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LIÇÃO Nº 11 – A LÂMPADA ARDERÁ CONTINUAMENTE

A perseverança é condição para a salvação.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do livro de Levítico, falaremos a respeito do ardor contínuo das lâmpadas e do fogo do altar.

– A perseverança é condição para a salvação.

I – O FOGO DO ALTAR

– Na sequência do estudo do livro de Levítico, analisaremos hoje a questão da perseverança, que é tipificada por duas disposições do culto da antiga aliança, quais sejam, as que dizem respeito ao fogo do altar de cobre e às lâmpadas do candelabro, que ficava no lugar santo.

– Ambas as disposições têm em comum a ordem para que houvesse o ardor contínuo, ou seja, o fogo deveria queimar ininterruptamente no altar de cobre, onde eram feitos os sacrifícios, como também as lâmpadas deveriam ser alimentadas com azeite de modo contínuo, para que, igualmente sem interrupção, fosse iluminado o lugar santo.

– Esta continuidade tipifica a perseverança, que é uma condição para a salvação, pois o Senhor Jesus, em Seu sermão profético, disse que só aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt.24:13), tipificação que mostra, com absoluta clareza, que se faz necessária a contribuição humana para que se tenha a manutenção da iluminação espiritual que nos adveio da parte do Espírito Santo quando cremos em Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador de nossas vidas.

– Na Versão Almeida Revista e Corrigida, esta continuidade exigida em ambas as disposições da lei mosaica que estaremos a analisar é expressada pelo uso do advérbio “continuamente”, que, em Levítico, aparece em cinco oportunidades, uma com referência ao fogo do altar (Lv.6:13) e quatro, com relação às lâmpadas do candelabro (Lv.24:2,3,4,8).

– Trata-se da palavra hebraica “tâmîdh” (תמיד) , “…de uma raiz desusada que significa estender; (propriamente) continuação (como extensão indefinida); mas é usada apenas como (atributivamente como adjetivo) constante ou (como advérbio) constantemente; elipticamente, o sacrifício (diário) regular;— continuamente, perpetuamente, (de) contínuo, sempre, incessantemente, sem cessar, contínuo, vitalício, constantemente, diário.

Substantivo masculino que significa continuidade. Esta palavra normalmente se refere a ações concernentes a rituais religioso: Deus ordenou que os israelitas apresentassem continuamente o pão da proposição sobre uma mesa no Tabernáculo (Ex.25:30). Semelhantemente, o pão especial deveria ser colocado sobre a mesa continuamente a cada sábado (Lv.24:8).

A hora das refeições também podia ser vista como seguindo um padrão definido: Davi ordenou que Mefibosete sempre comesse com ele (II Sm.9:7). Sob outra ótica, o salmista se referiu a Deus como aquele a quem ele podia continuamente recorrer em momento de necessidade (Sl.71:3)” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 8548, pp.2005-6) (destaques originais).

– Nota-se, pois, que se está diante de dispositivos que exigem uma ação constante por parte dos sacerdotes, medidas que tinham de ser tomadas diariamente, sem qualquer interrupção, que tinham de ter duração indefinida, que deveria ocorrer sempre.

– Isto nos mostra que, na nossa vida espiritual, em nosso relacionamento com o Senhor, há medidas e atitudes que nunca podem ser interrompidas, que são incessantes, que devem ser realizadas sempre, o que não é se admirar já que estamos em contato com o Senhor, que é eterno, que está acima do tempo, sendo esta uma de Suas características peculiares, a ponto de os próprios judeus O denominarem de Eterno, para evitar falar-Lhe o nome.

– Se passamos a ter um relacionamento de amizade com o Senhor, se passamos a desfrutar de comunhão com Ele, até porque o objetivo da obra salvífica de Cristo é nos fazer um com o Pai (Jo.17:20,21), assim como Ele, na condição de Segunda Pessoa da Trindade, é um com as outras duas Pessoas Divinas (Jo.10:30), é intuitivo até que passamos a ter um compartilhamento com a natureza divina, da qual somos feitos participantes (II Pe.1:4).

– Deste modo, em certa medida, passamos a compartilhar desta eternidade divina, passamos a ter algum traço dela, e não é por outro motivo que é dito que, quando alcançamos a salvação, obtemos a vida eterna (Mt.19:29; Jo.3:15,16,36; 5:24; 6:47,54).

– Esta vida eterna não se resume tão somente na convivência com Deus na dimensão da eternidade, o que passamos a desfrutar a partir de nossa eventual morte física antes do arrebatamento ou, por ocasião deste evento, quando atingirá sua plenitude, mas é uma realidade que se apresenta desde já, visto que o Senhor Jesus não disse apenas que herdaremos a vida eterna (Mt.19:29), mas que quem n’Ele crê já a tem (Jo.3:36;5:24;6:47).

– Como, então, se mostra esta vida eterna enquanto ainda estamos nesta nossa peregrinação terrena (I Pe.1:17)? Por meio desta constância, desta regularidade, desta continuidade, que nos faz ser inabaláveis e firmes em nossa comunhão com o Senhor, num comportamento que se estende indefinidamente até que nos encontremos com Nosso Senhor e Salvador nos ares ou sejamos por Ele chamados para aguardar a glorificação no Paraíso.

– É esta conduta que é recomendada pelo apóstolo Paulo, ao término do chamado “capítulo da ressurreição”, quando nos manda ser firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o nosso trabalho não é vão no Senhor (I Co.15:58).

“Firme” é a palavra grega “hedraios” (εδραιος), cujo significado é “sedentário, imóvel, assentado, firme, estável” e “constante” é a palavra grega “ametakinetos” (αμετακίνητος), cujo significado é “imóvel, que não pode ser movido”.

– A constância e firmeza necessárias para o servo de Jesus Cristo, sem o que não se poderá vislumbrar a glorificação, que é exatamente o contexto das palavras do apóstolo Paulo, quando nos fala a respeito da doutrina da ressurreição, mostra-nos que a imutabilidade divina, um ser que não muda e onde não há sombra de variação (Ml.3:6; Tg.1:17), é, de certo modo, compartilhada ao salvo, de tal maneira que se mantém na posição de separação do pecado que o Senhor lhe colocou, quando creu em Jesus, postura que deve ser sempre a mesma, que não deve ser alterada a partir de então.

– As disposições da lei de Moisés a respeito da continuidade tanto do fogo do altar quanto das lâmpadas do candelabro tipificam, portanto, este estado que deve ter o salvo na pessoa de Cristo, até porque, como diz o salmista, “os que confiam no Senhor são como o monte de Sião que não se abala mas permanece para sempre” (Sl.125:1).

– A primeira disposição que fala de continuidade é a do fogo do altar de cobre. Este fogo foi acendido pelo próprio Deus quando da inauguração do tabernáculo. Depois que Moisés e Arão saíram da tenda da congregação, depois que tinha sido feito o sacrifício após a consagração dos sacerdotes, no exato instante em que abençoaram o povo, saiu fogo de diante do Senhor e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar, o que, vendo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces (Lv.9:22-24).

– Quando da inauguração do primeiro templo, também veio fogo do céu para acender o altar de cobre que, por seu transporte, acabou por ter o fogo apagado, de modo que, no templo também, o fogo dos sacrifícios tinha origem divina (II Cr.7:1).

– No segundo templo, tal manifestação não ocorreu e isto tinha um sentido. Seria naquele templo que viria o próprio Jesus, que era o próprio fogo, que vindo do céu, era a luz dos homens, a vida (Jo.1:4) e, como tal, sacrificando-Se por nós, abriu o caminho dos céus para a humanidade (Hb.10:19,20), tanto que o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45), trazendo “luz”, purificando a humanidade, transformando-a.

– Este fogo era o fogo que consumiria todos os sacrifícios que fossem ofertas queimadas, como também o que cozeria a porção dos sacerdotes nos sacrifícios pacíficos, o fogo que consumia, o fogo que purificava, o fogo que, vindo do céu, dava a ideia da transformação, da necessidade de mudança para que o homem pudesse se chegar à presença do Senhor.

– O fogo é uma substância que gera luz e calor e que, por isso, modifica o ambiente em que se encontra. Está, pois, sempre vinculado à ideia de transformação, de mudança, sendo que, na filosofia grega, foi precisamente o fogo o escolhido como o princípio de todas as coisas pelo filósofo Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.), que concebia o universo como sendo uma mudança contínua, a ponto de ter ficado célebre a sua afirmação de que não se podia tomar dois banhos em um mesmo rio, pois, no segundo banho, nem o rio, nem o banhista seriam os mesmos.

– O fogo está associado, também, a um só tempo, à ideia de destruição e de purificação. Se o fogo, em seu poder transformador, modifica tudo que está à sua volta, não raras gerando a destruição (Gn.19:24), o consumo total daquilo que que é queimado, também é o responsável pela purificação, pois aquilo que não é consumido ou destruído pelo fogo, sai dele com maior grau de pureza, como, por exemplo, ocorre com metais como é o caso do ferro, do ouro e da prata (I Pe.1:7).

– A associação do fogo ao Senhor advém desde o momento em que Deus firma uma aliança com Abrão. Em Gn.15:17, um forno de fumo e uma tocha de fogo passaram por entre as metades dos animais que haviam sido mortos e partidos pelo patriarca por ordem divina, gesto que era o sinal do Senhor de que estabelecia uma aliança com Abrão, de modo que Deus foi “representado” ali como fogo.

– O fogo providencia luz e isto nos faz lembrar que Deus é luz e n’Ele não há trevas nenhumas (I Jo.1:5), sendo certo que quando estamos distantes do Senhor estamos nas trevas e a salvação nada mais é que sair das trevas e vir para a luz (Jo.8:12; 12:46; At.26:18; Rm.13:12; II Co.4:6; Ef.5:8; Cl.1:13; I Ts.5:5; I Pe.2:9). Jesus é a luz do mundo (Jo.8:12;9:5), luz que era vida aos homens (Jo.1:4).

– O fogo acendido pelo Senhor no altar de cobre simbolizava esta iluminação produzida pelo Evangelho de Cristo (II Co.4:4), a “luz no fim do túnel”, a providência de salvação para o homem perdido.

– O fogo providencia calor e isto nos faz lembrar que Deus nos traz fervor espiritual, aquece os que se encontram na frieza espiritual, na indiferença das coisas espirituais, na insensibilidade, na paralisia, na inércia com relação às “coisas de cima”.

O fogo veio diretamente do céu para trazer mudanças e modificações no estado de coisas lamentável em que se encontrava a humanidade, para mostrar a presença de Deus e a disposição do Senhor em manter um relacionamento profícuo com os seres humanos. Tanto assim é que a palavra hebraica para fogo, a saber, “’es” (אש) também significa quente.

– A presença do Senhor aquece os corações dos homens, como testemunharam os discípulos do caminho de Emaús (Lc.24:32). É o fogo que aquece os frios, que faz os que dormem despertar, como afirmou o poeta sacro Almeida Sobrinho na terceira estrofe do hino 155 da Harpa Cristã.

– O fogo, também, promove a destruição, o consumo. No texto que estamos a examinar do livro de Levítico, que trata da lei do holocausto, está a tratar da queima integral das ofertas, ou seja, da transformação das ofertas trazidas, fossem animais ou vegetais, em fumaça, em algo que seria totalmente destruído e consumido.

– Deus é um fogo consumidor (Ex.24:17; Is.29:6; 30:27,30; 33:14; Hb.12:29). A palavra “consumidor”, em hebraico, é a palavra “’akhal” (אכל), cujo significado é “comer, destruir de qualquer modo, devorar, consumir”. Em o Novo Testamento, a palavra utilizada é “katanalisko” (καταλναλίσκω), que tem o significado de “consumo completo”.

– Deus Se apresentou ao povo de Israel no monte Sinai como um “fogo consumidor” (Ex.24:17; Dt.4:11), querendo, com isso, mostrar que queria a total transformação de Israel, com a destruição do “velho homem” para que um “novo homem”, uma “nova criatura” surgisse, o que não se deu já que Israel não quis subir ao monte, distanciou-se do Sinai, pedindo que somente Moisés fosse ao encontro do Senhor (Ex.19:13; 20:1821). É este fogo que é a chama de amor que arde em nosso peito, dá-nos valor e consome todos os restos do mal, como diz o poeta sacro José Teixeira de Lima, na terceira estrofe do hino 122 da Harpa Cristã.

– O fogo também purifica. Os objetos que resistem ao fogo e não são por ele consumidos, são purificados, como ocorre, por exemplo, com os metais, que, ao serem submetidos ao fogo, saem mais puros, já que as impurezas são consumidas ou, pelo menos, separadas, pela ação do fogo (Ez.22:18).

– As ofertas que eram levadas ao altar de cobre, quando não eram completamente queimadas, tornavam-se coisas santas, tanto que somente podiam ser consumidas pelos sacerdotes e seus familiares (Lv.14:13; 21:22; Nm.18:9). Havia, portanto, uma total transformação produzida pelo fogo do altar, que torna algo comum em santo.

– Após o holocausto, o sacerdote deveria se despir das suas vestes sacerdotais e se vestir com calças de linho sobre a sua carne e, então, levantar a cinza, que era posta junto ao altar (Lv.6:10). Depois, deveria despir destas vestes, vestir outras e levar a cinza para fora do arraial para um lugar limpo (Lv.10:11).

– O que não subia a presença de Deus em forma de fumaça, como cheiro suave (Lv.1:9), ou seja, a cinza, deveria ser levada para fora do arraial e ser posta em lugar limpo e ali esquecida, deixada para trás.

– A retirada da cinza a cada holocausto revela o cuidado que tinha o Senhor para que a cinza não prejudicasse o fogo do altar e a continuidade dos sacrifícios. Ora, este gesto mostra-nos, claramente, que devemos deixar para trás, à margem de nossa vida, tudo quanto existia em nossas vidas e não agradava ao Senhor, tanto que não subiu como “cheiro suave” às suas narinas.

– A cinza simboliza assim tudo quanto pertencia ao velho homem que, completamente destruído pelo fogo divino, deve ser completamente abandonado em nossas vidas. Devemos, como diz o apóstolo Paulo, “esquecer as coisas que para trás ficam” (Fp.3:13), as “coisas velhas que já passaram” (II Co.5:7).

– Esta retirada se dava a cada sacrifício, a cada holocausto, era uma medida contínua, pois sempre haveria cinza a cada oferta. Também, a cada momento em que cultuamos a Deus, em que nos encontramos com Deus, vamos nos purificando, pois não somos perfeitos e caminhamos para a estatura completa de Cristo, para varão perfeito (Ef.4:13), edificando-nos em amor, crescendo em tudo n’Aquele que é a cabeça, Cristo (Ef.4:15). A cada dia, portanto, temos de melhorar os nossos caminhos, deixando tudo o que não agrada a Deus no “mar do esquecimento”.

– Mas, além da retirada da cinza, mister se fazia o abastecimento diário de lenha para a queima dos sacrifícios, pois era este o combustível utilizado no altar de cobre. A cada manhã, o sacerdote acenderia lenha no altar, para só, então, pôr em ordem o holocausto e iniciar os sacrifícios, que se estendiam de manhã até o pôr do sol.

– A simples ausência da cinza não era suficiente para que o fogo se mantivesse aceso. Era necessária a reposição da lenha, o combustível que mantinha em funcionamento o altar. De manhã, antes do primeiro sacrifício, que era o sacrifício contínuo de um cordeiro, simbolizando o pecado de toda a humanidade, tinhase de pôr lenha no altar (Lv.1:7).

– O primeiro gesto que Abraão fez, quando foi cumprir a ordem divina de sacrificar seu filho Isaque, foi fender lenha (Gn.22:3), tendo, já no monte Moriá, tomado a lenha para acender o fogo para só então pôr sobre ela o seu filho (Gn.22:6)..

– A lenha é a primeira providência que se devia tomar para que se oferecessem sacrifícios, sendo certo que o sacerdote não fendia a lenha, pois isto era um serviço que não era de sua alçada, um serviço considerado até um tanto quanto penoso, tanto que foi entregue aos gibeonitas quando estes tiveram de ser introduzidos no meio do povo de Israel (Js.9:21,23,27), pois, antes disso, Moisés já considerava como sendo a mais servil de todas as tarefas (Dt.29:11).

– A lenha, que é a palavra hebraica “’ets” (צץ), que significa “árvore, madeira, viga”, simboliza aqui a humanidade, o que é humano, e, como tal, algo que produz o que é de mais baixo e desprezível, já que o homem está sob o domínio do maligno, é escravo do pecado (Jo.8:34), precisando, assim, entrar em contato com o fogo, para poder ser consumido, transformado, purificado e aquecido.

– Ainda que seja baixo e desprezível e precise ser purificado e transformado, é a lenha quem permite que o fogo cumpra o seu papel, é ele que permite que o altar continue funcionando, a nos mostrar, por primeiro, que Cristo, apesar de ter Se humilhado, achando-se na forma de homem e de servo (Fp.2:5-8), foi o responsável pela salvação, na medida em que Se entregou por nós, promovendo a nossa salvação (Hb.9:12), ainda que, para tanto, tenha sido levado para fora do arraial (Hb.13:11-13) e ali tenha sido considerado como o mais desprezado de todos (Is.53:5).

– Nós, também, precisamos nos humilhar debaixo da potente mão de Deus (I Pe.5:6), perante o Senhor (Tg.4:10), revestirmo-nos do mesmo sentimento de humildade que teve o Senhor Jesus (At.20:19; Ef.4:1,2; Fp;.2:3-5; Cl.3:12; I Pe.5:5), a fim de que, assim fazendo, possamos, a exemplo da lenha que era uma causa secundária mas indispensável para a remissão dos pecados de todos os ofertantes, também sejamos instrumentos do Senhor para que as pessoas alcancem a salvação.

– Com a cinza sendo retirada e a lenha sendo colocada, de forma contínua e ininterrupta, vemos que o fogo do altar jamais se apagava, ardia continuamente sobre o altar e a chama não apagava, mantendo-se, assim, a disposição salvadora e perdoadora do Senhor com relação a todos quantos desejassem ter os seus pecados perdoados, devidamente cobertos pelo sangue derramado no altar de cobre, ou então, permitindo que todos, sem exceção, uma vez em comunhão com o Senhor, legítima e validamente pudessem, também, louvar, agradecer e adorar a Deus.

– O fogo não podia se apagar, tinha de arder continuamente, mas, para isto, se fazia necessário não só se levar a cinza para fora do arraial, como também se abastecer o altar com lenha.

– Para que a ação divina em nossa vida não tenha solução de continuidade, para que o fogo do Senhor continue eliminando as nossas impurezas, transformando o nosso ser, fazendo-o cada dia mais conforme à imagem do Filho, purificando-nos a cada instante, aperfeiçoando a nossa santificação, bem como nos mantenha aquecidos e fervorosos espiritualmente, torna-se indispensável que façamos o mesmo que faziamos sacerdotes da ordem de Arão: temos de deixar as práticas que não agradam a Deus (lançar fora do arraial a cinza) e andarmos com humildade (abastecndo de lenha o altar). Temos feito isto?

II – AS LÂMPADAS DO CANDELABRO

– A segunda disposição que nos fala de continuidade no livro de Levítico é a que diz respeito ao cuidado que os sacerdotes deveriam ter com as lâmpadas do candelabro, que ficavam no lugar santo.

– Uma das peças do lugar santo era o candelabro, peça feita de ouro puro, que possuía um pé, sendo que do tronco deste candelabro saíam seis braços, três de cada lado, cada um com copo a modo de amêndoas, uma maçã e uma flor, sendo que no castiçal mesmo, haveria quatro copos a modo de amêndoas, com suas maçãs e com suas flores (Ex.25:31-35).

– O candelabro possuía sete lâmpadas, que eram acendidas para iluminar o que estava defronte dele, sendo certo que deveria haver espevitadores e apagadores de ouro puro, precisamente para que se acendessem e se mantivessem as lâmpadas acesas ininterruptamente (Ex.25:37-40).

– O lugar santo ficava no primeiro compartimento da tenda da congregação, ou seja, era um lugar coberto, que era separado do pátio por um véu. Não havia janelas na tenda da congregação, de modo que o lugar era, naturalmente, escuro, até porque a cobertura do tabernáculo era feita por quatro cortinas que não permita a entrada da luz solar.

– O candelabro, portanto, entre outras funções, era a peça que permitia a iluminação do lugar santo, pois era a única peça que possuía lâmpadas e, assim, permitia que existisse luz no local.

– Por isso mesmo, a tipologia do candelabro está relacionada com Jesus como sendo a luz do mundo, a luz que é a vida dos homens (Jo.1:4; Jo.8:12; 9:5), posição que o Senhor Jesus já ocupava desde antes de Sua encarnação, tanto que João disse que esta luz resplandeceu nas trevas, indicando, deste modo, que isto estava relacionado à natureza divina do Senhor, o que explica porque o candelabro era feito de ouro puro, ouro que simboliza a divindade.

– O candelabro tinha sete lâmpadas e estas lâmpadas simbolizam o Espírito Santo, pois o Senhor Jesus veio ao mundo e, para exercer o Seu ministério, foi cheio do Espírito Santo, teve o Espirito Santo em toda a Sua plenitude, já que se tratava de um homem sem pecado (Jo.8:46; Hb.4:15), do último Adão (I Co.15:45).

O profeta Isaías já profetizara que o Cristo seria alguém dotado dos “Sete Espíritos de Deus” (Ap.1:4; 3:1; 4:5; 5:6): “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.

E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, e o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is.11:1,2).

OBS: “…Mas, convém esclarecer que nem sempre o número sete, na Bíblia, significa exatamente seis mais um. Sempre que esse número aparece, é bom analisa-lo à luz do contexto, porque, tanto pode significar sete mesmo (6+1) como, também, pode significa ( e isso é importante) ‘plenitude’, ‘perfeição’.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. A revelação do Apocalipse: saiba o que a Bíblia diz sobre o futuro. 5. ed. ampl., p.14).

– Entretanto, este candelabro não fala apenas de Jesus, pois também tipifica a Igreja, visto que o Senhor Jesus, sendo a luz do mundo, também disse que Seus discípulos deveriam sê-lo (Mt.5:14-16).

– Quando cremos em Jesus Cristo, tornamo-mos luz e, por causa disso, passamos a brilhar e a iluminar o mundo de trevas em que habitamos. A exemplo do candelabro, iluminamos o ambiente em que estamos. Se o candelabro, ao fazê-lo, permitia aos sacerdotes vislumbrar as belezas do lugar santo, nós, ao revés, tornamos claras a todos as mazelas, as injustiças e as maldades do mundo em que vivemos, mundo que está no maligno (I Jo.5:19).

– Por causa disso, somos odiados pelo mundo (Jo.15:18-20), visto que nossa simples presença denuncia a iniquidade e o quanto de pecaminoso e mau possui este mundo, de modo que aqueles que rejeitam a Cristo,  cegos que estão pelo inimigo (II Co.4:4), passam a querer nos ofuscar, a nos apagar, já que nos apresentamos como astros no meio de uma geração corrompida e perversa (Fp.2:15), cheiro de morte para morte para os que se perdem (II Co.2:15,16).

– Estas lâmpadas deveriam ser alimentadas por azeite puro de oliveiras, batido para o candeeiro, para fazer as lâmpadas arderem continuamente (Ex.27:20).

– Assim como a lenha era indispensável e essencial para a manutenção do fogo no altar de cobre, o azeite puro era essencial e indispensável para a manutenção das lâmpadas do candelabro acesas, pois era o combustível destas lâmpadas.

– Todos os dias, desde a manhã até a tarde, os sacerdotes deveriam pôr em ordem as lâmpadas, para que elas não apagassem, seja as abastecendo com o azeite, seja se utilizando dos espevitadores e apagadores, para impedir que o pavio das lâmpadas ficasse comprometido com borrões e comprometesse a iluminação.

– O azeite puro de oliveira representa, como sabemos, o Espírito Santo. Era um azeite que deveria ser trazido pelos israelitas, ou seja, não era confeccionado pelos sacerdotes, não podendo, neste passo, ser confundido com o azeite da unção (Ex.31:22-33).

– Esta distinção de azeite já nos revela que uma coisa é a presença do Espírito Santo na vida do salvo, pois todo salvo tem o Espírito Santo, pois está selado para a redenção (Ef.4:30), desde o dia em que cremos em Cristo (Ef.1:13; Jo.7:38,39), quando Ele passou a habitar em nós (Jo.14:17) e coisa bem diversa é o Espírito Santo atuando no salvo seja como revestimento de poder, seja para a manifestação de algum dom espiritual (carismático, assistencial ou ministerial) (At.1:8; Rm.12:5,6; I Co.12:4-11,28-31).

– O azeite utilizado para as lâmpadas era trazido por todo o povo, a indicar que se tratava de algo que era comum a todos, ou seja, fala-nos do Espírito Santo enquanto selo de propriedade divina sobre todos os salvos, salvos estes que têm como objetivo serem morada de Deus no Espírito (Ef.2:19-22).

– Este azeite era puro, ou seja, somente conseguiremos trazer o Espírito Santo em nós, de modo a fazermos de todos nós luz do mundo, não só cada crente mas a igreja como um todo, se estivermos em santidade, se formos santos. O azeite não era especial, era comum a todos, mas tinha de ser puro e, por isso, se dizia que era “batido para o candeeiro”.

– O processo de produção do azeite exige algumas etapas, sendo que uma delas é precisamente é a batedura. As azeitonas, depois que eram lavadas, eram moídas em uma mó, que era uma pedra grande.

Em seguida a este moer, elas eram batidas, de forma lenta e contínua, o que faz com que a massa fique uniforme e se juntem as gotas de azeite. A massa era posta para descansar e, assim, por decantação, o azeite era objeto de extração.

– Notamos, portanto, que, para que o azeite fosse utilizado, era preciso que ele fosse produzido após a batedura e sabendo-se que seria utilizado no serviço a Deus, o que exigia todo o cuidado por parte de seus produtores, dada a sua finalidade.

– Para podermos ser luz do mundo, faz-se, preciso, também, que tenhamos todo o cuidado em nossas vidas, que nos deixemos moer pela “moenda divina”, que abramos mão de nós mesmos, que nos deixemos instruir pelo Senhor, suportando as provações e buscando ser instrumentos do poder e do amor de Deus. Temos de nos santificar e ser, em tudo, obedientes à voz do Senhor.

– Mas, além do azeite, era necessário também que o pavio estivesse sempre em ordem, que não houvesse morrões, que são as partes queimadas mas ainda acesas do pavio, mas que, se não forem atiçadas ou cortadas, pelos espevitadores, acabarão por apagar a chama da lâmpada.

– Durante todo o dia, os sacerdotes deveriam verificar se não havia morrões, e, constatada a sua existência, deveriam cortar o pavio ou puxá-lo, com a espevitadeira, a fim de impedir que a chama corresse risco de apagar.

– Vemos aqui, naturalmente, a mesma situação da cinza no fogo do altar, já analisada supra, de sorte que aqui se tem, uma vez mais, a necessidade de haver uma contínua santificação por parte do salvo para que não deixe de brilhar como luz do mundo.

– Enquanto o azeite era queimado e providencia a iluminação no lugar santo, esta queima começava a produzir morrões, o que é perfeitamente natural. Também, enquanto estamos a peregrinar sobre a face da Terra, igualmente há um desgaste, pois somos imperfeitos, estamos lutando contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12), cujas forças espirituais são maiores que as nossas, pois somos seres humanos e, como tais, menores que os anjos, ainda que se trate de anjos caídos (Sl.8:5).

– Diante disto, faz-se mister que haja a atuação dos espevitadores, que representam e simbolizam a atuação divina para retirar os morrões, para impedir o apagar da chama vinda do azeite puro, ou seja, precisamos do poder atuante do Espírito Santo em nossas vidas para que nos renovemos a cada dia, para que nosso homem interior se renove de dia em dia, a fim de que não venhamos a desfalecer o nosso ânimo (II Co.4:16; Hb.12:3).

– A atuação do espevitador em nossas vidas quase sempre não é indolor. O espevitador estica o pavio, corta-o por vezes, o que significa dizer que, na maior parte das vezes, somos tirados de nossa zona de conforto para que o Espírito Santo possa melhorar os nossos caminhos.

A atuação do espevitador representa, muitas vezes, provações que nos sobrevêm, mas que, no final, nos fará brilhar mais, resplandecer e refletir a imagem de Cristo em nós, o que nos é algo amplamente favorável e revela o bem que Deus quer sempre nos dar.

– Não podemos desfalecer. Nosso Senhor e Salvador disse que, no mundo, teríamos aflições, mas que tínhamos de ter bom ânimo (Jo.16:33), bem como temos o dever de orar e nunca desfalecer (Lc.18:1).

Como disse o apóstolo Paulo, devemos estar sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (II Co.5:6). Para tanto, devemos nos portar dignamente conforme o Evangelho de Cristo, combatendo pela fé deste mesmo evangelho (Fp.1:27).

– É interessante observar que o texto bíblico fala de “espevitadores” e de “apagadores” (Ex.25:38). O espevitador era uma pinça, uma tenaz, uma tesoura (tanto que a palavra hebraica se refere a um objeto dual, a saber, a palavra “melqahayim” – מלקוים), cuja função era retirar a impureza, o que nos faz lembrar, inclusive, a experiência do profeta Isaías, que, com uma tenaz que trazia brasa do altar celestial, removeu a impureza de seus lábios, que o impediria de levar adiante a mensagem de Deus como profeta (Is.6:6,7).

– Já o “apagador” diz respeito a um objeto cuja finalidade era remover, tanto que a palavra hebraica utilizada, a saber, “mahtah” (מחתה), é derivada da palavra “mhitah” (מחתה), cujo sentido é “destruição, desfalecimento, ruína, terror/”, sendo empregada no sentido de “remoção”, mais precisamente a remoção operada por uma ação divina de destruição, ou seja, numa clara tipificação da destruição dos “restos do mal”, como já aludido supra fazendo uso de feliz expressão do poeta sacro José Teixeira de Lima no hino 122 da Harpa Cristã.

– Torna-se absolutamente necessário, na nossa peregrinação terrena, que, para brilharmos como luz do mundo, como astros no meio de uma geração corrompida e perversa, que nos entreguemos ao Espírito Santo e que, a cada dia, a cada instante, deixemos que Ele venha nos purificar, retirar de nós os “restos do mal”, tudo aquilo que pode nos impedir de dar testemunho de Cristo a todos os homens.

– Ser luz do mundo, como nos ensinou o Senhor Jesus, é ter um comportamento que glorifique o nome do Senhor, ter boas obras que levem os homens a glorificar o nosso Pai que está nos céus (Mt.5:18), portar-se de modo irrepreensível e sincero, filho de Deus inculpável (Fp.2:15).

– As lâmpadas deveriam arder continuamente, embora fossem abastecidas e os pavios mantidos em ordem desde a tarde até a manhã. Mesmo durante a noite, quando não havia qualquer ofício, a lâmpada continuava a iluminar o lugar santo que, assim, sempre estava iluminado. Esta iluminação nada tinha que ver com a iluminação dos anexos do tabernáculo, iluminação que cessava na hora em que as pessoas iam dormir (I Sm.3:3).

– Este arder contínuo diz-nos que não há pausas na vida espiritual, que não podemos ter períodos em que não nos é requerido dar testemunho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A todo momento, a todo instante, devemos revelar a todos que somos filhos de Deus, que somos cristãos, isto é, “parecidos com Cristo”, “conforme à imagem de Cristo”, “pequenos cristos” (At.11:26; Rm.8:29).

– Devidamente ordenados pelo nosso sumo sacerdote, que é o Senhor Jesus (Hb.8:1), e esta ordenação não abrange apenas o enchimento do Espírito Santo, mas também, medidas corretivas para retirar de nós os “restos do mal”, devemos ter uma conduta que mostre o fruto do Espírito, o nosso novo caráter em Cristo Jesus, de tal maneira que as pessoas tenham a plena convicção de que somos filhos de Deus e que Jesus é o Salvador da humanidade.

– Arder continuamente faz com que, forçosamente, pratiquemos boas obras e estas obras levem à glorificação do nome do Senhor por parte daqueles que nos cercam, notadamente dos incrédulos (Mt.5:18). Temos um comportamento que levem as pessoas a glorificar a Deus? Pensemos nisso!

– Esta glorificação do nome do Senhor revela que arder continuamente não é produzir uma glória própria, um prestígio individual, mas, bem ao contrário, trata-se de se anular e deixar que Deus apareça em nós. É, como diz o apóstolo Paulo, ser um espelho, que reflete a imagem do Senhor e que não aparece em momento algum (II Co.3:18).

– Arder continuamente faz com que nos diferenciemos da corrupção e da perversão que hoje existem no mundo. Temos sido diferentes dos incrédulos, daqueles que não têm Deus nem esperança? Fazemos as coisas de modo diverso que o mundo?

Ou somos apenas religiosos, que, no dia a dia, apenas imitam e estar de acordo com a mentalidade mundana, submersa no maligno? Lembremos da orientação do apóstolo: Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento (Rm.12:2a)!

– Arder continuamente faz com que nos apresentemos irrepreensíveis, ou seja, “sem falha”, pessoa que não pode ser apanhada e acusada. Por isso, o apóstolo Pedro diz que somente podem nos acusar de servir a Deus, de termos um bom procedimento em Cristo, de estarmos a praticar o bem (I Pe.3:16,17).

– Arder continuamente faz com que nos apresentemos sinceros, ou seja, sem mistura, aquele que atingiu o objetivo divino de se manter separado do pecado, que preserva a circunstância de ter sido liberto do poder e da natureza do pecado.

– As lâmpadas ardiam continuamente porque estavam embebidas do azeite puro e tudo quanto as impedia de manter viva a sua chama era extirpado e tirado seja pelos espevitadores, seja pelos apagadores.

Arderemos continuamente até o dia do arrebatamento da Igreja, se nos deixarmos envolver pelo Espírito Santo e se nos submetermos à ação santificadora deste mesmo Espírito, mesmo que isto venha por intermédio de provações.

– O candelabro era puro (Lv.27:4), ou seja, santo, e, por isso mesmo, as lâmpadas deveriam estar em ordem para poder fazer parte deste candelabro. No livro do Apocalipse, Jesus aparece entre sete castiçais, que representam as sete igrejas (Ap.1:12,20), ou seja, o candelabro também representa a Igreja, que é o corpo de Cristo.

– Para pertencermos à Igreja, precisamos estar devidamente ordenados pelo Senhor, agir conforme a Sua vontade, pois ordem nada mais é que a disposição conveniente para um determinado fim. Fomos salvos para amar a Deus, amar ao próximo e glorificar o nome do Senhor.

– A disposição da lei mosaica de que as lâmpadas deveriam ser ordenadas e arder continuamente ensina-nos que somente alcançaremos a salvação, somente chegaremos à glorificação, se nos submetermos ao Senhor e, por meio de nossa peregrinação terrena, glorificarmos o nome de Deus. Temos feito isto?

 Ev. Caramuru Afonso Francisco 

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2750-licao-11-a-lampada-ardera-continuamente-i

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