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LIÇÃO Nº 11 – LUCAS-ATOS: A MENSAGEM PENTECOSTAL PARA HOJE

 

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da “síntese bíblica”, analisaremos os escritos de Lucas, muito provavelmente o único escritor gentio das Escrituras.

– Os escritos de Lucas mostram a ação do Espírito Santo na Igreja.

I – O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

– Prosseguindo o estudo da “síntese bíblica”, um resumo dos livros das Escrituras, analisaremos hoje os dois livros de autoria de Lucas, provavelmente o único escritor gentio das Escrituras, já que existe uma discussão sobre a autoria do livro de Jó, a outra única possibilidade que temos de um escritor não israelita no texto sagrado.

– Lucas, o “médico amado” (Cl.4:14), escreveu dois livros: o Evangelho segundo Lucas e Atos dos Apóstolos.

Em Atos, vemos, claramente, que Lucas, depois de ter escrito o Evangelho, deliberadamente elaborou uma continuação, que foi o livro de Atos, precisamente para retratar a continuação da obra de Jesus por meio da Igreja que Ele formara.

– Nota-se, portanto, de pronto, que Lucas quis mostrar a continuidade que havia entre o ministério público de Jesus e o trabalho da Igreja, revelando, assim, que o “médico amado”, discípulo que era do apóstolo Paulo, quis mostrar, mediante uma acurada pesquisa histórica, a realidade fática da revelação que teve o apóstolo a respeito da formação deste novo povo de Deus, a Igreja, composta tanto de judeus quanto gentios.

– Ao fazê-lo, Lucas nos traz a compreensão do papel do Espírito Santo na realização desta obra iniciada por Cristo e completada pela Igreja, Seu corpo místico, compreensão esta que mostra como o movimento pentecostal veio resgatar a verdade escriturística da necessidade da plenitude do Espírito Santo para que se cumpra, a contento, o propósito divino para a salvação da humanidade.

– Daí porque a importância de nós, pentecostais que somos, nos determos um pouco mais nestes dois livros para reforçarmos a extrema necessidade que se tem de crer na atuação do Espírito Santo na tarefa cometida à Igreja.

– O Evangelho segundo Lucas, segundo os estudiosos da Bíblia Sagrada, foi o terceiro evangelho a ser escrito, por volta de 58 a 63 d.C., sendo de autoria de Lucas, o médico amado, um dos cooperadores do apóstolo Paulo (Cl.4:14; II Tm.4:11 e Fm.24).

– O texto do Evangelho, em momento algum, diz que a autoria é de Lucas, o que se percebe pelas inferências.

Com efeito, o evangelho se apresenta como um tratado dirigido a Teófilo, uma pessoa “excelente” (Lc.1:3), que é, então, certamente, o “primeiro tratado” mencionado pelo autor de Atos dos Apóstolos (At.1:1), cujo tema é apresentar “…o que Jesus começou não só a fazer a ensinar”.

– Ora, o autor de Atos dos Apóstolos que, portanto, é o mesmo autor deste evangelho, outro não pode ser senão Lucas, pois, além do grego refinado em que são produzidos tanto o evangelho quanto o livro de Atos, a indicar o mesmo estilo, tem-se, no livro de Atos, a evidência de que o autor do livro é alguém que era muito próximo ao apóstolo Paulo, proximidade esta que aponta para Lucas, aquele que nunca deixou o apóstolo (II Tm.4:11).

Além do mais, na própria narrativa de Atos, vê-se que o uso do pronome “nós” no relato indica que se tratava de circunstâncias em que Lucas estava a acompanhar o apóstolo (At.16:16,17; 20:13; 21:7,8,12; 27:2,18-20; 28:15).

– Como se não bastasse isso, o estilo empregado, o vocabulário empregado e o próprio método adotado, um verdadeiro “método científico” (Lc.1:1-4), revelam que o autor é alguém de refinada erudição, um auxiliar do apóstolo Paulo que tivesse uma grande formação científica, algo que somente encontramos, entre os cooperadores do apóstolo, na figura de Lucas, que era médico (Cl.4:14).

– A tradição da Igreja sempre atribuiu este evangelho a Lucas, como nos atesta Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica, “in verbis”:

“…Mas Lucas, nascido em Antioquia e médico de profissão, por muito tempo companheiro de Paulo e bem familiarizado com os outros apóstolos, nos deixou em dois livros inspirados as instituições daquela arte de cura espiritual que deles obteve.

Um deles é o Evangelho em que testifica ter registrado ‘de acordo com a tradição recebida dos que foram testemunhas oculares desde o princípio e ministros da palavra’ a ele transmitida. Aos quais também, afirma ele, seguiu em tudo.

E o outro é os Atos dos Apóstolos que compôs não de acordo com testemunhos ouvidos de outros, mas com o que viu com os próprios olhos.

Também se diz que Paulo costumava citar o Evangelho de Lucas, uma vez que quando escrevia sobre algum evangelho, chamando-o seu, dizia: ‘de acordo com o meu evangelho’…” (História Eclesiástica. Trad. de Lucy Iamakami. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, pp.81-2).

– Lucas, ao escrever este evangelho, quis trazer um novo perfil aos relatos que já existiam, procurando, então, já que não fora testemunha ocular do ministério de Jesus, obter criteriosas informações a respeito dos fatos relatados tanto oralmente como por escrito pelos discípulos, para, então, apresentar a um gentio, como é Teófilo, a narrativa da vida e do ministério terrenos de Jesus.

OBS: “…Mas também Lucas, no início de sua narrativa, acrescenta a causa que o levou a escrever, mostrando que muitos outros, tendo ousado pôr-se a narrar as coisas de que ele já se havia certificado plenamente para nos livrar, em seu próprio Evangelho, de suposições incertas de outros, transmitiu o relato preciso do que ele próprio recebeu plenamente por intermédio de sua proximidade e permanência com Paulo e também seu relacionamento com os outros apóstolos…” (CESAREIA, Eusébio de. op.cit., p.103).

– O objetivo de Lucas, portanto, era o de promover um relato criterioso, preciso a respeito da vida e do ministério de Cristo, que fosse apresentado como o Filho do homem, a “semente da mulher” que haveria de trazer salvação a toda a humanidade. Seu intento, certamente inspirado pelo Espírito Santo, era apresentar Jesus como o homem perfeito, Aquele que teria trazido salvação a toda a humanidade.

– Por isso, o evangelho segundo Lucas é um relato que não se prende tanto às profecias a respeito do Messias, como fez Mateus, que procurava, em seu evangelho, mostrar o cumprimento das profecias para apresentar Jesus como o Messias esperado pelos judeus, como também não é um relato em que Jesus Se apresenta como o Servo do Senhor,

outra figura prevista nas profecias do Antigo Testamento, num evangelho mais voltado aos romanos, que apresentava Jesus como sendo o Servo, quase que um “soldado fiel” vitorioso, assim como os soldados do poderoso exército romano.

– Bem ao contrário, este evangelho apresenta Jesus como “o homem perfeito”, o “Filho do homem”, expressão que Lucas usa para se referir ao Senhor Jesus por 26 vezes (Lc.5:24; 6:5,22; 7:34; 9:22,26,44,56,58; 11:30; 12:8,10,40; 17:22,24,26,30; 18:8,31; 19:10; 21:27,36; 22:22,48,69; 24:7).

Assim, sem se vincular às próprias profecias do Antigo Testamento, Lucas mostra Jesus como sendo o Salvador do mundo, o que era precisamente como o próprio Lucas via o seu Salvador, já que se tratava de um gentio, a propósito, o único autor gentio das Escrituras (se se entender que livro de Jó foi escrito por Moisés e não pelo próprio patriarca Jó).

OBS: Alguns entendem que Lucas era judeu, como é o caso de Finnis Jennings Dake, que afirma: “…Ele era judeu e talvez o Lúcio de Romanos 16.21; Atos 13.1. Se for verdade, era parente de Paulo…” (Bíblia de Estudo Dake, p.1626).

– Lucas, assim, mostra Jesus como o homem perfeito, aquele homem que, gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35), nunca teve pecado e, por isso mesmo, pôde ocupar o lugar da humanidade e Se apresentar em sacrifício perfeito que tirou o pecado do mundo, tendo, pois, Sua obra eficácia para todos os povos e não apenas para Israel, como poderia aparentar os dois evangelhos anteriores.

– Por isso, esse evangelho era dirigido a Teófilo, pessoa que deveria ser um alto funcionário do Império

Romano, já que é chamado de “excelentíssimo” pelo autor do evangelho (Lc.1:3), pessoa que deveria ter sido evangelizada pelo próprio evangelista, a fim de que pudesse ele ter a certeza das coisas de fora informado (Lc.1:4).

– É por isso mesmo que o evangelho segundo Lucas é chamado de “coroa dos evangelhos sinóticos”, pois completa as sinopses anteriores, demonstrando o aspecto universal da obra salvífica de Jesus. Como afirma o Comentário Esperança Lucas:

“…O evangelho de Lucas é um comentário contínuo ao misterioso dizer do apóstolo: ‘Deus enviou seu Filho, que veio na forma da nossa natureza pecaminosa a fim de acabar com o pecado’ (Rm 8.3).

É como se Lucas tivesse visto sua própria função sendo exercida na atividade de Jesus. Mais do que os outros, ele descreve o Senhor Jesus como médico, precisamente como o Grande Médico, que veio não apenas para servir (Mt 20.28), mas que andou por toda parte fazendo o bem (At 10.38), demonstrou compaixão com todos os doentes do corpo e do espírito, liberou poder de si para restaurar (Lc 5.17)!

Todos relatam acerca da tentação de Jesus no deserto, mas unicamente Lucas acrescenta: “apartou-se dele o diabo, até momento oportuno” [Lc 4.13].

Todos relatam seu sofrimento no Getsêmani, mas somente Lucas preservou para nós o relato comovente do suor que ‘como gotas de sangue caindo sobre a terra’ [Lc 22.44], e do anjo que o fortalecia. Todos falam do arrependimento de Pedro, mas unicamente Lucas menciona o olhar do Senhor [Lc 22.61]. O terceiro evangelho é a coroa dos evangelhos sinóticos…” (RIENECKER, Fritz. Evangelho deLucas: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.9. Disponível em: www.aibrern.com.br/index.php/arquivos/category/27-Lucas?…152. Acesso em 10 fev. 2015).

– Dentro desta finalidade do evangelho, Lucas, usando de toda a sua erudição, quis demonstrar os fatos relacionados com a vida e o ministério terrenos de Senhor Jesus como fatos devidamente comprovados, devidamente situados no espaço e no tempo, satisfazendo, deste modo, as exigências da cultura greco-romana, para mostrar a todos que Jesus é o Salvador do mundo.

– Tal cuidado quis o evangelista deixar claro logo no introito de seu evangelho, ao afirmar que, diante da preocupação que estava ocorrendo entre os cristãos de pôr em ordem a narração dos fatos relativos à vida e ao ministério terrenos de Jesus Cristo, Lucas resolveu ordená-los, registrando tão somente os fatos que fossem devidamente comprovados por testemunhas, que procurou ouvir (Lc.1:1-4).

O evangelho, portanto, teria o condão de dar certeza de tudo que Teófilo já fora informado através da evangelização de que fora objeto.

– Por isso, o evangelho segundo Lucas é o mais minucioso de todos os evangelhos, havendo uma nítida preocupação de datação e de indicação dos locais onde se deram os fatos relatados, o que faz de Lucas um parâmetro para se estabelecer a chamada “harmonia dos Evangelhos”, esforço de estudiosos das Escrituras para dar um quadro amplo da vida e ministério terrenos de Cristo.

– Nesta preocupação histórica, ademais, encontra-se mais uma ênfase na humanidade de Jesus, porque procura mostra Nosso Senhor “debaixo do tempo”, que é um aspecto circunscrito à criação terrena, de que o homem é a coroa (Sl.8:5).

– E é aqui que se ressalta, no evangelho segundo Lucas, o papel do Espírito Santo no ministério de Jesus. Enquanto homem, Jesus necessitaria da presença do Espírito de Deus no exercício de Seu ministério.

– No Evangelho segundo Lucas, o Espírito Santo aparece por dezesseis vezes, a saber: Lc.1:15, 35, 41, 67; 2:25-27; 3:16,22; 4:1,14,18; 10:21; 11:13; 12:10,12.

– As primeiras menções ao Espírito Santo dizem respeito às pessoas que foram cheias pelo Espírito para profetizar, a saber, João Batista e seus pais (Isabel e Zacarias), como também Simeão (Lc.1:15,41,67; 2:25-27).

Em tais profecias e manifestações, tem-se a confirmação de que tanto os ministérios de João quanto de Jesus seriam diretamente orientados pelo Espírito Santo.

– Também foi dito que o Espírito Santo é quem haveria de gerar Jesus no ventre de Maria, a indicar que a própria encarnação do Cristo seria obra do Espírito Santo, como, de resto, toda a continuidade de Seu ministério (Lc.1:35).

– Lucas faz questão, também, no Evangelho, de ressaltar que João Batista havia profetizado a respeito do batismo com o Espírito Santo (Lc.3:16), profecia que o Cristo ressurreto relembra antes de subir aos céus no livro de Atos (At.1:4,5), como também faz questão de mostrar que Jesus, também, antes do início de Seu ministério, foi ungido pelo Espírito Santo (Lc.3:22), tendo tanto ido ao deserto por direção do Espírito como, após a tentação, iniciado a sua pregação na Galileia (Lc.4:1,14).

– Durante a narrativa do ministério terreno de Cristo, por fim, Lucas volta a mencionar o Espírito Santo por cinco vezes.

Quando retornou a Nazaré, Ele próprio, na sinagoga do lugar onde fora criado, afirmou que havia sido ungido pelo Espírito Santo (Lc.4:18).

Registra uma alegria de Jesus, no Espírito Santo, após o retorno dos setenta discípulos (Lc.10:21), como também, três ensinos de Jesus mostrando que o Espírito Santo seria dado pelo Pai aos que lh’O pedissem (Lc.11:13), que a blasfêmia contra o Espírito Santo não teria perdão (Lc.12:10) e, por fim, que, no momento em que os discípulos fossem levados à presença de autoridades, o Espírito Santo lhes ministraria o que haveriam de falar (Lc.12:12).

– A propósito, nesta última menção, Lucas já deixa uma demonstração de que a atuação dos discípulos de Jesus teria, também, de ser delineada, orientada pelo Espírito Santo, o que mostraria no segundo volume de sua obra, que é, precisamente, o livro de Atos dos Apóstolos.

I – O LIVRO DE ATOS DOS APÓSTOLOS

– O livro de Atos dos Apóstolos é, na verdade, o segundo volume da obra de Lucas que, depois de ter ordenado as informações que obteve a respeito do ministério terreno de Jesus Cristo (Lc.1:1-4),

a fim de dar conhecimento mais profundo das informações que tinha Teófilo a respeito, decidiu, também, registrar os fatos concernentes à história dos cristãos até aquele instante, a fim de mostrar a continuidade entre a obra de Jesus e o trabalho que era levado a efeito pelos Seus apóstolos, em especial, de Paulo, com quem Lucas estava a trabalhar na obra de Deus.

OBS: Muito se especula sobre a identidade de Teófilo, mas, ante as poucas informações constantes das Escrituras, tudo o que se diz não pode ser visto senão como conjectura.

Não resta dúvida, porém, de que os escritos de Lucas buscava dar respaldo a uma pessoa importante a respeito da doutrina cristã, o que é relevante diante da circunstância de que Paulo estava sendo julgado e com sua vida em risco precisamente em razão da sua fé.

A elucidação destes pontos, pois, poderia contribuir para um correto julgamento de sua causa pelas autoridades.

– O introito de Atos (At.1:1) já nos mostra, claramente, que o seu autor é o mesmo Lucas, aquele que redigiu o Evangelho que levou o seu nome, um Evangelho voltado para os gregos, um Evangelho que tinha, por objetivo, demonstrar que Jesus era o Filho do Homem, o Homem perfeito.

– Como um cientista que era (Cl.4:14), Lucas, além de trazer as informações pormenorizadas e ordenadas, também deixa claro que este volume de sua obra tinha um objetivo bem definido, qual seja, o de mostrar o aprendizado dos discípulos junto ao Senhor Jesus e como eles se tornaram Suas testemunhas desde Jerusalém até os confins da Terra (At.1:8).

– Por isso, desde cedo, o livro acabou sendo denominado pela Igreja de “Atos dos Apóstolos”, ou seja, das atitudes, da prática do ensino do Senhor Jesus por parte dos apóstolos, aqueles que haviam sido enviados por Ele para pregar o Evangelho em todas as nações, começando por Jerusalém (Lc.24:47).

– Na verdade, a denominação primeira do livro, nos documentos mais antigos, era a de “Atos de todos os apóstolos”, visto que o livro passou a ser muito utilizado a partir da metade do século II, como uma reação à heresia liderada por Marcião de Sinope (110-160), que, entre outras ideias, passou a rejeitar o Antigo Testamento e a aceitar somente o Evangelho de Lucas e algumas epístolas de Paulo.

O livro de Atos, ao mostrar a perfeita harmonia entre o trabalho dos primitivos apóstolos e o ministério posterior de Paulo era um vigoroso contra-argumento a esta heresia, ainda mais por ser da autoria do mesmo Lucas, o único evangelista reconhecido por Marcião. Por isso, era denominado de “atos de todos os apóstolos”, para contrariar a falsa doutrina de que só Paulo havia transmitido a correta doutrina de Cristo.

OBS: A expressão “Atos de todos os apóstolos” aparece, pela vez primeira, no chamado “cânon muratoriano”, lista dos livros considerados inspirados pela igreja em Roma, redigido por volta de 200. Referida lista foi descoberta em uma biblioteca pelo erudito italiano Ludovico Muratori, razão de ser do nome que lhe foi dado.

– Este seu papel de “ponte” entre os Evangelhos e as epístolas fez com que, cedo, desde as primeiras listas surgidas, o livro de Atos figurasse no chamado “cânon do Novo Testamento”, ou seja, na relação dos escritos que foram considerados como tendo sido inspirados pelo Espírito Santo e que, ao lado do Antigo Testamento, deveriam compor a Bíblia Sagrada.

Também é a razão pela qual, no arranjo dos livros, foi posto imediatamente após os Evangelhos e antes das epístolas.

OBS: Eusébio de Cesareia, historiador da Igreja no século IV, mostra como, em sua época, dúvida alguma sobre a inspiração de Atos: “…Este

também parece o devido lugar de apresentar uma declaração sumária dos livros do Novo Testamento já mencionados.

E aqui, entre os primeiros, deve ser colocada a santa tétrade dos Evangelhos; esses são seguidos pelo Livro de Atos dos Apóstolos…” (História eclesiástica: os primeiros quatro séculos da história da Igreja Cristã. Trad. de Lucy Iamakami, p.103).

– O livro de Atos apresenta a descrição de como se iniciou o cumprimento da palavra do Cristo ressurreto aos Seus discípulos pouco antes de ascender aos céus. “…Em Atos 1.8, o Cristo ressurreto declara o propósito do batismo com o Espírito Santo: ‘…mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito

Santo, e sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra’.

Por localização e ênfase, este versículo parece designar claramente o propósito deste livro de Atos dos Apóstolos.

Trata-se de uma história especial sobre o estabelecimento e a extensão da Igreja entre judeus e gentios pela localização gradual de centros de influência em pontos salientes do império romano, desde Jerusalém até Roma.…” (BÍBLIA SHEDD, p.1526).

– Lucas, após ter mostrado a Teófilo, “no primeiro tratado”, o que Jesus havia feito e ensinado, agora, neste segundo volume, mostra a prática deste ensinamento, prática esta que somente foi bem sucedida porque contou, desde o seu início, com a atuação do Espírito Santo.

Já no seu introito, pois, o “médico amado” nos mostra que a Igreja é a cumpridora dos ensinos e ações de Jesus, cumprimento que só se torna possível mediante a atuação do Espírito Santo.

– Se Lucas, que é o único gentio a redigir um texto das Escrituras, considerado um cristão da Igreja de Antioquia (sua origem antioquita é afirmada em um dos mais antigos prefácios de seu Evangelho e tem sua razão de ser, já que os primeiros gentios convertidos o foram em Antioquia e isto explica o fato de Lucas ter sido companheiro de Paulo),

valeu-se de provas precisas e idôneas para redigir o Evangelho, com relação a Atos, então, não só de provas precisas e idôneas, mas ele próprio testemunhou fatos que relata, o que aumenta, ainda mais, a credibilidade de sua narrativa.

– A propósito, cabe aqui reproduzir o que diz sobre a credibilidade de Atos o professor de Crítica e Exegese Bíblica da Universidade de Manchester (Inglaterra), F.F. Bruce:

“…O valor histórico do relato de Lucas tem sido amplamente confirmado pelas descobertas arqueológicas.

Apesar de seus interesses apologéticos e teológicos, isso não diminui sua minuciosa exatidão, ainda que aqueles controlem sua seleção e apresentação dos fatos. Ele coloca sua narrativa dentro da moldura da história contemporânea; suas páginas estão repletas de referências aos magistrados das cidades, aos governadores provinciais, aos reis visitantes, e outros semelhantes, e essas referências provam vez após vez, que estão corretas quanto ao lugar e ao tempo em questão.

Com um mínimo de palavras, ele transmite a autêntica cor local das cidades extremamente diversas mencionadas em sua história.

E sua descrição sobre a viagem de Paulo a Roma (27) até os nossos dias permanece como um dos mais importantes documentos sobre a antiga arte da navegação…” (Atos, Livro de. In: DOUGLAS, J.D. (org,).O novo dicionário da Bíblia. Trad. de João Bentes. v.1, p.169).

– Se dúvidas não há quanto à autoria de Atos, maiores controvérsias surgem com relação à data de sua redação.

Como o livro termina com a descrição da prisão domiciliar por dois anos em Roma, quando pregava o Evangelho em toda liberdade, tem-se como um fator indicativo de que o texto é anterior a 64, ano em que se deu a primeira grande perseguição romana contra os cristãos, no tempo do imperador Nero.

O livro, pois, é tido como escrito por volta do ano 60, quando Paulo estaria sob a prisão domiciliar mencionada no término da obra.

– A teoria que procura datar o livro de Atos por volta do ano 90, baseia-se em dois fatores que são altamente improváveis.

O primeiro é de que o texto de Atos dependeria, em sua redação, das Antiguidades Judaicas, de Flávio Josefo, e de que teria sido um documento redigido para distinguir-se os judeus dos cristãos. Não há, porém, qualquer elemento mais firme que permita relacionar ambos os textos.

Muito pelo contrário, o texto mostra uma sensação de relativa confiança entre autoridades romanas e judaicas quando do episódio do aprisionamento de Paulo que vai contra tudo o que se tem na obra de Josefo.

– A segunda é de que o texto teria sido redigido para impedir-se ou amenizar-se a perseguição contra os cristãos nos tempos do imperador romano Domiciano (81-96), a segunda grande perseguição romana contra a Igreja.

Tal circunstância, também, não faz sentido, diante da omissão da morte de Paulo no texto, ele, o protagonista da última parte do livro, ainda mais quando se sabe o trágico fim de Nero, o que seria mais do que natural constar de um texto que retratou o fim trágico de Herodes Agripa em decorrência do martírio de Tiago.

O tom otimista com que termina o livro de Atos é totalmente adverso a uma circunstância como a aventada pelos defensores desta teoria.

III – “ATOS DOS APÓSTOLOS” É, TEOLOGICAMENTE, “ATOS DO ESPÍRITO SANTO”

– Já vimos que o título adotado para este livro, “Atos dos apóstolos”, tem sua razão de ser histórica, mas não seria demasiado dizer que, na verdade, o livro de Atos bem poderia ser chamado de “Atos do Espírito

Santo”, visto que Lucas, em toda a sua narrativa, faz questão de mostrar que a Igreja age sob a direção do Espírito Santo.

“…O Espírito Santo é mencionado mais de cinquenta vezes neste livro, particularmente em relação ao batismo com o Espírito Santo, a ser cheio do Espírito Santo e a ser guiado pelo Espírito Santo.…” (BÍBLIA DE ESTUDO SCOFIELD, p.992). “…Quanto ao lado teológico, o tema dominante do livro de Atos é a atividade do Espírito Santo…” (BRUCE, F.F. op.cit.)

– Lucas começa o seu livro mostrando que, sem o Pentecoste, não poderia a Igreja cumprir a sua missão sobre a face da Terra.

Era indispensável o revestimento de poder para que os discípulos pudessem ser testemunhas de Cristo em todos os cantos da Terra. A igreja, neste sentido, tem de ser “pentecostal”. Não é possível, é inimaginável que a Igreja atue a contento sem que o Espírito Santo a revista de poder e, por consequência, dirija a sua ação.

– Nos dias em que vivemos, esta condição “sine qua non” apresentada por Lucas logo no início de seu livro histórico sobre a Igreja tem sido perigosamente desprezada, inclusive pelos que se dizem “pentecostais”.

Já não se considera necessário o batismo com o Espírito Santo, o revestimento de poder como um pré-requisito para a evangelização, muito menos para o exercício do ministério.

Já há Assembleias de Deus que separam ministros e oficiais sem que se preencha este requisito, contrariando a própria determinação do Senhor Jesus, pois foi quem disse que era necessário ficar em Jerusalém até do que alto houvesse o revestimento de poder (At.1:4,5).

– Também, com muita clareza, Lucas nos mostra, já no limiar de seu livro, que esta experiência era distinta da conversão, pois Jesus estava a falar com os apóstolos, ou seja, com aqueles que havia escolhido para fazer a Sua obra e, como sabemos, sobre os quais já repousara o Espírito Santo, neles soprado pelo próprio Senhor em uma de Suas aparições (Jo.20:22).

Sem o poder do Espírito Santo, não se poderia partir de Jerusalém e se atingir os confins da Terra. Esta mesma realidade persiste ainda hoje e não podemos nos desviar daquilo que nos diz a Palavra de Deus.

– Somente o Espírito Santo poderia conduzir a Igreja depois da partida do Senhor Jesus e, por isso, não poderiam eles sair e iniciar a pregação do Evangelho sem que fossem devidamente revestidos de poder, sem que o Espírito Santo viesse para iniciar o Seu ministério sobre a face da Terra.

Por que, então, nos dias hodiernos, muitos não esperam pela direção, orientação e chegada do Espírito Santo para executar a obra de Deus? Por que, em nossos dias, os homens dominam e não dão lugar à ação do Espírito Santo? Pensemos nisto!

– Durante todo o livro de Atos, o Espírito Santo é apresentado como sendo o diretor, o orientador, Aquele que dava as condições de tempo, espaço e modo para a pregação e expansão do Evangelho. Jesus foi claríssimo ao dizer que sem Ele nada pode ser feito (Jo.15:5 “in fine”) e que Ele voltaria para nós, não nos deixando órfãos, enviando o Espírito Santo (Jo.14: 16,18,26).

O Vigário de Cristo não é o Papa, como afirmam os romanistas, mas, sim, o Espírito Santo. Deste modo, como se pode pretender ter uma Igreja sem que o Espírito Santo assuma o Seu devido lugar?

– Quando Lucas nos fala, por cinquenta vezes, a respeito do Espírito Santo em seu livro, não podemos deixar de observar que Atos é o segundo volume de sua obra.

– Já no Evangelho, portanto, Lucas mostrava que o Espírito Santo era indispensável para a realização da obra de Deus, muito particularmente para a execução de tudo quanto Cristo haveria de fazer e ensinar.

Desta forma, Lucas como que mostra, em Atos, o cumprimento de tudo quanto fora anunciado e mostrado quanto ao papel do Espírito Santo no ministério terreno de Jesus.

– Ao longo do livro de Atos, também, Lucas mostra atitudes e ações de pessoas que não eram dirigidas pelo Espírito Santo e de como, apesar de serem até ações e atitudes dignas de nota, somente se tornaram relevantes diante de Deus depois que passaram a se fazer debaixo da ação do Espírito Santo.

– Logo no limiar do livro, vemos a “escolha” do décimo segundo apóstolo no cenáculo (At.1:15-26). Nesta narrativa, o grande ausente é o Espírito Santo, que somente viria dias depois deste episódio.

Lucas faz questão de registrar que Matias foi o escolhido e que passou, desde então, a ser, por voto comum, contado com os onze apóstolos, mas, a partir daí, Lucas nunca mais faz qualquer menção dele, a revelar a inocuidade de uma atitude despida da presença do Espírito Santo, nem mesmo o considerando como apóstolo.

– É o que sucede, também, no que concerne a Cornélio, que, apesar de suas orações e esmolas, não conseguia ser salvo, algo que somente ocorreu quando, após ter trazido Pedro para ouvir o Evangelho, recebe, então, o Espírito Santo da mesma maneira que ocorreu em Pentecoste, o que confirmaria a sua salvação (At.10:44-48; 11:15-18).

– Foi, também, a situação encontrada por Paulo em Éfeso, ao encontrar discípulos que nem sequer sabiam que havia Espírito Santo.

Somente depois de saberem da existência do Espírito Santo e de se batizarem nas águas e, posteriormente, serem revestidos de poder, é que passaram a ser tidos como autênticos e genuínos cristãos (At.19:1-7).

– Lucas, pois, não descuida de dar notícia de grupos e movimentos que agradavam a Deus e que, mesmo, criam na chegada do Cristo, mas deixa claro que, sem a operação do Espírito Santo, a direção desta Pessoa divina, independentemente de serem, ou não, revestidos de poder, não se teria uma genuína comunidade cristã.

Atos mostra, de forma sobressalente, que a Igreja somente existe sob a direção e orientação do Espírito Santo. Lembremos disto!

– Esta continuidade entre Lucas e Atos é, assim, mais um indicativo de que os textos são de um mesmo autor, afastando especulações com relação à autoria do livro. Além disto, há textos no próprio livro de Atos em que

Lucas se inclui como um dos companheiros de Paulo, as chamadas “seções ‘nós’ ” (Lc.16:10-17; 20:5-15; 21:1-18 e 27:1-28:16). Por isso, até, muitos eruditos preferem denominar os dois livros de Lucas como um só, chamando-o de “Lucas-Atos”.

IV – CARÁTER NORMATIVO DE LUCAS-ATOS

– Por fim, cumpre-nos aqui analisar o caráter que tem os escritos de Lucas, se são meras narrativas ou se contêm princípios normativos. Lucas-Atos deve ser entendido como um mero relato histórico ou como um modelo para a Igreja?

– Esta discussão, por primeiro, já demonstra uma resistência que, a princípio, não tem muita razão de ser. Se cremos que a Bíblia é a nossa única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão, como diz o item 1 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, como também os principais credos das igrejas chamadas “protestantes”, por que este debate com relação ao caráter normativo, ou não, de Lucas-Atos, mais precisamente de Atos dos Apóstolos?

– A Bíblia é a nossa norma, é a nossa regra e, portanto, devemos moldar a nossa conduta, o nosso comportamento conforme o que está nas Escrituras e os dois livros escritos por Lucas fazem parte do cânon sagrado, e, portanto, devem ser assim considerados.

– Com relação ao Evangelho segundo Lucas, não é ele em nada diferente dos outros três evangelhos, onde, além de narrativas, de fatos que são relatados a respeito do ministério terreno de Jesus, temos de ver a Cristo como o nosso modelo, o nosso exemplo (Jo.13:15), seguindo as Suas pisadas (I Pe.2:21), imitando-O (I Co.11:11), andando como ele andou (I Jo.2:6), cada vez mais se parecendo com Ele (Rm.8:29), a tal ponto que possamos dizer que não mais vivemos, mas Ele que vive em nós (Gl.2:20).

– Em sendo assim, sendo o evangelho que retrata com ênfase a humanidade de Cristo, Lucas deve ser visto como nos trazendo o modelo de humanidade perfeita, como o exemplo que se deve ter na caracterização do homem de Deus, do homem salvo, do “cristão” e isto implica em se ter a plenitude do Espírito Santo, pois foi nesta condição que Jesus foi gerado (Lc.1:35), desenvolveu-Se (Lc.2:52) e exerceu Seu ministério desde o seu início (Lc.3:22; 4:1).

– Deste modo, não há como desconsiderar que o evangelho segundo Lucas deixa-nos uma regra bem clara: para podermos ser cristãos efetivos, para imitarmos Jesus, é indispensável que, assim como Ele, sejamos gerados pelo Espírito Santo, cresçamos em sabedoria e graça para com Deus e os homens e vivamos cheios do Espírito Santo no exercício de nosso serviço.

– Mas, para que isto não ficasse apenas em Jesus, Lucas foi além que os demais evangelistas e acabou por registrar a continuação da obra de Cristo através da Igreja. Ao narrar a história dos primeiros tempos deste novo povo de Deus, formado de judeus e gentios, Lucas já revela que o modelo de Jesus foi reproduzido.

– Gerada pelo Espírito Santo, que foi recebido pelos discípulos no dia mesmo da ressurreição (Cf. Jo.20:22), o que Lucas deixa registrado ao dizer que, com Cristo ressurreto, tiveram os discípulos a abertura da mente para compreender o que diziam as Escrituras (Lc.24:45), a Igreja teria, para cumprir seu ministério, ser revestida do poder do alto (Lc.24:49).

– É precisamente isto que Lucas, então, registra no livro de Atos, mostrando como se fazia absolutamente necessária a plenitude do Espírito Santo para que a obra do Senhor se realizasse conforme a vontade d’Aquele que havia enviado Seus discípulos para dar continuidade ao trabalho salvífico.

– Deste modo, a narrativa de Atos não é apenas um relato fático, mas, assim como os livros históricos do Antigo Testamento, revelam como o Senhor cuida para que o plano de Deus para a salvação do homem se cumpra e, assim como se faziam necessários, nos dias da lei, a presença de profetas que impedissem a corrupção do povo e mantivesse a identidade para que o povo aguardasse e recebesse o Messias,

o livro de Atos mostra como o Senhor tomou as devidas providências para que a Igreja tivesse condições de cumprir a sua tarefa e como isto apenas ocorre quando se mantém e se conserva a plenitude do Espírito Santo, por meio do revestimento de poder do alto e pela atuação dos dons espirituais.

– Atos, então, não é apenas um livro histórico, mas, também, um livro normativo. Ele nos traz qual é o modelo de Igreja, como a Igreja deve se comportar para realizar a obra que lhe foi cometida pelo Senhor Jesus.

A Igreja deve perseverar na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At.2:42), buscar sempre a plenitude do Espírito Santo e anunciar com ousadia a Palavra de Deus (At.4:31), não cessar de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo (At.5:42),

realizar sinais, prodígios e maravilhas que confirmam a Palavra pregada (At.5:12,15-17; 8:6,7), mostrar ter igrejas locais que tenham paz, sejam edificadas e se multipliquem, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo (At.9:31), vivendo os discípulos cheios de alegria e do Espírito Santo (At.13:52).

– Se o Espírito Santo inspirou Lucas a escrever Atos, fê-lo, precisamente, para que tivéssemos registrado o modelo de Igreja querido pelo Senhor, como devemos agir até o dia em que esta Igreja será arrebatada. Não se trata de um relato de um passado, mas do relato de um passado que tem de ser um presente no cotidiano da vida de cada crente, de cada igreja local.

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7013-licao-11-lucas-atos-a-mensagem-pentecostal-para-hoje-i 


 

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