LIÇÃO Nº 10 – OFERTAS PACÍFICAS PARA UM DEUS DE PAZ
Os sacrifícios pacíficos serviam para louvor, gratidão e adoração a Deus.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do livro de Levítico, estudaremos as ofertas pacíficas.
– Os sacrifícios pacíficos serviam para louvor, gratidão e adoração a Deus.
I – AS OFERTAS DE MANJARES
– Na sequência do estudo do livro de Levítico, estudaremos as ofertas pacíficas.
– Após ter cuidado dos sacrifícios de holocaustos, o livro de Levítico passa a tratar das ofertas de manjares, ou seja, de ofertas a Deus de vegetais, ofertas que eram feitas para louvor, adoração e gratidão a Deus.
– A existência deste tipo de sacrifício mostra que o relacionamento entre Deus e o homem vai muito além da reconciliação, ou seja, do restabelecimento da comunhão entre o Criador e a Sua mais sublime criatura sobre a face da Terra mediante o perdão dos pecados.
– Quando Deus criou o homem, fê-lo um ser santo e reto (Ec.7:29), de modo que o relacionamento que deveria haver entre Deus e o ser humano nada tinha que ver com o pecado, era algo natural e que levava o homem a adorar a Deus e a desfrutar da Sua companhia, como, aliás, ocorrerá depois que o mal for completamente derrotado após o final da história (Ap.21:3).
– Assim, ao estabelecer as ofertas pacíficas, o culto levítico revela esta realidade de que o homem foi criado para se relacionar com o seu Deus, o seu Criador, louvando-O, adorando-O e Lhe sendo grato.
– Tais ofertas pacíficas também tipificam o relacionamento que deve haver entre Deus e o Seu povo na dispensação da graça. Sim, após termos sido salvos por Cristo Jesus, somos postos em comunhão com o Senhor e temos de nos relacionar com Ele continuamente. Este relacionamento é figurado nas ofertas pacíficas.
– Aliás, o nome de “ofertas pacíficas” ou “ofertas de paz”, ou, ainda, “sacrifícios pacíficos” ou “sacrifícios de paz” é muito elucidativo.
Como se sabe, a palavra “paz” em hebraico é “shalom” (שלם), cujo significado é “estar completo”, “concluir”, “terminar”, “tornar cheio”.
Assim, quando se fala em “oferta pacífica” se fala em oferta de quem está em comunhão, alguém que está completo, e o ser humano somente está completo quando está em estado de amizade com o seu Criador,
pois foi feito à imagem e semelhança de Deus e jamais poderá ser considerado íntegro, completo, realizado, se não estiver em comunhão com o Senhor, pois, aí sim, poderá refletir a imagem do Criador, vivendo semelhantemente a Ele.
– Assim, a oferta pacífica revela a oferta de quem está em comunhão com o Senhor, uma atitude própria de quem não se encontra em pecado e quer simplesmente agradecer, louvar ou adorar a Deus, a reação de quem se encontra em santidade e, portanto, desfruta de vida, já que vida é união, amizade e comunhão com o Senhor.
– Este é o relacionamento daquele que é salvo por Cristo Jesus. Pelo sangue de Cristo, nós, que estávamos longe, agora ficamos perto de Deus (Ef.2:13), precisamente porque Ele é a nossa paz (Ef.2:14), integrandonos ao Senhor e fazendo com que fiquemos participantes da natureza divina (II Pe.1:4).
– As ofertas de manjares deviam ser de flor de farinha e nela se devia deitar azeite e se pôr incenso sobre ela (Lv.2:1). Os elementos desta oferta já bem demonstram o seu caráter. Senão vejamos.
– Por primeiro, a oferta deveria ser de “flor de farinha”, ou seja, se deveria oferecer farinha e a farinha é a matéria-prima do pão, o principal alimento e que nos faz lembrar da Palavra de Deus, que é o pão espiritual (Mt.4:4; Lc.4:4), símbolo do próprio Cristo, que Se autodenominou pão da vida (Jo.6:35,48).
– Não há como mantermos um verdadeiro relacionamento com o Senhor se não nos alimentarmos da Sua Palavra, se não formos santificados pela Palavra (Jo.17:17).
A Palavra de Deus é indispensável para a nossa sobrevivência espiritual, pois, assim como o alimento é absolutamente necessário para que sobrevivamos fisicamente, a Palavra de Deus é essencial para que prossigamos vivos, ou seja, em comunhão com o Senhor, até o momento de adentrarmos os portões eternos e, sem esta perseverança até o final não alcançaremos a salvação (Mt.24:13).
– Esta farinha tinha de ser misturada com azeite. O azeite é símbolo do Espírito Santo. Quando estamos em comunhão com Deus, o Espírito Santo vem habitar em nós (Jo.14:17), um privilégio que os homens não tinham até a morte e ressurreição de Cristo (Jo.7:38,39; 20:22).
– No culto levítico, o azeite era deitado sobre a flor de farinha, a indicar que, até a morte e ressurreição de Cristo, o Espírito Santo viria sobre aqueles que fizessem uso da Palavra de Deus, profetas, sacerdotes e reis, por meio dos quais orientariam e dirigiriam o povo de Israel e todos quantos se chegassem a Deus.
– Após a retirada do pecado do mundo pelo Cordeiro de Deus, o acesso ao Senhor ficou livre e todos quantos crerem em Jesus receberão, em si mesmos, o Espírito Santo, que os dirigirá, guiará, ensinará e intercederá, estando conosco até o momento em que nos levará até Cristo no dia do arrebatamento da Igreja.
– A presença do azeite na oferta de manjares revela que não é possível um relacionamento entre Deus e os homens sem o Espírito Santo.
É Ele quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8), é Ele quem nos guia a ponto de nos tornar agradáveis ao Senhor (Rm.8:14).
– Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que os salvos não só são filhos de Deus (e têm certeza desta filiação precisamente por causa do testemunho do Espírito Santo – Rm.8:15), como também, tornam-se homens espirituais, tudo discernindo e de ninguém sendo discernido (I Co.2:11-16), podendo, então, compreender as “coisas de cima”, tendo acesso às revelações sobrenaturais da parte de Deus.
– Jamais poderemos ser verdadeiros adoradores, jamais reconheceremos o senhorio de Cristo se não tivermos o Espírito Santo, se o Consolador não habitar em nós (I Co.12:3).
Por isso, vemos com muita preocupação uma tendência entre muitos que cristãos se dizem ser de deixarem de lado o Espírito Santo e confiarem em técnicas humanas, em estratagemas despidos de qualquer elemento sobrenatural para servirem ao Senhor.
Devemos nos voltar ao Espírito Santo, pois, sem Ele, estaremos irremediavelmente desorientados e caminhando celeremente para a perdição. O azeite era indispensável na apresentação da oferta de manjares ao Senhor.
– O terceiro elemento era o incenso, incenso que simboliza as orações dos santos (Ap.5:8; 8:4).
Não se pode falar em relacionamento com Deus, em comunhão com Deus, se não houver oração.
Como já se disse, se a Palavra de Deus é o alimento sem o que não podemos sobreviver, a oração é o ar espiritual que respiramos, é o “oxigênio da alma”, de modo que, se não tivermos uma vida de oração, igualmente pereceremos, já que não é possível sobreviver sem a respiração.
– O apóstolo Paulo foi claro neste ponto, ao dizer, no primeiro escrito seu e do Novo Testamento, que foi a primeira epístola aos tessalonicenses, que devemos orar sem cessar (I Ts.5:17).
– Jesus deu-nos o exemplo da importância da oração em nossa vida espiritual, pois entrou no mundo orando (Hb.10:5-7), viveu orando (Mt.14:23; 26:36,42,44; Mc.1:35;6:46;14:35,39; Lc.3:21;5:16;6:12;9:18,28,29;11:1; 22:41,44) e morreu orando (Lc.23:46), sendo que, hoje, incessantemente ora por nós à direita do Pai (Is.53:12; Hb.7:25).
– Para que a oração seja ouvida por Deus, é necessário que a pessoa esteja em comunhão com Ele (Is.59:2; Jo.9:31). A única oração ouvida por Deus da parte de quem está em pecado é, precisamente, a oração em que se confessa o pecado e se pede perdão pela sua prática crendo em Cristo Jesus.
– É importante observar que o azeite e o incenso eram manipulados pelos sacerdotes, pois se tratavam de produtos de uso exclusivo no culto, especialmente preparados para tanto, sendo coisas santas, ou seja, separadas, inacessíveis a qualquer israelita, que, assim, trazia apenas a flor de farinha (Ex.30:22-38).
– O Espírito Santo provém de Deus, é mandado tanto pelo Pai quanto pelo Filho (Lc.24:49; Jo.14:16; 20:22; At.1:4; I Co.2:12), sendo certo que a oração somente se torna eficaz a partir do instante em que entramos em comunhão com o Senhor, por força da obra salvífica de Cristo, que nos traz assim este “fôlego de vida” espiritual.
– Recebendo a flor de farinha, o sacerdote pegava um punhado dela, deitava azeite sobre esta porção, acrescia incenso e o queimava integralmente sobre o altar, que subia, assim, como cheiro suave ao Senhor (Lv.2:2).
O restante da oferta ficava com os sacerdotes, como sua porção, podendo, assim, tal farinha ser utilizada para alimentação dos sacerdotes, sendo coisa santíssima, a que somente os sacerdotes e seus familiares tinham acesso.
– A comunhão existente entre Deus e o Seu povo é algo peculiar, privativo daqueles que servem ao Senhor.
Por isso, é absolutamente imprescindível que haja a comunhão entre os irmãos, peculiaridade que é evidenciada logo quando o historiador Lucas passa a falar da igreja.
– A Igreja é um povo que se caracteriza por perseverar na doutrina dos apóstolos, representada pela “flor de farinha”, pela comunhão, pelo partir do pão e pelas orações (At.2:42).
O corpo de Cristo, aqueles que vivem em comunhão com o Senhor, não podem, assim, ter outra conduta senão seguir a Palavra de Deus (flor de farinha), estar em comunhão com Deus e com os irmãos (o azeite, que é o Espírito Santo que a todos dirige e põe todos em comunhão, pois junta a farinha), o partir do pão (a porção destinada à refeição) e as orações (o incenso).
– As igrejas locais dos primeiros tempos da história sagrada eram caracterizadas por terem paz e serem edificadas, multiplicando-se, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo (At.9:31).
Assim como a igreja em Jerusalém, mantinham estes elementos que demonstram a perfeita integração, a completude que havia entre eles e o Senhor. Será que podemos dizer o mesmo de nossas igrejas locais? Pensemos nisto!
– Além da oferta de flor de farinha, podiam, também, ser oferecidos bolos asmos de flor de farinha, ou seja, era possível trazer-se bolo cozido no forno, em vez de farinha crua.
Aqui já se tem uma diferença com o sacrifício pelo pecado, que, necessariamente, devia ser cru e ser cozido no altar. A oferta de manjares permitia que o cozimento se fizesse pelo próprio ofertante.
– Isto é importante, porque nos mostra que a santidade é levada para casa, enquanto que o pecado somente poderia ser remido com o derramamento do sangue no altar.
Não há como se alcançar a salvação a não ser através de Jesus Cristo que, para nos salvar, teve de entregar a Sua vida na cruz do Calvário, mas, uma vez perdoados, carregamos a santidade em todo o lugar, pois somos santos em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15).
– A santidade deve estar presente em todo lugar, a começar de nossos lares, onde, no mais das vezes, seriam cozidos os bolos asmos. Temos de ser santos em todas as áreas das nossas vidas, em todo o tempo, em todo o lugar.
– Lamentavelmente, muitos só pensam em santidade (quando pensam…) quando estão se dirigindo para suas igrejas locais ou para alguma reunião religiosa, esquecendo-se de que devem ser santos em toda a sua maneira de viver.
Muitos, indevidamente, segmentam a existência, crendo que existam momentos e lugares para ser santos e momentos e lugares para viverem como todos os demais que não creem em Cristo Jesus. Ledo e cruel engano!
– O cozimento podia ser tanto no forno quanto na caçoula (ou seja, na panela) e os bolos deveriam ser asmos e amassados com azeite e untados com azeite.
Percebamos todos que a primeira exigência é que não fosse posto fermento no bolo, que deveria ser asmo. O uso do fermento era terminantemente proibido (Lv.2:11).
– O fermento simboliza a corrupção, representa o pecado, pois, como sabemos, “…tecnicamente, a fermentação é assim:
o ar contém uma quantidade enorme de microrganismos, nomeadamente esporos de fungos de levedura (Saccharomyces cerevisiae), que encontram nas massas de pão as condições adequadas para se alimentar do amido da farinha.
Em consequência da ação desses microrganismos, o amido divide-se em anidrido carbônico (CO2) e álcool.
As bolhas do gás carbônico não conseguem escapar através da superfície e fazem inchar (crescer) a massa, tornando-a fofa.
Durante a cozedura, ácido carbônico e álcool saem da massa, mas a porosidade, sabor e aroma se mantêm.…” (SABORES do Sul. Entenda as diferenças entre fermento químico e biológico. Disponível em: https://revistasaboresdosul.com.br/entenda-asdiferencas-entre-fermento-quimico-e-biologico/ Acesso em 17 maio 2018).
– O fermento, portanto, é uma deterioração da massa do pão, é uma alteração da sua substância, é uma “distorção”, uma “corrupção”, uma “degeneração” e, por isso, simboliza o pecado, que gerou esta corrupção, esta degeneração do ser humano, que o transformou de imagem e semelhança de Deus em imagem e semelhança de um Adão decaído, um ser destituído da glória de Deus (Rm.3:23).
Jesus, mesmo, chamou a doutrina dos fariseus, uma doutrina distorcida da Palavra de Deus, de fermento (Mt.16:6-12).
– Não se pode louvar e adorar a Deus com o pecado, com a prática da iniquidade, com a nossa natureza pecaminosa.
O velho homem, o homem nascido em pecado, a nossa carne jamais podem ser instrumentos para louvarmos ou bendizermos o Senhor. Elemento carnal algum pode compor o nosso louvor e a nossa adoração a Deus.
– Lamentavelmente, nos dias hodiernos, não são poucos que querem agradar a Deus se utilizando de elementos que são verdadeiro “fermento velho”, do qual nós devemos nos alimpar (I Co.5:7), sendo vedado a nós fazer qualquer festa com aquilo que é proveniente do pecado (I Co.5:8).
– Devemos ser intolerantes com qualquer presença de fermento na adoração e no louvor ao Senhor, pois um pouco de fermento leveda toda a massa (Gl.5:9).
Não há meio termo e, por isso, as normas do culto levítico eram bem claras, objetivas, curtas e grossas: “Nenhuma oferta de manjares, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento” (Lv.2:11a).
– Como apresentar culto a Deus com músicas cujos ritmos foram criados para excitar a sensualidade, para dar vazão ao corpo, ou, então, para gerar alienação mental?
Como apresentar culto a Deus se utilizando da dança, que tem sempre sentido corporal e sensual?
Como apresentar culto a Deus usando estratégias de neurolinguística para imbecilizar as pessoas ou causar-lhes um êxtase irracional?
Como apresentar culto a Deus copiando comportamentos mundanos? Tudo isto é fermento que não pode ser tolerado em hipótese alguma, se queremos ter uma oferta pacífica, segundo a principiologia apresentada pelo próprio Deus no regramento do culto levítico.
– Os bolos asmos ou coscorões (pães doces) asmos também não podiam ter mel (Lv.2:11b). O mel era também associado à corrupção, pois também tem propriedades de fermentação das substâncias com as quais é associado, tanto que, no Talmude, se fala do mel como uma substância que promovia a adulteração, sendo também certo que o mel provém da abelha, que era considerado um animal impuro segundo Filo, filósofo judeu de Alexandria contemporâneo de Jesus.
OBS: Eis o trecho do Talmude que menciona o mel como substância que promovia a adulteração:
“Aprendemos lá [Nazir 50-a]: Tudo o que é despejado é limpo, com exceção do mel e da massa grossa. O que significa zifim [grosso]?
– Rabi Johanan disse: Mel usado para adulteração [ziyyef]; e Resh Lakish disse: É nomeado após o seu lugar, como está escrito: Zife, Telem e Bealoth. [Js.15:24].
Você pode citar da mesma forma, Quando os zifeus vieram e disseram a Saul, Porventura Davi não está escondido entre nós etc.[Sl.54:2].
O que significa zifeus?
– Rabi Johanan disse:
homens que falsificam suas palavras; e Rabi Eliezer diz: Eles são nomeados após o seu lugar, como está escrito: Zife, Telem e Bealoth.” (Sotah 48b) (tradução via Google de texto em inglês. Disponível em: http://www.come-and-hear.com/sotah/sotah_48.html#48b_39 Acesso em 17 maio 2018).
– A única exceção de ofertas que poderia ter fermento era a oferta das primícias (Lv.2:12), a oferta de gratidão pelo fruto da terra, quando o uso do fermento era autorizado, exatamente porque se tratava de agradecer a Deus por tudo o que havia sido dado ao povo na colheita,
o que incluía o pão, que tinha fermento, já que o pão sem fermento, o pão asmo, somente era de consumo obrigatório durante a festa dos pães asmos (Ex.23:19; 34:26; Lv.23:10-20). Todavia, tais ofertas não eram levadas sobre o altar.
– Os bolos ou coscorões asmos tinham de ser amassados com azeite e untados com azeite, a reforçar a necessidade de estarmos dirigidos e guiados pelo Espírito Santo para podermos efetivamente cultuar a Deus e ser-Lhe agradáveis.
– Tais bolos eram partidos em pedaços, devendo os sacerdotes deitar azeite sobre tais bolos, levando a oferta ao altar, queimando parte dos pedaços e o restante retendo para si, a fim de ser utilizado nas refeições dos sacerdotes e seus familiares.
– Estas ofertas de manjares tinham, ainda, de ser salgadas com sal, o sal do concerto de Deus (Lv.2:13).
O sal era um elemento indispensável na alimentação, não só no preparo dos alimentos, mas, também, na sua conservação, para impedir ou retardar a degeneração, a corrupção.
Assim, ao mesmo tempo que se proibia fermento e mel, se mandava adicionar sal, sal que era considerado como o “sal do concerto de Deus”.
– Isto nos mostra que o nosso relacionamento com o Senhor é algo que deve ser preservado, mantido, que não pode sofrer degeneração, decaimento.
A oferta pacífica fazia cada israelita lembrar que deveria se manter em comunhão com Deus, que não poderia permitir que o tempo tornasse prejudicado aquele relacionamento.
– O homem interior tem de se renovar dia após dia (II Co.4:16), não podemos jamais nos descuidar de nossa comunhão com o Senhor, sempre nos deixando limpar pela Sua Palavra e de nos submeter à lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo (Jo.15:3; Tt.3:5).
– A nossa santificação, a nossa aproximação a Deus deve ser uma constante, algo incessante, até o dia em que estaremos para sempre com o Senhor (Sl.73:28; Ap.22:11).
Temos sempre de ter carência de Deus, jamais podemos nos sentir satisfeitos, pois corremos o risco de degenerar, como ocorreu com a igreja de Laodiceia, que, por achar que de nada tinha falta, chegou a lastimável situação espiritual (Ap.3:17).
– O sal também nos remete à inviolabilidade e santidade do concerto com Deus, pois, como o sal era um elemento que conservava os alimentos, a utilização dele lembraria o caráter perpétuo da aliança de Deus com Israel e a própria eternidade divina que garantiria a manutenção do pacto para sempre (Nm.18:19; II Cr.13:5), pois a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25).
– Esta importância era tanta que os doutores da lei sempre consideraram que o sal era essencial em todo e qualquer sacrifício, mesmo que não se tratasse de oferta de manjares, o que, aliás, tem base bíblica, já que, em Ezequiel,
nos sacrifícios que ocorrerão no quarto templo, a presença do sal é salientada em sacrifícios que não as ofertas de manjares (Ez.43:24), sendo esta a prática já vigente no segundo templo, consoante nos dá conta Flávio Josefo, em Antiguidades Judaicas III, 10, 131.
OBS: Eis o trecho da obra de Flávio Josefo, quando está a falar dos sacrifícios públicos: “…quando um homem particular oferece um sacrifício, apresenta um boi, um cordeiro e um cabrito.
Estes dois últimos não devem ter mais que um ano e o boi pode ter mais, mas devem ser machos e consumidos totalmente.
Quando são imolados, e os sacrificadores borrifam o altar com seu sangue e, depois de os ter lavado bem, cortam-nos em pedaços, põem sal e os colocam sobre o altar, onde o fogo está aceso.…” (Antiguidades Judaicas III, 10, 131. In: História dos Hebreus. Trad. Vicente Pedroso, v.1, pp.76-7).
– Jesus disse que Seus discípulos são “o sal da terra”, ou seja, somos a própria demonstração da inviolabilidade e da santidade do pacto que Deus estabeleceu com a humanidade através da aliança firmada no sangue de Cristo.
Temos a missão de conservarmos os valores divinos em meio a uma geração corrompida e perversa; temos a tarefa de mostrar ao mundo a seriedade, a sinceridade e a verdade da Palavra de Deus e do perdão que Ele está a oferecer a todo ser humano mediante o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário.
– Nós, como ofertas vivas ao Senhor, temos de manter e preservar a santidade que adquirimos pelo perdão dos nossos pecados e pela nossa libertação do maligno.
Somos postos separados do pecado (Sl.40:2), somos libertos por Cristo (Jo.8:36) e assumimos o compromisso de servir ao Senhor até o fim, morrendo para o mundo e vivendo única e exclusivamente para o Senhor (Rm.6:4-11; Gl.2:20).
– O sacrifício sem sal não era aceito, porque se tratava de um sacrifício que não salientava o compromisso que havia de Deus para com o ofertante e entre o ofertante e Deus.
Precisamos, igualmente, ser comprometidos com o Senhor para que, efetivamente, tenhamos um relacionamento com Ele, para que seja aceita a nossa adoração.
– Muitos são simpatizantes do Evangelho, simpatizantes de Cristo Jesus, mas não se comprometem com Ele.
Não basta ser simpatizante para se alcançar a salvação, é necessário compromisso. Muitos sacerdotes simpatizaram com o Senhor Jesus, mas não se comprometeram com Ele (Jo.12:42,43), pois isto exigiria deles sacrifício, renúncia (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23) e, por vezes, até a perda da posição sacerdotal e até mesmo a participação na comunidade (Jo.9:22).
– Quem é tão somente simpatizante do Evangelho, não se compromete com o Senhor, quando é exigida a tomada de uma atitude de renúncia e de sacrifício, imediatamente deixa de servir a Deus, passa a agir como agem todos os que não creem em Cristo, não podendo, assim, querer agradar a Deus, pois seu intuito é, sim, agradar aos homens e quem assim atua não pode ser considerado servo de Cristo Jesus (Gl.1:10).
– A importância do sal no sacrifício é salientada por Nosso Senhor e Salvador, que disse que nós deveríamos ter sal em nós mesmos e paz uns com os outros, a indicar a necessidade do compromisso que temos de ter com Deus e com os nossos irmãos (Mc.9:50).
– Outro tipo de oferta de manjares era a oferta de manjares das primícias, quando eram oferecidas espigas verdes, tostadas ao fogo, o grão trilhado de espigas verdes cheias (Lv.2:14-16).
– As espigas tinham de ser verdes, ou seja, não podiam ser maduras, precisamente para evitar que elas fossem, de algum modo, já corrompidas, já em estado de putrefação.
Sobre elas, deveria ser deitado azeite como também posto incenso, como em toda a oferta pacífica, sendo, então, queimado o grão trilhado em louvor e adoração ao Senhor.
– A espiga era tostada ao fogo, mas, depois, o grão era trilhado, dentro da mesma sistemática do sacrifício de holocausto, ou seja, de que Jesus Cristo promove a multiplicação, como o grão de trigo que morre e, por sua morte, germina e dá muito fruto.
Os grãos trilhados representam os filhos de Deus, salvos por Cristo Jesus e que, em Cristo, formam um novo povo, que tem comunhão com o Senhor, povo santo (espigas verdes), cheias do Espírito Santo (com azeite, tostadas ao fogo e espigas cheias), cujas orações são ouvidas pelo Senhor, diante de sua santidade (incenso).
II – OS SACRIFÍCIOS DE PAZ OU DAS GRAÇAS
– Mas, além das ofertas de manjares, havia, também, a possibilidade de se oferecerem sacrifícios pacíficos de animais, que estão previstos no capítulo 3 do livro de Levítico.
– A oferta pacífica de animal poderia ser tanto de macho quanto de fêmea, desde que fosse sem mancha diante do Senhor (Lv.3:1).
– Esta possibilidade de ser tanto macho quanto fêmea nos lembra do fato de que Deus não faz acepção de pessoas, está pronto a salvar tanto homens quanto mulheres, como também que, em Cristo, na Igreja, não há qualquer distinção entre homens e mulheres (Gl.3:28; Cl.3:11).
– Todos podemos, pelo sangue de Cristo, entrar em comunhão com o Senhor, a salvação é para todos, pois Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).
– O animal, porém, tinha de ser sem mancha, ou seja, mister se faz que se tenha santidade para que se apresente diante do Senhor.
A Igreja do Senhor é imaculada (Ef.5:27) e assim deve se apresentar diante de Deus. Sua pureza não decorre de suas próprias virtudes, mas única e exclusivamente do fato de que Cristo é o inocente que morreu no lugar dos pecadores (Hb.7:26).
– Tanto não é em decorrência de nossos supostos méritos que estamos em comunhão com o Senhor que, mesmo no sacrifício pacífico, que não visava a reparação de pecados, o ofertante tinha de pôr a mão sobre a cabeça do animal,
para reconhecer que não era em virtude de si que se encontrava em comunhão com Deus e em condições de apresentar-Lhe uma oferta pacífica, mas, sim, por causa de um substituto, que havia pagado o preço dos seus pecados. Alcançamos paz com Deus por causa da justificação pela fé em Cristo Jesus (Rm.5:1).
– Quando nos apresentamos diante de Deus para oferecer-Lhe sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o nosso culto racional, devemos sempre ter em mente que estamos ali pela graça, sem qualquer merecimento, única e exclusivamente em função da morte vicária de Cristo.
– Se jamais nos esquecêssemos desta realidade espiritual, teríamos, certamente, outro comportamento diante do Senhor.
Estaríamos em plena reverência, lembrando que não tínhamos direito algum a estarmos na presença de Deus; jamais reivindicaríamos quaisquer “direitos” ou “privilégios”, visto que teríamos a plena convicção de que nossa posição é mera liberalidade do Senhor, é um favor imerecido.
– O animal, então, era degolado diante da porta da tenda da congregação, sendo que seu sangue era espargido sobre o altar em roda (Lv.3:2).
– Em seguida, a fressura, a gordura, ambos os rins, a gordura sobre as tripas e o redenho que está sobre o fígado eram queimados no altar em oferta queimada ao Senhor (Lv.3:3-5).
– Se a oferta fosse gado miúdo, também se poderia tanto macho quanto fêmea, sem mancha e o procedimento seria o mesmo do animal de grande porte (Lv.3:6-11), o mesmo se dando se o animal fosse uma cabra (Lv.3:12-15).
– Nestes mandamentos a respeito dos sacrifícios pacíficos, havia a ordenança de que toda a gordura deveria ser do Senhor, sendo vedada a sua ingestão (Lv.3:16).
A gordura era considerada a parte mais excelente do animal e, como tal, deveria ser inteiramente dedicada a Deus, sendo proibido o seu consumo.
– Dentro desta perspectiva, notamos que, na adoração, nosso objetivo deve ser o de agradar a Deus, fazerLhe a vontade, é um reconhecimento de Seu senhorio, de Sua soberania. Não temos de agradar aos homens, mas única e exclusivamente a Deus.
– Nosso sacrifício tem de ser agradável a Deus e somente quem faz a vontade do Senhor permanecerá para sempre (I Jo.2:17), ou seja, a vida eterna só é uma realidade para aquele que tem como alvo, como objetivo agradar ao Senhor.
– Como costuma dizer o pastor e escritor José Serafim de Oliveira, agradar a Deus é segredo para alcançarmos a glorificação, o estágio final do processo da salvação.
Somente seremos salvos se efetivamente agradarmos ao Senhor, pois foi por este motivo que Enoque não viu a morte, sendo trasladado, precisamente por ter dado testemunho de que agradara a Deus (Hb.11:5).
– Somente é servo de Jesus Cristo quem agrada a Deus (Gl.1:10) e o sacrifício pacífico, quando determina que o melhor do animal, a sua gordura, deveria ser totalmente entregue ao Senhor, está a nos dizer que devemos dar prioridade absoluta ao Senhor e ao Seu reino.
Daí porque o Senhor Jesus ter dito que devemos buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, tratando todas as coisas desta vida, inclusive aquelas que são essenciais à nossa própria sobrevivência, como meros acréscimos (Mt.6:31-33; Lc.12:31).
– O apóstolo Paulo seguiu à risca esta máxima, tanto que não tinha sequer a sua vida por preciosa (At.20:24), tendo como alvo tão somente cumprir o seu ministério, o que, inclusive, recomendava fosse tal atitude seguida por seu filho na fé Timóteo (II Tm.4:5).
III – OS SACRIFÍCIOS PACÍFICOS DA NOVA ALIANÇA
– Quando analisamos os sacrifícios pelo pecado, vimos que eles tipificavam o sacrifício único e perfeito de Jesus Cristo, que tirou o pecado do mundo e, portanto, na nova aliança, firmada sobre o sangue de Nosso Senhor e Salvador (Mt.26:28; Mc.14:24; Lc.22:20; I Co.11:25), não há que se falar mais em sacrifícios (Hb.10:12), havendo tão somente a sua comemoração, que se dá na celebração da ceia do Senhor.
– No entanto, com relação aos sacrifícios pacíficos, o mesmo não se dá. Os sacrifícios pacíficos eram realizados para fins de louvor, gratidão e adoração a Deus e não faltam motivos para que o homem, uma vez salvo, continuamente ofereça tais sacrifícios ao Senhor.
– Por isso, ao contrário dos sacrifícios pelo pecado, os sacrifícios pacíficos perduram na nova dispensação, ainda que, logicamente, como não se tem mais o templo e a adoração, doravante, seja em espírito e em verdade, tais sacrifícios tenham uma nova configuração, configuração esta que deve seguir a principiologia que abstraímos do culto levítico. Mas quais são estes sacrifícios? A Bíblia Sagrada no-los diz.
– O primeiro sacrifício é o culto racional (Rm.12:1), que é a apresentação de nossos corpos num sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Devemos reconhecer a soberania divina e Lhe prestar um culto com raciocínio, um culto consciente, um culto onde sabemos exatamente que Deus é o Senhor e nós, Seus servos e que, portanto, o culto deve ser consoante a Sua vontade e da forma que Ele quer.
– O culto racional não é um culto dirigido pela mente ou inteligência humanas, mas, sim, dirigido e guiado pelo Espírito Santo, pois somos homens espirituais, que temos a mente de Cristo (I Co.2:12-16) e que estamos aqui para fazermos a vontade do Senhor.
Aliás, se não for pelo Espírito Santo, jamais reconheceremos o senhorio de Cristo (I Co.12:3).
– Assim, a partir das próprias orientações bíblicas a respeito do culto (I Co.14:26), temos de construir uma liturgia que jamais retire a liberdade do Espírito Santo (II Co.3:17), haja a manifestação da glória e do poder de Deus e a edificação espiritual de todos os seus participantes, com salvação, batismo com o Espírito Santo, manifestação dos dons espirituais, renovação espiritual e sinais, prodígios e maravilhas.
– O segundo sacrifício é a contribuição para a obra de Deus (Fp.4:18). Quando contribuímos para a manutenção da obra do Senhor, estamos oferecendo um sacrifício que é cheiro suave ao Senhor, assim como ocorria com os filipenses que, desde há muito, contribuíam para o ministério do apóstolo Paulo, provendolhe a subsistência.
– Quando ajudamos a realização da obra do Senhor, reconhecemos a nossa gratidão a Deus pela nossa própria salvação, salvação que se deu porque, um dia, ouvimos o Evangelho e recebemos a fé que vem pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17).
– O terceiro sacrifício é o martírio, é a entrega da nossa própria vida em razão da fé em Cristo Jesus. Paulo diz que estava próximo a realizá-lo ao redigir a sua última carta (II Tm.4:6).
Evidentemente que tal circunstância não é extensiva a todos, pois, como bem dizem alguns estudiosos, o martírio é um dom de serviço e, portanto, não é algo extensivo a todos.
No entanto, muitos são os que são chamados para serem oferecidos como libação, ou seja, como o derramamento de vinho que se efetuava em alguns tipos de sacrifício no culto levítico (Ex.29:40,4’1; Lv.23:13; Nm.6:17; 15:5,7,10,24; 28:7-10,15,24; 29:16,22,25,28,31,34,38).
– Este derramamento de sangue, à evidência, significado algum tem em termos de salvação, pois o sangue que nos purifica de todo o pecado é tão somente o sangue de Cristo, mas se trata de um sacrifício pacífico, de uma demonstração sublime de adoração a Deus, pois, quando damos a nossa vida por causa da fé,
estamos reconhecendo que Cristo é o nosso maior amigo (Jo.15:13), ainda que nosso amor seja infinitamente menor que o de Cristo, pois damos nossa vida por Ele, que é bom (Rm.5:7), enquanto Ele morreu por nós quando ainda estamos em estado de inimizade para com Ele (Rm.5:8).
– O quarto sacrifício é a beneficência e a comunicação (Hb.13:16), ou seja, o fazer bem a outrem e a repartição do que se tem com outrem.
Quem sabe fazer o bem e não o faz, peca (Tg.4:17), mas Deus é tão bondoso e amoroso que, quando fazemos o bem a alguém, e, por conseguinte, não fazendo mais do que a obrigação de não pecar, sendo, portanto, servo inútil (Lc.17:10), mesmo assim Se agrada disto, de forma que nos habilitamos a receber não só galardão no Tribunal de Cristo, mas, pela lei da semeadura, alcançarmos até benesses ainda nesta vida por conta desta beneficência e comunicação (Gl.6:9).
– O quinto sacrifício é o sacrifício de louvor, o fruto dos lábios que confessam o nome do Senhor (Hb.13:15).
Quando louvamos a Deus, e louvar a Deus é reconhecer a Deus pelo que Ele faz, estamos a oferecer um sacrifício, que tem de chegar à presença d’Ele como cheiro suave.
– O louvor a Deus não é apenas a música, como muitos equivocadamente entendem. Cantar hinos a Deus, tocar instrumentos para o Senhor faz parte do louvor, mas não se esgota aí o louvor.
Tudo que fizermos para reconhecer o que Deus tem feito para nós é para Seu louvor, é para Sua honra.
A gratidão está sempre por detrás de uma atitude de louvor. Nossa participação na obra do Senhor é uma típica atividade de louvor a Deus.
– O apóstolo Pedro diz que nós, os salvos, somos edificados como pedras vivas, casa espiritual e sacerdócio santo para oferecermos sacrifícios espirituais agradáveis a Deus (I Pe.2:5).
Assim, espera-se de cada um que continuamente ofereçamos sacrifícios ao Senhor, estes sacrifícios pacíficos, que demonstrem nossa gratidão e tenham como objetivo único e exclusivo o louvor e a adoração a Deus.
– Ingressamos na Igreja, fazemos parte do edifício de Deus (I Co.3:9), exatamente para exercermos o nosso ofício sacerdotal, apresentando, diante do Senhor, nossos sacrifícios que não são materiais, como se dava no culto levítico, mas sacrifícios espirituais, ou seja,
provenientes de um coração puro, cheio do Espírito Santo, comprometido com o reino dos céus, temente a Deus, que, assim, pode apresentar ao Senhor algo que seja sem mancha, sem fermento ou mel, com azeite, com incenso e com sal, em que o melhor seja integralmente ofertado ao Senhor e que tenha, como sobejo, a experiência do amor fraternal com os demais irmãos.
– Temos sido estas pedras vivas? Temos sido agradáveis ao Senhor? Pensemos nisso!
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2716-licao-10-ofertas-pacificas-para-um-deus-de-paz-i