LIÇÃO Nº 12 – OS PECADOS DE OMISSÃO E DE OPRESSÃO
O servo de Cristo Jesus sempre fazer o bem
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estudaremos hoje a passagem de Tg.4:17-5:6, quando o irmão do Senhor trata dos pecados de omissão e de opressão.
– O servo de Cristo Jesus deve sempre fazer o bem.
I – O PECADO DE OMISSÃO
– Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estudaremos hoje a passagem de Tg.4:17-5:6, quando o irmão do Senhor trata dos pecados de omissão e de opressão.
– Conforme temos visto ao longo das últimas lições, Tiago tem, ao longo de sua epístola, um verdadeiro sermão judaico, mostrado aos destinatários de sua carta, ou seja, os cristãos em geral, quais os perigos que cercam a nossa peregrinação terrena rumo ao céu.
– Assim, a partir do capítulo 3, elencou alguns dos obstáculos que podem causar o fracasso de nossa vida espiritual, a saber: a língua, a sabedoria terrena, a conduta pecaminosa e a presunção humana (que se demonstra pela maledicência ou pelos projetos à revelia de Deus).
– Após ter demonstrado tais perigos, Tiago vai tratar de um tema extremamente sério, qual seja, o do pecado de omissão. Diz o irmão do Senhor: “aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz, comete pecado” (Tg.5:17).
– Este ensino de Tiago, que encerra a parte relativa à presunção humana, mostra-nos que o pecado pode ser praticado tanto por uma atitude como pela ausência dela.
– O pastor da igreja em Jerusalém já havia, no início de sua epístola, revelado todo o caminho para a geração do pecado, quando nos mostra que o pecado nasce no próprio homem, seja por indução da carne, do mundo ou do diabo, não tendo, jamais, origem em Deus.
– Tiago foi bem claro ao mostrar que a origem do pecado no homem encontra-se na circunstância quando nos rendemos à tentação maligna, àquela sugestão que nos vem de nós mesmos (carne), do sistema maligno governado por Satanás (mundo) ou do próprio inimigo de nossas almas.
– Quando permitimos que esta sugestão invada o nosso interior, quando abrimos diálogo com as fontes da tentação e, em virtude disto, somos lançados no campo da dúvida, deixando de crer em Deus e em Sua Palavra, deixando-nos levar pela nossa concupiscência, somos atraídos pela sugestão, enganados pela nossa própria concupiscência e, como resultado disto, acabamos por pecar, separando-nos de Deus (Tg.1:14,15).
– Tal descrição, por parte do irmão do Senhor, poderia dar uma ideia apenas parcial da realidade do pecado, qual seja, a de que ele somente existiria mediante a prática de um ato, o que se denomina de “pecado de comissão”, ou seja, um pecado que ocorre quando alguém pratica algo, faz alguma coisa, comete alguma ação.
– Entretanto, esta é apenas parte da realidade do pecado. Tiago, ao nos mostrar que devemos renunciar a nós mesmos para podermos servir a Cristo, sujeitando-nos a Ele e à Sua vontade, também nos apresenta a outra parte da realidade do pecado, que é a do pecado por omissão.
– Tiago mostra-nos que, para evitarmos os riscos da vida espiritual, temos de nos deixar dominar pelo Espírito Santo. Assim, devemos ter o nosso interior completamente controlado pelo Senhor a fim de que a nossa língua seja a exteriorização deste domínio do Espírito, a fim de que Cristo viva em nós e, deste modo, a sabedoria que tenhamos seja a que venha do alto e não a animal, terrena e diabólica, a fim de que a nossa vontade não seja a proveniente de nosso “eu”, mas, sim, a vontade de Deus, de forma que somente pediremos aquilo que agrada a Deus, jamais falaremos mal do próximo e nunca faremos planos ou projetos à revelia de Deus.
– Quando crucificamos o nosso “eu”, que nada mais é que a carne, a natureza pecaminosa que há em nós, com nossas paixões e concupiscências (Gl.5:24), passamos a fazer a vontade de Deus, a ter intimidade com Ele e, deste modo, sabemos o que é fazer o bem, bem este que outro não é senão a realização da vontade do Senhor.
– Vemos aqui, a propósito, como a mentira satânica que enganou o primeiro casal é realmente desmascarada na realidade da vida espiritual. O diabo fez com que nossos pais cressem que saberiam o que era o bem e o mal no momento em que “declarassem independência” de Deus (*Gn.3:5). No entanto, como nos ensina Tiago, este saber fazer o bem ocorre quando tomamos a atitude diametralmente oposta, ou seja, quando passamos a nos sujeitar a Deus, a reconhecer nossa total e integral dependência d’Ele, renunciando a nós mesmos e passando a fazer a Sua vontade.
– Quando negamos a nós mesmos e tomamos a nossa cruz, temos condição de seguir a Cristo, como Ele próprio afirmou (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23; 14:33). Não há como seguir a Cristo se antes não renunciarmos a nós mesmos e não nos sujeitarmos à vontade divina.
– Ora, seguir a Cristo é passar a imitá-l’O (I Co.11:1), ir atrás de Suas pisadas (I Pe.2:21), pois, a exemplo de Nosso Senhor e Salvador, necessitamos fazer a vontade divina, realizar e cumprir o nosso ministério enquanto peregrinarmos nesta Terra, sabendo que, apesar das aflições e sofrimentos aqui presentes, seremos, ao término de nossa jornada, glorificados, como foi o Senhor Jesus, pois nosso destino é o trono do Senhor (Ap.3:21). Nesta caminhada, temos de ter a mesma convicção do apóstolo Paulo: “E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm.8:17).
– Esta é a realidade do “andar em espírito” que Paulo tão bem descreve no capítulo 8 da carta aos romanos. Se estamos em comunhão com o Senhor, fazendo a Sua vontade, vivemos o reino de Deus aqui na Terra, pois estamos sob o domínio do Espírito Santo, reino este que não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17), domínio este que, como Tiago revelou logo no limiar de sua carta, faz com que soframos aflições neste mundo presente, pois que, por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus (At.14:22).
– Seguir a Cristo Jesus leva-nos a ter várias dificuldades enquanto peregrinamos nesta Terra, mas o fim de toda esta jornada é glorioso, pois seremos glorificados, visto que todo este processo tem por objetivo nos fazer cada vez mais semelhantes ao Senhor. Viver com Cristo neste mundo nada mais é que um processo de formação de Cristo em nós (Gl.4:19).
– Se imitamos a Cristo, se passamos a seguir as Suas pisadas, tendo recebido a unção do Espírito Santo e a virtude advinda de tal unção, necessariamente teremos de andar fazendo bem, pois foi assim que Jesus agiu em Seu ministério terreno, como nos dá conta o apóstolo Pedro na casa de Cornélio (At.10:38).
– Como somos, por natureza, maus (Mt.7:11), temos de aprender a fazer o bem e somente o podemos fazer, como nos ensina Tiago, se tivermos a sabedoria divina, pois todo o bem provém de Deus (Tg.1:17), não vem de nós mesmos. Por isso, logo no limiar da carta, o irmão do Senhor nos aconselha a pedir sabedoria a Deus (Tg.1:5).
– Pois bem, se estamos em comunhão com Deus, se “andamos em espírito”, aprendemos a fazer o bem, sabemos como fazê-lo, não porque sejamos bons mas porque o Senhor nos concede esta sabedoria e nos dá, então, condição de, uma vez tendo o Espírito Santo e nos sujeitando a Ele, poder realizar o bem.
– No entanto, e aí Tiago nos revela outro grande perigo que corre aquele que serve a Cristo Jesus e caminha para o céu nesta Terra, não nos é suficiente saber o bem que devemos fazer, ter a orientação do Espírito Santo do que devemos fazer. Torna-se indispensável que façamos efetivamente este bem, pois o saber não pode ser meramente intelectual, interno ao homem, precisa se traduzir em atitudes. Jesus andou fazendo bem, curando a todos os oprimidos do diabo, não apenas manteve este bem em seu intelecto, em seu interior.
– Quando sabemos o bem que precisa ser feito mas não o fazemos, praticamos o pecado de omissão. Tiago revela-nos que é possível pecar sem que se tenha uma atitude externa, uma ação neste mundo. O pecado de omissão é aquele em que há, precisamente, a ausência de uma atitude, de uma ação, aquele pecado em que se deixa de fazer algo que deveria ser feito.
OBS: “…Tiago acrescenta este ditado como um incentivo a que se faça o que ele acabou de ordenar. Ele disse a seus leitores o que é o bem; se eles não o fazem, estão pecando. Eles não podem se refugiar no argumento de que não fizeram nada positivamente errado; conforme as Escrituras deixam bastante claro, os pecados de omissão são tão reais e sérios quanto os pecados de comissão. Na parábola de Jesus, o servo que deixou de usar o dinheiro que lhe foi confiado (Lc 19.11-27); os ‘cabritos’ que não se importaram com os párias da sociedade (Mt 25.31-46) — eles são condenados por aquilo que deixaram de fazer. Outro ensino de Jesus nos lembra obrigatoriamente das palavras de Tiago aqui: ‘Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites’ (Lc 12.47).…” (MOO, Douglas J. Tiago: introdução e comentário. Edição digital, pp.157-8).
– Para que se cometa tal pecado, Tiago é bem claro: faz-se preciso que a pessoa “saiba fazer o bem”, ou seja, é necessário que a pessoa tenha “sabedoria do bem”. Notamos, deste modo, que somente as pessoas que têm comunhão com o Senhor, que já iniciaram a jornada para o céu, podem cometer tal pecado de omissão.
– Mais uma vez o irmão do Senhor vai salientar o lado prático da vida espiritual. A salvação somente se revela pela prática de boas obras e, se alguém, após ter tido o perdão de seus pecados, entrar em comunhão com o Senhor, deixar de realizar boas obras, estará perdendo a sua salvação, pois, quem sabe fazer o bem e o não faz, comete pecado.
– Este ensino de Tiago encontra um paralelo no direito penal. Os juristas, a exemplo do irmão do Senhor, também mostram que pode haver a prática de crimes tanto por comissão, quanto por omissão.
– Assim, se uma pessoa der um tiro de revólver em outra e ceifar-lhe a vida, temos aqui a prática do crime de homicídio, crime por comissão, porquanto uma pessoa tomou uma atitude que retirou a vida de outrem.
– No entanto, se uma pessoa está se afogando em uma lagoa e um salva-vidas, podendo socorrer-lhe, deixa que a pessoa morra afogada, nada fazendo para a salvar, também estará a praticar o crime de homicídio, pois, segundo o direito penal, quem tem o dever jurídico de praticar um ato e não o pratica, também comete crime.
É o chamado crime por omissão. OBS: Art. 13, § 2º do Código Penal Brasileiro: “A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”
– Assim como no crime por omissão, no pecado de omissão estamos diante de alguém que tem um dever, qual seja, o dever de fazer bem. Todo salvo na pessoa de Cristo Jesus, na medida em que está a seguir o Senhor, deve fazer bem, porquanto entrou em comunhão com o Senhor exatamente para aprender a fazer o bem. Este aprendizado não pode ser simplesmente teórico, mas é eminentemente prático, pois, se nos sujeitamos a Deus, fazendo a Sua vontade, estamos sempre a fazer o bem, pois esta é a vontade do Senhor.
– Pela salvação, como nos ensina o apóstolo Pedro, tornamo-nos participantes da natureza divina (II Pe.1:4). Ora, como nos diz Tiago, a natureza divina é essencialmente boa e este bem não fica em Deus, mas, antes, é trazida até nós, numa constante e imutável transferência (Tg.1:17), pois é da essência de Deus fazer bem. Se passamos a participar desta natureza, não há como não fazermos bem e, se não o fazemos, contrariamos a vontade do Senhor, ou seja, pecamos.
– É dever de todo salvo fazer o bem e, deste modo, não podemos nos omitir de fazê-lo. Se não o fazemos, pecamos e, por isso mesmo, geramos morte espiritual para nós mesmos, pois o salário do pecado é a morte (Rm.6:23). Compreendemos, então, porque aquele que diz ter fé e não a demonstra por boas obras, tem uma fé morta em si mesma (Tg.2:14-17): não somente a sua fé é morta, mas ele mesmo é um morto espiritual, porquanto, por não fazer o bem, pecou e, com o pecado, temos a geração da morte (Tg.1:15).
– Esta é a realidade cada vez mais abundante entre os que cristãos se dizem ser. A falta da prática do bem sufoca a nossa vida espiritual, torna-a apenas uma aparência, uma ilusão. De nada adianta termos entrado em comunhão com o Senhor, mediante a fé vinda da parte do Senhor, se, na sequência, embora tenhamos até aprendido a fazer o bem, não o praticarmos, não o fazermos.
– Quando, depois de termos aprendido qual é a vontade de Deus para as nossas vidas, deixarmos de fazer o bem, estamos, na verdade, fazendo ressurgir em nós o velho homem, a carne, deixando de fazer a vontade de Deus para fazermos a nossa própria vontade e, agindo desta maneira, pecamos, fracassando, então, em nossa jornada rumo ao céu, pois, como diz a poetisa sacra e missionária Ingrid Anderson Franson (1887-?), no início da primeira estrofe do hino 422 da Harpa Cristã: “no céu não entra pecado”.
– Jesus andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo porque Deus era com Ele (At.10:38). Se Deus é conosco, também devemos andar fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo. Não há qualquer possibilidade de deixarmos de fazer bem e continuarmos sendo pessoas que estão em comunhão com o Senhor. A demonstração de que Deus está conosco é que não deixamos de fazer o bem, sabendo fazê-lo. Temos o dever de fazer bem e, se não o fazemos, estamos a cometer pecado e, como tal, não estamos em comunhão com o Senhor.
– A multiplicação do pecado em nossos dias, dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, é um fator que pode nos levar a deixar de fazer o bem. A iniquidade tem aumentado grandemente e aumenta os obstáculos para que façamos o bem. Nos dias em que vivemos, os atos de benemerência tornam-se cada vez mais arriscados e, naturalmente, temos a tendência de nos contermos na prática do bem.
– Isto, porém, não pode nos intimidar. Tais obstáculos e impedimentos decorrentes da multiplicação da iniquidade são, na verdade, tentações para que cometamos o pecado de omissão. Quando as circunstâncias macabras deste mundo tenebroso nos levam a deixar de fazer o bem, na verdade estamos cedendo à tentação do mundo, da carne e do diabo. Isto não pode correr, pois, quando cedemos à tentação, pecamos.
– Foi exatamente isto que o Senhor Jesus nos alertou em Seu sermão escatológico, quando disse que, por causa da multiplicação da iniquidade, o amor de quase todos se esfriaria (Mt.24:12 ARA). É elucidativo observar que a expressão utilizada é “esfriar-se”, ou seja, trata-se de um amor que, antes, era ardente, quente e que passou a se esfriar, passou a desaparecer paulatinamente.
Este desaparecimento nada mais é que o resultado do pecado de omissão: aquela comunhão que havia anteriormente com Deus, que nos fez saber fazer o bem, desaparece quando deixamos de fazer o bem, quando pecamos por omissão. Tomemos cuidado, amados irmãos!
II – O PECADO DE OPRESSÃO
– Mas, depois de nos mostrar o risco do pecado de omissão, Tiago também vai tratar de outro assunto extremamente sério e que revelava outro grande perigo para a nossa vida espiritual: o pecado de opressão.
– Quando falamos do pecado de omissão, mostramos que o Senhor Jesus andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele (At.10:38). Vemos, pois, que a trajetória do cristão, que é quem segue as pisadas do Senhor (I Pe.2:21), é não só fazer o bem como curar os oprimidos do diabo, a nos indicar, portanto, que a opressão é coisa afeta ao inimigo de nossas almas, não a Deus e, como tal, a opressão é algo a ser desfeito pelo cristão, já que Jesus Cristo Se manifestou para desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8).
– A palavra “opressão” vem da raiz “prim”, que significa “fazer pressão sobre, apertar, comprimir, pôr carga em”, ou seja, em significado figurado, “carregar, sobrecarregar, acabrunhar, oprimir, esmagar, molestar; perseguir”. Com efeito, “oprimir” é “apertar contra, comprimir, fechar, tapar (apertando), sufocar; calcar, esmagar, apagar (o fogo); matar; vencer, subjugar”.
– No texto grego de At.10:38, a palavra utilizada é “katadynasteteúo” (καταδυναστεύω), que dá a ideia de um poder exercido para baixo, ou seja, uma pressão, uma força que leva algo ou alguém para baixo, que esmaga, que sufoca, que aperta.
– Neste mundo, o diabo faz com que as pessoas sejam “oprimidas”, ou seja, levadas para baixo, sufocadas em sua dignidade, esmagadas, pois o objetivo do inimigo outro não é senão matar, roubar e destruir (Jo.10:10), ou seja, reduzir o ser humano a uma situação de total indignidade, a fim de que haja a mais completa degradação do ser, num aviltamento que terminará por levá-lo ao lago de fogo e enxofre, que foi preparado por Deus para o diabo e seus anjos (Mt.25:41).
– A opressão é, portanto, a aplicação de uma força para esmagar, subjugar, sufocar alguém, uma demonstração de ódio e de total desconsideração pelo outro, onde se tenta, de todas as maneiras e formas, fazer com que apenas um prevaleça, a saber, o opressor.
– É evidente que uma tal atitude jamais pode ser tomada por Deus ou por quem O esteja a seguir. A opressão sempre é mostrada na Bíblia Sagrada como uma situação de quem está longe de Deus, de quem não se encontra em comunhão com Ele (Dt.28:29,33; Is.3:5; Os.5:11). O próprio Jesus, ao Se fazer pecado por nós (II Co.5:21), foi oprimido (Is.53:7), mostrando, assim, que esta é a condição daquele que não serve ao Senhor.
– Tiago, então, alerta os ricos a que não oprimam os pobres, pois este é mais um perigo para a nossa vida espiritual. O irmão do Senhor já fizera coro ao Senhor Jesus ao mostrar, no início de sua epístola, que a riqueza, embora não seja um mal em si, é um obstáculo à vida espiritual, na medida em que gera uma ilusão de autossuficiência que se transforma em um impedimento a mais para que se alcance a salvação. Agora, voltando ao tema, revela que a conjunção entre egoísmo e riqueza traz a opressão e isto implicará na prática de pecado que impedirá a salvação de quem assim age.
– Ser rico não é pecado, mas o pastor da Igreja em Jerusalém alerta que o rico não pode se deixar iludir pela sua condição de superioridade na sociedade, devendo, antes, lembrar que tudo isto aqui é passageiro (Tg.1:10,11) e que, portanto, é algo em que não se pode confiar nem se pode prender, como ensinaram tanto o apóstolo Paulo (I Tm.6:17) quanto o Senhor Jesus, no sermão do monte (Mt.6:19-24).
– Quando o rico se deixa iludir pela sensação de autossuficiência que advém de sua condição privilegiada na sociedade humana, acaba por produzir a opressão do pobre, porquanto a riqueza será utilizada para a satisfação do ego, da carne e, como tal, será exercida de modo egoístico e individualista. A consequência de uma atitude como esta não é outra senão a opressão do pobre, a sufocação daquele que não tem em favor daquele que tem, para que este que tem tenha cada vez mais. OBS: “O amor dos pobres é incompatível com o amor imoderado das riquezas ou com o uso egoísta das mesmas” (§ 2445 CIC).
– Tiago, então, faz um alerta para aqueles que, valendo-se de sua posição de superioridade na sociedade humana, oprime os outros: “Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteais por vossas misérias, que sobre vós hão de vir” (Tg.5:1).
– A expressão do irmão do Senhor parece paradoxal. Como quem está em abundância, tem de tudo, acha-se autossuficiente pode chorar e prantear por suas misérias? Não está o rico em situação de opulência. Como, então, falar em miséria e em choro e pranto, quando tudo parece ser alegria?
– Temos aqui não um paradoxo, mas a dura realidade da vida. Tudo quanto existe neste mundo é passageiro, como alertara o próprio Tiago no início de sua epístola (Tg.1:10,11). Se o rico deixar de olhar para esta realidade do caráter passageiro da vida terrena e se deixar iludir pela opulência momentânea, fazendo dela um objetivo de vida, um fim em si mesmo, deve estar preparado para chorar e prantear, pois terá amado este mundo e sua concupiscência, terá trocado o eterno pelo efêmero e, portanto, decidiu ser miserável, pois tudo quanto aqui se tem passará e, ao se confiar na incerteza das riquezas, ao se amar as riquezas, optou-se por aborrecer a Deus e, como consequência disto, traçou para si uma eternidade sem o Senhor, a perdição eterna.
– Quem ama as riquezas não ama a Deus. Jesus deixou isto bem claro no sermão do monte (Mt.6:24). O amor às riquezas exclui o amor a Deus. Por isso mesmo, quem ama as riquezas parte para a opressão do outro, passa a fazer do esmagamento do outro o seu modo de vida, a sua maneira de viver, o que contraria totalmente o que nos é ensinado pelo Senhor, que nos manda amar o próximo como a nós mesmos, amor este que é a demonstração do amor que temos a Deus, como nos diz o apóstolo João (I Jo.4:20,21).
– Lamentavelmente, temos visto, em nossos dias, sedizentes cristãos que não só amam as riquezas e, portanto, não amam a Deus, como ainda pregam o amor às riquezas. Porventura, não é esta a pregação da teologia da prosperidade? Muitas pessoas que se dizem cristãs são, na verdade, amantes do dinheiro, e amam tanto o dinheiro que correm atrás de Cristo para que Este lhes venha a trazer o dinheiro. Têm não a Cristo como Deus, mas, sim, a Mamom, ou seja, as riquezas, e amam tanto a Mamom que querem fazer de Cristo um instrumento para chegarem ao seu deus. Não é à toa, pois, que o apóstolo Paulo considera que tais pessoas são as mais miseráveis de todo o mundo (I Co.15:19).
– O amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10). Quem quer ser rico cai em tentação e acaba submergindo na perdição e ruína (I Tm.6:9), desviando-se da fé e traspassando a si mesmo com muitas dores (I Tm.6:10). É mais um perigo que nos faz perder a salvação uma vez já alcançada na pessoa de Cristo Jesus.
– Tiago, portanto, ao ver que alguém passa a se iludir com as riquezas deste mundo, não tem outra recomendação a fazer senão a que a pessoa que assim se deixa levar pelo amor ao dinheiro passe a chorar e prantear, pois é uma pessoa miserável, uma pessoa que está a caminhar para a perdição eterna, que é a única coisa que pode esperar quem passa a buscar as riquezas materiais, que passa a cobiçar a prata e o ouro.
– O irmão do Senhor passa a trazer um quadro realístico, que o que cobiça riquezas não consegue enxergar, cego que está pela ilusão da riqueza material. Diz o irmão do Senhor que as riquezas estão apodrecidas e as vestes, comidas da traça (Tg.5:2).
– Tiago procura mostrar, uma vez mais, o caráter efêmero das riquezas desta vida. Enquanto o rico oprime o pobre a fim de ter cada vez mais, o irmão do Senhor procura mostrar que, num futuro bem próximo, as riquezas amealhadas estarão apodrecidas, ou seja, deixarão de ter qualquer valor, porquanto o que as possuía estará comido de bicho em algum sepulcro, enquanto outros estarão a gozar o que amealhou algum dia, como nos ensina Salomão (Ec.2:18,19) e o Senhor Jesus, ao proferir a parábola do rico insensato (Lc.12:20).
– As riquezas materiais não são eternas, mas efêmeras, como tudo que há debaixo do sol. Tiago lembra que as vestes, que são uma das maiores evidências da condição social privilegiada, são comidas pela traça, envelhecem e perdem todo o seu esplendor. Por isso, não pode o rico buscar a riqueza como objetivo em si mesmo, porque estará se iludindo com aquilo que passa rapidamente, abrindo mão de uma eternidade feliz com o seu Criador.
– Qual tem sido o nosso alvo, amados irmãos? Temos procurado juntar tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, como nos alertou o Senhor Jesus no sermão do monte, que aqui mais uma vez é evocado por Tiago (Mt.6:19-21)? Onde se encontra o nosso coração: em Deus ou em Mamom?
– Em vez de procurarmos ter vestes que ostentem uma posição social privilegiada, em vez de buscarmos “roupas de grife”, “calçados de marca”, que, lamentavelmente, muitos têm considerado como “marcas de salvação”, como “atestados de prosperidade”, que tal buscarmos ter as vestes da salvação (Is.61:10), as vestes espirituais lavadas no sangue do Cordeiro (Ap.7:14), as vestes brancas pelas quais poderemos andar com Cristo e alcançar a glorificação (Ap.3:4,5)?
OBS: “…Ó homem delicado, é no seio das delícias e das riquezas que tu esperas a morte e a confusão; ‘não, o Reino de Deus não consiste de comida nem de bebida’, não é nas vestimentas de púrpura ou de linho. Houve um rico a quem não falou coisa alguma destas coisas e, num piscar de olhos, desceu para os infernos (Lc.16:10).…” (CLARAVAL, Bernardo de. Décimo oitavo sermão: Da alegria espiritual nas palavras do Apóstolo: ‘o Reino de Deus não consiste em comida nem bebida etc.’. Cit. Tg.5:1-6, n.19. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 jul. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
– Ainda evocando o sermão do monte, Tiago diz que o ouro e prata do rico se enferrujam e a sua ferrugem dará testemunho contra os ricos e comerá como fogo a carne deles, lembrando a todos os ensinos do Senhor Jesus de que as riquezas materiais estão sujeitas à ferrugem e ao roubo de ladrões (Mt.6:19).
– O caráter perecível das riquezas deste mundo é a própria testemunha contra os ricos, quando, no juízo do trono branco, forem confrontados com sua atitude opressora, com sua atitude de cobiça que fez com que eles afrontassem a dignidade do pobre, não reconhecesse no pobre senão um instrumento para a satisfação de sua cobiça insaciável.
– Tiago aqui repete as palavras dos profetas que, no Antigo Testamento, denunciaram a injustiça social, que é resultado do pecado e do se deixar levar pela cobiça desenfreada, pela concupiscência. Salomão já advertira que o amor do dinheiro é insaciável (Ec.5:10) e que a soberba é sempre seguida da afronta (Pv.11:12), como também que quem confia nas riquezas, cairá (Pv.11:28).
– Entre várias afirmações dos profetas, uma das mais contundentes é a de Amós, que foi levantado por Deus para denunciar a situação de extrema injustiça social que se seguiu à prosperidade material dada por Deus a Israel (reino do norte) durante o reinado de Jeroboão II (II Rs.14:25-27; Am.1:1).
– A situação vivida por Israel nos dias de Jeroboão II e que é duramente denunciada pelo profeta Amós retrata a situação em que fica uma sociedade onde há confiança nas riquezas, amor ao dinheiro, apesar das bênçãos dadas por Deus.
– O texto bíblico diz que Deus levantou o profeta Jonas para anunciar que haveria o restabelecimento do território de Israel aos limites preconizados pelo próprio Senhor quando da concessão da terra de Canaã. No entanto, após ter havido tal restabelecimento territorial, os ricos, em vez de, diante da misericórdia divina, repartirem com os pobres o que o Senhor lhes concedeu, iniciaram uma opressão, não somente se apropriando da riqueza que Deus concedeu aos israelitas, como também pisando o pobre, transformando-o em mero instrumento de sua ganância (Am.2:6; 4:1; 5:11).
– Quando o povo não abandona o pecado, o bem que Deus dá se torna em mal, visto que a prosperidade material é consumida pela cobiça dos poderosos que, além de amealharem para si as riquezas produzidas e decorrentes da bênção divina, ainda procuram retirar cada vez mais dos necessitados, impondo uma opressão sobre aqueles menos favorecidos.
– É esta, aliás, a exata situação em que se encontra o mundo em nossos dias. Enquanto o Senhor concede condições para que a humanidade tenha o período de maior prosperidade material em toda a sua história, também vemos, como nunca, a opressão sobre os menos favorecidos, o aumento cada vez mais intenso da desigualdade social em todos os quadrantes do planeta.
OBS: “…Ninguém questiona que a desigualdade social alcança proporções intoleráveis no mundo. Um relatório da ONG Oxfam, publicado na segunda-feira, estima que as 85 pessoas mais ricas do planeta ganham o equivalente às 3,5 bilhões mais pobres. No Fórum Econômico Mundial de Davos – que nesta semana congrega políticos, empresários e personalidades com um volume de negócios equivalente a quase a metade do PIB americano -, a desigualdade foi identificada como uma das principais ameaças à economia mundial.…” (BBC. 22 jan. 2014. Dá para reverter a desigualdade social mundial? Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/01/140122_desigualdade_davos_pai.shtml#blq- content Acesso em 23 jul 2014).
– Este cenário, aliás, é o mais fiel retrato da “Babilônia comercial”, ou seja, do sistema econômico dominado pelo pecado que se estabelece em nosso planeta e que, como tudo neste mundo, está no maligno e é capitaneado pelo “príncipe deste mundo”, que outro não é senão o inimigo das nossas almas, sistema este que somente será destruído quando do triunfo do Senhor Jesus sobre o Anticristo, como é descrito no capítulo 19 do livro do Apocalipse.
OBS: “Assim, o pecado torna os homens cúmplices uns dos outros, faz reinar entre eles a concupiscência, a violência e a injustiça. Os pecados provocam situações sociais e instituições contrárias à Bondade divina; as «estruturas de pecado» são expressão e efeito dos pecados pessoais e induzem as suas vítimas a que, por sua vez, cometam o mal. Constituem, em sentido analógico, um «pecado social»?” (§ 1869 CIC).
– Ali, vemos claramente que há um conluio entre os “reis da terra” (Ap.18:9) e os “mercadores da terra” (Ap.18:11), que eram os grandes beneficiários deste estado de coisas, onde a posse de bens materiais é o objetivo único e onde os homens são aviltados e de imagem e semelhança de Deus são reduzidos a meras mercadorias, e das menos valiosas (Ap.18:12,13).
– A visão que teve o apóstolo João quando da destruição deste sistema iníquo pela intervenção divina é a mesma que Tiago procura mostrar aos ricos opressores em sua epístola. O irmão do Senhor procura mostrar a estes que hoje se deleitam e vivem regaladamente em suas riquezas materiais e sempre levam vantagem na opressão sobre os pobres, que este bem-estar é passageiro e ilusório. Breve virá o juízo divino e aí será o momento do choro e do pranto, como é descrito no capítulo 18 do Apocalipse.
OBS: “…A ferrugem da riqueza acumulada será uma testemunha contra os ricos, porque Deus quer que a riqueza seja usada para o bem da humanidade. Ela também destruirá os próprios ricos – há de devorar, como fogo, as vossas carnes. A frase, para os últimos dias (E.R.C.) provavelmente deveria ser mudada para nos últimos dias (E.R.A.). Ela aponta para o fato que, embora os ricos não o percebam, os últimos dias já chegaram.…” (COMENTÁRIO Bíblico Moody Tiago. Edição Digital, p.23) (destaques originais).
– Tiago conclama os ricos a enxergarem a realidade das coisas desta vida e a não confiarem em suas riquezas e, com base nelas, oprimirem os pobres. Faz questão de mostrar aos ricos que eles estão entesourando para os últimos dias (Tg.5:3 “in fine”), mas este tesouro acumulado não lhes dará o prazer e o regalo do tempo presente, mas, como diria o escritor aos hebreus, “…uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (Tg.10:27).
– Tiago denuncia a injustiça social e a opressão dos ricos pelos pobres, fazendo coro aos profetas que, no Antigo Testamento, não deixavam de denunciar o pecado e fazer um apelo à consciência dos opressores para que cessassem tal opressão. É este o papel que deve ter o salvo em Cristo Jesus: não compactuar com a opressão, nem tampouco praticá-la, mas denunciá-la e fazer ver o desagrado e desaprovação de Deus para com uma situação como esta.
– No entanto, percebamos que Tiago não defende que os pobres se rebelem contra os ricos e, de modo violento, promovam uma rebelião, uma revolução para apear os ricos do poder e, inclusive, destruí-los a fim de que a posse dos bens em poder deles seja distribuída para os pobres.
– O discurso de Tiago não é um discurso comunista, não é um discurso revolucionário como o que encontramos em Karl Marx e seus seguidores, seguidores estes, aliás, que se encontram encastelados no poder em muitos países do mundo, inclusive no Brasil. Não, não e não!
– A pregação da “luta de classes”, da “revolução comunista”, da “destruição da burguesia” não é o discurso do Evangelho. Quem o diz, aliás, é o grande Ruy Barbosa (1849-1923), em trecho de pronunciamento que proferiu em 8 de março de 1919, na Associação Comercial do Rio de Janeiro, quando tentava se eleger Presidente da República, “in verbis”: “…O Comunismo não é a fraternidade: é a invasão do ódio entre as classes.
Não é a reconciliação dos homens: é a sua exterminação mútua. Não arvora a bandeira do Evangelho: bane Deus das almas e das reivindicações populares. Não dá tréguas à ordem. Não conhece a liberdade cristã. Dissolveria a sociedade.
Extinguiria a religião. Desumanaria a humanidade. Everteria, subverteria, inverteria a obra do Criador”. Palavras proféticas, já que, quando as proferiu, Ruy Barbosa estava a observar menos de dois anos da implantação do primeiro regime comunista na face da história, que mostraria, ao longo dos anos seguintes, todas as suas mazelas e idiossincrasias, com milhões e milhões de vítimas, como se viu durante todo o século XX.
– O pastor da igreja em Jerusalém não compactua com a opressão dos pobres pelos ricos, algo que ele bem observava na sociedade judaica de seu tempo, mas não defende uma solução violenta e baseada na força humana. A questão não era afeta aos homens, mas, sim, a Deus.
OBS: “…Tiago está falando do uso e do abuso das riquezas. Ele está falando de salários retidos, luxo, vida nababesca e atos específicos do mal. É o efeito dominó. Uma coisa leva à outra.. Os ricos estão retendo o fruto do trabalho do pobre. Os ricos estão vivendo no luxo, em virtude de terem explorado os pobres. Os ricos estão oprimindo e matando os pobres. Tiago diz que isso está sendo visto por Deus.…” (LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. Edição digital, p.101).
– Tanto assim é que o Tiago não tem qualquer receio em revelar uma das características essenciais do sistema injusto mundano, a saber: o aviltamento da dignidade da pessoa humana.
– Tiago denuncia que os ricos estão a diminuir o “jornal dos trabalhadores”, ou seja, o pagamento pelo dia de serviço daqueles que, nada tendo, tinham apenas a sua mão-de-obra para oferecer aos ricos proprietários e que, ao final do dia, não eram pagos ou pagos aquém do mínimo necessário para a sobrevivência, algo que Karl Marx chamaria de “mais valia”, ou seja, aquela parcela do valor do trabalho que era subtraído dos trabalhadores em favor dos empresários, dos donos do capital.
OBS: O Catecismo Romano denomina esta prática de “rapina” ou “roubo”, considerando um pecado grave tal prática: “…É rapina, em primeiro lugar, não pagar ao trabalhador o justo salário. O apóstolo São Tiago disse destes rapinadores: ‘Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir.As vossas riquezas estão apodrecidas’ (Tg.5:1,2a).
E acrescenta a razão: ‘Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos’ (Tg.5:4). Este é um delito constante e severissimamente reprovado por Deus nas Escrituras…” ( Capítulo VII – Sétimo mandamento do Decálogo, item III.c. Cit. Tg.5:1-6, n. 3700, Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 jul, 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Tratava-se de uma indevida apropriação de trabalho alheio, de uma manobra para um ilícito enriquecimento por parte dos ricos, uma clara demonstração da opressão que era feita contra os mais necessitados. Diante de tal circunstância, Tiago não aconselha os trabalhadores a se rebelarem, a fazerem a “revolução”, como fazem os marxistas em nossos dias, mas, sim, alerta os ricos de que há um vingador que é muito melhor que os revolucionários ou que o “partido comunista”, que se afigura como a “vanguarda da consciência revolucionária”, a saber: o Senhor Deus.
– Com efeito, diz o irmão do Senhor que, diante de tão grande injustiça, os pobres clamam a Deus e o Senhor os ouve e não tardará a fazer justiça, pois é Ele o juiz de toda a terra (Gn.18:25). Jamais podemos nos esquecer que Deus tem o controle de todas as coisas e que, a Seu tempo, promoverá a vingança daqueles que são injustamente oprimidos pelos mais abastados. A vingança é d’Ele, nunca nossa (Dt.32:35; Sl.94:1; Is.61:2; Jr.11:20; 50:15; Na.1:2; Hb.10:30).
– A vida sobre a face da Terra poderá ser para os ricos opressores uma vida de delícias, vida esta que não terá a resistência do justo, uma vida regalada que não encontrará qualquer obstáculo ou impedimento enquanto eles estiverem aqui na Terra, mas isto passará e chegará o momento da prestação de contas na eternidade. Tiago aqui parece nos fazer lembrar da história do rico e de Lázaro (Lc.16:19-31). O rico viveu sempre regaladamente até o fim de seus dias, mas, quando esta vida terrena cessou, começou a sofrer tormentos.
OBS: “…Em segundo lugar, os ricos estavam cada vez mais opulentos controlando as coortes (5.6a). A regra de ouro do mundo é que aqueles que têm o ouro é que fazem as regras.” Os ricos se fortalecem porque compram as sentenças, subornam os tribunais e assim oprimem ainda mais os pobres que não podem oferecer resistência. Tiago chama a vítima de ‘o justo’. Os ricos roubam-lhe os bens, negam-lhe os direitos, abafam-lhe a voz. Os ricos compram os tribunais, torcem as leis, violam a justiça, oprimem os fracos e fecham-lhes a porta da esperança.…” (LOPES, Hernandes Dias.op.cit., p.103).
– O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) vê na injustiça existente entre os homens uma demonstração da existência de Deus, pois, se há injustiça no mundo e, mesmo assim, temos a ideia de justiça, isto é sinal de que há alguém que fará com que a justiça se estabeleça de forma perene e este alguém somente pode ser Deus, o juiz de toda a terra.
– Destarte, diante da injustiça existente no mundo, o salvo na pessoa de Cristo Jesus deve lutar pela justiça, denunciando a injustiça, chamando os opressores, os promotores da injustiça à consciência, alertando-os de que, mais cedo ou mais tarde, terão eles de prestar contas diante de Deus, o juiz de toda a terra e que não vale a pena procurar uma vida de delícias neste mundo, visto que são “prazeres que acabam-se aqui” (como diz o poeta sacro anônimo no quarto verso da segunda estrofe do hino 202 da Harpa Cristã.), devendo todos nos cuidarmos para buscarmos as “venturas eternas”, que nos são oferecidas pelo Senhor através de Jesus Cristo.
– Esta “luta pela justiça”, no entanto, não se apresenta por meio de um “ativismo social”, de uma “luta revolucionária” nem tampouco pela aquisição de uma “consciência revolucionária”, como propugnam os marxistas que, aliás, encantaram muitos dos que cristãos se dizem ser por intermédio da “teologia da libertação” e, mesmo, da “teologia da missão integral”.
OBS: “…O cristianismo jamais teve como objetivo a eliminação da pobreza. Jesus deixou isso muito claro ao dizer: “Sempre haverá pobres entre vós” — e, pior ainda, Ele disse isso num contexto que enfatizava a prioridade dos deveres espirituais sobre quaisquer demandas, mesmo justas e necessárias, da vida material. Os comunistas não roubaram nenhuma idéia do cristianismo.
Ao contrário, emprestaram-lhe a sua própria idéia, para dar a ela o prestígio de um ideal sagrado.A única idéia que os comunistas roubaram do cristianismo não tem nada a ver com eliminação da pobreza. Foi a idéia do Juízo Final, que eles reduziram à escala histórico-social para justificar seu projeto de matar gente a granel sob pretexto edificante.…” (CARVALHO, Olavo de. Notinhas execráveis. 17 jul. 2014. Disponível em: http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15336-2014-07-17- 12-45-02.html Acesso em 23 jul., 2014).
– Esta “luta pela justiça” apresenta-se, em primeiro lugar, por uma vida pautada pelo Evangelho, uma vida em que nós mesmos somos os primeiros a praticar boas obras, a não compactuar com a opressão, a nos dispormos a dar o devido lugar ao próximo e o devido valor ao seu trabalho.
– Em segundo lugar, a “luta pela justiça” importa na denúncia do pecado, a exemplo do que fizeram os profetas e do que faz Tiago em sua epístola, buscando mostrar aos opressores a efeméride que é esta vida terrena e a necessidade de entesourarmos para os últimos dias, de praticarmos o bem, o que somente é possível mediante nossa salvação na pessoa de Cristo Jesus, de tal maneira que não nos deixemos iludir pela posse de riquezas materiais e que, uma vez enriquecidos, possamos distribuir o que temos em favor dos mais necessitados, jamais tratando o próximo como mero instrumento de satisfação de nosso egoísmo.
– Sempre haverá pobres e ricos na sociedade humana (Jo.12:8) e, embora respeitemos vozes discordantes, isto perdurará inclusive durante o reino milenial de Cristo. Destarte, é totalmente antibíblico achar que qualquer sistema sócio-político-econômico, saído de mentes humanas, erradicará a pobreza ou promoverá a superação da existência de classes numa determinada sociedade. Crer que isto será possível é, simplesmente, mais uma versão da mentira satânica que somos iguais a Deus e que podemos estabelecer uma sociedade a despeito do que nos ensina a Palavra de Deus.
– Entretanto, isto não significa que devamos compactuar ou consentir com a opressão dos pobres, algo que é produto e consequência do domínio do pecado no mundo, do sistema maligno que impera no mundo. Como filhos do dia, como servos de Cristo Jesus, como luzes do mundo, devemos lutar contra este sistema e pregar o Evangelho, o poder de Deus que traz a salvação e, por conseguinte, a justiça social.
– No entanto, nosso papel é o de denunciar esta opressão e de, a partir de nossas próprias vidas, mostrar ao mundo que é possível debelarmos tal injustiça e desigualdade, a partir do momento em que entramos em comunhão com o Senhor Jesus.
Somente quando abandonamos o pecado é que se desfará o “pecado social”, expressão que significa as estruturas de pecado que são o fruto, a acumulação e a concentração de muitos pecados pessoais. Se abandonarmos os pecados pessoais, tais estruturas de pecado se desfarão, pois o pecado é iniquidade, injustiça (I Jo.3:4).
OBS: “…Liberto do mal e reintroduzido na comunhão com Deus, cada homem pode continuar a obra de Jesus, com a ajuda do Seu Espírito: fazer justiça ao pobres, resgatar os oprimidos, consolar os aflitos, buscar ativamente uma nova ordem social, em que se ofereçam adequadas soluções à pobreza material e sejam contidas mais eficazmente as condições de miséria e de escravidão. Quando isto acontece, o Reino de Deus se faz já presente sobre esta terra, embora não lhe pertença. Nisto encontrarão finalmente cumprimento as promessas dos Profetas.” (PONTÍFICIA COMISSÃO DE JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da doutrina social da Igreja, n.325).
– Devemos fazer o que está a nosso alcance para que a opressão dos ricos não se reproduza nem se intensifique, mas isto jamais nos levará a pegar em armas ou a nos tornar “revolucionários” ou “rebeldes”, pois não é assim que agradaremos ao Senhor. Não foi isto que fez Tiago, não é isto que nos ensinou a fazer. Que Deus nos ajude e que não consintamos nem pratiquemos o pecado de opressão, mas que, sob a desculpa de combater este pecado, acabemos por praticar o pecado de rebelião.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2014_L12_caramuru.pdf