LIÇÃO Nº 12 – A CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES
A cerimônia da consagração dos sacerdotes é uma belíssima lição sobre o sacerdócio do cristão.
Veja também apêndice nº 02 Moisés e a glória de Deus
INTRODUÇÃO
– Na continuidade do estudo do livro de Êxodo, estudaremos o capítulo 29, onde o Senhor descreve a Moisés o ritual da consagração dos sacerdotes.
– A cerimônia da consagração dos sacerdotes é uma belíssima lição sobre o sacerdócio do cristão.
I – A LAVAGEM, O VESTIR E A UNÇÃO DOS SACERDOTES
– Na continuidade do estudo do livro de Êxodo, estudaremos hoje o capítulo 29, quando o Senhor descreveu a Moisés a cerimônia da consagração dos sacerdotes, sendo esta, praticamente, a última lição a respeito do livro de Êxodo, já que a lição 13 tratará do legado de Moisés, que envolve substancialmente toda a vida do legislador, que vai além do livro de Êxodo.
– Como tudo que se refere à lei a cerimônia de consagração dos sacerdotes também aponta para a realidade espiritual da dispensação da graça, onde cada salvo na pessoa de Cristo Jesus é um sacerdote (I Pe.2:9; Ap.1:6).
– O Senhor determina a Moisés que houvesse um ritual para a consagração dos sacerdotes que o próprio Deus havia escolhido, Arão e seus filhos. Nesta cerimônia, como tudo que diz respeito à lei, estão preciosas lições a respeito do sacerdócio de cada cristão.
– A primeira lição é que a cerimônia de consagração tinha como objetivo “santificar para me administrarem o sacerdócio” (Ex.29:1), ou seja, deixar bem claro e explícito para todo o povo de Israel que o sacerdote era separado dos outros israelitas para exercer o sacerdócio, tanto que toda a congregação foi ajuntada para assistir à cerimônia (Lv.8:3).
– Com sacerdotes da nova aliança, nós, também, devemos estar separados do mundo, não podendo participar do pecado e do maligno, como as demais pessoas que vivem no mundo. Devemos viver para Deus, estando prontos, sempre, a realizar a Sua vontade. Como disse o apóstolo Paulo: “Já estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, O qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl.2:20). Temos esta consciência de que a nossa vida agora não mais nos pertence, mas sim ao Senhor? Pensemos nisto!
– Isto também revela que a sagração sacerdotal é algo que tem de ser do conhecimento de todos, ou seja, todos devem perceber que somos sacerdotes de Cristo, que temos uma vida diferente, que temos comunhão com Deus, que temos acesso a Deus. Isto nos fala do necessário testemunho que temos de dar do Senhor diante dos homens. O Senhor nos constituiu Suas testemunhas em todos os lugares (At.1:8). Temos correspondido a este papel que nos deu o nosso Senhor e Salvador?
– O cerimonial deveria ter os seguintes elementos: um novilho, dois carneiros sem mácula, pão asmo, bolos asmos amassados com azeite, coscorões asmos untados com azeite, tudo feito com flor de farinha de trigo, que deveriam ser postos num cesto (Ex.29:2). Cada elemento tem um significado especial para nós da dispensação da graça, mas haveremos de falar de cada um na medida do desenvolvimento do ritual da consagração.
– A cerimônia iniciava-se com a condução dos sacerdotes até a porta da tenda da congregação, ou seja, até a entrada do lugar santo, onde ficava a pia de cobre (Ex.29:4). Este gesto já demonstrava a todos os israelitas que os sacerdotes seriam separados do restante do povo para poder entrar no lugar santo, para atravessar o primeiro véu, que fazia a separação entre o povo e a tenda da congregação, como era chamada a parte totalmente coberta do tabernáculo.
– Isto nos mostra que somente a Igreja, formada pelos sacerdotes da nova aliança, tem livre acesso a Deus dentre todos os demais seres humanos neste planeta. Somente os salvos em Cristo Jesus têm acesso ao santuário, o verdadeiro santuário e não a réplica apresentada a Moisés no monte Sinai, que é o céu, onde está o Senhor Jesus à direita do Pai (Hb.9:11,12).
– Este livre acesso que temos na atual dispensação é bem mais amplo que o que tinham os sacerdotes, pois, se eles podiam livremente entrar no primeiro véu, não podiam, entretanto, atravessar o segundo véu, que separava o lugar santo do lugar santíssimo, o que podia ser feito tão somente pelo sumo sacerdote uma vez ao ano no dia da expiação (Lv.16:29-34). Nós, porém, temos livre acesso ao santo dos santos, ao trono da graça, pelo sangue de Jesus (Hb.4:16;10:19,20).
– Por isso, temos de entender que somos aqueles que podem interceder pelo mundo inteiro, rogando a Deus em favor dos homens, papel que, infelizmente, muitos salvos não têm consciência. É isto que Deus requer de nós, como o apóstolo Paulo deixa bem claro em I Tm.2:1-4. Deus somente ouve àqueles que O temem e fazem a Sua vontade (Jo.9:31), de sorte que é a nós que está incumbida a tarefa de interceder pelos homens, a fim de que eles sejam abençoados pelo Senhor. Temos feito isto?
– Uma vez à porta da tenda da congregação, Arão e seus filhos deveriam ser lavados com água na pia de cobre que estava entre o altar de sacrifícios e o primeiro véu (Ex.29:4).
– Este ato do ritual mostra-nos que toda a consagração começa com a lavagem da água, que o apóstolo Paulo em Ef.5:26, diz ter sido um ato realizado pelo Senhor Jesus quando Se entregou a Si mesmo pela Igreja, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra.
– Ora, isto nos remete ao que disse o Senhor Jesus a Nicodemos, quando afirmou que é necessário nascer da água e do Espírito para entrar no reino de Deus (Jo.3:5), como também nas Suas últimas instruções, quando afirmou que os Seus discípulos já estavam limpos pela Palavra que lhes tinha falado (Jo.15:3).
– A lavagem com água, portanto, representa a santificação operada pela Palavra de Deus, santificação esta não só posicional, que faz com que, pelo perdão dos nossos pecados, sejamos chamados santos, por invocarmos o nome do Senhor (I Co.1:1,2), como, também, a santificação progressiva, pela qual somos mantidos separados do pecado desde a nossa conversão até o dia da glorificação (Jo.17:17; Ap.22:11).
– É a Palavra de Deus que nos leva a fé até nossos corações (Rm.10:17), fé esta pela qual damos entrada em nossa vida espiritual, na graça de Deus (Rm.5:1,2). É mediante a santificação pela Palavra de Deus, deste verdadeiro “nascimento da água”, que iniciamos o nosso sacerdócio cristão, que damos início a nossa entrada no santuário celestial, pois, sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).
– Por isso, o Senhor Jesus mandou à Sua Igreja que ensinasse as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, bem como que lhes ensinasse a guardar tudo quanto o Senhor lhes havia mandado (Mt.28:19,20). É indispensável que as pessoas tenham acesso à Palavra, aprendam continuamente da Palavra para que possam exercer legítima e validamente o sacerdócio real de que são investidos pela sua condição de salvos na pessoa bendita de Cristo Jesus.
– Sem a lavagem da água, não há como o sacerdote ser consagrado e, assim, poder exercer o seu ofício. Não há como podermos ingressar no sacerdócio cristão, fazer parte da Igreja, sem que sejamos santificados, sem que tenhamos conhecimento da Palavra de Deus. Lamentavelmente, muitos se dizem “sacerdotes reais” em Cristo Jesus sem nunca terem sido lavados pela Palavra de Deus…
– Em seguida à lavagem da água, os sacerdotes deveriam ser vestidos com seus vestidos sacerdotais (Ex.29:5,6). Somente é possível vestir-se dos vestidos santos depois que houver a lavagem da água, a nos provar que a santificação é indispensável para que alguém seja vestido das vestes de salvação (Is.61:10), pois a santidade é um verdadeiro adorno, uma joia da noiva de Cristo, que, purificada pela água, pode se apresentar ao seu noivo como igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef.5:27).
– Estas vestes sacerdotais também indicam a vinda do Espírito Santo para habitar em nós (Jo.14:17), pois o Espírito Santo somente vem habitar naquele que foi santificado, naquele que não mais pertence ao mundo, mas foi lavado pela água da Palavra. É o que o apóstolo Paulo denomina de “lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt.3:5), que nos torna “herdeiros segundo a esperança da vida eterna” (Tt.3:7).
– Não foi por outro motivo que o Senhor Jesus, na tarde do domingo da ressurreição, soprou sobre os Seus discípulos, a fim de que recebessem o Espírito Santo (Jo.20:22,23), passando, então, os discípulos a ter o poder de perdoar os pecados e de reter o perdão dos mesmos, ou seja, no exato instante em que receberam os discípulos o Espírito Santo, foi-lhes dito que passavam a ser sacerdotes, sendo os mediadores entre Deus e os homens, algo que não ficou restrito aos apóstolos, como ensina equivocadamente a Igreja Romana, mas, sim, algo que é comum a todos os que são salvos na pessoa de Cristo Jesus, porque é o resultado de terem recebido as “vestes sacerdotais”.
– Jesus fala disso também com Nicodemos, quando diz que, para entrar no reino de Deus, é preciso não só nascer da água, mas, também, nascer do Espírito (Jo.3:5), querendo, com isto, dizer precisamente o que é tipificado neste ato da cerimônia de consagração dos sacerdotes, ou seja, o “vestimento do Espírito Santo”, a posse das vestes sacerdotais, após a lavagem da água, o momento em que nos tornamos templo do Espírito Santo, morada de Deus.
– O primeiro a ser vestido deveria ser Arão, escolhido para ser o sumo sacerdote, que deveria usar toda a sua indumentária. Após ele ter se vestido, deveria ser ungido com azeite sobre a sua cabeça (Ex.29:5-7). Como sumo sacerdote, Arão deveria vestir-se primeiro e ser ungido antes dos demais. Isto é uma figura da preeminência de Cristo, o nosso Sumo Sacerdote (Cl.1:18; Hb.8:1,2), que é a cabeça do corpo, da Igreja, o princípio e o primogênito dentre os mortos.
Ele é o Cristo, ou seja, o Ungido, Aquele que foi escolhido para fazer a reconciliação entre Deus e os homens. Sobre Ele, primeiramente, esteve o Espírito Santo, pelo qual fez bem e curou a todos os oprimidos do diabo (At.10:38), motivo pelo qual, após ter vencido a morte, pôde Ele transmitir este Espírito para os Seus discípulos. OBS: “Cristo vem da tradução grega do termo hebraico «Messias», que quer dizer «ungido». Só se torna nome próprio de Jesus porque Ele cumpre perfeitamente a missão divina que tal nome significa.
Com efeito, em Israel eram ungidos, em nome de Deus, aqueles que Lhe eram consagrados para uma missão d’Ele dimanada. Era o caso dos reis (I Sm.9:16; 10:1; 16:1,12,13; IRs.1:39), dos sacerdotes (Ex.29:7; Lv.8:12) e, em raros casos, dos profetas (IRs.19:16). Este devia ser, por excelência, o caso do Messias, que Deus enviaria para estabelecer definitivamente o seu Reino (Sl.2:2;At.4:26,27). O Messias devia ser ungido pelo Espírito do Senhor (Is.11:2), ao mesmo tempo como rei e sacerdote (Zc.4:14; 6:13) mas também como profeta (Isa.61:1; Lc.4:16-21). Jesus realizou a expectativa messiânica de Israel na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.” (§ 436 CIC).
– Arão foi ungido com azeite, em mais uma figura da necessária unção do Espírito Santo que deve pairar sobre todos os salvos na pessoa de Cristo Jesus. Por isso, o apóstolo João disse que todo salvo tem a unção do Santo e sabe tudo (I Jo.2:20).
– É interessante notar que a unção do sumo sacerdote era única, ou seja, uma vez ungido para exercer o sumo sacerdócio, ele não mais seria ungido. De igual modo, a unção recebida pelo salvo em Cristo Jesus não precisa ser repetida, pois, como diz João, “a unção, que vós recebestes d’Ele, fica em vós e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a Sua unção os ensina todas as coisas e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim n’Ele permanecereis” (I Jo.2:27).
– É por isso, amados irmãos, que não podemos crer em invencionices como a “nova unção”, que andam pregando por aí, como se houvesse necessidade de o crente, depois de se tornar morada do Espírito Santo, receber uma “outra unção” da parte do Espírito de Deus. A unção que recebemos, quando somos reconciliados por Deus por Cristo, é suficiente para nos fazer templo do Espírito Santo e nos levar a ser orientados, guiados pelo Espírito, bem como nos fazer razão de glorificação do nome do Senhor enquanto aqui estivermos a peregrinar.
– A unção de Arão feita sobre a cabeça e que fazia com que todas as suas vestes fossem embebidas pelo azeite também é figura da unidade que existe no corpo de Cristo, que é a Igreja (I Co.12:27), como atesta o salmista no Salmo 133, que diz que a união dos irmãos é como o óleo que desce sobre a barba, a barba de Arão e que desce à orla dos seus vestidos (Sl.133:1,2). Esta unidade do corpo de Cristo, da Sua Igreja, é possível única e exclusivamente pela ação do Espírito Santo, este único Espírito que opera na Igreja do Senhor (Ef.4:4).
– Assim, os que defendem uma “nova unção” estão na verdade renegando o Espírito Santo que foi derramado sobre a Igreja, estão a querer que “outro Espírito” advenha sobre o povo de Deus e, por isso, devem ser tidos por anátemas, pois não é possível termos “um outro evangelho” (Gl.1:8,9). Tomemos cuidado, amados irmãos, com este tipo de gente!
– Não confundamos esta “nova unção” que tem sido alardeada por estes falsos mestres com a renovação espiritual, com o avivamento espiritual, que nada mais é que a retomada da unção do Espírito Santo na vida do crente, algo perfeitamente possível e que tem respaldo bíblico. Aliás, a história de Israel e a história da Igreja é permeada de momentos em que é necessária esta renovação, visto que muitos desprezam o dom que lhes é dado pelo Senhor (I Tm.4:14). Nestes casos, não se trata de receber um “novo dom”, uma “nova unção”, mas de reavivar, retomar algo que já nos foi dado mas que, por um motivo ou outro, foi desprezado, foi negligenciado pelo seu receptor.
– Após a vestidura e a unção do sumo sacerdote, os filhos de Arão também deveriam ser vestidos, embora não houvesse qualquer menção de que deveriam ser ungidos com azeite, como foi Arão (Ex.29:9). Recebemos o Espírito Santo por causa da obra de Cristo Jesus na cruz do Calvário. Jesus soprou sobre os Seus discípulos o Espírito Santo, pois o Espírito Santo só pode ser dado porque Jesus foi glorificado (Jo.7:39).
– Os filhos de Arão receberam suas vestes sacerdotais depois que Arão foi vestido das suas e foi ungido com azeite. Recebemos nossas vestes de salvação porque Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, foi glorificado, vencendo a morte e o pecado e abrindo para nós um vivo e novo caminho pela Sua carne e, por isso, pôde enviar o Espírito Santo para fazer de nós a Sua morada (Lc.24:49). Nosso sacerdócio só tem sentido por causa do sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo. É por isso que o apóstolo Paulo diz que se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa fé e nossa pregação seriam vãs (I Co.15:14).
II – O SACRIFÍCIO DA CONSAGRAÇÃO
– Em seguida, o ritual da consagração determinava o sacrifício do novilho diante da tenda da congregação, ou seja, no altar dos sacrifícios. Arão e seus filhos deveriam pôr as mãos sobre a cabeça do novilho e Moisés deveria degolar o novilho perante o Senhor, à porta da tenda da congregação (Ex.29:10,11).
– Este sacrifício era o sacrifício pelos pecados do sumo sacerdote e dos sacerdotes (Lv.4:1-4), numa clara confissão deles que eram pecadores, como diz o escritor aos hebreus, “…homens fracos…” (Hb.7:28), que necessitam “…oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e, depois, pelos do povo…” (Hb.7:27).
– O sacerdócio aarônico ou levítico iniciava-se diante da constatação de que o pecado não tinha sido tirado. Era um sacerdócio incapaz de abrir um acesso livre a Deus. Ainda que os sacerdotes pudessem traspassar o primeiro véu, não poderiam fazê-lo com relação ao segundo, precisamente porque eram pecadores e não tinham como eliminar o pecado.
– Como se isto já fosse pouco, seus pecados, para que houvesse o legítimo exercício do sacerdócio, eram apenas cobertos, por sangue de animais, apenas adiando a execução do juízo divino até que outro sacerdócio, melhor e mais eficiente, fosse instituído, visto que, como diz o escritor aos hebreus, “porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hb.10:4).
– Na nova aliança, no entanto, o sacerdócio pode ser exercido por pessoas que não têm pecado, não porque não sejam pecadoras, pois não há homem que não peque (I Rs.8:46; I Jo.1:8,10), mas porque, quando estes sacerdotes pecam, podem eles recorrer ao Pai e pedir o perdão dos pecados, por Cristo Jesus, perdão este que é concedido e não há apenas um adiamento da execução do castigo, mas a eliminação mesma dos pecados, porque Jesus é a propiciação não só dos nossos pecados, mas dos do mundo inteiro (I Jo.2:1,2). Quando pedimos perdão pelos nossos pecados, Seu sangue nos purifica de toda a injustiça, sangue que tira o pecado, não apenas sangue que cobre os pecados, como fazia o sangue dos animais na antiga aliança.
– Assim, quando temos nossos pecados perdoados pelo Pai por Cristo Jesus, podemos, sem pecado, oficiar o nosso sacerdócio real, estando nós em condição muito superior aos dos sacerdotes do tempo da lei, motivo pelo qual, aliás, podemos entrar no lugar santíssimo (Hb.10:19-22). Aleluia!
– No ritual da consagração, após o novilho ter sido degolado à porta da tenda da congregação, o sangue deveria ser tomado e Moisés, com o seu dedo, deveria pôr o sangue nas pontas do altar e o sangue restante deveria ser derramado à base do altar (Ex.29:12).
– A colocação do sangue nas pontas do altar, que eram quatro, é uma figura da redenção de Cristo para toda a humanidade, a “propiciação pelos pecados de todo o mundo”, já que as quatro pontas simbolizam os “quatro cantos da Terra”. A salvação proporcionada por Jesus é para todos os homens, é universal. É o que chamamos de “expiação ilimitada”, estando, neste sentido, equivocados os calvinistas que entendem que Jesus tenha morrido tão somente pelos salvos.
Jesus morreu por todos os homens, mas a salvação só atinge aqueles que n’Ele creem, não por limitação da obra de Cristo, mas por limitação do próprio homem. OBS: Este ato, inclusive, é entendido pelo Catecismo Romano, como uma figura da santidade da Igreja. Diz o referido Catecismo: “…É claro, pois, que a Igreja é santa por ser o corpo de Cristo, por quem é santificada e com cujo sangue continuamente se purifica…” (Catecismo Romano, n. 1090. Citação de Ex.29:1-37. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 jan. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).
– O derramamento do sangue restante à base do altar é figura do derramamento do sangue de Cristo na cruz do Calvário, o sangue que nos remiu, que nos purificou de todo o pecado. Sem derramamento de sangue, não há remissão (Hb.9:22). O derramamento daquele sangue significava a cobertura dos pecados dos sacerdotes e era figura da eliminação do pecado por parte do Cordeiro de Deus (Jo.1:29).
– Em seguida, Moisés deveria queimar toda a gordura que cobre as entranhas, o redenho de sobre o fígado e ambos os rins sobre o altar, mas a carne do novilho, a sua pele e o seu esterco deveriam ser queimados não no altar, mas fora do arraial, porque se tratava de um sacrifício pelo pecado (Ex.29:14). OBS: “…dentro do processo de pecar, a pessoa utiliza pensamento, fala e ação. Então, D’us decretou que a expiação para seu pecado deva ter também três desdobramentos. Primeiro, ela coloca suas mãos no animal, uma ação de expiação. Então, ela confessa verbalmente. E, finalmente, as entranhas do animal — a fonte do prazer físico — são queimadas, correspondendo aos pensamentos e desejos da pessoa que a levaram a pecar.
O sangue do animal também é derramado, sugerindo à pessoa que, na realidade, sua própria vida deveria ter sido tomada por causa do pecado, mas que D’us, em Sua misericórdia, aceitou a vida do animal como um substituto…( Ramban. In: CHUMASH: o livro de Levítico, pp.4-5).
– Este ato de queima fora do arraial apontava para o sacrifício de Cristo, que se deu fora de Jerusalém, no monte Calvário. Por isso, o escritor aos hebreus diz: “temos um altar de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo, porque os corpos dos animais, cujo sangue é pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso mesmo também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta” (Hb.13:10,11).
– Este ato que tipifica o sacrifício de Cristo fora de Jerusalém também tem um importante significado para os salvos, qual seja, a necessidade que temos de também “sair fora do arraial, levando o vitupério de Cristo”(Hb.13:13). Mas que significa “levar o vitupério de Cristo”?
– Vitupério é palavra, atitude ou gesto que tem o poder de ofender a dignidade ou a honra de alguém; afronta, insulto, acusação infamante, injúria. O ato da queima da carne, pele e esterco do novilho fora do arraial simboliza toda a afronta que Jesus Cristo sofreria para nos salvar e que também devemos sofrer em nossa vida sobre a face da Terra. Assim como Cristo, devemos suportar a cruz, desprezando a afronta pelo gozo que nos está proposto, a fim de que também possamos nos assentar no trono de Cristo, à direita do Pai (Hb.12:2).
– O vitupério de Cristo deve ser levado “fora do arraial”, ou seja, à vista de todos. Temos de combater contra o pecado, resistindo até o sangue se necessário for. No entanto, nos dias em que vivemos, não são poucos os que cristãos se dizem ser que, diante de tão somente ameaças de perseguição ou de afronta, já recuam, acovardam- se, conformando-se aos ditames mundanos, à mentalidade anticristã. Estes, certamente, não estão a exercer o sacerdócio cristão, estão a negar o seu Senhor e Cristo, agindo de forma que o Senhor não Se agradará deles, caminhando, infelizmente, para a perdição (Hb.10:38,39). Tomemos cuidado!
– Em seguida à queima do novilho, Moisés deveria tomar um carneiro, devendo Arão e seus filhos também pôr a mão sobre a cabeça do animal (Ex.29:15). O carneiro seria, então, degolado, sendo tomado o seu sangue e espalhado sobre o altar ao redor. O carneiro seria, então, partido em suas partes, teria lavadas as suas entranhas e as suas pernas, que seriam postas sobre as suas partes e a sua cabeça, sendo, então, o animal totalmente queimado no altar, o que se chama de “holocausto”, ou seja, sacrifício totalmente queimado (Ex.29:15-18).
– Esta oferta não foi feita pelo pecado, mas, sim, como uma oferta de cheiro suave ao Senhor, uma oferta de gratidão a Deus, um ato de adoração ao Senhor (Lv.1:1-9). Diz o comentarista judeu Rashi (1040-1105) que o objetivo do sacrifício era tão somente agradar a Deus, gerar-Lhe um “espírito de satisfação”, o cumprimento da vontade de Deus. Assim, este sacrifício todo queimado do carneiro simbolizava a prontidão do sacerdote em atender à vontade do Senhor, em outras palavras, a assunção do serviço, da qualidade de servo.
OBS: Agostinho afirma: “…um sacrifício de vítimas, oferecido dentro de disposições sobrenaturais, é agradável a Deus em virtude das coisas que ele simboliza. Deus não tem como nós um sentido físico de olfato. A significação dos sacrifícios é, então, espiritual, como o odor que Deus respira…” (Sobre o Heptateuco, n.2217. Citação de Ex.29:1-37.Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 jan. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
– Jesus Cristo, o nosso Sumo Sacerdote, fez a vontade do Pai, veio a este mundo para isto, tanto que dizia que a Sua comida era fazer a vontade d’Aquele que O enviou (Jo.4:39). Por isso mesmo, Seu sacrifício começa com a entrega total de Sua vontade no Getsêmane (Mt.26:39; Mc.14:36; Lc.23:42). Assim como o Senhor, nós, também, somos ensinados a orar ao Pai a fim de que a vontade d’Ele seja feita assim na terra como no céu (Mt.6:10). Que possamos repetir as palavras do poeta sacro Francisco Nogueira de Queiroz (1891-1983): “Pra fazer a Tua vontade, quero de Ti mais poder; dá-me a Tua santidade, quero só pra Ti viver” (estrofe do hino 339 da Harpa Cristã).
– Não há como sermos legítimos sacerdotes do Senhor Jesus se não estivermos prontos a realizar a Sua vontade, se não nos comportarmos como verdadeiros servos, que não têm vontade própria, mas, por serem propriedades de Cristo (I Co.1:30), sempre fazem o que Ele manda e, por isso mesmo, são Seus amigos (Jo.15:14).
– Após o holocausto do primeiro carneiro, Moisés deveria tomar o segundo carneiro, sobre a cabeça do qual Arão e seus filhos também poriam as mãos, devendo, então, este carneiro ser degolado à porta da tenda da congregação. Moisés, então, deveria tomar do sangue do carneiro e o pôr na ponta da orelha direita de Arão, como também o dedo polegar da mão direita e sobre o dedo polegar do pé direito, espalhando o restante do sangue sobre o altar ao redor (Ex.29:20).
– Este segundo carneiro, chamado de “carneiro das consagrações” (Ex.29:20), era sacrificado para purificação do próprio exercício do ofício sacerdotal. O sangue deveria ser posto na orelha direta, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito. Isto tem um profundo significado espiritual.
– Por primeiro, é importante considerar que a escolha do lado direito é consequência de se considerar este lado como o “lado forte” da pessoa, ou seja, o lado que representa a própria personalidade do ser humano, o seu âmago, o seu próprio “eu”.
– Percebe-se, portanto, que, neste ato da consagração do sacerdote, evidencia-se que o sacerdote precisa ter todas as suas ações devidamente purificadas, precisa, depende da purificação do sangue para poder exercer o seu ofício, mesmo tendo tido seus pecados perdoados, mesmo tendo se vestido de vestes santas, mesmo tendo se disposto a fazer a vontade do Senhor.
– É por isso mesmo que o apóstolo João, ao descrever o estado do crente, em I Jo.1:7, fala deste estado como um andar na luz, um estado de comunhão de uns com os outros, mas, também, um estado em que o sangue de Jesus Cristo vai nos purificando a cada momento, a cada instante, pois é este o sentido do verbo no original grego.
– O sacerdote precisa ter o sangue na sua orelha direita, ou seja, precisa ter uma audição purificada, de modo a que não se deixe levar por tudo o que ouve, devendo ser sensível à voz do Senhor. O sacerdote precisa estar atento ao que Deus fala, não pode endurecer o seu coração, como fizeram os israelitas em Massá e Meribá, perdendo a chance de receberem a promessa de Abraão (Sl.95:7-11) e como fizeram os próprios Moisés e Arão, perdendo a oportunidade de entrar na Terra Prometida (Nm.20:7-13).
– Mas o sacerdote também precisava ter purificado o polegar da sua mão direita. Mão, na Bíblia, fala de obras, atitudes, ações, ou seja, precisamos que nossas obras sejam purificadas, que nossos atos sejam realizados sem más intenções, com o único propósito de obedecer e de agradar a Deus. As pessoas precisam ver nossas boas obras e glorificar ao Senhor (Mt.5:16). Serão estas obras, devidamente purificadas, que promoverão a entrega de galardões no tribunal de Cristo (II Co.5:10), obras que passarão pelo fogo do Senhor e que são reputadas como sendo de ouro, prata e pedras preciosas (I Co.3:12-15).
– O sacerdote, também, precisava ter purificado o polegar do seu pé direito. Pé, na Bíblia, fala de conduta, comportamento, de direção. Nossos passos precisam ser devidamente purificados, a fim de que não venhamos a andar em caminhos perigosos e que nos levem à perdição. Não podemos andar segundo o conselho dos ímpios, não podemos nos deter no caminho dos pecadores, nem nos assentar na roda dos escarnecedores (Sl.1:1). Devemos andar na luz, como Jesus está na luz (I Jo.1:7), tendo uma vida sincera e não uma vida oculta aos olhos dos irmãos, mas patente aos olhos de Deus.
– Nosso andar deve ser segundo o espírito, não segundo a carne (Rm.8:1), andando em santidade, separados do pecado, pois somente assim teremos a companhia do Senhor Jesus e Ele acabará por nos levar até os céus (Ap.3:4). Se andamos com Jesus, teremos o mesmo destino de glorificação do Senhor. Aqui vale o velho adágio popular: “dize-me com quem andas, que te direi quem és”.
– Mas, após a colocação do sangue sobre a orelha direita, o polegar da mão direita e o polegar do pé direito, Moisés deveria tomar do sangue que estava sobre o altar e do azeite da unção e o espargir sobre Arão e sobre os seus vestidos, como também sobre os seus filhos e os vestidos de seus filhos com ele, para que, então, fossem eles santificados, como também suas vestes (Ex.29:20).
– A aspersão do sangue e do azeite sobre Arão e seus filhos, para significar a sua santificação, ou seja, a sua separação para o exercício sacerdotal, ensina-nos que não podemos ser sacerdotes se não formos “nascidos da água e do Espírito”. Precisamos ter o perdão dos nossos pecados pelo sangue de Jesus e recebermos o Espírito Santo para podermos ser sacerdotes de Cristo Jesus nesta Terra.
– A aspersão dava-se em todo o corpo dos sacerdotes, atingindo a eles como a suas vestes, a nos indicar que devemos viver em santificação para podermos ver o Senhor (Hb.12:14), não só no momento da glorificação, mas mesmo antes, a partir do momento que recebemos a Cristo como Senhor e Salvador de nossas vidas.
– É o sangue de Cristo que nos leva para perto de Deus, que derruba a parede de separação que havia entre Deus e os homens (Ef.2:13-16). O sangue de Cristo faz a reconciliação entre Deus e os homens e, por isso, podemos agora servir de sacerdotes entre Deus e os homens que ainda não foram purificados por este sangue. Com o perdão dos pecados, o Espírito Santo vem fazer em nós morada, e passamos a ser vestidos do Santo Espírito.
– Não se pode exercer o sacerdócio cristão sem o sangue de Cristo, que nos dá entrada ao trono da graça, ao santuário celestial, como também sem o Espírito Santo, que, com gemidos inexprimíveis, ora conosco e nos leva, em Sua companhia, à presença do Senhor (Rm.8:26; Ap.22:17), pois o Espírito está conosco, além de habitar em nós (Jo.14:17).
– É bom notar que embora só Arão tenha sido ungido com azeite, a aspersão foi sobre ele e seus filhos, a nos mostrar que o Espírito Santo precisa estar presente em todos os salvos, independentemente da unção especial que teve d’Ele o Senhor Jesus a partir do início de Seu ministério terreno. Todos nós somos templos do Espírito Santo (I Co.6:19).
– Após a aspersão do sangue e do azeite sobre as vestes e as pessoas de Arão e de seus filhos, Moisés teria de tomar deste segundo carneiro a gordura, a cauda, a gordura que cobre as entranhas, o redenho do fígado e ambos os rins com a gordura que neles tivesse, o ombro direito do carneiro, assim como uma fogaça de pão, um bolo de pão azeitado e um coscorão do cesto dos pães asmos, deveriam ser postos nas mãos de Arão e de seus filhos, devendo eles mover tudo isto perante o Senhor (Ex.29:22-24).
– Tratava-se de uma “oferta de movimento”, ou seja, algo que deveria ser oferecido perante o Senhor com um movimento das mãos e dos braços. O pão asmo, o coscorão asmo e o bolo de pão asmo azeitado deveriam, juntamente com as partes já mencionadas do carneiro das consagrações, ser apresentado como “oferta de movimento” perante o Senhor.
OBS: A Bíblia de Estudo de Genebra diz que o movimento era feito em todos os pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste), como também para cima e para baixo. Também é este o entendimento de John Gill em sua Exposição da Bíblia que diz que o estudioso judeu Jarchi diz que estes movimentos simbolizavam os “quatro ventos do mundo” (Cf. Exposição da Bíblia. Com. Ex.29:24. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-29-24.html Acesso em 23 jan. 2014) (texto em inglês), o que nos permite inferir daí a plenitude do Espírito Santo.
– Esta “oferta de movimento”, tendo um dos elementos com azeite, simboliza o revestimento de poder, pois as “ofertas de movimento” são característica tanto da oferta da festa das primícias (Lv.23:12), que aponta para a ressurreição de Cristo, como da oferta da festa das semanas, ou seja, da festa de Pentecostes (Lv.23:20), que aponta para o revestimento de poder para os discípulos.
– Percebamos que esta é a primeira vez, em todo o ritual, que Arão e seus filhos praticam algum ato, como a mostrar que, para que haja o efetivo e eficaz exercício do sacerdócio de Cristo, é indispensável que tenhamos o batismo com o Espírito Santo, que sejamos revestidos de poder. Notemos que Arão e seus filhos já portavam as vestes sacerdotais, ou seja, não é necessário o batismo com o Espírito Santo para que se seja salvo, mas é preciso termos esta “oferta de movimento” para que a vida sacerdotal avance e alcance os objetivos preconizados pelo Senhor.
– Esta “oferta de movimento” mostra a necessidade que tem o sacerdote de Cristo de se oferecer, de se entregar ao Senhor, deixando que o Espírito Santo lhe sobrevenha e lhe “encha” o templo com a Sua presença, que o faça trasbordar na presença do Senhor. É através de uma “oferta de movimento”, de uma entrega total ao Senhor, de uma busca incessante do dom do Espírito Santo, que seremos revestidos de poder e tomaremos posse da “segunda bênção”, daquilo que vem do “segundo carneiro”, o “carneiro das consagrações”.
– Matthew Henry diz que é neste momento que houve a consagração propriamente dita dos sacerdotes, pois eles tinham as “mãos cheias”. “…A frase hebraica para consagração é ‘encher a mão’ (Ex.29:9); Tu deverás encher a mão de Arão e seus filhos e o carneiro das consagrações é o carneiro das mãos cheias (Ex.29:22,26); a consagração deles era o seu aperfeiçoamento; de Cristo é dito que Ele é perfeito e consagrado para sempre (Hb.7:28).
Provavelmente a frase aqui é emprestada de se pôr do sacrifício nas mãos deles, para ser movida perante o Senhor (Ex.29:24). Mas isto nos mostra que: [1] ministros que têm suas mãos cheias não têm tempo para gastar em coisas inúteis, tão grande, tão copioso, tão constante é o seu trabalho; [2] que eles têm de ter suas mãos cheias. Necessariamente eles têm de oferecer algo e eles não podem achar isto em si mesmos, deve ser dado a eles de cima e receber de Sua plenitude (Jo.1:16)…” (Comentário completo sobre a Bíblia toda. Com. Ex.29:1-37. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/29.html Acesso em 23 jan. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).
– Estar com as mãos cheias na “oferta do movimento” significa a “plenitude do Espírito Santo”, que é, como afirma o comentarista bíblico, uma necessidade para que possamos ter um serviço eficaz e eficiente diante do Senhor. É necessário estarmos “cheios do Espírito” para podermos ter um sacerdócio conforme as próprias exigências feitas pelo Senhor.
– Em seguida, então, Moisés tomaria a “oferta de movimento” das mãos de Arão e de seus filhos e a queimaria no altar como “oferta queimada ao Senhor” (Ex.29:25). Era uma nova oferta que agradava ao Senhor, pois o Senhor Se agrada de tantos quantos buscam o batismo com o Espírito Santo, que querem ser revestidos de poder para fazer a obra de Deus eficazmente, do modo querido pelo próprio Senhor.
– Tratava-se este sacrifício de um “sacrifício pacífico”, de uma “oferta alçada”, ou seja, algo proveniente de alguém que teve seu pecado perdoado, que está em plena comunhão com o Senhor e que é grato a Deus pela sua redenção. Somente pode ser batizado com o Espírito Santo aquele que está em comunhão com Deus, que já alcançou a salvação. É um passo a mais na intimidade com o Senhor Jesus, uma disponibilização para o Seu serviço.
– Após a queima de tudo quanto estava nas mãos de Arão e de seus filhos, Moisés deveria tomar o peito do carneiro, movendo-o com movimento perante o Senhor, sendo esta a porção de Arão, assim como o ombro da oferta alçada (Ex.29:26-28).
– Esta carne, então, seria cozida no lugar santo e seria consumida por Arão e seus filhos, assim como o pão que está no cesto à porta da tenda da congregação, pão asmo, sendo uma refeição peculiar aos sacerdotes, que não poderia ser comida por qualquer estranho (Ex.29:31-33).
– Esta refeição, que é verdadeira continuação do sacrifício, era algo sagrado, tanto que somente os sacerdotes poderiam consumir aquela carne do carneiro, pois se tratava de coisa santa. Esta refeição simbolizava a comunhão existente entre o Senhor e os sacerdotes, como também a comunhão entre os próprios sacerdotes, sendo também o reconhecimento da bênção de Deus sobre os sacerdotes.
– Como diz Matthew Henry: “…Era para Arão e seus filhos comerem à porta do tabernáculo (Ex.29:31-33) para significar que eles eram chamados não apenas como servos, mas como amigos (Jo.15:15). Ele ceou com eles e eles com Ele (Ap.3:20). A comida das coisas santas por eles enquanto a reconciliação era feita significava o alcance da reconciliação, como se expressa Rm.5:11, a graciosa aceitação do seu benefício e a sua alegre comunhão com Deus em razão dela, que era a verdadeira intenção e o significado de uma festa após
1º Trimestre de 2014 – UMA JORNADA DE FÉ: A formação do povo de Israel e sua herança espiritual
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o sacrifício.…” (Comentário completo sobre a Bíblia toda. Com. Ex.29:1-37. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/29.html Acesso em 23 jan.2014) (tradução nossa de texto em inglês).
– A porção de Arão e seus filhos era composta do peito do carneiro e de seu ombro direito. O peito fala-nos do coração e, portanto, do amor de Deus para conosco. É o amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5), que faz com que tenhamos comunhão com Ele e, em guardando Sua Palavra, também demonstremos amor por Ele, visto que O amamos porque Ele nos amou primeiro (I Jo.4:19).
– A comunhão dos sacerdotes de Cristo entre si e com o Senhor dá-se pelo amor, pois é assim que se edifica o corpo de Cristo (Ef.4:16), até porque o amor é a única virtude teologal que perdurará no santuário celestial (I Co.13:8-13). Deus é amor e, portanto, Seus sacerdotes precisam amar uns aos outros assim como Jesus os amou (Jo.15:12). Qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus (I Jo.4:8), por isso a porção dos sacerdotes era o peito do carneiro, a demonstrar o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.
– O ombro direito, que também fazia parte da porção de Arão, fala-nos do Senhor como sustento de todo o sacerdócio cristão. O ombro direito é aquele que simboliza a força, o sustento efetuado por alguém. Ao ingerir o ombro direito do carneiro das consagrações, Arão e seus filhos davam testemunho de que era o Senhor quem os sustentava no seu ofício sacerdotal, que eles tudo faziam em virtude dos méritos e da soberania do Senhor.
– Jesus leva o principado sobre os Seus ombros (Is.9:6). O senhorio é de Cristo e, portanto, nada temos que temer. Estando em comunhão com Ele, participando de Seu corpo e de Seu sangue, podemos ter a certeza de que Ele usará do Seu poder para sustentar o nosso serviço, o nosso trabalho que fizermos para Ele. Somos menos do que nada, mas Ele está conosco, podemos nos fortalecer na força do Seu poder (Ef.6:10), pois temos podido crer n’Ele segundo a operação da força do Seu poder (Ef.1:19).
– Além do carneiro, também deveria ser consumido o pão asmo, que estava no cesto. Este pão, como já tivemos ocasião de estudar na lição sobre a celebração da primeira Páscoa (lição 4), simboliza a santificação, a santidade necessária para a vida espiritual, como também é figura do próprio Senhor Jesus, já que Cristo é comparado como sendo os asmos da sinceridade e da verdade (I Co.5:8).
– Somente poderemos ser legítimos e autênticos sacerdotes de Cristo Jesus se vivermos de acordo com a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17) e vivermos aquilo que pregarmos, formos sinceros e não hipócritas religiosos, como eram os fariseus (Mt.23:3, 23-31). Deus nos guarde, amados irmãos!
– O que sobejasse do alimento até à manhã, deveria ser queimado com fogo, porque era santo (Ex.29:34), a nos ensinar que nossa comunhão com Deus é algo diário, algo que deve ser mantido dia após dia. O sacerdote de Cristo Jesus não pode viver do passado, achando que a comunhão que gozava antes lhe servirá de compensação ou terá algum valor hoje. O tempo da comunhão é “hoje”, este é o tempo do sacerdote de Cristo Jesus.
– A consagração duraria sete dias, devendo, todos os dias, ser preparado um novilho para sacrifício pelo pecado, bem como ser purificado o altar, fazendo-se expiação sobre ele , bem como deveria ser ele ungido para santificá-lo, tornando-se, assim, o altar santíssimo (Ex.29:36,37).
– Sobre o altar, deveria ser realizado o chamado “holocausto contínuo” (Ex.29:42), ou seja, os dois cordeiros de um ano que deveriam ser sempre sacrificados, continuamente, a partir de então, um pela manhã e outro, à tardinha. Este sacrifício, denominado de “sacrifício contínuo” (Dn.8:12), era um sacrifício que apontava, durante todo o período da lei, para o sacrifício de Cristo Jesus. Estes dois cordeiros de um ano relembravam o cordeiro pascal, era a figura do Cordeiro de Deus que viria a tirar o pecado do mundo (Jo.1:29).
– Este cordeiro de um ano, que é figura de Cristo Jesus, deveria ser oferecido com a décima parte de flor de farinha, misturada com a quarta parte de um him de azeite batido, e, para libação, a quarta parte de um him de vinho (Ex.29:40). Todos estes elementos falam-nos de Jesus, a saber:
a) a flor de farinha aponta-nos para Cristo como o pão da vida (Jo.6:35,48), como o grão de trigo que morre para viver e produzir fruto (Jo.12:24);
b) a quarta parte de um him de azeite batido aponta-nos para Cristo como Aquele que foi ungido pelo Espírito Santo para fazer bem e curar a todos os oprimidos do diabo (At.10:38), como o Cristo, o Ungido de Deus (Mt.27:17,22);
c) a quarta parte de um him e vinho aponta-nos para Cristo tanto como Aquele que derramou o Seu sangue para nos remir (Rm.3:25; 5:9; Ef.1:7; Cl.1:14;Ap.1:5), como também Aquele que proporcio-a a todos nós a alegria da salvação (Sl.51:12; 104:15).
– Este sacrifício diário, que deveria ser feito pelos sacerdotes, aponta-nos para o serviço que deve ser feito diariamente pelos sacerdotes de Cristo, que é o de nada se propor a saber entre os homens senão a Cristo, e Este crucificado (I Co.2:2). O objetivo de todo sacerdote de Cristo deve ser o de mostrar Jesus aos homens, seja através de pregação, seja através de suas ações.
Como são poucos os que cristãos se dizem ser que têm como razão de suas vidas o anúncio de Cristo, cujas vidas são cristocêntricas, ou seja, têm a Cristo como centro de suas vidas. Até mesmo as pregações nas igrejas locais já não põem Cristo no centro, que dirá no dia-a-dia das pessoas. No entanto, não é isto que nos mostra o tipo do sacrifício contínuo, não é isto que se exige de um verdadeiro e genuíno sacerdote de Cristo Jesus.
– A consequência da oferta deste sacrifício contínuo era que o Senhor viria ali aos filhos de Israel para que por Sua glória fossem eles santificados, assim como a tenda da congregação, o altar e os sacerdotes, como também o Senhor viria habitar no meio dos filhos de Israel e lhes ser por Deus (Ex.29:43-46), ou seja, o resultado desta tarefa diária dos sacerdotes era a glorificação do Senhor diante de Israel e a santificação do povo. Da mesma maneira, se formos diligentes na tarefa de não propor saber entre os homens senão a Cristo, e Este crucificado, também promoveremos a vinda da glória de Deus aos homens, que glorificarão ao Senhor pelo nosso porte sincero e conforme à vontade de Deus, bem como a sua santificação. Teremos, assim, chegado ao estágio último que o Senhor propôs a Abrão: o de sermos uma bênção (Gn.12:2).
– Ser uma bênção é levar a glória de Deus até as pessoas através de nosso serviço sincero e obediente ao Senhor, em nosso dia-a-dia, nas mínimas coisas. Ser uma bênção é praticar boas obras, anonimamente muitas vezes, mas obras que levam as pessoas a glorificar ao nosso Pai que está nos céus. Ser uma bênção é estar em comunhão com Deus e fazer-Lhe sempre a vontade. O sacerdote é aquele que faz a mediação entre Deus e os homens e os sacerdotes somente cumpririam este mister se efetuassem o sacrifício contínuo, mediante o qual o Senhor Se chegaria ao Seu povo e os santificaria.
– Era mediante o sacrifício contínuo que a glória de Deus, que se encontrava no lugar santíssimo, chegava até o povo de Israel. É mediante o sacrifício de Cristo Jesus que podemos ter acesso ao lugar santíssimo, que o véu se rasgou de alto a baixo e nos deu entrada no santuário celestial. Por isso, jamais devemos nos esquecer do sacrifício de Cristo, nem deixar de lhe dar o seu real valor. Que possam ser nossas as palavras do poeta sacro anônimo: “Queremos, Jesus, neste ato de amor, o Teu memorial celebrar; para nós ele tem um infinito valor, um valor que jamais vai cessar” (quarta estrofe do hino 482 da Harpa Cristã).
– Quando desempenhamos corretamente o papel de sacerdotes de Cristo Jesus, somos habitação de Deus e Deus, então, revela estar não só conosco, mas, também, estar em nós e a consequência disto é gloriosa não só para nós, para todos quantos estão ao nosso redor. Como afirma Matthew Henry: “…se temos isto, temos o suficiente e não precisamos de mais nada para sermos felizes.” (Comentário completo sobre a Bíblia toda. Com. Ex.29:38-46. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/29.html Acesso em 23 jan. 2014) (tradução nossa de texto em inglês). Temos sido sinceros, genuínos e autênticos sacerdotes de Cristo? Pensemos nisto! Colaboração para o
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
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