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LIÇÃO Nº 11 – O ZELO DO APÓSTOLO PAULO PELA SÃ DOUTRINA

 

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da vida e ministério do apóstolo Paulo, veremos o zelo dele para com a sã doutrina.

– Paulo era zeloso com a doutrina.

I – O QUE É DOUTRINA

– Na sequência do estudo da vida e ministério do apóstolo Paulo, veremos o zelo, o cuidado que o apóstolo tinha com a sã doutrina.

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– Mas o que vem a ser doutrina?

– Doutrina é palavra de origem latina, cujo significado é “conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas”.

Em latim, “doctrina” significa “ensino, instrução dada ou recebida, arte, ciência, doutrina, teoria, método”.

Assim, a doutrina é um ensinamento, uma instrução que alguém dá a outrem. Aliás, a palavra “doctrina” é derivada de “docere”, que significa ensinar.

Doutrina, portanto, é um ensinamento, um ensino, uma instrução que alguém que sabe (o sábio ou “doutor”) dá a alguém que não sabe
(o aprendiz).

– Vemos, portanto, pelo seu significado latino, que “doutrina” significa ensino e, portanto, quando falamos em “doutrina bíblica” estamos a falar no “ensino da Bíblia”.

Ora, a Bíblia é a Palavra de Deus e, portanto, o “ensino da Bíblia” nada mais é que o ensino da Palavra de Deus, o ensino de Deus ao homem. “Doutrina”, portanto, é o ensino que Deus dá ao homem a partir da Sua Palavra, da revelação divina à humanidade, que consta da Bíblia Sagrada.

– A primeira vez que surge a palavra “doutrina” nas Versões Almeida (Revista, Corrigida, Fiel e Contemporânea) é em Dt.32:2, onde, no cântico de Moisés, consta a expressão “goteje a minha doutrina”,

palavra que é a tradução de “leqach”, cujo significado é “ensino”, “instrução”, tanto que a palavra é traduzida por “ensino” em outras versões bíblicas (como a Tradução Brasileira, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje e a Nova Versão Internacional).

Neste primeiro aparecimento da palavra, ainda que em um contexto poético, percebe-se claramente que Moisés considera que todos os ensinos que havia dado ao povo de Israel, ensinos estes que eram resultado da revelação divina ao próprio Moisés,

constituíam ensinos que deveriam ser continuamente ministrados ao povo e que representavam para este povo a sua própria fonte de vida, a sua própria renovação, pois deveriam estes ensinos “gotejarem”, ou seja, pouco a pouco, de forma contínua e permanente, cair sobre o povo, a fim de lhe dar vida, assim como a chuva e o orvalho, pela manhã, fazem em relação à terra.

– Esta expressão de Moisés, também, mostra-nos que a doutrina é algo que vem do alto, que vem do céu, seja na forma de chuva, seja por meio da condensação do vapor d’água encontrado no ar (o orvalho), indicando-se que a doutrina não é obra do homem, mas resultado da revelação divina, de um ensino vindo diretamente da parte do Senhor.

– Por fim, a expressão de Moisés dá-nos a nítida noção de que o trabalho da doutrina é manter a vida e uma vida renovada no ser humano, pois é comparada ao chuvisco sobre a erva e a gotas d’água sobre a relva. Todos nós já divisamos, pela manhã cedinho, o orvalho que está a manter molhadas as ervas e a relva, mantendo-as bem verdes, dando-lhes vida, vigor e exuberância (i.e., beleza).

Os campos verdes, pela manhã, aquele frescor que sentimos quando nos encontramos em uma área verde logo pela manhã, que tão bem nos faz à saúde, é o resultado desta ação refrescante da chuva e do orvalho.

Este é o papel da doutrina em nossa vida espiritual: refrigério para a nossa alma, renovação de nossas forças espirituais, concessão de beleza e de prazer aos nossos corações e a todos quantos travam contacto conosco.

Bem se vê, portanto, que bem ao contrário dos que dizem que a doutrina torna o homem insensível a Deus, vemos que o papel da doutrina é precisamente o de nos conceder vida, vida abundante, refrescor e sensibilidade diante de Deus e dos homens.

– A segunda vez que vemos a palavra doutrina nas Versões Almeida é em Jó 11:4 (é importante lembrarmos que Jó seja, talvez, o livro mais antigo da Bíblia e, portanto, a sua referência seria anterior mesmo a de

Dt.32:2), que é a mesma palavra “leqach” já mencionada. Aqui, um dos “amigos” de Jó, Zofar, acusa Jó de dizer que a “sua” doutrina era pura e que ele se sentia limpo aos olhos de Deus.

A palavra “doutrina”, aliás, também é empregada pela Tradução Brasileira, pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje e pela Nova Versão Internacional.

Temos o mesmo significado do texto anterior. Embora se esteja a referir a um conjunto de ensinos de Jó, Zofar está a considerar que o patriarca é presunçoso ao querer dizer que seus ensinos são provenientes da parte de Deus.

Doutrina continua a ser considerada como um ensino vindo da parte de Deus, um ensinamento com origem no céu.

– A palavra “doutrina” somente reaparecerá no livro de Provérbios, onde, na Versão Almeida Revista e Corrigida e na Edição Contemporânea de Almeida, é encontrada em Pv.1:8, 4:2, 13:14 e 16:23. Em Pv.1:8, é tradução da palavra “muwcar”, que a Versão Almeida Revista e Atualizada preferiu traduzir por “instrução” e a Fiel e Corrigida por “ensinamento”.

Com efeito, aqui se tem, basicamente, a ideia de uma orientação, de um ensino feito com base em repreensão e castigo, algo próprio da autoridade paterna.

– Já em Pv.4:2, temos a repetição da palavra “leqach” e a opção das versões pelo uso da palavra “doutrina”, que, no contexto, se refere ao ensino da Sabedoria, verdadeira personificação de Deus na linguagem do proverbista.

Este ensino, além de vir do alto, é tido como bom. Fala-se da “boa doutrina”, a nos indicar que o ensino de Deus ao homem é bom por duas razões: a primeira, porque sendo um ensino de um ser que é bom (e não há ser bom a não Deus – Mt.19:17; Mc.10:18, Lc.18:19), ele só poderia, mesmo ser bom; a segunda, porque é um ensino que produz o bem aos que o aprendem.

Além do mais, o proverbista faz uma correlação importantíssima: a boa doutrina não nos permite que deixemos a Sua lei.

“Boa doutrina”, portanto, não é aquela que se apresente brilhante do ponto-de-vista intelectual nem que consegue acomodar as nossas crenças e o nosso modo de vida, mas única e exclusivamente aquela que estiver de acordo com a lei do Senhor, com a Palavra de Deus.

– Em Pv.13:14, na Versão Almeida Revista e Corrigida bem como na Almeida Fiel e Corrigida, a palavra

“doutrina” é utilizada para traduzir “torah”, palavra que é comumente traduzida por “lei”, mas cujo significado é mais precisamente “instrução”, “ensino”. Aqui se diz que “a doutrina do sábio” é fonte de vida para se desviar dos laços da morte.

A doutrina do sábio não é, propriamente, do sábio, pois, como nos ensina o próprio proverbista, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pv.9:10), no que é acompanhado pelo salmista (Sl.111:10).

Portanto, a “doutrina do sábio” outra não é senão a Palavra de Deus e só ela é capaz de dar origem à vida e nos desviar dos laços da morte. A doutrina, como se vê, portanto, é o próprio fator criador da vida espiritual e da sua manutenção até o fim.

OBS: A propósito, ensina-nos Nathan Ausubel que a Bíblia, para os judeus, no seu sentido singular de Torah, “…tem sido considerada pelos fiéis como redentora, quando entendida como forma total de vida…” (AUSUBEL, Nathan. Bíblia. In: A JUDAICA, v.5, p.77).

– Jesus, certa feita, disse que tinha vindo para trazer vida e vida em abundância (Jô.10:10). Disse, também, que Ele próprio era a vida (Jo.14:6), bem como o pão da vida(Jo.6:48). Ao Se dizer a vida, também disse ser a verdade (Jo.14:6) e a verdade, disse em outra oportunidade, é a Palavra de Deus (Jo.17:17).

Por isso, a doutrina, enquanto ensino da Palavra de Deus, só pode, mesmo, ser a fonte de vida, de modo que não tem qualquer sentido alguém vir a dizer que o estudo, o aprendizado da Palavra de Deus seja causa de morte (interpretando, fora de contexto e sem qualquer fundamento, a expressão “a letra mata” de II Co.3:6).

Bem ao contrário, é a doutrina quem nos desvia dos laços de morte, como, aliás, tivemos oportunidade de estudar no segundo trimestre deste ano, quando vimos que só o conhecimento da doutrina da Palavra de Deus nos impede de sermos enganados pelas falsas doutrinas, heresias e modismos que proliferam com cada vez maior intensidade à medida que se aproxima o dia da volta de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

– Em Pv.16:23, a Versão Almeida Revista e Corrigida utiliza a palavra “doutrina”, que é a mesma palavra hebraica “leqach”.

Entretanto, tal versão ficou isolada nesta tradução, pois a Versão Atualizada traduziu o termo por “persuasão”, a Fiel e Corrigida por “ensino” e a Edição Contemporânea por “instrução”. De qualquer modo, em que pese o isolamento da versão, temos aqui um outro ensino relevante a respeito da doutrina.

É a circunstância de que a doutrina vem do coração, ou seja, o que o sábio ensina é o que lhe vem do coração e, sabemos, que o princípio da sabedoria é o temor do Senhor. Por isso, o que vem do coração do sábio é o que aí foi colocado pelo próprio Espírito Santo e, portanto, temos que a doutrina nada mais é que o resultado da operação do Espírito Santo na vida de alguém.

O próprio Jesus nos ensina isto ao dizer que o Espírito Santo, que Ele mandaria para ficar com os Seus servos, nos ensinaria todas as coisas e nos faria lembrar de tudo quanto Jesus, a Palavra, havia dito (Jo.14:26).

Vemos, pois, que a doutrina nada mais é que o resultado do ensino do Espírito Santo, o nosso Mestre por excelência.

Mais uma vez, portanto, sem qualquer fundamento quem acha que o estudo doutrinário é uma exaltação humana. Bem ao contrário, o que temos é uma demonstração de submissão do homem, de reconhecimento da soberania e supremacia divinas.

– A palavra “doutrina” reaparece na Versão Almeida Revista e Corrigida em Is.29:24, onde, mais uma vez, traduz “leqach”, sendo seguido pela Fiel e Corrigida, já que a Atualizada e a Edição Contemporânea traduzem o termo por “instrução”.

No texto, é dito que os murmuradores aprenderiam doutrina quando houvesse a santificação que o profeta prometia para o povo do Senhor. A santificação e o temor a Deus fariam com que os murmuradores, ou seja, aqueles que se queixam de Deus, que se rebelam contra o Senhor, viessem a aprender “doutrina”.

Vemos que a “doutrina” só é aprendida por quem se separa do pecado, por quem se submete ao Senhor, por quem prima por uma vida de comunhão com Deus. Por isso, sentimos muita preocupação ao saber que muitos crentes, na atualidade, fogem dos “cultos de doutrina”, dos “cultos de ensino”, prova de que não estão a se santificar.

– A Versão Almeida Revista e Corrigida menciona “doutrina” em Is.42:4, para traduzir, desta feita, “torah”, sendo seguida pela Versão Atualizada.

Já a Edição Contemporânea e a Fiel e Corrigida preferiram traduzir o termo por “lei”, mas, como dissemos supra, o termo “torah”, embora tenha adquirido a conotação de “lei” tem como seu significado o de “instrução”, de “doutrina”.

OBS: “…Há entre muitos judeus, e também cristãos, uma noção errônea muito difundida de que a tradução exata de ‘Torah’ é ‘Lei’. Esse erro, provavelmente involuntário em sua origem, foi sem dúvida cometidos pelos tradutores judeus de Alexandria, no século III a.E.C., que prepararam a versão grega da Bíblia, denominada Septuaginta.

Estimulados, provavelmente, pela predileção pela lei característica do ambiente cultural helenista, traduziram de maneira incompleta o conceito da palavra hebraica, fazendo-a aparecer como ‘Lei’.

Uma vez que a versão Septuaginta das Escrituras era quase universalmente usada pelos judeus fora da Judéia e das regiões de língua aramaica do mundo greco-romano — poucos judeus ali sabiam hebraico ou mesmo aramaico (targum) — era natural que a tradução de Torah como ‘Lei’ entrasse nas obras judaicas pós-bíblicas escritas em grego ou traduzidas do hebraico para a língua grega.(…).

O conceito de Torah entre os judeus, no entanto, é muito mais amplo e mais profundo do que tão somente a ‘Lei’: no seu sentido etimológico completo, ‘Torah’ também tem a conotação de ‘doutrina’, ‘instrução’ e ‘orientação’.

Mesmo o exame mais superficial do Pentateuco comprova que a Torah tenta ser um inspirado guia absoluto para toda a crença e o culto, e abranger todas as ramificações da conduta individual e social. É, portanto, uma supersimplificação encarar a Torah como sendo somente ‘Lei’.

A Torah também é uma crônica genealógica dos primórdios de Israel e inclui as biografias de seus ilustres antepassados e dos primeiros líderes. Além disso, é um sermão fervoroso: ensina e moraliza ininterruptamente.

Exorta, incansavelmente, o israelita como indivíduo como a coletividade inteira de Israel, a esquivar-se das más ações e tomar os caminhos da verdade, da virtude, da misericórdia e da justiça, imitando os próprios atributos de Deus; a abandonar a adoração de ídolos e a encontrar Deuys vivo na prática do preceito ‘Ama teu próximo como a ti mesmo’, o qual, como disse Rabi Akiva no século II, é o princípio central da religião judaica.…” (AUSUBEL, Nathan. op.cit., p.81-2).

– Ao nos depararmos com este texto do profeta Isaías, vemos claramente que o Servo do Senhor prometido para o futuro seria alguém que traria a “doutrina” de Deus para as ilhas, isto é, até as extremidades da Terra.

Neste texto, vemos que a missão de Jesus, o Messias, o Servo do Senhor, era o de levar a “doutrina” do Senhor para toda a Terra, “torah” que havia sido dada inicialmente só a Israel.

Por isso, ao iniciar Sua pregação, o Senhor conclamou Seu povo ao arrependimento e a crer no Evangelho(Mc.1:14,15), o mesmo que determinou que fizéssemos depois de Sua ascensão ao céu (Mc.16:15).

O “evangelho” é a “doutrina de Cristo”, é a “doutrina de Deus”. Por isso, não podemos crer em qualquer outra doutrina, em qualquer outro evangelho, ainda que seja trazido por anjos (Gl.1:8).

– Após o prenúncio da atuação de Cristo com relação à doutrina em Isaías, encontraremos apenas a palavra “doutrina” em o Novo Testamento, mais precisamente, em Mateus, onde o termo aparece, na Versões Almeida (Revista e Corrigida, Fiel e Corrigida, Atualizada e Contemporânea) em 7:28, 16:12 e 22:33(neste versículo, a Edição Contemporânea traduz a palavra ‘didaché’ por “ensino”), termo que é tradução de “didaché” (διδαχή), cujo significado é muito similar ao de “leqach”, pois quer dizer “instrução”, “ensino”, “o que é ensinado”.

– Nas três referências de Mateus, a palavra “doutrina” é utilizada para designar o conjunto de ensinamentos ministrados ao povo, sejam os ensinos de Jesus (7:28 e 22:33), seja os ensinos dos fariseus (16:12).

“Doutrina”, portanto, é um conjunto de ensinos, a coleção dos ensinamentos que os mestres dos tempos de Cristo ensinavam, seja Ele próprio, seja o dos fariseus.

– Nas referências de Mateus, a doutrina de Jesus é apresentada como algo que admira, que causa assombro para os ouvintes, mostrando ser algo diferente, algo que não se confundia nem com a religiosidade existente, nem com as filosofias que também faziam parte dos discursos e ensinos ministrados naquela época.

A doutrina de Jesus, portanto, como se pode observar é algo que não obedece a culturas, a costumes, nem à lógica humana.

– Em Mateus, também, vemos que a doutrina religiosa baseada na formalidade, na aparência exterior, no preconceito, nos rituais, nas cerimônias é uma doutrina que não tem o amparo nem a aprovação divinos, tanto que o Senhor fez questão de chamar tal doutrina de “fermento”, determinando aos Seus discípulos que jamais acolhessem, em seus corações, uma doutrina desta natureza.

Já aqui vemos que o Senhor bem diferençava entre doutrina e costumes, entre doutrina e aspectos de somenos importância criados pelos homens para seu engrandecimento próprio.

– É assaz importante observar que a palavra grega “didaché” possui um significado passivo, ou seja, em muitas ocasiões seu significado é “o que é ensinado”, como a demonstrar que a “doutrina” não é algo que seja criação humana, mas, sim, algo que é recebido pelo homem da parte de Deus.

A “doutrina”, portanto, não é algo que venha da imaginação ou da mentalidade de um homem, mas, sim, única e exclusivamente aquilo que tem origem em Deus.

Não foi à toa que, no mesmo evangelho segundo Mateus, vemos a expressão esclarecedora do Senhor: “aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt.11:29b).

– Este é o mesmo significado que encontramos nos outros dois evangelhos sinóticos. Em Marcos e em Lucas, a doutrina é apresentada como o conjunto de ensinamentos de Cristo, ensinamentos estes que causavam admiração por parte do povo, que também sentia que era um ensino que vinha de quem tinha autoridade, ou seja, de quem vivia aquilo que ensinava (Mc.1:27; 4:2; 11:18; Lc.4:32).

– Não é diferente no evangelho segundo João. Neste evangelho, escrito para mostrar que Jesus é o Filho de Deus, está uma das mais importantes afirmações bíblicas a respeito da doutrina. Interpelado sobre Seus ensinos, o Senhor Jesus limitou-se a dizer: “…A Minha doutrina não é Minha, mas dAquele que Me enviou.

Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se Eu falo de Mim mesmo.” (Jo.7:16,17). 

– Jesus mostra-nos, claramente, que a Sua doutrina outra não era senão a doutrina do Pai. A doutrina não fala do próprio doutrinador, mas, sim, de Deus e somente quem vivenciar a doutrina, quem nela crer e por ela viver, verá que esta doutrina é a verdade, que esta doutrina é a vontade de Deus.

A doutrina é a manifestação da vontade de Deus para o homem. Seguir a doutrina é seguir a vontade de Deus para o homem e é por isso que muitos se têm levantado contra a doutrina, porque ela implica na renúncia do eu, na renúncia do ego, na renúncia de nós mesmos, sem o que é impossível seguir a Jesus (Mt.16:24). Daí porque Jesus foi interrogado pelo sumo sacerdote a respeito de Sua doutrina (Jo.18:19).

– Se temos a doutrina de Cristo, se a seguimos, não podemos, portanto, ser diferentes. A doutrina tem de ser a mesma e, neste passo, os doutrinadores não podem querer aparecer ou dizer o que é certo ou o que é errado, como muitos têm feito e já o faziam nos tempos apostólicos, onde já se registravam doutrinas de homens (Mt.15:9; Mc.7:7; Cl.2:22) e até doutrinas de demônios (I Tm.4:1).

Devemos permanecer na doutrina de Cristo, pois quem não persevera nesta doutrina não tem a Deus (II Jo.9).

– Esta doutrina foi mantida pelos apóstolos e tal circunstância nos mostra, claramente, que é a doutrina que deve ser seguida pelo povo de Deus, pela Igreja.

A primeira nota característica que se escreve a respeito dos salvos reunidos para fora do mundo, a partir do dia de Pentecostes, foi o fato de que “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At.2:42).

Na igreja primitiva, o trabalho dos crentes outro não era senão encher Jerusalém da doutrina (At.5:28). A preocupação dos apóstolos era orar e ensinar a Palavra de Deus à igreja, ou seja, dar doutrina (At.6:2,4).

Com estas informações que nos vêm do texto sagrado, temos alguma dúvida por que a igreja prosperava e a todo instante o Senhor acrescentava aqueles que haviam de se salvar (At.2:47) ? Simplesmente porque dava o primeiro lugar, em sua atividade, à doutrina !

– Esta primazia da doutrina foi sempre uma característica da igreja nos tempos apostólicos. Vemos que o procônsul Sérgio Paulo se admirou da doutrina pregada por Paulo (At.13:12), que não era de Paulo, mas do Senhor, como também, em Atenas, quiseram os filósofos do Areópago ter conhecimento da nova doutrina, precisamente a que era ensinada pelo apóstolo (At.17:19).

– Paulo, por sinal, em seus escritos, sempre demonstrou sua preocupação para que a doutrina tivesse sempre um espaço privilegiado não só na vida de cada crente, mas nas igrejas locais, pois entendia que ser salvo era ter adotado uma nova doutrina (Rm.6:17),

que os inimigos dos crentes são os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina (Rm.16:17), que um culto não tem sentido se não houver doutrina (I Co.14:6,26),

que a vida familiar deve ser construída, notadamente a educação dos filhos, pela doutrina do Senhor (Ef.6:4), que a vida do ministro está indissociavelmente vinculada ao ensino e à observância da sã doutrina (I Tm.1:3,10; 4:6,16; 5:17; 6:1,3; II Tm.4:2,3; Tt.2:1,7,10).

– O autor aos hebreus também demonstrou sua preocupação para com a doutrina, mostrando ser ela o verdadeiro alicerce que impede a apostasia do crente (Hb.6:1,2).

O apóstolo João, também, mostrou a necessidade de o crente sempre observar a sã doutrina e nela perseverar (II Jo.2,9), bem assim, no Apocalipse, registrando as palavras do Senhor Jesus para as igrejas da Ásia, mostrou quão abominável é ao Senhor que os santos se desviem dos santos caminhos por causa de outras doutrinas (Ap.2:14,15 e 24).

II – PAULO E A DOUTRINA

– Conforme já dissemos, o apóstolo Paulo sempre demonstrou sua preocupação para que a doutrina tivesse proeminência na Igreja.

– Não poderia ser diferente, porquanto Paulo, em sua formação, sempre foi alguém que deu valor ao estudo, seja o da filosofia, seja o da lei de Moisés. Sabia, portanto, que é nas Escrituras que está a vida eterna (cfr. Jo.5:39).

– Na lição passada, vimos como o apóstolo identifica o amor de Jesus pela Igreja como o cuidado que o marido tem para alimentar e sustentar a sua mulher, tendo o apóstolo identificado a lavagem da água, pela Palavra, como um dos cuidados especiais do Senhor Jesus para com a Igreja (Ef.5:26).

– Paulo sabia que o testemunho de Jesus estava nas Escrituras e que o estudo da Palavra era fundamental para que se tivesse a salvação e a perseverança, mediante a santificação.

– A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), de modo que não há como se ter a salvação das pessoas sem a pregação da Palavra de Deus, pois, para crer é preciso ouvir e, para ouvir, é preciso que alguém pregue (Rm.10:13,14). E a pregação é a pregação de Jesus Cristo, a pregação do Evangelho (Rm.1:16; 10:16).

– Por isso, ao se dirigir aos crentes de Corinto, o apóstolo começa dizendo que a vida espiritual daqueles salvos começava pelo enriquecimento em toda a palavra e conhecimento em Cristo (I Co.1:5) ou, falando aos efésios, mostra que quem espera em Cristo,

fá-lo porque ouviram a palavra da verdade, o evangelho da nossa salvação e, tendo nele também crido, fomos selados com o Espírito Santo da promessa (Ef.1:13), ou, ainda, aos crentes de Colossos, cuja fé, amor e esperança eram resultados de terem ouvido a palavra da verdade do evangelho (Cl.1:4-6).

– Paulo sabia que as palavras de Jesus, testificadas pelas Escrituras, eram palavras de vida eterna (cfr. Jo.6:67). Ele sabia que as palavras de Cristo eram espírito e vida (Jo.6:63).

– A vida eterna é o conhecimento de Deus como o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo como o enviado de Deus (Jo.17:3) e esta verdade bíblica anunciada por Cristo na Sua oração sacerdotal foi vivenciada pelo apóstolo que, em razão disto, tinha um cuidado todo especial para que os crentes conhecessem a Deus como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo como o Enviado do Pai.

– Em toda a sua formação como doutor da lei, Paulo havia compreendido que Deus é o único e verdadeiro Deus, este que é o primeiro mandamento da lei, a base de toda a doutrina judaica (Dt.6:5; Mc.12:28,29), mas, após o encontro com o Senhor Jesus no caminho de Damasco, pôde entender que este único e verdadeiro Deus enviou Jesus, o Salvador de Israel (At.13:23).

– Assim, o apóstolo sabia da grande importância de mostrar Jesus aos homens e isto somente era possível por meio do ensino da Palavra de Deus. Logo no início de sua vida cristã, ainda nas sinagogas de Damasco, esforçava-se para mostrar, nas Escrituras, que Jesus era o Cristo (At.9:22).

– Paulo não trazia qualquer inovação quanto a isto, pois assim agiram os apóstolos desde o início da história da Igreja.

Eles sempre fundamentavam as suas pregações nas Escrituras, como se pode verificar do próprio discurso de Pedro no dia de Pentecostes e a característica primeira da igreja é a de que os seus membros perseveravam na doutrina dos apóstolos (At.2:42).

– “…Sua [de Paulo, observação nossa] preocupação em insistir que este evangelho não era novidade ou uma mudança inesperada nos desígnios de Deus. Muito pelo contrário.

Sua afirmação inicial em Romanos imediatamente define o ‘evangelho de Deus’ como ‘aquele que fora prometido anteriormente por meio dos seus [de Deus] profetas nas Sagradas Escrituras’ (Rm.1:1).

Quando ele anuncia o tema da carta (1:16,17) — o evangelho como ‘a força de Deus para a salvação de todo aquele que crê, em primeiro lugar do judeu, mas também do grego; porque nela a justiça de Seus se revela da fé para a fé’ – imediatamente acrescenta

‘conforme está escrito’ e passa a citar a sua autorização escriturística (Hc.2:4). E quando retorna da sua acusação (1:18-3:20) para indicar a resposta do evangelho (‘Agora, porém, independentemente da lei, se manifestou a justiça de Deus’) mais uma vez acrescenta imediatamente:

‘testemunhada pela lei e pelos profetas’ (3:21).…” (DUNN, James D.G. A teologia do apóstolo Paulo. Trad. de Edwyno Royer, p.209) (itálicos originais).

– Nota-se, portanto, que, desde o início, o apóstolo, a exemplo dos demais cristãos, dava uma grande importância para o ensino da Palavra, para a doutrina e não é surpresa que, nas cartas que escreverá a Timóteo e a Tito, enfatizará àqueles seus delegados respectivamente para Éfeso e para Creta que, ao porem ordem naquelas igrejas locais, tivessem o especial cuidado de zelar pela “sã doutrina” (I Tm.1:10; II Tm.4:3; Tt.1:9; 2:1), expressão que é exclusivamente sua na Bíblia Sagrada.

– Paulo tinha em mente que o ensino da Palavra é a transmissão de vida para os salvos, sendo, portanto, uma medida de sobrevivência espiritual. Se alcançamos vida quando nos encontramos com o Senhor Jesus, somente continuaremos espiritualmente vivos se formos alimentados e sustentados pela Palavra de Deus, que é o testemunho de Jesus.

– Paulo pregava o Evangelho (At.9:20,22; 20:25) e, depois de ganhar as almas para Jesus, ensinava-lhes a Palavra de Deus (At.18:11; 20:27), entendendo que o triunfo do cristão somente é possível quando ele é encomendado a Deus e à Palavra da Sua graça (At.20:32).

– Daí porque, como já vimos em lição anterior, ter Paulo tanto cuidado com o discipulado como elemento indispensável e complementar da evangelização, a ponto de, inquieto com o fato de não ter podido realizar completamente esta tarefa em Tessalônica (cfr. At.17:5-10),

ter tentado voltar para concluí-la (I Ts.2:17,18) e, não o podendo, redigido as suas duas primeiras epístolas, precisamente para complementar o ensino da Palavra e, assim, seu zelo para com a sã doutrina era tanto que o Senhor Jesus e o Espírito Santo resolveram fazer com que tais ensinos fossem registrados e servissem de base para todo o ensino doutrinário da Igreja ao longo de seu tempo aqui sobre a face da Terra.

– As epístolas paulinas são, precisamente, esta explicação de Paulo, sob inspiração do Espírito Santo, de todo o significado cristocêntrico das Escrituras e que como não se tem uma “novidade” na pregação do Evangelho mas o cabal cumprimento da lei e dos profetas com a obra salvífica de Jesus, que deve prosseguir com a Igreja.

– Não é surpresa, portanto, que o autor da epístola aos hebreus (que muitos entendem ser o próprio apóstolo Paulo e outros, dado o conteúdo, alguém que tenha discipulado por Paulo) considere que um dos motivos pelos quais os crentes hebreus estavam na iminência de cair na apostasia era, precisamente, o descuido com o ensino da Palavra, a falta de aprofundamento na doutrina.

– Aquele escritor censura os crentes que, pelo tempo de fé, já deveriam ser mestres, mas ainda careciam do aprendizado dos “primeiros rudimentos das palavras de Deus”, dos “rudimentos da doutrina de Cristo”, necessitando, assim, do “leite”, quando já deveriam ser consumidores de “sólido mantimento” (Hb.5:11-6:3).

– Quem não se empenha no aprendizado da Palavra de Deus, quem se mantém na superficialidade da fé inevitavelmente fracassará espiritualmente, como nos deixou claro o Senhor Jesus na parábola do semeador, ao falar daquela semente que caiu nos pedregais, que não se arraigou na Terra e, por isso, pereceu (Mt.13:20,21).

– Não criar raiz é não se aprofundar na doutrina, é dela não aprender. Não criar raiz é não se deixar moldar pela Palavra, o “martelo que esmiúça a penha” (Jr.23:29). É o que, tristemente, temos visto ocorrer com multidões e multidões nestes dias de princípio de dores que estamos a viver.

– O cuidado de Paulo com a doutrina era tamanho que o apóstolo não sossegou enquanto não pôs fim à discussão criada pelos judaizantes.

Foi graças a seu esforço que a Igreja resolveu deliberar sobre este tema, tendo, então, saído os decretos do concílio de Jerusalém que fizeram com que os cristãos gentios não fossem submetidos à lei de Moisés (At.15), ainda que tal movimento perdurasse, mas agora já oficialmente repudiado pela Igreja.

– É extremamente importante que as lideranças tenham este mesmo cuidado do apóstolo, procurando identificar os falsos ensinos e fazer com que sejam eles imediatamente extirpados do meio do povo de Deus.

– Paulo, ao dar suas orientações tanto a Timóteo quanto a Tito, faz questão de ressaltar que não se podia dar lugar às heresias e aos hereges, sob o risco de haver uma completa contaminação da vida espiritual dos salvos (I Tm.1:3,4; II Tm.3:8; Tt.1:10,11; 3:10,11).

– O apóstolo considera o falso ensino, a heresia como uma gangrena (II Tm.2:17). Ora, o que é gangrena? É a morte e putrefação dos tecidos de qualquer parte do organismo, aquilo que apodrece ou produz destruição.

Para Paulo, o falso ensino, a distorção da doutrina de Cristo é fator de morte, que leva à destruição de parcela do corpo de Cristo.

– Para os coríntios, o apóstolo deixa claro que a heresia, embora inevitável, tem como função permitir que se manifestem os crentes sinceros, aqueles que são saudáveis e espiritualmente vivos, os verdadeiros membros do corpo de Cristo (I Co.11:19).

– Aos gálatas, Paulo diz que são anátemas, ou seja, amaldiçoados, separados da comunhão os que distorcem a
Palavra de Deus, os que anunciam “outro evangelho”
(Gl.1:8,9).

– O apóstolo tinha a concepção clara de que a vida espiritual depende do aprendizado e do estudo da Palavra de Deus. Sem que meditemos nas Escrituras, sem que para ele voltemos a nossa mente, não temos como subsistir como servos do Senhor neste mundo que jaz no maligno (I Jo.5:19).

– O Senhor Jesus disse que dependemos da Palavra de Deus para sobrevivermos espiritualmente, assim como dependemos do pão para mantermos nossa existência física (Mt.4:4; Lc.4:4).

– Paulo diz que o marido busca antes sustentar e alimentar a sua mulher (Ef.5:29,30) e é isto que o Senhor Jesus faz com a Igreja, sustentando-a e alimentando-a com a Sua Palavra.

– No livro de Atos, vemos claramente que o crescimento da Igreja, a salvação das almas era considerada como o crescimento da Palavra de Deus (At.4:4,31; 6:7; 8:4,14,21,25; 10:36,37,44; 11:1,19; 12:24; 13:5,7,44,46; 14:25; 15:7,35; 16:6,32; 17:11,13; 19:20).

– O evangelho vai por meio de palavras, não só por palavras, mas também em poder e no Espírito Santo (cfr. I Ts.1:5), mas o papel da Palavra é fundamental, não pode ser sequer menosprezado, que dirá desprezado ou ignorado.

– Lamentavelmente, esta realidade que nos advém das Escrituras tem sido esquecida por muitos em nossos dias.

Isto também não é novidade, porque já ocorria nos dias de Paulo, como já tivemos ocasião de observar (I Tm.2:16-18; Tt.1:10,11) e foi por ele mesmo profetizado como uma característica dos dias finais da Igreja sobre a face da Terra (I Tm.4:1-5; II Tm.3:1-9).

– O objetivo de Paulo era formar Cristo em seus ouvintes (Gl.4:19) e isto só é possível mediante o ensino da Palavra de Deus. Não há como nos tornarmos cristãos sem que haja o ensino da Palavra, como mostrou o próprio Paulo na igreja de Antioquia da Síria, a primeira igreja gentílica (At.11:25,26).

– Imitemos a Paulo e zelemos pelo ensino intermitente da Palavra de Deus aos salvos a fim de que todos possamos sobreviver neste mundo e alcançar a glória celeste.

 Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6902-licao-11-o-zelo-do-apostolo-paulo-pela-sa-doutrina-i-e-apendice-n-1-paulo-e-a-lei

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