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LIÇÃO Nº 11 – A HUMILHAÇÃO DE HAMÃ E A HONRA DE MARDOQUEU

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo do livro de Ester, analisaremos hoje o trecho de Et.5:5-6:14.

-Deus exalta os humildes mas humilha os soberbos

I– A AUTOEXALTAÇÃO PRESUNÇOSA DE HAMÃ

-Na sequência do livro de Ester, analisaremos hoje o trecho de Et.5:9-6:14.

-Ester havia alcançado graça aos olhos de Assuero, que lhe estendeu o cetro e lhe perguntou o que queria, prometendo lhe dar até metade do reino.

-Ester, então, que já havia arquitetado todo um plano para interceder em favor dos israelitas, convidou Assuero para um banquete, pedindo, também, que dele participasse Hamã.

-Por primeiro, cumpre observar que o fato de buscarmos a Deus em oração e jejum, demonstrando a nossa confiança n’Ele e a nossa impotência, bem assim a urgência para que a Divina Providência atue, não nos dispensa de elaborarmos planos e projetos para resolver a situação.

-Deus deu-nos a inteligência, a razão, segundo a qual nós podemos elaborar planos e projetos, determinar que ações devamos fazer diante de uma circunstância.

Assim, embora Mardoqueu tenha clamado a Deus para uma situação que era humanamente impossível de reverter, não deixou de agir de forma a levar os judeus a imitá- lo, igualmente, como ele, orando, jejuando e se humilhando diante de Deus, como também tudo fez para chamar a atenção de Ester e fazer com que ela intercedesse pelos judeus diante de Assuero, embora não soubesse se seria este o meio pelo qual Deus livraria o Seu povo.

-Ester, também, ao conclamar os judeus de Susã a orarem e jejuarem junto com ela durante três dias, para que ela alcançasse graça aos olhos de Assuero ao se apresentar diante dele sem prévio chamado, escapando assim da morte, também buscou a Deus sabendo que só Ele poderia poupar-lhe a vida, mas não deixou de arquitetar um plano para fazer o pedido de livramento dos israelitas, que seria fazer o pedido ao rei na presença de Hamã num banquete privado em que somente os três estivessem presentes.

-Muitos confundem confiança em Deus e busca ao Senhor com comodismo e inércia. Deus está em comunhão conosco e, bem ora devamos sempre seguir-Lhe a orientação, temos o dever de apresentar ideias, planos e projetos para o Senhor, pois Ele nos criou exatamente para pensar e raciocinar.

-Sem o Senhor, nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”), mas isto nos mostra que somos quem devemos fazer algo, desde que com o Senhor. Não é deixar de fazer para que Deus faça, mas é fazer com o Senhor, ou seja, fazer segundo a Sua vontade e direção.

-Assim que Assuero estendeu o cetro e perguntou a Ester o que ela queria, Ester, prontamente, pois tudo já havia planejado, fez o convite para banquete privado, pedindo que Hamã também estivesse presente e o rei, então, imediatamente aquiesceu com o pedido, tendo Ester dito que, no dia seguinte, faria a sua petição (Et.4:3- 8).

-Observemos a prudência e sabedoria de Ester. Além de ter se apresentado ao rei com realce a sua beleza física, que era, digamos, “o ponto fraco” de Assuero (Cf. Et.2:2), também fez um convite para um banquete do vinho, “outro ponto fraco” do monarca (Et.1:10), sabendo, ainda, que, ao menos ultimamente, estava sempre a beber na companhia de Hamã (Cf. Et.3:15).

-Ester tudo fez para agradar ao rei e criar condições que seriam irrecusáveis ao monarca. Simultaneamente, Ester mantinha o segredo a respeito de sua nacionalidade e parentela, criando, ainda, uma situação em que, de modo discreto e sem alarde, preservando tanto a imagem do rei quanto a próprio Hamã, para interceder pelo povo judeu, de modo a que não se criasse, se ainda possível, uma situação ainda mais embaraçosa para os filhos de Israel.

-Ester se comprometera com os judeus, arriscara a sua vida, mas agia de tal maneira que não viesse a piorar a situação já extremamente delicada de Israel.

-Assim devemos sempre agir: o amor não trata com leviandade (I Co.13:4), jamais desconsidera a situação do outro, evitando sempre gerar escândalo (Rm.14:7).

-Assuero, aceitando o convite, imediatamente ordenou que fossem avisar Hamã e que este se apressasse a fim de que participasse do banquete oferecido por Ester (Et.5:5).

-Notemos, uma vez mais, que Assuero aceitou o convite, após ter demonstrado sua benevolência para com a rainha, mas Hamã recebeu uma ordem para comparecer ao banquete. Ao contrário do que Hamã imaginava, ele tudo devia ao rei, não a si mesmo.

-Ao saber da ordem para que participasse do banquete que seria preparado por Ester, Hamã encheu-se de alegria e de bom ânimo (Et.5:9). Sem perceber que compareceria àquela efeméride por ordem do rei, deu asas a sua vaidade e a sua soberba, achando-se a pessoa mais importante do mundo.

-Na ilusão da sua vaidade, Hamã compreendera que era tão importante, tão superior que a própria rainha queria ter a sua companhia e resolvera, então, fazer-lhe um banquete, certamente convidando também o rei porque não se poderia fazer de outra forma ante as normas e convenções existentes na corte persa.

-Hamã cria piamente que o banquete era para ele, que a própria rainha reconhecia que não havia homem melhor ou maior em todo o Império senão Hamã e que, por isso mesmo, se via na obrigação, no dever de homenageá-lo.

-Hamã considerava que não só havia conquistado o poder entre os homens, mas que, também, as mulheres passaram a admirá-lo, a começar da própria rainha.

-Este é o grande problema do soberbo: pensa que o mundo gira em redor dele, que todos só existem para honrá-lo, para tributar-lhe glória. Essencialmente é achar-se igual a Deus.

-Hamã estava no palácio, em seu gabinete, quando recebeu a ordem de Assuero para comparecer ao banquete, tendo, então, se sentido ainda a pessoa mais importante do mundo.

-Ao término do expediente, quando se encaminhou para a sua residência, à porta do rei, encontrou-se com Mardoqueu que, uma vez mais, não se prostrou diante dele e, novamente, enfureceu-se ao notar a persistência da conduta do judeu, mesmo depois do decreto real de extermínio.

-Hamã, ao notar esta situação, teve dificuldade para se controlar, mas, habilmente, fingiu não perceber esta circunstância, a fim de tramar uma forma de encerrar, desde já, com esta “afronta” de Mardoqueu.

-Hamã estava assaz vaidoso com o convite para o banquete preparado para a rainha e queria exaltar-se diante de seus amigos e familiares. Seu ego estava elevadíssimo e, portanto, aquela situação de desagrado com a conduta de Mardoqueu, que já durava um tempo, poderia ser ainda tolerada, pois era mais importante para Hamã se vangloriar.

-Notemos a diferença entre a contenção de Ester e a de Hamã. Ester era prudente e elaborou o plano do banquete pensando no bem das pessoas, em evitar gerar escândalo e maiores problemas para os judeus, em resguardar a própria imagem e a de Assuero, enquanto Hamã pensava apenas em si mesmo, conteve-se diante de mais esta resistência de Mardoqueu porque queria massagear seu ego com os seus antes de desfrutar dos momentos do banquete de Ester.

-Hamã manda trazer seus amigos e familiares a fim de se vangloriar diante deles, bem como deles receber elogios e bajulações. O soberbo precisa ser o centro das atenções e, por isso mesmo, acaba por ser rodeado de bajuladores, aduladores, que são igualmente interesseiros, quanto o soberbo, querendo apenas ali obter vantagens por conta da sua adulação.

-O adulador, bajulador ou lisonjeador é uma pessoa ímpia. Salomão diz que aquele que observa os mandamentos é guardado tanto da má mulher quanto das lisonjas da língua estranha (Pv.6:23,24), prova de que quem faz uso de lisonjas não anda no caminho santo, mas, bem ao contrário, transita pelo caminho da perdição.

-A lisonja leva as pessoas a pecar, porque, por força delas, tem aguçado o seu egoísmo, individualismo e soberba. Tanto assim é que se diz que os violadores do concerto são pervertidos por ela (Dn.11:32), assim como os que a promovem são falsos profetas (Is.30:10). Como diz o proverbista: “O homem que lisonjeia a seu próximo arma uma rede aos seus passos” (Pv.29:5).

-Hamã reuniu os amigos e familiares e começou a se vangloriar, contando-lhes as glórias das suas riquezas e a multidão de seus filhos e tudo o que o rei o havia engrandecido e aquilo em que o tinha exaltado sobre os príncipes e servos do rei (Et.5:11).

-Após dissertar sobre toda a sua glória e o seu esplendor, mostrando como era importante e como tudo dependia dele, Hamã, então, contou a todos que havia sido convidado pela própria rainha Ester para um banquete, onde somente compareceriam ele e o rei, uma prova indelével de que era ele o homem mais poderoso do Império e, por conseguinte, de todo o mundo, já que o Império Persa era o império mundial da ocasião.

-Hamã, como todo soberbo, se autoexaltava, achava-se a pessoa mais importante do planeta. Assim também fez o querubim ungido, que elevou o seu coração por causa da sua formosura e corrompeu a sua sabedoria por causa do seu resplendor (Ez.28:17) e a consequência disto foi a sua irreversível derrocada e perdição.

-Hamã iria passar pelo mesmo processo do “pai da soberba”, já que seguiu o mesmo triste caminho. Sua autoexaltação era apenas a antessala de sua destruição, pois “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv.16:18).

-Soberba não combina com honra. Os soberbos desejam ser honrados, querem ser admirados, mas a sua própria conduta exclui esta possibilidade. A honra vem depois da humildade, que é exatamente o comportamento oposto (Pv.15:33; 18:12).

-Hamã, após este discurso de autoexaltação, mostra como o soberbo tem sede insaciável de poder e que sempre está insatisfeito. Lembramo-nos aqui do ensino de Nosso Senhor e Salvador que diz que somente quando aprendemos d’Ele a sermos mansos e humildes de coração é que encontraremos descanso para as nossas almas (Mt.11:29).

-O soberbo não tem descanso na alma, quer sempre mais poder, quer sempre ser mais admirado, luta incessantemente para se mostrar superior, gerando uma insatisfação contínua e ininterrupta, que, em vez de trazer felicidade, traz enfado emocional, sentimental e espiritual.

-Apesar de ter, por horas, mostrado toda a glória de suas riquezas e sua posição singular no Império, Hamã diz que não se sentia feliz enquanto não pusesse fim à vida de Mardoqueu, que ousava não se prostar diante dele.

-Um homem que ocupava uma posição de destaque no império mundial da época, que se dizia reconhecido até pela rainha, por que haveria de se importar com um funcionário subalterno, que ficava à porta do rei e que, afinal de contas, estava com data marcada para ser morto, por decreto redigido pelo próprio Hamã?

-Infelizmente, é esta a triste realidade daqueles que buscam a felicidade e a alegria nas coisas desta vida, que têm uma visão horizontal da vida. São eternos insatisfeitos e, o que é mais triste ainda, terão aqui insatisfação e frustração e, no mundo-do-além, o desespero e o sofrimento sem fim. Que Deus nos guarde, amados irmãos!

-Diante deste desabafo de Hamã, aguçaram-se os espíritos dos aduladores e da própria mulher do primeiro- ministro.

Hamã havia sido um péssimo exemplo para sua família e havia encaminhado todos eles para a malignidade, para a busca dos prazeres mundanos. Sendo a cabeça da família, Hamã se constituía num referencial, num exemplo e, por causa disto, todos seus familiares eram igualmente soberbos e odiavam o próximo.

-Além dos familiares, pervertidos por aquele homem, havia também os amigos que, conforme já vimos, eram aduladores, bajuladores, querendo tão somente agradar o influente e poderoso conviva para dele obter as maiores vantagens que pudessem. Este tipo de gente, aliás, é como os cães mencionados pela mulher siro- fenícia, contentam-se em comer das migalhas que caem da mesa de seus senhores (Mc.7:28).

-Sua mulher Zeres, seguida pelos seus amigos, aconselharam Hamã a que fizesse uma forca de cinquenta côvados de altura, o que corresponde a 22,86 metros, e que Hamã obtivesse do rei ordem para nela enforcar Mardoqueu e, desta forma, ele poderia, completamente satisfeito e alegre, ir para o banquete que seria promovido pela rainha Ester, segundo a ótica do primeiro-ministro, em sua homenagem, o suprassumo de seu poder (Et.5:14).

-Notemos a malignidade contida neste conselho. Mardoqueu já estava condenado à morte e, certamente, seria o primeiro a ser morto no dia treze de Adar, e não duvidemos na presença do próprio Hamã. Mas ele não podia esperar o “momento propício” indicado pelo sobrenatural, era preciso que desse cabo de Mardoqueu, “a pedra do seu sapato”, imediatamente.

-A soberba leva à precipitação, não tem paciência, não pode suportar a contrariedade, a oposição. Por isso, não raras vezes, o soberbo se utiliza da violência, crueldade e terror para ter, o mais cedo possível, a satisfação de seus desejos, a eliminação de seus adversários.

-A soberba é essencialmente satânica, porquanto há evidente vinculação entre a soberba e a violência. Não é à toa que o Senhor Jesus diz que o diabo é homicida desde o princípio (Jo.8:44) e o profeta Ezequiel fala que, na corrupção do querubim ungido, “seu interior se encheu de violência” (Ez.28:16).

-Hamã, que, num “acidente de prudência”, havia se refreado quando viu que Mardoqueu persistia não se prostrando diante dele, preferindo ir desfrutar da autoexaltação, agora era atiçado pelos amigos e familiares para que desse vazão a seu ódio contra Mardoqueu e o matasse antes mesmo do banquete promovido pela rainha Ester.

-Entretanto, como já dissemos, a adulação leva ao pecado, à destruição e Hamã cedeu aos conselhos dos amigos e familiares, que estavam, aliás, de acordo com o seu coração mau, tendo, então resolvido matar Mardoqueu antes mesmo da hora do banquete.

-Imediatamente, ordenou que se fizesse a forca, usando de todo o seu poder, para que, no mais breve período possível, a forca fosse levantada. E, realmente, em poucas horas, a forca já estava erigida, com sua máxima altura, e Hamã radiante, pois haveria de demonstrar todo seu poder, eliminado o primeiro judeu, antes mesmo de obter a vanglória do banquete da rainha.

II– A INSÔNIA DE ASSUERO

-Hamã achava que tinha o controle de todas as coisas e que Mardoqueu iria ser morto antes mesmo da hora do banquete de Ester.

-Entretanto, não é esta a realidade. Quem sustenta todas as coisas pelo Seu poder é o nosso Deus, Ele tem o absoluto controle de tudo e de todos, pois todos e tudo é d’Ele (Sl.24:1).

-Hamã estava muito ansioso depois de ter acolhido a sugestão de mandar enforcar Mardoqueu e estava empenhado em que a forca ficasse pronta para que, no primeiro horário do dia, já conseguisse a ordem para o enforcamento, para que isto ficasse resolvido antes da hora marcada para o banquete promovido por Ester.

-Com toda esta ansiedade, evidentemente que o primeiro-ministro devia ser insone, sem vontade de dormir, tendo passado, muito provavelmente, a noite em claro, tanto que vamos vê-lo já aguardando para falar ao rei de manhãzinha.

-A provável insônia de Hamã era decorrência de sua malignidade e, pelo que vemos nas Escrituras, esta insônia é própria dos homens maus, tanto que o profeta Miqueias fala daqueles que, em suas camas, ficam a arquitetar como prejudicar os outros (Mq.2:1,2) ou como diz o proverbista, os ímpios, os maus “…não dormem, se não fizerem mal, e foge deles o sono, se não fizerem tropeçar alguém” (Pv.4:16).

-Entretanto, naquele mesma noite, a insônia atingiu também o rei Assuero (Et.6:1).

-Diz o salmista que o Senhor dá a seus amados o sono (Sl.127:2). Aliás, isto desde os primórdios da história da humanidade, porquanto Deus fez cair sobre Adão um profundo sono para que o Senhor formasse a mulher (Gn.2:21), como também fez cair um sono pesado sobre o exército de Israel, a ponto de Davi ter podido entrar no acampamento militar e tomar as armas do rei Saul (I Sm.26:12).

-O mesmo Deus que dá o sono, tira-o. Foi o que ocorreu com Assuero. Deus retirou o sono do rei para que ele mandasse que viessem ler para ele as crônicas, e ali achasse o que Mardoqueu havia feito pelo monarca.

-A Divina Providência, que é “… a atividade de Deus na preservação, concorrência e governo de todas as criaturas e de tudo o que ocorre na criação até seu destino final…” (DFAD II.6, p.35), estava em ação. Assim como fizera com que se registrasse o ato de Mardoqueu em prol da vida do rei, também agora fazia fugir o sono de Assuero para que ele lembrasse do episódio mediante a leitura das crônicas.

-Naquele tempo, era costume que todos os reis mandassem registrar seus feitos e os fatos de seu reinado, a fim de que, não só, vez por outra, fizesse uma espécie de balanço da sua administração, como também que seu governo fosse conhecido pela posteridade, pelas gerações futuras.

-Em Israel, vemos que, desde o início da monarquia, havia “o cronista”, que era precisamente o encarregado para fazer tais registros (II Sm.8:16). Tanto assim é que, nos livros dos Reis, sempre há menção tanto “ao livro das crônicas dos reis de Israel” quanto “ao livro das crônicas de Judá”.

-A título de curiosidade, a língua portuguesa pôde se estabelecer, entre outras coisas, por causa dos cronistas dos primeiros reis portugueses, como, por exemplo, Fernão Lopes (1418-1459).

-Insone, o rei mandou que fossem lidos para ele os registros das crônicas. Em meio a esta leitura, ouviu o rei que Mardoqueu havia descoberto uma conspiração contra Assuero da parte de Bigtã e Teres, o que se mostrou ser verdadeiro, tendo os dois guardas da porta sido enforcados.

-O rei teve despertada a sua lembrança sobre este episódio e, então, perguntou ao leitor o que se havia feito para honrar Mardoqueu por ter abortado uma conspiração contra ele, tendo, então, sido dito a ele que nada se fizera.

-O rei deve ter ficado envergonhado consigo mesmo. Um súdito tão leal e a quem o monarca devia a sua própria vida, pois, caso não houvesse a descoberta da conspiração acabaria Assuero assassinado (como, aliás, foi o fim deste rei segundo a história), nada recebera em recompensa por tal ato.

-Assuero, então, resolveu que se deveria honrar Mardoqueu e que, com esta honra, houve um incentivo e estímulo de todos seus súditos em agradar ao seu monarca.

-Tendo tomado esta resolução, Assuero não sabia como proceder e indagou as pessoas ali se havia alguém no pátio, algum assessor com quem pudesse obter uma sugestão.

-Lá estava precisamente Hamã, outro insone, que não descansaria enquanto não obtivesse do rei a ordem para enforcar Mardoqueu ainda antes do horário do banquete promovido por Ester.

-O rei, ao saber que Hamã estava no pátio, entendeu que era o momento de honrar Mardoqueu, pois, certamente, a sugestão que fosse dada por Hamã, seu principal auxiliar, seria a mais acertada.

-Hamã, então, foi chamado e, antes que pudesse fazer seu pedido ao rei, o monarca lhe indagou o que se deveria fazer a alguém de quem o rei se agrada.

-Ao receber esta pergunta, Hamã, soberbo como era, não imaginou em outra pessoa senão ele próprio. De quem o rei se agradaria a não ser dele mesmo, seu principal auxiliar e o único convidado ao banquete privado da rainha?

-Hamã, então, pôs toda a sua imaginação para funcionar. Queria se sentir um verdadeiro rei, só lhe faltava isso, e, assim, caprichou na honraria, dizendo que a pessoa cujo rei se agradava deveria, por primeiro, ser vestido com o traje real; ser-lhe permitido que se assentasse no cavalo real; ser-lhe posta na cabeça a coroa real e que fosse levado pela cidade, no cavalo, a ser puxado por algum funcionário do rei, que deveria proclamar a todo instante que assim se faria a todo aquele que tivesse o agrado do rei.

-Notamos, nitidamente, que Hamã tinha desejo de se sentir rei. Sua posição, ainda que fosse a maior depois da do monarca, não era suficiente para sua sede de poder. O soberbo é um eterno insatisfeito e sempre deseja cada vez mais se sentir superior aos demais.

-Hamã desejava a veste, o cavalo e a coroa do rei. Queria assumir uma posição que não era a sua. Foi exatamente isto que fez o querubim ungido que, apesar da proeminência que tinha entre os anjos, não deixou de querer pôr seu trono acima do próprio Deus (Is.14:13,14).

-Os servos do Senhor não podem ter este sentimento, que é diabólico. Devemos nos contentar com a posição que nos foi dada por Deus, sempre reconhecendo nosso imerecimento, a graça e a misericórdia do Senhor para conosco.

-O apóstolo Paulo, ao se dirigir aos filipenses, disse ter tido esta conduta, contentando-se com o que tinha e, mais, sabendo aceitar os diversos momentos da vida, sabendo estar abatido e também ter abundância; a ter fartura e a ter fome; a ter abundância e padecer necessidade (Fp.4:11,12).

-Francisco de Assis (1181/2-1226) teria feito uma oração, que, aliás, bem traduz o sentimento que deve ter um servo do Senhor: “Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado. Resignação para aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.

-O teólogo norte-americano Reinhold Niebuhr (1892-1971) também elaborou uma oração, denominada “oração da serenidade” que contém o mesmo significado, a saber:

“Senhor, conceda-me a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar; a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para discernir entre as duas.

Vivendo um dia de cada vez, apreciando um momento de cada vez, recebendo as dificuldades como um caminho para a paz, aceitando este mundo cheio de pecados como ele é, assim como fez Jesus, e não como gostaria que Ele fosse; confiando que o Senhor fará tudo dar certo se eu me entregar à Sua vontade; pois assim poderei ser razoavelmente feliz nesta vida e supremamente feliz ao Seu lado na eternidade. Amém.”

-Uma conduta de tal natureza só é possível para quem se nega a si mesmo, toma a sua cruz e passa a seguir Jesus Cristo, Ele próprio um exemplo de resignação e de submissão aos desígnios divinos.

-Após ter proferido a sua sugestão, Assuero dela muito gostou e mandou, então, que ele, Hamã, fizesse tudo quanto tinha falado para Mardoqueu, pois era dele que o monarca estava a falar.

III– A HUMILHAÇÃO DE HAMÃ E A HONRA A MARDOQUEU

-Quando o rei deu esta ordem, Hamã deve ter ficado extremamente perplexo. Como poderia o rei se agradar de outrem que não ele? E mais, justamente Mardoqueu, cuja morte ia ser pedida naquele mesmo instante pelo primeiro-ministro?

-Flávio Josefo assim menciona a situação: “…Hamã não ficou menos surpreendido com essas palavras do que teria ficado se fosse atingido por um raio…” (Antiguidades Judaicas XI.6. In: História dos hebreus. Trad. Vicente Pedroso, p.507. Disponível em: https://archive.org/details/josefo-historia-dos-hebreus-obra- completa/page/n507/mode/2up Acesso em 18 jun. 2024).

-Diante da ordem dada pelo rei, não pôde Hamã fazer o pedido que havia vindo para fazer. Mardoqueu era um homem de que o rei se agradava e se ele falasse em matá-lo para o rei, isso seria uma afronta e quem poderia acabar morto era o próprio Hamã.

-O próprio Hamã tinha dito ao rei que a pessoa a ser honrada deveria ser conduzida pela cidade por um dos príncipes do reino, que deveria ficar proclamando ao longo daquela viagem que isto se faria a quem fosse do agrado do rei.

-Ora, quando Assuero ouviu isto, não teve dúvida. Quem era o principal auxiliar do reino? Hamã. Então seria ele a pessoa mais indicada para levar Mardoqueu pelas ruas de Susã, pois aí a honra seria de todos reconhecida, já que o principal príncipe estaria a exaltar o homem de quem o rei se agrada.

-Hamã sentia agora, na pele, que todo o seu poderio era fruto do engrandecimento dado por Assuero, não era decorrência da sua suposta superioridade sobre todos os homens, como imaginava o primeiro-ministro.

-De uma hora para outra, Hamã tinha se tornado o proclamador da honra de Mardoqueu, como se ele fosse um serviçal daquele funcionário subalterno que ficava à porta do rei.

-Precisamos ter consciência de que tudo neste mundo é passageiro, que as circunstâncias se modificam e que precisamos sempre estar em comunhão com Aquele que não muda nem tem sombra de variação (Ml.3:6; Tg.1:17), pois isto é única e exclusivamente o que importa.

-Flávio Josefo, inclusive, relata algo que não se encontra no texto bíblico, que teria sido a estranheza de Mardoqueu quando Hamã chegou dizendo que ele deveria vestir as vestes reais e montar no cavalo do rei. Mardoqueu teria achado que se tratava de uma zombaria ou provocação de Hamã, somente aceitando fazer aquilo ao saber que havia sido uma ordem do próprio Assuero.

OBS: Eis o trecho da obra de Josefo a respeito: “…Sendo [Hamã, observação nossa], porém, obrigado a obedecer a uma ordem tão clara, saiu do palácio com um cavalo, uma veste de púrpura e uma cadeia de ouro e foi procurar Mardoqueu.

Encontrou-o perto da porta e ordenou-lhe que tomasse as vestes reais, a cadeia e montasse no cavalo. Mardoqueu, que não tinha a menor ideia do que se passava e do que o levava a falar daquele modo, pensou que Hamã estava zombando dele e respondeu:

“Homem mau, o mais perverso de todos os homens! É assim que zombais de nossa infelicidade?” Mas, quando ele soube que o rei o honrava com aquele favor em consideração ao serviço que lhe prestara, vestiu os trajes reais, pôs a cadeia, montou no cavalo e assim percorreu a cidade, levado por Hamã, que clamava diante dele: “É assim que se deve fazer àquele a quem o rei deseja honrar”.…” (op.cit., pp.507-8. end. cit.).

– Hamã teve de cumprir a ordem de Assuero. Pegou a veste real, que tanto desejava vestir, e a vestiu em Mardoqueu; pegou o cavalo do rei, que ele tanto queria montar, e nele pôs Mardoqueu; pegou a coroa real, que tanto cobiçava, e a pôs na cabeça de Mardoqueu e, em seguida, puxando o cavalo por toda Susã, proclamou em alto e bom som que assim se faria e assim seria honrado de quem o rei se agrada.

-Hamã era humilhado aos olhos de todos os moradores de Susã, porque, lembremos, todos sabiam que Mardoqueu era judeu e que Hamã havia mandado matar os judeus. Agora, Hamã era o proclamador da honra de Mardoqueu.

-Hamã era humilhado diante de todos os funcionários do palácio, que eram obrigados a se prostar diante dele, e todos agora viam o primeiro-ministro enaltecendo e honrando aquele que se recusara a se inclinar diante dele.

-Enquanto Hamã queria, sem merecer e contra a própria natureza das coisas, ter as vestes, a coroa e o cavalo do rei, Mardoqueu, sem nunca ter desejado ou pensado em se utilizar daqueles elementos, era tratado como um rei.

-Se, dias antes, Mardoqueu percorrera Susã com pano de saco com cinza, com cilício, com grande e amargo clamor, em trajes que o impediam até de entrar no palácio, agora era conduzido por Hamã, a maior autoridade depois do rei, pela mesma Susã, mas no cavalo do rei, com a coroa real e com as vestes reais.

-Esta cena pode ser interpretada espiritualmente. O homem que se recusa a glorificar a Deus, que se imagina semelhante ao Senhor, crendo na mentira satânica de que pode ser igual ao Criador, é alguém que, embora deseje “as coisas do rei”, delas jamais usufruirá, nunca delas desfrutará.

-Em contrapartida, aquele que reconhecer o senhorio divino, que se humilhar perante Deus, considerando ser menos do que nada e querendo estar sempre a serviço do Senhor, este será feito, por Cristo Jesus, rei e sacerdote (Ap.1:5,6).

-Quem é lavado no sangue de Cristo, quem entra em comunhão com Ele, é feito rei. Sim, a Igreja reinará com Cristo durante mil anos sobre a face da Terra (Ap.20:4), bem como estaremos com o Senhor para todo o sempre, reinando com ele sobre os novos céus e nova terra onde habita a justiça (II Pe.3:13).

-O apóstolo Pedro disse que somos “o sacerdócio real” (I Pe.2:9), o que mostra que nossa situação é bem superior ao próprio Israel, que será um “reino sacerdotal”, ou seja, os israelitas remanescentes, mesmo sendo salvos ao término da Grande Tribulação (Rm.11:26,27), serão súditos de Cristo, mas nós seremos a Esposa do Cordeiro.

-Mardoqueu representa os servos fiéis, aqueles que se humilham diante do Senhor e que, por isso mesmo, terão direito de participar da realeza de Cristo Jesus, podendo sentar no cavalo do rei, vestir as vestes do rei e usar da coroa real. Aleluia!

-Mardoqueu foi exaltado perante a mesma população em que ele havia se apresentado humilhado. Assim também, no final dos tempos, todos os que humilharam os servos do Senhor verão àqueles que humilharam exaltados e eles todos, imensamente humilhados, tendo de dobrar os seus joelhos e confessar com sua língua que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai (Fp.2:10,11).

-Hamã, contrariado, enojado mesmo, teve de proclamar a honra de Mardoqueu. Mardoqueu que jamais se prostara diante dele, estava numa posição superior, na sela do cavalo do rei, enquanto Hamã puxava, numa posição servil, o animal por toda a cidade.

-Retornando da jornada por Susã, Mardoqueu voltou para o seu posto à porta do rei. Era um homem desprendido das coisas terrenas, não tinha seu coração nas coisas desta vida. Era a mesma pessoa, com ou sem vestes reais, com ou sem coroa real, estando, ou não, assentado no cavalo do rei.

-Devemos ser o que somos, não o que estamos. Isto nos faz lembrar de uma frase que ficou famosa, proferida por Eduardo Portella (1932-2017), que foi ministro da Educação no Brasil entre 1979 e 1980, quando, ao ser demitido, afirmou: “Eu não sou ministro, estou ministro”.

-Temos este mesmo comportamento, amados irmãos? Ou já deixamos que, como diz adágio popular, “o sucesso subir à cabeça”? Pensemos nisto!

-Hamã, por seu turno, não foi para o seu gabinete no palácio. Tinha sido humilhado, seu ego estava sobremaneira ferido. Ele imediatamente se retirou correndo para sua casa, tendo coberta a cabeça. Não queria sequer ser reconhecido, porquanto achava que todos iriam zombar dele.

-Diz Flávio Josefo a respeito: “…Hamã, coberto de confusão, foi com lágrimas contar à mulher e aos amigos o que lhe havia acontecido…” (Antiguidades Judaicas XI.6. In: História dos hebreus. Trad. Vicente Pedroso.
p.508. Disponível em: https://archive.org/details/josefo-historia-dos-hebreus-obra- completa/page/n507/mode/2up Acesso em 18 jun. 2024).

-Em casa, Hamã, que um dia antes, havia se vangloriado, foi fazer suas lamentações com os amigos e familiares, desabafar diante daqueles que lhe eram próximos, quem sabe querendo algum conselho que o fizesse reverter aquele quadro, até porque, certamente, com o coração mau que tinha, estava Hamã, mais do que nunca, querendo dar cabo da vida de Mardoqueu.

-Entretanto, como Hamã estava em meio a aduladores, a pessoas movidas de interesse próprio, o que recebeu não foi conselho algum nem muito menos conforto ou ânimo da parte dos seus.

-Bem pelo contrário, os amigos e familiares de Hamã disseram a ele que ele já estava começando a cair diante de Mardoqueu e dos judeus e que não prevaleceria contra eles. Os aduladores e os familiares já sentiam que Hamã estava próximo à ruína.

-Hamã não tinha ideia alguma em seu favor, pois as pessoas não estavam preocupadas com ele, pois eram, assim como ele, malignas, interesseiras e egoístas. Hamã sentia-se só, praticamente abandonado pelos seus e, neste exato instante, é surpreendido com a chegada dos eunucos do rei para levá-lo ao banquete.

-No dia anterior, na sua mente, Hamã pensava que iria para o banquete com Mardoqueu morto e para que se tivesse a máxima exaltação no banquete privado com o casal real. Estava indo para o banquete, envergonhado, abandonado pelos seus e humilhado diante do seu desafeto. Mal sabia ele que a situação iria piorar ainda mais…

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10837-licao-11-a-humilhacao-de-hama-e-a-honra-de-mardoqueu-i

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