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LIÇÃO Nº 11 – OS PREJUÍZOS DA MENTIRA NA FAMÍLIA

-Na sequência do estudo dos relacionamentos familiares, abordarem os prejuízos da mentira na família.

-A mentira destrói as famílias.

I -A MENTIRA É DIABÓLICA

-Na sequência do estudo sobre os relacionamentos familiares à luz de exemplos da Palavra de Deus, abordaremos os prejuízos da mentira na família.

-A mentira é a primeira filha do diabo. Jesus diz que o diabo é o pai da mentira, porque não há verdade nele e, quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso (Jo.8:44).

-Sabemos que o primeiro pecado foi a soberba. Quando o querubim ungido quis ser igual a Deus e subir ao Seu trono (Is.14:13,14), foi achada iniquidade no interior daquele ser (Ez.28:15), surgindo, então, como realidade, o mal, o pecado, que, até então, era apenas uma possibilidade, já que Deus havia criado os anjos com livre-arbítrio e, portanto, o poder entre escolher o bem e o mal.

-Depois da soberba, o pecado a surgir é, precisamente, a mentira, pois, para realizar o seu intento de ser semelhante a Deus, de pôr seu trono acima do Altíssimo, Satanás teria de convencer os demais anjos a segui-lo, a efetuar uma rebelião nos céus.

-Para tanto, precisaria trazer argumentos, defender pontos de vista e circunstâncias que não eram reais, que não correspondiam à realidade, que eram contrários a Deus, que é a verdade (Jr.10:10).

Eis o surgimento da mentira, que, como diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “o que se afirma como verdade mesmo com a consciência de que não está conforme a realidade”.

-Por isso o Senhor Jesus diz que o diabo é mentiroso, o pai da mentira, pois foi o primeiro a mentir e toda a sua existência, a partir de então, passou a ser a de contrariar a verdade, que é Deus, motivo pelo qual sempre está a trabalhar com a mentira.

-A mentira é tão terrível que se trata de pecado que leva para a perdição não só quem o comete, mas que ama o seu cometimento, pois ficarão de fora da cidade santa os que amam e cometem a mentira (Ap.22:15).

-Quando tentou Eva, o diabo mentiu, dizendo que a ingestão do fruto da ciência da árvore do bem e do mal não causaria a morte, como dissera o Senhor, mas, ao revés, faria com que os olhos fossem abertos e eles fossem como Deus, sabendo o bem e o mal (Gn.3:5).

-Notemos que, realmente, quando o primeiro casal ingeriu o fruto, os seus olhos foram abertos, como disse Satanás (Cf. Ap.3:7) e passaram eles a experimentarem, a conhecerem o bem e o mal (Ap.3:22), mas não ficaram iguais a Deus, mas, pelo contrário, se tornaram em escravos do pecado (Jo.8:34) e, como Deus havia dito, morreram, pois não tinham mais comunhão com Deus (Gn.3:10).

-Vemos, pois, que toda mentira sempre tem um lastro de verdade, sempre apresenta elementos que são verídicos, sem o que não se terá credibilidade a ela e toda mentira é dita para ser crida, para enganar as pessoas, de modo a que acreditem que o que está sendo dito é a realidade, quando não no é.

-O diabo, por ser mentiroso, engana todo o mundo (Ap.12:9) e, em virtude disto, tem levado muitos à perdição eterna.

Devemos ter todo cuidado para não cremos na mentira, mas, sim, crermos na verdade, que é Deus e a Sua Palavra (Cf. Jo.17:17). Os que preferirem crer na mentira, sofrerão terrível juízo da parte do Senhor (II Ts.2:10-12).

-Aliás, estamos na iminência destes dias em que o Senhor permitirá que as pessoas creiam a mentira por terem prazer na iniquidade, precisamente porque rejeitaram o Senhor Jesus, que é a verdade (Jo.14:6), não aceitando ser convencidos pelo Espírito Santo, que é o Espírito da verdade (Jo.16:13).

-O justo aborrece a palavra de mentira (Pv.13:5) e não há como dizermos que servimos a Deus e que nossa família serve a Deus se não odiarmos a mentira, se não deixarmos de ter a mentira como uma possibilidade em nossas vidas.

-Lembremos sempre que a mentira, como diz o proverbista, pode parecer, à primeira vista, agradável, a solução para algum problema, mas, “o pão da mentira enche a boca de pedrinhas de areia” (Pv.20:17), ou seja, a mentira, por ser diabólica, por ser pecado, sempre traz consigo a morte espiritual, o fracasso, o distanciamento de Deus, os incômodos como são as pedrinhas de areia em nossa boca.

-Como diz Matthew Henry (1662-1714) ao comentar esta passagem do proverbista:

“Observe: 1. Pode ser agradável, à carne, aceitar o pecado: o pão da mentira, a riqueza obtida por meio de fraude, por mentira e opressão, pode ser doce para um homem, e ainda mais doce por ser obtida de maneira ilícita; tal é o prazer que a mente carnal sente com o sucesso de seus projetos ímpios.

Todos os prazeres e benefícios do pecado são o pão da mentira. Eles são roubados, pois são frutos proibidos; e enganarão os homens, pois não são aquilo que prometem.

Durante algum tempo, no entanto, ficam debaixo da língua, como um doce bocado, e o pecador se considera bem-aventurado neles. Mas: 2. Amargos se tornarão. Posteriormente, a boca do pecador se encherá de pedrinhas de areia.

Quando a sua consciência for despertada, quando ele vir que foi enganado, e perceber a ira de Deus contra ele, pelo seu pecado, como será, então doloroso e desconfortável a lembrança desse pecado! Os prazeres do pecado duram apenas algum tempo, e são seguidos pela angústia…”

(Comentário bíblico. Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Edição completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, Marcelo Siqueira Gonçalves, Maria Helena Penteado Aranha e Paulo José Benício, p.825).

-Quem profere mentiras será destruído por Deus (Sl.5:6), tem Deus contra si (Ez.13:8), porque o mentiroso, aquele que tem a mentira por refúgio, está a dizer que tem concerto com a morte, que fez aliança com o inferno (Cf. Is.28:15). Diante disto, como pode uma família ser bem sucedida com mentirosos?

-Quando alguém adota como refúgio a mentira, será varrido por Deus, aquilo que se busca esconder será desfeito, porque, mais cedo ou mais tarde, o Senhor regrará o juízo e a justiça, o que significa desmascarar a mentira que havia sido falada (Is.28:17). Por isso, aliás, o dito popular de que “a mentira tem pernas curtas”, jamais prevalecerá.

-Construir uma vida na mentira é viver uma ilusão. A mentira nunca prevalece e tudo o que for construído com base nela se desfará, mais cedo ou mais tarde.

As Escrituras são claras ao dizer que nada podemos contra a verdade, senão pela verdade (II Co.13:8), de modo que lutar pela mentira sempre será inglório e infrutífero.

-Não é por outro motivo que o Senhor diz que o reino das dez tribos do norte se apascentava de vento ao multiplicar a mentira e a destruição (Os.12:1) ao cercar o Senhor com mentira (Os.11:12), lavrando a impiedade, segando a perversidade e comendo o fruto da mentira (Os.10:13).

-Quando se busca construir uma vida com a mentira, o que se tem, portanto, nada mais é que criar um ambiente que será dominado pela maldade, impiedade, perversidade, estar-se-á gerando um local para a proliferação do pecado e onde o maligno dominará, onde Deus estará ausente pois, como vimos, Jesus Se distancia de onde está o príncipe deste mundo, que é o pai da mentira.

-Permitir a introdução da mentira nos relacionamentos familiares é, portanto, simplesmente transformar o lugar criado por Deus para a sua manifestação num local onde terá guarida e exercerá o seu domínio o próprio diabo.

É uma verdadeira profanação da família que deveria ser o altar para adoração a Deus mas que se tornará num verdadeiro refúgio, numa verdadeira cidadela do diabo!

-Parece muito dura esta afirmação, mas foi assim que o Senhor afirmou quando, pela boca do profeta Ezequiel, disse aos falsos profetas de Israel que eles haviam profanado ao Senhor ao fazer o povo escutar a mentira (Ez.13:19),

fazendo com que o povo ficasse iludido, ilusão esta que é figurada como sendo “uma parede de lodo rebocada de cal não adubada”, que haveria de cair quando houvesse uma grande pancada de chuva, pedras grandes de saraiva e um vento tempestuoso que a fenderia (Ez.13:10,11).

-Quando permitimos que a mentira invada nossa vida familiar, a família será iludida, parecerá que estará bem, apesar das mentiras contadas, mas, mais cedo ou mais tarde, a realidade prevalecerá e teremos a ruína certa, com a destruição de toda aquela ilusão em que confiaram todos os familiares.

-Diante deste quadro, não há mais o que fazer senão seguir o conselho que, inspirado pelo Espírito Santo, nos dá o apóstolo Paulo: “Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” (Ef.4:25). É absolutamente necessário que andemos na verdade.

-Neste mundo, precisamos andar na verdade (III Jo.2,3), seguir a verdade em amor (Ef.4:15), a fim de possamos crescer espiritualmente, permanecer em comunhão com o Senhor e, assim, chegarmos até as mansões celestiais.

-Andar na verdade significa viver de acordo com a vontade de Deus, que é anunciada na Bíblia Sagrada, nas Escrituras, as fiéis testemunhas do Senhor Jesus (Jo.5:39), Ele próprio o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo.14:6).

-A verdade é a própria Palavra de Deus (Jo.17:17) e, se permanecemos na Sua Palavra, seremos verdadeiramente discípulos de Jesus e conheceremos a verdade e ela nos libertará (Jo.8:31,32).

-Seguir a verdade em amor é chegar à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à estatura completa de Cristo para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o evento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente, mas crescer em tudo naquele que é a cabeça, Cristo (Ef.4:13-15).

-Não há, portanto, como andarmos na verdade e seguirmos a verdade em amor se não tivermos comunhão com Jesus, se não aprendermos d’Ele, se não mantivermos com Ele um diálogo intermitente, seja mediante a meditação nas Escrituras, seja mediante a oração e o jejum.

-Precisamos não ser somente ouvintes mas praticantes da Palavra para que sejamos verdadeiros (Tg.1:22), evitando, assim, a hipocrisia religiosa, que era uma característica dos fariseus (Cf.Mt.23), que por isso mesmo não só eram inimigos de Jesus, mas também por Ele duramente censurados.

-Se assim é na vida de cada um de nós, que dirá na vida familiar. A família, sempre o lugar primeiro onde há a manifestação de Deus, sendo o local onde se deve adorar ao Senhor por primeiro, um altar de adoração ao Criador, não pode, em absoluto, permitir que a mentira nela penetre e, quando isto acontece, há, indubitavelmente, um prejuízo espiritual muito grande.

-O diabo é o pai da mentira e o Senhor Jesus disse que o adversário nada tem no Senhor (Jo.14:30), ocasião, inclusive, quando, ao notar a aproximação de Satanás, Cristo Se retirou do lugar onde estava (Jo.14:31).

-Deus não habita onde há mentira, não permanece em lugar onde a mentira está a prevalecer. Assim, uma família que acolher a mentira como “modus vivendi”, que andar na mentira será, inevitavelmente, um local onde o Senhor estará ausente, onde não se terá a presença de Deus.

II – CAUSÍSTICA BÍBLICA: O CASO DE ANANIAS E SAFIRA

-O comentarista do trimestre escolheu, para ilustrar o prejuízo da mentira na família, a história de Ananis e
Safira, o casal que foi morto por Deus na igreja de Jerusalém porque mentiu.

-As Escrituras registram que José, que era chamado de Barnabé, um levita, natural de Chipre, vendeu uma herdade, trouxe o preço e a depositou aos pés dos apóstolos (At.4:36,37).

Este gesto de Barnabé não era novidade, pois muitos assim faziam, mas, certamente, três fatores chamaram a atenção nesta atitude: primeiro, que Barnabé era levita e os levitas até hoje não muito considerados entre os judeus, por serem da tribo separada para o serviço do Senhor;

segundo, Barnabé era um judeu da diáspora, ou seja, não era natural da Palestina e, diante disso, o fato de se desfazer de uma herdade que, com muito custo, tinha adquirido na Terra Prometida, revelava o alto grau de desprendimento de que Barnabé era movido; terceiro, o preço foi, sem dúvida, alto, para causar a admiração de todos.

-Esta oferta trazida por Barnabé, por todos estes motivos, repercutiu no meio da igreja e isto incomodou Ananias, que também tinha uma boa propriedade (e podemos dizê-lo porque só a parte do preço que depositou aos pés dos apóstolos deveria ser maior que o preço todo dado por Barnabé e que tinha causado admiração).

-Temos aqui, de pronto, a manifestação de um mal que, se não houver vigilância, aflige qualquer crente: a inveja. Inveja é uma atitude que, desde o princípio da história da humanidade, costuma surgir entre irmãos, como vemos no caso de Caim (Gn.4:5) bem como nos irmãos de José (At.7:9), ou, com o próprio Jesus (Mt.27:18).

-Com efeito, a “inveja” é “sentimento em que se misturam o ódio e o desgosto, e que é provocado pela felicidade, prosperidade de outrem”, “o desejo irrefreável de possuir ou gozar, em caráter exclusivo, o que é possuído ou gozado por outrem”.

A palavra latina é “invidia”, cujo significado é “lançar um mau olhado”, ou seja, olhar com ódio, o que nos recorda o ensino do Senhor Jesus a respeito do cuidado que devemos ter com os nossos olhos (Mt.6:22,23).

-Como explica o Dicionário Vine, a palavra hebraica para “inveja”, “qana’ “ (אוק) , “…a um nível inter-humano(…) tem um sentido altamente competitivo(…), o significado essencial de “qana’” é a defesa dos direitos próprios com exclusão dos direitos dos demais…” (VINE, W.E. Caribe Editorial. Compilado por Dumane. Disponível em; www.semeadoresdapalavra.net. Acesso em 21 dez. 2010, p.69) (tradução nossa de texto em espanhol).

-Notamos, portanto, que a inveja é algo que decorre de um egocentrismo que desvia o foco das relações mantidas com os irmãos, em que se passa a ter uma competição, uma rivalidade, que nega totalmente a fraternidade e o amor ao próximo, que decorrem do amor a Deus.

Não é, pois, coincidência que Caim tenha se justificado, após seu cruel crime, diante de Deus com a irônica manifestação: “sou eu guardador do meu irmão?” (Gn.4:9).

-Por isso, a inveja é algo contra o que deve o crente lutar diariamente (Sl.37:1; Pv.3:31; 14:30), pois é uma manifestação da natureza carnal que pode nos levar à perdição (Pv. 27:4; Sl.106:16,17; Mc.7:20-23). Assim agiu Asafe que, notando estar sendo alvo do domínio da inveja, logo foi aos pés do Senhor (Sl.73:1-17).

-Ananias, porém, além de não ter o desprendimento que tinham os demais crentes de Jerusalém, tanto que não havia abrido mão de sua propriedade até então, indignou-se com o gesto de Barnabé e a repercussão gerada com a sua oferta.

Notemos que Ananias não estava a pecar por não ter vendido sua propriedade, pois não lhe era exigível (At.5:4), mas tudo indica que não o fizera por estar com seu coração naquele bem, o que, aí sim, representava um comportamento inadequado para um servo do Senhor, algo que ninguém sabia, mas que era de pleno conhecimento do Senhor, que conhece o coração do homem (I Sm.16:7; Jo.2:25; Hb.4:13).

OBS: “…Na verdade, Satanás estava enchendo o coração deles de cobiçosa honra, estavam cheios de inveja de Barnabé, mas não estavam dispostos a pagarem o preço que Barnabé pagou…” (ALENCAR, Eliel A. Atos dos apóstolos: apregoando valores e testemunho que devem nortear a Igreja atual. Lição 5 – A grave mentira de Ananias e Safira. Betel dominical, 1. trim. 2011, ano 21, n. 78, p.29).

-Desta forma, Ananias, já antes da oferta de Barnabé, apresentava uma falha em seu caráter que, num ambiente como a igreja fiel ao Senhor, não fica para sempre oculto.

Uma característica da igreja, como povo de Deus que é, é que o Senhor não permite que as coisas fiquem para sempre escondidas, mas tudo é revelado ao seu tempo (Lv.4:13,14; II Sm.12:12; Mt.10:26; Mc.4:22; Lc.12:2; I Co.11:19).

-Daquele ambiente em que havia comunhão, também havia aqueles que não compartilhavam do mesmo espírito, mas, antes, estavam envolvidos com sentimentos que não provinham de Deus, como o materialismo, o egoísmo, o sentimento faccioso, que tem origem na carne, no mundo e no diabo (Tg.3:14-16).

Isto já existia na igreja em Jerusalém, como já havia existido durante o ministério terreno de Jesus entre os próprios apóstolos (Mt.18:1-14; Mc.9:33-37; Lc.9:46-48).

-Notamos, portanto, que a igreja em Jerusalém não era perfeita, assim como nenhuma igreja local o é ou o será, pois somente atingiremos a perfeição no dia do arrebatamento (I Co.13:10; I Jo.3:2,3).

Assim, ao virmos a imperfeição entre os nossos irmãos, não podemos nos escandalizar, nem tampouco nos considerar superiores a nosso irmão, mas temos de tomar a atitude que Jesus nos manda, qual seja, a de sempre nos considerarmos os menores dentre todos os irmãos,

de termos o comportamento de um menino, com inocência, sem mágoa ou ressentimento, cuidando de nós mesmos para que não venhamos a fracassar na fé e, principalmente, ajudando aqueles que manquejam para que possam, também, juntamente conosco, entrar no céu naquele dia.

-Ananias, porém, ao ver o gesto de Barnabé, não se conteve e quis ter para si a mesma repercussão positiva, admiração e respeito que o levita cipriota havia obtido junto à igreja em Jerusalém, sem que, entretanto, tivesse feito aquilo com estas intenções.

Barnabé passou a ser admirado pelo seu gesto, e isto, também, era providência divina, que tinha para Barnabé um importante plano na expansão da Igreja, mas não era isto que Barnabé queria.

Ananias, entretanto, queria ser admirado pelos irmãos, pois, assim como era preso à sua propriedade, também queria o galardão terreno. O que buscava não eram as “coisas de cima”, mas, sim, “as coisas terrenas”, a vanglória deste mundo.

-Ananias, então, arquitetou um plano para, a um só tempo, manter-se com seus bens materiais e obter a mesma admiração obtida por Barnabé.

Venderia sua propriedade, mais valiosa que a de Barnabé, mas reteria parte do preço consigo. Assim, não se desfaria de seu patrimônio e passava, simultaneamente, a ser o maior ofertante na igreja, suplantando Barnabé. Agradaria duplamente ao seu ego.

-Em seguida, contou tudo a sua mulher, Safira, que também nutria o mesmo sentimento de seu marido. Vemos que é importantíssimo que marido e mulher tenham comunhão entre si, é uma exigência do relacionamento conjugal, que faz com que marido e mulher sejam uma só carne (Gn.2:24), ou seja, tenham o mesmo plano de vida, o mesmo projeto sobre a face da Terra.

Entretanto, não podemos nos esquecer que a união conjugal somente alcançará a plenitude de seus propósitos se ambos os cônjuges estiverem, também, em concordância com o Senhor. Por isso, Salomão fala do “cordão de três dobras” (Ec.4:12) para simbolizar o matrimônio resistente e capaz de superar as adversidades da vida, pois, além da união entre marido e mulher, torna-se necessário que marido e mulher estejam unidos com o Senhor.

A concordância entre marido e mulher mas em desacordo com a vontade de Deus não traz bons resultados, como vemos com Ananias e Safira, como também com Abrão e Sarai (Gn.16:1-3).

-Uma família que pretende se construir sobre a mentira, evidentemente está expulsando Deus do lar, porque Deus é a verdade (Jr.10:10) e a mentira nada tem de Deus.

A mentira torna o ambiente criado para a manifestação divina e a comunhão com o Senhor em um local completamente entregue para o diabo, o pai da mentira, o homicida desde o princípio.

-Quando procuramos basear a família e seus relacionamentos na mentira, estamos chamando a morte e a destruição para ela, morte e destruição que virão depois de muitos dissabores e sofrimentos.

Por isso o proverbista diz que a mentira traz como consequência o mesmo incômodo que pedrinhas de areia trazem para a boca. O amado já teve esta sensação? Como são incômodas pedrinhas de areia na boca!

-A mentira sempre traz inúmeros incômodos para a vida familiar. Lembremos da vexatória situação passada por Abrão quando foi expulso do Egito por causa da mentira que contou (Gn.12:19,20), da vergonha que Isaque passou diante de Abimeleque por causa da mentira que lhe contou (Gn.26:9-11), da fuga que Jacó teve de fazer para Padã-Arã por ter mentido para seu pai (Gn.27:41-44), do sofrimento causado a Jacó durante quinze anos por causa da mentira que seus filhos lhe contaram a respeito de José (Gn.37:31-35).

-Não se pode compactuar com a mentira, ela é destrutiva e tem destruído muitas famílias. Tomemos cuidado, amados irmãos!

-Feito este acordo para ludibriar a Igreja, Ananias vendeu a propriedade, reteve parte do preço e o restante levou aos pés dos apóstolos, esperando, com isso, obter a mesma repercussão positiva que Barnabé havia auferido anteriormente.

Assim que depositou o preço aos pés dos apóstolos, Pedro chamou Ananias que, certamente, já se sentia muito bem, vez que poderia vir dali, desde logo, um elogio público da parte de Pedro.

-No entanto, o que sucedeu foi bem diferente. Pedro, revelado pelo Espírito Santo, perguntou a Ananias porque havia permitido que Satanás tivesse enchido o seu coração e por que motivo ele havia tentado mentir a Deus, com aquele estratagema, já que o Senhor não lhe exigia que vendesse a propriedade. Após esta declaração do apóstolo, Ananias caiu e expirou, vindo um grande temor sobre todos os crentes que ouviram estas palavras do apóstolo (At.5:1-5).

-Temos aqui uma reprodução do que aconteceu também no início da dispensação da lei, quando os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, também morreram fulminados por terem levado fogo estranho perante a face do Senhor (Lv.10:1-3). Naquela oportunidade, o Senhor disse que seria santificado naqueles que se chegassem a Ele, bem como seria glorificado diante de todo o povo.

-A morte de Ananias representava a demonstração clara e inequívoca da presença do Senhor no meio da Igreja. Com aquele gesto, o Senhor mostrava claramente aos crentes de que Ele Se fazia presente no meio do povo e de que conhecia o interior de cada um daqueles que lá estavam.

-Deus mostrava o Seu senhorio, como a necessidade de chegarmos a Ele com temor e tremor, com reverência e obediência.

Também indicava que, na nova aliança, na dispensação da graça, todos ali eram sacerdotes e deviam estar inteiramente dedicados ao Senhor, não permitindo que Satanás pudesse entrar nos corações dos crentes.

-Aquela morte física era uma figura da morte eterna que acomete todos quantos se deixam envolver pelo diabo, mundo e carne.

A morte de Ananias tinha um efeito didático não só para os crentes de Jerusalém mas para os crentes de todos os tempos, pois pior do que morrer fisicamente é perder a salvação e ficar eternamente separado do Senhor, tendo uma vez já conhecido a experiência da salvação.

-O efeito da morte de Ananias não era a sua destruição, mas uma lição que o Senhor dava ao Seu povo a respeito da seriedade da vida espiritual, que lida com a eternidade.

-Não podemos “brincar de ser crentes”, pois o assunto é extremamente sério. Deus exige santidade e obediência e não poderemos ter comunhão com Ele se não atendermos a estas exigências.

Ananias morreu porque não teve temor a Deus, preferindo, antes, apresentar-se diante do Senhor com mentira para tirar proveito para seu ego do que temer a Deus, amar o próximo e desfrutar da comunhão advinda da salvação. Quantos assim não têm procedido nos dias hodiernos? Tomemos cuidado, amados irmãos!

-Também verificamos que uma das mais terríveis armas que o inimigo tem é a de tentar comprometer as igrejas locais a partir das famílias.

O acordo feito por Ananias e Safira em torno da mentira foi o ponto para que se iniciasse a infiltração satânica na igreja de Jerusalém.

-O Espírito Santo não o permitiu e, em vez de ter havido a infiltração da mentira, que traria consigo a exaltação de Ananias e a disseminação do materialismo e do sentimento faccioso, veio não só sobre a igreja, mas todos os que souberam dos acontecimentos o temor (At.5:11), que não é o medo, mas, sim, a reverência, o reconhecimento do senhorio divino sobre a Sua Igreja e sobre tudo que se relaciona com ela.

-A mentira traz a falta de temor, a sensação de que tudo está encoberto aos olhos do Senhor, de que é possível enganar a todos durante todo o tempo, algo que até os homens sabem não ser possível, pois já dizia um pensador, que alguns dizem ter sido Abraham Lincoln (1809-1865), mas não se tem certeza disso:

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”.

-Ora, bem sabemos, que Deus jamais pode ser enganado (Sl.139:1-4) e que, portanto, famílias que tentem viver sob o engano e que queiram inserir este engano na igreja, que é a noiva de Cristo, será destruída e o Senhor não permitirá que comprometa a igreja de modo irreversível.

-Quase três horas depois, Safira veio também para a reunião. O que percebemos, de pronto, é que era costume dos crentes ficar reunidos o dia todo para juntos louvar a Deus e adorar o Seu santo nome.

-O texto sagrado permite-nos inferir que os crentes estavam no alpendre de Salomão (At.5:12), onde passavam o dia adorando ao Senhor, aproveitando o período de serviço no templo mas que, em outros horários, inclusive à noite, também se reuniam em casas (At.2:46; 5:42; 12:12).

Notamos, pois, que os crentes de Jerusalém tinham prazer em se reunir e ficar na presença do Senhor, de onde não queriam sair apressadamente (Ec.8:3).

-Ultimamente, no entanto, não há esta mesma disposição por parte da esmagadora maioria dos crentes. Dirão alguns que isto ocorria em Jerusalém porque estavam integralmente dedicados à obra do Senhor, nem sequer mais trabalhavam, vivendo dos recursos das vendas de propriedades e herdades.

Em parte, isto é verdadeiro, mas não devemos nos esquecer de que não eram todos os que assim procediam e que, no mesmo livro de Atos, notaremos que isto não mais se repetirá, mas os crentes continuarão a se reunir por largos períodos, tendo a adoração a Deus como prioridade (At.20:9-11).

-O que se tem aqui é uma demonstração de que os crentes realmente sabiam a quem deviam dar relevância e importância, buscando primeiro o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33). Temos agido assim? Ainda é tempo de mudarmos nossas prioridades!

-Safira chegou ao templo e Pedro, dirigido pelo Espírito Santo, perguntou-lhe por quanto havia sido vendida a propriedade. Safira, então, confirma o falso preço combinado com Ananias e, diante desta dureza de coração, Pedro assina a ela a mesma sentença de seu marido.

Aqui Deus mostra que não faz acepção de pessoas e que deu oportunidade a Safira para que se arrependesse. Como não houve arrependimento, o fim de Safira foi o mesmo de seu marido. O resultado foi o mesmo: grande temor em toda a igreja e em todos os que ouviram estas coisas (At.5:8-11).

-É tolice, amados irmãos, querer mentir ao Espírito Santo. Deus é onisciente: tudo sabe, tudo vê (Sl.139:11-16).

Encobrir pecados de Deus é impossível e pecado é uma transgressão contra o Senhor. De que adianta encobrir pecados da igreja, familiares e da sociedade, se se trata de um assunto exclusivamente entre nós e Deus, de quem nada pode ficar encoberto (Hb.4:13)?

O resultado disto será tão somente a morte, salário de todo pecado (Rm.6:23) e a revelação de tudo ao povo de Deus, pois o Senhor não Se deixa escarnecer (Gl.6:7).

-Tanto Ananias quanto Safira receberam a justa retribuição pela sua impiedade, pois não tem escape quem não atentar para a salvação em Cristo Jesus (Is.59:18; Os.9:7; Hb.2:2,3).

Tinham inveja de Barnabé, eram movidos por sentimento faccioso, quiseram tomar para si uma glória que era devida somente ao Senhor, deixaram-se dominar pelo diabo. Por causa disso, pereceram e, didaticamente, houve a sua morte física para que todos nós aprendamos a lição.

-Ainda hoje há muitos Ananias e Safiras nas igrejas, que estão a perecer diariamente, tendo a pior das mortes: a morte espiritual.

Assim como o primeiro casal, até demoram anos para que sejam notórias suas mortes, mas elas acontecem instantaneamente como ocorreu com Ananias e Safira, ou, no tempo da lei, com Nadabe e Abiú. Que o Senhor nos guarde para que não venhamos a ter a mesma sentença.

 

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9262-licao-11-os-prejuizos-da-mentira-na-familia-i

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