LIÇÃO Nº 12 – VIVENDO EM CONSTANTE VIGILÂNCIA
A vigilância é indispensável para podermos usar a armadura de Deus.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo sobre batalha espiritual, abordaremos hoje a vigilância, um dos “exercícios espirituais” indispensáveis para manter o crente em forma na luta contra o mal.
– A vigilância é indispensável para podermos usar a armadura de Deus.
I – O QUE SIGNIFICA VIGIAR
– Quando o apóstolo Paulo fala a respeito da armadura de Deus, depois de mencionar cada um de seus elementos, diz que o salvo deve orar em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito e vigiar nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos (Ef.6:18).
– Ora, sabemos que, em uma força armada, não basta o soldado ter armas e saber usá-las, mister se faz, notadamente nos dias do apóstolo Paulo, que estivesse em boa forma física, a fim de que pudesse bem se movimentar, correr, enfim, ter condições físicas para não só atacar o inimigo mas dele também se livrar. Por isso, até hoje, a educação física é essencial na vida de um soldado.
– O apóstolo, como vimos, ao descrever a armadura de Deus, tinha em mente o soldado romano e, depois de ter feito a correspondência de cada peça da armadura do exército romano com as armas espirituais, também fez uma analogia entre a necessidade dos exercícios corporais que tinham de ser realizados pelo integrante do exército do Império com as atividades espirituais que devem ser desempenhadas pelo cristão, a saber:
a oração e a vigilância.
Nesta lição, trataremos desta última, deixando para a próxima o estudo a respeito da oração.
– Quando proferiu o Seu sermão escatológico, Jesus o concluiu com severas advertências a respeito da vigilância (Mc.13:32-37), demonstrando, assim, que a perseverança que se exige para a vitória sobre as forças do mal e, por conseguinte, para a salvação (Mt.24:13) necessita fundamentalmente da presença deste “exercício espiritual”. Por isso, foi tão enfático ao dizer: “E as coisas que vos digo digo-as a todos: vigiai” (Mc.13:37). Mas o que é vigiar?
– Se formos ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, perceberemos que a palavra “vigiar” tem diversos significados, mas todos eles devem ser enfrentados para que entendamos o que o Senhor Jesus tem a dizer a respeito do tema, pois as Escrituras devem ser conhecidas em cada detalhe. Neste dicionário, há seis principais acepções de “vigiar”, a saber:
1 observar com atenção; estar atento a
2 observar secreta ou ocultamente; espreitar, espionar
3 cuidar com atenção, olhar por; velar
4 fazer fiscalização de; controlar, verificar
5 permanecer atento, alerta ou desperto
6 ficar de sentinela, de guarda, de atalaia
– Vigiar significa, em primeiro lugar, observar com atenção, estar atento a. Quem vigia é quem observa com atenção, que está atento.
O Senhor revelou-nos o que irá acontecer para que os crentes sejam observadores de tudo o que está acontecendo à sua volta, a fim de que, com olhos espirituais, identifiquem e detectem nos acontecimentos do dia-a-dia a iminência, a proximidade da volta de Jesus.
– É por isso que não podemos concordar com aqueles que defendem que os crentes devem viver separados dos demais homens, da comunidade, completamente alienados a respeito do que acontece à sua volta.
O crente deve ser uma pessoa bem informada, que tenha conhecimento do que se passa na sua vizinhança, no seu local de trabalho, na sua escola, no seu bairro, na sua cidade, no seu Estado, no seu país e no mundo.
O crente deve ser pessoa que tenha conhecimento de tudo que está acontecendo, porque, só assim, poderá cumprir a ordem de Jesus, que é a de vigiar, ou seja, estar atento às coisas que estão acontecendo. Jesus, mesmo, jamais foi uma pessoa alienada, estava bem informado a respeito dos fatos e deles se aproveitava para pregar o Evangelho (cfr. Lc.13:1-5).
– Em termos de batalha espiritual, o salvo precisa sempre estar atento contra as astutas ciladas do diabo (Ef.6:10), pois o adversário sempre está ao derredor, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8), pois o diabo se opõe dia e noite contra os salvos (Ap.12:10).
– Vigiar significa, em segundo lugar, observar secreta ou ocultamente, espreitar, espionar. O crente deve ser alguém que tenha discernimento, que possa ver além da superficialidade, que investiga o lado espiritual dos acontecimentos.
O crente tem a mente de Cristo (I Co.2:9-16), ou seja, tem acesso à profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus (Rm.11:33) e, portanto, estando em comunhão com o Senhor, deve saber interpretar os acontecimentos sempre pelo ponto-de-vista espiritual.
O crente, também, tem de ter o discernimento para identificar as astutas ciladas do diabo. Para isto, devemos fazer como Esdras que, no caminho para Jerusalém, orou e jejuou para sentir a mão de Deus sobre si e sobre o povo que com ele estava e, somente assim, pôde chegar ao seu destino, apesar das astutas ciladas do inimigo ao longo do caminho (Ed.8:21-31).
– Faz-se necessário que sejamos homens espirituais, ou seja, pessoas que têm o Espírito Santo e, por isso, pode receber a revelação a respeito das profundezas de Deus, tudo discernindo e de ninguém sendo discernido (I Co.2:9-16).
Aliás, a vitória sobre o maligno depende de Ele estar conosco, para que, então, sejamos maiores do que o aquele que está no mundo (I Jo.4:4).
– Para sermos espirituais, à evidência, torna-se necessário que tenhamos intimidade com o Senhor, uma disciplina espiritual que nos leve à santidade, visto que o Espírito Santo somente está em comunhão com quem está separado do pecado, andando segundo o Espírito (Rm.8:1-9).
– Vigiar significa, em terceiro lugar, cuidar com atenção, olhar por, velar. O crente deve cuidar da sua vida espiritual, da sua comunhão com Deus, da sua salvação.
A salvação é algo que tem de ser preservado, conservado, como nos ensina a Bíblia Sagrada, pois somente aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt.24:13).
Por várias vezes, a Palavra de Deus nos aconselha a conservarmos uma vida de comunhão com Deus, uma vida de santidade e de obediência aos mandamentos do Senhor:
- a) em Hb.3:6, é dito que somente aqueles que conservam firmes a confiança e a glória da esperança até o fim podem dizer que são a casa de Deus, que são templo do Espírito Santo, ou seja, que pertencem ao corpo de Cristo e, por isso, serão arrebatados.
- b) em I Ts.5:23, é dito que o crente tem de manter conservado irrepreensível todo o seu ser (espírito, alma e corpo) para a vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a mostrar, portanto, que a conservação de nosso ser debaixo da potente mão de Deus é indispensável para que sejamos arrebatados.
- c) em Jd.1, os crentes são chamados de queridos em Deus Pai e conservados por Jesus Cristo, a indicar que somente aquele que se mantém em comunhão com o Senhor Jesus, que se submete a Seu senhorio, como vara ligada na videira, será arrebatado no dia da vinda do Senhor e, por isso, o mesmo Judas aconselha o povo de Deus a se conservar no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna (Jd.21).
– A armadura de Deus é dada ao salvo para que ele possa “estar firme contra a astuta cilada do diabo” (Ef.6:11) e para “poder resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firme” (Ef.6:13). Portanto, se não houver tal conservação, não se terá tido qualquer resistência, sendo, pois, inutilizada a própria razão de ser do revestimento e tomada da armadura.
– Quando se dispôs a enfrentar Golias, Davi teve a oferta de se utilizar da armadura do rei Saul, mas, ao vesti-la, viu que não poderia utilizá-la, pois nunca havia experimentado estes trajes de guerra, de modo que se despiu deles, pois viu que isto seria inútil para a sua luta, um verdadeiro impedimento para ela.
Assim, também, se não houver a conservação da alma, qualquer armadura será inútil para que o salvo possa lutar contra o mal (I Sm.17:38,39).
– Vigiar, em quarto lugar, significa fazer fiscalização de, controlar, verificar. O crente vigilante é aquele que vive conferindo a santidade, não a santidade dos outros, pois o crente não deve julgar o semelhante, pois esta é uma tarefa exclusiva do Senhor, o único juiz (Tg.4:11,12).
O crente deve conferir a sua própria condição espiritual, deve examinar-se constantemente e observar se está sendo fiel ao Senhor, ou não.
O autoexame é uma necessidade para o cristão, bem como um anúncio da vinda de Jesus, como vemos, claramente, do ensino de Paulo sobre a ceia do Senhor (I Co.11:26,28). O crente vigilante esforça-se para, a cada momento, se autoexaminar e se manter com as vestes limpas para que possa adentrar ao banquete nupcial das bodas do Cordeiro (cfr. Mt.22:11-14).
– Sem a santidade, como já salientamos, não há como conseguir se revestir e tomar a armadura de Deus, ficando-se, assim, desarmado e à mercê do inimigo.
Sem a santidade, não podemos ser “morada de Deus em Espírito” (Ef.2:22) e, por conseguinte, corremos o risco de sermos novamente aprisionados pelo adversário, porquanto se nos esvaziarmos do Senhor, por causa do pecado, seremos a “casa varrida e adornada” pronta para ser ocupada por espíritos malignos (Mt.12:43-45; Lc.11:21-26).
– Vigiar, em quinto lugar, significa permanecer atento, alerta ou desperto. A vigilância não é, portanto, uma atitude episódica, um momento de reflexão ou de atenção transitório, periódico, como na semana da ceia do Senhor ou quando vamos ao culto ou a alguma reunião religiosa, mas uma atitude de vida, um modo de viver, um comportamento contínuo que deve ser uma constante até a vinda do Senhor.
Temos uma figura elucidativa deste tipo de comportamento entre aqueles que foram selecionados por Deus para estarem ao lado de Gideão.
Os trezentos homens escolhidos para compor este exército vitorioso eram homens que, ao tomarem água, se comportavam como cães, pois permaneciam atentos, olhando tudo a sua volta, por isso foram achados dignos de pertencer ao exército que venceu os inimigos do povo de Deus (Jz.7:4-7).
É este tipo de gente que o Senhor tem, também, escolhido para tomar parte em Seu exército: pessoas que permanecem atentas em todos os momentos.
– Vigiar, em sexto lugar, significa ficar de sentinela, ficar de guarda, ficar de atalaia. O crente vigilante é um crente que não só se guarda do mal e das astutas ciladas do diabo, como também anuncia a todos quantos estão à sua volta do perigo que estão a correr, que dá notícia da realidade, da verdadeira situação em que o mundo se encontra.
– Por isso, o cristão vigilante faz questão de mostrar aos outros o risco que estão a correr por negligenciarem as atuações malignas, como também identifica claramente as ações demoníacas em curso.
Não é alguém que vá dar ouvido a doutrinas de demônios nem a espíritos enganadores que, estando no meio da igreja, estão a levar muitos à apostasia da fé (I Tm.4:1), inclusive os falsos ensinamentos sobre batalha espiritual.
– Vigiar, em sétimo lugar, segundo o mesmo Dicionário Houaiss, do latim vigìlo,as,ávi,átum,áre ‘velar, vigiar, estar alerta, não dormir’.
O crente vigilante, portanto, é aquele que não dorme. Dormir, como vemos na parábola das dez virgens, tem o significado de ter distraída a atenção para as coisas desta vida, descuidar da presença de Deus nas nossas vidas.
As virgens loucas não tinham azeite em suas lâmpadas, ou seja, tiveram desviada a sua atenção para as coisas desta vida e se descuidaram de ter o Espírito Santo em seu interior, o que acontece quando nós O entristecemos (Ef.4:30).
Não dormir é, portanto, não deixar faltar o azeite, o que acontece quando fazemos a vontade do Senhor, quando seguimos a Sua direção, quando nos inclinamos para as coisas do espírito (Rm.8:5-9).
– Ora, em termos de batalha espiritual, se não nos inclinamos para as coisas do espírito, perderemos a comunhão com o Senhor e seremos, assim, presas fáceis do adversário, já que somos inferiores a ele (Sl.8:5), sendo maior o que está conosco do que o que está no mundo (I Jo.4:4).
– O apóstolo Pedro diz que devemos vigiar porque o diabo anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8).
– Nesta afirmação do apóstolo, vemos, por primeiro, que a vigilância se faz necessária porque o diabo sempre está ao nosso derredor, ou seja, não nos perde de vista, jamais desiste de nós.
– Há, ultimamente, quem ache que o diabo não se importa com o salvo, desistiu de tentar leva-lo ao fracasso, como se, em alguma oportunidade, ou alguma vez, tenha se conformado com a derrota.
Muito pelo contrário, embora o príncipe deste mundo já esteja julgado (Jo.16:11), Satanás não se dá por vencido, mantendo sua diuturna atividade de acusação dos servos do Senhor perante Deus (Ap.12:10).
– O diabo insiste, persiste e não desiste de tentar os servos de Deus, buscando tragar o maior número de pessoas que puder.
Sabendo que o inimigo nunca cessa de atuar bem como que se utiliza das mais várias estratégias e táticas para tentar fazer o salvo perder a sua salvação, é imperioso que estejamos em contínua vigilância, pois nunca sabemos como, quando e o que o diabo pode preparar contra nós.
– O Senhor Jesus disse que se alguém soubesse a que hora viria o ladrão, dar-se-ia o luxo de não vigiar durante todo o tempo, mas, como não sabe a que hora vem o ladrão, mantém vigilância a fim de não ser surpreendido por ele, não deixando que ele arrombe a casa (Mt.24:43; Lc.12:39).
– O diabo quer roubar a nossa coroa (Ap.3:11), pois seu trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
Quer, também, arrombar a nossa casa e ocupa-la com sete espíriotos piores do que os que antes a ocupavam, quando ainda não éramos salvos (Mt.12:43-45; Lc.11:24-26). Assim, torna-se necessário que estejamos vigilantes a todo tempo, pois não sabemos a que hora vem.
– A vigilância é necessária porque o diabo está em derredor, ou seja, está a uma certa distância e isto, naturalmente, exige maior atenção por parte de quem está a lutar contra ele, já que não pode ser claramente visto e acompanhado.
– Não resta dúvida de que a distância do inimigo de nós é uma bênção, pois isto revela que estamos protegidos, que ele não tem condições de nos tocar, que estamos debaixo da mão de Deus e, assim, a exemplo de Esdras, livre das ciladas do adversário, podendo caminhar seguramente para Jerusalém (Ed.8:31), sabendo que, da mão do Senhor, jamais seremos retirados (Jo.10:27-29).
– Mas, por outro lado, a certa distância do inimigo exige de nós um cuidado, uma cautela toda especial, para que ele não se aproxime, como também para que percebamos a sua movimentação. Esta certa distância mostra-nos a absoluta necessidade de dependermos do Espírito Santo, que nos guiará ao longo deste combate (Jo.16:13).
– As Escrituras dizem que o diabo está a “bramar como leão”. Seu rugido, indicador da sua fúria, se, de um lado, pode nos dar uma orientação de sua posição, permitindo que o detectemos (e, neste passo, ele é menos perigoso do que quando surge como a astuta serpente); de outro, exige de nós uma firmeza espiritual, pois é natural que o bramido de um leão cause terror, intimidação e abalo.
Devemos vigiar para que isto não ocorra, devendo desenvolver a nossa fé, “firme fundamento das coisas que se esperam e prova das coisas que não se veem” (Hb.11:1), para que não venhamos a ser enfraquecidos pelo “rumor do bramido”, pois, como diz o fundador do judô, Jingoro Kano (1860-1938): “quem teme perder já está vencido”.
– Nunca é demasiado lembrar que somos inferiores ao inimigo, que ele é a mais astuta criatura que existe e, portanto, como ele busca tragar quem ele puder, somente pela vigilância poderemos escapar de suas ciladas, evitando assim dar-lhe lugar, sem o que, como o primeiro casal, haveremos de fracassar espiritualmente. Que Deus nos guarde!
II – O QUE SIGNIFICA NÃO VIGIAR
– Apesar da exortação do próprio Senhor ser no sentido de o crente ter de vigiar durante todo o tempo, não são poucos os que se comportam como se não houvesse uma luta espiritual contra o maligno, menosprezando quando não abertamente inexistir qualquer força sobrenatural que esteja a se opor aos salvos durante a sua peregrinação terrena.
– Este comportamento, aliás, é consequência de outro ensino equivocado, a saber, a colocação em segundo plano, quando não em último plano, da promessa da vinda de Jesus.
– Seja por meio da retirada total do tema do discurso eclesiástico, seja através de decepções com as falsas profecias de designação de datas para o tão aguardado retorno, muitos crentes têm negligenciado e deixado de esperar Jesus.
– Uma vida cristã sem esta esperança é uma vida sem alento, sem perspectiva da eternidade, uma vida que passa a ser perigosamente envolvida com as coisas deste mundo e que tem grande probabilidade de ser sufocada por estas mesmas coisas, como ocorreu com a semente que brotou entre os espinhos (Mt.13:22).
– O apóstolo João foi enfático ao afirmar que quem tem a esperança da volta de Cristo purifica-se a si mesmo (I Jo.3:3) e a consciência de que estamos em batalha espiritual e necessitamos urgentemente do Senhor e da Sua companhia também produz este anseio pela santificação.
– Todavia, ensinamentos que procuram menosprezar este aspecto da vida cristã (inclusive dizendo que vivemos um tempo em que o inimigo e suas hostes espirituais se encontram imobilizadas pela vitória de Cristo na cruz e Sua ressurreição,
não havendo mais que se falar em possessões demoníacas ou em ataques do maligno sobre os salvos) têm contribuído, e muito, para que muitos apostatem da fé, pois passam a negligenciar a santificação e a achá-la desnecessária, até porque, inclusive,
não creem seja na atualidade do revestimento de poder e dos dons espirituais, como também se sentem seguros em sua salvação por conta de uma predestinação incondicional.
– Esta atitude de pouco caso, de negligência, de pouca atenção à volta do Senhor, entretanto, é exatamente o estado de espírito que caracterizará o mundo no tempo do arrebatamento, pois assim foi predito nas Escrituras.
Jesus disse que as pessoas estariam despercebidas assim como a geração do dilúvio e a geração de Sodoma e Gomorra estavam completamente indiferentes ao tempo da iminente destruição de que foram vítimas (Mt.24:37-39; Lc.17:28-30).
– Esta falta de vigilância tem como resultado o fracasso espiritual, porquanto, como o inimigo não se descuida, irá tragar todos quantos se apresentarem desguarnecidos e alheios à realidade espiritual de confronto, que, aliás, torna-se mais intenso à medida que se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja.
– Muitos crentes estão como aqueles homens de Siquém, Siló e Samaria, completamente alheios à realidade, que se dirigiam à casa do Senhor, que já havia sido destruída e que, por estarem completamente fora da realidade, acabaram sendo mortos por Ismael, filho de Netanias, depois de terem sido por ele enganados (Jr.41:4-7).
Assim como eles, estão alheios ao conflito espiritual que se trava entre a Igreja e as forças espirituais da maldade e, sem vigilância, serão alvos fáceis do inimigo que os enganará e, por fim, os matará.
– Quando temos a convicção de que estamos em meio a uma luta contra o mal, passamos a ser muito mais cuidadosos com nossa vida espiritual, temos um ânimo renovado para vivermos em santificação e para estarmos preparados para ouvir a última trombeta.
Como as virgens prudentes da parábola, podemos voltar nosso alvo a cultivarmos a presença do Espírito Santo em nossas vidas e, com azeite suficiente, podermos até tosquenejar, mas jamais deixar de perder de vista a necessidade de estarmos prontos para resistir ao diabo e, deste modo, estarmos credenciados para o momento do retorno do Senhor.
– A ignorância a respeito da existência desta batalha espiritual ou o menosprezo quanto ao seu alcance faz gerar uma ilusória confiança, que pode ser fatal.
Quando, em uma guerra, há esta falsa sensação de segurança, a derrota é certa, pois o adversário surpreenderá e não haverá como se conseguir fazer uma defesa. Foi o que se deu, por exemplo, com a cidade de Laís que, por causa disso, acabou sendo tomada pelos danitas (Jz.18:7-12,27-29).
– Quem se acha confiado e seguro neste mundo, tende, a exemplo das virgens chamadas néscias ou loucas, a não mais se abastecer de azeite, pois não vê necessidade de se armar, já que entende que o maligno jamais lhe atacará e, como consequência disto, passam a desanimar, a não mais pôr como prioridade de suas vidas a comunhão com Deus, o reino de Deus e a sua justiça.
Deixam-se levar pelas coisas desta vida, pelas riquezas, pela prosperidade material, pela posição social (e aqui está incluída a luta por uma posição na igreja local, que é também um grupo social), pela fama e o azeite passou a ser insuficiente para que continue a brilhar como luz do mundo.
Na correria pela busca das coisas perecíveis, das coisas passageiras, cansamse e passam a necessitar de um repouso.
– São estas as pessoas que não mais se preocupam em refletir a glória de Deus (Mt.5:16; II Co.3:18), mas que se contentam em brilhar em lugar de Cristo. São estas as pessoas que se deixam entorpecer pelo mundo e por toda a sua glória e que adormecem de forma perigosa para a sua eternidade (I Co.11:30).
Estes, quando perceberem, terão perdido a oportunidade de se salvarem, porque já terão sido mortas pelo inimigo, que é homicida desde o princípio (Jo.8:44) e não perde oportunidade de matar quando lhe dão lugar. Daí porque o apóstolo Paulo ter dito que não devemos dar lugar ao adversário (Ef.,4:27).
– Estes são os negligentes, que se avolumam aos milhares, aos milhões nos nossos dias dentro dos templos evangélicos. São os crentes figurados em Laodiceia, que perderam a visão espiritual, que se deixaram levar pelas atrações deste mundo e que serão vomitados pelo Senhor naquele dia que tanto menosprezaram (Ap.3:14-16).
III – COMO DEVEMOS VIGIAR
– A primeira atitude para quem quer, realmente, sabe que está em batalha espiritual é, como vimos, a vigilância. Esta é uma atitude indispensável para que o cristão consiga viver neste mundo e alcance a vitória sobre o mal.
Quando vemos a conhecida declaração de Paulo ao término de sua caminhada, logo observamos que o apóstolo era uma pessoa vigilante. Disse ele que havia “combatido o bom combate, acabado a carreira e guardado a fé “(II Tm.4:7).
Nestas três expressões apostólicas, nós notamos que Paulo tinha consciência de que a sua vida, desde o momento de sua conversão, tornara-se um combate não só entre a sua nova natureza e o velho homem, que ele mantinha constantemente crucificado com Cristo (Gl.2:20), como também contra as hostes espirituais da maldade.
– Esta consciência é fruto de uma vida de vigilância. Quando sabemos que faz parte da vida de cada crente esta batalha segundo a qual temos de lutar contra as portas do inferno (Mt.16:18), contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12), contra a nossa natureza carnal (Rm.7:23-25), passamos a tomar cuidado, a não dar ocasião ao pecado, andando segundo o espírito (Rm.8:1).
Quando somos vigilantes, além de termos consciência desta batalha que nos acompanhará até o dia do arrebatamento ou de nossa morte física, também temos consciência de que estamos numa carreira, de que a nossa vida é uma peregrinação que só vai terminar no céu e que temos de nos esforçar para lá chegarmos.
Somos, então, vigilantes porque sabemos para onde estamos indo e qual é o nosso alvo (Fp.3:14), sabemos onde está a nossa cidade (Fp.3:20) e, por isso, corremos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Aquele que já a trilhou por nós, Jesus (Hb.12:1,2), tomando todo o cuidado para não nos desviarmos da rota.
– Por fim, quando somos vigilantes, sabemos que devemos ser cautelosos porque alguém está determinado a nos roubar a salvação, a nos matar e destruir (Jo.10:10), mas também sabemos que se a ele resistirmos,
ele não terá outra coisa a fazer senão fugir de nós (Tg.4:7) e que, se guardarmos o que temos recebido do Senhor, seremos vitoriosos (Ap.3:11,12). Por isso, na vida diária nesta terra temos de, em primeiro lugar, vigiar.
– A segunda atitude adequada para quem está, de verdade, sabendo que está em uma batalha espiritual é manter uma vida de oração. Dizem as Escrituras que, na batalha espiritual, devemos orar em todo o tempo com toda oração e súplica no Espírito (Ef.6:18).
A comunicação com Deus dá-se, preferentemente, pela oração e pela meditação na Palavra de Deus. Somente quem mantém uma vida de oração pode ouvir a voz de Deus, está acostumado a tal voz (Jo.10:14-16) e poderá ouvir a direção do Espírito Santo durante o “bom combate”.
– A terceira atitude de quem sabe que está numa batalha espiritual é a santidade. Quem luta contra o mal, sabe que não há hipótese alguma de vitória sobre a maldade sem que estejamos separados do pecado,
pois só quem estiver em comunhão com o Senhor, lavado e remido no sangue do Cordeiro, poderá vencer o maligno, pois só estes entrarão na cidade santa pelas portas (Ap.22:14). Quem não seguir a santificação, não verá o Senhor (Hb.12:14). Só os limpos de coração verão a Deus (Mt.5:8).
– Uma das consequências mais imediatas de uma vida de negligência com relação à batalha espiritual é o descuido com relação à santificação e à santidade. O próprio Jesus nos ensinou isto ao narrar a parábola dos dois servos.
O pecado é o fator que nos distancia de Deus (Is.59:2) e, se pecarmos e não confessarmos o pecado e o deixarmos, brevemente estaremos novamente aprisionados pelo pecado, derrotados na batalha espiritual.
– A quarta atitude de quem tem consciência de que está numa batalha espiritual é a presença do Espírito Santo em nossas vidas. Para termos o Espírito Santo em nós, é necessário que nos ajuntemos com o Senhor (I Co.6:17), ou seja, que tenhamos uma vida de comunhão com Deus, que desfrutemos da Sua intimidade, mediante a oração e a meditação da Palavra de Deus.
– Para termos o Espírito Santo em nós, temos de ter uma vida de separação do pecado, agindo sob a orientação divina, pois assim são os que andam segundo o espírito (Rm.8:1,5,9), o que faz com que não estejamos inclinados às coisas carnais, aos prazeres oferecidos pelo mundo.
Quem tem o Espírito Santo não O entristece (Ef.4:30), não mais praticando as obras que são próprias de quem vive segundo a carne (Gl.5:19-21; Ef.4:24-29,31,32).
Quem tem o Espírito Santo busca crescer espiritualmente, através do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais, mas, sobretudo, buscar conformar o seu caráter ao caráter de Cristo, procurando fazer aumentar em si, a cada instante, o amor de Deus (I Co.12:31).
– A quinta atitude de quem batalha contra o mal é o amor, o “caminho mais excelente” que deve ser buscado pelo cristão.
Quando aceitamos a fé, recebemos o amor de Deus em nossas vidas e este amor deve ser cultivado, aumentado e praticado em relação a Deus e ao próximo. Em relação a Deus, demonstraremos nosso amor se fizermos o que Ele nos manda através da Sua Palavra (Jo.15:14).
– O amor não é demonstrado por palavras ou por belas declarações, mas por gestos concretos e atitudes reais (I Jo.3:18).
De igual forma, temos de demonstrar nosso amor com relação ao próximo (Mt.22:39), que nada mais é que o reflexo do amor de Deus para conosco e para com toda a humanidade.
Somente quem ama a Deus e ao próximo, segue o exemplo de Cristo, dando a sua vida pelo irmão, mediante a luta para libertar o próximo do domínio do pecado e esta é a prova de temos o amor de Deus em nossos corações (I Jo.3:16).
– A sexta atitude de quem luta contra o mal é a fidelidade. Para ser vitorioso contra o maligno, a pessoa precisa perseverar até o fim (Mt.24:13).
Para receber a coroa da vida, temos de ser fiéis até a morte (Ap.2:10). Temos de manter o compromisso de cerrar fileiras após o Nosso Senhor e Salvador e, com Ele, “desfazer as obras do diabo”.
– Esforcemo-nos, portanto, para que sejamos vigilantes, tenhamos uma vida de oração, de santidade, cheia do Espírito Santo, com o verdadeiro e genuíno amor divino em nossos corações e com absoluta fidelidade e lealdade ao Senhor.
Não nos deixemos perturbar pela apostasia daqueles que se deixam enganar pelo inimigo dando ouvido a doutrinas de demônio e a espíritos enganadores (I Tm.4:1).
Nunca percamos de vista que a razão de ser da nossa fé é a vida eterna, é o convívio para sempre com nosso Senhor nas mansões celestiais. Vigiemos, pois, para que possamos resistir e, havendo feito tudo, ficar firmes.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/3741-licao-12-vivendo-em-constante-vigilancia-i