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LIÇÃO Nº 12 – A NUVEM DE GLÓRIA     

 

O tabernáculo ensina-nos que desfrutaremos da glória de Deus. 

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo sobre o tabernáculo, analisaremos a nuvem de glória.

– O tabernáculo ensina-nos que desfrutaremos da glória de Deus.

 I – O QUE É A GLÓRIA DE DEUS

 – Na sequência do estudo sobre o tabernáculo, estaremos hoje a estudar a nuvem de glória, que já foi analisada superficialmente quando abordamos o lugar santíssimo.

 – Para fazermos um estudo mais detido sobre a nuvem de glória, faz-se mister, primeiro, saber o que é a “glória de Deus”, até porque, quando falamos de relacionamento entre Deus e o homem, e é disto que trata o tabernáculo,

santuário e habitação de Deus no meio dos filhos de Israel (Ex.25:8), devemos lembrar a afirmação do apóstolo Paulo de que, por terem todos os homens pecado, estão destituídos da glória de Deus (Rm.3:23). 

– A Bíblia On-line da Sociedade Bíblica do Brasil traz três definições de “glória”:

1) Honra ou louvor dado a coisas (I Sm.4:21,22), a pessoas (Lc.2:32} ou a Deus (Sl.29:1; Lc.2:14);

2) A majestade e o brilho que acompanham a revelação da presença e do poder de Deus (Sl.19:1; Is. 6:3; Mt.16:27; Jo.1:14; Rm.3:23);

3) O estado do novo corpo ressuscitado, espiritual e imortal, em que os salvos serão transformados e o lugar onde eles viverão (I Co.15:42-54; Fp.3:21; Cl.3:4). 

– A palavra glória aparece, pela vez primeira nas Escrituras, em Gn.31:1, quando os filhos de Labão acusam Jacó de ter toda uma glória a partir da diminuição patrimonial que teria causado a seu sogro e pai dos acusadores.

É a palavra hebraica “kabhodh” (כבוד), “…propriamente peso, mas somente em sentido figurado num bom sentido, esplendor ou copiosidade: — glorioso, gloriosamente, glória, honra, honroso. Substantivo masculino singular que significa honra, glória, majestade, riqueza.

Este termo é normalmente usado para Deus (Ex.33:18; Sl.72:19; Is.3:8; Ez.1:28); seres humanos (Gn.45:13; Jó 19:9; Sl.8:5; 21:5) e objetos (I Sm.2:8; Et.1:4; Is.10:18), particularmente para a Arca do Concerto (I Sm.4:21,22)” (Bíblia de Estudo Palavras Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 3519, p.1700). 

– Em o Novo Testamento, é a palavra grega “doksa” (δόξα), “…glória (como algo muito aparente), de forma abrangente (literal ou figurado, como sujeito ou objeto):

– dignidade, glória (glorioso), honra, louvor, adoração. Substantivo de dokeo, pensar, reconhecer. Uma semelhança, aparência. Nas páginas sagradas do Novo Testamento, honra, glória…” (op.cit. Dicionário do Novo Testamento, verbete 1391, p.2154). 

– Quando se fala em glória, portanto, tem-se, por primeiro, a ideia de honra e de dignidade e, só por este fato, podemos observar que a maior glória é a de Deus, visto que é o Ser digno por excelência, o Ser Supremo e Soberano.

Aliás, quando verificamos a visão que João teve dos céus, vemos que os mais sublimes seres celestiais se prostraram diante de Cristo e disseram ser Ele digno de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória e ações de graças (Ap.5:12).

– Mas, quando se fala, também, em glória, está-se a falar da majestade e do brilho que acompanham a revelação da presença de Deus e, neste passo, temos, na ideia de glória de Deus, também a ideia da Sua presença, da Sua companhia.

– “…A glória de Deus é a beleza do Seu espírito. Não é uma beleza estética ou material, mas é a beleza que emana do Seu caráter, de tudo o que Ele é.

Tiago 1:10 convida um homem rico a “orgulhar-se se passar a viver em condição humilde”, indicando uma glória que não significa riqueza, poder ou beleza material. Esta glória pode coroar o homem ou encher a terra.

É vista dentro do homem e na terra, mas não pertence a eles, só a Deus. A glória do homem é a beleza do espírito do homem, a qual é falível e passageira, sendo assim humilhante, como nos diz o versículo.

Entretanto, a glória de Deus, manifesta através do conjunto dos Seus atributos, nunca passa. É eterna.…” (O que é a glória de Deus. Disponível em: https://www.gotquestions.org/Portugues/Gloria-de-Deus.html Acesso em 28 ago. 2017).

 – “…O que vem a ser a glória de Deus? O que significa? A glória de Deus é o seu esplendor, sua majestade.

A Bíblia usa a glória de Deus em sentido figurado, representando suas próprias manifestações. A Bíblia refere-se a muitas aparições e atos de Deus fazendo menção da sua glória.(…).

  1. A glória de Deus é o seu esplendor, sua majestade.
  2. Às vezes a glória de Deus é usada em sentido figurado, representando ele próprio.…” (STEWART, DON. 103 perguntas que as pessoas podem fazer sobre Deus apud S. JÚNIOR, Hélio. O que é a glória de Deus? Disponível em: http://desafioscristao.blogspot.com.br/2011/04/o-que-egloria-de-deus.html Acesso em 28 ago. 2017).

– O Senhor é detentor desta glória sublime e eterna, tanto que, ao criar todas as coisas, Sua própria criação a manifestou, tanto que o salmista diz que “os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos” (Sl.19:1),

a ponto de o apóstolo Paulo dizer que tal manifestação faz com que os homens fiquem inescusáveis diante do Senhor (Rm.1:18-21). 

 

– Assim, os homens, pelo só fato da criação, têm conhecimento da glória de Deus e devem, em virtude desta manifestação, ser-Lhe obedientes e submissos, visto que se tem a nítida concepção de que Deus é o Senhor e digno de toda honra. Deve-se reconhecer, portanto, a Sua glória. 

– Mas, muito mais do que fazer conhecida aos homens a Sua glória, o Senhor quis dela compartilhar com o homem, tanto que, todos os dias, vinha ao encontro do homem na viração do dia, no jardim do Éden (Gn.3:8) e,

como Deus Se fazia presente de modo especial ao primeiro casal, não há porque duvidar de que Adão e Eva compartilhavam desta glória divina, ainda que habitassem a Terra.

A tradição judaica registrada no Talmude e em alguns targuns [comentários feitos por escribas do texto das Escrituras em suas explanações ao povo nas sinagogas – observação nossa]

diz que Adão era um ser de extrema beleza e que possuía um brilho similar ao do sol e que sua pele era uma roupa brilhante, brilhando como suas unhas, querendo, com isto, afirmar que, de certo modo, antes do pecado, Adão compartilhava da glória divina.

Também a tradição diz que a altura de Adão ia do solo até os céus, o que deve ser entendido num sentido metafórico, ou seja, de que o homem tinha pleno acesso à glória divina, manifestada pelos céus.

OBS: “…R. Bana’a disse: Percebi os dois saltos de [Adão], e eles eram como dois orbes do sol.(…)

A beleza de R. Kahana era um reflexo de [a beleza de Rab;

A beleza de Rab era um reflexo da beleza de R. Abbahu;

A beleza de R. Abbahu era um reflexo da beleza de nosso pai Jacó, e a beleza de Jacob era um reflexo da beleza de Adão.…”(Talmude. Baba Bathra 58a. Disponível em: http://www.come-andhear.com/bababathra/bababathra_58.html Acesso em 28 ago. 2017) (tradução feita pelo Google de texto em inglês). …” “Como disse o rabino Elazar:

A altura de Adão, o primeiro homem, chegou do chão ao céu, como se afirma: ‘Desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra desde uma extremidade do céu até à outra” (Deuteronômio 4:32).…” (Talmude. Hagigah 12ª. Disponível em: https://www.sefaria.org/Chagigah.12a.2?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 28 ago. 2017) (tradução do Google de texto em inglês)” “…Sua pele era uma roupa brilhante, brilhando como suas unhas…” (Targ. Yer. Gen. iii. 7; Gen. R. xi.; Adam and Eve, xxxvii. Apud Adam. In: Jewish Encyclopedia. Disponível em: http://www.jewishencyclopedia.com/articles/758-adam Acesso em 28 ago. 2017) (tradução do Google de texto em inglês).…”. 

– Com o pecado, entretanto, o homem foi “destituído” da glória de Deus (Rm.3:23). A expressão empregada pelo apóstolo Paulo é a palavra grega “hustereo” (ύστερέω),

“…ser posterior, i.e., (consequentemente) ser inferior; genitivo não chegar a , não alcançar (ser deficiente):

– ficar para trás, não alcançar, não chegar a, ser destituído, falhar, sentir falta de, sofrer necessidade, (estar em) necessidade, ser pior” (Bíblia de Estudo Palavras Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 5302, p.2443). 

– Tem-se, portanto, que a ideia trazida pelo texto sagrado é a de que o homem, ao pecar, passou a ser inferior, daí mesmo a ideia de “queda”, de “descida” que está associada à prática do pecado pelo primeiro casal, fazendo com que o homem não mais pudesse alcançar a glória de Deus, ficasse aquém dela.

Neste sentido, aliás, a metáfora já mencionada da “altura de Adão”, pois diz o Talmude:

“…Quando o homem pecou, o Santo, abençoado seja Ele, colocou Sua mão sobre ele e o diminuiu, como está escrito:”Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a Tua mão” (Sl. 139:5).” (Talmude, Hagigah 12-a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Chagigah.12a.2?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 28 ago. 2017) (tradução nossa de texto em inglês). 

– A “destituição” da glória de Deus foi, portanto, a deficiência de poder alcançar e partilhar da presença de Deus e, neste passo, a perda da “beleza divina”, do “esplendor divino”, o que implicou na própria corrupção do corpo, mas, sobretudo, na perda das qualidades morais de que Adão era dotado e o que faziam “reto” (Ec.7:29).

Tanto assim é que, dentro do paralelismo da poesia hebraica, podemos inferir que a glória do Senhor é a “beleza da santidade divina” (Sl.29:2) e,

portanto, sem tal santidade, perdida com o pecado, não há como se chegar à presença de Deus, o que apenas se conseguiria com a salvação. Charles Spurgeon afirma que

“…Agora nossa adoração é espiritual, e a arquitetura da casa e as roupas dos adoradores são de nenhuma importância.

A beleza espiritual da pureza interior e da santidade exterior é muito mais preciosa aos olhos de nosso Deus três vezes santo” (O Tesouro de Davi. Comentário ao Sl.29:2. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/treasury-of-david/psalms-292.html Acesso em 28 ago. 2017) (tradução do Google de texto em inglês). 

– A “nudez” de Adão se apresenta, então, do ponto-de-vista espiritual, tanto que foi esta a justificativa apresentada por ele para ter se escondido do Senhor (Gn.3:10).

Por isso o Targum já aludido afirma que “quando ele [Adão] pecou, seu brilho desapareceu e ele apareceu nu”.

Esta nudez não é a física, pois ele não usava vestes desde sua criação (Gn.2:25), mas, sim, a nudez espiritual de que alude o apóstolo Paulo em II Co.5:3, tanto assim que, quando somos salvos, somos “vestidos das vestes da salvação” (II Cr.6:41; Is.61:10). 

– “…Ambrósio, com referência a Elias e seu jejum, no capítulo 4, diz:

‘Adão estava coberto com uma veste de virtudes antes da sua transgressão; mas, como se tivesse sido desnudado pelo pecado, ele se viu nu, porque a veste que tinha, anteriormente, foi perdida’.

E, novamente, no sétimo livro de seu comentário sobre o capítulo 10 daquele Evangelho, assinalando, de maneira ainda mais clara, a distinção entre a perda das qualidades sobrenaturais e a corrupção das naturais, ele diz:

Quem são os ladrões, se não os anjos da noite e da escuridão? Primeiramente, eles nos despem das vestes da graça espiritual, e então nos infligem ferimentos’.

Agostinho, (De Trinitate, lib. 14, cap. 16) diz: ‘Ao pecar, o homem perdeu a justiça e a verdadeira santidade e, por esse motivo, a sua imagem ficou deformada e manchada; ele recebe, novamente, essas qualidades, quando é renovado e reformado’…” (ARMINIO, Jacó. Um debate amistoso entre Jacó Armínio e Francis Junius, a respeito da predestinação, realizado por meio de cartas. In: As obras de Armínio. Trad. de Degmar Ribas. v.3, p.122). 

– Deus é vestido de glória e majestade (Sl.104:1) e refletia sobre o homem, de algum modo, esta circunstância, mas, com o pecado, isto se perdeu, o que somente ser restaura quando da salvação na pessoa de Jesus Cristo, já que, como diz o apóstolo Paulo, o salvo com cara descoberta reflete como um espelho a glória do Senhor (II Co.3:18). 

– Tanto assim é que, mesmo quando Deus forma um povo que seria “propriedade peculiar Sua dentre os povos” (Ex.19:5,6),

a glória de Deus se manifesta a Israel à distância, como no deserto, logo após terem murmurado por causa da fome (Ex.16:10), seja no monte Sinai (Ex.24:16,17).

– A glória divina, constante da nuvem, repousava sobre a arca da aliança, que os israelitas nem podiam ver e ficava no lugar santíssimo, separado pelo véu, numa clara figura de que, por causa do pecado, estava o homem sem condições de alcançar a glória de Deus, de dela compartilhar ou desfrutar.  

– A arca, inclusive, era considerada a própria “glória de Israel” (I Sm.4:21,22).

Tanto que, seja quando ela foi posta no tabernáculo, quando de sua edificação (Ex.40:34,45), seja quando o primeiro templo foi inaugurado por Salomão (I Rs.8:6-11; II Cr.7:1-3),

a glória encheu ambos os santuários, daí porque se passou a confundir a própria arca com a glória de Deus.

Davi fala textualmente que a habitação da casa do Senhor era o lugar onde habitava a glória de Deus (Sl.26:9), certamente se referindo ao lugar onde ficava a arca.

É elucidativo que, para escapar dos castigos divinos que sobrevieram a eles por conta da captura da arca, os filisteus tiveram de dar glória a Deus, como parte da expiação de culpa, antes de devolverem a arca a Israel (I Sm.6:1-6). 

– Esta separação da glória de Deus se verificou, inclusive, quando o próprio Moisés subiu ao monte Sinai depois da entrega dos dez mandamentos, pois é dito que se chegou apenas à escuridade onde Deus estava (Ex.20:21),

como também, quando subiu com os anciãos de Israel, a visão de Deus, na Sua claridade, foi vista mas mantida, ainda uma distância, tanto que o texto sagrado diz que o Senhor não estendeu Sua mão sobre os escolhidos dos filhos de Israel (Ex.24:11). 

– Moisés voltou a subir o monte e, só então, a glória do Senhor o envolveu (Ex.24:15-18), tendo ele ali ficado durante quarenta dias e quarenta noites.

Este envolvimento, contudo, não significou que Moisés tivesse tido o compartilhamento e desfrutar da glória divina, pois, quando sobe ao monte depois do episódio do bezerro de ouro, pediu a Deus que lhe mostrasse a Sua glória (Ex.33:18),

circunstância que nos mostra que Moisés não tivera ainda a oportunidade de superar aquela distância estabelecida por Deus e, ante o atendimento, ainda que parcial,

do pedido de Moisés pelo Senhor, Moisés, ao retornar ao arraial, teve seu rosto resplandecente, ainda que temporariamente, o que o obrigou a usar um véu para esconder a sua face dos demais israelitas (Ex.34:29-35; II Co.3:7). 

– Todavia, aqui, também, há o uso do véu, pelo qual Moisés encobria o rosto dos demais israelitas, que não podiam ver a face de Moisés, uma outra figura de que a glória divina era inacessível ao homem no pecado. 

– Como se não bastasse a perda da glória divina, o homem, embrutecido pelo pecado (Rm.1:21,22), mudou a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, e de vares,

e de quadrúpedes, e de répteis, passando a honrar e a dar glória a criaturas em vez do Criador, com a prática da idolatria (Rm.1:23), o que ocorreu não só com os gentios, mas com o próprio Israel, quando fizeram o bezerro de ouro (Sl.106:19,20). 

– A vinda de Jesus traz esta glória novamente ao encontro do homem. A propósito, a arca da aliança é um tipo de Cristo e, assim, neste sentido, o próprio Jesus é a “glória do Senhor”. 

A chegada da justiça e da salvação seria o estabelecimento da salvação e da glória do Senhor (Is.46:13). 

– Já no Seu nascimento, a glória do Senhor cercou os pastores de Belém (Lc.2:8-13), demonstrando, deste modo, que Cristo veio trazer novamente a glória divina aos homens,

tendo o próprio Cristo, no início do Seu ministério, afirmado que os céus estariam abertos e os anjos de Deus subiriam e desceriam sobre o Filho do homem, a indicar esta presença e esplendor sobre Ele.

Não foi à toa que o apóstolo João testificou que, quando o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, pôde ser vista a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai cheio de graça e de verdade (Jo.1:14),

afirmação que mostra o cumprimento da profecia de Isaías de que o Renovo do Senhor, seria cheio de beleza e de glória (Is.4:2). 

– Em resposta a Natanael, Jesus disse que, dali em diante, os céus estariam abertos e os anjos subiriam e desceriam sobre o Filho do homem (Jo.1:51), a anunciar que a glória divina agora era acessível por meio de Cristo,

a ponte entre Deus e os homens, a concretização da “escada o sonho de Jacó” (Gn.28:10-17) e, a partir do Seu primeiro milagre, começou a manifestar a glória de Deus (Jo.2:11).

– Jesus, mesmo é chamado de “o Rei da Glória” por Davi no Salmo 24, que nos fala tanto da entrada triunfal de Cristo nos céus em Sua ascensão (Sl.24:8), como de Sua entrada triunfal após o arrebatamento da Igreja (Sl.24:10). Ele é o Senhor da glória que foi crucificado (I Co.2:8; Tg.2:1). 

II – A GLÓRIA DE DEUS NO TABERNÁCULO 

– O Senhor mostrou a Israel, no Egito, que Ele era o Todo-Poderoso  (Ex.13:3,9,14,16), como, aliás, que havia Se revelado aos patriarcas (Gn.17:1; 28:3; 48:3; Ex.6:3), o único Deus verdadeiro, tanto que mostrou, claramente, que os deuses egípcios nada eram (Nm.33:4). 

– No entanto, depois de Se ter mostrado como Deus Forte, o Senhor queria agora Se mostrar a Israel como o “Eu sou o que sou” (Ex.6:13-15), como o Autoexistente e, para tanto, queria mostrar a Sua glória. 

– Tanto assim é que, assim que o povo foi liberto, o Senhor passou a mostrar visivelmente a Sua presença por meio da nuvem, que, à noite, se tornava uma coluna de fogo (Ex.13:21,22), nuvem que logo assumiu a proteção do povo quando começaram a ser perseguidos pelo exército de Faraó (Ex.14:19-24). 

– Ao propor que Israel se tornasse a Sua propriedade peculiar dentre todos os povos, reino sacerdotal e povo santo (Ex.19:5,6), o Senhor queria, naturalmente, compartilhar da Sua glória com os israelitas, era este o Seu propósito. 

– Assim como fizera com o primeiro casal no Éden antes do pecado, o Senhor queria compartilhar a Sua glória, a Sua presença com os filhos de Israel, e, para tanto, mandou que o povo se santificasse e aguardasse o sonido longo da buzina para, então, subirem ao monte e desfrutarem da glória divina, que para lá se transferiria quando da aparição do Senhor (Ex.19:10-25). 

– Desde quando Moisés fora chamado no monte Sinai, o Senhor havia dito que o sinal de que o Senhor libertaria o povo de Israel seria o fato de que os israelitas O adorariam naquele monte, exatamente o destino dos israelitas após terem sido libertos pelo Senhor no Mar Vermelho. 

– No monte Sinai, com efeito, tivemos um “local de coabitação” entre Deus e os filhos de Israel, um “tabernáculo natural”, como denomina o pastor Aldery Nelson Rocha, onde o Senhor queria que os israelitas entrassem em comunhão com Ele, já desfrutassem do compartilhamento de existências. 

– Segundo a orientação divina, os israelitas, após o longo sonido da buzina, deveriam subir o monte (Ex.19:13) e, então,

receberiam em seus corações a lei do Senhor, cuja síntese teria sido proferida por Deus enquanto o povo estivesse dentro dos limites estabelecidos, escutando as “dez palavras” (Ex.19:12). 

– Este “tabernáculo natural” possuía três espaços:

a região ao pé do monte, aquém dos limites estabelecidos por Deus, onde estava todo o povo, correspondente a um “átrio” ou “pátio”;

o lugar entre o limite e o pé do monte, separado por Deus, onde ninguém poderia ficar, sob pena de morte, correspondente ao “lugar santo”, onde, posteriormente, mancebos israelitas, em doze altares, sacrificariam para que a lei fosse promulgada (Ex.24:4) e, por fim,

o próprio monte Sinai, onde subiriam os israelitas após o longo sonido da buzina, onde estava a se manifestar a glória de Deus e onde se teria a comunhão entre Deus e Israel, correspondente ao “lugar santíssimo”. 

– O povo, porém, ao verem a manifestação divina no monte Sinai, fugiu de onde estava, pôs-se de longe e, com medo de morrer, não subiu o monte, pedindo que só Moisés o fizesse (Ex.20:18-21).

Não houve, então, a “coabitação” desejada por Deus, que significaria a lavratura da lei nos corações dos israelitas e o estabelecimento, já na Terra, daquela comunhão pretendida por Deus para os céus com o ser humano e perseguida pelos patriarcas.

– Séculos mais tarde, pela boca do profeta Jeremias, o Senhor revelaria que um novo concerto deveria ser feito com Israel, um concerto distinto do que se fez no monte Sinai,

onde pudesse realizar o que os israelitas se recusaram a fazer quando do Seu encontro com Israel naquela oportunidade, quando, então, poderia inscrever a Sua lei nos corações dos filhos de Israel (Jr.31:31-34). 

– Este novo concerto foi revelado a Moisés no dia mesmo em que os israelitas recusaram subir o monte, o que o líder somente iria anunciar num de seus discursos de despedida,

ocasião em que diz que o Senhor haveria de levantar um outro profeta como ele para que se pudesse estabelecer o que se frustrara no Sinai (Dt.18:15-19). 

– Ante a recusa dos israelitas em receberem o que fora prometido aos patriarcas, o Senhor tinha, de alguma maneira, manter a Sua presença no meio do povo, estatuir esta “coabitação”, ainda que de modo imperfeito, até que viesse o “outro profeta como Moisés”, que se estabelecesse o “concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá”.  

– Assim, a glória de Deus, embora presente, estava sempre à distância do povo. Israel via a glória de Deus no monte Sinai (Ex.24:15-18), como um fogo consumidor no cume do monte, mas que se apresentava como uma escuridade (Ex.20:21; Dt.5:22). 

– Esta escuridade, que é a palavra hebraica “ ‘raphel’ (ֵצׇר ֶפל), “…(como um céu que baixou) (…). Substantivo masculino singular que significa nuvem.

Uma nuvem encobriu Deus (Ex.20:21; Jó 22:13)…” (Bíblia de Estudo Palavras Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 6205, p.1856).

 

– Assim, o que esta escuridade revela é que havia uma separação entre Deus e os homens, que, embora vissem o Senhor como um fogo, como uma luz, não o podiam divisar plenamente, já que havia uma “escuridão” a impedir o pleno acesso ao Senhor, prova evidente da destituição da glória divina ao homem por causa do pecado. 

– Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhumas (I Jo.1:5) e, portanto, esta escuridão era causada pelo homem, não por Deus, era uma consequência da situação pecaminosa em que os homens estavam e os filhos de Israel não eram diferentes, apesar de terem sido escolhidos para ser povo santo e reino sacerdotal.

Era mister que eles aguardassem o “profeta como Moisés” para terem acesso à glória. 

– Já por isso de se afastar o falso ensinamento de que o fato de se ter a escuridade na manifestação divina no monte Sinai se teria um Deus diferente do Deus do Novo Testamento,

o “Deus do Antigo Testamento”, que seria cruel e mau, como, aliás, ensinava o herege Marcião (85-160) no século II, no início da história da Igreja. Nada mais falso e absurdo!  

– A escuridade era resultado da falta de comunhão perfeita entre Deus e os homens, o resultado da recusa dos israelitas em subir ao monte, a consequência da incredulidade dos filhos de Israel,

que achavam que seriam mortos pelo Senhor que, ao revés, os havia escolhido para serem Sua propriedade peculiar dentre os povos.  

– Aliás, o pastor José Serafim de Oliveira entende que a escuridade vista pelo povo era resultado da própria contemplação da glória divina.

Quando vemos o sol, com todo seu brilho, ao mudarmos a direção de nossa visão, vemos tudo escuro, como resultado de termos olhado diretamente para o sol.

Assim também ocorreria com o povo que, por não ter tido a comunhão perfeita com Deus e deixado de participar de Sua natureza, acabavam por ver tudo escuro depois que tivessem olhado para o monte Sinai.

 

– De qualquer maneira, a glória divina estaria presente com os filhos de Israel, ainda que à distância.

Quando se construiu o tabernáculo, a nuvem saiu do “tabernáculo natural” que era o Sinai e passou a ficar sobre a tenda da congregação, na parte correspondente ao lugar santíssimo,

não antes de a glória divina ter enchido toda a tenda da congregação e acendido o altar do holocausto, consumindo as ofertas ali apresentadas por Arão (Ex.40:34-38; Lv.9:23,24). 

– Durante toda a peregrinação no deserto, a nuvem jamais deixou de estar sobre a tenda da congregação, sendo a direção e orientação do povo, que somente andava e acampava segundo a posição da nuvem (Ex.40:36-38; Nm.9:17; 10:11-13; Ne.9:19). 

– A nuvem demonstrava, pois, que o Senhor estava presente no meio do povo, embora o povo não tivesse condições de compartilhar desta presença de modo perfeito, mais um sinal eloquente da necessidade que se tinha de um “novo concerto”, de uma aliança superior, que somente adviria com o “profeta como Moisés”, que não por acaso é denominado pelo apóstolo Paulo como “a esperança da glória” (Cl.1:27). 

– Episodicamente, quando se fazia necessário, normalmente em casos extremos de desobediência ou murmuração do povo, a glória do Senhor aparecia a todos os filhos de Israel.

Ainda na jornada para o Sinai, a glória do Senhor apareceu ao povo quando da murmuração pela falta de pão (Ex.16:10-12). 

– Verdade é que, numa tenda construída pelo próprio Moisés antes da construção do tabernáculo, a glória do Senhor sempre aparecia quando o Senhor queria falar com o líder dos hebreus, ocasião em que todo o povo se prostrava à porta da sua tenda (Ex.33:9,10). 

– Mas, após a construção do tabernáculo, a glória do Senhor somente apareceu ao povo todo episodicamente.

A primeira vez que o fez foi para retirar do Espírito de Deus que estava sobre Moisés para passar aos setenta anciãos, ocasião em que estes profetizaram (Nm.11:25). 

– A segunda vez em que isto ocorreu foi quando Arão e Miriã se rebelaram contra Moisés, ocasião em que Miriã ficou leprosa, tendo ficado sete dias fora do arraial até ser curada (Nm.12:4-15).  

– A terceira vez em que isto ocorreu foi quando o povo quis apedrejar Josué e Calebe por terem crido no relato dos espias incrédulos, oportunidade em que, inclusive, aqueles espias foram mortos e o Senhor determinou que os israelitas com mais de vinte anos que haviam sido recenseados não entrariam em Canaã (Nm.14:10-39). 

– A quarta vez em que isto ocorreu foi quando ocorreu a rebelião de Corá, Datã e Abirão, ocasião em que os rebeldes foram mortos, seja por praga, seja por terem sido engolidos vivos pela terra (Nm.16:19-50). 

– A quinta vez em que isto ocorreu foi quando o povo, pela segunda vez, murmurou pela falta de água em Massá e Meribá, ocasião em que Moisés e Arão desobedeceram a Deus e perderam o direito de entrar na Terra Prometida (Nm.20:3-13). 

– Nota-se, pois, que as vezes em que Deus fez aparecer a Sua glória fora do local onde se encontrava no tabernáculo sempre foram para lançar juízo no meio do povo, para reagir aos pecados cometidos, justamente porque o povo não tinha uma comunhão perfeita com o Senhor. 

– Não era este, porém, o objetivo principal de Deus estar com a Sua glória no meio do povo. A iniciativa divina da Sua presença era para abençoar, para proteger, para guardar, para revelar o Seu amor. 

– Moisés mesmo afirma que o povo de Israel reconheceu que o objetivo de Deus em mostrar a Sua glória para ele tinha sido o de mostrar que “…Deus fala com o homem e que o homem fica vivo” (Dt.5:24). 

– O Senhor também havia determinado que se realizasse o sacrifício contínuo de dois cordeiros por dia, um de manhã e outro à tarde, para que os filhos de Israel fossem santificados por Sua glória a cada dia (Ex.29:43).

A glória divina tinha, pois, a finalidade de santificar o povo, de mantê-lo livre da ira até que os pecados fossem retirados pelo sacrifício vicário de Cristo.

– A glória de Deus mostrava assim a santidade do Senhor e, como tal, a justa retribuição pelos pecados cometidos, mas também o Seu infinito amor e misericórdia, que faziam com que a ira divina não consumisse o gênero humano.

Por isso, tanto  Jeremias pôde dizer que as misericórdias do Senhor são a causa de não termos sido consumidos porque elas não têm fim, sendo novas a cada manhã (Lm.3:22,23),

como também Malaquias ter afirmado que porque Deus é o Senhor e não muda, os filhos de Jacó não tinham sido consumidos (Ml.3:6). 

– Tanto assim é que, antes da destruição do Primeiro Templo, a glória do Senhor dele se apartou, mostrando assim que a misericórdia de Deus havia cessado e que chegara o momento da justa retribuição ante a impenitência do povo, a mostrar, portanto, que a glória, antes de causar juízos, os impedia (Ez.10:18,19; 11:22,23). 

– Estas manifestações episódicas da glória de Deus deram origem ao termo hebraico “Shekinah”, cujo significado é “habitação”, termo que não se encontra na Bíblia Sagrada, mas que foi utilizada pelos rabinos judeus desde os tempos dos “Targumim”, ou seja,

comentários em aramaico das Escrituras, as explicações que se davam ao povo dos textos sagrados (Ne.8:7,8), que eram escritos em hebraico, língua que o povo judeu não mais dominava depois do cativeiro da Babilônia. Observe-se que “Shekinah” é um termo hebraico. 

– Segundo a Enciclopédia Judaica, “shekinah” é “a presença majestática ou a manifestação de Deus que desce para “habitar” entre os homens” (Shekinah. In: Jewish Encyclopedia. Disponível em: http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13537-shekinah Acesso em 02 mar. 2019) (tradução nossa de texto em inglês).

Muitas vezes, os rabinos judeus utilizavam o termo para designar o próprio Senhor, dentro do prurido judaico de não mencionar o nome de Deus.

Neste sentido, aliás, o templo foi chamado de “a casa da Shekinah” e a “Shekinah” também foi utilizado como “glória” e “santidade”. 

– Os rabinos judeus discutem a respeito da natureza da “Shekinah”, havendo aqueles que entendem que é ela uma “luz criada para ser um intermediário entre Deus e os homens” (Maimônides)

ou a “própria essência divina que se manifesta de uma forma distinta”, expressão que designaria diversas relações de Deus com o mundo, como a Sua habitação no meio de Israel, a Sua onipresença ou Sua presença pessoal em determinada situação (Nachmânides). 

– Os próprios rabinos judeus reconhecem que a “Shekinah” não estava presente no Segundo Templo, o que mostra claramente, ante as palavras do profeta Ageu, que a glória de Deus viria com Cristo Jesus para aquela casa (Ag.2:9).

Foi o que afirmou o apóstolo João, ao dizer que, ao ver o Senhor, viu a glória do Unigênito do Pai cheio de graça e de verdade (Jo.1:14). 

– O Senhor Jesus, tendo sido a propiciação dos nossos pecados, cumpre, de forma perfeita, o propósito da glória divina de aplacar a ira e nos trazer a comunhão com o Senhor e, diante disso,

podemos agora não só presenciar manifestações episódicas da glória de Deus, mas dela desfrutar, não só agora, mas durante toda a eternidade, pois haveremos de habitar num lugar que tem a glória de Deus, a nova Jerusalém (Ap.21:10,11),

um lugar onde não haverá noite, porque a glória de Deus a alumiará e onde o Cordeiro é a sua lâmpada (Ap.21:23). 

– Mas, enquanto esperamos desfrutar desta glória em toda a sua plenitude, já aqui desfrutamos da glória de Deus.

Com efeito, sobre nós já repousa o Espírito da glória de Deus (I Pe.4:14), até porque, tendo retirados nossos pecados, nada nos impede de ter comunhão e nos tornar participantes da glória divina (I Pe.5:1). 

– A glória de Deus nos corrobora com poder pelo Espírito Santo no homem interior (Ef.3:16) e de forma permanente, pois passou a refletir a glória do Senhor como um espelho, não de forma transitória,

como ocorreu com Moisés, depois que desceu do monte com as segundas tábuas da lei, sem qualquer véu que nos separasse da natureza divina (II Co.3:7-18).

– O tabernáculo mostra-nos, claramente, que o objetivo de Deus é fazermos parte da Sua glória e isto somente se tornou possível com Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Desfrutemos, pois, desta glória, de forma permanente, mas, para tanto, mister se faz que sejamos santos e nos mantenhamos lavados e remidos no sangue de Cristo, pois é em comunhão com Ele, e Ele só, que sempre teremos a glória de Deus.  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4106-licao-12-a-nuvem-de-gloria-i-e-apendice-n-3-o-tabernaculo-do-antigo-testamento-um-tipo-perfeito-de-cristo

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