LIÇÃO Nº 12 – SABEDORIA DIVINA PARA TOMADA DE DECISÕES
A passagem do reino de Davi para Salomão mostra a necessidade de termos a sabedoria divina para vivermos sobre a face da Terra.
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INTRODUÇÃO
– Na sequência dos exemplos bíblicos de provisão divina, estudaremos hoje os episódios que cercaram a passagem do reino de Israel de Davi para Salomão.
– A passagem do reino de Davi para Salomão mostra a necessidade de termos a sabedoria divina para vivermos sobre a face da Terra.
I – A QUESTÃO DA CONTINUIDADE NA HISTÓRIA DE ISRAEL
– No povo de Deus, bem sabemos, o líder tem de ser alguém que é chamado por Deus, que seja devidamente preparado para estar à frente do povo, seguindo a orientação divina.
No entanto, também sabemos que todo líder é homem e, como tal, tem de lidar com uma limitação inevitável a todo ser humano: o tempo (Ec.3:1).
Deus criou-nos debaixo deste fator que não podemos desprezar e, em virtude disto, todo líder deve estar pronto a entender que, no devido tempo, terá de deixar a liderança.
– Embora Israel tivesse sido chamado para ser a “propriedade peculiar dentre os povos”, o “reino sacerdotal e povo santo” (Ex.19:5,6), o fato é que também deveria lidar com a questão do tempo, construindo-se uma nação que, apesar da passagem do tempo, pudesse servir a Deus e cumprir o propósito divino para ela estabelecido.
– Desde a libertação do Egito, porém, Israel teve grande dificuldade em lidar com esta questão.
O primeiro líder do povo, Moisés, também teve o seu tempo. Quando o povo estava próximo ao Jordão, o Senhor lhe avisou que seria recolhido aos seus povos (Nm.27:13).
Assim que soube desta notícia, Moisés não teve dúvida: pediu ao Senhor que lhe desse um sucessor (Nm.27:16,17).
– Notamos nesta circunstância que Moisés, pessoalmente, não havia pensado na ideia da sucessão.
Embora soubesse que não era eterno e, após o triste episódio do deserto de Sim, que nem mesmo iria entrar em Canaã, não teve esta preocupação de pedir a Deus um sucessor.
Parece-nos, mesmo, que, durante algum tempo, ainda insistiu com Deus para que pudesse entrar na Terra Prometida (Dt.3:23-26).
– Confrontado com a deliberação divina de sua morte, Moisés não teve outra alternativa senão pedir a Deus que dissesse quem o sucederia. O Senhor, então, designou Josué (Nm.27:18).
Moisés, embora não tivesse pensado, como deveria, na sucessão, ainda em tempo oportuno, clamou a Deus para que indicasse o sucessor.
Mostrou assim que entendia que a liderança sobre o povo de Deus não é um bem próprio, mas algo que somente o Senhor pode providenciar.
– Josué, no entanto, não aprendeu a lição com Moisés. Quando se viu impossibilitado de prosseguir na conquista de Canaã, delegou a incumbência para as tribos (Js.13:1).
Ao contrário do que fez Moisés, quando Deus lhe disse que muita terra havia ficado para possuir e que se deveria partilhá-la, não pediu a Deus orientação quanto à sua sucessão, nem mesmo depois que, pela negligência do povo, tenha tido de renovar, por duas vezes, o pacto do povo com Deus (Js.23 e 24), mesmo tendo sido advertido a respeito da indevida tolerância com alguns dos moradores de Canaã que não foram destruídos (Jz.2:1-6).
– O resultado desta despreocupação foi nefasto para o povo, pois se ingressou no período dos juízes, onde a descontinuidade da liderança do povo foi uma característica (Jz.2:10-20).
Nos dias de Gideão, quis o povo que se estabelecesse uma sucessão hereditária (Jz.8:22), mas o juiz não o quis (Jz.8:23).
Esta pretensão popular, rejeitada por Gideão, acabou por gerar a indevida pretensão de seu filho bastardo, Abimeleque (Jz.9), que se fez rei mas trouxe grande estrago em Israel que fez com que esta ideia fosse completamente abandonada.
– Samuel, também, preocupou-se com a descontinuidade de lideranças no meio do povo de Israel e que era um dos principais fatores para a instabilidade espiritual do povo.
Por isso, antes mesmo de morrer, pensou resolver o problema constituindo seus dois filhos, Joel e Abias, como juízes sobre Israel (I Sm.8:1,2).
Pensava, assim, que, criando as “escolas dos filhos dos profetas” e, ainda em vida, constituindo juízes sobre o povo, não havia descontinuidade do progresso espiritual experimentado sob o seu governo por parte de Israel.
– Salutar o pensamento de Samuel que, sem dúvida, havia percebido quais os principais fatores que levavam Israel ao lastimável estado espiritual que experimentava desde a conquista de Canaã.
No entanto, Samuel, ao contrário de Moisés, esqueceu-se que o povo era de Deus e não dele.
Assim, ao constituir seus filhos como juízes, tomou uma deliberação precipitada, sendo, aliás, este o seu grande erro.
Samuel deveria ter pedido a Deus que escolhesse um sucessor e não fazer dos seus familiares sucessores.
O resultado foi o pior possível: Joel e Abias eram corruptos, não serviam a Deus e o povo se indignou tanto contra eles que pediu a mudança da forma de governo, rejeitando ao próprio Deus como rei sobre si (I Sm.8:4-7).
– Temos de admitir que, na atualidade, vivemos uma verdadeira “síndrome de Samuel”.
Homens de Deus dedicados, exemplares e irrepreensíveis, em seu profundo zelo pela obra do Senhor, têm caído na armadilha em que caiu o profeta Samuel e procurado resolver a sua sucessão em família, sem qualquer consulta a Deus.
Que possam ver os prejuízos causados por este gesto de Samuel antes que o povo de Deus se indigne e passe a querer copiar o mundo, escolhendo formas de governo que signifiquem a rejeição do Senhor, como, aliás, infelizmente, já está acontecendo.
– Vemos aqui, dentro da perspectiva da “doutrina da provisão”, que faltou a Samuel e falta a estes líderes que estamos a mencionar (cada vez mais numerosos em nosso meio), a convicção de que Deus é o principal responsável pela Sua obra e que, portanto, devemos nos cercar da orientação e sabedoria divina para tomarmos decisão a este respeito,
não podendo agir como Josué, que negligenciou neste ponto, mas também não nos esquecendo de que a obra é do Senhor e que, portanto, nenhum líder tem a prerrogativa de ditar, por sua própria conta, o futuro do povo de Deus.
Somente Deus sabe, de antemão, o que está para acontecer e, portanto, sabe muito bem quem deve liderar o povo nos anos que estão por vir.
– Deus escolheu Saul para reinar sobre Israel (I Sm.9:15-17). Com dois anos de reinado, porém, o Senhor rejeitou a Saul (I Sm.13:14), dizendo, inclusive, que seria ele sucedido por alguém escolhido pelo Senhor, um “homem segundo o coração de Deus”.
A questão da sucessão para Saul, então, tornou-se um tormento, porquanto o Senhor confirmava que o sucessor seria alguém escolhido por Deus e não por Saul.
– A questão da sucessão surge como uma sombra, um fantasma na vida de Saul.
Sua crescente oposição a Davi nada mais é que a percepção paulatina de que Davi é o homem escolhido por Deus para sucedê-lo (I Sm.18:9,11,12,15,21,28; 19:10,11; 20:30,31; 22:13; 24:20,21).
Daí porque Saul tenha ficado obcecado para matar Davi, pois sabia que Davi o haveria de suceder, pondo em risco a sua própria casa.
Mesmo depois da morte de Saul, o grande ressentimento que se terá na casa de Saul será sempre a circunstância de ter sido retirada do poder em favor a Davi e sua descendência (II Sm.6:20-23; 16:5-8), o que, inclusive,
refletirá até mesmo na tribo de Saul (Benjamim), igualmente preterida em favor de Judá (II Sm.20:1), até porque frustrada a tentativa de Abner de fazer continuar reinando a casa de Saul com Isbosete (II Sm.2:8; 3:6; 4:1,7,8).
– Davi, assim que se tornou rei de Judá, demonstrou que tinha consciência desta situação de descontinuidade.
Uma vez estabelecido em Hebrom, tratou o jovem rei de constituir uma descendência, sendo pai de seis filhos, com seis mulheres diferentes (II Sm.3:2-5).
Como se fez rei sem ter filhos, Davi tratou logo de fazer descendência, a fim de que pudesse ver a continuidade de sua dinastia.
– Tornando-se rei de todo o Israel e conquistando Jerusalém, aumentou ainda mais o número de mulheres e concubinas (II Sm.5:13), atitude que acompanha a sua conscientização de que o Senhor havia confirmado o seu reino (II Sm.5:12).
– Até então, vemos que Davi tratava a questão da sucessão única e exclusivamente em termos biológicos, físicos, sem ter pedido qualquer orientação ao Senhor, como, aliás, fazia na questão de sua vida familiar.
Entretanto, quando deseja edificar o templo, o Senhor lhe traz uma palavra a respeito de sua casa.
Ao contrário do que havia acontecido com os juízes e com Saul, era propósito de Deus que “Davi fizesse casa” (II Sm.7:11; I Cr.17:10), ou seja, que se constituísse uma dinastia, que a descendência de Davi reinasse sobre Israel perpetuamente.
Deus promete a Davi que um filho seu reinaria em seu lugar e construiria o templo, como também que a dinastia de Davi reinaria para sempre (II Sm.7:12,13; I Cr.17:11,12).
– Davi, então, recebe a promessa divina de que seu sucessor seria um filho seu, que construiria o templo e que seria o início de uma descendência real sem fim.
Era algo muito além do que Davi poderia imaginar e, a partir de então, o rei descansou com relação à sua sucessão, sabendo que, ao contrário do que ocorreu com Saul, Deus tinha Se agradado de Davi a ponto de lhe edificar casa, ou seja, de lhe constituir uma dinastia (II Sm.7:16; I Cr.17:14).
– Tendo recebido esta promessa da parte de Deus, Davi tão somente foi orar ao Senhor e agradecer por esta grande bênção, pedindo que o Senhor confirmasse tudo quanto havia prometido (II Sm.7:18-29; I Cr.17:16-27).
II – A ESCOLHA DE SALOMÃO, O SUCESSOR DE DAVI
– Deus revelou a Davi que estabeleceria uma dinastia a partir dele e que um de seus filhos seria o seu sucessor, bem como que este filho reinaria em paz e construiria o templo.
Não disse, porém, de imediato, o Senhor quem era este filho. Davi, obedientemente, aguardou, então, que o Senhor lhe dissesse quem haveria de sucedê-lo.
– Davi continuou a ter mulheres e filhos, inclusive tendo cometido adultério com Bate-Seba, a quem tomou por mulher após ter mandado matar Urias com a espada dos filhos de Amom.
Neste episódio, como sabemos, como consequência do pecado, o filho de Davi e Bate-Seba morreu. Após ter se consolado com a morte do menino, Davi novamente entrou a Bate-Seba e ela concebeu novamente, dando à luz um outro menino.
– É interessante observarmos que, embora não seja Bate-Seba a única mulher de Davi a ter mais de um filho (vemos que Maaca, pelo menos, teve outra filha além de Absalão, Tamar — II Sm.13:1), esta é a única passagem bíblica em que se diz que Davi teve alguma atitude afetiva com uma de suas mulheres após ter tido filho com ela.
Dizem as Escrituras que Davi “consolou” a Bate-Seba e manteve com ela um relacionamento conjugal, que resultou no nascimento de um outro filho, Salomão (II Sm.12:24).
– Deus Se agradou deste gesto de Davi. Em vez do homem que praticamente via as mulheres como objeto, do homem sem afeto e consideração, vemos um Davi não só renovado espiritualmente, mas dotado de afeto para com sua mulher e o fruto deste amor genuíno, autêntico e exemplar foi do agrado do Senhor, que fez questão de notificá-lo a Davi, por meio do profeta Natã, que disse que o Senhor amou a esta criança, daí porque ter sido chamada de Jedidias, cujo significado é “querido de Jeová” (II Sm.12:25).
– Esta circunstância, única em toda a vasta descendência de Davi, sinalizou claramente ao rei, que era um homem cheio do Espírito Santo, que o seu sucessor seria Salomão (I Cr.28:5-7).
Contudo, até por causa de sua ausência completa do ambiente familiar, apesar de ter o sinal divino de que seria Salomão o seu sucessor, Davi não procurou, desde cedo, formar o jovem para a sua sucessão, nem tampouco colocá-lo como seu companheiro, como fez Saul em relação a Jônatas.
Isto teve repercussão no futuro, visto que, assim que assumiu o reino, Salomão se achou inexperiente, sem condições de reinar (I Cr.29:1; II Cr.1:10).
– Esta leniência de Davi não ficou sem consequências. Teve de enfrentar a revolta de Absalão, que, por ser o filho mais velho na ocasião da rebelião, entendia ser o sucessor, embora tivesse o aborrecimento de seu pai em virtude do assassinato de Amnom, que, por ser o primogênito,
era o que se consideraria o herdeiro natural do trono, inclusive chegando a perder o governo por algum tempo, como também a própria sedição de Seba, um benjaminita que instigou o povo de Israel, pelo menos as onze tribos, a quebrar a aliança que firmara com Davi em Hebrom, constituindo-o rei sobre todo o Israel.
– Estas duas rebeliões foram importantes provações para Davi no que concerne à sua sucessão.
Ao mesmo tempo em que Deus mostrava que estava a cumprir o Seu plano e a Sua promessa, também não deixava de mostrar a Davi a necessidade de se resolver a questão, a fim de impedir que houvesse o encorajamento para o afloramento de pretensões que, enrustidas, eram estimuladas pela inação do rei com relação a este assunto.
– Davi não estava a fazer o que era de sua alçada, ou seja, formar o seu sucessor, declarar o que lhe havia sido revelado por Deus, motivo pelo qual o Senhor tomava providências no sentido de forçar Davi a tomar as providências que lhe eram cabíveis.
– Davi, porém, mesmo após as duas rebeliões, não dava qualquer sinal de entregar o reino a Salomão.
Parece-nos, mesmo, que, fora um círculo íntimo da corte, não se tinha sequer a ideia de que Salomão era o escolhido do rei ou, pelo menos, que havia um empenho de Davi nesta sucessão (cf. I Rs.1:20).
Se é verdade que o líder não pode ficar obcecado pela ideia da sucessão, como fez Saul, também não é menos verdadeiro que, principalmente após alguns sinais de insatisfação do povo ou de afloramento de pretensões alheias à vontade do Senhor, deve, sim, o líder começar a tratar da sua sucessão, para o bem-estar do povo de Deus.
Havendo a indicação clara do Senhor de quem é o sucessor, deve ele ser preparado pelo líder, pois, sejamos honestos, tal preparação é até o ponto final de uma preparação muito mais profunda e importante que já foi feita pelo próprio Deus, como vemos, v.g., no caso de Josué.
– Davi, contudo, não tomou qualquer iniciativa. Não o vemos sendo acompanhado por Salomão em qualquer atividade do reino até então.
O tempo vai passando e Davi, que já havia ficado impossibilitado de guerrear (II Sm.21:15,17), também perdeu a saúde e foi para o leito da enfermidade (I Rs.1:1).
Quantos líderes não procedem da mesma maneira? Deixam que a enfermidade e a velhice incapacitante lhes atinjam antes que resolvam a questão da sua sucessão, com grande prejuízo para o povo de Deus.
Não permitamos que a vaidade e a teimosia venham trazer males para o povo do Senhor. Afinal de contas, o líder deve se lembrar que não pode querer ter domínio sobre o rebanho de Deus (I Pe.5:2,3).
– No leito de enfermidade e sem resolver o problema da sucessão, Davi só fez aguçar as pretensões de Adonias, então o filho mais velho vivo do rei, que nunca havia sido contrariado por Davi e que era mui formoso de parecer (I Rs.1:5). Suas pretensões foram respaldadas por Joabe e por Abiatar (I Rs.1:7).
– Adonias, numa atitude de total desrespeito e desonra a seu pai, declara-se rei nas cercanias de Jerusalém, querendo obter o reino por força e por tradição (I Rs.1:8,9).
Assim muitos também procedem na atualidade. Querem obter a liderança do povo de Deus baseados na “política eclesiástica”, na posição de força e nas influências que tem no aparelho burocrático das igrejas ou denominações, sem se preocupar se esta é, ou não, a vontade do Senhor.
– Informado disto pela própria Bate-Seba, que foi encorajada a comparecer diante de Davi pelo profeta Natã, Davi tem de enfrentar a questão da sucessão.
Após o relato de Bate-Seba, Natã vai ao encontro do rei e repete as mesmas palavras. Davi, então, mandou chamar Bate-Seba, reafirmando que Salomão reinaria em seu lugar, mandando, então, que Zadoque, Natã e Benaia tomassem as providências a fim de que Salomão fosse constituído rei.
Salomão, então, foi ungido por Zadoque em Giom, sendo seguido pela guarda de Davi (os peleteus), bem como por Benaia e por Natã (I Rs.1:15-40).
– Todo o povo seguiu a orientação de Davi e Adonias, então, vendo-se isolado, clamou por clemência do rei, submetendo-se ao “fato consumado” da constituição de Salomão como rei em lugar de Davi.
Diante desta circunstância, Davi, então, foi obrigado a inteirar Salomão de tudo o que já havia preparado para o seu reinado (I Rs.1:41-53).
III – DAVI DÁ CONSELHOS A SALOMÃO
– Salomão vê-se, assim, repentinamente à frente de Israel como rei. Verdade é que Davi ainda estava vivo, mas sua velhice e enfermidade não o permitiam mais ter o vigor para estar diante do povo.
No entanto, a rebelião de Adonias teve como feliz consequência a entronização precoce de Salomão, criando uma circunstância que fez com que Davi precipitasse a unção de seu filho (I Cr.23:1).
– Diante deste fato consumado, Davi, então, iniciou uma série de conselhos a Salomão. Vemos como Deus tinha interesse em que a continuidade se desse no governo de Israel.
Tendo assegurado a Davi que seu filho reinaria em Israel, criou uma situação a fim de que Davi não guardasse para si tudo aquilo que já havia preparado para o seu sucessor.
Davi fizera bem ao deixar o país pronto para receber o novo rei, mas não se conduzira bem ao deixar o futuro rei alijado de tudo quanto estava preparado.
O Senhor, então, que tem o controle sobre todas as coisas, fez com que Salomão fosse constituído rei ainda em vida de Davi, para que fosse devidamente inteirado do que estava a receber.
– Davi mostra-se como um verdadeiro estadista, aquele que, como dizia o pregador e escritor norte-americano James Freeman Clarke (1810-1888), “pensa na próxima geração e não na próxima eleição”.
Com efeito, quando vemos que Davi buscou organizar o culto a Deus em todas as suas minúcias, deixando prontos todos os serviços do templo, como também tendo deixado montado um exército numeroso e ativo, bem como um corpo de oficiais e juízes, tendo a seu serviço um verdadeiro “ministério”, vemos que Davi buscou estruturar a monarquia incipiente que recebera de Saul e Isbosete.
– Davi chamou o novo rei como também todos os príncipes, sacerdotes e levitas, cientificando-os de toda a estrutura do serviço do templo, a fim de que todos tomassem conhecimento de como se daria a organização do trabalho do Senhor no templo que se iria construir (I Cr.23:2).
– Nesta reunião em Jerusalém (e nos parece que Davi até melhorou de saúde depois da rebelião de Adonias…), Davi lembrou ao povo o seu desejo de edificar o templo e como Deus o havia prometido uma dinastia mas o havia proibido de fazer esta edificação, que foi destinada ao novo rei, Salomão.
Dirigiu-se, pois, ao jovem monarca e lhe lembrou, à frente de todo o povo, do dever que tinha, diante de Deus, de edificar o templo e de servir ao Senhor com coração perfeito e alma voluntária, lembrando-lhe que, se buscasse ao Senhor, seria achado d’Ele, mas se O deixasse, seria rejeitado (I Cr.28:9,10).
– O primeiro conselho dado a Salomão por Davi foi o de manter seu conhecimento de Deus (I Cr.28:9a).
Salomão havia sido criado na doutrina e admoestação do Senhor (vemos aqui a importância de Bate-Seba neste processo, pois se Salomão fosse depender de Davi…).
Sem a base doutrinária do lar, não há como se ter alguém que possa liderar convenientemente o povo de Deus.
A falta de educação doutrinária em casa, seja o lar físico e biológico, seja o lar eclesiástico, é uma catástrofe em termos de liderança.
Salomão, apesar de sua tenra idade, havia sido devidamente doutrinado e, por isso, quando vai buscar a Deus para poder dirigir este povo, foi bem-sucedido.
Havia sido ensinado a orar, como também havia aprendido a conhecer a voz do Senhor e, por isso, pôde ser grandemente abençoado por Deus.
– O segundo conselho dado a Salomão por Davi foi o de se manter fiel ao Senhor, de buscá-lO sempre (I Cr.28:9b).
Não há líder que possa resistir se não buscar ao Senhor. A busca a Deus deve ser uma constante na vida de todo servo de Deus, mas principalmente daqueles que estão à frente do povo.
É inconcebível que tenhamos, hoje, à testa de muitas igrejas locais, verdadeiros administradores, exímios executivos, mas que são péssimos crentes, que não buscam a Deus, que não têm uma vida consagrada diante de Deus.
O resultado é que podem ter até algum sucesso empresarial, mas são desastres em termos de liderança do povo de Deus, que se dispersa e que verifica, claramente, que, pela falta de busca a Deus, tais líderes estão rejeitados pelo Senhor.
– O terceiro conselho dado a Salomão por Davi foi o de ter noção exata do que deveria fazer assim que iniciasse seu reino: a construção do templo (I Cr.28:10).
Como já dissemos, é preciso que tanto o novo líder quanto o povo saibam exata e precisamente qual é o objetivo imediato de Deus para aquela porção de Sua Igreja.
Israel tinha de construir o templo, era isto que Deus desejava que Salomão fizesse e, por isso, todos deviam se engajar nesta finalidade.
Não se tratava de uma imposição de Davi, mas, sim, de uma atitude que Deus havia mandado que se fizesse.
– Após ter dado estes conselhos a Salomão, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, Davi cantou o Salmo 145, que compôs para esta ocasião, um salmo onde bendiz ao Senhor, por ser o Eterno, onde afirma que uma geração deve louvar as obras à outra geração (Sl.145:4). Com este salmo, Davi mostra a eternidade de Deus e a necessidade que, na passagem de gerações, isto seja reconhecido tanto por quem parte, quanto por quem chega.
– Davi não se limitou a dizer a Salomão que construísse o templo, mas lhe entregou o desenho do templo (I Cr.28:11,12), como também todos os dados e materiais de que já dispunha para que a obra se fizesse (I Cr.28:13-21).
– É interessante que, depois de ter descrito todo o material que estava à disposição de Salomão, Davi fez questão de dizer ao novo rei que estava tudo escrito, como que mostrando que era para que ficasse bem certo o que o próprio Deus lhe havia dito (até porque a escrita é uma forma de suprirmos a limitação da nossa própria existência física na comunicação), mas que tudo dependia do esforço e do bom ânimo de Salomão para que se fizesse aquela obra (I Cr.28:20).
– Salomão deveria misturar a todo este material e a todo o projeto o seu próprio esforço, o seu trabalho, além de manter sempre acesa a vontade de concluí-lo.
Sem esforço e sem bom ânimo, não há como realizarmos algo para Deus. Muitos fracassam na liderança porque acham que tudo pode funcionar no “piloto automático”, com os outros trabalhando, enquanto ele, o líder, descansa ou só “supervisiona”. Ledo engano!
Apesar de Davi ter tudo projetado, segundo a orientação divina, apesar de os materiais estarem em profusão, sem o esforço e o bom ânimo de Salomão nada seria feito.
A futuro mostrou que Davi tinha razão, pois a obra da construção do templo só se iniciou no quarto ano do seu reinado (II Rs.3:2) e durou sete anos (II Rs.6:38).
– Salomão não deveria apenas ter esforço e bom ânimo, mas não podia também temer nem se apavorar, porque Deus haveria de ser com ele, não o deixando nem o desamparando até que a obra fosse concluída (I Cr.29:20). O esforço e o bom ânimo são necessários porque eles nos fazem sentir a companhia do Senhor.
Este companheirismo faz-nos sentir o amor de Deus por nós e o amor divino lança fora o temor (I Jo.4:18). Sem medo e com a companhia do Senhor, que é contínua (Mt.28:20), temos condição de perseverar até o fim na tarefa que o Senhor nos destinou a fazer.
– Davi fez questão, também, de ensinar a Salomão a mesma lição que havia aprendido de Samuel em Ramá, ou seja, de que não se trabalha sozinho na obra do Senhor, mas que é preciso trabalhar em equipe.
Davi mostrou a Salomão que, além de materiais, estavam à sua disposição seres humanos, igualmente empenhados em fazer a obra do Senhor.
Davi mostrou a Salomão as turmas dos sacerdotes e levitas para todo o ministério da casa de Deus, homens que trabalhariam voluntariamente, que tinham sabedoria, como também fez questão de lhe mostrar todos os príncipes e todo o povo (I Rs.28:21).
– Mas, ao lado desta cerimônia pública de entronização de Salomão como novo rei de Israel, Davi também deu conselhos a Salomão em privado, no seu leito de morte, conselhos estes que se encontram registrados em I Rs.2:1-9.
– Isto nos mostra que a liderança envolve dois aspectos: o aspecto público e o aspecto privado, particular.
Se é necessário que haja transparência e clareza de propósitos para o povo de Deus, também não é menos verdadeiro que a liderança exige, diante da distinção que há entre o líder e os liderados, uma certa porção de discrição e de segredo, para a própria saúde do povo.
– Davi, percebendo que se aproximava a sua morte, chamou a Salomão, já entronizado, para que tivesse essa conversa privada com o novo rei, falando-lhe coisas que não poderiam ser do conhecimento de todos. Não se tratava de hipocrisia, nem de se esconder coisas do povo, mas de temas que não poderiam ser publicamente veiculados para que não houvesse o escândalo, para que não se pusesse em risco a própria integridade da nação.
Davi havia se caracterizado, durante toda a sua vida, pela prudência e não seria agora, no instante derradeiro de sua existência, que seria imprudente.
– Ao chamar Salomão, Davi, em primeiro lugar, comunicou-lhe que estava para morrer e que deveria ele se esforçar e ser homem (I Rs.2:2). Esta expressão de Davi é de grande profundidade.
Salomão poderia, a exemplo dos demais reis das outras nações, envaidecer-se e se achar um “super-homem”, um “semideus” ou, quiçá, até um “deus”.
Davi começa dizendo-lhe que, apesar de todo o grande reino que estava recebendo, de toda a estabilidade existente, da prosperidade, ele deveria se esforçar para manter tudo daquela maneira, o que iria exigir-lhe trabalho, e lembrar que era apenas um homem, um ser humano como qualquer outro e que, portanto, dependia única e exclusivamente de Deus para ter êxito, para cumprir os propósitos estabelecidos para ele em Israel.
– Quantos se esquecem, em nossos dias, que são meros homens. Davi, mesmo, ao compor o Salmo 9, traz-nos esta realidade, a de que somos simples seres humanos que dependem de Deus para sobreviver, tanto física quanto espiritualmente.
Aliás, é interessante observar que, segundo Reese, este salmo foi composto em meio às grandes vitórias militares de Davi, como que um “freio” do Espírito Santo para que o rei, diante de tantas vitórias e da expansão do seu reino, não se vangloriasse.
– Não se esquecer de que se é homem e, como tal, sujeito a todas as paixões humanas, com risco iminente de cair a cada momento, se não for a misericórdia e graça divinas, é dever de todo aquele que serve a Deus, em especial do líder. Mesmo quando em condição espiritual sabidamente elevada, o homem ou mulher de Deus não podem jamais esquecer que são homens.
Paulo, por exemplo, quando disse para ser imitado, não deixou de dizer que o fazia porque ele próprio imitava a Cristo (I Co.11:1), tendo recusado que alguns crentes o tomassem por “mestre” em Corinto (I Co.1:13).
– Eis um conselho que não poderia ser dado em público. Se Davi dissesse isso a Salomão em público, certamente tiraria a autoridade do jovem rei.
Davi necessitava dizê-lo a seu filho uma verdade desta magnitude, mas isto tinha de ser dito em privado, para evitar quaisquer especulações que fossem danosas ao governo que se iniciava.
– O segundo conselho que Davi dá a Salomão em particular diz respeito à fidelidade ao Senhor. Davi manda que Salomão guarde os mandamentos do Senhor, como estava escrito na lei de Moisés, para que pudesse ter prosperidade em tudo que fizesse (I Rs.2:3). Não basta ser homem, mas é necessário que se seja um homem obediente ao Senhor.
– Davi tinha autoridade moral e espiritual para dar este conselho a Salomão, porque sempre procurara ser obediente a Deus e a seus superiores.
Agora que Salomão chegava ao ponto máximo da sua sociedade, estando acima de todos os israelitas, deveria se lembrar que era homem e, como tal, se encontrava abaixo de Deus e lhe devia obediência em tudo. Davi não era perfeito, pois nenhum homem no é (I Rs.8:46; II Cr.6:36; Ec.7:20), mas estava em comunhão com o Senhor e, por isso, podia, sim, exigir de Salomão uma fidelidade que havia demonstrado durante a sua vida.
– A prosperidade de Salomão dependeria de sua fidelidade ao Senhor, diz Davi. Repete aqui o rei o que é dito pelo salmista no Salmo 1.
A prosperidade que Davi está a mencionar não é a abundância de riquezas e de bens.
Salomão já estava diante de um reino materialmente próspero e, durante seu reinado, esta prosperidade só aumentaria e, mesmo a crise econômica existente ao final de seu reinado, não foi sentida por ele.
Davi está muito mais falando aqui da prosperidade espiritual, que é a mais importante e que é o assunto do rei prestes a morrer.
Davi fala de obediência a Deus, do relacionamento de Salomão com Deus. Assim este texto não pode servir de pretexto para os gananciosos da atualidade e sua malfada “teologia da prosperidade”.
– Tanto assim é que Davi vincula a obediência de Salomão à confirmação da promessa divina de que não faltaria quem se assentasse no trono de Israel na casa de Davi (I Rs.2:4).
Davi, apesar da promessa de Deus, tinha plena consciência de que tal promessa somente iria se concretizar se houvesse, por parte dos seus descendentes, o compromisso de permanecer fiel ao Senhor.
Davi sabia claramente que, na lei de Moisés, seja no pacto sinaítico, seja no pacto palestiniano, Israel somente poderia se manter em Canaã se servisse a Deus. De igual modo, a casa de Davi somente reinaria sobre Israel se os reis fossem fiéis ao Senhor.
– O terceiro conselho dado por Davi a Salomão dizia respeito a Joabe, este verdadeiro “espinho na carne” que Davi teve de carregar ao longo do reinado.
Temos aqui um caso de “segredo de Estado”, uma confidência relacionada com a própria gestão de Davi à frente do povo.
Davi lembra a Salomão os crimes cometidos por Joabe, que matara à traição e em desobediência a Abner, Amasa e Absalão. Davi lembra a Salomão que as circunstâncias da vida o haviam impedido de ter condições para tomar providências, mas que Salomão deveria, a fim de observar a lei, fazer o que lhe aprouvesse, desde que não deixasse Joabe descer à sepultura em paz (I Rs.2:5,6).
– As pendências de uma gestão para outra devem também ser tratadas em privado, para que não haja escândalo e quebra da integridade do povo de Deus.
Davi, como era homem, tinha uma pendência com Joabe que não poderia tratar, inclusive porque fazia parte das consequências do pecado do “caso de Urias, o heteu”.
Humildemente, Davi confessa a sua limitação a Salomão e pede que ele, para que não tivesse dificuldade diante de Deus e do povo, solucionasse esta questão.
– Interessante observarmos que temos aqui uma confissão de Davi da sua impotência para tratar da questão, deixando-a para que Salomão resolvesse como lhe aprouvesse.
Davi não transferiu o ônus para Salomão. Assumiu sua limitação e deixou Salomão à vontade para que tomasse a decisão que quisesse.
Davi apenas lembrou que os crimes de Joabe eram violações da lei de Deus e que, portanto, alguma atitude deveria ser tomada.
– Assim deve agir também o líder que deixa pendências para o seu sucessor. Deve notificá-las, esmiuçá-las, inclusive confessar suas limitações, por isso se trata de assunto a ser tratado em privado, mas não deve querer impor soluções ao novo líder.
Cabe ao novo líder decidir o que fazer, podendo o líder que sai, que já deixou a situação sem solução, quando muito, e na direção divina, dizer o que Palavra de Deus fala a respeito.
– O quarto assunto tratado por Davi com Salomão é mais uma pendência, mas que não se tratou de caso não resolvido por conta da limitação, mas da necessidade de cumprimento de promessa que está em andamento.
Davi havia prometido fazer bem aos filhos de Barzilai e pediu a Salomão que mantivesse esta beneficência como gratidão pelo bem que haviam feito a Davi quando da fuga de diante de Absalão (I Rs.2:7).
– Devemos tomar cuidado, quando na liderança, ao nos comprometermos com A e B.
Por vezes, os compromissos podem fugir ao nosso controle e teremos de contar com a boa vontade do sucessor para os manter.
É sempre interessante, ao assumirmos tais compromissos, deixar bem claro que eles perduram enquanto mantivermos aquela posição.
A Bíblia nada nos fala a respeito do que fez Salomão a respeito, sendo de se supor que, obediente como era, Salomão não deixou de fazer beneficência aos filhos de Barzilai, mas é algo que se deve evitar. Também neste caso devemos nos lembrar que somos meros homens.
– O quinto assunto tratado por Davi com Salomão é outra pendência. Desta feita, Davi lembra a Salomão a respeito de Simei que, apesar de ter amaldiçoado a Davi, foi por ele perdoado, ainda que parcialmente, ou seja, Davi prometeu que não o mataria.
Davi, porém, sabia que esta decisão política tomada logo após a vitória sobre Absalão não estava de acordo com a lei de Moisés. Simei havia ultrajado o ungido do Senhor e devia ser punido por isso.
Assim, Davi pediu a Salomão que corrigisse o seu erro, punindo Simei da forma que melhor lhe conviesse, a fim de que pagasse pelo que havia cometido (I Rs.2:8).
– Temos aqui uma pendência relacionada com a correção de um erro cometido ou até a complementação de medida tomada anteriormente.
O líder que sai pode, sim, notadamente quando entender que seu erro ou sua medida incompleta pode ser um fator de desestabilização para o novo líder, em privado, confessar esta culpa ou esta incompletude para que o novo líder resolva a respeito.
Aqui se tem situação muito próxima a da pendência por conta de limitações do líder que sai.
Deixa-se a questão para ser dirimida pelo novo líder, mas não se deve deixar de contar o que se passou e de alertar a nova liderança do erro ou da incompletude do que se deliberou.
– Após ter tratado destes casos pendentes, Davi nada mais tinha que falar ou fazer para seu sucessor.
Deixara um reino estabelecido, próspero, organizado. Deixara um povo comprometido com o novo rei, um povo que sabia qual era a vontade de Deus para o imediato a se fazer.
Tinha, em privado, deixado todas as instruções necessárias a Salomão. Deste modo, não lhe restou senão dormir com seus pais, findando quarenta anos de profícuo reinado.
IV – O INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO
– Salomão começa, pois, a reinar e as Escrituras dizem que o seu reino se fortificou sobremaneira (I Rs.2:12).
Apesar da negligência de Davi de envolver o filho nos negócios do reino ainda quando estava Davi em pleno vigor, o certo é que as instruções recebidas nos últimos momentos do governo de seu pai lhe foram assaz valiosas para que pudesse iniciar o seu governo.
– No entanto, logo no início de seu governo, Salomão teve de enfrentar a oposição de seu irmão Adonias, que, de forma sagaz, pediu à mãe de Salomão, Bate-Seba, que se concedesse a jovem Abisague, que havia servido a Davi em seus últimos dias, como sua mulher, numa clara demonstração de que Adonias ainda tinha pretensões do reino.
– Bate-Seba concordou com o pedido de Adonias e fez a intercessão em favor dele diante de Salomão e o jovem rei, percebendo a sagacidade do pedido, não teve outra alternativa senão mandar matar Adonias, para evitar que houvesse uma luta pelo trono, não temendo contrariar a sua mãe (I Rs.2:14-26).
– Salomão, também, teve de lidar com o sumo sacerdote Abiatar, que havia se associado a Adonias em sua rebelião, destituindo-o da função que exercia juntamente com Zadoque e o mandando para Anatote, onde ficou até a sua morte (I Rs.2:26).
– Também, atendendo ao pedido de seu pai Davi, tratou de mandar matar a Joabe, que fora o comandante do exército de seu pai mas que também havia se envolvido com a rebelião de Adonias, dando a Joabe o devido pago por todos os males que causara durante o reinado de Davi (I Rs.2:28-34).
– Mas, também, teve de tratar com Simei, ainda atendendo às orientações de seu pai Davi, Simei que havia amaldiçoado a Davi quando da rebelião de Absalão.
Salomão, então, determinou que Simei vivesse em uma espécie de prisão domiciliar, não podendo se ausentar de Jerusalém.
Ocorre, porém, que Simei descumpriu a ordem real e acabou sendo morto também (I Rs.2:36-46).
– Com estas providências, Salomão confirmou o reino nas suas mãos, evitando, assim, toda e qualquer instabilidade política interna. Alguém pode achar que tais atitudes de Salomão foram sanguinárias e cruéis, mas, na verdade, Salomão estava a agir de acordo com a vontade do Senhor, visto que era ele o escolhido de Deus para a continuidade da linhagem da casa de Davi, de onde viria o Messias e, deste modo, todos aqueles que haviam sido poupados por Davi mas haviam demonstrado que continuavam com aspirações contrárias à vontade de Deus deveriam ser extirpados da vida nacional israelita.
– Salomão seguira os conselhos de seu pai Davi e agia com o objetivo de cumprir o propósito divino a ele estabelecido.
Também assim devemos agir, jamais nos esquecendo de que somos engrenagens desta máquina que é a Igreja do Senhor, que está na Terra para fazer a vontade do Senhor.
– Garantida a paz interna, Salomão, então, trata de obter paz externa, a fim de evitar que houvesse guerras durante o seu governo.
Seu nome já queria dizer “paz” e, sabendo que tinha de edificar o templo em Jerusalém, o jovem monarca tinha consciência de que não poderia entrar em conflito com os povos vizinhos.
Casa-se, então, com a filha de Faraó, fazendo, deste modo, aliança política com o país mais poderoso daquela época.
Esta atitude de realizar “casamentos políticos”, a fim de fazer alianças com os povos vizinhos será repetida por Salomão com excesso, inclusive, e causará problemas para o rei e para Israel.
– Todas estas atitudes de Salomão eram movidas pelo amor que tinha a Deus (I Rs.3:3). Tinha consciência de seu papel nas promessas que o Senhor dera a seu pai Davi.
Assim, resolveu ir a Gibeão para ali sacrificar ao Senhor, pois ali se encontrava o maior altar de sacrifícios em Israel, naquele tempo, pois, desde o desmantelamento do tabernáculo em Siló, nos tempos de Samuel e de Saul, não havia um local oficial para se adorar a Deus.
– Salomão dava prioridade à adoração ao Senhor, pois sabia que estava a reinar sobre o povo de Israel, que era a propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos e, portanto, não era o “dono” ou “senhor” dos israelitas, mas um simples homem, como Davi fizera questão de alertá-lo antes de morrer.
– Salomão oferece mil holocaustos ao Senhor em Gibeão e, à noite, o Senhor apareceu a Salomão em sonhos e lhe fez uma oferta: Pede o que quiseres que te dê (I Rs.3:5).
– Que oportunidade tinha Salomão naquele momento! O Senhor dava-lhe a oportunidade de pedir o que bem quisesse. E o que fez o jovem rei?
Pediu um coração entendido para que pudesse julgar o povo de Israel, que chama de povo do Senhor, por ser, Salomão, um menino pequeno que não sabia nem sair, nem entrar (I Rs.3:6-9).
– Salomão tinha plena consciência da responsabilidade que estava sobre os seus ombros.
Tinha presenciado como Deus fora com Davi e, agora, tinha a incumbência de dar continuidade ao governo de Israel e não sabia bem o que fazer, já que atendera a todos os pedidos de seu pai, como também tomara providências para se consolidar no reino.
Mas o governo teria de efetivamente começar, teria Salomão de dar uma “marca própria” ao governo dali para a frente e se achava incapaz de fazê-lo com suas próprias forças.
– Salomão queria bem fazer ao povo e sabia que isto só seria possível se Deus o ajudasse e, ante esta oferta do Senhor, entendeu que a sabedoria era a coisa principal (Pv.4:7).
Tendo sabedoria, poderia saber viver sobre a face da Terra e saber governar. Tendo a sabedoria, faria tudo quanto seria agradável a Deus e, quando se faz o que agrada a Deus, certamente se tem êxito e sucesso nesta peregrinação terrena.
– Deus Se agradou do pedido de Salomão e afirmou que daria a Salomão uma sabedoria tal que ninguém na Terra se igualaria a ele, mas, além disso, também lhe daria riquezas e glória (I Rs.3:11-14).
– Pedir sabedoria a Deus é petição que muito agrada ao Senhor, pois, quando assim fazemos, reconhecemos que somos meros homens, dispomo-nos a fazer a vontade divina e a sermos instrumentos para a realização do propósito de Deus.
Pedir sabedoria a Deus é anular-se a si próprio e se entregar nas mãos do Senhor, a atitude absolutamente necessária e indispensável para seguirmos a Cristo (Mc.8:34; Lc.9:23).
– Não é por outro motivo que Tiago diz que o pedido de sabedoria é algo que Deus jamais rejeita e dá com liberalidade (Tg.1:5).
– Nos dias em que vivemos, a famigerada “teologia da prosperidade” faz questão de ressaltar as riquezas e a glória de Salomão (andaram até construindo um templo de Salomão…), querendo, com isto, mostrar que Deus tem interesse em enriquecer materialmente os Seus servos.
– Entretanto, quando vemos o texto bíblico, notamos que Deus, sim, deu riquezas e glória a Salomão, mas que isto não era prioritário e nem sequer foi pedido pelo jovem rei que, precisamente por não querer tais bênçãos materiais, teve o agrado de Deus.
Salomão queria saber se conduzir como rei, queria cumprir o seu papel que o Senhor lhe dera no povo de Israel e, por ter tido este desejo em seu coração, recebeu, além do que havia pedido, outras coisas que, entretanto, eram apenas acréscimos, coisas absolutamente secundárias.
– O próprio Salomão, em sua velhice, ao escrever o livro de Eclesiastes, mostra que riquezas e glória nada representam, são vaidade de vaidades, diante da sabedoria, a “coisa principal”, sabedoria que somente tem aqueles que servem ao Senhor, como deixa o próprio Salomão claro em outra obra sua, a saber, o livro de Provérbios.
– Saber viver sobre a face da Terra de modo a ser instrumentos para a glorificação do nome do Senhor e conseguirmos chegar até os céus, perseverarmos na salvação que recebemos de Cristo Jesus, é o mais importante e, quando assim fazemos, estaremos claramente dentro dos propósitos divinos e sendo alvo da Divina Providência.
– Logo o povo de Israel pôde reconhecer que Deus havia dado sabedoria a Salomão, o que ocorreu quando o jovem rei resolveu a questão das duas mulheres que disputavam um filho (I Rs.3:16-28).
Deus dava amplo testemunho aos israelitas de que seu monarca havia sido aquinhoado com a sabedoria do alto e não foi por outro motivo que Israel passou a ter uma vida primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade nem hipocrisia, tendo Salomão semeado na paz o fruto da justiça, para os que exercitam a paz (Tg.3:17,18).
– Salomão, então, no quarto ano de seu reinado, deu início à construção do templo, cumprindo, assim, a vontade do Senhor, já que Davi fora impedido de fazê-lo e Deus havia dito que quem o faria seria seu sucessor (II Sm.7).
Tanto assim é que, ao iniciar a construção, o Senhor mandou uma palavra ao jovem rei dizendo do Seu agrado com relação a este gesto (I Rs.6:11-13).
– Na construção do templo, Salomão mostra toda a sua sabedoria, dando condições para que o plano de seu pai Davi fosse integralmente cumprido, e com excelência, tendo habilmente feito acordo com Hirão, rei de Tiro, que lhe forneceu os melhores materiais e, ainda, mandou para Jerusalém a Hurão Abiú, filho de uma mulher da tribo de Naftali e de um homem de Tiro, que, cheio de sabedoria, entendimento e ciência para trabalhar com metais, fez a parte metálica do templo (I Rs.3:14; II Cr.2:13,14).
– Depois de sete anos de construção, o templo foi inaugurado. Salomão preparou uma grande festa para esta ocasião, igualmente do agrado do Senhor que não só mandou a Sua glória, que encheu o templo, como também apareceu novamente em sonho a Salomão para dizer que havia ouvido a oração que o rei havia feito na dedicação do templo (I Rs.9:1-9; II Cr.7:11-22), oração que é a mais longa oração da Bíblia Sagrada (I Rs.8:22-53; II Cr.6:12-42).
– Nesta segunda aparição de Deus a Salomão, o Senhor, inclusive, revela a Salomão o que iria acontecer no futuro da nação de Israel, que, apesar da presença de Deus no seu meio, através do templo, seria rebelde e desobediente ao Senhor, a ponto de aquela casa ser destruída.
– O sábio Salomão era um homem de oração, um homem que sabia agradar a Deus, que tomava decisões que eram confirmadas pelo Senhor. A sabedoria faz-nos ter intimidade com o Senhor, detectar a Sua vontade, ser-Lhe agradável e ter, de antemão, revelar o que iria acontecer.
A sabedoria divina não só nos faz alvo da Divina Providência como nos permite ter acesso a segredos do que está por acontecer, o que nos servirá, não para satisfação de nossa curiosidade, mas para que nos aprimoremos ainda mais em realizar a vontade do Senhor e de nos comportarmos de forma a cumprirmos, em nós, o propósito divino.
– Jesus, que é mais sábio que Salomão (Mt.12:42; Lc.11:31), que foi feito sabedoria para nós (I Co.1:30), tinha esta plena convicção do que era a vontade do Pai, sabendo, inclusive, qual seria a hora em que deveria cumprir a Sua missão de morrer pela humanidade (Mt.26:45; Mc.14:41; Jo.12:23; 17:1).
Ele sabia a que viera (Jo.12:27) e, portanto, satisfez plenamente a vontade do Pai.
– Nós precisamos ser como o Senhor Jesus e também agir com sabedoria, a fim de que, devidamente orientados e cientificados por Deus, façamos de nossa vida sobre a face da Terra um alvo da Divina Providência, tudo fazendo para glorificar o nome do Senhor entre os homens.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
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