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LIÇÃO Nº 12 – ESDRAS E NEEMIAS COMBATEM O CASAMENTO MISTO

A família é um alvo constante do inimigo.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do período da formação da Comunidade do Segundo Templo, verificaremos o combate ao casamento misto feito tanto por Esdras quanto por Neemias.

– A família é alvo constante do inimigo e sua preservação é essencial para que se tenha e se mantenha um avivamento espiritual.

I – ESDRAS COMBATE O CASAMENTO MISTO

– Na sequência do estudo do período da formação da denominada Comunidade do Segundo Templo, analisemos o combate ao casamento misto empreendido tanto por Esdras quanto por Neemias e observar qual o papel que isto tem no avivamento espiritual.

– Conforme já temos visto ao longo deste trimestre, Esdras foi levado por Deus a Terra Prometida para poder manter a identidade do povo judeu, que estava comprometida pelo fato de o povo não saber a lei de Moisés.

– Neste passo, como vimos, Esdras é considerado pelos mestres da lei, inclusive os rabinos judeus de nossos dias, como sendo o “segundo Moisés”, por ter “dado a lei” ao povo de Israel, assim como o Legislador o fizera quando Israel ainda estava a caminho de Canaã.

– O texto bíblico diz-nos que, depois que Esdras chegou a Jerusalém, repousou três dias, mandou fazer a conferência de todos os tesouros trazidos e o povo que com ele veio ofereceu holocaustos ao Senhor, foram tomadas as devidas providências para que se ajudasse na estruturação da aplicação da lei de Moisés ao povo, com o fornecimento de recursos para o serviço do Templo, inclusive (Ed.8:32-36).

– No entanto, passado este primeiro momento, Esdras recebeu a visita dos príncipes dizendo que os judeus não haviam se separado dos povos das terras e que haviam se misturado com eles, mediante casamentos mistos, sendo que os líderes eram os primeiros a cometerem tal transgressão (Ed.9:1,2).

– É interessante observar que não foi Esdras que chamou os príncipes para repreendê-los ou acusá-los de terem transgredido a lei do Senhor, mas foram os próprios príncipes quem tomaram a iniciativa de comunicar esta situação ao escriba.

– O texto é sucinto e, inclusive, não fala quando isto aconteceu, tendo Esdras apenas registrado que foi “acabadas, pois, essas coisas”, a mesma expressão que se empregou em Ed.7:1 para introduzir a própria história de Esdras depois de se ter contado a inauguração do

Segundo Templo e a celebração da primeira Páscoa após esta inauguração, expressão que, como visto em lição anterior, abarca um intervalo de 57 anos.

Para os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, desta vez, a expressão “acabadas estas coisas” não envolve qualquer intervalo temporal, foi algo que ocorreu logo em seguida ao início da tomada de providências por parte do escriba para a nomeação de regedores e juízes para julgarem o povo bem como para o ensino da lei, além da arrecadação de recursos para o serviço cotidiano do culto no Templo.

– No entanto, somos do entendimento de que isto já foi o resultado do início do ensino da Palavra de Deus ao povo por parte de Esdras.

O escriba tinha de formar pessoas entendidas na lei, tinha de verificar quem conhecia e quem não conhecia a lei, inclusive para poder nomear regedores e juízes, de modo que, de imediato, iniciou o ensino da lei.

– Ora, quando se inicia o ensino da lei a Israel, é inevitável mostrar aos israelitas de que eles foram constituídos como propriedade peculiar de Deus dentre os povos, de que são um povo santo, um reino sacerdotal, e que, por isso mesmo, haviam recebido a lei no monte Sinai.

– Ao mostrar que Israel era um povo santo, Esdras já “pôs o dedo na ferida” dos judeus que viviam na Terra Prometida, pois eles perceberam, de pronto, que esta santidade estava comprometida diante dos casamentos mistos, já que haviam se casado, a começar dos líderes, com os cananeus, heteus, ferezeus, jebuseus, amonitas, moabitas, egípcios e amorreus (Ed.9:1).

– Esdras observou como o inimigo tinha conseguido vantagem na sua estratégia de aproximação silenciosa para comprometimento e consequente perda da identidade do povo de Israel, como tivemos ocasião de ver em lição anterior, o que podemos denominar de “tática da serpente”.

– Temos aqui mais uma demonstração de como todo avivamento espiritual se inicia pela Palavra de Deus.

Bastou Esdras começar a ensinar que o povo judeu era um povo santo e, como tal, que deveria viver separadamente dos demais povos, os seus alunos já entenderam que haviam pecado e que a situação presente de casamentos mistos não agradava a Deus e devia ser enfrentada.

– Não há como se ter um avivamento espiritual se não houver o ensino da Palavra de Deus, se a Palavra de Deus não for exposta e explicada. Se queremos que haja um avivamento na Igreja, mister se faz que a Igreja ouça a Palavra, que a Palavra de Deus seja pregada e ensinada.

– O Senhor Jesus, quando veio ao mundo, enviado pelo Pai, veio para pregar o Evangelho (Mc.1:14,15; Lc.4:43,44) e para ensinar os Seus discípulos (Mt.5:1,2), tendo determinado que Seus discípulos continuassem a Sua obra (Mc.16:15; Mt.28:19,20).

– Portanto, se a Igreja estiver a cumprir a ordem de Jesus, a chamada “Grande Comissão”, não há como não termos avivamento espiritual produzido pela Igreja, porque a Palavra de Deus promoverá, nos corações dos ouvintes, a necessária contrição, que levará ao arrependimento e confissão dos pecados e, por conseguinte, à salvação das pessoas (At.2:37-41).

– A Palavra de Deus foi exposta por Esdras e o povo, com seus corações compungidos, foram até Esdras para confessar o pecado cometido.

Os príncipes, em nome do povo e assumindo a sua parcela de culpa, vieram ao sacerdote para que se tomassem as providências devidas.

– Esdras, ao saber da situação, tomou uma atitude radical: rasgou sua veste e seu manto, arrancou os cabelos da sua cabeça e da sua barba e se assentou atônito, tendo, então, se ajuntado a ele todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel, tendo Esdras ficado sentado até o sacrifício da tarde (Ed.9:3,4).

Esdras teve compaixão do povo. Pôs-se no lugar do povo, assumiu o pecado dele e, de imediato, tratou de se humilhar, a fim de obter a misericórdia divina.

Ao agir assim, por primeiro, mostrou que o quadro existente era grave e estava sob o desagrado divino, sob a ira de Deus. A falta de santidade deve ser tratada com a devida seriedade, pois, quando não há santificação, há perdição, pois sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).

– Devemos repudiar todo e qualquer discurso que procura diminuir o papel do pecado em nossa vida espiritual, que busca “flexibilizar” a prática pecaminosa, buscando encontrar-se uma forma ou maneira de Deus contemporizar com isto.

Não acreditemos, pois, em uma “gradação de pecados”, que permita que haja “pecadão” e “pecadinho”. Todo e qualquer pecado gera a morte, ou seja, a nossa separação de Deus e, separados de Deus, jamais poderemos alcançar a salvação.

O Senhor Jesus deixou isto bem claro no sermão do monte, ao desfazer as interpretações dos antigos que procuravam limitar e circunscrever os mandamentos a “atos mais graves”.

– Imediatamente, ao saber da situação, tomou providências diante d’Aquele que poderia resolver, que é o nosso Deus.

Assim que tivermos consciência de que estamos em pecado, não devemos deixar o assunto para outro momento, temos de, imediatamente, buscar o Senhor a fim de alcançarmos o Seu perdão. Por isso, o Senhor Jesus disse que não devemos pensar no dia de amanhã, bastando a cada dia o seu mal (Mt.6:34),

como também o apóstolo João disse que, se pecarmos, temos de recorrer a Cristo, o nosso Advogado, não assinando um prazo para isto, pois não há prazo, isto tem de ser feito de imediato, pois, como diz o povo, “o amanhã não nos pertence” (I Jo.2:1,2).

– Esdras não só rasgou sua veste e manto como chegou até a arrancar os cabelos de sua cabeça e da sua barba, revelando, deste modo, para todo o povo, consoante os costumes da época, que o caso era grave e exigia um verdadeiro clamor pela misericórdia divina.

– O gesto de Esdras alcançou resultado e a ele se ajuntaram todos os que “tremiam das palavras do Deus de Israel”.

Temos aqui, uma vez mais, a expressão de um sentimento que deve estar presente em todo aquele que tem uma vida de piedade, qual seja, o “tremor do Senhor”.

– A expressão empregada em hebraico, neste texto, para “tremer” é “haredh” (דרַָ), חque a Bíblia de Estudo Palavras-Chave diz ter como significado

“…aterrorizante, também reverente —medroso, tímido, estar tremendo, que tremia, que tremem. Adjetivo que significa trêmulo, reverente(…).

Os que tremem das palavras de Deus são também considerados obedientes (Ed.9:4)” (Dicionário do Antigo Testamento, verbete 2730, p.1655).

– Algumas passagens bíblicas mostram que a reverência e obediência completas a Deus se dá quando há “temor e tremor” (Sl.55:5; II Co.7:15; Ef.6:5; Fp.2:12). Tanto “temor” quanto “tremor” dizem respeito a uma obediência, uma reverência, um medo decorrente do reconhecimento do poder e da majestade do Senhor, da consideração de que somos “menos do que nada” diante d’Ele (Is.40:17; 41:24).

Entretanto, enquanto o “temor” indica esta obediência e reverência pela constatação desta majestade e glória, o “tremor” importa numa “agitação”, numa tomada de atitudes, em decisões que revelam este reconhecimento.

– Ao verem Esdras se humilhando diante de Deus e se mantendo assentados atônitos, os que “tremiam”, não só entenderam a gravidade da situação como também resolver ficar junto de Esdras, ao seu lado, aceitaram também se humilhar junto com o sacerdote.

– Quem tem “temor e tremor” não apenas constata a majestade e glória divinas, como toma atitudes que revelam este sentimento, ainda que tais atitudes não correspondam a uma situação confortável nem se saibam bem as consequências disto.

Aqueles que se uniram a Esdras não sabiam o que ele fazer nem quando ia fazer, mas entenderam que era urgente se humilhar diante de Deus.

Ao chegar o sacrifício da tarde, Esdras se levantou da sua aflição e se pôs de joelhos e estendeu as mãos para o Senhor (Ed.9:5).

O sacrifício da tarde era o momento em que um cordeiro era imolado pelo pecado do povo, o chamado holocausto perpétuo (Ex.29:38-43; Nm.28:1-8), pois era ali que o Senhor havia Se comprometido a Se encontrar com o povo de Israel para que eles fossem santificados por Sua glória (Ex.29:42,43).

– Não foi à toa que Esdras assim agiu. Deve ter recebido a visita dos príncipes depois do sacrifício da manhã e, então, esperou que se aproximasse o sacrifício da tarde, para, então, “num encontro com Deus”, pedir a santificação do povo, clamar pela misericórdia divina.

– Vemos que o mandamento do holocausto perpétuo ou sacrifício contínuo tinha, por objetivo, permitir que, duas vezes ao dia, o Senhor viesse santificar o Seu povo, a nos mostrar a necessidade que temos de estar diariamente em santificação, de termos um momento com o Senhor para podermos ser “Seu povo santo e propriedade peculiar de Deus dentre os povos”.

– Este sacrifício, sabemos todos, prefigurava o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, pois o Senhor foi crucificado na hora do sacrifício da manhã e morreu precisamente na hora do sacrifício da tarde.

Pelo sacrifício de Cristo, podemos obter a santificação e mantermos comunhão com o Senhor. Aleluia!

– Aproximando-se o sacrifício da tarde, Esdras, então, orou ao Senhor, pedindo o perdão pelos pecados do povo, confessando-os e pedindo a misericórdia divina.

A oração de Esdras é muito similar à oração do profeta Daniel, que estudamos na primeira lição deste trimestre, tendo tido o mesmo efeito, qual seja, a resposta positiva de Deus e o consequente avivamento espiritual que levou ao arrependimento do povo (Ed.9:6-9).

– Esdras confessa que, ao se casarem com os povos das terras, Israel quebrara o mandamento que proibia tais uniões (Ed.9:10-12) e reconhecia que, apesar disto, o povo não tinha ainda sido destruído por causa da misericórdia divina (Ed.9:13-15).

– Esdras orou, fez a confissão e chorou e o resultado disto foi que se juntaram a ele não apenas os que tremiam, que já estavam com ele desde cedo, mas uma mui grande congregação de homens, mulheres e crianças,

todos começaram a chorar com grande choro, porque seus corações haviam se quebrantado e ficado contritos e, em razão disto, todos passaram a “tremer”, a ponto de Secanias, filho de Jeiel, um dos filhos de Elão,

ter tomado a palavra e sugerido que todos repudiassem as mulheres estrangeiras e os filhos decorrentes destes casamentos mistos e, assim, deixassem de cometer este pecado, fazendo concerto com o Senhor neste sentido (Ed.10:1-5).

– Esdras, então, tomou as devidas providências e se determinou que todos os envolvidos neste assunto viessem a Jerusalém e abandonassem os cônjuges estrangeiros e os filhos provenientes destes casamentos mistos,

fazendo com que os israelitas se tornassem, novamente, um povo santo e não perdessem a sua identidade, como era muita gente que estava com este problema, determinou-se que se tratasse deste assunto durante três meses, o que foi feito (Ed.10:6-17).

– Numa prova de que não há privilégio para qualquer pessoa no meio do povo de Deus e que os que mais recebem de Deus são os mais cobrados (Lc.12:48), Esdras deixou registrado os nomes de todos os príncipes que haviam cometido este pecado (Ed.10:18-44).

Por isso mesmo, na Igreja, devem os presbíteros serem repreendidos publicamente quando transgredirem (I Tm.5:20).

II – NEEMIAS COMBATE O CASAMENTO MISTO

– Cerca de 25 anos depois destes fatos, Neemias vai enfrentar exatamente o mesmo problema, prova de que o avivamento espiritual precisa ser contínuo e nosso relacionamento com o Senhor precisa se intensificar a cada dia, assim como o fogo do altar tinha de arder diariamente, sendo efetuada a limpeza das cinzas e o abastecimento da lenha a cada manhã (Lv.6:8-13).

– Nos dias de Esdras, houve a despedida dos cônjuges estrangeiros e dos filhos decorrentes desta união, com a retomada da santidade do povo de Israel.

Entretanto, o inimigo manteve a sua tática de sutileza, voltando a se aproximar dos judeus e o resultado disto foi de que voltaram a ocorrer os casamentos mistos.

– Quando Neemias retornou da Pérsia para dar início a seu segundo governo, depois de ter reconstruído os muros de Jerusalém e governado por doze anos, teve desagradáveis surpresas.

– Uma delas foi a de que o sumo sacerdote Eliasibe se tinha aparentado com Tobias, que era amonita e que tinha sido um dos grandes opositores à reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne.13:4).

– Mais uma vez notamos como o inimigo, sorrateiramente, consegue grandes trunfos quando não há vigilância.

Quem poderia imaginar que o sumo sacerdote, que, inclusive, teve participação ativa na reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne.3:1), viria a se envolver com um dos grandes inimigos, como era Tobias, a ponto de se aparentar com ele?

– Por isso, o apóstolo Paulo nos ensina que não devemos dar lugar ao diabo (Ef.4:27). Quando abrimos brecha ao inimigo, ele acaba por dominar a situação, como fizeram os babilônios em relação a Jerusalém (Jr.39:2-8; 52:7-11).

– Além de se aparentar com Tobias, o sumo sacerdote chegou, inclusive, a ceder para o próprio Tobias a câmara grande do templo, desalojando os sacerdotes e levitas, que precisaram abandonar o serviço já que não havia mais armazenagem de víveres para eles, diante da ocupação realizada por Tobias.

– Esta situação totalmente anômala foi revelada não por um ato de violência ou de autoridade de Neemias que, como governador, poderia fazê-lo, mas, sim, como resultado de um estudo da Palavra de Deus.

Sim, o texto sagrado diz que foi lido no livro de Moisés aos ouvidos do povo e achou-se nele que os amonitas e os moabitas não entrassem jamais na congregação de Deus, e, por causa disto, apartaram de Israel toda mistura (Ne.13:1-3).

– Temos aqui mais um avivamento espiritual que se inicia com a Palavra. Neemias, ao chegar da Pérsia, viu a situação terrível em que se encontrava o templo e que seu inimigo Tobias ocupava a câmara grande da casa de Deus. Que atitude tomou? Pediu que se lesse a lei do Senhor, que se falasse a Palavra de Deus ao povo.

– Que grande lição nos dá Neemias. Tudo devemos fazer debaixo da orientação divina. Nossa única e infalível regra de fé e prática é a Palavra de Deus, é a inerrante revelação de Deus ao homem.

Assim, devemos basear nossas ações com base nas Escrituras, dela é que haurimos a autoridade para tomarmos esta ou aquela decisão.

– Neemias era o governador, representava na Terra Prometida o rei da Pérsia, que era o “dono do mundo” da

época, pois o Império Persa era a potência mundial da vez, poderia, com estas credenciais, tomar quaisquer atitudes, mas, antes de tudo, Neemias era servo do Senhor e queria agir segundo a vontade de Deus.

Afinal de contas, quem lhe havia dado vitória sobre estes mesmos inimigos durante os primeiros doze anos em que governara os judeus? Não tinha sido o Senhor?

– O Senhor Jesus tem todo o poder nos céus e na terra (Mt.28:18) e Suas fiéis testemunhas são as Escrituras (Jo.5:39).

Deste modo, amados irmãos, mais até do que Neemias, que viveu antes da manifestação e vitória de Cristo, devemos também sempre nos pautar pela Palavra de Deus, procurando nela a autoridade para as nossas ações.

O povo, então, soube que os amonitas e os moabitas nem sequer podiam entrar no templo, uma vez que haviam sido danosos aos israelitas durante a sua peregrinação no deserto (Dt.23:3).

Quando os judeus ficaram sabendo disto logo perceberam que o sumo sacerdote havia infringido a lei ao acomodar Tobias na câmara grande do templo, já que ele era amonita e, deste modo, não teve Neemias qualquer resistência, mas, antes, apoio para efetuar o despejo de Tobias (Ne.13:7-9).

– O texto sagrado, aliás, mostra-nos que a leitura da lei produziu efeito até em Neemias, encorajando-o a efetuar esta medida, pois, como era um servo de Deus, não fosse a prescrição da lei, talvez quisesse contemporizar com esta circunstância, seja para não entrar em atrito com o sumo sacerdote, seja para não dar a ideia de que nutria algum ressentimento ou prevenção para com Tobias.

No entanto, ao saber na lei de que os amonitas nem sequer podiam entrar no templo, Neemias “compreendeu o mal que Eliasibe fizera para beneficiar a Tobias” (Ne.13:7).

– A Palavra de Deus é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho (Sl.119:105) e, por meio dela, nós podemos enxergar tudo sob o ponto de vista espiritual, temos o devido discernimento para compreender não só o que se vê materialmente, mas o que não se vê e que se encontra na dimensão espiritual.

– Neemias pôde perceber que a atitude do sumo sacerdote havia prejudicado o próprio culto a Deus, trazido desassistência a levitas e sacerdotes e que, assim, Israel corria o risco de não ser mais a propriedade peculiar de Deus dentre os povos.

– Se o sumo sacerdote havia se aparentado com os estrangeiros, é evidente que o povo também havia voltado a contrair casamentos mistos, retomando o erro que havia sido erradicado do povo há 25 anos.

– Neemias também encontrou judeus que se tinham casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas e seus filhos falavam meio asdodita e não podiam falar judaico, senão segundo a língua de cada povo (Ne.13:23,24).

– A liderança exerce influência sobre os liderados e, na medida em que até o sumo sacerdote havia se aparentado com Tobias, por que os demais judeus não iriam imitar esta atitude, tornando a se casar com estrangeiros?

Não é por outro motivo que Tiago afirma que os que querem ser mestres serão alvo de mais duro juízo (Tg.3:1), porque terão de dar conta de si e dos seus liderados, não pelos atos destes mas pela influência que tiveram nas decisões tomadas por eles.

– O mais grave é que, ao contrário do que ocorreu nos dias de Esdras, desta vez o povo não foi tão receptivo.

Pelo contrário, Neemias teve de contender com eles, tendo chegado a amaldiçoá-los e até a espancar alguns e arrancar-lhes os cabelos e os fazer jurar a Deus de que não mais fariam casamentos mistos (Ne.13:25-27).

– O retorno à prática pecaminosa sempre traz um estado pior de pecaminosidade. Na vida espiritual, não há estacionamento, não há um ponto de inércia.

Ou nos aproximamos cada vez mais do Senhor, conformando nossa imagem a Cristo, indo para a perfeição, ou, então, nos distanciamos cada vez mais do Senhor, corrompendo-se mais e mais.

– O Senhor Jesus falou desta realidade ao afirmar que quem se deixa esvaziar do Senhor, quem se afasta de Deus, passa a ser morada não de um espírito maligno, quando ainda não tinha recebido a conversão, mas de oito espíritos, daquele anterior habitante e de mais sete que vêm fazer companhia a ele (Mt.12:43-45; Lc.11:24-26).

O apóstolo Pedro também ensina que o último estado de quem se afasta do Senhor é pior do que o que ele tinha antes da conversão (II Pe.2:20-22).

– Os judeus retornaram aos casamentos mistos e agora não queriam sair desta situação, resistiam a despedir os cônjuges e os filhos. Tiveram de ser censurados, ameaçados e até a sofrer punições corporais para cumprirem a lei.

– Os judeus encontravam-se numa situação extremamente perigosa. A identidade nacional estava em risco, pois os casamentos mistos haviam produzido uma geração que nem sequer falava o idioma dos

judeus, na época, o aramaico, numa prova de que estavam sendo educados como gentios. Não tivesse Neemias tomado esta posição, Israel corria o risco de se misturar com os demais povos e desaparecer como nação, que era exatamente o que queria Satanás, pois aí não poderia vir o Messias.

– Parece que entre os resistentes se sobressaía um neto do sumo sacerdote Eliasibe, que era genro de Sambalate, o horonita, outro dos principais inimigos dos judeus no episódio da reconstrução dos muros de Jerusalém.

Na falta de um, dois dos três líderes dos inimigos do povo haviam conseguido se aparentar com a família do sumo sacerdote. Neemias teve de exilar este neto, ou seja, teve de expulsá-lo do país (Ne.13:28).

– Neemias justifica esta atitude porque este cidadão estava a contaminar o sacerdócio, como também o concerto do sacerdócio e dos levitas (Ne.13:29).

Só depois desta “limpeza”, pôde o governador designar os cargos dos sacerdotes e dos levitas, como também os serviços de ofertas e sacrifícios (Ne.13:30).

– Não podemos adorar a Deus sem que estejamos em santidade. Deus requer de nós um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1) e abomina toda e qualquer celebração que se faça em estado de pecado (Is.1:4-15; Ml.1:6-14).

O fogo só desceu do céu após a oração de Elias, porque, antes, o profeta reparou o altar que estava quebrado (I Rs.18:30).

– O inimigo havia sido muito ardiloso. Havia se introduzido nas casas dos judeus, por meio dos casamentos mistos, chegando, inclusive, à própria casa do sumo sacerdote e, depois, de modo sorrateiro,

havia privado os sacerdotes e levitas do sustento para que dessem continuidade ao culto a Deus no templo, ocupando a câmara grande da casa de Deus e comprometendo a próxima geração,

pois os filhos dos judeus nem o idioma judaico sabiam falar. Estava tudo pronto para a destruição de Israel, mas Deus agiu, fazendo com que Neemias fizesse valer a Palavra de Deus.

III – O AVIVAMENTO ESPIRITUAL E A FAMÍLIA

– Tendo visto como Esdras e Neemias trataram da questão dos casamentos mistos, cumpre-nos analisar estes dois episódios sob o ângulo do avivamento espiritual e que lições podemos extrair disto sob este aspecto.

– A primeira lição que temos é que o povo de Deus é formado de famílias e, portanto, não há como preservarmos espiritualmente a nação santa se as famílias não forem santas.

– A família é a “célula mater” da sociedade, ou seja, é a família quem constitui a sociedade e nenhum povo pode se constituir se não partir da família. Israel era a família do neto de Abraão e filho de Isaque, como bem mostra Moisés ao descrever quem desceu ao Egito sob o comando de Jcó (Ex.1:1-5). Aliás, eles são chamados como “os filhos de Israel” pelo próprio Deus (Ex.3:9).

– Com a Igreja não é diferente. Apesar de a Igreja ser um povo formado espiritualmente, sem uma necessária relação biológica, como acontecia com Israel, o fato é que também é formado de famílias (At.16:32; Rm.16:5; I Co.16:19; Cl.4:15; Ap.3:20), não sendo raro encontrar-se igrejas locais que se originaram de famílias.

– Como se isto fosse pouco, na Igreja, os relacionamentos devem ser familiares, pois todos são filhos de Deus (Jo.1:12; Rm.8:15) e devem se comportar como irmãos (Mt.23:8), pois a Igreja é a família de Deus (Ef.2:19).

– Em sendo assim, não se pode permitir, em absoluto, que as famílias sejam contaminadas com o pecado, mas que sejam verdadeiro altar de adoração a Deus, sob pena de comprometimento da saúde espiritual do povo de Deus.

Já na lei de Moisés, o Senhor orientava os israelitas de que deveriam ensinar a lei no seio familiar (Dt.6:6-9; 11:18-21), pois só assim se manteria a identidade nacional e, realmente, quando vemos a história da humanidade, Israel só manteve a sua identidade até os dias hodiernos porque observou esta orientação divina.

– Os casamentos mistos representavam uma grande arma do adversário para que se destruísse a nação israelita.

Já houve quem visse nesta regra um “racismo” ou uma “xenofobia” mas, na verdade, não poderiam mesmo os israelitas se casarem com gentios, pois a própria origem de Israel se deveu ao fato de que se tinha de ter uma nação separada das demais, que eram fruto da rebelião contra Deus na torre de Babel (Gn.11:1-9).

– Israel tinha de ser um povo santo (Ex.19:6), ou seja, separado dos demais, para que pudesse exercer o seu papel de nação sacerdotal e, deste modo, vivendo diferentemente das demais nações, fosse o veículo pelo qual o Cristo viria ao mundo para salvar a humanidade.

– De igual modo, nós, que pertencemos à Igreja, devemos manter nossas famílias separadas do mundo, para que a família possa ser a base de nossa igreja local e a igreja local, constituída de famílias saudáveis, venha a cumprir a sua missão de ser o povo de Deus aqui na Terra, que leva ao mundo a mensagem da salvação, a nação santa e o sacerdócio real (I Pe.2:9).

– O casamento é a união entre um homem e uma mulher que estabelece uma comunhão de vida. Através do casamento, instituído pelo próprio Deus, homem e mulher formam uma só carne (Gn.2:24),

cria-se a mais íntima comunhão entre dois seres humanos, forma-se uma unidade inigualável e tão profunda que as Escrituras vão comparar este relacionamento ao relacionamento entre Deus e Seu povo, seja entre Deus e Israel (Os.2:16), seja entre Cristo e a Igreja (Ef.5:31,32).

– Se o casamento é a mais profunda comunhão entre dois seres humanos, como, então, permitir que haja casamento em alguém que pertence ao povo de Deus e alguém que não pertence? Se aquele que é do povo de Deus é filho de Deus, “filho do dia” e “filho da luz”, como pode montar uma unidade com alguém que, por não pertencer a este mesmo povo, é “filho das trevas” (I Ts.5:5)?

– Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e o apóstolo Paulo diz que quando luz e trevas querem se unir, tem-se um jugo desigual, de tal maneira que há sempre um grande prejuízo, com a contaminação da luz pelas trevas, tornando tudo muito tenebroso.

– Foi exatamente o que ocorreu nos dias de Esdras e de Neemias. Os casamentos mistos puseram em risco a santidade do povo judeu e Israel, se mantivesse este comportamento, desapareceria como nação, deixaria de ser “luz”, para se misturar com as demais nações, que eram “trevas”.

– Não é diferente com relação à Igreja. Se os salvos em Cristo Jesus se casarem com pessoas ímpias, porão em risco a própria salvação e, o que é pior, a exemplo do que ocorreram com os israelitas, gerarão filhos que serão educados como incrédulos, não sabendo sequer o “idioma santo”, não sabendo sequer se comunicar com o Senhor.

– Os casamentos mistos são, portanto, uma poderosa arma do inimigo para destruir o povo de Deus, para minar, desde o cerne, a partir do interior, a nação santa, fazendo-a ruir de pronto. Como afirma o pastor

Samuel Goulart, presidente das Assembleias de Deus em Taquaritinga/SP, em seu livro “Príncípios para sua família não se tornar disfuncional”: “…As sequoias na Califórnia são as maiores árvores do mundo.

Mas os besouros pequenos as colocam no chão…” (p.53). Através dos casamentos mistos, o inimigo destrói todo o povo santo.

– O casamento misto constitui-se, pois, num grande perigo para que se tenha o avivamento espiritual, devendo, pois, ser combatido, pois suas consequências são nefastas para a vida do povo de Deus.

– Mas, além de o casamento misto ser, de fato e literalmente, um perigo para a saúde espiritual da nação santa, tem-se que ele também é um símbolo, uma figura da mistura que não pode existir entre os salvos e o mundo.

– Como já foi dito, o casamento é a mais profunda comunhão que pode existir entre dois seres humanos, é um relacionamento de completude entre um homem e uma mulher, é uma união que forma uma unidade de vida, uma vida em comum.

– Pois bem, não pode haver um relacionamento de comunhão, comprometimento, de unidade de vida, de vida em comum entre o povo de Deus e os demais povos, entre os salvos e os incrédulos.

Em nossos relacionamentos sociais, que são inevitáveis, o salvo não pode jamais comprometer-se com um incrédulo, não pode jamais formar uma unidade com quem não serve a Deus.

– Abrão é um exemplo. Embora vivesse em paz e tivesse estabelecido relacionamentos com os demais moradores de Canaã, o patriarca os tinha como “confederados” (Gn.14:13), ou seja,

Abrão e aqueles moradores mantinham relações sociais, a ponto até de eles acompanharem o patriarca em uma guerra, mas cada um mantinha a sua autonomia, pois “confederado” é aquele que mantém uma aliança com alguém mas que não compromete a sua autonomia, o seu modo de vida, a sua liberdade.

Tanto assim é que, embora Abrão tenha recusado receber o despojo do rei de Sodoma, tinha plena consciência que seus aliados poderiam dele tomar, pois cada um tinha liberdade própria (Gn.14:22-24).

– Não podemos nos comprometer com o mundo. Certo é que, na vida social, temos de assumir responsabilidades, encargos e atitudes em virtude de nossos relacionamentos com as outras pessoas, pois não nos é possível sair do mundo (I Co.5:9), mas jamais podemos assumir posições que ponham em risco a nossa santidade, jamais podemos abrir mão da nossa liberdade de não pecar.

– O casamento misto representa este comprometimento com o pecado que, lamentavelmente, muitos estão a praticar, misturando-se com o mundo e deixando de seguir a Cristo.

Muitos têm sido destruídos por causa disso e devemos tomar muito cuidado porque o próprio Senhor Jesus disse que, por se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos esfriaria (Mt.24:12 ARA), ou seja,

muitos acabarão se comprometendo com o pecado, misturando-se com ele e o resultado é que ficarão espiritualmente mornos e, a exemplo da igreja de Laodiceia, serão vomitados no dia do arrebatamento da Igreja. Que Deus nos guarde! (Ap.3:16).

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5728-licao-12-esdras-e-neemias-combatem-o-casamento-misto-i

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