderem a Terra Prometida de imediato, de inopino, no primeiro erro. Deus é longânimo e tardio em irar-Se (Nm.14:18; Sl.103:8. Jl.2:13; Na.1:3).

– Por isso, aliás, vemos que, na previsão da lei, o Senhor traz uma série de maldições, em número muito maior que as bênçãos, precisamente porque, ao castigar, Deus o faz com “conta-gotas”, aplicando punições gradativas, dando tempo ao povo para que se arrependa, enquanto que abençoa fartamente, quase de uma vez só.

– Além de lançar gradativamente as penas, ainda mandou profetas durante todo o período da existência do reino de Israel, a fim de que o povo pudesse receber mensagens que os levasse ao arrependimento, mensagens em que os profetas apontavam as próprias penalidades que o povo estava a sofrer.

– Jonas, nos dias de Jeroboão II, anunciou que Deus estava fazendo o povo prosperar porque não queria a continuidade da miséria que estava ocorrendo por causa do pecado nem queria apagar Israel de entre os povos (II Rs.14:26,27)

– Amós, também nos dias de Jeroboão II, anunciou que, por causa do pecado, é que o Senhor havia ferido a nação com retenção da chuva, queimadura, ferrugem e peste (Am.4:7-10), lembrando o “pacto palestiniano”.

– Oseias, o último profeta a ser levantado, que foi testemunha ocular da destruição do povo, e, não por acaso, segundo a tradição judaica, um profeta com ministério longevo, pois, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, teria iniciado seu ministério por volta do ano 770 a.C., ou seja,

49 anos antes da tomada de Samaria por Salmaneser, o que se deu em 721 a.C. e, mesmo assim, esta invasão não representou o término do ministério do profeta, que teria, muito provavelmente, ido para o reino do sul, onde seus escritos teriam sido coligidos no reinado de Ezequias, daí porque, aliás, ser o primeiro escrito do chamado “Livro dos Doze”, por ser o escrito mais antigo dos profetas menores que foi compilado.

– Esta longevidade do ministério profético de Oseias é mais um indicativo da longanimidade divina.

Como afirma E.S.P. Heavenor, “…Oseias é o mais evangélico e o mais terno de todos os profetas…” (Oseias, livro de. In: DOUGLAS, J.D. O novo dicionário da Bíblia, v.2, p.1157).

Deus levantou um profeta para que, durante muito tempo, trouxesse ao povo a memória do amor e da Palavra de Deus, para que o povo pudesse, durante o período de um jubileu, arrepender-se, antes que fosse aplicada a máxima punição, mas, lamentavelmente, o povo não se converteu.

– Em nossos dias, não é diferente. O salário do pecado é a morte (Rm.6:23) e, por conseguinte, não há como alcançarmos a salvação se não nos convertermos dos ídolos a Deus (I Ts.1:9). Não há como servir ao Senhor sem romper com o modo pecaminoso de viver (Rm.6:1,2).

– O segundo motivo do cativeiro foi o fato de Israel ter temido a outros deuses. Além de pecarem, ainda violaram o primeiro mandamento das tábuas de Moisés, ou seja, o de não ter outros deuses além do Senhor.

A idolatria foi o principal pecado cometido pelos israelitas, que, logo no início de sua existência como reino do norte, passaram a adorar os bezerros de ouro postos por Jeroboão em Betel e em Dã, prática que jamais abandonaram durante todos os 224 anos de existência deste reino.

OBS: Registramos aqui a nota cronológica de Flávio Josefo sobre a destruição do reino de Israel:

“…Foi assim que as dez tribos que compunham o reino de Israel foram expulsas de seu país,

novecentos e quarenta e sete anos depois que seus antepassados o haviam conquistado, após a saída do Egito, pela força das armas,

oitocentos anos depois da dominação de Josué,

duzentos e quarenta anos, sete meses e sete dias, depois que eles se haviam revoltado contra Roboão, neto de Davi, para tomar o partido de Jeroboão, seu súdito e o tinham, como dissemos, reconhecido por rei…” (Antiguidades Judaicas, IX, 14, 409. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, pp.215-6)

– A Igreja é o corpo de Cristo, tem por cabeça a Jesus e, portanto, não pode, de modo algum, adorar outrem que não o nosso único e suficiente Deus, nosso Salvador (I Tm.1:1; 2:3; 4:10), pois em nenhum outro nome há salvação (At.4:12).

Tomemos, pois, muitíssimo cuidado com a pregação ecumênica e inter-religiosa que tem conquistado alguns que cristãos se dizem ser e que tem levado muitos a temer a outros “deuses”, a outros “profetas” e “líderes religiosos”, como se Jesus fosse apenas um deles.

– O terceiro motivo foi o fato de Israel ter andado nos estatutos das nações, ou seja, não se comportaram como “povo santo”, passando a viver da mesma maneira que as demais nações. Jeroboão criou uma “religião oficial”, ligada ao governo, com uma “classe sacerdotal” subserviente, como havia nos demais povos.

– Como se isto fosse pouco, os israelitas passaram a adotar as mesmas práticas e os mesmos costumes e hábitos das demais nações, introduzindo a prostituição cultual, os cultos aos deuses de fertilidade, enfim, misturando-se com a cultura da época, o que, evidentemente, era exatamente o contrário do querido por Deus.

– Tanto assim é que os israelitas passaram a fazer o que não era reto aos olhos do Senhor, como a edificação de altares em todas as cidades, bem como de estátuas e imagens do bosque, tudo relacionado com os cultos aos deuses das outras nações.

Havia, então, descumprimento do segundo mandamento das tábuas da lei, que era a proibição de imagens de escultura (Ex.20:4).

– A falta de santidade, de separação do pecado, por parte de Israel foi fatal para a sua existência.

De igual modo, a Igreja também foi chamada para ser “nação santa” (I Pe.2:9) e sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).

– O quarto motivo foi Israel não ter dado ouvido às mensagens dos profetas, recusando-se a converter-se (II Rs.17:13).

– Já mostramos como o Senhor levantou profetas para que o povo se arrependesse. No dia mesmo da inauguração do altar dedicado ao bezerro de ouro erigido em Betel, Deus mandou um profeta para denunciar este pecado e, dali até Oseias, não cansou de trazer mensagens ao povo para que eles se arrependessem de seus pecados.

– Não havendo profecia, o povo se corrompe (Pv.29:18a). Deus sempre manda profetas, agora a corrupção virá se os profetas não forem ouvidos.

A resistência ao profeta nada mais é que resistência ao Espírito Santo e isto produz endurecimento de coração (At.7:51,52), afastamento progressivo de Deus (Hb.6:4-8; 10:26-31), até chegarmos à cauterização da consciência, à inevitável ruína espiritual (I Tm.1:19; 4:2).

– Em nossos dias, não são poucos os que, até se dizendo “pentecostais” ou “neopentecostais”, desacreditam nas profecias e as tolhem, por achar isto “mais seguro”, como se pudesse haver segurança em uma atitude contrária aos que nos ensina a Bíblia Sagrada.

Tais falsos ensinos contribuem grandemente para a corrupção do povo e para que, a exemplo do reino do norte, muitos naufraguem na fé. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– O resultado de tudo isto é que o povo de Israel se tornou de dura cerviz, incrédulo e vão (II Rs.17:14,15).

De dura cerviz, porque não mais adorou ao Senhor, não mais Lhe obedeceu; incrédulo, porque não mais creu no Senhor, não mais confiou n’Ele; vão, porque deixou de ter uma visão da eternidade, limitando-se a uma dimensão terrena, onde “tudo é vaidade” (Ec.1:2).

– Será que não estamos também nesta situação? Será que estamos obedecendo a Deus, ou estamos simplesmente fazendo o que nos interessa e nos satisfaz, numa religiosidade que nada tem que ver com o que prescreve o Senhor em Sua Palavra?

– Será que temos fé em Deus? Será que acreditamos no que Ele diz? Ou estamos apenas crendo em nós mesmos ou até em outras pessoas ou outras coisas como a ciência, a tecnologia, o dinheiro etc.?

– Será que ainda estamos cheios do Espírito Santo, ainda estamos marchando para o céu, ou já desistimos da eternidade, preferindo buscar as coisas desta vida, correndo atrás de dinheiro, fama, popularidade ou poder?

– Quem é de dura cerviz, incrédulo e vão não tem outra atitude senão a de rejeitar os estatutos e o concerto firmado com Deus, como deixar os mandamentos do Senhor.

Foi o que fizeram os israelitas, que, de forma até natural, passaram a

praticar a idolatria,

a adorar imagens,

a servir a Baal e até a passar pelo fogo seus próprios filhos, no culto a Moloque,

dando-se a adivinhações e a crer em agouros (II Rs.17:14-17).

– Por tudo isso, o Senhor aplicou aos israelitas a máxima punição, retirando-os da Terra Prometida e os levando para a Assíria (II Rs.17:20-23).

– Notemos que os israelitas foram levados cativos 135 anos antes de Judá. Isto era sinal de que Judá era uma nação santa, ao contrário de Israel? Não.

O próprio texto sagrado diz que Judá igualmente não guardou os mandamentos do Senhor, antes tendo seguido a mesma senda pecaminosa de Israel. Por que, então, Judá não foi também levada cativa pelos assírios?

– Por dois motivos essencialmente:

por primeiro, porque, em Judá, ao contrário de Israel, o culto a Deus continuou existindo e houve reis fiéis ao Senhor e a presença de um remanescente fiel faz sempre bem à nação, contribui para que se exerça a longanimidade divina;

por segundo, porque, justamente na época em que os assírios levaram Israel para o cativeiro, estava a reinar sobre Judá Ezequias, que promoveu um grande avivamento espiritual, como haveremos de ver na próxima lição, o que impediu que os cativeiros fossem simultâneos.

– Ao contrário do que ocorreria com os judaítas, os israelitas foram dispersos no império assírio e não mantiveram, deste modo, a sua integridade enquanto povo, tendo se misturado com outros povos, perdido a sua identidade.

– O profeta Oseias havia dito claramente que o seu povo seria destruído por ter rejeitado o conhecimento de Deus (Os.4:6) e destruição significa desaparecimento. Por isso, o reino do norte é hoje conhecido como “as dez tribos perdidas de Israel”.

– No entanto, há promessa divina de ressurgimento dessas tribos. Quando o Senhor prevê a punição do Seu povo com o exílio, o cativeiro e a dispersão, também diz que, posteriormente, haveria de restaurar a nação (Lv.26:44,45; Dt.30:1-10; Jr.31:17-40; Ez.37:15-28).

– Sempre se perquiriu sobre as “dez tribos perdidas de Israel”, mas, nos últimos anos, notadamente depois do ressurgimento de Israel como Estado, a partir de 1948, intensificaram-se as pesquisas para a descoberta do paradeiro desta gente e, notadamente, após o desenvolvimento da genética, já tem sido identificados alguns remanescentes deste povo, alguns até oficialmente já reconhecidos como israelitas e com direito não só à cidadania israelense mas, também, a morar em Israel.

– Mais um sinal de que o Senhor Jesus está voltando, porque as tribos perdidas têm de estar plenamente identificadas, pois delas, com exceção de Dã, virão a maior parte dos cento e quarenta e quatro mil israelitas que pregarão o Evangelho do reino na Grande Tribulação, como vemos em Ap.7:4-8.

IV – O SURGIMENTO DA NAÇÃO SAMARITANA

– Por que os israelitas foram retirados da sua terra pelos assírios? Já vimos que isto se deu por causa da própria prescrição divina relacionada ao “pacto palestiniano”.

Entretanto, para que isto se cumprisse, Deus Se utilizou de um povo cuja política de conquistas era precisamente a de desalojar os povos conquistados de suas terras.

– Segundo os assírios, uma vez conquistado um povo, este deveria ser retirado da terra onde habitava e mandado para outro lugar. Promovendo esta movimentação étnica nos territórios dominados, os assírios entendiam que enfraqueciam os vencidos e impossibilitava que eles se rebelassem.

– Assim, procuravam os assírios, assim que conquistavam um povo, desocupar a terra conquistada de seus primitivos habitantes e repovoar a região com outros povos, misturando-os, de modo que não se desfizesse qualquer sentimento nacionalista que buscasse se opor ao domínio conquistado pelas armas.

– Com Israel, não foi diferente. Os israelitas foram desalojados de sua Terra e mandados para várias regiões da Assíria, enquanto que a região anteriormente habitada pelas dez tribos foi ocupada por outros povos. Assim gente de Babel, Cuta, Ava, Hamate, Sefarvaim vieram morar em lugar dos filhos de Israel (II Rs.17:24).

Estes povos, evidentemente, não serviam a Deus, tinham seus próprios deuses e continuaram a cultuá-los, até porque era este um resquício de suas culturas, de seus hábitos, quase que uma resistência à política de destruição de suas identidades que era realizada pelo dominador assírio.

– Entretanto, o Senhor mandou leões entre eles e houve a matança de alguns deles (II Rs.17:25).

Este episódio mostra como Deus é soberano e como nada pode impedir a Sua ação. Deus mostra aqui pleno controle sobre a natureza.

– Deus, ao assim agir, sabia que aqueles povos, dentro de suas crendices, logo identificariam que isto era obra do “Deus da terra”. O Senhor havia punido o Seu povo, mas não permitiu que o Seu nome fosse igualmente apagado como o fora o do reino do norte.

– Aqueles povos, então, pediram ao rei da Assíria que lhes mandasse alguém que lhes ensinassem “o costume do Deus da terra”, para que eles pudessem cultuá-l’O e, deste modo, não sofressem com os leões que os estavam matando (II Rs.17:26).

O rei da Assíria acatou a sugestão e mandou um sacerdote para que “ensinasse o costume do Deus da terra”.

Assim, um sacerdote foi mandado para lá e aqueles povos aprenderam a cultuar a Deus, mas não deixaram de servir aos seus deuses, tendo, portanto, também passado a cultuar ao Senhor.

– Alguém pode dizer: como Deus permitiu isso? Teria Deus concordado com isso, já que não mais houve matança de leões entre eles?

– Por primeiro, entendamos que o Senhor não queria a conversão daqueles povos, mas tão somente que Seu nome não fosse apagado como tinha sido o reino de Israel, numa clara demonstração de que “toda a terra é do Senhor” (Ex.19:5; Sl.24:1).

– Por segundo, lembremos que este sacerdote que foi ensiná-los era um sacerdote do culto dos bezerros de ouro, não um levita ou sacerdote da linhagem de Arão, pois os sacerdotes do reino do norte eram todos ligados aos “pecados de Jeroboão”.

– Assim, o que ele ensinou foi, precisamente, o culto a Deus ao lado de outras divindades, porque era isso que os israelitas estavam a fazer, tanto que foram levados cativos. Ninguém pode ensinar senão aquilo que aprendeu.

– Tanto é assim que, copiando exatamente o que se fazia desde Jeroboão (I Rs.12:31), é dito que foram feitos sacerdotes dos mais humildes daqueles povos para cultuar a Deus (II Rs.17:32).

– É interessante, aliás, observar que o culto a Deus foi estabelecido, mas SEM os bezerros de ouro, que são completamente ignorados, a mostrar, portanto, como a ação divina era a de fazer perpetuar a memória do Seu nome.

– Destarte, esses povos se mantiveram idólatras, politeístas, servindo aos seus primitivos deuses e acrescentando o culto a Deus, mantendo, assim, a sua condição de gentios.

– Ao longo do tempo, esses povos acabaram se misturando, dando origem a uma nova nação, que Flávio Josefo chama de “chuteenses”, mas que foram chamados posteriormente de “samaritanos”, porque foram ocupar a região que era do reino cuja capital tinha sido Samaria.

OBS: “…Salmaneser, rei da Assíria (…) mandou a Samaria e a todos os outros lugares do reino de Israel, colônias de chuteenses, que são povos de uma província da Pérsia, que têm esse nome por causa do rio Chute, ao longo do qual habitam.…” (Antiguidades Judaicas IX, 14, 409. In: JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.215).

– Os samaritanos, portanto, eram estrangeiros que haviam vindo ocupar a terra do reino do norte após a ida ao cativeiro dos israelitas, estrangeiros que, embora tivessem passado a cultuar ao “Deus da terra”, não deixaram de servir aos seus deuses primitivos.

– Por causa disso, os samaritanos nunca foram aceitos pelos judeus como um “povo irmão”, mesmo que, ao longo dos anos, o culto ao “Deus da terra” tenha crescido em importância e, talvez mesmo, chegado a prevalecer de tal maneira que os samaritanos chegaram a construir um templo ao Senhor no monte Gerizim,

templo este que foi destruído pelos judeus em 128 a.C., havendo discussão se este templo foi construído pouco antes da vinda de Neemias a Jerusalém, como defendem alguns arqueólogos que fizeram escavações no local, ou nos dias de Alexandre, o Grande, como relata Flávio Josefo.

– Os samaritanos, desde o retorno dos judeus do cativeiro da Babilônia, nunca foram aceitos como “irmãos” ou “companheiros”, já que, como vimos, eram idólatras e não haviam adotado o culto a Deus.

Até mesmo os textos que adotaram da lei de Moisés eram diferentes dos escritos judaicos. Diante desta rejeição, tornaram-se inimigos dos judeus, sempre se alinhando aos inimigos de Israel.

– Criou-se, assim, uma grande inimizade entre estes povos, tanto que, nos dias de Jesus, é dito que nem sequer se comunicavam (Jo.4:9).

– No entanto, o Senhor Jesus sempre demonstrou simpatia para com eles, pregando-lhes o Evangelho (Jo.4:39-42), não endossando o ódio que os judeus tinham para com eles (Lc.9:54-56) e chegando mesmo a tomar um samaritano como exemplo de próximo (Lc.9:25-37), sem deixar de mostrar que suas crenças eram equivocadas (Jo.4:22). Foi também explícito ao dizer que Samaria também deveria ser evangelizada (At.1:8).

– Jesus mostra, assim, que havia vindo para reconciliar toda a humanidade, inclusive aqueles que queriam servir ao Senhor do seu modo, em desconformidade com as Escrituras, desde que cressem n’Ele.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/6684-licao-9-o-reinado-de-joas-i-2

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