LIÇÃO Nº 12 – JOSÉ, O PAI TERRENO DE JESUS – UM HOMEM DE CARÁTER
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo de personagens bíblicas que nos ensinam sobre o caráter do cristão, estudaremos José, o pai social de Jesus.
– José, o guardião do Redentor, era um homem justo.
I – JOSÉ, O MARIDO DE MARIA
– Na sequência dos estudos de personagens bíblicas que nos ensinam sobre o caráter do cristão, estudaremos José, o pai social de Jesus.
– José é uma personagem silenciosa nas Escrituras Sagradas, pois, apesar de mencionado em 26 versículos da Bíblia, não ficou registrada nenhuma fala dele, sendo, pois, uma personagem que se caracteriza pelo silêncio, pelo calar, mas cujas atitudes falaram muito mais alto do que quaisquer palavras, a nos dar, de pronto, uma lição, qual seja, a de que o caráter cristão se evidencia essencialmente pela conduta, não pelo falar.
– O nome “José” significa “Ele acrescenta” e era um nome muito comum entre os judeus, já que era o nome do filho mais proeminente de Jacó, aquele que foi usado por Deus para livrar o povo da fome e propiciar a sua multiplicação no Egito, como parte da formação daquela que seria a “propriedade peculiar dentre os povos”.
– José é mencionado, como dissemos, em 26 versículos das Escrituras, embora seu nome seja citado em apenas em 14 desses 26 versículos.
Eis os versículos que fazem menção a José:
Mt 1:16,18-20,24,25; 2:13,14,19-23; 13:55;
Mc.6:3;
Lc 1:27; 2:4-6,16,33,48; 3:23; 4:22;
Jo.1:45; 6:42.
– José surge nas Escrituras quando da genealogia de Jesus, em Mateus, quando o evangelista quer demonstrar que Jesus é o Messias por ser filho de Abraão e filho de Davi.
Em Mateus, José é apresentado como sendo filho de Jacó (Mt.1:16), fazendo parte da linhagem real de Davi, visto que José descendia diretamente da linha de Salomão, que havia sucedido Davi no trono.
Era, pois, o herdeiro presuntivo do trono de Davi, ou seja, aquele que, se restaurada fosse a dinastia de Davi, legitimamente ocuparia o trono.
– É importante salientar que José foi escolhido para ser o “pai social” de Jesus precisamente por causa desta sua posição biológica, ou seja, por ser aquele que deveria ocupar o trono de Davi caso a dinastia se restabelecesse, cumprindo-se, assim, o que o Senhor havia dito a Davi, ou seja, que sua descendência ocuparia para sempre o trono de Israel (II Sm.7:16).
José tinha o papel de dar legitimidade à descendência davídica do Messias, dar a posição legal de Rei ao Senhor Jesus segundo os ditames da legislação política de Israel.
– José mostra-nos, assim, que as coisas relativas ao Senhor são sempre ordeiras e obedecem a ditames estabelecidos entre os homens dentro dos limites e parâmetros que o próprio Deus deu ao homem para estatuir.
Ao conceder o governo humano a Noé e sua família (Gn.9), Deus Se comprometeu a observar os parâmetros humanos que fossem estatuídos, desde que, é claro, fossem submetidos aos princípios superiores emanados do Senhor de todas as coisas.
– Um destes princípios é o princípio da autoridade, que o apóstolo Paulo fez questão de explicitar no capítulo 13 da epístola aos romanos, onde mostra que quem resiste a autoridade, resiste a Deus.
Deste modo, Jesus não poderia assumir o trono de Davi se não fosse filho de alguém que, na linhagem real, fosse o herdeiro presuntivo da Coroa de Israel.
– Esta posição de “pai legal” ou “pai social” que José ocupa é reforçada por Mateus. O evangelista diz que “Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo” (Mt.1:16),
a comprovar que José não foi pai biológico de Jesus, visto que não o gerou, tendo Jesus nascido de Maria, de quem era marido, o que já prenuncia o que falaria logo a seguir em sua narrativa, quando dirá que a concepção de Jesus foi virginal, concepção feita pelo Espírito Santo (Mt.1:18).
– Mas não bastava que José fosse apenas o “herdeiro legal”. Isto não seria suficiente, pois não deveria ele apenas dar legitimidade à posição real de Jesus, mas, também, era preciso que fosse uma pessoa que conferisse ao Messias uma boa reputação entre os homens, porquanto a paternidade confere aos filhos um determinado “status” no meio social, notadamente numa sociedade patriarcal como era a judaica nos tempos do nascimento de Jesus.
– Por isso, ao se anunciar a “paternidade legal” de José, o evangelista faz questão de dizer que ele era “marido de Maria”, ou seja, Jesus tinha de nascer numa família regular, conforme tanto a lei de Deus, quanto a lei dos homens, o que somente é possível mediante o casamento.
– José havia se comprometido a casar com Maria, já havia feito o “contrato de casamento”, chamado de “ketubah”, como nos diz Mateus, dizendo que ele estava “desposado com Maria”.
“…o contrato de casamento passou a existir como resultado de uma ética social em evolução na qual o status da mulher, em geral muito baixo em todos os povos, foi elevado, no seio da vida judaica, através da garantia de seus direitos materiais na união marital.
Desta forma revolucionária ela passou de uma simples ‘coisa’ ou escrava, dentro da estrutura de sua sociedade, a um ser humano cuja estatura moral e direitos econômicos deviam ser respeitados.…” (AUSUBEL, Nathan. Ketubah. In: A JUDAICA, v.5, p.415).
– José, portanto, era o legítimo marido de Maria e, nesta condição, poderia ser o filho dela nascido ser tido como o legítimo herdeiro do trono de Davi, já que a ascendência real se dava pelo pai e há uma presunção legal de que o filho da mulher casada é filho do marido,
presunção que, ao tempo em que se deram os fatos, era absoluta, visto que, ao contrário de hoje em dia, não havia a possibilidade de qualquer comprovação em contrário.
– Ademais, além do aspecto da lei dos homens, o Messias tinha de nascer numa família constituída segundo os princípios divinos, porquanto Ele é o Filho de Deus, o Santo de Deus e jamais o Senhor poderia desfazer as próprias regras por Ele estabelecidas quando da criação e, entre estas regras, está a formação da família pelo casamento, único meio pelo qual homem e mulher se comprometem a formar “uma só carne” (Gn.2:24).
– O Cristo, portanto, somente poderia nascer numa família que fosse constituída pelo casamento, de acordo com as formalidades exigidas ao tempo do seu nascimento, tendo em vista que a forma do casamento Deus deixou aos homens determinar, exigindo, tão somente, que se tivesse um casamento.
– Mas não bastava que José fosse o herdeiro presuntivo do trono ou que fosse o marido de Maria.
Era necessário, também, para poder ser o “pai social” de Jesus que fosse justo e é este o terceiro predicado que Mateus menciona a respeito de José.
Além de descendente de Davi, herdeiro presuntivo do trono de Davi e de marido de Maria, José, também, é chamado de “justo” (Mt.1:18).
OBS: “…José não era Justo apenas no sobrenome, era justo também em toda a sua maneira de viver e até mesmo na maneira de pensar. Era extremamente zeloso pela palavra de Deus, era o filho primogênito de Jacó…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. O Cristo desconhecido: dos judeus, da ciência, da história e até mesmo dos “cristãos”, p.62).
– A palavra utilizada no grego para indicar que José era justo é “dikaios” (δίκαιος), cujo significado é de “justo, imparcial, reto, principalmente aos olhos de Deus, eleito (segundo a ideia judaica)”.
É, pois, uma pessoa que agrada a Deus, que vive segundo a vontade do Senhor, que cumpre os deveres estabelecidos pela Palavra de Deus.
– José daria a reputação, ao menos inicial, a Jesus perante a sociedade e, por isso, não poderia ser uma pessoa qualquer, cuja conduta inspirasse dúvidas ou senões perante os homens. Tinha de ser um “justo”, alguém que vivesse de acordo com os ditames das Escrituras Sagradas, conforme a lei do Senhor.
– Tanto assim é que, em Nazaré, onde foi criado, era conhecido como “o filho do carpinteiro” (Mt.13:55) e, já no Seu ministério público, Jesus é apontado como sendo “o filho de José”, pois era esta a sua posição perante a sociedade (Jo.1:45).
– Assim como José, nós também somos convidados a levar o nome de Cristo em nós. Somos “cristãos”, ou seja, “pequenos cristos”, “parecidos com Cristo” e, portanto, temos de ter, também, uma conduta que não permita que o nome de Jesus seja escandalizado, envergonhado ou, de qualquer maneira, menosprezado ou vilipendiado.
O Senhor já dissera, ao dar os dez mandamentos, que não podemos “tomar o nome de Deus em vão” (Ex.20:7; Dt.5:11), mandamento que abrange o dever que temos de, com nossos atos, glorificar o nome do Senhor e fazer com que outros O glorifiquem (Mt.5:16), jamais permitindo que, por nosso meio, venha o escândalo (Mt.18:5-7).
OBS: O Catecismo Mario de Westminster, a propósito, declara que é pecado contra este mandamento,
“…a defesa da religião por hipocrisia ou para fins sinistros; o envergonhar-se da religião ou o ser uma vergonha para ela, por meio de uma conduta inconveniente, imprudente, infrutífera e ofensiva, ou por apostasia.…” (Resposta à pergunta 113) (Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm Acesso em 09 mar. 2017).
– Esta “justiça” é que permitiu ao nosso ilustre comentarista dizer que José era um “homem de caráter”, pois é uma expressão de todos conhecida que bem ilustra o que significa a palavra “justo” no contexto que lhe dá o texto bíblico. Noé foi considerado “justo” aos olhos de Deus e, por isso, ele e sua família foram poupados do dilúvio (Gn.7:1).
– Será que temos sido vistos “justos’ pelo Senhor nestes dias em que vivemos, dias que são iguais aos dias de Noé (Cf.Mt.24:37)?
Somente os justos escaparão da ira divina, como Noé escapou;
somente os justos serão arrebatados, como foi Enoque, que alcançou testemunho de agradara a Deus (Hb.11:5).
– José, sendo justo, ao saber que sua futura mulher estava grávida, o que não foi difícil de descobrir tendo em vista que,
além de estarem numa cidade pequena, como Nazaré, é evidente que Maria não mais menstruou e passou a ter o seu ventre característico de uma mulher grávida, agiu diferentemente do que qualquer um faria.
– Com efeito, tendo desposado Maria e, por conseguinte, pagado o dote correspondente, não tendo se ajuntado com ela, como bem diz o texto bíblico, naturalmente poderia acusar Maria de ter adulterado,
e a prova do adultério era evidente e, com isso, conseguido a condenação à morte de Maria por apedrejamento, conforme se estabelecia na lei (Dt.22:20,21), além, naturalmente, de ter de volta o dinheiro referente ao dote.
– É bom salientarmos que José não era pessoa de posses. Era carpinteiro (Mc.6:3) e morava numa cidade tão pequena que nem sequer era arrolada entre as vilas e aldeias da Galileia, tamanha a sua insignificância.
O pastor Ailton Muniz de Carvalho, a propósito, assim se manifesta a respeito de Nazaré:
“…A Nazaré dos cinco anos antes de Cristo até os dezesseis da era cristã era o que hoje são as favelas das grandes metrópoles mundiais.
Chamar alguém de Nazareno, na época de Cristo Jesus, era a mesma coisa que chamar, nos dias de hoje, um cidadão decente de traficante e delinquente.
Talvez os morros das mais temíveis favelas onde, supostamente, são controlados os que entram e os que saem, sejam mais sociáveis do que era, naquela época, a aldeia de Nazaré, onde Cristo Jesus foi criado…” (op.cit., p.135).
– A prova da sua pouca riqueza material está em que, ao ir ao templo de Jerusalém para que Maria oferecesse o sacrifício da sua purificação, após o nascimento de Jesus, bem como se pagasse a taxa do resgate do filho primogênito, foi oferecido o sacrifício dos mais pobres, ou seja, dois pombinhos (Lc.2:24; Lv.12:8).
Assim, o retorno do dote não seria uma má escolha por parte de José, ainda mais diante de tamanha “prova” de adultério por parte daquela que havia desposado.
– No entanto, como dissemos, José era justo. Não pôde certamente entender o que se estava passando.
Como justo, havia escolhido bem a sua mulher, não se guiara pela aparência física nem tampouco pelas posses de Maria (que também era pobre), mas, sim, tinha observado a conduta e piedade daquela adolescente e resolvido casar-se com ela.
– No entanto, havia surgido o boato de que Maria havia engravidado e, para piorar a situação, Maria teria fugido para lugar ignorado, pois o texto bíblico diz que ela saiu apressadamente para a casa de Isabel, que, segundo o anjo Gabriel, também engravidara milagrosamente (Lc.1:36,39).
– José, certamente, como era justo, foi se informar com os pais de Maria sobre o acontecido, pois o justo investiga as coisas, ao contrário do ímpio (Sl.10:4),
e ouviu o relato do que Maria contara aos seus pais, uma história que, aos olhos humanos, era inverossímil, apesar da promessa messiânica que dizia que o Cristo nasceria de uma virgem.
– José, como era justo, sabia das promessas messiânicas e conhecia Maria. Verdade era que a história era difícil de se acreditar, mas o justo é benigno, ou seja, quer bem às pessoas, age com boa-fé.
Diante desta circunstância, entendeu que deveria poupar a vida de Maria e, para fazê-lo, resolveu fugir de Nazaré, deixando, assim, a dúvida quanto à paternidade da criança que estava sendo gerada no ventre de Maria.
Ao fazê-lo, José estava abrindo mão de seu futuro, de seu próprio sustento, assumindo uma culpa que não era sua, mas preservando a vida de Maria, a quem amava.
– José, assim, assume a posição que se exige de todo marido, que é a de entregar a sua vida pela mulher, assim como Cristo Se entregou pela igreja (Ef.5:25).
José mostrou ser um marido justo e um marido justo é aquele que demonstra amor sacrificial por sua mulher, aquele que dá proteção tal que aceita até morrer em lugar da mulher.
– José resolvera assumir uma culpa que não era sua, tendo em vista que não podia se convencer, pelo conhecimento que tinha de Maria, da sua culpa.
Assim, em vez de tratar como culpada e condenar à morte alguém que não tinha comportamento compatível com aquela acusação, preferiu fazer-se de culpado, livrando, assim, a vida daquela que realmente amava.
– Ser justo é, como já vimos, estar de acordo com a Palavra de Deus e o papel do marido, segundo a Palavra, é ter este amor sacrificial, esta amor que leva a pessoa a se entregar pela mulher.
– José teria grandíssimas perdas. Ficaria sob a suspeita de ter se ajuntado com Maria antes do tempo e de não ter assumido o filho que produzira desta relação.
Perderia a sua carpintaria, pois, em fugindo, não poderia mais voltar para Nazaré. Teria grandes perdas, mas atingiria o seu propósito: o de salvar a vida de Maria, de que culpa não se convencera.
– Agindo desta maneira, José mostra bem que princípios e valores transmitiria ao menino Jesus, a quem seria incumbido de criar.
Jesus seria formado na mais excelente doutrina, na doutrina das Escrituras, segundo a vontade de Deus. Seria moldado, enquanto homem, na vontade divina, pois, como sabemos, o Senhor Jesus teve dupla natureza e, portanto, tinha duas vontades (Mt.26:39; Jo.4:34; 5:30; 6:38).
– As Escrituras dizem que Jesus cresceu em sabedoria, estatura e graça para com Deus e os homens (Lc.2:52) e, neste crescimento, o papel de José foi fundamental, pois ele, com o seu exemplo, pôde ensinar a Palavra de Deus a Jesus, dever de todo pai que pertence ao povo de Deus (Dt.6:6-9; 11:18-20).
O maior ensino que se pode dar a um filho é o exemplo e José, antes mesmo do nascimento de Jesus, já demonstrou ter este exemplo para dar.
– José estava numa situação extremamente delicada e os fatos permitiam que ele lançasse a culpa sobre Maria.
No entanto, José conhecia Maria e, mesmo ante a inverossimilhança da história, como também era alguém que esperava o cumprimento da promessa messiânica, revelou todo o seu amor para com Maria tomando a deliberação de partir e, deste modo, poupar a vida de Maria.
– Vivemos dias em que há um grande volume de informações e onde nos deixamos levar pelas “evidências” que nos são apresentadas. Entretanto, o justo não pode agir desta maneira. Jamais devemos julgar pela aparência mas segundo a reta justiça (Jo.7:24).
Num mundo cercado pelo “audiovisual”, somos tendentes a crer naquilo que são mostrados a nossos olhos, das conclusões apressadas que são próprias de um tempo em que tudo é no “tempo real”, mas não podemos nos deixar manipular.
Faz-se preciso que tudo analisemos, que reflitamos e, sobretudo, tenhamos como objetivo último a salvação das almas, porque este é o fim de nossa fé (I Pe.1:9).
– José poderia, também, fazer uso do expediente da “lei do ciúmes” (Nm.5:11-31), ante a suspeita despertada contra Maria (que, repitamos, fugindo, complicava ainda mais a sua situação), mas José tinha o amor de Deus e este amor não suspeita mal (I Co.13:5), de modo que preferiu assumir uma suspeita, que livraria Maria da morte, a submetê-la a uma maldição pelo consumo da água amarga amaldiçoante.
– José atuou como um verdadeiro cristão e nos dá o exemplo de como devemos agir diante de suspeitas que surjam contra os que nos cercam.
Devemos nos comportar como justos e o justo prefere sofrer o dano a prejudicar alguém, mesmo que este alguém lhe tenha prejudicado, porque ama o próximo e deseja que ele alcance a salvação.
José não levou Maria às penas da lei, mas, antes, usou de misericórdia para com ela, mesmo que, para tanto, tivesse de assumir prejuízos de ordem moral e material.
Mais valia a alma de Maria do que qualquer outra coisa. Temos agido assim? Pensemos nisto!
– A decisão de José, conforme dissemos, estava plenamente de acordo com a vontade de Deus. Uma vez mais, o Senhor Se agradava de José e, por isso mesmo, antes que José realizasse o que havia deliberado, apareceu um anjo do Senhor em sonho a José,
dizendo para que ele não temesse receber Maria por mulher, porque o que dela fora gerado era do Espírito Santo, confirmando, assim, a história que, com certeza, os pais de Maria haviam lhe contado.
Neste mesmo sonho, o anjo manda que José desse ao menino o nome de Jesus, porque Ele salvaria o Seu povo de seus pecados (Mt.1:20).
– Quem decide fazer a vontade de Deus mantém-se em comunhão com o Senhor e o Senhor, diante disto, jamais permitirá que sejam tomadas medidas erradas, sempre orientará os Seus servos.
Nos dias em que vivemos, aliás, isto é uma constante, pois, enquanto José vivia no tempo da lei, com atuação limitada do Espírito Santo, nós, hoje, somos templo do Espírito Santo (I Co.6:19), Sua habitação (Jo.14:17).
– Foi necessário que um anjo do Senhor aparecesse a José em um sonho para lhe dar a devida orientação, o que não se faz mister em nossos dias, pois, como o Espírito Santo está em nós, Ele Se comunica diretamente conosco, sem necessidade que algum anjo traga uma mensagem para nós, ainda que isto não esteja proibido.
Ainda há sonhos proféticos em nossos dias, mas o modo ordinário de o Senhor falar conosco é diretamente por meio do Espírito Santo que em nós está.
– O anjo denomina José de “filho de Davi”, dando-lhe, portanto, o exato papel e posição que tinha na encarnação do Verbo, ou seja, o de dar o “status social” de herdeiro do trono de Davi ao Messias e, por conseguinte, de ter de criá-l’O para que não fosse apenas o herdeiro do trono de Davi por legalidade, mas, também, por experiência, por convivência com os demais homens, com a comunidade de Israel.
– É por isso que podemos denominar José de “guardião do Redentor”, repetindo as palavras utilizadas pelo ex-chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, João Paulo II, que assim chamou José em um documento publicado em 15 de agosto de 1989, a Exortação Apostólica “Redemptor Custos”.
Sabemos que o guardião é aquela pessoa que é incumbida de prestar assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, sendo, como sabemos, um dever primeiramente dos pais biológicos mas que pode ser deferido a outras pessoas, quando os pais não podem exercê-lo.
– José não tinha qualquer vínculo biológico com o menino Jesus, mas foi incumbido de ser o guardião do menino Jesus, devendo prestar-Lhe assistência material, moral e educacional, assim como Maria, que, embora também não tenha qualquer vínculo biológico genético com o Messias, foi Sua nutriz e instrumento de Sua entrada física neste mundo.
– Maria foi incumbida de ser o ambiente da formação do homem Jesus, depois que foi gerado por obra e graça do Espírito Santo, de alimentá-l’O, não só até o nascimento mas até o Seu desmame. José foi o responsável pela direção, como cabeça do casal, de todo o processo de assistência material, moral e educacional do menino e adolescente Jesus, para que Ele Se introduzisse na sociedade humana. Era o “guardião do Redentor”.
– Obviamente que, assim como os romanistas se equivocaram ao dar à Maria um papel que vai além do cuidado do menino Jesus, da maternidade terrena de Cristo, extrapolando-o indevidamente à Igreja e à própria salvação, de igual modo a Igreja Romana se equivoca ao dar a José um papel de “guardião e protetor da Igreja”, pois este papel é da “cabeça da Igreja”, que não é José, e, sim, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Ef.1:22; 5:23).
– O anjo repete aquilo que Gabriel havia anunciado a Maria, ou seja, de que o filho que nasceria fora concebido pelo Espírito Santo e que, diante disto, cabia a José tão somente tomar Maria por mulher, cumprindo, assim, o contrato de casamento assumido e tomando a posição de “pai legal”, “pai social” do Messias, criando-o na doutrina e admoestação do Senhor.
– Deus atesta a inocência de Maria e, assim, José, crendo na mensagem que lhe fora dada em sonho, tomou Maria por sua mulher, concretizando o amor que tinha por ela, amor este que somente aumentou ao saber que sua mulher fora, também, escolhida pelo Senhor para ser a mãe do Salvador.
José, uma vez mais, agrada a Deus, porque age com fé, e, sem fé, é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).
– Não pensem os irmãos que a decisão de José foi tranquila e sem quaisquer repercussões no meio social.
Assim como Maria, que, ao assumir a maternidade, arriscou a sua própria vida, José, também, ao tomar Maria por mulher, quando esta retornou a Nazaré, provavelmente após o nascimento de João Batista, quando já contava com seis meses de idade, não foi algo fácil de ser feito.
José recebeu, certamente, a censura da sociedade, vez que recebeu por mulher alguém que estava grávida e cuja gravidez já era proeminente, passando a ser tachado como alguém que “não esperou o casamento”, um “incontinente”.
Entretanto, José sabia que era inocente, assim como Maria, e ambos tinham a plena convicção de que estavam fazendo a vontade de Deus.
– A mensagem dada a Maria e a mensagem dada a José eram idênticas, porque Deus é o mesmo, Ele não muda (Ml.2:6). Verdade é que as circunstâncias impediram que José e Maria pudessem ambos buscar a orientação divina ou receberem, concomitantemente, a mesma mensagem da parte do Senhor.
Marido e mulher precisam orar juntos, buscar juntos a presença de Deus, pois o Senhor criou a família precisamente para nela Se fazer presente e fazer dela um lugar de bênção.
– No entanto, se as circunstâncias não permitirem este concomitante buscar, devem marido e mulher saber que Deus não muda e, portanto, não irá falar uma coisa para o marido e outra para a mulher, devendo haver sempre a comunicação de eventuais mensagens e orientações recebidas para que haja a devida certificação de sua autenticidade.
– José creu na mensagem angelical recebida em sonho e recebeu Maria por mulher, casamento este que, ante as circunstâncias, não se deu com a pompa e circunstância que ambos esperavam.
II – JOSÉ, O PAI SOCIAL DE JESUS
– Logo após o casamento, que se deu entre o sexto e novo mês da gravidez de Maria, saiu um decreto da parte de César Augusto determinando o recenseamento do povo e José, como era herdeiro de Davi, teve de viajar para Belém a fim de cumprir tal determinação imperial.
– Mais uma vez vemos a justiça de José sendo evidenciada. Maria estava em o nono mês de gravidez, prestes a dar à luz e a viagem de Nazaré para Belém era penosa e longa. O mais razoável seria deixar de cumprir a ordem imperial ou, então, ir sozinho para lá, deixando a mulher gestante. José, porém, tinha de cumprir a ordem imperial, pois devemos ser sujeitos às autoridades, como também não poderia desamparar sua mulher num momento tão delicado quanto aquele, ainda mais sabendo que o filho que nasceria era o Messias. A justiça exigia uma só atitude: levar Maria gestante para Belém.
– Quando resolvemos fazer a vontade de Deus, sempre encontraremos inúmeros desafios e dificuldades imensas que teremos de enfrentar e que não nos darão alegrias ou satisfações imediatas.
O salmista lembra que o semeador leva a preciosa semente gemendo, há gemidos e dores durante a execução da tarefa, mas, no futuro, quando vier a colher os seus molhos, toda esta tristeza dará lugar à alegria e satisfação do dever cumprido (Sl.126:6).
– Era o momento de andar e chorar na vida de José e de Maria, como é o momento de andar e chorar para nós, que temos visto Cristo se formar em nós (Gl.4:19), formação esta que somente cessará quando atingirmos a estatura completa de Cristo, de varão perfeito, quando do arrebatamento da Igreja, da nossa glorificação (Ef.4:13; I Jo.3:2).
Por ora, em meio às aflições deste mundo, temos apenas de manter o bom ânimo e perseveramos até o fim (Jo.16:33; Mt.24:13).
– Após uma viagem extremamente penosa, José encontra Belém cheia, com uma população muito vezes superior ao que a pequenina cidade poderia comportar e para eles não havia lugar na estalagem (Lc.2:7).
O herdeiro presuntivo do trono era ignorado pelos seus próprios conterrâneos, pela sua própria família.
Quem faz a vontade de Deus, quem tem Jesus consigo será sempre rejeitado pelo mundo, não tem lugar neste mundo, porque o mundo aborrece o Senhor Jesus e aborrecerá todos quantos O amem (Jo.15:18-21).
José tinha de ter a experiência da rejeição deste mundo para transmiti-la a Cristo Jesus quando de Sua criação.
– José somente pôde encontrar um estábulo onde pudesse abrigar sua mulher que estava prestes a dar à luz e, numa manjedoura, nasceu Jesus, o Cristo, numa circunstância que, sem sombra de dúvida, deixou em perplexidade tanto José quanto Maria. Que eram de todas aquelas promessas trazidas pelos anjos? Que eram das palavras angelicais que davam ao Messias imensa e inigualável dignidade?
– Uma vez mais, o Senhor não deixou o casal confundido. Logo vieram os pastores de Belém anunciar a visão que tinham tido de coros celestiais angelicais celebrando o nascimento de Jesus e dizendo ser Ele o Cristo, o Senhor, posição que não era nem um pouco abalada pelo fato de o menino estar numa manjedoura envolvido em panos.
O texto bíblico diz que Maria guardou estas coisas em seu coração, nada dizendo sobre José, mas, certamente, o “pai social” de Cristo também foi consolado com aquelas palavras.
– No oitavo dia, como mandava a lei e o pacto estabelecido entre Deus e Abraão, José circuncidou o menino e lhe deu o nome de Jesus, como havia sido determinado na mensagem que recebera em sonho (Lc.2:21).
– “…Entre os primeiros deveres de um pai para com o filho estava aquele de circuncidá-lo, o que não significava que o pai devia ser o executor material, porque podia ser a mãe (Ex.4:25), ou normalmente, dado a delicadeza do intervento, era atribuição de uma pessoa capaz, conhecido como Mohel (circundante). Contudo, era o pai que devia assumir a responsabilidade para que o seu filho fosse inserido no povo da promessa.
Esta cerimônia era realizada normalmente na casa do neonato (Lc.1:59) com a presença de um certo número de testemunhas que segundo a tradição talmúdica eram dez, entre as quais estava o padrinho que segurava o menino durante a cerimônia.
Durante o rito o pai da criança proferia, conforme a tradição talmúdica, uma benção com estas palavras: “bendito aquele que nos santificou com os seus mandamentos e nos ordenou de introduzir a este na aliança de Abraão, nosso pai”.
No relato do desenvolvimento deste rito José ficou na sombra, contudo foi ele que como pai de Jesus que providenciou, preparou e preocupou-se com todos os requisitos para a realização deste rito.
As gotas de sangue, o choro do menino, as suas lágrimas, são todos detalhes daquele precioso momento que podemos imaginar presentes em seu coração através daquele rito.
Neste, José impondo-lhe o nome de Jesus declarou, como afirma a Exortação Apostólica Redemptoris Custos [documento de autoria do Papa João Paulo II, observação nossa], ‘A própria paternidade legal em relação a Jesus; e, pronunciando esse nome, proclamou a missão deste menino, de ser o Salvador” (RC 12).
Ele foi o primeiro a pronunciar oficialmente para o mundo o nome de Jesus e a proclamar consequentemente a sua missão de Salvador da humanidade.…” (BERTOLIN, José Antonio. Curso de Josefologia, p.16).
– José cumpre, assim, seu primeiro dever como “pai social” de Jesus, inserindo-o no povo de Israel e obedecendo à ordem do Senhor no tocante ao nome que deveria ser posto no menino.
– Ainda em cumprimento à lei, aguardou os dias para a purificação de sua mulher Maria, permanecendo em Belém, que era mais próximo de Jerusalém, para que, no tempo certo, procedesse ao sacrifício de purificação da sua mulher, bem como, aproveitasse o ensejo, para pagar a taxa de resgate dos primogênitos (Ex.13:2,13).
Não foi, também, uma decisão fácil, pois teve de esperar em Belém o prazo para esta purificação, que era de quarenta dias, onde, muito provavelmente, esgotaram-se os poucos recursos trazidos por eles nesta viagem.
No entanto, o mais importante, para José, era cumprir a lei, era apresentar a oferta devida ao Senhor.
– José, como era justo, cumpria rigorosamente a lei e, embora estivesse em situação econômico-financeira delicada, como já vimos, foi até o templo para lá cumprir os seus deveres como pai e como marido.
Ali, uma vez mais, é consolado pelo Senhor, que, mediante o encontro que o casal teve com Simeão e com Ana, puderam ver reafirmadas as promessas messiânicas e a circunstância de terem sido designados para cuidar do Messias, de dar-lhe o necessário ensino para que convivesse com os demais israelitas (Lc.2:22-38).
– Neste ponto é importante salientar que a apresentação do menino Jesus no templo foi ato de Seus pais e não propriamente de Simeão, como se costuma dizer. Trazemos aqui um pertinente e bíblico comentário do padre José Antonio Bertolin a respeito:
“…Os artistas têm com frequência colocado o velho Simeão no centro da cena da apresentação de Jesus, o qual encontrava-se presente no Templo nesta ocasião em companhia de sua esposa Ana.
Quem apresentou de fato Jesus ao Templo foram os seus pais (Lc 2,22), os quais cumpriram o que determinava a lei. Neste sentido não é possível separar José e Maria neste rito; eles foram os ministros deste, foram os instrumentos de Deus para esta oferta, ao passo que Simeão e Ana foram os instrumentos para a revelação do seu significado…” (op.cit., p.18).
– José resolveu morar em Belém. Como sabia que Jesus era o Messias, o que fora confirmado nas revelações de Simeão e de Ana, como as profecias diziam que Ele nasceria em Belém, o “pai social” deliberou residir ali, até porque foi de Belém que Davi se projetou e acabou por se tornar rei de Israel.
Afinal de contas, não era em Belém que Davi havia sido pastor de ovelhas e sido ungido como rei pelo profeta Samuel (I Sm.16:1-13) e dali chamado para tocar quando das perturbações de Saul (I Sm.16:18,19)?
– Sabemos disto porque quando os magos vão até Belém para ofertar presentes Àquele que havia nascido como o rei dos judeus, disseram a Herodes que haviam avistado a estrela no Oriente há dois anos, tanto que Herodes matou todas as crianças de Belém de dois anos para baixo (Mt.2:7,16).
Além do mais, ao contrário do que costumamos ver nos presépios, os magos encontraram Jesus em uma casa (Mt.2:11), prova de que José fixou residência em Belém depois que retornaram do templo.
– A aparente contradição entre os relatos de Mateus e de Lucas é facilmente superada pelo fato de que Lucas omite a visita dos magos bem como a ida de Cristo ao Egito, devendo ser entendido que este retorno a Galileia de que fala Lucas se deu após o retorno do Egito e não quando da ida ao templo.
– José certamente passou a exercer a sua profissão em Belém, com muita dificuldade, mas tendo em vista criar Jesus e ser um justo pai de família, pai e marido.
Depois da purificação de Maria, passou a ter relacionamento íntimo normal com Maria, pois o texto bíblico que José não conheceu Maria até que ela deu à luz a Jesus (Mt.1:25), pois, como marido, deveria, sim, manter relacionamento sexual com sua mulher, pois é este um dever de todo cônjuge (I Co.7:3-5), devendo haver sempre o objetivo de procriação num casal, por ser esta a ordem divina (Gn.1:28), tanto que José e Maria tiveram filhos e filhas (Mt.12:46; 13:55; Mc.6:3).
– Não há qualquer amparo bíblico para se dizer que José manteve um casamento com Maria sem qualquer contato íntimo entre eles e que a virgindade de Maria teria sido perpétua.
Isto contradiz toda a justiça de José, bem como considera como sendo “ilícito” o ato sexual entre cônjuges, o que é evidente aberração e contrariedade a todos os princípios bíblicos estatuídos pelo Senhor para o casamento. Ademais, o texto bíblico é explícito ao dizer que José não conheceu Maria ATÉ o nascimento de Jesus.
– A visita dos magos foi novo consolo para o casal que, há dois anos, vivia uma vida completamente distinta da imaginada por eles ante as mensagens recebidas de que eram escolhidos para criar e educar o Messias.
Além do mais, a visita também lhes trouxe o necessário amparo material para que pudessem sair de Belém e empreender viagem para o Egito. Vemos que, quando uma família se dispõe a cumprir a vontade do Senhor, a despeito das dificuldades, sempre terá o amparo, a proteção e o cuidado de Deus. A família é feita para ser o lugar da bênção.
– Quando os magos vão embora, José tem um outro sonho e nele aparece novamente um anjo do Senhor, que aqui é denominado de “o anjo do Senhor’, ao contrário do primeiro sonho, em que é ele chamado de “um anjo de Senhor”, a indicar que se tratava do mesmo ser angelical da primeira vez, determinando que José fugisse para o Egito, pois Herodes quereria matar o menino (Mt.2:13).
– José não questionou nem murmurou porque teve, pela segunda vez, de desfazer todo o seu planejamento de subsistência.
Seu foco era fazer a vontade do Senhor, seguir a Sua orientação, mesmo que isto causasse dissabores, frustrações profissionais, abandono de planos e projetos. Em dois anos, José devia já ter uma clientela, podia estar a melhorar de vida, humana e financeiramente falando, mas, agora, tinha de sair de Belém e partir para o Egito, uma terra estranha, para viver como um estrangeiro, como um imigrante, com todas as dificuldades decorrentes de tal atitude.
– José tanto creu na Palavra de Deus que saiu de Belém de noite (Mt.2:14), levando o menino Jesus e Maria, como que a sentir que a perseguição contra Jesus já havia se desencadeado.
José mostra, com esta atitude, uma fé ímpar e um propósito de jamais contrariar o Senhor.
– Temos esta disposição de tudo deixar por amor a Deus? É isto que o Senhor Jesus exige de todos quantos queiram segui-l’O (Mt.10:37-39; Lc.14:26,27).
José ensina-nos que o caráter do cristão dá absoluta prioridade ao Senhor, não se deixa prender por coisa alguma desta vida, tendo como verdadeira comida, verdadeira razão de subsistência fazer a vontade de Deus e realizar a Sua obra (Jo.4:34).
– Quando não amamos a Deus, amaremos o mundo, não há meio termo (I Jo.3:15), quem quiser agradar aos homens, a começar de nós mesmos, jamais poderá servir a Jesus (Gl.1:10).
José havia tomado a decisão de servir a Deus e, por isso, não se importou em, pela segunda vez, ter a sua “vida virada do avesso”. Seguiu a orientação divina e partiu para o Egito.
– José ficou no Egito como um estrangeiro, certamente passando dificuldades. Verdade é que havia muitos judeus no Egito, principalmente em Alexandria, mas nada nos é dito sobre se José foi para Alexandria.
O certo é que teve de recomeçar novamente toda a sua vida, tendo de sustentar a Maria, a Jesus e aos filhos que estavam nascendo, num quadro totalmente contrário ao imaginário que havia montado quando decidiu residir em Belém.
Como o Messias poderia morar em terra estranha, como um estrangeiro? Isto não fazia sentido, mas José sabia que era apenas um caco, que não poderia jamais questionar o oleiro (Is.45:9).
– Como temos nos comportado, amados irmãos? Seguimos a orientação divina e nos conformamos a ela, ou, apesar de seguirmos a direção e orientação do Senhor, ficamos ressentidos, magoados e inconformados?
Lembremos que os israelitas iam atrás da nuvem e da coluna de fogo (Ex.13:21,22; Ne.9:12,19), mas não se conformaram com o que tinham no deserto e, por causa disto, não chegaram à Terra Prometida (Hb.3:19).
– José ensina-nos que, para sermos justos e agradáveis ao Senhor, não basta seguirmos a Sua orientação e direção, mas temos de nos conformar à Sua vontade, temos de realmente querer o que Deus quer para nós, sabendo que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28).
Somente os que assim fizerem entraram no caminho e chegaram até o seu final.
– José manteve-se no Egito fiel e obediente ao Senhor. O anjo do Senhor apareceu-lhe, pela terceira vez, em sonho e mandou que ele retornasse para a terra de Israel, pois o perigo havia cessado e os que queriam a morte do menino já haviam morrido (Mt.2:19).
– Diante de tal ordem, mais uma vez, José deixou tudo o que havia construído para obedecer à voz do Senhor.
Que exemplo dava a Jesus e aos demais filhos, porquanto, quando das mudanças, certamente dizia aos familiares o porquê, o motivo de tais viagens e tais decisões.
Todos, na casa de José, estavam aprendendo a ouvir a voz do Senhor, a Lhe ser obedientes. José era um exemplo de obediência e de submissão à vontade de Deus e isto é que é ser um “homem de caráter”, um “justo”.
– José cumpria, assim, a essência da lei, pois o que queria o Senhor diante do povo de Israel nada mais, nada menos era que eles fossem obedientes:
“Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os Seus caminhos, e O ames, e sirvas ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, para guardares os mandamentos do Senhor, e os seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem?” (Dt.10:12,13).
– Já no Seu ministério público, o Senhor Jesus, certa feita, foi indagado por um doutor da lei qual era o maior e grande mandamento da lei e respondeu dizendo que era o de amar o Senhor Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o pensamento (Mt.22:35-38).
Esta lição o homem Jesus teve com José, que, com atitudes e não somente com palavras, mostrou seu grande amor a Deus, o amor a Deus sobre todas as coisas.
– José, então, volta para Israel e, consoante seu imaginário, era seu intento voltar para Belém, a cidade onde se projetaria o Messias, o Filho de Davi, assim como havia ocorrido com o fundador da dinastia. Afinal de contas, quando resolvera fixar residência em Belém, não tinha havido qualquer objeção por parte do Senhor.
– Contudo, ao chegar à Judeia, José soube que Arquelau, filho de Herodes, estava reinando no lugar de seu pai e, diante disto, José entendeu ser arriscado voltar a morar em Belém.
Em Belém seria mais fácil a sua vida, já havia morado lá antes, era a cidade da casa de Davi, mas, muito mais importante do que isto, era deixar Jesus em segurança, a fim de que Ele pudesse cumprir a Sua missão.
– José mostra aqui, ainda desta vez, o seu amor a Deus sobre todas as coisas e, diante desta circunstância, resolveu voltar para Nazaré, cidade que ficava na Galileia e onde Arquelau não tinha qualquer autoridade, visto que, após a morte de Herodes, o seu reino havia sido dividido entre seus quatro filhos, tendo a Galileia ficado com Herodes Antipas (Lc.3:1).
Nazaré era, como vimos, uma cidade totalmente insignificante, mas segura para os propósitos de José, que eram o de garantir o crescimento do Messias, era este o seu papel enquanto “pai social”, enquanto “pai legal”.
Por isso, partiu para Nazaré, mal sabendo que isto era cumprimento de uma profecia, que dizia que o Messias seria chamado Nazareno (Mt.2:22,23).
OBS: “…NÃO é citação direta do V.T., mas vem de textos como Is.11:1, que tem a palavra ramo (da qual vem o termo ‘Nazaré’), referindo-se ao Messias e esses textos provavelmente estavam na mente do autor ao fazer a ‘citação’.
Outras profecias sem a palavra exata, mas que expressam a mesma ideia, provavelmente formaram a base desta ‘citação’ (Ver Jr.23:5; 33:15; Zc.3:8 e 6:12). Assim, pois, o Messias seria o ‘ramo’ ou ‘renovo’ da família de Davi, ‘Nazareno’.
Ainda que para nós seja título famosos, por causa de Cristo, naquele tempo geralmente era usado como termo de menoscabo (Jo.1:46; 7:52).…” (CHAMPLIN. Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.1, com.Mt.2:23, pp.283-4).
– José decididamente não entendia o propósito divino, mas o fato é que levou Jesus e toda a família de volta para Nazaré, onde retomou suas atividades de carpintaria.
Ali deu o devido ensino ao menino Jesus, ensinando-lhe a lei e as normas de convivência social, cuidando para que a piedade sempre estivesse presente em sua família.
Cedo, passou a ensinar a Jesus o ofício da carpintaria, tanto que Jesus seria conhecido em Nazaré como “o carpinteiro” (Mc.6:3), como também “o filho do carpinteiro” (Mt.13:55).
– José ensina, assim, Jesus a ser um trabalhador, a obter do suor do seu rosto o seu sustento, que era mais uma ordenança divina para o ser humano (Gn.3:19), ensinamento fundamental, porquanto Jesus foi arrimo de família por um período que não sabemos precisar, já que, após o episódio de Jesus com os doutores no templo, não mais se fala de José, que, certamente, morreu sem ter visto o ministério público de Cristo, já que, nas bodas de Caná, é Jesus quem acompanha Maria, prova de que ela já era viúva na ocasião (Jo.2:1,2).
– Quando Jesus, certa feita, disse que Seu Pai trabalhava e Ele, também, fê-lo não só se referindo ao Pai celestial, mas, também, a Seu “pai adotivo”.
Como Deus que é, Jesus trabalha, mas como homem, também, sempre foi um trabalhador, porquanto assim foi ensinado por Seu pai social.
– Temos ensinado nossos filhos a ter uma conduta completamente conforme à vontade divina? Temos feito de nossos filhos homens e mulheres que são trabalhadores e que procuram ganhar o pão de cada dia com o suor do seu rosto, ou temos sido levados pela cultura do elogio e busca do ócio, do ter muitas riquezas sem nada fazer? Pensemos nisto!
– Esta circunstância mostra-nos, como afirma o já mencionado pe. José Antonio Bertolin que “…José e Maria foram introduzidos progressivamente no mistério de Jesus…” (op.cit., p.18).
Ao ensinar a arte da carpintaria a Jesus, José mostra ter aprendido que o Messias teria de ser plenamente humano, um israelita como qualquer outro, alguém que Se mostraria como o Salvador do Seu povo, mas que, antes disso, deveria Se apresentar como “participante das mesmas coisas” (Hb.2:14).
Esta identificação plena do Messias com a humanidade foi, sem dúvida alguma, aprendida por José, que, deste modo, pôde se livrar do imaginário criado pelos judeus e que O fazem ser considerado como o “primeiro cristão”, aquele que construiu a primeira amizade fraterna com o Senhor Jesus após a Sua encarnação.
OBS: “…Sem dúvida alguma, José foi o maior amigo pessoal que Cristo Jesus teve na terra dos mortais.
O amor fraternal de José por Cristo era tão forte que cada vez mais que passava o tempo, o ódio aumentava.
O mundo odiava o triângulo perfeito do amor entre José, Maria e Cristo. Era o que se pode, de fato, chamar de amor ágape (o dar sem necessariamente receber)…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. op.cit., p.208).
– Desprender-se do imaginário de nossas mentes e assumir a “mente de Cristo”, submeter-se ao encaminhamento da vontade de Deus sem querer entender e reconhecendo que “os caminhos do Senhor” e os “pensamentos do Senhor” são mais altos que os nossos é algo que somente pode ser realizada se deixarmos ser dominados pelo Espírito Santo, pois, somente desta maneira, nos tornaremos “homens espirituais”, que tudo discernirão e de ninguém serão discernidos (I Co.2:9-16).
– José teve a justiça aumentada com sua convivência com o Senhor Jesus.
Ao mesmo tempo em que ensinava e criava o menino Jesus, era ensinado e passava a conhecer cada vez mais os desígnios divinos, a ponto de poder ter um discernimento que o fez preparar o menino Jesus convenientemente, sem que se prendesse a tradições e pensamentos religiosos vigentes mas que não correspondiam ao plano divino.
– Quando Jesus já tinha doze anos completos, partindo para os treze anos, consoante a tradição judaica, José levou o menino para que Ele assumisse a responsabilidade pessoal perante Deus.
A partir dos doze anos completos, o que ocorre até hoje, os meninos judeus solenemente assumem a sua “maioridade espiritual”, passando a ser “filhos do mandamento” (Bar-Mitzvah”), passando, então, a responder pessoalmente diante da lei, o que faz cessar a responsabilidade dos pais com relação ao ensino da lei.
– Todos sabemos que, já no retorno da ida a Jerusalém, José e Maria perceberam que Jesus não estava na caravana e, por isso, retornaram até Jerusalém, onde, durante três dias, ficaram a procurar o adolescente Jesus, tendo-O localizado no templo, assentado com os doutores, ouvindo-os e os interrogando (Lc.2:42-47).
– Jesus surpreende José e Maria, que puderam, então, contemplar um adolescente que podia ensinar os doutores, apesar de ter acabado de assumir a responsabilidade diante de Deus.
Alguém que deveria iniciar sua qualidade de “filho do mandamento”, lecionando para os doutores da lei.
– Maria, na sua condição de mãe, repreende Jesus e, então, o Senhor diz a ela que não via razão para que Ele fosse procurado, uma vez que Lhe convinha tratar dos negócios do Seu Pai (Lc.2:48-50).
Estas palavras não foram compreendidas nem por José, nem por Maria, como uma demonstração de que seus papéis se circunscreviam à educação e criação do menino Jesus, não do Salvador do mundo, do Verbo que Se fez carne.
– Cessa aí a menção de atividades e atitudes de José nas Escrituras. E não é sem razão que isto aconteça, porquanto, a partir do instante em que Jesus assume Sua responsabilidade perante a lei e o Senhor, na qualidade de homem, e anuncia que Lhe era conveniente tratar dos negócios de Seu Pai, como que põe um ponto final na missão do “guardião do Redentor”.
Entendem alguns, aliás, que, pouco depois destes fatos, José tenha morrido e Jesus passado a ser o arrimo de família.
– Com isso, José nos traz uma última lição: a de que há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu (Ec.3:1) e que, uma vez cumprido o nosso papel na obra de Deus, é momento de ou mudarmos de atividade no corpo de Cristo, ou de sermos recolhidos para a glória.
– José, dentro de sua justiça, passou do mero cumprimento da lei para o exercício do amor a Deus e da realização da obra que Lhe foi confiada pelo Senhor, com total dedicação e perseverança até o final.
Cumprida esta missão, pôde sair de cena, mas não sem deixar indelével a sua marca não só no texto sagrado, mas na própria vida do Senhor Jesus, pois, como dissemos, será Ele sempre identificado como sendo o “filho do carpinteiro”, o “filho de José”.
José deixou suas marcas em Cristo perante os homens e, nós, também, devemos deixar as nossas marcas, os nossos passos no corpo de Cristo ao longo do tempo, ao longo dos anos.
– José foi um homem de caráter, alguém que fez com que Seu amor a Deus se transformasse num amor a Cristo e servisse para a glorificação de Jesus.
Que possamos nós também ser justos, que nossa justiça exceda a dos escribas e fariseus e que, assim, como José, possamos perseverar até o fim, pois este é o único meio de entrarmos no reino dos céus (Mt.5:20).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://portalebd.org.br/classes/adultos/451-licao-12-jose-o-pai-terreno-de-jesus-um-homem-de-carater-i