LIÇÃO Nº 10 – O SISTEMA DE SACRIFÍCIOS
Os sacrifícios da lei tipificavam o sacrifício único de Cristo e o culto a Deus.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo sobre o tabernáculo, analisaremos o sistema de sacrifícios.
– Os sacrifícios da lei tipificam o sacrifício único de Cristo e o culto a Deus.
I – A NECESSIDADE DE SACRIFÍCIOS
– No estudo sobre o tabernáculo, torna-se inevitável que façamos alguma incursão no sistema de sacrifícios, uma vez que, conforme já visto, a maior peça do tabernáculo era o altar de cobre ou altar de sacrifícios, e era por meio dos sacrifícios que o povo de Israel iniciava o seu relacionamento com o Senhor.
– Se o tabernáculo se apresentava como santuário e habitação de Deus no meio do povo (Ex.25:8), tal presença não era apenas para que o povo de Israel soubesse que o Senhor estava no meio deles, mas, antes, para que houvesse um relacionamento entre Deus e Israel.
– A proposta divina era de que Israel se tornasse o Seu povo e a propriedade peculiar dentre os povos, povo santo e reino sacerdotal (Ex.19:5,6).
Isto implicava, naturalmente, que Deus Se fizesse rei de Israel, o que já estabelecia uma relação entre o Senhor e os israelitas e não só isto, que eles fossem sacerdotes do próprio Deus, a exigir, portanto, que eles tivessem um relacionamento com Deus e se fizessem mediadores entre Deus e as demais nações.
– Este relacionamento com Deus já estava previsto desde o momento da chamada de Moisés.
Se os israelitas clamavam ao Senhor por libertação no Egito, o Senhor tinha em mente que eles passassem a adorá-l’O, a servi-l’O no monte Sinai (Ex.3:12) e, como prova disso, faz questão de identificar-Se a Moisés como o Autoexistente (“Eu sou o que sou”), pois o primeiro gesto de quem quer estabelecer um relacionamento é a identificação (Ex.3:13-15).
– No momento mesmo da libertação, Deus fez questão de instituir um culto, a Páscoa (Ex.12:25-27), instituindo um novo calendário(Ex.12:1,2), precisamente para marcar este “novo tempo”,
o tempo em que Israel passaria a Se relacionar com o seu Deus, a adotar o Senhor como seu rei, que foi tornado pelo Senhor como Seu povo e ovelhas do Seu pasto (Sl.100:3).
– O homem foi criado para ter um relacionamento com Deus, o seu Criador, foi feito um ser relacional, advindo daí, aliás, a sua religiosidade, que tem se verificado como uma característica inerente à natureza humana.
Tal religiosidade nada mais é que uma demonstração de que o homem precisa se ligar a Deus, tem em seu relacionamento com o Senhor a sua completude, a sua própria realização.
– Tanto assim é que o Senhor, em toda viração do dia, vinha ao encontro de sua mais excelente criatura terrena no jardim do Éden (Gn.3:8), relacionamento que se deteriorou quando da entrada do pecado no mundo, quando se perdeu a comunhão que havia entre Deus e a humanidade.
– É neste momento em que o pecado gerou a morte (Tg.1:15), ou seja, a separação entre Deus e o homem (Is.59:2), que surge a figura do sacrifício, do derramamento de sangue como um meio pelo qual se poderia restabelecer tal contato.
– O próprio Deus, ao anunciar a salvação do homem, no dia mesmo da queda, disse que a semente da mulher haveria de proporcionar o retorno da amizade entre o Criador e a Sua coroa da criação terrena, mas que tal restauração teria o custo do “ferimento do calcanhar”, expressão que já prenunciava a necessidade de sofrimento e de derramamento de sangue.
– Em seguida, a fim de poder fornecer vestes para o primeiro casal, Deus faz o primeiro sacrifício, pois, para fazer túnicas de peles, teve de matar um animal, derramando-lhe o sangue (Gn.3:21).
– Advém daí o ensinamento ao primeiro casal da necessidade de sacrifício para que se pudesse chegar à presença de Deus.
Tal ensino foi acolhido pelo primeiro casal, que os transmitiu a seus filhos, tanto que vemos Caim e Abel oferecendo sacrifícios a Deus quando buscaram relacionar-se com o Senhor (Gn.4:3,4).
– Temos, então, logo no limiar da história da humanidade, este ensinamento divino, de que era necessário oferecer algo a Deus quando houvesse a intenção de se Lhe dirigir culto, de se voltar a Ele,
já que havia um impedimento para um relacionamento perfeito diante da problemática do pecado, aguardando-se o dia em que “ferido o calcanhar”, pudesse ser restabelecida a amizade perdida entre Deus e o homem.
– A palavra “sacrifício” tem origem na palavra “sacer” que significa “sagrado”, ou seja, “santo”, “conexo com o divino”.
O sacrifício, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é a “oferenda ritual a uma divindade que se caracteriza pela imolação real ou simbólica de uma vítima ou pela entrega da coisa ofertada”.
Por meio do “sacrifício”, algo se torna “sagrado”, algo é entregue a Deus.
– Na ideia do sacrifício, portanto, estava embutida a necessidade de se relacionar com Deus dentro de duas premissas básicas: a de que o relacionamento com Deus é assimétrico, ou seja,
Deus é maior do que o homem e o homem precisa se chegar ao Senhor reconhecer a sua inferioridade, devendo, pois, agradar à divindade, adotar uma postura de reverência e subserviência.
Por segundo, reconhecer que, por causa do pecado, há uma falta para com Deus e, por isso mesmo, é preciso assumir a sua culpa e reconhecer que há necessidade do pagamento de um preço pelo pecado cometido.
– Não é, portanto, coincidência que a história sagrada demonstre a existência de sacrifícios desde os primórdios da humanidade e que todos os homens de Deus tenham ofertado sacrifícios a Deus seja para reconhecer sua culpa diante do Senhor, seja para adorá-l’O, como vemos nos casos de Abel, Noé, Jó, Melquisedeque, Abraão, Isaque e Jacó.
– Se os patriarcas já ofereciam sacrifícios ao Senhor, não seria diferente com o povo de Israel e o tabernáculo, lugar da presença de Deus no meio dos filhos de Israel, teria necessariamente de ser um lugar de sacrifícios.
– Por isso, assim que se entrava no tabernáculo, pelo lado oriental, já se divisava, proeminente no pátio do tabernáculo, o altar de cobre, onde os israelitas, sem exceção, poderiam trazer seus sacrifícios para serem ofertados pelos sacerdotes.
Aliás, “sacerdote” nada mais é, segundo o mesmo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, do que “sacrificador, aquele que oferecia vítimas à divindade, entre os povos antigos”, etimologicamente “aquele que faz algo sagrado, que torna algo sagrado”.
– Daí porque os sacrifícios serem uma constante em todas as religiões existentes na humanidade, em todos os tempos, ainda que, circunstancialmente, o sacrifício não seja, em algumas delas,
a oferta de um bem ou a matança de um animal, mas “renúncia voluntária ou privação voluntária por razões religiosas, morais ou práticas” ou “privação financeira em proveito de alguém”, que,
como vemos no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, nada mais são que outros significados de “sacrifício”.
– Ao mandar construir o tabernáculo, o Senhor, também, tratou de dar a Moisés todas as normas a respeito dos sacrifícios que deveriam ser celebrados neste local que era, também, um lugar de culto,
pois era o lugar onde Deus fizesse para ali habitar Seu nome que deveriam ser trazidos todos os sacrifícios e ofertas (Dt.12:11,13,14).
– Encontramos, então, principalmente no livro de Levítico, que deve ter sido redigido por Moisés durante o tempo da construção do tabernáculo pelos artesãos, toda a sistemática dos sacrifícios, que, certamente, como parte importante da lei, são sombras da nossa vida espiritual em Cristo (Hb.10:1-4).
II – O SACRIFÍCIO DA PÁSCOA E O HOLOCAUSTO OU OFERTA QUEIMADA
– Para bem entendermos o sistema de sacrifícios estabelecido na lei, temos de observar que eram cinco os tipos de ofertas e/ou sacrifícios instituídos no culto levítico:
holocausto ou oferta queimada,
oferta de manjares,
ofertas pacíficas ou sacrifícios pacíficos,
ofertas pelo pecado e
ofertas pelas transgressões.
– Antes, porém, dos sacrifícios estabelecidos para o local de culto, tivemos o estabelecimento do sacrifício da Páscoa, o primeiro sacrifício instituído por Deus ao povo de Israel (Ex.12:27), sendo que aqui a palavra “sacrifício” é a palavra hebraica “zebhah” (ֶזַבח),
“…(propriamente) matança, i,e, a carne de um animal; (por implicação) um sacrifício )a vítima ou o ato)…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 2077, p.1611).
– Este sacrifício, que não era feito no tabernáculo, mas, sim, em família, foi o primeiro tipo de Cristo em matéria de sacrifício.
O cordeiro ou cabrito posto sob observação por três dias e meio e, achado sem defeito, sacrificado e assado para ser consumido pela família seja, na primeira Páscoa, enquanto o sangue do animal posto na verga da porta impedia a morte dos primogênitos, seja nas demais páscoas, em comemoração a este livramento que pôs fim à escravidão no Egito, é tipo de Cristo.
– Cristo é a nossa Páscoa (I Co.5:7), o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29) e que nos livrou do pecado (Jo.8:34-36) e, por isso, também tivemos uma “passagem” da morte para a vida (Jo.5:24; I Jo.3:14).
Teve um ministério de três anos e meio, em que pôde ser visto como um homem sem pecado, inocente e, portanto, em condições de derramar o Seu sangue em prol da humanidade (Jo.8:46; Mt.27:23; Mc.15:14; Lc.23:22; Jo.19:4).
– Já na sistemática do tabernáculo, conforme vemos não só mas principalmente no livro de Levítico, cinco eram as espécies de ofertas e/ou sacrifícios.
– A primeira era a “oferta queimada” ou “holocausto”.
– A palavra “holocausto” é de origem grega (“olokautoma” – ολοκαυτωμα), cujo significado é “totalmente queimado”, utilizada na Septuaginta (a primeira versão do texto bíblico para o grego), que traduz a palavra hebraica “’olah” (עלה), cujo significado é “aquilo que sobe”, “oferta queimada”, querendo, com isto, indicar algo que, por ter sido totalmente queimado, sobe como fumaça.
– Portanto, o sacrifício de holocausto era uma oferta que seria totalmente queimada no altar, uma oferta integral, em que tudo seria consumido pelo fogo, tornando-se em “fumaça” que subiria à presença de Deus.
– De pronto, vemos nesta espécie de sacrifício um oferecimento inteiro a Deus, um consumo total para o Senhor, um total aniquilamento do ser para se fazer agradável à divindade, uma completa anulação em prol do Ser Supremo.
– Isto nos faz lembrar o convite do Senhor Jesus para aqueles que quisessem ser Seus seguidores: “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me” (Mt.16:24).
Esta renúncia de si mesmo é a primeira atitude que o Senhor exige para quem quer ser Seu discípulo, e tal renúncia nos faz lembrar o sacrifício de holocausto, onde há uma entrega total.
– Esta ideia da renúncia, aliás, em dias de individualismo que marcam os últimos tempos da dispensação da graça (II Tm.3:1,2), é algo que se encontra “fora de moda” nos círculos sedizentes cristãos e isto pode ser observado nas mínimas coisas. Antigamente, era muito comum utilizar-se a expressão “entregar-se a Jesus Cristo”.
Hoje em dia, é muito mais corriqueiro dizer “aceitar Jesus Cristo”, precisamente porque esta ideia de entrega, de renúncia total não encontra guarida na cultura de sobrevalorização do ser humano, do individualismo, dos “homens amantes de si mesmo”.
– A oferta de holocausto, quando fosse de gado, deveria ser de macho sem mancha, que deveria ser trazido à porta da tenda da congregação de forma voluntária e espontânea pelo ofertante, que punha sua mão sobre a cabeça do holocausto para que fosse aceito por ele, para sua expiação.
Aí o animal era degolado perante o Senhor e os filhos de Arão, os sacerdotes ofereciam o sangue e o espargiam à roda sobre l altar de cobre. O holocausto, então, era esfolado e partido em pedaços.
Os sacerdotes, então, punham fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo, punham, também, em ordem os pedaços, a cabeça e o redenho sobre a lenha, mas a fressura e as suas pernas lavavam com água e tudo era queimado sobre o altar (Lv.1:3-9).
– Este cerimonial fala-nos claramente a respeito do sacrifício de Cristo sobre a cruz do Calvário, o único sacrifício perfeito que tirou o pecado do mundo (Jo.1:29; Hb.9:26; 10:12). Senão vejamos.
– Por primeiro, temos que o holocausto de gado deveria ser feito com um animal macho sem mancha.
Ora, isto nos fala claramente do Senhor Jesus, que foi o varão sem pecado que viveu sobre a face da Terra (At.17:31; Jo.8:46; Lc.23:4; Hb.4:15).
– Jesus Se humanizou e, como tal, tinha de ser sexuado, pois Deus criou o ser humano em tal condição (Gn.1:27) e o Senhor nasceu como varão, como homem do sexo masculino, motivo por que, na oferta de holocausto, o animal a ser sacrificado necessariamente deveria ser um macho.
– No entanto, Jesus, embora tenha Se humanizado, foi gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:34,35), sendo, assim, o último Adão (I Co.15:45), o homem reto saído diretamente das mãos de Deus 9Ec.7:29), daí porque ser o macho sem mancha a oferta do sacrifício de holocausto.
– Não é por outro motivo, aliás, que a Igreja, que é o corpo de Cristo (I Co.12:27), deve se apresentar a Deus imaculada, ou seja, sem mancha (Ef.5:27).
– Por segundo, a oferta tinha de ser levada até a porta da tenda da congregação.
A tenda da congregação era a parte coberta seja do tabernáculo, seja dos dois templos, onde ficavam os dois compartimentos – os lugares santo e santíssimo.
A tenda da congregação também era chamada de “santuário”, porque era o lugar separado do local de adoração, o local onde o povo não tinha acesso.
– Na porta da tenda da congregação, ficava o altar de cobre, o altar de sacrifícios, peça que representa o juízo de Deus sobre o pecado do homem, daí o material ser coberto de cobre (ou bronze), que simboliza, precisamente, o juízo divino.
Não há como se poder entrar no santuário se não se passa, antes, pelo altar de sacrifícios, se não há, previamente, derramamento de sangue, pois sem derramamento de sangue não há remissão (Hb.9:22).
A entrega de uma vida, uma morte se fazia necessária para pôr fim à inimizade que existia entre Deus e a humanidade por causa do pecado, para que se voltasse a ter comunhão entre o Criador e a sua mais sublime criatura sobre a face da Terra.
É preciso uma vida pura (e o sangue simboliza a vida – Gn.9:4) para resgatar a morte gerada pelo pecado (Rm.6:23).
– Já na revelação da promessa da salvação, feita pelo próprio Deus no Éden para o primeiro casal, o derramamento do sangue se mostrou uma necessidade.
Deus, ao anunciar a promessa, disse que a semente da mulher, que promoveria o restabelecimento da amizade do homem com Deus, teria ferido o seu calcanhar (Gn.3:15), isto já mostrando que se derramaria sangue para que se restabelecesse a comunhão entre o Senhor e a humanidade.
– Em seguida, para que o primeiro casal tivesse vestimentas decentes para poder se cobrir, em virtude da própria prática do pecado, Deus sacrificou um animal para lhes prover túnicas de peles (Gn.3:21), a mostrar que a solução para o pecado exigiria derramamento de sangue.
– Por terceiro, o ofertante deveria levar o animal de livre e espontânea vontade, ou seja, a oferta teria de ser voluntária.
Isto nos fala do caráter voluntário do sacrifício de Cristo. O Senhor Jesus entregou-Se, deu a Sua vida, veio para ser morto em nosso lugar, veio para morrer por nós (Jo.10:15-18;12:23-27).
– Por quarto, o ofertante, trazendo o animal até a porta da tenda da congregação, deveria pôr a sua mão sobre a cabeça do animal, para que fosse aceito por ele, para a sua expiação.
Temos aqui a indicação clara do caráter vicário do sacrifício de Cristo, ou seja, o Senhor Jesus assumiria o lugar do pecador, morreria no lugar do pecador, para alcançar a sua redenção, a sua salvação.
– Jesus tomou o lugar do pecador, foi a oferta substitutiva do pecador e a isto que se chama “morte vicária”, pois “vicário” significa “substituto”, “no lugar de”.
O macho sem mancha assumia o lugar do ofertante. Ao se pôr a mão sobre a cabeça do animal, o pecador estava a dizer que ele é que mereceria morrer, mas o animal morreria em seu lugar.
Ele como que transferia os seus pecados para o animal, que, então, derramava seu sangue para cobrir o pecado cometido.
– O Senhor Jesus era o justo que tomou o lugar dos injustos, o santo que tomou o lugar dos pecadores e morreu em nosso lugar (Rm.5:6-8; I Pe.3:18), pagando o preço da redenção dos nossos pecados, o preço incomparável, muito maior que ouro e prata (I Pe.1:18-20).
– Por quinto, o animal era degolado e o sangue era totalmente derramado no altar.
Jesus derramou todo o Seu sangue na cruz do Calvário, tanto que, quando ressuscitou, tinha carne e ossos, mas não tinha sangue, porque ele todo foi vertido por nós em Seu sacrifício (Lc.24:39).
– Por sexto, o animal era esfolado e partido em pedaços.
Isto poderá trazer algum espanto, já que, sabemos, que o corpo de Cristo não foi partido, foi mantido íntegro (Jo.19:33-36), como, aliás, estava profetizado (Sl.34:20).
Como, então, a vítima do holocausto poderia representar Cristo?
– Neste ponto, devemos lembrar o que nos ensina o próprio Jesus Cristo, que disse que seria como o grão de trigo que, caindo na terra, morre e dá muito fruto (Jo.12:24-26).
A oferta do holocausto de gado, assim que era morta, era esfolada e partida em pedaços, e isto significa precisamente o que fez o Senhor Jesus.
Ao morrer, Cristo fez surgir a Igreja, esta multidão composta de pessoas de todas as tribos e nações (Ap.5:9,10).
– Por sétimo, os sacerdotes punham fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo. Isto nos fala a respeito de duas coisas basicamente.
A primeira, é que a lenha, sendo madeira, representa a humanidade de Cristo.
Cristo Se fez homem, humilhando-Se até a morte e morte de cruz, para nos salvar (Fp.2:7,8).
Se não tivesse Se humanizado, o Senhor jamais poderia morrer e assumir nosso lugar.
A encarnação de Cristo é uma demonstração de humildade e uma necessidade para que pudesse haver a salvação da humanidade.
– De igual maneira, nossa conformação à imagem de Cristo (Rm.8:29) é necessária para que atinjamos o estágio último do processo da salvação, que é a glorificação.
Jesus tomou a forma de homem para nos salvar, nós somente seremos salvos se buscarmos ter a imagem de Cristo, se formos imagem e semelhança de Deus, que é a nova criatura gerada por Deus (Ef.4:24; II Co.5:17; Gl.6:15; I Pe.1:23).
– A outra coisa a que nos remete a lenha é a circunstância de que a morte de cruz representa uma maldição, pois maldito era aquele que morria no madeiro (Dt.21:23; Gl.3:13).
Jesus Se tornou maldito por nós, assumiu a nossa maldição, tomou sobre si o castigo divino reservado aos pecadores (Is.53:5).
– Por oitavo, as partes e os pedaços do animal eram ordenados sobre a lenha que estava no fogo em cima do altar.
Isto nos mostra que o corpo de Cristo está fundado sobre o sacrifício do Calvário, ou seja, toda a base da Igreja se encontra na salvação operada por Jesus.
Por isso, aliás, o apóstolo Paulo fazia questão de dizer que não se propunha saber senão Cristo e Este, crucificado (I Co.2:2). A Igreja deve pregar o Evangelho e o Evangelho é a palavra da cruz (I Co.1:18,23,24).
– Mas isto também nos mostra que há uma ordem na Igreja de Cristo, que não se pode agradar a Deus se tudo não for feito com ordem e decência, pois nosso Deus não é Deus de confusão (I Co.14:33).
Se o altar não estiver em ordem, Deus não Se agrada do sacrifício, como podemos ver no exemplo do desafio entre Elias e os profetas de Baal e Asera (I Rs.18:30).
– A Igreja é um povo adquirido pelo Senhor Jesus (I Pe.2:9), aquisição ocorrida precisamente quando do pagamento do preço de nossos pecados no sacrifício da cruz do Calvário (I Co.6:20; 7:23), e, como tal, foi organizado a partir da sua cabeça, que é o Senhor Jesus (Ef.1:22; 5:23), que constituiu ministros para ela (Ef.4:11).
Destarte, a ordem constante do altar fala-nos desta ordem que deve ter a Igreja e como ela é fundamental para que tenhamos a manifestação da glória de Deus por meio do povo de Deus.
– Por nono, a fressura e as pernas do animal eram lavados com água, ou seja, as vísceras do animal assim como as suas pernas eram lavadas com água, pois era precisamente o que seria oferecido.
Esta lavagem com água fala-nos da Palavra de Deus, pois é ela que nos limpa, como afirmou o Senhor Jesus (Jo.15:3), a “lavagem da água pela Palavra” (Ef.5:26), a lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo (Tt.3:5).
– Se não nascermos da água e do Espírito, jamais entraremos no reino de Deus (Jo.3:5), de modo que se faz necessário que sempre sejamos lavados pela Palavra e fortalecidos pelo Espírito Santo em nossa jornada para o céu, até porque, se assim não se fizer, jamais poderemos oferecer ao Senhor um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus,
o nosso culto racional (Rm.12:1), pois, antes de haver a queima do sacrifício e subir ele como cheiro suave ao Senhor (Lv.1:9), era necessária esta lavagem com água da fressura e das pernas do animal.
– Veja-se que o que era lavado era a fressura do animal, ou seja, as suas vísceras, o que nos fala a respeito do interior.
Devemos iniciar a nossa santificação a partir do espírito e da alma, que são o homem interior. Este homem interior tem de ter prazer na lei do Senhor, bem como deve ser corroborado com poder pelo Espírito Santo (I Ts.5:23; Rm.7:22; Ef.3:16), devendo renovar-se de dia em dia (II Co.4:16).
– Existe um dito muito repetido nos círculos eclesiásticos, e totalmente sem base bíblica, de que a “Palavra de Deus se renova a cada dia”, o que não é verdadeiro, pois a Palavra de Deus jamais envelhece, pelo contrário, ela permanece para sempre (I Pe.1:25) e o que envelhece está perto de acabar (Hb.8:13). Se a Palavra para sempre permanece, nunca fica velha e, portanto, não há que se falar que ela se renove.
– Quem tem de se renovar a cada dia somos nós, mais precisamente o homem interior e este homem interior o fará mediante a lavagem da água, pela Palavra, e a regeneração e renovação do Espírito Santo.
– Por isso, muito apropriado o que dispõe o item 6 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus:
“Cremos na necessidade absoluta do novo nascimento ´pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus para tornar o homem aceito no Reino dos Céus (Jo.3:3-8; Ef.2:8,9)”.
A lavagem da fressura e das pernas do animal mostra a necessidade que temos de nos manter em santidade, santidade esta que só é possível mediante a “lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”, mediante a “lavagem da água, pela Palavra”.
– Por isso, muitos, apesar de terem sido alvo do perdão dos pecados, não se tornam agradáveis a Deus, pois não se deixam ser limpos pela Palavra.
Resistem ao Espírito Santo, endurecem a sua cerviz, repetindo, assim, os erros da maior parte dos israelitas ao longo da história sagrada, como foi denunciado por Estêvão no seu conhecido sermão (At.7:51-53).
Para que o sacrifício se apresentasse como cheiro suave ao Senhor, antes a fressura e as pernas deveriam ser lavadas com água.
– A fressura, como já dissemos, representa o interior do homem, o que, às vezes, a Bíblia denomina de “coração”.
O homem tem um coração mau, onde está a fonte de todos os pecados (Mt.15:19,20).
Do coração procedem as saídas da vida (Pv.4:23), de modo que temos de purificar o nosso coração, purificação que se dá única e exclusivamente pela Palavra de Deus e pela atuação do Espírito Santo (At.15:8; II Co.1:21,22; Gl.4:6; Tg.4:8).
– As pernas do animal falam-nos das nossas atitudes, porquanto, com as pernas, os animais ofertados se locomoviam, andavam e nós devemos
andar segundo o espírito (Rm.8:1),
andar em Espírito (Gl.5:16),
em amor (Ef.5:2),
como filhos da luz (Ef.5:8),
em Cristo Jesus (Cl.2:6),
com sabedoria (Cl.4:5),
para agradar a Deus (I Ts.4:1),
em temor (I Pe.1:17).
– Este proceder de forma agradável a Deus somente é possível se nos submetermos à “lavagem da água pela Palavra” e a “lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo”.
Por isso, antes de subir como cheiro suave ao Senhor, a oferta do holocausto deveria ter a fressura e as pernas do animal devidamente lavadas com água.
– Por décimo, o sacerdote tudo queimava sobre o altar. Tem-se aqui, propriamente, o “holocausto”, ou seja, a queima total.
Todo o animal deveria ser consumido no altar, devia tornar-se em “nada”, em “fumaça que subia” à presença de Deus.
– Esta queima total simboliza a entrega total de Cristo para a nossa salvação.
Cristo Se deu por nós, como já dissemos supra. A queima dos pedaços do animal, já esfolado e partido, significa a necessidade que cada salvo na pessoa de Jesus Cristo tem de se entregar totalmente ao Senhor, de viver única e exclusivamente para a glorificação do nome do Senhor.
– Quando celebramos a ceia do Senhor e tomamos o pão, que é partido para nosso consumo (I Co.11:23,24), estamos a relembrar esta mesma situação tipificada na oferta do holocausto, pois cada pedaço de pão é, também, consumido pelos que participam da ceia, pão que simboliza o corpo de Cristo, ou seja, a Sua Igreja (I Co.11:24), representando o amor fraternal que deve haver entre cada participante deste corpo, de cada membro em particular (I Co.12:27).
– O amor fraternal, absolutamente necessário para os salvos (Rm.12:10; I Ts.4:9; Hb.13:1; I Pe.1:22; II Pe.1:7), revela esta imperiosa entrega que cada cristã deve ter, numa vida de total entrega ao Senhor, inclusive para fazer bem e servir aos demais, a exemplo do Senhor Jesus, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos (Mt.20:28; Mc.10:45).
– Por isso mesmo, o apóstolo Paulo afirmou estar se gastando e se deixando gastar pelos crentes de Corinto, ainda que, amando-os cada vez mais, fosse cada vez menos amado (II Co.12:15), fazendo isto de muito boa vontade, como deve agir todo servo de Cristo Jesus.
– O amor fraternal leva-nos a entregar nossas vidas pelos nossos irmãos, porque o primogênito dentre os irmãos (Rm.8:29) o fez por nós, pois é aí que se mostra o amor de Deus em nós, pois ninguém tem maior amor do que este, de dar a sua vida pelos seus amigos (Jo.15:13).
– Somente seremos verdadeiros discípulos de Cristo se nos amarmos uns aos outros (Jo.13:35), este é a verdadeira credencial de quem se diz integrante do corpo de Cristo e esta queima total dos pedaços do animal ofertado simboliza esta entrega, este amor fraternal, que nada mais é que seguir o exemplo do maior amor, o amor de Cristo por nós.
– Por décimo primeiro, a fumaça subia como cheiro suave ao Senhor, ou seja, cumpridos todos os requisitos, este consumo total agradava a Deus, era-Lhe agradável, como, aliás, foi o sacrifício de gratidão efetuado por Noé após o dilúvio, sacrifício que atingiu o coração de Deus (Gn.8:20-22).
– Quando apresentamos a entrega total de nossas vidas ao Senhor, isto Lhe é agradável, quando passamos a nos amar uns aos outros, a servir e a não ser servidos, não resta dúvida de que agradamos a Deus e a nossa missão é aqui agradar ao Senhor, pois não poderemos nos qualificar como servos de Cristo se não o fizermos (Gl.1:10).
O nosso culto racional somente será aceito pelo Senhor se nosso sacrifício for agradável e nesta agradabilidade se encontra o amor fraternal.
– O sacrifício de holocausto simboliza a submissão à vontade divina, aquela mesma disposição que o Senhor Jesus tinha, a ponto de dizer que fazer a vontade do Pai era a Sua própria comida (Jo.4:34).
Não podemos ter qualquer reserva em relação ao Senhor, devemos nos sujeitar a Ele plenamente, fazendo única e exclusivamente a Sua vontade, temos de nos renunciar a nós mesmos.
– Por décimo segundo, verdade é que o sacrifício de holocausto tem uma diferença essencial com relação ao sacrifício de Cristo.
É que o sacrifício de holocausto servia única e exclusivamente para aquela finalidade, para aquele pecado cometido, e, ademais, cobria o pecado (Sl.32:1), que não era retirado, pois o sangue de animais jamais poderia fazê-lo (Hb.9:11-14).
– O sacrifício de Cristo, único e perfeito, foi imediatamente aceito por Deus, tanto que o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45).
Seu sacrifício subiu como cheiro suave ao Senhor e o pecado foi retirado, o que não se dava com os sacrifícios continuamente oferecidos durante o culto levítico (Hb.9:24-28).
III – A OFERTA DE MANJARES
– Outro sacrifício previsto era a oferta de manjares ou oferta de alimentos, que é a palavra hebraica “qorbān” (ָקְר ָבן), “…algum coisa trazida perto do altar, i.e., uma oferta sacrifical: — oferta, oferecimento, fornecimento. Substantivo masculino que significa oferta, presente.
Este é o termo mais geral, usado oitenta vezes no Antigo Testamento, para ofertas e dádivas de todos os tipos…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 7133, p.1911).
– As ofertas de manjares deviam ser de flor de farinha e nela se devia deitar azeite e se pôr incenso sobre ela (Lv.2:1). Os elementos desta oferta já bem demonstram o seu caráter. Senão vejamos.
– Por primeiro, a oferta deveria ser de “flor de farinha”, ou seja, se deveria oferecer farinha e a farinha é a matéria-prima do pão, o principal alimento e que nos faz lembrar da Palavra de Deus, que é o pão espiritual (Mt.4:4; Lc.4:4), símbolo do próprio Cristo, que Se autodenominou pão da vida (Jo.6:35,48).
– Não há como mantermos um verdadeiro relacionamento com o Senhor se não nos alimentarmos da Sua Palavra, se não formos santificados pela Palavra (Jo.17:17).
A Palavra de Deus é indispensável para a nossa sobrevivência espiritual, pois, assim como o alimento é absolutamente necessário para que sobrevivamos fisicamente, a Palavra de Deus é essencial para que prossigamos vivos, ou seja, em comunhão com o Senhor, até o momento de adentrarmos os portões eternos e, sem esta perseverança até o final não alcançaremos a salvação (Mt.24:13).
– Esta farinha tinha de ser misturada com azeite. O azeite é símbolo do Espírito Santo. Quando estamos em comunhão com Deus, o Espírito Santo vem habitar em nós (Jo.14:17), um privilégio que os homens não tinham até a morte e ressurreição de Cristo (Jo.7:38,39; 20:22).
– No culto levítico, o azeite era deitado sobre a flor de farinha, a indicar que, até a morte e ressurreição de Cristo, o Espírito Santo viria sobre aqueles que fizessem uso da Palavra de Deus, profetas, sacerdotes e reis, por meio dos quais orientariam e dirigiriam o povo de Israel e todos quantos se chegassem a Deus.
– Após a retirada do pecado do mundo pelo Cordeiro de Deus, o acesso ao Senhor ficou livre e todos quantos crerem em Jesus receberão, em si mesmos, o Espírito Santo, que os dirigirá, guiará, ensinará e intercederá, estando conosco até o momento em que nos levará até Cristo no dia do arrebatamento da Igreja.
– A presença do azeite na oferta de manjares revela que não é possível um relacionamento entre Deus e os homens sem o Espírito Santo.
É Ele quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8), é Ele quem nos guia a ponto de nos tornar agradáveis ao Senhor (Rm.8:14).
– Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que os salvos não só são filhos de Deus (e têm certeza desta filiação precisamente por causa do testemunho do Espírito Santo – Rm.8:15),
como também, tornam-se homens espirituais, tudo discernindo e de ninguém sendo discernido (I Co.2:11-16), podendo, então, compreender as “coisas de cima”, tendo acesso às revelações sobrenaturais da parte de Deus.
– Jamais poderemos ser verdadeiros adoradores, jamais reconheceremos o senhorio de Cristo se não tivermos o Espírito Santo, se o Consolador não habitar em nós (I Co.12:3).
Por isso, vemos com muita preocupação uma tendência entre muitos que cristãos se dizem ser de deixarem de lado o Espírito Santo e confiarem em técnicas humanas, em estratagemas despidos de qualquer elemento sobrenatural para servirem ao Senhor.
Devemos nos voltar ao Espírito Santo, pois, sem Ele, estaremos irremediavelmente desorientados e caminhando celeremente para a perdição. O azeite era indispensável na apresentação da oferta de manjares ao Senhor.
– O terceiro elemento era o incenso, incenso que simboliza as orações dos santos (Ap.5:8; 8:4).
Não se pode falar em relacionamento com Deus, em comunhão com Deus, se não houver oração.
Como já se disse, se a Palavra de Deus é o alimento sem o que não podemos sobreviver, a oração é o ar espiritual que respiramos, é o “oxigênio da alma”, de modo que, se não tivermos uma vida de oração, igualmente pereceremos, já que não é possível sobreviver sem a respiração.
– O apóstolo Paulo foi claro neste ponto, ao dizer, no primeiro escrito seu e do Novo Testamento, que foi a primeira epístola aos tessalonicenses, que devemos orar sem cessar (I Ts.5:17).
– Jesus deu-nos o exemplo da importância da oração em nossa vida espiritual, pois entrou no mundo orando (Hb.10:5-7), viveu orando (Mt.14:23; 26:36,42,44; Mc.1:35;6:46;14:35,39; Lc.3:21;5:16;6:12;9:18,28,29;11:1; 22:41,44) e morreu orando (Lc.23:46), sendo que, hoje, incessantemente ora por nós à direita do Pai (Is.53:12; Hb.7:25).
– Para que a oração seja ouvida por Deus, é necessário que a pessoa esteja em comunhão com Ele (Is.59:2; Jo.9:31).
A única oração ouvida por Deus da parte de quem está em pecado é, precisamente, a oração em que se confessa o pecado e se pede perdão pela sua prática crendo em Cristo Jesus.
– É importante observar que o azeite e o incenso eram manipulados pelos sacerdotes, pois se tratavam de produtos de uso exclusivo no culto, especialmente preparados para tanto, sendo coisas santas, ou seja, separadas, inacessíveis a qualquer israelita, que, assim, trazia apenas a flor de farinha (Ex.30:22-38).
– O Espírito Santo provém de Deus, é mandado tanto pelo Pai quanto pelo Filho (Lc.24:49; Jo.14:16; 20:22; At.1:4; I Co.2:12), sendo certo que a oração somente se torna eficaz a partir do instante em que entramos em comunhão com o Senhor, por força da obra salvífica de Cristo, que nos traz assim este “fôlego de vida” espiritual.
– Recebendo a flor de farinha, o sacerdote pegava um punhado dela, deitava azeite sobre esta porção, acrescia incenso e o queimava integralmente sobre o altar, que subia, assim, como cheiro suave ao Senhor (Lv.2:2).
O restante da oferta ficava com os sacerdotes, como sua porção, podendo, assim, tal farinha ser utilizada para alimentação dos sacerdotes, sendo coisa santíssima, a que somente os sacerdotes e seus familiares tinham acesso.
– A comunhão existente entre Deus e o Seu povo é algo peculiar, privativo daqueles que servem ao Senhor.
Por isso, é absolutamente imprescindível que haja a comunhão entre os irmãos, peculiaridade que é evidenciada logo quando o historiador Lucas passa a falar da igreja.
– A Igreja é um povo que se caracteriza por perseverar na doutrina dos apóstolos, representada pela “flor de farinha”, pela comunhão, pelo partir do pão e pelas orações (At.2:42).
O corpo de Cristo, aqueles que vivem em comunhão com o Senhor, não podem, assim, ter outra conduta senão seguir a Palavra de Deus (flor de farinha), estar em comunhão com Deus e com os irmãos (o azeite, que é o Espírito Santo que a todos dirige e põe todos em comunhão, pois junta a farinha), o partir do pão (a porção destinada à refeição) e as orações (o incenso).
– As igrejas locais dos primeiros tempos da história sagrada eram caracterizadas por terem paz e serem edificadas, multiplicando-se, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo (At.9:31).
Assim como a igreja em Jerusalém, mantinham estes elementos que demonstram a perfeita integração, a completude que havia entre eles e o Senhor. Será que podemos dizer o mesmo de nossas igrejas locais? Pensemos nisto!
– Além da oferta de flor de farinha, podiam, também, ser oferecidos bolos asmos de flor de farinha, ou seja, era possível trazer-se bolo cozido no forno, em vez de farinha crua.
Aqui já se tem uma diferença com o sacrifício pelo pecado, que, necessariamente, devia ser cru e ser cozido no altar.
A oferta de manjares permitia que o cozimento se fizesse pelo próprio ofertante.
– Isto é importante, porque nos mostra que a santidade é levada para casa, enquanto que o pecado somente poderia ser remido com o derramamento do sangue no altar.
Não há como se alcançar a salvação a não ser através de Jesus Cristo que, para nos salvar, teve de entregar a Sua vida na cruz do Calvário, mas, uma vez perdoados, carregamos a santidade em todo o lugar, pois somos santos em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15).
– A santidade deve estar presente em todo lugar, a começar de nossos lares, onde, no mais das vezes, seriam cozidos os bolos asmos. Temos de ser santos em todas as áreas das nossas vidas, em todo o tempo, em todo o lugar.
– Lamentavelmente, muitos só pensam em santidade (quando pensam…) quando estão se dirigindo para suas igrejas locais ou para alguma reunião religiosa, esquecendo-se de que devem ser santos em toda a sua maneira de viver.
Muitos, indevidamente, segmentam a existência, crendo que existam momentos e lugares para ser santos e momentos e lugares para viverem como todos os demais que não creem em Cristo Jesus. Ledo e cruel engano!
– O cozimento podia ser tanto no forno quanto na caçoula (ou seja, na panela) e os bolos deveriam ser asmos e amassados com azeite e untados com azeite.
Percebamos todos que a primeira exigência é que não fosse posto fermento no bolo, que deveria ser asmo. O uso do fermento era terminantemente proibido (Lv.2:11).
– O fermento simboliza a corrupção, representa o pecado, pois, como sabemos,
“…tecnicamente, a fermentação é assim: o ar contém uma quantidade enorme de microrganismos, nomeadamente esporos de fungos de levedura (Saccharomyces cerevisiae), que encontram nas massas de pão as condições adequadas para se alimentar do amido da farinha.
Em consequência da ação desses microrganismos, o amido divide-se em anidrido carbônico (CO2) e álcool.
As bolhas do gás carbônico não conseguem escapar através da superfície e fazem inchar (crescer) a massa, tornando-a fofa. Durante a cozedura, ácido carbônico e álcool saem da massa, mas a porosidade, sabor e aroma se mantêm.…” (SABORES do Sul. Entenda as diferenças entre fermento químico e biológico. Disponível em: https://revistasaboresdosul.com.br/entenda-asdiferencas-entre-fermento-quimico-e-biologico/ Acesso em 17 maio 2018).
– O fermento, portanto, é uma deterioração da massa do pão, é uma alteração da sua substância, é uma “distorção”, uma “corrupção”, uma “degeneração” e, por isso, simboliza o pecado, que gerou esta corrupção, esta degeneração do ser humano, que o transformou de imagem e semelhança de Deus em imagem e semelhança de um Adão decaído, um ser destituído da glória de Deus (Rm.3:23).
Jesus, mesmo, chamou a doutrina dos fariseus, uma doutrina distorcida da Palavra de Deus, de fermento (Mt.16:6-12).
– Não se pode louvar e adorar a Deus com o pecado, com a prática da iniquidade, com a nossa natureza pecaminosa.
O velho homem, o homem nascido em pecado, a nossa carne jamais podem ser instrumentos para louvarmos ou bendizermos o Senhor. Elemento carnal algum pode compor o nosso louvor e a nossa adoração a Deus.
– Lamentavelmente, nos dias hodiernos, não são poucos que querem agradar a Deus se utilizando de elementos que são verdadeiro “fermento velho”, do qual nós devemos nos alimpar (I Co.5:7), sendo vedado a nós fazer qualquer festa com aquilo que é proveniente do pecado (I Co.5:8).
– Devemos ser intolerantes com qualquer presença de fermento na adoração e no louvor ao Senhor, pois um pouco de fermento leveda toda a massa (Gl.5:9).
Não há meio termo e, por isso, as normas do culto levítico eram bem claras, objetivas, curtas e grossas: “Nenhuma oferta de manjares, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento” (Lv.2:11a).
– Como apresentar culto a Deus com músicas cujos ritmos foram criados para excitar a sensualidade, para dar vazão ao corpo, ou, então, para gerar alienação mental?
Como apresentar culto a Deus se utilizando da dança, que tem sempre sentido corporal e sensual?
Como apresentar culto a Deus usando estratégias de neurolinguística para imbecilizar as pessoas ou causar-lhes um êxtase irracional? Como apresentar culto a Deus copiando comportamentos mundanos?
Tudo isto é fermento que não pode ser tolerado em hipótese alguma, se queremos ter uma oferta pacífica, segundo a principiologia apresentada pelo próprio Deus no regramento do culto levítico.
– Os bolos asmos ou coscorões (pães doces) asmos também não podiam ter mel (Lv.2:11b).
O mel era também associado à corrupção, pois também tem propriedades de fermentação das substâncias com as quais é associado, tanto que, no Talmude, se fala do mel como uma substância que promovia a adulteração, sendo também certo que o mel provém da abelha, que era considerado um animal impuro segundo Filo, filósofo judeu de Alexandria contemporâneo de Jesus.
OBS: Eis o trecho do Talmude que menciona o mel como substância que promovia a adulteração: “Aprendemos lá [Nazir 50-a]: Tudo o que é despejado é limpo, com exceção do mel e da massa grossa.
O que significa zifim [grosso]? – Rabi Johanan disse: Mel usado para adulteração [ziyyef]; e Resh Lakish disse: É nomeado após o seu lugar, como está escrito: Zife, Telem e Bealoth. [Js.15:24].
Você pode citar da mesma forma, Quando os zifeus vieram e disseram a Saul, Porventura Davi não está escondido entre nós etc.[Sl.54:2].
O que significa zifeus? – Rabi Johanan disse: homens que falsificam suas palavras; e Rabi Eliezer diz: Eles são nomeados após o seu lugar, como está escrito: Zife, Telem e Bealoth.” (Sotah 48b) (tradução via Google de texto em inglês. Disponível em: http://www.come-and-hear.com/sotah/sotah_48.html#48b_39 Acesso em 17 maio 2018).
– A única exceção de ofertas que poderia ter fermento era a oferta das primícias (Lv.2:12), a oferta de gratidão pelo fruto da terra, quando o uso do fermento era autorizado, exatamente porque se tratava de agradecer a Deus por tudo o que havia sido dado ao povo na colheita, o que incluía o pão, que tinha fermento, já que o pão sem fermento, o pão asmo, somente era de consumo obrigatório durante a festa dos pães asmos (Ex.23:19; 34:26; Lv.23:10-20). Todavia, tais ofertas não eram levadas sobre o altar.
– Os bolos ou coscorões asmos tinham de ser amassados com azeite e untados com azeite, a reforçar a necessidade de estarmos dirigidos e guiados pelo Espírito Santo para podermos efetivamente cultuar a Deus e ser-Lhe agradáveis.
– Tais bolos eram partidos em pedaços, devendo os sacerdotes deitar azeite sobre tais bolos, levando a oferta ao altar, queimando parte dos pedaços e o restante retendo para si, a fim de ser utilizado nas refeições dos sacerdotes e seus familiares.
– Estas ofertas de manjares tinham, ainda, de ser salgadas com sal, o sal do concerto de Deus (Lv.2:13).
O sal era um elemento indispensável na alimentação, não só no preparo dos alimentos, mas, também, na sua conservação, para impedir ou retardar a degeneração, a corrupção.
Assim, ao mesmo tempo que se proibia fermento e mel, se mandava adicionar sal, sal que era considerado como o “sal do concerto de Deus”.
– Isto nos mostra que o nosso relacionamento com o Senhor é algo que deve ser preservado, mantido, que não pode sofrer degeneração, decaimento.
A oferta pacífica fazia cada israelita lembrar que deveria se manter em comunhão com Deus, que não poderia permitir que o tempo tornasse prejudicado aquele relacionamento.
– O homem interior tem de se renovar dia após dia (II Co.4:16), não podemos jamais nos descuidar de nossa comunhão com o Senhor, sempre nos deixando limpar pela Sua Palavra e de nos submeter à lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo (Jo.15:3; Tt.3:5).
– A nossa santificação, a nossa aproximação a Deus deve ser uma constante, algo incessante, até o dia em que estaremos para sempre com o Senhor (Sl.73:28; Ap.22:11).
Temos sempre de ter carência de Deus, jamais podemos nos sentir satisfeitos, pois corremos o risco de degenerar, como ocorreu com a igreja de Laodiceia, que, por achar que de nada tinha falta, chegou a lastimável situação espiritual (Ap.3:17).
– O sal também nos remete à inviolabilidade e santidade do concerto com Deus, pois, como o sal era um elemento que conservava os alimentos, a utilização dele lembraria o caráter perpétuo da aliança de Deus com Israel e a própria eternidade divina que garantiria a manutenção do pacto para sempre (Nm.18:19; II Cr.13:5), pois a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25).
– Esta importância era tanta que os doutores da lei sempre consideraram que o sal era essencial em todo e qualquer sacrifício, mesmo que não se tratasse de oferta de manjares, o que, aliás, tem base bíblica, já que, em Ezequiel,
nos sacrifícios que ocorrerão no quarto templo, a presença do sal é salientada em sacrifícios que não as ofertas de manjares (Ez.43:24), sendo esta a prática já vigente no segundo templo, consoante nos dá conta Flávio Josefo, em Antiguidades Judaicas III, 10, 131.
OBS: Eis o trecho da obra de Flávio Josefo, quando está a falar dos sacrifícios públicos:
“…quando um homem particular oferece um sacrifício, apresenta um boi, um cordeiro e um cabrito.
Estes dois últimos não devem ter mais que um ano e o boi pode ter mais, mas devem ser machos e consumidos totalmente.
Quando são imolados, e os sacrificadores borrifam o altar com seu sangue e, depois de os ter lavado bem, cortam-nos em pedaços, põem sal e os colocam sobre o altar, onde o fogo está aceso.…” (Antiguidades Judaicas III, 10, 131. In: História dos Hebreus. Trad. Vicente Pedroso, v.1, pp.76-7).
– Jesus disse que Seus discípulos são “o sal da terra”, ou seja, somos a própria demonstração da inviolabilidade e da santidade do pacto que Deus estabeleceu com a humanidade através da aliança firmada no sangue de Cristo.
Temos a missão de conservarmos os valores divinos em meio a uma geração corrompida e perversa; temos a tarefa de mostrar ao mundo a seriedade, a sinceridade e a verdade da Palavra de Deus e do perdão que Ele está a oferecer a todo ser humano mediante o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário.
– Nós, como ofertas vivas ao Senhor, temos de manter e preservar a santidade que adquirimos pelo perdão dos nossos pecados e pela nossa libertação do maligno.
Somos postos separados do pecado (Sl.40:2), somos libertos por Cristo (Jo.8:36) e assumimos o compromisso de servir ao Senhor até o fim, morrendo para o mundo e vivendo única e exclusivamente para o Senhor (Rm.6:4-11; Gl.2:20).
– O sacrifício sem sal não era aceito, porque se tratava de um sacrifício que não salientava o compromisso que havia de Deus para com o ofertante e entre o ofertante e Deus.
Precisamos, igualmente, ser comprometidos com o Senhor para que, efetivamente, tenhamos um relacionamento com Ele, para que seja aceita a nossa adoração.
– Muitos são simpatizantes do Evangelho, simpatizantes de Cristo Jesus, mas não se comprometem com Ele.
Não basta ser simpatizante para se alcançar a salvação, é necessário compromisso.
Muitos sacerdotes simpatizaram com o Senhor Jesus, mas não se comprometeram com Ele (Jo.12:42,43), pois isto exigiria deles sacrifício, renúncia (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23) e, por vezes, até a perda da posição sacerdotal e até mesmo a participação na comunidade (Jo.9:22).
– Quem é tão somente simpatizante do Evangelho, não se compromete com o Senhor, quando é exigida a tomada de uma atitude de renúncia e de sacrifício, imediatamente deixa de servir a Deus,
passa a agir como agem todos os que não creem em Cristo, não podendo, assim, querer agradar a Deus, pois seu intuito é, sim, agradar aos homens e quem assim atua não pode ser considerado servo de Cristo Jesus (Gl.1:10).
– A importância do sal no sacrifício é salientada por Nosso Senhor e Salvador, que disse que nós deveríamos ter sal em nós mesmos e paz uns com os outros, a indicar a necessidade do compromisso que temos de ter com Deus e com os nossos irmãos (Mc.9:50).
– Outro tipo de oferta de manjares era a oferta de manjares das primícias, quando eram oferecidas espigas verdes, tostadas ao fogo, o grão trilhado de espigas verdes cheias (Lv.2:14-16).
– As espigas tinham de ser verdes, ou seja, não podiam ser maduras, precisamente para evitar que elas fossem, de algum modo, já corrompidas, já em estado de putrefação.
Sobre elas, deveria ser deitado azeite como também posto incenso, como em toda a oferta pacífica, sendo, então, queimado o grão trilhado em louvor e adoração ao Senhor.
– A espiga era tostada ao fogo, mas, depois, o grão era trilhado, dentro da mesma sistemática do sacrifício de holocausto, ou seja, de que Jesus Cristo promove a multiplicação, como o grão de trigo que morre e, por sua morte, germina e dá muito fruto.
Os grãos trilhados representam os filhos de Deus, salvos por Cristo Jesus e que, em Cristo, formam um novo povo, que tem comunhão com o Senhor, povo santo (espigas verdes), cheias do Espírito Santo (com azeite, tostadas ao fogo e espigas cheias), cujas orações são ouvidas pelo Senhor, diante de sua santidade (incenso).
IV – OS SACRIFÍCIOS DE PAZ OU DAS GRAÇAS
– Mas, além das ofertas de manjares, havia, também, a possibilidade de se oferecerem sacrifícios pacíficos de animais, que estão previstos no capítulo 3 do livro de Levítico.
– A oferta pacífica de animal poderia ser tanto de macho quanto de fêmea, desde que fosse sem mancha diante do Senhor (Lv.3:1).
– Esta possibilidade de ser tanto macho quanto fêmea nos lembra do fato de que Deus não faz acepção de pessoas, está pronto a salvar tanto homens quanto mulheres, como também que, em Cristo, na Igreja, não há qualquer distinção entre homens e mulheres (Gl.3:28; Cl.3:11).
– Todos podemos, pelo sangue de Cristo, entrar em comunhão com o Senhor, a salvação é para todos, pois Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).
– O animal, porém, tinha de ser sem mancha, ou seja, mister se faz que se tenha santidade para que se apresente diante do Senhor. A Igreja do Senhor é imaculada (Ef.5:27) e assim deve se apresentar diante de Deus.
Sua pureza não decorre de suas próprias virtudes, mas única e exclusivamente do fato de que Cristo é o inocente que morreu no lugar dos pecadores (Hb.7:26).
– Tanto não é em decorrência de nossos supostos méritos que estamos em comunhão com o Senhor que, mesmo no sacrifício pacífico, que não visava a reparação de pecados,
o ofertante tinha de pôr a mão sobre a cabeça do animal, para reconhecer que não era em virtude de si que se encontrava em comunhão com Deus e em condições de apresentar-Lhe uma oferta pacífica, mas, sim, por causa de um substituto, que havia pagado o preço dos seus pecados.
Alcançamos paz com Deus por causa da justificação pela fé em Cristo Jesus (Rm.5:1).
– Quando nos apresentamos diante de Deus para oferecer-Lhe sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o nosso culto racional, devemos sempre ter em mente que estamos ali pela graça, sem qualquer merecimento, única e exclusivamente em função da morte vicária de Cristo.
– Se jamais nos esquecêssemos desta realidade espiritual, teríamos, certamente, outro comportamento diante do Senhor.
Estaríamos em plena reverência, lembrando que não tínhamos direito algum a estarmos na presença de Deus; jamais reivindicaríamos quaisquer “direitos” ou “privilégios”, visto que teríamos a plena convicção de que nossa posição é mera liberalidade do Senhor, é um favor imerecido.
– O animal, então, era degolado diante da porta da tenda da congregação, sendo que seu sangue era espargido sobre o altar em roda (Lv.3:2).
– Em seguida, a fressura, a gordura, ambos os rins, a gordura sobre as tripas e o redenho que está sobre o fígado eram queimados no altar em oferta queimada ao Senhor (Lv.3:3-5).
– Se a oferta fosse gado miúdo, também se poderia tanto macho quanto fêmea, sem mancha e o procedimento seria o mesmo do animal de grande porte (Lv.3:6-11), o mesmo se dando se o animal fosse uma cabra (Lv.3:12-15).
– Nestes mandamentos a respeito dos sacrifícios pacíficos, havia a ordenança de que toda a gordura deveria ser do Senhor, sendo vedada a sua ingestão (Lv.3:16).
A gordura era considerada a parte mais excelente do animal e, como tal, deveria ser inteiramente dedicada a Deus, sendo proibido o seu consumo.
– Dentro desta perspectiva, notamos que, na adoração, nosso objetivo deve ser o de agradar a Deus, fazerLhe a vontade, é um reconhecimento de Seu senhorio, de Sua soberania. Não temos de agradar aos homens, mas única e exclusivamente a Deus.
– Nosso sacrifício tem de ser agradável a Deus e somente quem faz a vontade do Senhor permanecerá para sempre (I Jo.2:17), ou seja, a vida eterna só é uma realidade para aquele que tem como alvo, como objetivo agradar ao Senhor.
– Como costuma dizer o pastor e escritor José Serafim de Oliveira, agradar a Deus é segredo para alcançarmos a glorificação, o estágio final do processo da salvação.
Somente seremos salvos se efetivamente agradarmos ao Senhor, pois foi por este motivo que Enoque não viu a morte, sendo trasladado, precisamente por ter dado testemunho de que agradara a Deus (Hb.11:5).
– Somente é servo de Jesus Cristo quem agrada a Deus (Gl.1:10) e o sacrifício pacífico, quando determina que o melhor do animal, a sua gordura, deveria ser totalmente entregue ao Senhor, está a nos dizer que devemos dar prioridade absoluta ao Senhor e ao Seu reino.
Daí porque o Senhor Jesus ter dito que devemos buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, tratando todas as coisas desta vida, inclusive aquelas que são essenciais à nossa própria sobrevivência, como meros acréscimos (Mt.6:31-33; Lc.12:31).
– O apóstolo Paulo seguiu à risca esta máxima, tanto que não tinha sequer a sua vida por preciosa (At.20:24), tendo como alvo tão somente cumprir o seu ministério, o que, inclusive, recomendava fosse tal atitude seguida por seu filho na fé Timóteo (II Tm.4:5).
IV – OS SACRIFÍCIOS PELOS PECADOS E PELAS TRANSGRESSÕES
– Havia, também, prescrição sobre os sacrifícios decorrentes da prática de pecado e transgressão por parte de várias pessoas, desde um israelita comum até um príncipe e de um sacerdote.
– Assim, havia, por exemplo, regra sobre o sacrifício de holocausto que se fazia por conta do pecado involuntário de um sacerdote (Lv.4:1-12).
Quando um sacerdote pecasse, gerando escândalo para o povo, deveria oferecer pelo seu pecado um novilho sem mancha ao Senhor por expiação do pecado, trazendo o novilho à porta da tenda da congregação,
pondo a sua mão sobre a cabeça do novilho e degolando o novilho perante o Senhor, ou seja, exatamente como a oferta de holocausto de gado, a mostrar que o sacerdote,
embora fosse sacerdote, era igual a qualquer outro israelita e, até mais do que qualquer outro israelita, tinha o dever de apresentar um novilho, enquanto os demais israelitas poderiam apresentar outros animais consoante a sua própria condição social.
– Isto nos ensina que aqueles que causam escândalo ao povo, por terem pecado estando à frente do povo de Deus, em posição de proeminência, devem publicamente pedir perdão pelos seus pecados, ou seja,
quem está em posição de proeminência sempre causam escândalo quando pecam, quando cometem alguma transgressão, de forma que todos devem pedir perdão à igreja local quando caírem em pecado,
seja qual for o pecado cometido, algo que, lamentavelmente, tem sido esquecido em muitos lugares, o que contribui para o descrédito da obra de Deus.
– O apóstolo Paulo, ao ensinar a Timóteo como deveria exercer o ministério pastoral, não se esqueceu desta peculiaridade, mandando que a repreensão aos presbíteros, ou seja,
aos ministros que estavam a apascentar o povo de Deus, deveria ser pública para gerar temor, ou seja, para que todos compreendam a seriedade e a necessidade de se observar a Palavra de Deus para chegarmos aos céus (I Tm.5:20).
– Mas este sacrifício tinha uma peculiaridade: o sacerdote deveria molhar o seu dedo no sangue e daquele sangue deveria espargir sete vezes perante o Senhor, diante do véu do santuário, pondo também daquele sangue sobre as pontas do altar de incenso perante o Senhor, que estava na tenda da congregação e todo o restante do sangue derramaria à base do altar de cobre.
– Tal peculiaridade mostra, claramente, que, em se tratando de alguém que tem posição de proeminência no meio do povo de Deus, é mister que haja também a purificação do próprio exercício do ministério,
representado aqui pelo fato de se ter de espargir o sangue no véu do tabernáculo, lembrando que o sacerdote tinha o direito de entrar no lugar santo, o que era vedado aos demais israelitas.
Tendo ele pecado, não poderia lá entrar se o sangue do animal ofertado, que cobria o seu pecado, não fosse espargido no véu do tabernáculo, como que a cobrir o próprio pecador quando ele novamente adentrasse no lugar santo, como também este sangue fosse posto no altar de incenso, onde o referido sacerdote iria queimar o incenso ao Senhor.
– Os demais israelitas não participavam da atividade no lugar santo e, por isso, o sangue derramado para a cobertura de seus pecados ficava tão somente no altar de cobre. Já com relação aos sacerdotes, era preciso que também se estendesse a purificação até os lugares onde ele exerceria o seu ministério.
– Isto nos mostra que, embora todos sejamos sacerdotes na dispensação da graça, é inegável que aqueles que estão à testa do povo devem ter, no tratamento do pecado, um rigor maior.
Faz-se necessário não só que publicamente confesse a transgressão e obtenha o perdão da comunidade, como também que sejam tomadas efetivas medidas para que seu ministério seja purificado.
– Tal disposição da lei mosaica, inclusive, também mostra, com clareza, que é, sim, extensivo ao exercício do ministério o perdão dos pecados, pois há aqueles que, equivocadamente, entendem que o ministro, tendo pecado e causado escândalo, pode, sim, obter o perdão, mas nunca mais poderá exercer o ministério.
O sangue do animal, no culto levítico, também cobria o exercício do ofício sacerdotal e, portanto, não há como poder afirmar que o sangue de Cristo, que tira e não apenas cobre o pecado, não seja eficaz para restaurar o ministério de alguém que tenha pecado e causado escândalo.
– No mais, o sacrifício pelos erros do sacerdote seguia os ditames dos demais sacrifícios, inclusive com a queima total do animal, com exceção do couro, da carne com a sua cabeça, as pernas e entranhas e o esterco, que deveriam ser levados fora do arraial, para um lugar limpo, onde se lança a cinza, e queimado com fogo sobre a lenha, onde se lança a cinza.
– O fato de parte do animal ser queimada fora do arraial aponta para o sumo sacerdote Jesus Cristo, que morreu fora da cidade de Jerusalém, pois estamos diante de um sacrifício que também servia ao sumo sacerdote (Hb.13:11,12).
– Esta mesma sistemática se dá com outro tipo de sacrifício de holocausto, o sacrifício pelo pecado cuja autoria fosse desconhecida, o pecado praticado ocultamente mas que se tornasse notório (Lv.4:13-21).
Neste caso, por não se saber quem era o pecador, o povo assumia a culpa diante de Deus e se fazia um sacrifício nos mesmos moldes que o previsto para os pecados dos sacerdotes, até porque, ante o desconhecimento do autor da falta, poderia ser ele um sacerdote, de modo que se adotava o sacrifício mais rigoroso.
– Outro tipo de sacrifício de holocausto era o sacrifício pelos erros de um príncipe, ou seja, de uma pessoa proeminente no meio do povo mas que não fosse sacerdote, como o governante, por exemplo (Lv.4:22-26).
Aqui, basicamente, se tem o sacrifício de um bode sem mancha, sobre o qual poria sua mão sobre a cabeça, havendo o sacrifício, com o derramamento do sangue no altar, ou seja,
fundamentalmente o mesmo sacrifício de qualquer outro do povo, mas com a exigência de que o animal fosse necessariamente um bode, o que se confirma na continuidade do texto, que fala dos erros praticados por qualquer do povo (Lv.4:27-35).
– Neste caso, tem-se que o animal que se deveria matar seria uma cabra fêmea sem mancha, o que levou alguns a querem defender, com esta disposição, de que Jesus Cristo seria uma mulher, um verdadeiro absurdo, como tem defendido uma doutrina herética denominada “Raça Superior”, que chama Jesus de “Cristo Lisbet”.
Por que se tem aqui uma fêmea e não um macho? Estaria aqui quebrada a tipologia de que o animal do sacrifício de holocausto representa Cristo Jesus?
– Russell Norman Champlin assim explica o fato de se ter aqui uma cabra: “…Os intérpretes, sem dúvida, estão com a razão ao reputarem a cabra como o animal de menor valor, entre os que podiam ser oferecidos.…” (Antigo Testamento interpretado versículo por versículo, v.1, p.492).
Aqui, o que se demonstra é, sem dúvida, a plena acessibilidade ao perdão.
A tipologia do animal com respeito a Cristo não está fundada apenas no sexo, que é um fator importante, mas não essencial.
Muito mais importante que o sexo é a circunstância de que Cristo está acessível a todos, de que quer salvar a todos e que, portanto, sempre está disposto a perdoar, pois não veio para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele (Jo.3:17).
– A tipologia da cabra em relação a Cristo está na própria desvalorização que o Senhor Jesus fez para poder salvar o homem.
Assim como a cabra era o animal de menor valor e, portanto, poderia ser oferecido por todo o indivíduo comum que pecasse, o Senhor Jesus deixou a Sua glória, fez-Se homem e aceitou ser avaliado por apenas trinta moedas de prata, a fim de nos alcançar a redenção, pagando altíssimo preço por nós (I Pe.1:18,19; Zc.11:13; Mt.27:9).
– Este altíssimo valor do sacrifício de Cristo e o Seu esvaziamento para realizá-lo deve sempre estar em nossa mente, para que saibamos quão ofensivos seremos a Deus se pisarmos o sangue de Cristo, gravidade que foi muito bem explicada pelo escritor aos hebreus (Hb.10:26-31), até porque o Seu sacrifício é perfeito e único. Que Deus nos guarde!
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4037-licao-10-o-sistema-de-sacrificios-i-e-apendice-n-1-estrutura-e-materiais-do-tabernaculo