LIÇÃO Nº 11 – INVEJA, UM GRAVE PECADO
4 de setembro de 2012
– A inveja é um pecado que decorre de não renunciarmos a nós mesmos e de querermos nos pôr em lugar de Deus.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do trimestre, entramos agora no quinto e penúltimo bloco do trimestre, quando estudaremos os “dramas de relacionamento”, as aflições decorrentes de um mau relacionamento com o próximo.
– O primeiro dos “dramas de relacionamento” que estudaremos é a inveja, um grave pecado que tem acompanhado a humanidade desde os seus primórdios.
I – O PECADO FERIU OS RELACIONAMENTOS HUMANOS
– Na sequência do estudo a respeito das aflições da vida, entramos, agora, no quinto e penúltimo bloco do trimestre, onde analisaremos o que denominamos de “dramas de relacionamento”, ou seja, as aflições da vida presente decorrente da influência pecaminosa sobre os relacionamentos entre os homens.
– Já temos visto ao longo do trimestre que o pecado fez com que os relacionamentos entre os homens deixassem de ser harmônicos e fonte de prazer e crescimento, como era o propósito divino quando da criação, para se tornar uma fonte de conflitos e de sofrimentos.
– No próprio juízo divino ao primeiro casal, vemos, claramente, que o Senhor demonstrou aos homens esta realidade decorrente do pecado ao informar que, a partir de então, o relacionamento entre o homem e a mulher seria assimétrico, onde a mulher seria dominada pelo homem (Gn.3:16).
– O fato é que, com a entrada do pecado no mundo, o homem passou a ter um comportamento individualista, egocêntrico, i.e., passou a ver a sua vida, a sua existência com centro em si mesmo, “voltado para o seu umbigo”, o que o levou a ter atitudes que visavam o seu próprio bem-estar, nem que, para isto, tivesse de prejudicar o outro, nem que, para isto, tivesse de até eliminar o outro.
– Ao se portar desta maneira, buscando única e exclusivamente os seus interesses imediatos, o homem abriu caminho para o surgimento da inveja e da maldade, os dois grandes males que são tratados na presente lição, consoante nos diz o comentarista, ainda que o título da lição se refira apenas à inveja.
– Em vez de “ter os olhos abertos”, como havia afirmado Satanás ao tentar a mulher, na verdade, o pecado fez com que a mente do ser humano fosse entenebrecida, que ele fosse cego pelo príncipe deste mundo (II Co.4:4), de tal maneira que o homem, no pecado, passou apenas a enxergar a si próprio, a querer apenas o seu imediato bem-estar, numa cegueira tal que não o fez perceber que, neste individualismo, neste egoísmo, não só não estaria levando em conta o próximo, mas, o que é mais grave ainda, estaria contribuindo para a sua própria destruição, visto que, numa ação egoística, ninguém é favorecido, nem mesmo aquele que age desta forma.
– Quando se procura o próprio bem-estar de forma imediata, não se importando como isto seja alcançado, está-se dentro de uma situação que dá nascedouro à inveja. “Inveja”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “sentimento em que se misturam o ódio e o desgosto, e que é provocado pela felicidade, prosperidade de outrem”, “desejo irrefreável de possuir ou gozar, em caráter exclusivo, o que é possuído ou gozado por outrem”. Desde logo, notamos que a inveja decorre diretamente de um comportamento exclusivista, em que se pensa tão somente no bem-estar próprio.
II – A INVEJA: UM PECADO QUE GERA OUTROS PECADOS
– A palavra “inveja” vem do latim “invidia,ae”, cujo significado era o de “’que tem ou lança mau-olhado, que tem inveja, invejoso’, de invidére ‘olhar de modo malévolo, lançar mau-olhado”, que tem sua raiz em “vid-“, que significa “olhar, ver”. Esta origem da palavra em latim remete-nos, imediatamente, ao ensino de Cristo a respeito do papel dos olhos em nossa vida espiritual (Mt.6:22,23).
– O “invejoso” é aquele que “tem maus olhos”, ou seja, aquele que não tem cuidado de sua alma e que, por isso, torna todo o seu corpo tenebroso, como nos ensinou o Senhor Jesus. É aquele que torna a sua vida tenebrosa, torna a sua vida um “mar de trevas”, porque se deixa envolver pelo maligno, pela maldade, pelo mal.
– Na verdade, se formos ao âmago da palavra “invidia,ae”, temos, na verdade, que “invidia” significa “não ver”, ou seja, o “invejoso” é alguém que nada vê, porque está dominado pelas trevas, pelo mal. É por isso, aliás, que, desde os primeiros séculos da história da igreja cristã, os teólogos viam na inveja um pecado precisamente por ser uma “cegueira” a respeito das bênçãos recebidas da parte de Deus, priorizando o “status” de outra pessoa em vez do próprio crescimento espiritual.
– O Catecismo da Igreja Romana conceitua, em seu § 2553, a inveja como sendo “a tristeza sentida diante do bem de outrem e o desejo imoderado de dele se apropriar”.
– No Antigo Testamento, a palavra traduzida na Versão Almeida Revista e Corrigida por “inveja” é a palavra “qana’” (קנא), com sua derivada “q’inah” (קנאח), cujo significado é o mesmo do português, ainda que também tenha um componente de “zelo” e de “ciúme”, um “ardor que causa ira”.
– Em o Novo Testamento, duas são as palavras traduzidas na Versão Almeida Revista e Corrigida por “inveja”. A primeira é “phthonos” (φθόνος), como se vê em Mt.27:18; Mc.15:10; Rm.1:29; Fp.1:15; Tt.3:3.
A segunda é “zelos” (ζήλος), como se vê em At.5:17; 7:9; 13:45; 17:5; Rm.13:13; I Co.3:3; Tg.3:14,16. Em Mc.7:22, a palavra “inveja” é tradução do grego “poneros ophthalmos” (πονηρος όφθαλμός), que, literalmente, é “mau olhar”. Aqui, também, vemos as duas ideias presentes no vocábulo hebraico, ou seja, o de um “ciúme, um ardor que causa ira”, como também o de um “mau olhar”.
– Desta expressão, deste sentido é que se deriva a crendice e superstição do “mau olhado”, do “olho gordo”, que seria “olhar a que se atribuem poderes de causar malefícios, infortúnios; afito, jetatura, olhado”. Sabemos, claramente, que não há poder sobrenatural algum de um olhar maldoso de alguém sobre outrem, mas é inegável que este olhar reflete o predomínio das trevas sobre a vida de alguém e a má condição da sua alma, de modo que, por estar impregnado do maligno, esta pessoa com o “mau olhado” está totalmente dominada pelo mal e produzirá maldades contra esta pessoa que está a invejar.
– É por isso que, ao longo da história da teologia, a inveja assumiu a posição de um “pecado capital”, entendido este tipo de pecado como um pecado que gera outros pecados. Aliás, é neste sentido que devemos entender a expressão do título da lição “um grave pecado”. Não podemos comungar com o entendimento vindo do romanismo de que existem “pecados mortais” e “pecados veniais”, ou seja, “pecados graves” e “pecados leves”. Todo pecado é iniquidade (I Jo.3:4) e o salário do pecado é a morte (Rm.6:23), não havendo, pois, “pecadinho” nem “pecadão”.
– Quando estamos a falar que a inveja é um “pecado grave”, estamos a dizer que se trata de um pecado que dá origem a outros pecados. Existem pecados que, por sua própria natureza, levam as pessoas a cometer outros pecados. Por isso, tais pecados são “graves”, ou seja, nunca vêm sozinhos, trazem consigo outros pecados. É, por isso, aliás, que o salmista afirma que “um abismo chama outro abismo” (Sl.42:17 “in initio”).
– A inveja é apontada como um “pecado capital” precisamente porque ela leva à prática de outros pecados. Na Bíblia Sagrada, sempre que se revela que alguém tinha inveja, isto aparece como justificativa, como explicação para a prática de outros pecados.
OBS: A propósito, reproduzimos o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “2539 A inveja é um vício capital. Designa a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo imoderado de sua apropriação, mesmo indevida. Quando deseja um grave mal ao próximo, é um pecado mortal: Sto. Agostinho via na inveja ‘o pecado diabólico por excelência’. ‘Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer causado por sua prosperidade.’ 2540 A inveja representa uma das formas de tristeza e, portanto, uma recusa da caridade; o batizado lutará contra ela mediante a benevolência. A inveja provém muitas vezes do orgulho o batizado se exercitará no caminho da humildade: Quereríeis ver Deus glorificado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os progressos de vosso irmão e imediatamente Deus será glorificado por vós. Deus será louvado dirão, porque seu servo soube vencer a inveja, colocando alegria nos méritos dos outros.”
– O primeiro a ser apontado como invejoso nas Escrituras Sagradas é Caim. As Escrituras dizem que Caim teve o seu semblante caído e se irou porque seu sacrifício não foi aceito mas, sim, o de seu irmão Abel (Gn.4:5,6). Notamos que o motivo do entristecimento de Caim não foi a não aceitação por parte de Deus de seu sacrifício, mas o fato de que o sacrifício de Abel fora aceito. Como resultado desta ira pela felicidade alcançada por Abel em seu sacrifício com a aceitação por parte de Deus, que nada mais é que inveja, a Bíblia nos diz que Caim matou seu irmão Abel (Gn.4:8). Vemos, pois, que a inveja levou Caim à prática de outro pecado, o homicídio.
– Outro exemplo que a Bíblia nos dá de que a inveja é geratriz de outros pecados vemos na primeira vez que aparece a palavra “inveja” na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Gn.30:1. Ali o texto sagrado nos informa que Raquel teve inveja de sua irmã Leia, porque sua irmã estava a dar filhos a Jacó, enquanto ela era estéril. Raquel, por causa da inveja que teve de Leia, acabou por murmurar e a se revoltar contra Deus, como se verifica da resposta dada por Jacó (Gn.30:2). Como se não bastasse a murmuração e revolta, Raquel ainda fez com que Jacó tivesse filho de sua serva Bila, tendo nascido Dã, o filho de onde surgiria a apostasia no meio do povo de Israel (Gn.49:16-18; Jz.18). Mais uma vez a inveja dá origem a outros pecados.
– Outra narrativa bíblica que nos dá conta da inveja como geradora de outros pecados é a referente aos filhos de Jacó em relação a seu irmão José (Gn.37:11; At.7:9). Por causa da inveja surgida entre os irmãos em virtude do tratamento privilegiado que José tinha de seu pai, é que seus irmãos intentaram matá-lo e somente não o fizeram pela intervenção de Rúben, ainda que este não tenha deixado de sugerir que José fosse lançado na cova. Depois, acabaram por vender José aos ismaelitas e mentirem para Jacó, dizendo que José havia morrido. Vemos, uma vez mais, como a inveja trouxe após si outros pecados, “in casu”, a maldade e a mentira.
– A inveja também é encontrada na peregrinação do povo de Israel no deserto. Como nos dá conta o salmista, o motivo pelo qual se teve a rebelião de Datã, Abirão e Coré foi a inveja (Sl.106:16). Com efeito, quando vemos a narrativa bíblica a respeito desta rebelião contra Moisés e Arão, que atingiu a própria tribo de Levi, a tribo sacerdotal, foi a inveja, foi o inconformismos daqueles duzentos e cinquenta “varões de nome” que somente Moisés e Arão tinham acesso direto a Deus (Nm.16:1-3). O resultado desta inveja foi a rebelião, pecado que tem o mesmo papel da feitiçaria (I Sm.15:23). Mais uma demonstração de que a inveja nunca vem desacompanhada na vida pecaminosa de alguém.
– A inveja também traz o desvio espiritual do servo de Deus, traz consigo a apostasia. É o que vemos confessado pelo salmista Asafe. No Sl.73, o chefe das celebrações ao Senhor perante a arca da aliança em Jerusalém (I Cr.16:4,5), o profeta que profetizava debaixo da direção do rei Davi (I Cr.25:2) confessa que quase se desviou dos caminhos do Senhor porque passou a ter inveja da prosperidade dos ímpios (Sl.73:2,3).
Um homem que tinha o Espírito Santo, que tinha uma posição elevada no louvor a Deus quase se perdeu porque passou a ter inveja. Não é por outro motivo, aliás, que Tiago, o irmão do Senhor, nos informa que onde há inveja, há perturbação e toda a obra perversa (Tg.3:16). Tomemos cuidado, amados irmãos!
– A inveja, também, foi a razão pela qual o povo de Edom não auxiliou Israel nos momentos em que os israelitas passaram por aflições e dificuldades com seus inimigos. Pelo contrário, em virtude da inveja nutrida com seus irmãos, os edomitas, descendentes de Esaú (Gn.36:1,19), não só se alegraram com a miséria de Israel, com sua derrota contra seus inimigos, como também ajudaram estes inimigos (Ez.35:11; Ob.12). A inveja fez com que Edom buscasse o mal de Israel, agindo com violência e maldade (Ob.10,15) e, como consequência disto, acabou sendo extirpado das nações (Ez.35:9,15; Ob.15).
– Vemos, assim, que a inveja fomenta, também, a violência, o que se percebe não apenas a nível individual, como foi no caso de Caim e de Abel, mas, também, entre nações, como é a situação que vemos aqui entre Edom e Israel. Edom tornou-se inimigo de Israel e acabou assinando a sua própria sentença de morte, por causa da inveja.
OBS: Feliz, a este respeito, o Catecismo da Igreja Romana, que, por isso, reproduzimos: “2317 As injustiças, as desigualdades excessivas de ordem econômica ou social, a inveja, a desconfiança e o orgulho que grassam entre os homens e as nações ameaçam sem cessar a paz e causam as guerras. Tudo o que for feito para vencer essas desordens contribui para edificar a paz e evitar a guerra:…”
– A inveja, também, foi o motivo pelo qual os principais dos sacerdotes e os doutores da lei inflamaram o povo para que matassem a Cristo (Mt.27:18; Mc.15:10). A inveja nutrida por eles em relação a Jesus Cristo foi o pecado que gerou a rejeição de Cristo por parte de Israel (Jo.1:11), foi o pecado que abriu o caminho para o endurecimento do coração do povo judeu em relação ao Senhor Jesus (Rm.11:7).
– Notamos, portanto, como a inveja é uma das principais portas de entrada para o domínio do maligno sobre a pessoa humana. Por intermédio da inveja, que entenebrece os olhos da pessoa e, portanto, todo o seu organismo, o inimigo consegue cegar totalmente a mente do homem, impedindo-o de ver a glória do evangelho de Cristo e, como consequência disto, age de tal forma que a pessoa não consegue crer em Jesus e alcançar a salvação. Se é salvo, como era o caso de Asafe, é levado ao desvio espiritual, à apostasia; se ainda não alcançou a salvação, é impedido de alcançá-la, porque imerso na incredulidade, como ocorreu com os judeus dos dias do Senhor Jesus.
– Diferente não foi a situação dos apóstolos. A perseguição ao Evangelho iniciou-se por causa da inveja. Foi por inveja que o sumo sacerdote e os saduceus do Sinédrio lançaram mão dos apóstolos e os lançaram na prisão (At.5:17,18). O êxito da obra de Deus, desde os primórdios do tempo da Igreja sobre a face da Terra, gera inveja por parte dos incrédulos e é este sentimento que faz com que se inicie a perseguição contra os crentes. A inveja traz consigo, portanto, todos os pecados que se cometem na perseguição à obra de Deus.
– Paulo, que não se encontrava entre os apóstolos no episódio da perseguição judaica (pelo contrário, será ele um dos protagonistas desta perseguição do lado contrário aos crentes), também sofreu com a inveja. Em Tessalônica, teve interrompido o seu trabalho evangelístico por causa de um movimento dos judeus desobedientes que teve como fator primordial a inveja que nutriam em relação ao apóstolo (At.17:5). A inveja daqueles judeus proporcionou um grande alvoroço na cidade e forçou Paulo a, pela vez primeira em seu ministério, ter de sair de uma cidade sem a devida evangelização, o que lhe forçaria, posteriormente, a redigir as suas primeiras epístolas para a igreja de Tessalônica.
– A inveja é sempre acompanhada de outros pecados. Quem se deixa dominar pela inveja, não tem condições de resistir à prática de outros pecados, pois estará completamente dominado pelo mal. Foi a advertência que o próprio Deus deu a Caim (Gn.4:7), como também é o ensino deixado por Salomão (Pv.27:4).
– Não é à toa que Agostinho (354-430) tenha considerado que a inveja era o “pecado diabólico por excelência”, bem como “o caruncho da alma que tudo rói e reduz a pó” e Gregório Magno (540-604) tenha posto a inveja como o segundo mais grave pecado, que perde apenas para a soberba em ordem de gravidade.
No ensino de Agostinho, aliás, temos a razão de ser de o proverbista ter dito que “a inveja é a podridão dos ossos” (Pv.14:30) ou, como traduz a Bíblia de Jerusalém, “a cárie dos ossos”, pois é um sentimento que leva o homem à própria degradação, à própria destruição.
OBS: A palavra traduzida por “podridão” na Versão Almeida Revista Corrigida é a hebraica “raqab” (רקב), cujo significado é de “depravação”, “corrupção”, “desfazimento”, “decaimento”.
III – COMO EVITAR A INVEJA
– A inveja nasce, como vimos, de um “mau olhar”, ou seja, de uma postura íntima contra a felicidade de alguém, contra o sucesso e o êxito de uma outra pessoa. Temos, então, que a inveja é algo que provém de nosso íntimo, de nosso interior e é este um dos motivos primeiros pelos quais se tem um pecado tão danoso.
Como afirma Elias R. de Oliveira, “…É um pecado que passa desapercebido pelos que estão próximos, mas, que consome a vida que a hospeda” (A inveja. Disponível em: http://www.vivos.com.br/254.htm Acesso em 16 jul. 2012).
As Escrituras dão conta desta raiz íntima da inveja, ao nos dizer que a inveja é oriunda do interior do coração dos homens (Mc.7:21-23).
– A inveja origina-se no exato instante em que deixamos de ver os bens de Deus em relação a nós, deixamos de perceber a misericórdia e a graça divinas em relação à nossa pessoa. Ter consciência de nossa inutilidade, de nossa natureza pecaminosa e da nossa dependência exclusiva da bondade de Deus para continuarmos a sobreviver (Lm.3:22) é o primeiro antídoto para que não deixemos que a inveja nos domine.
– Para evitar este “mau olhar” ao próximo, devemos, antes de mais nada, olharmos para nós mesmos, para a nossa real condição diante de Deus e, deste modo, seremos eternamente gratos ao Senhor pelo fato de Ele ter nos amados apesar de sermos quem somos. Precisamos ter sempre em mente que somos menos do que nada (Is.40:17; 41:24). Precisamos ter a mesma consciência que Jó adquiriu já no final de sua terrível provação (Jó 42:1-6).
– As dificuldades que enfrentamos, as frustrações que experimentamos não é para que passemos a invejar o sucesso dos outros, querer ter para nós aquilo que não estamos a alcançar, mas, antes de tudo, para que saibamos que nada merecemos e que devemos reconhecer que tudo quanto recebemos da parte do Senhor é fruto da Sua graça e misericórdia. Por isso, ao olharmos o sucesso dos outros, temos de olhar para nós mesmos
e perceber que sempre temos muito mais do que merecemos. Com esta consciência, jamais seremos atingidos pelo vírus da inveja.
OBS: Como afirmou o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892): “…O Senhor tem de nos ensinar nossa insignificância, nossa nulidade, a fim de preservar-nos em seus limites. Sansão se orgulhou verdadeiramente, quando afirmou: “Feri mil homens”. Sua garganta orgulhosa logo ficou rouca por causa da sede, e ele começou a orar. Deus tem muitas maneiras de humilhar seu povo.
Querido filho de Deus, se após ter recebido uma grande misericórdia, agora você está muito abatido, seu caso não é algo incomum. Quando Davi subiu ao trono de Israel, ele disse: “No presente, sou fraco, embora ungido rei” (2 Samuel 3.39). Você tem de esperar sentir sua fraqueza, antes de experimentar seu maior triunfo. Se Deus já lhe proporcionou grandes livramentos no passado, sua dificuldade presente é semelhante à sede de Sansão. O Senhor não permitirá que seus inimigos triunfem sobre você. Anime seu coração com as palavras de Sansão, descansando seguro no fato de que Deus o livrará em breve.” (Nossa nulidade. Disponível em: http://www.charleshaddonspurgeon.com/2011/01/nossa-nulidade-c-hspurgeon.html Acesso em 16 jul. 2012).
– Quando entendemos quem somos e que nada merecemos, também compreendemos que somos iguais aos demais seres humanos diante de Deus, Que não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34).Destarte, não há porque acharmos que devemos ser superiores ao outro, que devemos ter o que o outro tem para nós. Esta consciência impede-nos de invejar o próximo, pois a inveja pressupõe sempre um sentimento de que nós merecemos mais do que o outro, que nós é que deveríamos estar no lugar do outro.
– Foi este o sentimento que invadiu o coração de Asafe. Sendo uma pessoa de destaque no culto ao Senhor, Asafe achou-se merecedor de uma situação melhor que a dos ímpios. Entendeu que, por ser profeta de Deus e responsável pelo culto a Deus perante a arca da aliança, não era justo que viesse a ter uma situação sócioeconômico-financeira inferior a de quem nem sequer servia a Deus. E aqui reside o perigo: entendermos que somos “melhores” do que A ou B. Em virtude deste “achismo”, quase que Asafe perde a sua salvação.
– Este sentimento de Asafe pode ser insuflado em qualquer coração de um servo de Deus se ele não vigiar. Nossa condição de filhos de Deus não nos pode trazer qualquer sentimento de superioridade. Uma das grandes armas do inimigo de nossas almas, nestes dias tão difíceis pelos quais passamos, é, precisamente, o de lançar na mente dos que cristãos se dizem ser uma ideia de “superioridade espiritual”, fazer dos crentes “detentores de direitos e de privilégios”, que são o germe da inveja. Façamos como Paulo que, mesmo defendendo o seu apostolado, não se cansava de dizer que não merecia ser apóstolo, embora o fosse (I Tm.1:12,13).
– Por mais de uma vez, as Escrituras, sabendo deste risco real que corre todo aquele que serve a Deus, fazem questão de nos alertar para que não invejemos os outros, notadamente os ímpios (Pv.3:31; 23:17; 24:1,19; Rm.13:13; Tg.3:14).
– Outro modo pelo qual podemos evitar a inveja é nos esmerando no temor a Deus. O proverbista aconselha a que não invejemos os outros e que isto se dá quando tememos a Deus durante todo o dia. Temor aDeus é obediência ao Senhor, é reverência, respeito, é dar a devida dignidade a Ele. Portanto, quando nos propomos, diariamente, a observar os mandamentos divinos, a reconhecer a Sua soberania em nossas vidas, buscando sempre fazer a Sua vontade, também evitamos ser inoculados pelo vírus da inveja.
– Quando temos a Deus como alvo de nossas vidas, quando a nossa comida é fazer a vontade do Senhor, a exemplo de Jesus (Jo.4:34), satisfazemo-nos em estar realizando a vontade divina em nossas vidas. Quando temos esta mentalidade, quando buscamos agradar a Deus, negando a nós mesmos, não temos motivo algum para sermos invejosos. Quando negamos a nós mesmos e seguimos a Cristo, o nosso “eu” é anulado e a inveja advém, precisamente, da supremacia do “eu”, de tornar o nosso ego como algo a ser satisfeito. Não foi por outra razão que o Senhor Jesus pôs como um requisito para segui-l’O o negar-se a si mesmo (Mc.8:34; Lc.9:23).
– Temos de ter o mesmo sentimento do poeta sacro anônimo que afirmou: “Oh! ‘stou satisfeito com Cristo, confesso-O por meu Salvador, embora de nada ser digno, desfruto do Seu grande amor” (estrofe do hino 86 da Harpa Cristã). Quando nos satisfazemos em Cristo e em estar fazendo a Sua vontade, não há qualquer razão para que queiramos estar “na pele de outrem”, que é o fator que dá nascedouro à inveja.
– O temor a Deus também produz em nós o aperfeiçoamento da nossa santificação (II Co.7:1), de modo que, quando somos tementes a Deus, aproximamo-nos do Senhor e podemos vê-l’O (Hb.12:14). Ora, a visão do Salvador faz com que não tenhamos “olhos maus”, faz com que não sejamos invejosos.
– É por isso que a inveja é uma característica de quem ainda não se desprendeu da carne, i.e., de nossa natureza pecaminosa. Vivemos um embate entre a carne e o espírito (Gl.5:17). Como afirma o pastor Elias R. de Oliveira: “…Quando a comunhão com o Senhor esfria, a natureza humana (carne) levanta-se com muito vigor e produz frutos terríveis, em alguns casos os resultados atingem toda a igreja, gerando escândalos que mancham a obra do Senhor…”(A inveja. end.cit.).
– A inveja é uma das obras da carne (Gl.5:21) e a sua presença entre os que cristãos se dizem ser é uma demonstração de que ainda se está diante de “crentes carnais”, como atestou o apóstolo Paulo em relação aos coríntios (I Co.3:3; II Co.12:20). Somente vivendo uma vida de santificação contínua é que poderemos nos libertar da inveja.
– É triste, mas a inveja é uma característica que encontramos com certa facilidade entre os que cristãos se dizem ser, máxime nos dias em que vivemos, em que a apostasia está a grassar no meio do povo de Deus. Não são poucos os que são maltratados, desprezados e vilipendiados por causa da inveja de seus irmãos. Ainda hoje há muitos “filhos de Jacó” que estão a lançar seus irmãos nas covas, a querer matá-los e a vendê-los ao mundo… Que não sejamos dos tais, amados irmãos!
OBS: “…O pior de tudo para nós cristãos é constatar que ela se entranha até mesmo nas obras e nos filhos de Deus. Podemos dizer seguramente que muitas rivalidades e disputas que surgem também no coração da Igreja, tristemente são causadas pela inveja, pelo ciúme e despeito.Ao invés de se alegrar com o sucesso do irmão no seu trabalho para o Reino de Deus, a pessoa fica remoendo a inveja, porque não consegue o mesmo sucesso.
O que importa afinal, é o meu sucesso. O invejoso é infeliz com a própria desgraça e com a felicidade do outro.…” (AQUINO, Felipe de. O pecado da inveja. Disponível em: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=12519 Acesso em 16 jul. 2012).
– Outro fator que nos impede de ter inveja é a nossa conformidade com a sã doutrina, que não deixa de ser mais uma faceta da santificação, já que a Palavra de Deus é um dos mais importantes meios de santificação do cristão (Jo.17:17).
– O apóstolo Paulo, dirigindo-se a seu filho na fé, Timóteo, recomenda ao jovem obreiro que se conformasse à Palavra de Deus, à sã doutrina e que não fizesse como os que ensinavam outra doutrina e que, não se conformando com a verdade, produziam contendas de palavras de onde nascem invejas (I Tm.6:3,4).
– Nesse ponto, aliás, é importante verificarmos que o apóstolo Paulo diz que o amor não é invejoso (I Co.13:4). Sabemos que o amor a que Paulo se refere nesta passagem é o amor divino (“ágape”), que o próprio apóstolo diz que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5). Sendo assim, ao afirmar que o amor de Deus não é invejoso, o texto sagrado está a nos indicar que uma forma de evitarmos a inveja é termos este amor em nós.
– Ter o amor de Deus nada mais é que resultado, consequência de observamos a Palavra do Senhor, de guardarmos os Seus mandamentos (Jo.14:23). Portanto, quem guarda a Palavra de Deus, quem observa os Seus mandamentos é alguém que não terá inveja.
– A inveja pode surgir de debates e polêmicas a respeito das Escrituras Sagradas, o que nos leva, também, a verificar que a inveja pode trazer consigo a heresia. Como sempre, trata-se de um pecado que nunca está desacompanhado!
– Quantos que passaram a ensinar outras doutrinas por inveja e, por causa desta inveja, passaram a ser “iluminados”, que traziam “novos ensinos”, “novas revelações”, somente para que tivessem supremacia sobre A ou B, dando origem a um sem-número de heresias e seitas, que tanto mal têm feito à saúde espiritual das pessoas.
– Muitos têm querido, a partir do ensino doutrinário, enriquecimento, prestígio, fama, posição social, e isto os têm levado à heresia, à distorção da doutrina, com o único propósito de ter vantagens próprias. O apóstolo adverte o jovem Timóteo a que se apartasse dessa gente e que buscasse a piedade com contentamento, a satisfação em Cristo de que já falamos supra (I Tm.6:5,6).
– Por isso, muitas vezes, a inveja também traz consigo a cobiça, a ganância, o desejo desmesurado de ter o que é de outrem, de um enriquecimento tanto fácil quanto ilícito. Assim é que, na história da igreja, houvesse até quem confundisse a inveja com a própria avareza, com a própria ganância. São coisas distintas, pois a inveja é geradora da avareza, é também um de seus “filhotes” que tanto mal fazem ao ser humano.
– Neste ponto, aliás, tem sido extremamente hábil a “teologia da prosperidade”, que tem levado milhões de crentes à perdição precisamente porque desperta neles a inveja da prosperidade dos ímpios, fazendo-os, em seguida, a serem avarentos e gananciosos, querendo Cristo Jesus apenas para terem posição e dinheiro nesta vida. Que o Senhor tenha piedade destes que têm sido enganados e que possam, a exemplo de Asafe, acordarem antes que escorreguem em seus passos espirituais!
– O apóstolo Paulo, dirigindo-se aos gálatas, é bem claro ao dizer que, enquanto servos de Deus, não podemos cobiçar vanglórias e, em virtude disto, irritarmo-nos uns aos outros, invejarmo-nos uns aos outros (Gl.5:26).Tem sido uma triste constatação a de observarmos que, em muitos lugares, dezenas e dezenas de pessoas são alijadas da comunhão da igreja local, são maltratadas e tratadas com indignidade por causa da luta por cargos e posições. Que Deus nos guarde de preferirmos ver alguém fora da igreja a “ocuparem o nosso lugar”!
– Este sentimento que surge entre alguns é completamente enganoso, para não dizer satânico, já que a inveja é resultado de uma sabedoria terrena, animal e diabólica (Tg.4:14,15). Como servos de Deus, devemos nos lembrar que somos membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27) e, que, portanto, dependemos uns dos outros para podermos crescer espiritualmente sobre a face da Terra.
– Sendo assim, quando alguém se sobressai no meio da igreja com um talento, um dom que lhe deu o Senhor, não devemos invejá-lo, mas com ele se alegrar, visto que o sucesso do irmão, o seu uso da parte de Deus contribui para a edificação do corpo em amor, ou seja, para a nossa própria edificação espiritual (Ef.4:15,16; I Pe.2:15).
– No entanto, o que mais se tem visto, na atualidade, é que, sobressaindo-se alguém numa determinada localidade, via de regra, é logo ele extirpado daquela igreja local, logo se levantam contra ele, querendo, de todo modo, matá-lo, a fim de que ele “não brilhe mais do que A ou B”, uma atitude que nos revela como a inveja tem sua origem nas hostes espirituais da maldade, pois é próprio destes seres buscar matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
– Esta realidade, embora seja cada vez mais frequente nestes dias derradeiros da Igreja sobre a face da Terra, já se encontrava no limiar da história da Igreja. O apóstolo Paulo dá conta de que, por inveja, muitos passaram, inclusive, a pregar o Evangelho depois de sua prisão (Fp.1:15). Isto ainda hoje acontece, por incrível que possa parecer. Há muitos que se esforçam em pregar o Evangelho não para que haja salvação de almas, mas para que, por intermédio de sua pregação, venham a dar causa ao sofrimento de outros pregadores (Fp.1:17).
– Em tais situações, precisamos agir como o apóstolo Paulo: agradecer a Deus que sejamos motivo para que a Palavra de Deus seja anunciada e, ainda que isto traga mais aflições a nós, podemos nos regozijar de que almas têm sido levadas ao Senhor Jesus, ainda que por intenção das menos nobres (Fp.1:18,19). Como dizia João Crisóstomo (349-407): “Nós nos combatemos mutuamente e é a inveja que nos arma uns contra os outros. Pois bem, alegrai-vos com o progresso do vosso irmão e imediatamente Deus será glorificado por vós”
(apud AQUINO, Felipe. O pecado da inveja. Disponível em: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=12519Acesso em 16 jul. 2012)
– A inveja é incompatível com uma vida de santidade, com uma vida de comunhão ao Senhor. O apóstolo Pedro é claro ao dizer que o cristão deve deixar toda inveja (I Pe.2:1), sem o que não se pode desejar a Palavra de Deus e, por meio dela, obter-se o crescimento espiritual (I Pe.2:2). Inveja é característica de uma vida que ainda não tinha sido alcançada pela salvação em Cristo Jesus (Tt.3:3).
OBS: Reproduzimos, aqui, uma vez mais, o Catecismo da Igreja Romana por sua biblicidade e felicidade de expressões: “2475 Os discípulos de Cristo ‘revestiram-se do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade’ (Ef 4,24). ‘Livres da mentira’ (Ef 4,25), devem ‘rejeitar toda maldade, toda mentira, todas as formas de hipocrisia, de inveja c maledicência’ (l Pd 2,1).”
– O irmão do Senhor, Tiago, também nos ensina que a inveja se deve ao fato de não darmos prioridade ao espírito, deixando-se envolver pela carne. Segundo ele, quando vivemos com foco nos deleites deste mundo, quando buscamos a satisfação nas coisas desta vida, tornamo-nos cobiçosos e invejosos, inclusive indo à presença de Deus para pedir coisas más (Tg.4:1-3). Agostinho, citado por Felipe Aquino (end.cit.), afirmou muito propriamente que: “Terrível mal da alma, vírus da mente e fulminante corrosivo do coração, é invejar os dons de Deus que o irmão possui, sentir-se desafortunado por causa da fortuna dos outros, atormentar-se com o êxito dos demais, cometer um crime no segredo do coração, entregando o espírito e os sentidos à tortura da ansiedade; destroçar-se com a própria fúria!”
– É dito que Napoleão Bonaparte (1769-1821) afirmava que a inveja é um “atestado de inferioridade”. Oimperador francês tem razão ao fazer tal definição. Quando se inveja alguém, está-se reconhecendo a superioridade do outro e seu inconformismo com tal situação, de modo que se deseja que o outro caia. Tem-se, pois, uma nítida assunção de que se é inferior e que o que se deseja é que a superioridade do outro seja destruída.
– Por isso, o profeta Isaías, ao se referir ao reino milenial de Cristo, deixa bem claro que, com a redenção de Israel, não se terá mais a inveja de Efraim com relação a Judá, nem a opressão de Judá contra Efraim (o reino do norte) (Is.11:13), a revelar que o sentimento de Efraim com relação a Judá era de inveja, porque se encontrava em situação inferior, vez que havia sido invadido e levado cativo para a Assíria, enquanto Judá havia resistido e vencido o invasor, tendo uma sobrevida. A inveja era a reação do inferior contra o superior, que o oprimia.
– O verdadeiro servo de Deus, entretanto, não pode ter esta mentalidade. Ele deve se alegrar com os que se alegram (Rm.12:15) pois o sucesso do outro nada mais é que a demonstração da bondade divina e, como o outro é distinto de nós, não devemos querer ocupar a sua posição, pois, como diz o vulgo, “cada qual no seu quadrado”.
– Não é outro o motivo pelo qual o Senhor abomina todo aquele que se alegra da desgraça do outro, mesmo que se trate de um inimigo seu (Pv.24:17,18). Esta reprovação divina decorre do fato de que somente nos alegramos com a queda do inimigo quando o invejamos. Assim, quando há esta alegria, revelamos a nossa própria malignidade e Deus não tem prazer na maldade, não pode suportar a iniquidade (Is.1:13).
IV – A PRÁTICA DA MALDADE COMO CONSEQUÊNCIA DA INVEJA
– Por fim, cabe-nos, dentro da proposta da presente lição, verificarmos os “filhotes da inveja”, ou seja, a prática da maldade como consequência do domínio da inveja nos corações dos homens.
– Já vimos que a inveja é um pecado que gera outros pecados, que jamais vem desacompanhada e o nosso comentarista quis elencar todos os “filhotes da inveja” como sendo a prática da maldade. Com efeito, por se nutrir um sentimento de desgosto pela felicidade de outrem, o invejoso acaba sendo levado à prática da maldade, ou seja, à prática de atitudes que propiciem o mal para o próximo, que o faça sair daquela situação de êxito e de sucesso que deram motivo ao desgosto do invejoso.
– O próprio Caim reconheceu que o homicídio de seu irmão Abel, fruto da inveja, havia sido uma maldade (Gn.4:13), sendo aqui utilizada a palavra hebraica “ ‘avon” (עןו), que tem como variante a palavra “ ‘avvone” (עןוז), que se encontra em passagens como Sl.51:5, onde é traduzida por “iniquidade” na Versão Almeida Revista e Corrigida.
– Tem-se, pois, que a “maldade” aqui nada mais é que o pecado. A inveja é uma porta de entrada para outros pecados e, por isso, como já dissemos supra, é ele considerado um “pecado capital”, ou seja, a “cabeça” de outros pecados que sempre acompanham a inveja.
OBS: Por oportuno, reproduzimos aqui o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “1865 O pecado cria uma propensão ao pecado; gera o vício pela repetição dos mesmos atos. Disso resultam inclinações perversas que obscurecem a consciência e corrompem a avaliação concreta do bem e do mal. Assim, o pecado tende a reproduzir-se e a reforçar-se, mas não consegue destruir o senso moral até a raiz. 1866 Os vícios podem ser classificados segundo as virtudes que contrariam, ou ainda ligados aos pecados capitais que a experiência cristã distinguiu seguindo S. João Cassiano e S. Gregório Magno. São chamados capitais porque geram outros pecados, outros vícios. São o orgulho, a avareza, inveja, a ira, a impureza, a gula, a preguiça ou acídia.”
– Ao descrever a situação espiritual da humanidade antediluviana, o texto sagrado nos diz que “a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos era só má continuamente” (Gn.6:5). A prática do mal era a conduta dos homens antediluvianos e, num estado tal, que o Senhor resolveu mandar o dilúvio sobre a face da Terra para destruir toda a humanidade.
– A prática do mal, a maldade é, pois, algo que Deus não suporta, que exige da parte do Senhor a execução de juízos, motivo pelo qual jamais alguém que queira agradar a Deus pode ser alguém que faça o mal a outrem. Praticar o mal é aborrecer a Deus, é deliberadamente se afastar do Senhor e, em virtude disto, cair sob a Sua ira (Ex.20:5; Dt.5:9; Sl.5:5; Is.13:11; Jr.14:10). O Senhor está ao lado daquele que não pratica a maldade (Nm.23:21).
– Para termos comunhão com Deus, é necessário que sejamos purificados de nossa maldade (Is.1:16). A maldade é característica daqueles que não conhecem a Deus (Rm.1:29), cujos corpos são instrumentos da maldade para a maldade (Rm.6:19). Quem tem comunhão com Deus, faz festa com os asmos da sinceridade e da verdade, não com o fermento da maldade e da malícia (I Co.5:8), motivo por que, para podermos ter vida espiritual e crescimento contínuo, é imperioso que deixemos toda a malícia, todo o engano (I Pe.2:1).
– A prática do mal por parte daqueles que dizem servir a Deus é motivo de grande reprovação por parte do Senhor. O profeta Isaías foi bem claro ao mostrar que esta atitude de se praticar o mal e vir, depois, à presença do Senhor, como um “bom religioso” é algo abominável a Deus (Is.1:10-16). Deus abomina os que se apressam a fazer o mal (Pv.6:16-19)
– Não se pode, nos relacionamentos com o próximo, fazer o mal ao outro, mas, sim, devemos sempre vencer o mal com o bem (Rm.12:17,21). Devemos ser imitadores de Cristo, que passou por esta terra fazendo bem, e neste fazer bem denunciou que Deus era com Ele (At.10:38).
– Muitos procuram se iludir, dizendo que o mal que praticam nada mais é que ser um “instrumento de Deus” para punição dos ímpios e dos desobedientes. Tal pensamento não quer qualquer respaldo bíblico, pois a vingança é prerrogativa exclusiva do Senhor, que Ele não dá a ninguém (Dt.32:35; Sl.94:1; Is.61:2; Rm.12:19).
– Jamais devemos praticar o mal, jamais devemos prejudicar a quem quer que seja. Temos sempre de fazer bem, inclusive aos que nos perseguem, aos que são nossos inimigos (Rm.12:20).
– Quando praticamos o mal contra alguém, em nome de uma suposta “justiça”, que é, na verdade, exercício de vingança, estamos nos pondo no lugar de Deus, o que é assaz grave. Jamais poderemos ficar impunes se cometermos tamanho sacrilégio.
– A prática do mal faz com que tenhamos de pagar pelo mal praticado. O Senhor é justo e jamais deixará impune aquele que pratica o mal. As Escrituras dão-nos conta de que Deus visita a maldade, ou seja, faz com que o mal praticado seja trazido àquele que o praticou (Ex.20:5; Dt.5:9; 28:20; I Rs.2:44; Sl.125:5; Jr.7:12; 14:10; 23:2; 51:24). É a “lei da ceifa”, de que falam tanto o sábio Elifaz (Jó 4:8), quanto o profeta Oseias (Os.8:7), como também o apóstolo Paulo, sendo que este último nos alerta a que nunca nos cansemos de fazer o bem (Gl.6:7-9).
– É por isso que a “inveja” é um “não ver”, pois, ao motivar as pessoas a praticarem o mal, está, na verdade, levando as pessoas a se voltarem contra Deus, a estarem, no limite, prejudicando a si mesmas, visto que quem não é por Deus, é contra Ele (Mc.9:40; Lc.9:50) e quem poderá subsistir ao Senhor?
– Nos relacionamentos com o próximo, devemos tão somente fazer o bem, o que deve ser aprendido por nós com o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, visto que temos uma inclinação natural para o mal. Tanto assim é que ninguém precisa nos ensinar a fazer o mal, fazemo-lo instintivamente, assim que adquirimos a consciência. Devemos, porém, aprender com Aquele que, assim que adquiriu a consciência, escolheu o bem e não o mal (Is.7:15,16).
– Esforcemo-nos, portanto, a fazer o bem, a praticar o bem, a desejar somente o bem daqueles que estão à nossa volta, do nosso próximo. Na parábola do bom samaritano (Lc.10:25-37), Jesus nos ensina que o próximo é qualquer um que esteja ao nosso lado, mesmo que nos seja um ilustre desconhecido. Devemos agir como a personagem desta parábola, “fazendo o bem sem olhar a quem”, como diz conhecido dito popular.
– Deixar de fazer o bem quando o podemos é também praticar o mal, pois se constitui em pecado (Tg.4:17). Será que temos nos omitido e deixando de praticar o bem que sabemos, por comodidade, preguiça ou, mesmo, por inveja? Este comportamento não é agradável a Deus e devemos, pois, em nossos relacionamentos com o próximo, sempre fazer o bem.
– O Senhor Jesus tem nos ensinado a fazer o bem. Temos nos relacionado com Ele e Ele tem nos ensinado como devemos viver sobre a face da Terra. Por que, então, deixar de fazer o bem? Porque praticarmos o mal? Que jamais venhamos a perder a nossa salvação, a vivermos eternamente sem Deus por causa da inveja e dos seus “filhotes”. Que Deus nos
guarde!
Caramuru Afonso Francisco
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