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LIÇÃO Nº 10 – RENOVAÇÃO COTIDIANA DO HOMEM INTERIOR

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo dos embates entre a Igreja de Cristo e o império do mal, hoje veremos como precisamos renovar diariamente o homem interior.

-A comunhão com Deus é indispensável para vencermos o mundo.

I – A SALVAÇÃO E A PARTE IMATERIAL DO HOMEM

-Temos estudado ao longo deste trimestre todas as armadilhas e oposições que o mundo, denominado no subtítulo de nosso trimestre como “império do mal”, tem levantado contra a Igreja de Cristo.

-O mundo aborrece a Igreja, porque aborrece a Cristo (Jo.15:18-20), visto que está no maligno (I Jo.5:19) e se constitui no império do morte (Hb.2:14), tendo por príncipe aquele que nada em Jesus (Jo.14:30).

-Há, portanto, uma luta constante e incessante entre a Igreja e o mundo e temos a necessidade de vencer esta batalha, assim como o Senhor Jesus a venceu (Jo.16:33), vitória esta que depende da nossa fé (I Jo.5:4).

-Cristo foi bem claro ao afirmar que no mundo teríamos aflições, mas que não poderíamos desanimar, precisamente porque Ele venceu o mundo (Jo.16:33).

-Alguém pode dizer que a vitória de Jesus sobre o mundo não seria um fator para nos animar, já que Jesus é Deus e nós, não.

Entretanto, não pensemos assim pois a vitória de Jesus sobre o mundo se deu enquanto homem, não enquanto Deus, porquanto Jesus homem foi quem ingressou no mundo (Jo.1:9,10), para vencê- lo e dar-nos não só o exemplo mas o poder de também poder vencê-lo (At.26:18; I Pe.2:9,10).

-Mas, para podermos empreender esta luta e obtermos a vitória, é preciso, antes de mais, nada, entender que se trata de uma luta espiritual, ou seja, não se trata de um combate que envolva o aspecto físico ou natural. Não é uma luta contra a carne e o sangue, mas, sim, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais (Ef.6:12).

-Uma das grandes armadilhas criadas pelo mundo é, precisamente, a de buscar enganar os homens com relação à realidade espiritual, fazendo-os com que menosprezem ou desprezem esta dimensão sobrenatural, o que, à evidência, promoverá a derrota, pois, se nem sequer se perceber onde se está a travar a luta, certamente não se terá a mínima condição de se ser vitorioso.

-Eis porque é fundamental que tenhamos em mente a tricotomia do ser humano, ou seja, a consideração de que o homem é corpo, alma e espírito, conforme vemos na sua criação em Gn.2:7.

-Em a narrativa da criação do homem, vemos claramente que o homem possui duas partes: uma material, formada do pó da terra; outra imaterial, formada do fôlego de vida e da alma vivente.

Feito para ser o elo entre o mundo espiritual e o mundo físico, o homem é o único ser criado por Deus que é dotado de uma parte material (o corpo) e de uma parte imaterial (alma e espírito).

-A parte material, ou seja, o corpo, é utilizado pelo homem para ter contato com a criação terrena que deve sujeitar e cujas criaturas deve dominar (Gn.1:29), bem como para que possa se multiplicar, com o fim de encher a terra, pois, sexuado como é, depende desta união corporal para promover a procriação (Gn.1:28).

-Entretanto, como foi criado para ter comunhão com o seu Criador e ser o Seu administrador sobre toda a criação terrena, indispensável que o homem também mantenha contato com Deus e isto somente é possível por meio desta parte imaterial, da alma e do espírito.

-A alma é a sede da razão, do sentimento e da vontade de cada ser humano. É a sua individualidade, pois Deus não faz dois seres humanos iguais, mas, sim, indivíduos, ou seja, seres que não podem ser divididos, que são singulares, que se distinguem uns dos outros.

-O espírito é o canal de comunicação com Deus, onde estão a fé e a consciência. Por meio do espírito, o homem é levado a adorar a Deus, d’Ele aprender e com Ele ter comunhão. Por meio da fé em Cristo, o espírito é vivificado e, assim como o Senhor Jesus, não somos apenas alma vivente, mas espírito vivificante (I Co.15:45).

-Como somos gerados à imagem e semelhança de Adão (Gn.5:3), somos gerados com a natureza pecaminosa (Sl.51:5), de modo que, adquirindo a consciência, que é a ativação em nós do espírito, lamentavelmente não cremos em Deus e, a exemplo de nossos pais, em vez de escolhermos o bem, escolhemos o mal e, por isso, pecamos inevitavelmente. Com o pecado, morremos espiritualmente, ou seja, separamo-nos de Deus e o nosso espírito fica “off line”, sem qualquer atividade, visto que sua função é nos unir ao Senhor, mas d’Ele estamos separados.

-Há, então, o domínio da carne, ou seja, desta natureza pecaminosa, que não é o corpo, mas este “vírus do pecado”, que nos faz pecar e, em pecando, tornamo-nos escravos do pecado (Jo.8:34) e, quem passa a viver no pecado, nada mais é senão filho do diabo (I Jo.3:8-10), passando a satisfazer os desejos de Satanás (Jo.8:44).

-Como passamos a ser escravos do pecado, filhos do diabo, evidentemente passamos a pertencer ao mundo, que está no maligno, passando, então, a amarmos o mundo e o que no mundo há, ou seja, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida e, quando guiados somos pela concupiscência, nada mais fazemos senão pecar ainda mais, pois quando a concupiscência é concebida, dà a luz ao pecado e o pecado, à morte (Tg.1:15).

-A carne, ou seja, a natureza pecaminosa do homem faz com que o homem peque e o pecado é este estado em que o espírito está inativo e a alma é guiada a conceber a concupiscência e, em virtude disto, o pecado passa a reinar em nosso corpo e a obedecer às concupiscências, tornando-se um instrumento de iniquidade, um servo do pecado, para servir à imundícia e à maldade para a maldade (Rm.6:12,13,16,19).

-Este é o retrato do chamado “homem velho”, o membro do mundo, o escravo do império da morte: um espírito inativo, uma alma e corpo a serviço do pecado e da maldade.

-Notamos, assim, que a queda de cada ser humano no pecado começa pela sua parte imaterial, com a inação do espírito pela prática do pecado e o domínio da natureza pecaminosa (“carne”) sobre a alma e o corpo. Assim, cada ser humano se torna escravo do pecado e integrante do mundo, este sistema dominado por Satanás, passando a ser um filho do diabo.

-Deste modo, não há como sair-se do mundo, e quem sai do mundo passa a pertencer à Igreja (“ekklesia”
– chamados para fora), tendo-se, então, o livramento do poder do pecado, da natureza do pecado e do corpo ou presença do pecado.

-É preciso livrar-se do poder do pecado, porque, ao pecar, o homem se torna escravo do pecado, passa a ser dominado por ele e o homem carnal não tem como se libertar do pecado, pois, como afirma o apóstolo Paulo, cada um de nós é um homem carnal, vendido sob o pecado (Rm.7:14).

-O único que pode nos libertar do poder do pecado é o Senhor Jesus (Jo.8:36), porque Ele pagou o preço dos nossos pecados na cruz do Calvário e nos comprou (I Co.6:20).

-Para que haja tal libertação, entretanto, necessário se faz que haja a “reativação” do espírito, mediante a fé, que vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), pela pregação do Evangelho (Rm.1:16; Ef.1:13).

-Quando somos convencidos pelo Espírito Santo do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8-11), cremos em Jesus como Senhor e Salvador, reconhecemos que somos pecadores, confessamos nossos pecados e nos arrependemos e tomamos consciência de que o príncipe deste mundo está julgado e que não podemos servi-lo.

-Neste exato instante, nossos pecados são perdoados e se desfaz a morte, pois os pecados que nos separavam de Deus (Is.59:2) são retirados, lançados “nas profundezas do mar” (Mq.7:19), voltando nós a ter comunhão com Deus e isto nada mais é que a “vivificação” do nosso espírito, que retoma a sua função de nos ligar a Deus, de nos levar a ter comunhão com Ele, de Lhe glorificar.

-Passa-se, portanto, da morte (separação entre eu e Deus) para a vida (comunhão com Deus) por causa da fé em Jesus Cristo (Jo.5:24), ocorre o novo nascimento de que Jesus fala a Nicodemos (Jo.3:3,5), uma geração da semente incorruptível, que é a Palavra de Deus (I Pe.1:23). Passa-se a ser “nova criatura” (II Co.5:17; Gl.6:15).

-Ao mesmo tempo, a natureza pecaminosa, a “carne”, é crucificada com Cristo com suas paixões e concupiscências (Gl.5:24), o “homem velho” é tornado inativo e, assim, somos separados do mundo, morremos para o mundo e, como consequência disto, não mais vivemos pecando (Rm.6:1-4; I Jo.3:9).

-A alma passa a ser, então, dirigida pelo espírito, espírito que está em comunhão com o Espírito Santo, passando, então, a “andar segundo o Espírito” (Rm.8:1), passando a produzir o “fruto do Espírito” (Gl.5:22), até porque o amor de Deus foi derramado sobre ela pelo Espírito Santo (Rm.5:5).

-Agora, vivo para Deus e morto para o pecado, o corpo passa a ser instrumento de justiça (Rm.6:13), passa a ser servo da justiça para a santificação (Rm.6:19).

-Esta separação do mundo, esta saída do mundo, que os estudiosos denominam de “santificação posicional”, opera uma transformação no “homem interior” (alma e espírito), provocando a vivificação do espírito, a comunhão com Deus, a vinda do amor de Deus e a produção do fruto do Espírito, passando a alma a andar segundo o Espírito, enquanto que a natureza pecaminosa é mantida crucificada com suas paixões e concupiscências.

-Não é por acaso que, ao mencionar a santificação, o apóstolo Paulo, ao se dirigir aos tessalonicenses, começa pelo espírito, passando pela alma, para só então mencionar o corpo (I Ts.5:23), pois é bem assim que se procede a tal etapa da salvação.

-Para se sair do mundo, portanto, mister que se proceda à “reativação” do espírito, que passa, em comunhão com o Espírito Santo, a guiar a alma para que, em vez de produzir as obras da carne, passe a produzir o fruto do Espírito e que, em virtude disto, o corpo passe a ser instrumento de justiça para santificação.

II – A CONTINUIDADE DA SANTIFICAÇÃO EXIGE A RENOVAÇÃO COTIDIANA DO HOMEM INTERIOR

-O que vimos, até aqui, é o que se costuma denominar de “santificação posicional”, ou seja, o salvo em Jesus Cristo é separado do pecado e entra em comunhão com Deus.

Sai do mundo e entra na Igreja, passa a pertencer ao corpo de Cristo e, “ipso facto”, torna-se amigo de Deus e inimigo do diabo, membro em particular da Igreja e inimigo do mundo (Tg.4:4; I Co.12:27).

-Entretanto, embora tenhamos saído do mundo, não somos tirados dele, nem é esta a vontade do Senhor Jesus (Jo.17:15). Por isso, continuamos a conviver com este sistema maligno e, como há esta luta incessante entre o mundo e a Igreja, passamos a ser diuturnamente atacados pelo mundo, que nos odeia e quer novamente nos submeter a ele.

-O mundo está a serviço do diabo, que é seu príncipe, e o Senhor Jesus disse que Satanás é homicida deste o princípio e mentiroso (Jo.8:44).

Assim, o mundo sempre procurará, visto que busca sempre satisfazer os desejos de seu pai, matar cada membro em particular do corpo de Cristo como também enganá-los, a fim de novamente torna-los escravos do pecado (II Pe.19,20).

-Desta maneira, os servos de Deus devem, por primeiro, saber que sempre enfrentarão dificuldades e adversidades sobre a face da Terra, porque a Terra está amaldiçoada pelo pecado (Gn.3:17). Assim, além dos problemas e desafios decorrentes da própria natureza das coisas, ainda os membros da Igreja serão alvo de ataques e de oposições sistemáticas por parte do mundo.

-Não se pode, pois, deixar de ter consciência de que nossa peregrinação terrena é caracterizada pela presença de dificuldades, pelas aflições de que falou o Senhor Jesus em Jo.16:33.

Jesus, enquanto esteve na Terra, foi um “homem de dores” (Cf. Is.53:3), expressão que não deve ser interpretada apenas como retratando Jesus na cruz do Calvário, onde, sem sombra de dúvida, sofreu o Senhor as maiores dores de toda a Sua permanência neste mundo, em todos os aspectos (físico, moral e espiritual).

-Na verdade, como Ele mesmo disse aos Seus discípulos, o mundo O aborreceu e este aborrecimento fez com que o Senhor viesse a ser hostilizado desde mesmo o instante de Sua concepção.

-Maria foi à casa de Isabel não porque queria fazer uma simples visita, mas por causa da situação delicada que era a sua gravidez e pela perseguição que, certamente, experimentou em razão desta condição, que só foi contornada pela própria intervenção divina feita em sonho para José.

-Herodes mandou matar todas as crianças de até dois anos de idade em Belém e redondezas precisamente pelo ódio nutrido pelo mundo contra Jesus.

-Jesus sofreu a oposição de escribas, fariseus, saduceus, sacerdotes, herodianos, dos Seus próprios familiares, ao longo de Seu ministério público, porque o mundo O odiava. A própria nação israelita O rejeitou (Jo.1:11; Rm.10:1-3; 11:8-11).

-Cristo nos deixou bem claro que assim como aconteceu com Ele, também aconteceria com Seus discípulos (Jo.15:20).

-Não há, portanto, que pensarmos que nossa saída do mundo trará “paz e tranquilidade” neste mundo, nem que teremos um “mar de rosas”, “ausência de problemas ou de sofrimento”, mas, bem ao contrário, que nos estão reservadas aflições enquanto aqui estivermos servindo ao Senhor Jesus.

-Temos, então, de enfrentar o sofrimento, as aflições do tempo presente (Rm.8:18) e, para tanto, é preciso ter “bom ânimo” (Jo.16:33).

-A expressão “ter bom ânimo” aparece pela vez primeira quando o Senhor Se dirige a Josué, após o período de luto pela morte de Moisés.

O Senhor diz a Josué que ele deveria se esforçar e “ter bom ânimo” (Js.1:6,7 e 9). Temos aqui a palavra hebraica “’amets” (אמץ), cujo significado é “ser robusto, forte, ousado, alerta”, “ser corajoso, ter mente firme, estabelecer, fortificar, endurecer”.

-Portanto, diante das aflições, o Senhor requer de cada um de nós que demonstremos coragem, ou seja, enfrentemos a difícil situação, não recuemos, não nos acovardemos, mas, confiando em Deus, prestando atenção nas circunstâncias da situação, estejamos sempre resolutos a fazer a vontade divina e, neste sentido, aliás, é que o Senhor diz a Josué que ele deveria cumprir a lei do Senhor, não se desviando nem para a direita nem para a esquerda.

-Este comportamento é precisamente o que o escritor aos hebreus exigia dos destinatários de sua carta. Em Hb.10:32-39, o escritor relembra os judeus a quem escrevia a epístola, que eles haviam suportado grande combate de aflições, sendo feitos espetáculo com vitupérios e tribulações, permitindo que fossem roubados os seus bens, mas, apesar de todo o sofrimento, mantendo a confiança em Deus, sabendo que teriam grande e avultado galardão.

-Pelo que se pode perceber, portanto, é que “ter bom ânimo” é suportar as adversidades, as perseguições, os revezes, crendo nas promessas do Senhor de que esta vida é passageira e que nos está reservada uma eternidade com Deus cheia de gozo e de paz.

-Diz o escritor aos hebreus que não se deve rejeitar a “confiança” e sabemos que “confiar” é “acreditar plenamente, com firmeza”. Trata-se, portanto, da “fé firme” ou da “firmeza”, que é a continuidade da fé (Rm.5:2). Cremos em Jesus e, por isso, alcançamos a salvação, mas, pela firmeza, permanecemos salvos, prosseguimos caminhando para o céu, obedecendo a Cristo.

-“Ter bom ânimo” é prosseguir crendo, é agir de acordo com a vontade do Senhor, independentemente das circunstâncias.

O escritor aos hebreus diz que Deus não tem prazer naquele que recua, ou seja, daquele que, diante das dificuldades, deixa de obedecer a Cristo, deixa de fazer a Sua vontade, acovarda-se, intimida-se com a pressão dos ataques desencadeados pelo mundo, deixando, então, de seguir sua caminhada rumo ao céu.

-Como afirma o pr. Josaphat Batista, presidente das Assembleias de Deus em Ibotirama/BA e comentarista do Portal Escola Dominical, trata-se da “fé viva”:

“…Depois de aceitarmos Cristo, temos uma fé que é uma firme e inabalável confiança em Deus, uma fé perseverante. Essa fé faz-nos confiar em Deus, não importa o que aconteça, porque estamos seguros em Cristo…” (Fidelidade, firmes na fé em Jesus Cristo.13 fev. 2017. Disponível em: https://blog.ctecvidacrista.com.br/fidelidade-firmes-na-fe/ Acesso em 05 jun. 2023).

-As diversas dificuldades encontradas na jornada nossa rumo à Cidade Celestial é bem descrita no livro “O Peregrino” de John Bunyan, que é uma narrativa alegórica da vida cristã, onde Cristão sai da Cidade da Destruição, que é o mundo, até chegar a Cidade Celestial, a glória para onde pretendem ir todos os discípulos de Cristo Jesus.

-Em o Novo Testamento, a expressão “bom ânimo” aparece algumas vezes, como em Jo.16:33, quando o Senhor manda que Seus discípulos tenham bom ânimo pois Ele vencera o mundo. É a palavra grega “tharseó” (θαρσέω), cujo significado é “ser de boa coragem, ser ousado, “reforçado porque aquecido, encorajado por dentro”.

-Tem-se, aqui, praticamente o mesmo significado da palavra hebraica encontrada no Antigo Testamento. É aquele que está encorajado por uma força interior, que não deixa de enfrentar as dificuldades, confiando que está no caminho certo, que breve haverá de alcançar a vitória, que não recua, que não voltar para trás.

-Portanto, vemos que, para conseguirmos vencer o mundo, torna-se necessário prosseguir na fé que promoveu a “reativação” do nosso espírito. Isto quer dizer que é preciso que o salvo, o justo “viva da fé” (Rm.1:17; Hb.10:38), “descubra a justiça de Deus de fé em fé” (Rm.1:17).

-Esta vida de fé, esta descoberta da justiça de Deus pela fé significa que a fé deve ser alimentada, deve crescer a cada dia e é bem por isso que o apóstolo Paulo afirma que, durante a passagem do tempo aqui na Terra, o discípulo de Cristo deve contemplar duas realidades: a corrupção do homem exterior e a renovação diária do homem interior.

-O homem exterior, isto é, o nosso corpo, ao longo dos anos, vai se degenerando, há um natural envelhecimento que vai debilitando a parte material do indivíduo, pois o destino do corpo é voltar ao pó da terra, como consequência do pecado (Gn.3:17).

-Entretanto, a “nova criatura”, a criatura que está em Cristo, deve, ao longo dos anos, promover a renovação diária do homem interior, isto é, da alma e do espírito. Isto se dá mediante a manutenção da comunhão com Deus, o que somente se faz possível com a “descoberta da justiça de Deus de fé em fé”, com a “vida de fé”, ou seja, o crescimento contínuo da fé.

-A fé viva, como denominou o pr. Josaphat Batista, é a fé que cresce, que se desenvolve. O próprio Jesus comparou a fé ao grão de mostarda (Lc.17:6), que, sendo a menor das sementes, dá origem à maior das hortaliças (Mc.4:31,32).

-O Senhor Jesus sempre observou o estágio da fé daqueles que criam n’Ele. Assim, se repreendeu a Pedro (Mt.14:31) ou aos discípulos em geral (Mt.16:8) por sua pequena fé, exaltou a mulher sírio-fenícia por sua grande fé (Mt.15:28).

-Por isso mesmo, devemos sempre repetir o pedido feito pelos discípulos ao Senhor: “acrescenta-nos a fé” (Lc.17:5).

-Este acréscimo de fé, este crescimento espiritual, indispensável para que possamos chegar até a glorificação, exige de cada um dos membros em particular do corpo de Cristo uma disciplina.

-O apóstolo Paulo diz que o homem interior deve ser renovado de dia em dia (II Co.4:16) e esta necessidade já se observava mesmo antes de o homem pecar.

Com efeito, diariamente o Senhor vinha ao encontro do primeiro casal (Cf. Gn.3:8) e neste encontro ocorria a renovação do homem interior, sendo certo que o homem exterior, até a queda, também era renovado mediante o acesso à árvore da vida (Cf. Gn.3:22).

-Notamos, então, que a renovação de dia em dia do homem interior é restaurada com a salvação, retornando nós, então, ao estágio anterior à queda no aspecto de alma e espírito, uma vez que o corpo aguarda a redenção que se dará com a glorificação (Rm.8:23), evento que ocorrerá no arrebatamento da Igreja (I Co.15:52; Fp.3:20,21; I Jo.3:2).

-Para que se tenha a renovação diária do homem interior, portanto, faz-se necessário que nos encontremos com o Senhor e com Ele travemos diálogo, como ocorria com o primeiro casal antes da queda.

-Este encontro é descrito pelo Senhor na carta à igreja de Laodiceia, onde Jesus mostra que quer entrar em nossa casa e cear conosco (Ap.3:20).

-Ocorre esta renovação diária quando ouvimos a voz do Senhor. Ouvir a voz de Jesus é guardar os Seus mandamentos, provando, assim, que O amamos (Jo.14:15,21).

Enquanto o primeiro casal ouviu o mandamento que Deus lhe deu a respeito da árvore da ciência do bem e do mal, sempre este em comunhão com seu Criador.

-Somos ovelhas do Senhor Jesus e, portanto, conhecemo-l’O e ouvimos a Sua voz (Jo.10:16,27). Quem ouve a voz de Jesus, segue-O (Jo.10:27), imita-O (I Co.11:1), mantém-se no caminho apertado cuja porta de entrada é estreita, mas que conduz à vida (Mt.7:14).

-Para conhecermos a voz de Jesus, faz-se mister que mantenhamos sempre diálogo com Ele e este diálogo se dá através da meditação das Escrituras, que testificam de Cristo (Jo.5:39) e da oração, duas atividades que devem ser feitas incessantemente (Sl.1:2; I Ts.5:17), oração que deve ser reforçada periodicamente com o jejum (Mc.2:20).

-Mas não basta ouvir, é preciso abrir a porta (Ap.3:20). Quando abrimos a porta para que Jesus entre, estamos nos submetendo a Ele, atendendo à Sua vontade e, portanto, dizendo que Ele agora é o nosso Senhor, a quem devemos obedecer. Assumimos o compromisso de passar a obedecer-Lhe.

-A “abertura da porta” tem o mesmo significado do “furar da orelha” segundo o qual o servo de um hebreu, tendo vencido o prazo máximo de servidão (que, na lei de Moisés, era de seis anos – Ex.21:2), ao decidir que queria servir para sempre, era, então, levado até aos juízes e ali tinha sua orelha furada (Ex.21:6).

-No Sl.40:6, o salmista, de modo profético, diz que foi precisamente isto que Jesus fez ao vir a este mundo para realizar a vontade do Pai, em texto que foi depois relembrado pelo escritor aos hebreus em Hb.10:5-7. O salmista diz que o Senhor disse ao Pai: “minhas orelhas furaste”, fazendo do Filho um servo para sempre, já que assumiu Ele esta condição ao Se encarnar (Fp.2:7).

-A renovação diária do homem interior envolve, pois, esta atitude de obediência e de renúncia à própria vontade. Como o Senhor nos ensinou na oração dominical, devemos, todos os dias, a todo o instante, pedir ao Pai que a Sua vontade se faça assim na terra como no céu (Mt.6:10), começando por nós mesmos, pois não é discípulo de Cristo aquele que não renuncia a si mesmo (Lc.14:33).

-Mas, além de ouvir a voz e de abrir a porta, é preciso que Jesus entre em nossa casa. Tal circunstância não traz qualquer problema uma vez tendo nós ouvido Sua voz e aberto a porta. Quando fazemos isto, Jesus, sem dúvida, entrará em nossa casa, porque Ele quer nos salvar e quer manter comunhão conosco.

-É interessante observar que Jesus somente entra quando ouvimos Sua voz e abrimos a porta. Jesus jamais invade a casa de quem quer que seja, como também só Se mantém nela se permanecermos ouvindo a Sua voz.

A própria igreja de Laodiceia, com seu comportamento mundano (pois o problema de Laodiceia era a mornidão, ou seja, a mistura com o mundo, o envolvimento com as coisas mundanas), havia expulsado Jesus de lá, tanto que o Senhor agora, do lado de fora, batia na porta querendo novamente entrar.

-Uma vez na casa, Jesus então quer cear conosco, ou seja, quer ter comunhão conosco, pois comer e beber nas Escrituras é figura de comunhão. Jesus quer estabelecer a unidade que há entre Ele e o Pai com cada um de Seus discípulos, foi para isto que Ele efetuou a obra salvífica (Jo.17:21).

-Nesta ceia d’Ele conosco, Ele nos dá a Sua Palavra (Jo.17:14), e nós passamos a praticá-la e o resultado disto é o ódio do mundo contra nós, até porque, por meio da Palavra, somos santificados (Jo.17:17), afastando- nos ainda mais deste mundo e do pecado.

-Nesta ceia d’Ele conosco, Ele nos dá da Sua glória (Jo.17:22) e, deste modo, passamos, desde já, a desfrutar do poder de Deus em nossas vidas, poder este que não só nos livra do mal, como é o pedido de Jesus por nós ao Pai (Jo.17:15), como permite que façamos sinais, prodígios e maravilhas em nome do Senhor, confirmando, assim, a própria Palavra (Mc.16:17-20; At.5:29-33; 6:8; 8:5-7; 19:11; Hb.2:4).

-A renovação diária do homem interior dá-se pelo desfrutar da glória de Cristo que nos é dada por Ele mesmo, o que exige de nós que adentremos cotidianamente na presença de Deus, ingressando no “santo dos santos” cujo acesso nos foi concedido pelo Senhor Jesus (Hb.4:16; 10:19-24).

-É necessário termos intimidade com o Senhor, ou seja, um momento a sós com Ele, para que possamos adorá-l’O na beleza da Sua santidade, oferecendo-Lhe sacrifício vivo, santo e agradável, o nosso culto racional (Rm.12:1). Jesus fazia isto diariamente (Mt.14:23; 26:36; Mc.6:46; Lc.5:16; 6:12; 9:28), tendo nos ensinado a ter um momento a sós com o Pai (Mt.6:6).

-Lamentavelmente, na atualidade, poucos são os que se dedicam a este “cear com Jesus”, esquecidos de quem busca ao Senhor, encontra-l’O-á (Dt.4:29; Jó 8:5,6; Pv.8:17; Jr.29:13; Mt.7:7,8).

-Mas, além de Ele cear conosco, nós também cearemos com Ele. Nós O amamos, porque Ele nos amou primeiro e quando Ele nos dá a Sua Palavra e a Sua glória, quando temos intimidade com o Senhor, conhecendo e prosseguindo a conhecê-l’O (Cf. Os.6:3), o Senhor vem a nós como chuva, como chuva serôdia que rega a terra e, assim, fortalecidos no Senhor, temos algo a oferecer-Lhe.

-E o que devemos oferecer a Deus? Algo que Lhe seja agradável. E o que agrada a Deus? Responde-nos o profeta Miqueias: “Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros? de dez mil ribeiros de azeite? darei o meu primogênito pela minha transgressão? o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq.6:7,8).

-Quando Oseias convida o povo a conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor, também diz que o Senhor repreendia a Israel e a Judá pela fugacidade da beneficência deles, que era como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada que cedo passavam (Os.6:4), ou seja, eles não faziam o bem.

-Por isso mesmo, Miqueias lembra que o Senhor deseja tão somente que pratiquemos a justiça, amemos a beneficência e andemos humildemente com Deus, que os rabinos judeus afirmam ser como que um resumo da lei em três atitudes.

OBS: “…Rabi Simlai ensinou:

Havia 613 mitsvot declaradas a Moisés na Torá, consistindo em 365 proibições correspondentes ao número de dias no ano solar e 248 mitsvot positivas correspondentes ao número de membros de uma pessoa.

Rav Hamnuna disse: Qual é o verso que alude a isso? Está escrito: “ Moisés nos ordenou a Torá, uma herança da congregação de Jacó ” ( Deuteronômio 33:4 ).

A palavra Torá, em termos de seu valor numérico [ gimatriyya ], é 611, o número de mitsvot que foram recebidas e ensinadas por Moisés, nosso professor .

Além disso, há duas mitsvot: “Eu sou o Senhor teu Deus” e: “Não terás outros deuses” ( Êxodo 20:2 , 3), os dois primeiros dos Dez Mandamentos, que ouvimos da boca de o Todo-Poderoso, num total de 613.

A Gemara fornece um mnemônico para as figuras bíblicas citadas no decorrer da discussão que se segue:

Dalet , mem , shin , mem , kuf ; samekh , kuf ; representando Davi , Miquéias , Isaías , Amós , Habacuque , Amós e Ezequiel. (…)

Miqueias veio e estabeleceu as 613 mitsvot sobre três, como está escrito:

“Foi dito a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor requer de você; somente pratique a justiça, e ame a misericórdia, e ande humildemente com o seu Deus” ( Miqueias 6:8 ).

A Gemara elabora: “Fazer justiça”, isso é justiça; “amar a misericórdia”, isso é uma alusão a atos de benevolência; “e andar humildemente com o seu Deus”, isso é uma alusão a levar os mortos indigentes para o enterro e acompanhar uma noiva pobre ao pálio de seu casamento, ambos os quais devem ser realizados sem alarde glorificando o executor.

A Gemara observa: E esses assuntos não são inferidos a fortiori? Se, com relação a assuntos que tendem a ser conduzidos em público, por exemplo, funerais e casamentos, a Torá declara “ande humildemente” ao fazê-los, então, em assuntos que tendem a ser conduzidos em particular, por exemplo, caridade e estudo de Torá, ainda mais devem ser conduzidos em particular.…”(TALMUDE DA BABILÔNIA. Makkot 23b. Disponível em: https://www.sefaria.org/Makkot.24a.27?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 07 jun. 2023) (Tradução ao português pelo Tradutor Google).

-“Ceamos com o Senhor Jesus” quando praticamos a justiça, ou seja, quando obedecemos à Palavra de Deus, guardamos os mandamentos divinos, vivendo segundo a reta justiça (Jo.7:24). É o “andar segundo o Espírito” (Rm.8:1), visto que é o Espírito que nos guia em toda a verdade (Jo.16:13), verdade que é a Palavra de Deus (Jo.17:17).

-“Ceamos com o Senhor Jesus” quando amamos a beneficência, ou seja, vivemos a fazer o bem, imitando Cristo, que assim fazia enquanto estava na Terra (At.10:38), o que somente é possível se, a exemplo de Nosso Salvador, formos ungidos pelo Espírito Santo e com virtude, tendo a comunhão com Deus.

-Somente teremos condição de fazer o bem se formos filhos de Deus, se o Espírito Santo testificar em nós esta filiação divina (Rm.8:16), se formos templo do Espírito Santo (I Co.6:19), se vivermos em santidade, separados do mundo e do pecado. Assim, teremos a virtude do Espírito, que nos capacitará a sermos testemunhas do Senhor (At.1:8), pois as boas obras existem para ser feitas pelas novas criaturas em Cristo Jesus (Ef.2:10).

-“Ceamos com o Senhor Jesus” quando andamos humildemente com Deus, ou seja, quando temos a Deus como nosso Senhor, quando assumimos nossa condição de servos e prontos a fazer a Sua vontade, negando a nós mesmos (Lc.9:23).

-A renovação diária do homem interior permite que nós vivamos, no presente século, sóbria, justa e piamente, aguardando o arrebatamento da Igreja (Tt.2:12).

-A vida sóbria é a vida do andar humilde com Deus, em que amamos a nós mesmos, submetendo-se a Deus, que é amor. Por meio desta sobriedade, produzimos três qualidades do fruto do Espírito: fé, mansidão e temperança.

-A vida justa é a vida do amor à beneficência, do fazer o bem, de demonstração de nosso amor ao próximo. Por meio desta justiça, produzimos três qualidades do fruto do Espírito: longanimidade, benignidade e bondade.

-A vida pia é a vida de amor a Deus, de um relacionamento com o Senhor. Por meio desta piedade, produzimos três qualidades do fruto do Espírito: amor, paz e gozo.

-Produzindo o fruto do Espírito, mantemo-nos em comunhão com a videira verdadeira (Jo.15:1,2), somos limpos pelo Senhor para produzirmos cada vez mais e, deste modo, seguimos caminhando para o céu.

Como diz o pastor Samuel Nyström (1891-1960) no refrão do hino 332 da Harpa Cristã: “Aleluia pro céu vou caminhando, nada me desanimará! Para o céu eu me vou aproximando, sempre meu Jesus me guiará”.

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9358-licao-10-renovacao-cotidiana-do-homem-interior-i

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