LIÇÃO Nº 11 – O CULTO DA IGREJA CRISTÃ
Como nação espiritual, a Igreja é formada dos verdadeiros adoradores de Deus.
INTRODUÇÃO
-Na sequência do estudo sobre Eclesiologia, a doutrina bíblica da Igreja, analisaremos como é o seu culto
-O culto é uma manifestação da adoração da Igreja, que é contínua, ininterrupta, consiste no próprio viver de cada salvo em Cristo Jesus.
I – O QUE É ADORAÇÃO E A ADORAÇÃO ANTES DA IGREJA
-A primeira vez que a palavra “adorar” aparece na Bíblia é em Gn.22:5, quando Abraão avisa seus servos que iria ao monte Moriá, juntamente com Isaque, para adorar e, depois, voltaria, com o seu filho, até o pé do monte, onde os servos deveriam esperar.
Entretanto, não é esta a primeira vez que vemos um homem adorando a Deus nas Escrituras, ainda que a palavra não estivesse registrada antes no texto sagrado. Com efeito, o primeiro casal tinha um momento peculiar com Deus na viração do dia (Gn.3:8), um instante em que se dirigiam a Deus e a Ele prestavam contas por tudo que tinham feito durante o dia.
Era um momento em que se reconhecia a soberania divina e em que o homem se dedicava a um encontro mais íntimo com o seu Senhor.
-Após a queda do homem, apesar da impossibilidade de uma comunhão com Deus, pois o pecado fez uma divisão entre Deus e o homem (Is.59:2; Ef.2:14), o primeiro casal ensinou a seus filhos que havia a necessidade de se render a Deus um tributo, um louvor, de reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas e que, portanto, devemos dar a Ele satisfação e Lhe render graças. Por isso, vemos Caim e Abel apresentando ofertas a Deus, numa atitude nítida de adoração a Deus (Gn.4:3,4).
Podemos observar nesta passagem algumas características da adoração, no limiar da história humana, a saber:
a) A adoração é uma prática que acompanha a própria existência do homem – Como vimos, o primeiro casal tinha um instante diário de adoração e, diante desta prática, havia ensinado seus filhos a procederem da mesma maneira. O homem, portanto, foi feito para adorar a Deus.
b) A adoração é necessária, mas espontânea – A adoração é uma atividade que era considerada necessária por parte da primeira família, tanto que Caim, mesmo não estando interiormente disposto a fazê-lo, não ousou negar-se a oferecer algo a Deus, pois tinha consciência da necessidade deste gesto. Embora necessária, a adoração é espontânea, tem de partir do homem.
Não confundamos a adoração com a sujeição, que é o ato pelo qual Deus, por Sua soberania, imporá, num tempo por Ele determinado, Seu senhorio sobre todos os seres, através de Cristo Jesus (I Co.15:27,28; Ef.1:22; Hb.2:8). Isto é sujeição, não adoração.
c) A adoração consiste de atos externos – A adoração é demonstrada através de gestos concretos, visíveis por todos os demais homens. Caim trouxe uma oferta de vegetais, enquanto Abel sacrificou animais.
d) A adoração também se faz no interior do homem – Embora se manifeste por atos exteriores, a adoração começa no homem interior, é uma atitude que tem seu nascimento no espírito, que é a parte do homem que mantém o canal com Deus. Por isso, a oferta de Abel foi aceita, mas não a de Caim.
e) A adoração é acompanhada e observada por Deus – A disposição para a adoração partiu do homem, mas foi atentamente observada pelo Senhor. Quando nos dispomos a adorar a Deus, jamais nos esqueçamos de que o Senhor a tudo está observando e conhece quais são nossas intenções e os nossos atos, tanto que aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim.
f) A adoração permite uma comunicação entre Deus e o homem – Mediante a adoração, Deus aceita, ou não, o gesto do homem, mas é através dela que Deus Se manifesta ao homem, mesmo àquele que não teve aceita a sua oferta, de modo que se estabelece o necessário relacionamento entre Deus e o homem. Através da adoração, o homem tem condições de entender que o pecado é o responsável pela ruptura da comunhão entre o ser humano e o seu Criador
g) A adoração, para que seja aceita por Deus, exige um ato de fé e uma prévia justificação dos pecados
-A Bíblia afirma-nos que Abel era uma pessoa dotada de fé de de justiça (Mt.23:35; Hb.11:4), enquanto Caim era do maligno (I Jo.3:12).
Reside, então, aí a razão por que a adoração de Abel foi aceita e não a de Caim. Para que possamos adorar a Deus, devemos ter fé, pois sem ela é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6).
Tendo fé, poderemos ser justificados diante de Deus, passando a ter paz com ele (Rm.5:1) e, deste modo, livres do pecado, poderemos ser aceitáveis diante do Senhor. Como diz conhecido cântico, “em altar quebrado, não se oferece sacrifício a Deus”. (cfr. I Rs.18:30).
-A palavra ” adoração” vem do latim “ad orare”, que significa “para ser feito com a boca”, ou seja, “beijar”.
Esta expressão deve ser entendida na cultura da Antigüidade, ainda hoje seguida em alguns segmentos sociais (como a Igreja Romana, por exemplo), em que o beijo é um gesto de reconhecimento da autoridade de alguém.
Assim, “adorar” é reconhecer a autoridade de uma pessoa e se inclinar diante dela, curvar-se a seu senhorio e a sua superioridade. Adoraremos a Deus, portanto, quando reconhecermos a Sua autoridade, a Sua supremacia, quando agirmos de forma a mostrarmos às pessoas que é Deus quem manda em nossas vidas.
Quando o diabo pediu a Jesus para ser adorado (Mt.4:9), estava, precisamente, pedindo que Jesus reconhecesse uma superioridade do diabo sobre Sua vida, o que, como bem mostrou nosso Senhor, era um rotundo absurdo (Mt.4:10).
OBS: Digna de nota é a definição de “adoração” dada por Rick Warren: “…adoração é expressar o nosso amor por Deus, por quem Ele é, pelo que Ele disse e pelo que Ele está fazendo.…” (WARREN, Rick.Trad. de Carlos de Oliveira. Uma igreja com propósitos, p.235)
-Esta ideia contida na palavra latina, que deu origem a nossa palavra na língua portuguesa, é, precisamente, o mesmo sentido que possui os termos originais hebraico e grego nas Escrituras.
Sempre há a ideia de homenagem, de reconhecimento de soberania e supremacia de Deus sobre a vida daquele que está a adorar a Deus. É este, aliás, o sentido que vemos no Sl.2:12, quando o salmista fala “beijai o Filho”.
OBS: Muitas palavras hebraicas são usadas para “adorar”, mas a principal, encontrada em Gn.22:15, é “shachah”(שהח), enquanto que, em grego, a palavra é “proskyneo” (προσκυνέω).
-Em seguida, vemos que uma das características que temos da descendência piedosa de Sete, estava, precisamente, no fato de que era esta linha de descendentes que adorava a Deus.
A Bíblia informa-nos que, após o nascimento de Enos, o filho primogênito de Sete, passou-se a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26), ou seja, Deus passou a ser buscado, a ser procurado, a ser reverenciado.
O fato de esta linha de descendentes adorar a Deus, buscar reconhecer a sua autoridade, era o grande diferencial entre eles e os descendentes de Caim, a ponto de a Bíblia a eles se referir como sendo os “filhos de Deus” (Gn.6:2). Deus sempre irá manter um relacionamento de pai para filho com aqueles que O adorarem !
-Esta invocação ao nome do Senhor será uma constante na vida dos grandes homens de Deus, dos homens que eram agradáveis a Deus.
Noé, Abraão, Isaque e Jacó são exemplos de pessoas que, sendo agradáveis a Deus, têm, em suas vidas, o registro de construção de altares a Deus.
Ora, a construção de um altar para que nele se fizessem sacrifícios a Deus, é uma demonstração de que estes homens eram adoradores do Senhor, tanto que a palavra ” adorar”, como vimos, é registrada, pela primeira vez nas Escrituras, mencionada pelo próprio Abraão.
-Quando libertou o Seu povo do Egito, Deus instituiu, através da lei, uma série de ritos e cerimônias que deveriam materializar, tornar visível a adoração de Israel a Deus. Entretanto, é bom que deixemos claro, a adoração não se circunscrevia a aspectos meramente externos ou formais. Havia toda uma série de regras e
normas para que se trazer ofertas e sacrifícios a Deus, para a realização de festividades ao Senhor, mas Deus sempre tinha um vívido interesse de que o Seu povo não O adorasse apenas formalmente, de modo exterior e superficial, mas, bem ao contrário, que a adoração fosse nascida no espírito de cada israelita.
-Tanto assim é que, ao contrário do que se costuma dizer (principalmente entre os romanistas), o primeiro mandamento não é adorar a Deus sobre todas as coisas, mas, sim, a amar a Deus sobre todas as coisas (Mt.22:37), pois, para que haja uma verdadeira adoração, como nos mostrou o episódio de Caim e de Abel, é preciso, antes de mais nada, amar a Deus, pois só quando O amamos, fazemos o que Ele nos manda (Jo.15:14).
-Tanto assim é que Deus exige de Seu povo a obediência (Dt.32:46; Is.58:5,6), não realização de cerimônias ou rituais.
O nosso Deus é o mesmo e muitos têm se iludido achando que Deus Se agrada se cumprirmos tão somente os deveres litúrgicos, ou seja, se rendermos a Deus um culto formal em alguma igreja. Deus quer de nós, fundamentalmente, sinceridade e obediência à Sua Palavra, pois o obedecer é melhor do que o sacrificar (I Sm.15:22).
II – A ADORAÇÃO DA IGREJA
-Na nossa dispensação, não é diferente. Agora que Deus atua livremente, através do Espírito Santo, no interior de cada crente, temos uma adoração independente de locais ou rituais, uma adoração em espírito e em verdade, uma adoração de verdadeiros adoradores (Jo.4:24), que adoram a Deus a todo instante e mediante a sua própria vida, pois é uma adoração que vem do íntimo do ser humano, mediante uma convicção de que, em Cristo, somos filhos de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:.1,9,14-17).
-A Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma: “…Entendemos que a função primordial da Igreja é glorificar a Deus: ‘quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus’ (I Co.10:31).
Isso é feito por meio da adoração, da evangelização, da edificação de seus membros e do trabalho social. A Igreja foi eleita para a adoração e louvor da glória de Deus [Ef.1:11,12] …” (DFAD XI.6, p.122).
-A adoração para a Igreja é uma das suas razões de ser. Como é uma nação espiritual, a Igreja tem de ser formada por adoradores. Ser crente é ser um adorador. Como afirma Rick Warren, “…somente os crentes podem verdadeiramente adorar a Deus.
A direção da adoração é dos crentes para Deus. Glorificamos o nome de Deus na adoração, expressando o nosso amor e compromisso para com Ele. Os não-crentes simplesmente não podem fazer isso.…” (op.cit., p.235).
Com efeito, como se pode reconhecer a soberania de Deus sem que Deus seja nosso Senhor, sem que nos submetamos a Ele? Só quem se decidiu por ser “vara” na “videira verdadeira” (Jo.15:1-5) é quem pode, efetivamente, “adorar” a Deus.
-É por este motivo que Deus não aceitava os rituais, cerimônias e celebrações do povo de Israel quando este se encontrava em pecado, distante do Senhor.
Todos os sacrifícios, todos os rituais e todo o formalismo praticado pelo povo era considerado nada mais nada menos do que abominação para o Senhor (Is.1:11-15; Jr.6:20; 7:21-26; Am.5:21-27; Mq.6:6-8; Zc.7; Ml.1:6-14).
“Adoração” não é um ritual, não é uma celebração externa, mas o resultado de uma obediência a Deus, de uma submissão ao Senhor, de uma vida sincera de devoção e de prática da vontade de Deus.
-Ninguém mais do que a Igreja, a verdadeira e genuína Igreja, pode adorar a Deus, portanto. Somente aqueles que estão separados do pecado e separados para Deus tem condições de reconhecer a Sua soberania e de servi- l’O com coração inteiro.
-A “liturgia” (i.e., o “conjunto dos elementos e práticas de um culto religioso) era, na Antiguidade, a palavra pela qual se designava, mormente em Atenas, “…’contribuições (de origem sobretudo ritual) que o Estado exigia dos cidadãos para alívio de determinadas obrigações do poder público, entre as quais:
1) a trierarquia ou equipagem de uma trirreme;
2) a coregia ou obrigação de equipar e organizar um coro de dança em concursos líricos e dramáticos;
3) a gimnasiarquia ou organização dos jogos públicos;
4) a hestiase ou banquete oferecido a todos os cidadãos da tribo…’(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Era o “serviço público” (a palavra “liturgia” vem de “leitos”, povo e “ourgia”, trabalho, serviço).
OBS: Embora venhamos a falar disto dentro em pouco, desde já notamos que, em Atenas, a dança fazia parte da “liturgia”, ou seja, a dança é um componente do culto pagão, algo que, por óbvio, não pode adentrar no culto ao verdadeiro Deus. Não é, aliás, coincidência que o culto ao bezerro de ouro tivesse tanta dança…
-Pelo que se pode observar, portanto, o único povo que pode publicamente prestar um serviço a Deus, demonstrar um esforço para tributar a honra devida ao Senhor é o Seu povo, que é a Igreja.
-A “liturgia”, portanto, nada mais é que uma demonstração pública, visível, perceptível da submissão que temos a Deus.
Daí porque ser importante que haja uma “liturgia” nas igrejas locais, quando elas se reúnem para adorar a Deus, mas também é essencialmente importante verificarmos e termos consciência que esta “liturgia” é expressão externa de uma realidade interior.
Sem que sejamos verdadeiramente submissos a Deus, sem que sigamos a Sua vontade, que está na Sua Palavra, não teremos adoração, mas um mero formalismo que é abominável a Deus, que é algo que gera no Senhor asco e nojo, verdadeiro aborrecimento.
-O que se nota, também, quando falamos em adoração, que se trata de um serviço que tem a Deus como centro.
A adoração é feita em direção a Deus, Deus é o centro da adoração. Jesus foi claríssimo ao afirmar que somente devemos adorar a Deus (Mt.4:10). Como a Igreja é o povo de Deus, ainda que se apresentem outros deuses, só ao Senhor é que este povo adora, só ao Senhor é que este povo entoa louvores (Sl.138:1).
-Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “Cremos, professamos e ensinamos que a adoração é serviço sagrado, culto, reverência a Deus por aquilo que Ele é e por Suas obras: ‘Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás’ (Mt.4:10) …” (DFAD XV, p.143).
-No entanto, muitas pessoas, embora presentes e assíduas nas reuniões das igrejas locais, a que muitas, inclusive, pertencem, não se tem mais adoração a Deus, mas, sim, a muitos outros “deuses”. Lamentavelmente, muitos estão a adorar ao homem, que se tornou o centro das preocupações dos louvores, dos cânticos e da própria reunião.
-Já perceberam como o “eu”, como o crente é o centro das pregações, das letras dos cânticos e da própria “liturgia”? Por isso, as reuniões passaram a ser “shows” (seja de cantores, seja de pregadores), ou seja, exibições de pessoas e não uma reunião voltada para Deus.
Muitos querem e conseguem aparecer nestas reuniões e Deus só é lembrado como Aquele que é obrigado a saciar e satisfazer os desejos dos “adoradores” ali presentes. Que coisa abominável aos olhos do Senhor! Quantos ídolos são louvados e o Senhor, completamente esquecido.
OBS: Isto para não falar do “deus Mamom” (ou seja, as riquezas – Mt.6:24), que é o mais adorado, seja pelos que, gananciosamente, vão às igrejas locais para obter um meio sobrenatural de enriquecimento, seja pelos que, na direção desta reunião, não enxergam pessoas mas apenas consumidores, prontos a lhes fornecer o vil metal em “campanhas”, “sacrifícios” e “contribuições.
A propósito, é oportuno aqui registrar o que diz a respeito o pastor Hermes Barreto: “…qualquer pessoa que está dividida entre Deus e Mamom, já se decidiu por Mamom, porque Deus não divide a Sua glória com ninguém.…” (O maior sermão do mundo: a relevância do caráter cristão, p.81)
-A igreja é o corpo de Cristo. Jesus é a cabeça da Igreja. Assim, evidentemente, quando uma igreja local se reúne, deve mostrar ao mundo a Jesus Cristo.
Ele é quem deve ser visto, percebido, sentido, anunciado e crido. Infelizmente, o que cada vez mais se verifica nas igrejas locais é a evidência que se dá ao homem, às suas realizações, à sua posição, enquanto o nome do Senhor vai diminuindo mais e mais. Isto é uma demonstração cabal de que, onde isto está a acontecer, a Igreja está a diminuir.
Quanto menos Jesus, menos corpo de Cristo; quanto menos adoração, menos Igreja naquele local.
-A adoração faz com que as pessoas que não são salvas sintam a presença do Senhor Jesus. Quando adoramos ao Senhor, em espírito e em verdade, trazemos o Senhor até aquele local de uma forma especial. O Senhor Jesus disse que Deus procura a estes adoradores e disse que estaria onde estivessem dois ou três reunidos em Seu nome (Mt.18:20).
Destarte, quando nos reunimos em nome do Senhor, quando realmente O adoramos, Ele Se faz presente de uma forma toda especial, ou seja, como companheiro, como intercessor, como Salvador.
-A verdadeira adoração é a chave para sentirmos a presença do Senhor e para que haja salvação de vidas, operação de sinais e maravilhas, demonstração do poder de Deus.
Quando não há adoração, nada disso se verifica e este é um sinal patente da ausência de Deus numa determinada igreja local. Será que podemos dizer, em nossa igreja local, o que disse o poeta sacro do hino 144 da Harpa Cristã, o hino oficial das Assembleias de Deus: “Nós sentimos a santa presença do nosso querido Jesus”)?
OBS: “…Na adoração genuína, a presença de Deus é sentida, o perdão de Deus é oferecido, os propósitos de Deus são revelados e o poder de Deus é mostrado…” (WARREN, Rick. Trad. de Carlos de Oliveira. Uma igreja com propósitos, p.238).
-Por fim, a adoração precisa se fazer de modo a que os não-salvos possam compreender a presença de Jesus nas reuniões da igreja local e se decidir por Ele.
Um dos grandes problemas da Igreja é ter condições de ser capaz de “comunicar”, ou seja, “tornar comum” a presença de Deus aos não-salvos. Muitos deles, sem saber que estão a ter contacto com o Senhor Jesus, agem como os discípulos no caminho de Emaús que, embora sentissem arder seus corações, não sabiam que era por causa do Senhor (Lc.24:32).
Foi preciso que o Senhor Se lhes revelasse, para que entendessem o que havia sucedido. Este problema também foi apontado por Paulo na igreja de Corinto (I Co.14:8,9,22-25).
Assim, é importantíssimo que, nas reuniões das igrejas locais, possamos nos fazer entender por parte dos não-salvos, para que eles compreendam o que estão a sentir.
-Contudo, observemos que devemos nos esforçar para que os não-salvos compreendam o que é a presença de Deus em nossas reuniões, produzida pela nossa adoração. Isto é coisa muito diferente do que se está a fazer, que é reproduzir os atos mundanos e pecaminosos na igreja local, sob “roupagens cristãs”, para que “os não- salvos se convertam”.
Tornar a presença de Deus compreensível é, sobretudo, não pecar, não copiar o pecado, não inserir, dentro da igreja local, aquilo que é abominável a Deus. Jesus Se fez conhecer aos discípulos de Emaús, mas não pecou nem praticou coisa alguma do mundo para Se fazer conhecido.
Paulo também não recomendou coisa alguma do mundo para que os crentes coríntios revelassem Deus aos não-salvos.
Devemos usar as Escrituras e buscar a santidade e o poder de Deus e, fazendo isto de modo que possa haver comunicação aos não-salvos, teremos cumprido esta necessidade de transmissão da presença de Deus aos não-salvos.
III – MOTIVOS PARA ADORAR
-Como temos visto, a adoração a Deus é algo que faz parte da própria natureza do ser humano, é uma característica que acompanha o homem desde a sua feitura.
O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e Ele tudo deve a este Deus. A adoração estabelece os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como Seu servo.
-O primeiro motivo, portanto, para adorarmos a Deus está no fato de que Deus, o Senhor de todas as coisas, é o Criador de tudo, inclusive do próprio homem.
Quando adoramos a Deus, reconhecemos que Ele é o nosso Criador e manifestamos tal reconhecimento através da adoração. Todo homem é apresentado a Deus como sendo Sua criatura (Rm.1:20,21) e, através desta apresentação, deve o ser humano adorar a seu Criador.
Quando não o faz, desprezando a Deus, a Bíblia ensina-nos que são tais pessoas abandonadas pelo Senhor à sua própria sorte, gerando um sem-número de males e problemas para a humanidade rebelde, que se recusa a adorar o seu Criador (Rm.1:24-32).
-O segundo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos ama, de, apesar de ser o Criador, jamais desampara o homem, mas, muito pelo contrário, o ama e tem prazer em estar na companhia do ser humano.
Por amar o homem, Deus enviou Seu Filho para morrer por nós, quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8).
Jesus é a prova suprema deste amor, pois morreu por nós na cruz do Calvário (Jo.15:13). Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, em gratidão a este tão grande amor, reconhecemos Sua supremacia e procuramos render-Lhe culto, bem como fazemos o que Ele nos manda.
-O terceiro motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos salvou. Deus não somente amou o homem, mas providenciou a sua salvação através da pessoa de Jesus Cristo.
Em Cristo, temos novamente acesso a Deus, pois os nossos pecados são perdoados e não há mais separação entre nós e Deus (Rm.5:1; Ef.2:13,14). Assim, tendo em vista a salvação de nossas almas, temos um caminho que nos introduz à presença de Deus, o que torna possível a adoração direta e individual, o que, antes, não era possível ao homem pecador (Hb.10:19-22).
Podemos adorar a Deus, sem obstáculo, tendo como único mediador a Cristo Jesus (I Tm.2:5). Graças a salvação, temos uma comunhão eterna com o Senhor, como antes do pecado dos nossos primeiros pais, comunhão esta que perdurará para sempre na nova Jerusalém (Ap.21:2-4).
-O quarto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele precisa ser conhecido dos homens que ainda não O conhecem como Senhor e Salvador de suas vidas.
A missão principal dos servos de Deus neste mundo é anunciar a toda criatura o evangelho (Mc.16:15), ou seja, a boa notícia de que o reino de Deus é chegado e que os homens devem nele entrar através do arrependimento de seus pecados (Mc.1:14,15).
Deus somente será conhecido dos homens se nós O revelarmos através de nossas vidas e isto só será possível mediante a visibilidade da adoração.
Pela adoração, os homens poderão ver Deus em nós (Mt.5:16; At.6:15; II Co.3:18). Como diz conhecido cântico, devemos adorar o Senhor de modo que o “mundo possa ver a glória do Senhor em nossos rostos brilhar.”
-O quinto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que o necessário crescimento espiritual do crente depende da sua vida de adoração.
A vida espiritual é uma vida dinâmica, uma vida de contínuo desenvolvimento, pois não é possível haver uma vida estacionária, parada no campo espiritual. Se não avançamos espiritualmente, estaremos, necessariamente, regredindo.
Por isso, o escritor da epístola aos Hebreus diz que devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1) e o apóstolo Paulo afirma, somente ao final de sua vida, que tinha encerrado a sua carreira (II Tm.4:7).
Sendo uma vida espiritual algo dinâmico, precisamos estar em contínuo relacionamento com Deus, precisamos orar em todo o tempo, mantermos uma vigilância sem qualquer trégua ou interrupção, o que somente é possível se adorarmos a Deus a todo instante, a todo momento. São estes os adoradores que Deus está buscando (Jo.4:23).
–O sexto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós temos fé em Deus, porque confiamos n’Ele.
Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e, portanto, para que possamos adorar a Deus, render-Lhe culto e louvor, é indispensável que creiamos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam.
Nunca nos esqueçamos que Jesus, em muitas oportunidades, ao se dirigir às pessoas que O ouviam, fazia alguma observação a respeito da fé que elas possuíam.
–O sétimo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós amamos a Deus. Somente se amarmos a Deus poderemos adorá-l’O.
Quando amamos alguém, queremos estar sempre ao seu lado, queremos estar, constantemente, na sua companhia.
Ora, se amamos a Deus, desejamos estar sempre ao Seu lado, estar sempre em Sua companhia e não há outra forma de o fazermos senão através de uma contínua adoração a Ele. A igreja anseia pela contínua companhia de seu Noivo, de seu amado: ” o meu amado é meu e eu sou dele” (Ct.2:16a).
IV – A ADORAÇÃO CRISTÃ
-Como temos visto, a adoração é uma característica que acompanha o ser humano desde o início da sua existência. O homem foi feito para adorar a Deus.
Entretanto, com a entrada do pecado no mundo através do primeiro casal, esta característica do homem ficou obscurecida, sensivelmente abalada, a ponto de, já na primeira geração da humanidade após a expulsão do Éden, contemplarmos alguém que não adorou perfeitamente ao Senhor, a saber, Caim.
-Também já vimos que, quando Deus Se revelou plenamente ao homem, na pessoa de Jesus Cristo (Hb.1:1- 3), pudemos contemplar a própria glória de Deus (Jo.1:14) e, a partir de então, a adoração a Deus atingiu uma dimensão nunca antes vista, pois Deus passou a habitar no próprio homem, através do Espírito Santo (Jo.14:17), tornando a cada homem que aceite a salvação na pessoa de Cristo Jesus um templo do Espírito Santo (I Co.6:19).
Desta maneira, como Jesus disse à mulher samaritana, passamos a ser templos ambulantes, a ser adoradores do Pai em espírito e em verdade, não dependendo mais de locais pré-determinados para adoração, mas sendo pedras vivas do edifício de Deus (I Pe.2:5).
-A vida de um crente, portanto, a partir da consumação de obra de Cristo, passou a ser um altar, uma vida de adoração.
A adoração está presente em todos os atos da vida do crente, tanto que, por verem as obras de um cristão, os homens acabam por glorificar o nome de Deus, algo que, no passado, na antiga aliança, somente ocorria quando o povo se dirigia até o templo de Jerusalém.
-Devemos ter esta consciência de que a nossa vida é a base de toda a nossa adoração. Adorar a Deus significa servi-l’O a todo instante, a todo momento. Conhecida música popular brasileira afirma que ” qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa” e isto é uma grande realidade.
Há pessoas que, dizendo-se cristãs, preocupam-se em ter uma vida de adoração apenas nas quatro paredes do templo de sua igreja local, esquecendo-se totalmente de que devem ser templos do Espírito Santo.
-A adoração a Deus envolve estes momentos de culto a Deus, de devoção coletiva, como também os instantes de devoção individual, na nossa oração diária, na leitura da Palavra de Deus, mas a devoção é apenas um dos aspectos da adoração cristã, que vai muito além de tudo isto. Seremos verdadeiros adoradores de Deus se pudermos exclamar como Paulo: não sou mais eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gl.2:20).
-O primeiro aspecto da adoração cristã, portanto, é a nossa vida prática, são as nossas ações, os nossos gestos no dia-a-dia, no cotidiano. Como temos vivido? Temos realizado boas obras, de modo que as pessoas, ao verem o nosso porte, glorifiquem a Deus que está nos céus, como nos determina Jesus em Mt.5:46?
Nossas ações são movidas por amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança, que é o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22)? Jesus disse que conheceríamos as pessoas pelos seus frutos, não pelas suas palavras ou aparências (Mt.7:16,20).
O servo de Deus é reconhecido não pelo que fala, mas pelo que vive (Mt.7:22-27). Mantemos uma vida de integridade diante de Deus, tendo, em todo o tempo, uma vida de santificação contínua na presença do Senhor ? Temos nossas vestes limpas e óleo sobre a nossa cabeça? (Ec.9:8)
-O segundo aspecto da adoração cristã envolve a devoção a Deus. Qual é a nossa vida devocional? Temos um relacionamento espiritual com o Senhor?
Dedicamos parte do nosso dia para termos um contacto mais intenso e profundo com Deus? Oramos sem cessar? (I Ts.5:17) Jejuamos? (Mt.6:16-18) Meditamos na Palavra de Deus de dia e de noite? (Sl.1:2).
-É importante observar que a devoção a Deus é, em primeiro lugar, uma atividade individual. O salmista diz que é bem-aventurado o homem que meditar na Palavra do Senhor. Jesus afirma que a vida de oração deve ser individual, devemos entrar no nosso aposento e, em segredo, clamarmos a Deus.
Ele próprio nos deu este exemplo em mais de uma oportunidade (Mt.14:23; Lc.22:41). Com relação ao jejum, é também, em primeiro lugar, uma ação individual, imperceptível aos olhos dos demais.
-Depois de uma atividade individual, a devoção deve ser algo existente no seio da família, o grupo social mais íntimo do homem.
Abraão, pelo que podemos observar, era um homem que fazia com que todos os seus servos adorassem ao seu Deus, tendo os mesmos propósitos e os mesmos ideais (Gn.14:14; 22:5). Josué podia dizer que servia com sua casa a Deus, porque tinha uma vida devocional familiar (Js.24:15).
A vida ministerial de Timóteo só foi possível graças ao lastro que lhe proporcionou a vida devocional que teve em sua família, ainda que seu pai não fosse judeu (II Tm.3:14,15).
Um lar onde não haja um momento devocional, o chamado ” culto doméstico”, é, sem dúvida alguma, um alvo fácil e predileto do inimigo de nossas almas. Uma família que adora a Deus é o cordão de três dobras, que não pode ser facilmente desfeito (Ec.4:12).
Esta terceira dobra é, precisamente, o relacionamento existente entre os fundadores do lar (o casal) e o Senhor Deus, algo que é construído pela existência de uma adoração a Deus no seio familiar.
-Após as dimensões individual e familiar, temos a devoção na igreja local. A igreja, como o próprio nome diz, é a ” reunião daqueles que foram tirados para fora”, ou seja, a reunião daqueles que saíram do mundo e do domínio do pecado, que foram resgatados do lamaçal do pecado por Jesus e cujos pés foram colocados na rocha eterna (Sl.40:2).
-Não é possível uma vida devocional sem que haja a reunião na igreja local. A igreja local, a reunião dos crentes em Cristo, é algo necessário e indispensável para que tenhamos uma vida espiritual completa e de acordo com os padrões bíblicos.
-A igreja local não é uma criação humana, mas uma determinação divina. Desde o momento que Jesus subiu aos céus, determinou que Seus discípulos ficassem reunidos num mesmo lugar, para que pudessem desfrutar de uma maior intimidade com o Senhor (Lc.24:49; At.2:1).
-Percebamos que o revestimento do poder, o batismo com o Espírito Santo somente foi recebido por aqueles que se mantiveram reunidos no mesmo lugar, debaixo do governo instituído por Deus, na época, do governo dos apóstolos (At.1:15,26).
Foram mais de quinhentos crentes os que ouviram do Senhor a promessa do Espírito (I Co.15:16), mas apenas quase cento e vinte alcançaram a sua realização (At.1:15), porque só estes se mantiveram reunidos em adoração a Deus.
-O crescimento espiritual do crente depende do convívio na igreja local, da devoção coletiva. Embora seja importante que sejam mantidos grupos de oração, grupos de estudo, nada substitui o modelo bíblico da igreja local. As “células”, tão em voga nos nossos dias, não podem substituir as igrejas locais, pois.
-Na devoção coletiva, o povo de Deus, reunido, tem condições de se aperfeiçoar, pois é nesta reunião que os dons espirituais se manifestam (I Co.14:12,19), bem como é na igreja local que se exercem os dons ministeriais (Ef.4:11-16).
-Também, nas reuniões da igreja local, temos a presença de nosso Senhor, que assim nos prometeu (Mt.18:20). Por isso, é fundamental que estejamos sempre presentes nas reuniões da igreja local, para que desfrutemos da presença do Senhor e possamos completar a nossa adoração ao Senhor.
-Na dispensação da graça, como vimos, a adoração é feita em espírito e em verdade, de tal maneira que, com exceção do batismo nas águas e da Ceia do Senhor, não há atos fixos e cerimoniais rígidos na vida devocional coletiva da igreja.
Em assim sendo, devemos aceitar uma certa liberdade no modo de adoração ao Senhor, vez que não há padrões rígidos e fixos após a vinda do Senhor a este mundo. Daí porque as Escrituras dizerem que onde há o Espírito de Deus, aí há liberdade (II Co.3:17).
-É, por isso, que o culto da igreja cristã não pode ter representações visuais. Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:
“… Seguimos o modelo bíblico da adoração cristã sem nenhuma representação visual: ‘Então, o Senhor vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes semelhança nenhuma’ (Dt.4:12).
Aqui estão incluídas as coisas que estão nos céus e na terra, como manda o segundo mandamento do Decálogo [Ex.30:4,5]. Isso se faz necessário considerando, ainda a reverência a Deus: ‘Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade’ (Jo.4:24).
Assim, prestamos nossa adoração e nosso louvor em termos espirituais e imateriais sem o uso de imagens de escultura ou de qualquer outro tipo de representação [Dt.4:15-18; Jo.4:23,24] …” (DFAD XV, p.143).
-Contudo, a liberdade na adoração a Deus não significa, em absoluto, que não haja quaisquer regras ou parâmetros na devoção coletiva, na liturgia, que é o nome que os teólogos dão a esta ordem de culto a Deus na igreja local.
Liberdade, biblicamente falando, é algo que é feito debaixo da submissão da autoridade divina, algo que tem responsabilidade, não uma autonomia diante de Deus, muito menos uma libertinagem. Nosso Deus é um Deus de ordem e de decência e, como tal, a devoção coletiva deve observar estes parâmetros de nosso Senhor ((I Co.14:40).
-A Bíblia afirma que, quando a igreja se reúne, deve haver, na devoção coletiva salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, tudo com o propósito de edificação (I Co.14:20). Vejamos, pois, cada um destes momentos que deve haver na devoção coletiva a Deus.
-O primeiro ponto que deve existir numa vida devocional coletiva é o salmo, ou seja, o louvor. Quando Paulo se refere a salmo, está se referindo ao louvor, pois o salmo era a forma pela qual os judeus louvavam ao Senhor, já que os Salmos eram o hinário oficial de Israel.
Desde os tempos do Antigo Testamento, nas cerimônias e celebrações coletivas de adoração a Deus, estava presente um momento de louvor e de cântico.
As Escrituras ensinam-nos, em diversas partes, que tudo quanto tem fôlego deve louvar ao Senhor (Sl.150:6).
O ministério do louvor é o único ministério que perdurará após a glorificação dos salvos, pois os anjos não cessam de louvar a Deus e estaremos com o Senhor para sempre, louvando-o. Deste modo, é indispensável que a liturgia incorpore momentos de louvor na vida devocional coletiva.
-Entretanto, o louvor, como bem demonstra a Bíblia, é um sacrifício pacífico que se faz ao Senhor nesta dispensação (Hb.13:15). Sendo assim, há critérios que devem ser observados quanto ao louvor que deve ser entoado pela igreja ou na igreja por ocasião de nossas reuniões devocionais.
O louvor deve ser o fruto dos lábios que confessam o nome do Senhor (Hb.13:15), ou seja, o louvor é o resultado de uma vida de confissão a Deus, de uma vida de arrependimento dos pecados, de uma vida diferente daquela que é vivida pelos homens que não têm a salvação.
-Sendo assim, o louvor não pode ser igual nem tampouco semelhante à música que é seguida e observada pelo mundo sem Deus e sem salvação.
O louvor a ser entoado deve ter respaldo bíblico, não só com relação à letra, mas, e principalmente, com respeito à melodia e harmonia.
Devemos fazer distinção entre o santo e o profano (Ez.22:26;44:23), pois este é um dever de todo sacerdote (e cada um de nós é um sacerdote diante de Deus – I Pe.2:9). O louvor é fruto daqueles que demonstram não estar conformados com o mundo (Rm.12:2).
Como, então, poderemos demonstrar que estamos adorando a Deus, usando o fermento velho? (I Co.5:7,8).
É lamentável que estejamos numa época em que a música profana tem invadido completamente as nossas igrejas e ocupado o lugar dos nossos hinos sacros.
A Bíblia fala que o verdadeiro culto devocional coletivo a Deus se faz com salmos, ou seja, com hinos inspirados, santos e distintos das demais músicas, das músicas mundanas e profanas.
-É interessante, também, observar que, embora o salmo seja uma parte importante e indispensável da devoção coletiva, não é a que deve ocupar a maior parte do tempo da reunião.
A Bíblia mostra-nos que Jesus dedicou apenas uma pequena parte do culto de instituição da ceia para o louvor (Mt.26:30), hino, aliás, que, entendem muitos estudiosos da Bíblia Sagrada, seja o salmo 116 (ou seja, Jesus cantou um cântico selecionado, um cântico sacro, um cântico do hinário oficial de Israel).
O louvor é importante, mas é apenas um instante de preparação para o momento principal da reunião, que é a exposição da Palavra de Deus.
Hoje em dia, infelizmente, devido ao grande número de grupos musicais na igreja, sem se falar naqueles que preferem cantar individualmente, não raras vezes, três quartos do tempo da reunião são dedicados ao louvor, o que tem causado grande prejuízo espiritual ao povo de Deus.
O alimento do homem é a Palavra de Deus e o excesso de louvores tem contribuído para o raquitismo espiritual da igreja nos nossos dias. Precisamos voltar aos tempos passados, onde se ouviam até três mensagens numa reunião.
-O segundo ponto que deve estar presente numa reunião é a oração que, no texto mencionado por Paulo, é denominada de revelação, de língua e de interpretação.
É indispensável que a igreja, reunida, busque a Deus em oração, para que tenhamos uma verdadeira adoração e a presença de Deus se faça sentir no meio dos crentes. Cada crente deve, assim que chegar à igreja, buscar a face do Senhor, orar para que o nome do Senhor seja glorificado na reunião.
Nos dias antigos (e, atualmente, em outras denominações, que são tão criticadas por pontos secundários, mas que, neste aspecto, são muito mais reverentes e superiores a nós), o povo de Deus, ao chegar à casa do Senhor, dobrava seus joelhos e, numa atitude de reverência, seguindo o que determina a Bíblia Sagrada (Ec.5:1), orava ao Senhor até o início da reunião.
Hoje em dia, estarrecidos, observamos que os crentes aproveitam este período para falar da vida alheia, rever os amigos, marcar encontros, entabular negócios e tantas outras coisas, menos para buscar a Deus.
Acham que o culto começa no momento da oração inicial, quando, na verdade, não vimos à igreja para assistir a um culto, mas para prestarmos o nosso culto a Deus, juntamente com os demais cristãos, naquele local.
O culto na igreja começa quando ali chegamos e devemos aproveitar o nosso tempo para orar e buscar a presença de Deus. As reuniões não têm sido mais proveitosas espiritualmente para os crentes exatamente porque não há este propósito de orarmos ao Senhor desde o instante de nossa chegada à igreja local.
-Além deste momento de oração antes do início da devoção coletiva, deve haver alguns momentos de oração durante a reunião, onde são publicadas as necessidades dos santos à igreja local, para um intercessão, bem assim comunicados os agradecimentos pelas bênçãos recebidas.
Também este é o momento adequado para que se proceda a eventuais unções com óleo, que devem ser feitas exclusivamente sobre membros da igreja enfermos, que é a hipótese bíblica para unção na nova aliança (Tg.5:14).
Também, neste momento, deve-se abrir oportunidade aos irmãos que queiram testemunhar das maravilhas que o Senhor tem feito em suas vidas.
-A parte mais importante da devoção coletiva, entretanto, é a que diz respeito à exposição da Palavra de Deus. A explanação da Palavra é uma necessidade imensa do povo de Deus e um dos principais motivos para a sua reunião coletiva.
Se existe a igreja local, se existe este grupo com o devido governo constituído pelo Senhor, é, precisamente, para que haja o ensino da Palavra de Deus, tarefa primordial do ministério na casa do Senhor (cfr. At.6:2,4). Esta é a parte referente à doutrina mencionada por Paulo em I Co.14:26, o que deve ser gotejado incessantemente sobre a igreja (Dt.32:2).
Doutrina é a exposição da Palavra do Senhor, do evangelho, dos ensinos de Deus para o homem, não se confundindo com usos e costumes. Eis a razão por que é requisito indispensável para a separação de alguém para o ministério a sua capacidade de ensinar as Escrituras (I Tm.3:2).
Nossas reuniões devocionais devem dar prioridade à exposição da Palavra do Senhor com, no mínimo, duas pregações ao longo da reunião.
Antes do término da reunião, deve haver uma mensagem final de convite aos pecadores para que aceitem a Cristo como Salvador, o nosso conhecido “apelo”, que nunca deve faltar numa reunião devocional coletiva da igreja local, pois nosso objetivo primordial é ganhar almas para Jesus.
Infelizmente, muitos, por incrível que pareça, têm eliminado esta parte do culto, fazendo com que tenhamos sérias dúvidas de que tenham, ainda, consciência de que uma reunião devocional não é um mero ajuntamento social.
-Também faz parte da devoção coletiva a parte referente à contribuição financeira para o sustento da obra do Senhor.
As ofertas e os dízimos são parte de nossa devoção a Deus, de nosso compromisso com a pregação do Evangelho são parte integrante e indissociável da nossa adoração.
Não obstante, temos aqui apenas uma parte do culto devocional, que deve ser conduzida com moderação e devida explicação de seus objetivos aos ouvintes da Palavra de Deus, buscando-se, diante do mercantilismo reinante no mundo religioso dos nossos dias, haver um devido esclarecimento e, inclusive, relevando-se que se trata de uma obrigação dos crentes, não extensiva àqueles que estejam visitando a comunidade.
-A devoção coletiva, seguindo esta ordem, será, certamente, agradável ao Senhor, que Se fará presente e proporcionará não somente o aperfeiçoamento espiritual dos crentes reunidos, mas também ocasionará a salvação de vidas preciosas para o reino de Deus.
É necessário, entretanto, fazer, também, aqui, alguns comentários com respeito a certos aspectos que têm intrigado muitos cristãos nos nossos dias, práticas e costumes que têm sido introduzidos nos últimos tempos nas igrejas locais.
-O primeiro destes pontos refere-se ao uso de palmas nas reuniões devocionais coletivas. O uso de palmas não era desconhecido dos israelitas, como podemos verificar do Sl.47:1, passagem bíblica que tem sido utilizada por tantos quantos são favoráveis a esta prática na devoção coletiva.
O texto em análise, entretanto, é uma expressão poética, ou seja, temos ali uma linguagem figurada, não literal, de modo que não se pode aceitar que o texto permita inferir que as palmas tenham sido uma conduta observada pelos israelitas na sua devoção a Deus.
Mesmo que o texto fosse literal, trata-se de uma passagem isolada, sem qualquer outra repetição nas Escrituras, o que, conforme os princípios de hermenêutica bíblica, não autoriza que, com base nele, seja estabelecida uma doutrina.
Assim, diante da omissão da Bíblia Sagrada, em termos doutrinários e literais, a respeito desta prática, não podemos dizer que se esteja diante de um assunto sobre o qual haja um parâmetro bíblico.
-A história da igreja no Brasil mostra que este foi um ponto que se levantou apenas para justificar o surgimento de alguns movimentos e denominações pentecostais, uma forma de se tentar estabelecer diferenças para afirmação de ministérios e lideranças, o que reforça o caráter absolutamente secundário deste tema.
Deus abençoou grandemente o movimento pentecostal no Brasil até a década de 1950 sem que houvesse tal prática no meio do povo de Deus, como também tem abençoado as igrejas surgidas a partir de então que adotam tal prática.
Assim, mantenha-se cada um na vocação em que foi chamado (I Co.7:20), sendo reprovável do ponto- de-vista bíblico aquele que, tendo sido chamado por Deus a servir num determinado lugar, queira criar contendas em cima de um procedimento absolutamente secundário, revelando-se rebelde e insubmisso (I Tm.2:8; 6:3,4; II Tm.2:14; Tt.3:9).
-O segundo ponto refere-se ao uso de coreografia, ou seja, a existência de grupos de danças. Aqueles que se utilizam deste expediente usam como argumentos o fato de o povo de Israel usar, costumeiramente, da dança, como se pode observar em algumas passagens como em Ex.15:20 e 32:19, ou em Jz.11:24 e 21:21.
Entretanto, todas as vezes que vemos a dança no meio do povo de Israel, esta dança não estava relacionada com o culto formalmente estabelecido por Deus conforme a lei de Moisés. Sempre foram celebrações populares, resultantes da cultura profana do povo israelita, sem qualquer conexão com o cerimonial levítico.
Mesmo quando vemos Davi dançando, quando levava a arca para Jerusalém, isto se deu durante a subida da arca para Jerusalém, no caminho, não havendo registro de dança durante a realização dos sacrifícios, após a chegada da arca (II Sm.6:17,18). A dança, pelo contrário, estava presente nas festividades em honra ao bezerro de ouro (Ex.32:19).
-Vê-se, portanto, que não se trata de uma conduta que esteja, na Bíblia, relacionada ao culto devocional coletivo a Deus, motivo por que não deve ser adotado.
Mesmo em nossa cultura, a dança nunca esteve relacionada a uma utilização sagrada, mas, sim, profana, salvo no que diz respeito a cultos afro-brasileiros e indígenas, o que reforça, ainda mais, a sua total inadequação para os cultos dos crentes em nosso país.
Aliás, a experiência de tais expedientes tem revelado que, em muitos lugares onde houve a adoção de tal prática, houve a instalação de uma perigosa irreverência e de uma sensualidade que, em tudo, são avessos ao propósito que deve estar presente em nossa devoção coletiva.
-O terceiro ponto refere-se à presença de dramatizações e representações nas reuniões devocionais coletivas.
O teatro, diz-nos a história, foi a principal forma de educação religiosa entre os cristãos desde a Idade Média até a invenção da imprensa, no limiar da chamada Idade Moderna, em plena Reforma Protestante.
O teatro, que era um instrumento do culto pagão grego, acabou se tornando a única forma pela qual os cristãos ocidentais, analfabetos e sem acesso às Escrituras, puderam ter contacto com o evangelho e a Palavra de Deus durante o longo período em que a Igreja Romana teve o monopólio da produção cultural do Ocidente.
Não bastasse isso, a própria catequização dos índios brasileiros deu-se, fundamentalmente, através do teatro, como nos dão contas as inúmeras peças redigidas pelos jesuítas.
-Assim, o teatro apresenta-se, culturalmente, como uma forma de difusão do evangelho não só no Ocidente, como no Brasil.
A sua utilização, portanto, não se pode considerar como errônea, nem tampouco como nociva, desde que mantidos os parâmetros da ordem e da decência.
Infelizmente, muitos têm superado os limites do bom senso e do bom gosto, realizando dramatizações totalmente inspiradas em obras e expedientes totalmente avessos aos princípios bíblicos, como a utilização de holofotes, fumaça, ambiente à meia-luz e tantas outras inovações tecnológicas que são copiadas integralmente de apresentações artísticas que, não raras vezes, são comprometidas com o ocultismo e o satanismo.
-Deploramos, também, a realização de verdadeiros “shows” nas igrejas locais, para lançamento de produções artísticas, o que é totalmente contrário ao propósito estabelecido para a devoção coletiva, que é a adoração a Deus na beleza da Sua santidade e não o aproveitamento da oportunidade do ajuntamento do povo de Deus para a venda de produtos. Lembremo-nos que a casa de Deus é casa de oração e não casa de venda (Jo.2:16) nem covil de ladrões (Mt.21:13).
-O quarto ponto refere-se à concessão de tempo nas reuniões a autoridades constituídas e a candidatos a cargos eletivos, notadamente durante a campanha eleitoral.
O s que defendem que tais pessoas ocupem os púlpitos e tenham voz buscam respaldo bíblico em passagens como Rm.13:7, que manda honrar as autoridades constituídas. Não resta dúvida de que, vindo uma autoridade visitar a igreja local, deve ela ser recebida com a honra devida de seu cargo, de sua função. Entretanto, cessa aí o compromisso da igreja local e de sua liderança.
-A reunião devocional coletiva é para cultuarmos a Deus, para O adorarmos na beleza da Sua santidade, em espírito e em verdade, para louvarmos a Deus, ouvirmos a exposição da sua Palavra, orarmos e sentirmos o poder de Deus e a manifestação dos dons espirituais e ministeriais.
Uma autoridade constituída por Deus para o governo da sociedade nada tem a ver com isto, de modo que não deve ter qualquer oportunidade para falar de seus planos, projetos ou quaisquer outros assuntos alheios ao propósito da reunião.
Devemos dar a César o que é de César, mas a Deus o que é de Deus(Mt.22:21) e reunião devocional coletiva é algo que se faz a Deus, não a César.
-O quinto ponto refere-se à manifestação do dom espiritual de línguas e à ordem do culto com relação a isto. Temos baseado nosso estudo a respeito da liturgia em I Co.14:26, que faz parte, precisamente, do texto em que Paulo analisa este problema.
Embora seja um texto muito citado pelos evangélicos tradicionais, como forma de menosprezar e depreciar os pentecostais, o fato é que, ao lermos o ensino de Paulo a respeito, não há qualquer proibição ou restrição ao uso dos dons espirituais de línguas estranhas na devoção coletiva.
Paulo, apenas, fiel ao propósito que deve nortear uma reunião desta natureza, esclarece que, se alguém falar em língua estranha, deve fazê-lo de tal modo que não perturbe o desenvolvimento da reunião, pois a língua estranha, sem interpretação, é para a edificação individual e, numa reunião devocional coletiva, nós devemos buscar a edificação de todos, não a do indivíduo.
-Assim, se, num ambiente privado, devemos dar vazão às línguas estranhas que falarmos, pois estaremos na nossa intimidade com Deus, na reunião devocional coletiva, deveremos observar se Deus está nos dando a interpretação ou se alguém está sendo usado para tanto.
Caso contrário, devemos nos conter e impedir que as nossas línguas impeçam as demais pessoas de ouvir a mensagem da palavra de Deus ou o que estiver sendo realizado na reunião naquele momento.
-Temos de reconhecer que nossas igrejas locais não têm sido rígidas cumpridoras deste princípio bíblico e que devemos nos esforçar para que isto ocorra, pois devemos ser cumpridores da Palavra (Tg.1:22), mas usar esta falha para defender que não se devam falar em línguas num culto é puro preconceito religioso, sem qualquer respaldo bíblico, sendo, mesmo, uma postura diametralmente oposta ao que ensinam as Escrituras, que não admitem que se proíba falar em línguas estranhas (I Co.14:39; I Ts.5:19).
-O sexto ponto refere-se à manifestação do dom espiritual de profecia ou dos dons espirituais conjugados de língua e de interpretação. O texto já mencionado de I Co.14 é bem claro a respeito.
A língua com interpretação ou a profecia devem ser entregues para a igreja, pois são palavras diretas do Senhor para a edificação do Seu povo, sendo este um dos propósitos do ajuntamento dos servos de Deus na igreja local.
Não tem, portanto, qualquer sentido que se proíba que alguém profetize ou interprete uma língua estranha.
-Entretanto, tudo deve ser feito decentemente e com ordem. A Bíblia mostra, claramente, que o espírito do profeta está sujeito ao profeta, ou seja, o profeta (ou intérprete) tem plena consciência de que recebeu uma mensagem da parte de Deus e que deve entregá-la para a igreja, mas, também, sabe, perfeitamente, o que está se passando na reunião.
Assim, guiado pelo Espírito Santo, saberá o momento certo em que deverá entregar a mensagem. Se Deus determinar que a mensagem se dê no exato momento da sua recepção, providenciará que ela seja ouvida por todos, inclusive interrompendo alguma pregação que esteja sendo feita.
Caso contrário, o profeta ou intérprete deverá aguardar o término da exposição da Palavra para entregar a sua mensagem à igreja.
Deus não é Deus de confusão e, portanto, jamais irá permitir que alguém suplante aquele que está ministrando a Sua Palavra.
-O sétimo ponto refere-se a certas práticas que têm invadido as igrejas locais, tais como a “nova unção”, a “risada santa”, ” o vômito santo”, “o dom de lagartixa”, ” o cair pelo Espírito”, ” o sopro santo”, “o aviãozinho”, “adoração a anjos”, ” coreografia a anjos”, “o paletó ungido”, ” unção de lenços, carteiras de trabalho e outros objetos”, ” sessão de descarrego”, ” rosa ungida”, ” túnel de luz”, “o corredor dos trezentos”, ” corrente dos setenta”, ” sal grosso”, “a ingestão das ervas amargas”, “sono santo” e outras inúmeras inovações que têm aparecido nos últimos tempos, inovações estas que, muito propriamente, foram denominadas pelo jornalista evangélico Jehozadak Pereira de “neobesteiras”.
-São todas práticas que misturam feitiçaria, meninice, despreparo espiritual e, o que é primordial, ausência de exposição da Palavra de Deus.
As pessoas têm sede espiritual e, como não tem havido a ministração da Palavra de Deus em muitos lugares, tem sido necessário impactá-las com invenções e subterfúgios, para que, emocionalmente tocadas, estas pessoas sirvam aos propósitos, quase sempre monetários, dos alardeadores destas invenções, que têm sido hábeis instrumentos do inimigo para escândalo e descrédito do evangelho de Jesus Cristo no meio do povo.
-Busca-se, hoje, emocionar os ouvintes, levá-los a um instante de êxtase, a uma experiência sobrenatural de curta duração e de grande intensidade, tal qual se vê nos cultos afro-brasileiros, nos movimentos esotéricos influenciados pela Nova Era.
É a troca de uma vida comprometida com Deus por uma vida de experiências imediatas e emocionalmente fortes, mas sem qualquer solidez espiritual, não raro com manifestação de poderes malignos, pois a mentira e o engano são próprios do diabo (Jo.8:44). Tomemos cuidado, queridos irmãos, rejeitemos estes ventos de doutrina e não abandonemos a simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3).
Deus não quer espetáculo, nem precisa de espetáculos para Se manifestar, mas atuará e Se manifestará sempre que tiver corações contritos e espíritos quebrantados dispostos a servi-l’O e adorá-lO (Sl.51:17), dispostos a se arrepender de seus pecados e buscar uma vida de santificação(Hb.12:14; Ap.22:11).
OBS: Este descompromisso com uma vida de efetiva comunhão que estas práticas acabam gerando nos fiéis é algo que não tem sido deixado despercebido pelos especialistas, como o sociólogo da religião Antonio Flávio Pierucci, como se vê em trecho de artigo a respeito do assunto: “
…Veja-se o caso brasileiro. Ao lado da visibilidade cada vez maior do estilo new age de religiosidade mágico-terapêutica, as religiões institucionalizadas que mais se expandem no Brasil são, em primeiro lugar, as igrejas protestantes de extração pentecostal.
Entre as pentecostais, são as ‘neo’ que mais prosperam: Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça Divina, Renascer em Cristo…Mesmo entre as igrejas protestantes históricas, os ramos que mais crescem são aqueles que se deixaram de algum modo pentecostalizar, no estilo de culto e de pregação, tanto quanto no estilo de vida.
No interior do catolicismo, o movimento mais dinâmico e expansivo é o dos chamados católicos carismáticos. Pois bem. Essas exitosas formações religiosas e seus motivados profissionais oferecem um tipo de religiosidade ‘ experiencial’, digamos assim, que é muito pouco exigente eticamente, mas muito eficiente misticamente.
Ou seja, as religiões mais bem-sucedidas são aquelas que, à maneira das religiões classicamente mágicas, como o candomblé, a umbanda e as outras afro-brasileiras ou o próprio catolicismo popular, estão deixando de inculcar nos fiéis uma pauta coerente de conduta ética metódica e, excusado dizer, duradoura. Passaram a oferecer serviços lábeis (…) vias de salvação mágicas ou mágico-místicas.
Caracteriza tais serviços o fato de serem tópicos, não permanentes e de consumo imediato, o mais das vezes oferecidos em troca de pagamento…” (Religião. Folha de São Paulo, cad. Mais, 31.12.2000, p.20-1).
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10317-licao-10-a-ceia-do-senhor-a-segunda-ordenanca-da-igreja-i-2