LIÇÃO Nº 13 – A MORTE DE ELISEU
26 de março de 2013
A morte de Eliseu mostra-nos a continuidade do ofício profético que somente se encerraria com Cristo Jesus.
INTRODUÇÃO
– Concluindo o estudo deste trimestre, estudaremos hoje os episódios finais do ministério do profeta Eliseu.
– A morte de Eliseu e suas circunstâncias mostram claramente que o ofício profético continuaria em Israel até que houvesse a completa restauração, o que se deu apenas com Cristo Jesus.
I – ELISEU E O REI JEOÁS
Estamos terminando o primeiro trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical deste ano de 2013, quando estudamos Elias e Eliseu, a fim de, através da biografia e ministério destes dois grandes homens de Deus, termos um norte, uma orientação como devemos nos conduzir nestes dias de apostasia espiritual que caracterizam o último período antes do arrebatamento da Igreja.
– Na lição de hoje, estudaremos os últimos episódios da vida e do ministério do profeta Eliseu, mais precisamente a sua última profecia, relativa à guerra de Israel contra a Síria nos tempos do rei Jeoás, como também a sua morte e seu último milagre, que foi realizado depois de sua morte.
– As circunstâncias da morte de Eliseu e seu milagre póstumo são sinais que o Senhor deixa para Israel no sentido de que o ofício profético, o ministério de restauração espiritual de Israel teria continuidade mesmo depois destes dois gigantes espirituais, pois a efetiva e permanente restauração somente se daria quando viesse aquele profeta que já fora anunciado por Moisés que, com sinais e maravilhas, traria a salvação, a saber, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Dt.18:18,19).
– Depois da unção de Jeú, feita por meio de um filho de profeta, o profeta Eliseu sai de cena no texto bíblico. Jeú executa todo o juízo divino sobre a casa de Acabe, cumprindo as profecias de Elias a respeito, mas não promove a restauração espiritual completa de Israel, pois mantém o culto aos bezerros de ouro, seguindo, assim, os pecados de Jeroboão, que seria a causa da destruição do reino de Israel (II Rs.10:29; 17:22,23), o que foi seguido pelo seu filho Jeoacaz (II Rs.13:2).
– Diante desta situação, o Senhor deu um “prazo de validade” para o reino de Israel, dizendo que a casa de Jeú somente reinaria até a quarta geração. Com efeito, depois que reinou o tataraneto de Jeú, Zacarias, o reino de Israel sofrerá uma grande decadência, com uma sucessão de reis que não conseguirão formar dinastias, até ser totalmente destruído pelos assírios.
– Eliseu, certamente ciente desta falha de Jeú e da palavra profética que dava à casa de Jeú apenas cinco reinados, prosseguiu na continuidade do ministério do profeta Elias, junto às escolas de profetas, preparando homens que dessem seguimento ao trabalho de ensino da Palavra de Deus e de manutenção de um remanescente fiel no meio do povo israelita, trabalho que frutificou tendo em vista os profetas que o Senhor continuou a levantar ao longo da história de Israel, como, por exemplo, Amitai e seu filho Jonas (II Rs.14:25) e Oseias.
– Com efeito, a partir de Elias, o papel do profeta sofre uma modificação no reino de Israel. Os profetas passam a ser confrontadores tanto da autoridade real quanto da classe sacerdotal, conclamando o povo à conversão e anunciando a iminência do juízo divino sobre o povo caso não se convertessem (II Rs.17:13,14), numa demonstração de que a situação espiritual de Israel se deteriorava rapidamente.
– “…Apareceu uma linha de profecia inteiramente diferente, baseada num novo sistema de harmonia religiosa. (…). Agora se ouvia a voz do profeta socialmente motivado, inflamado por uma paixão pela Humanidade, pela justiça e pela verdade. Mesmo o cronista desconhecido do livro de Samuel I reconhece claramente a diferença qualitativa entre o vidente e o profeta. Diz ele (9:9: “…aquele que é chamado agora de profeta era antes denominado vidente”). O próprio Samuel era chamado de ‘vidente’. Entre os primeiros dos Profetas autênticos, embora não tenha deixado qualquer registro de seus ensinamentos, está Elias de Tishbi, o ‘Trovejador de Deus’(…). O que era verdade para Elias também o era, igualmente, para os Profetas canônicos posteriores (e mais importantes também) — Amós, Isaías, Micah, Oseias, Jeremias, Ezequiel e os demais. Eles também atentaram para a ‘voz tranquila e suave’, ‘ouviram’ Deus dirigir-lhes a Palavra. Seguiam essa voz aonde ela os chamasse, qualquer que fosse o sacrifício que isso exigisse deles. Não havia outra saída, uma vez que rejeitavam qualquer concessão que tocasse a verdade tal como eles a concebiam e os princípios por eles respeitados” (AUSUBEL, Nathan. Bíblia: os profetas. In: A JUDAICA, v.5, pp.90-1).
– A partir de Elias, o ofício profético começa a trazer uma revelação progressiva de Deus, uma aprofundamento da promessa dada a Moisés a respeito do surgimento de um outro profeta que traria a restauração espiritual e definitiva de Israel, restauração esta que somente se daria com o surgimento de um outro profeta que, a exemplo de Moisés, Elias e Eliseu, também faria prodígios e sinais, mas que completaria a obra restauradora que estes não puderam fazer.
– Eliseu mostra aqui ser um fiel seguidor dos passos de Elias. Poderia, também, ter querido confrontar com Jeú, dele exigir a retirada do culto aos bezerros de ouro e gerar uma comoção social neste sentido, até porque teria “autoridade” para isto, vez que era reconhecido como homem de Deus inclusive fora das fronteiras de Israel e tinha sido o responsável pela unção do próprio Jeú. No entanto, Eliseu agia somente segundo a orientação divina e, portanto, após o extermínio da casa de Acabe, foi prosseguir o trabalho de Elias, passando a se dedicar às escolas dos profetas, assim como Elias havia agido depois que estivera no monte Horebe e, seguindo a direção divina, havia ungido o próprio Eliseu.
– Assim é que não haverá registro de qualquer atividade do profeta Eliseu por longos trinta e cinco anos, o período que durou os reinados de Jeú (28 anos – II Rs.10:36) e de seu filho Jeoacaz (17 anos – II Rs.13:1). Neste período, porém, conforme profetizado pelo próprio Eliseu quando da unção de Hazael (II Rs.8:11,12), este rei da Síria causou muitos males a Israel, assim como seu filho Bene-Hadade, que o sucedeu (II Rs.10:32,33; 13:3,4,22).
– Durante o reinado de Jeoás, filho de Jeoacaz e neto de Jeú, reinado que durou 16 anos (II Rs.13:10), rei que também manteve a prática dos pecados de Jeroboão (II Rs.13:11), Eliseu reaparece no cenário bíblico.
– Jeoás, ante novas investidas da Síria contra Israel, vai até onde estava o profeta, que se encontrava doente, a fim de pedir auxílio ao homem de Deus (II Rs.13:14). Seu pai Jeoacaz tinha conseguido diminuir a opressão da Síria sobre Israel porque havia clamado ao Senhor (II Rs.13:4). Assim, diante de nova ofensiva dos sírios contra os israelitas, o rei resolveu ir ao encontro de Eliseu, como que “lembrando” daquele homem de Deus que havia sido deixado de lado na vida nacional.
– A primeira observação que fazemos é que o profeta Eliseu, nesta época, já idoso, encontrava-se doente e, diz o texto sagrado, doença que levou à sua morte (II Rs.13:14). Temos aqui, portanto, uma demonstração cabal de que é mentira pura o que ensinam os teólogos da confissão positiva, ou seja, que o servo de Deus não adoece, uma vez que “Jesus levou todas as nossas enfermidades na cruz do Calvário”.
– Eliseu, apesar de ter curado Naamã da lepra, de ter tirado a morte da panela na escola de profetas de Gilgal, estava doente e haveria de morrer doente. A doença, neste caso, à evidência, não era fruto de qualquer pecado, pois, se assim o fosse, não teria profetizado e dado orientações ao rei Jeoás, em palavra profética que teve cabal cumprimento.
– A doença de Eliseu traz-nos um ensino precioso, qual seja, a de que a doença é uma realidade que acompanha o ser humano, mesmo o servo de Deus, neste mundo que sofre as consequências do pecado. A doença pode vir ao corpo do servo do Senhor, é algo a que estamos sujeitos, mas a doença não tem o condão de nos separar da comunhão com Deus. Eliseu estava doente, morreu doente, mas não perdeu a sua qualidade de santo homem de Deus. Aleluia!
– Jeoás vai à presença de Eliseu e o reconhece como “pai”, ou seja, admite, assim como fizera Jorão no passado (II Rs.6:21), que Eliseu era o sucessor de Elias, o homem de Deus daquele tempo, o principal dentre os profetas do Senhor. Há, ainda, quem considere que Jeoás, além de pedir auxílio ao profeta, foi fazer-lhe uma visita, sabendo que estava enfermo, num gesto de consideração e respeito pelo profeta.
– Diante do pedido do rei, Eliseu mandou que Jeoás tomasse um arco e flechas. Assim que o rei tomou o arco e flechas, Eliseu mandou que pusesse a sua mão sobre o arco e, em seguida, o profeta pôs as suas mãos sobre as mãos do rei (II Rs.13:16).
– Vemos aqui que o profeta Eliseu, ao pôr as suas mãos sobre as mãos do rei Jeoás, dá como que uma bênção ao rei, como diz o comentarista da Bíblia de Jerusalém, “comunica a força divina” ao monarca. Nem poderia ser diferente: naquele instante da vida de Israel, o rei, embora ocupando o trono com autorização divina (já que o próprio Senhor dissera que a casa de Jeú reinaria até a quarta geração), estava distante dos caminhos do Senhor, tendo em vista que prosseguia nos pecados de Jeroboão.
– Este gesto de Eliseu mostrava que o profeta tinha plena consciência do ministério que estava a desenvolver e que a restauração espiritual de Israel ficara agora na mão dos profetas, ante o fracasso da realeza e a ilegitimidade da classe sacerdotal. Eliseu sabia que seu ministério haveria de prosseguir, que a restauração espiritual não viria com ele, mas teria de esperar aquele que fora anunciado por Moisés.
– Eliseu, então, após pôr as suas mãos sobre as do rei, mandou que o rei abrisse a janela do quarto onde o profeta se encontrava acamado, janela que dava para o oriente, ou seja, para a direção da Síria, mandando que Jeoás atirasse flechas, pois aquela flecha significaria o livramento do Senhor, o livramento contra os sírios, pois o Senhor concederia que Jeoás ferisse os sírios em Afeca, que era uma cidade montanhosa perto de Bete-Tapua (Js.15:53), até que os consumisse (II Rs.13:17).
– O rei, então, tomou as flechas, conforme a ordem do profeta, que mandou que ele ferisse a terra com aquelas flechas, atirando-as pela janela. Entretanto, Jeoás apenas atirou três flechas e não mais do que isto. O profeta, então, indignou-se contra o rei e disse que ele deveria ter atirado cinco ou seis flechas, pois assim os sírios seriam destruídos, mas como ele atirara apenas três flechas, somente três vezes os sírios seriam vencidos (II Rs.13:19).
– Neste episódio, no ocaso da sua vida, o profeta Eliseu bem compreendia o estado espiritual em que se encontrava o povo de Israel. Uma fé débil, incapaz de obter a restauração espiritual. O fato de Jeoás ter ferido a terra apenas três vezes bem demonstrava ao profeta, e aí o motivo da sua indignação, de que o povo não tinha capacidade para destruir os seus inimigos.
– O reino ainda duraria um pouco, os sírios seriam vencidos por três vezes, mas o inimigo não seria destruído. A fragilidade da fé de Israel ficava evidente, não teria ele condições de ter uma vida descansada, uma vida de comunhão com o Senhor, uma vida em que pudesse exercer o seu papel de reino sacerdotal e povo santo, de propriedade peculiar de Deus dentre os povos.
– Eliseu tinha plena ciência de que seu trabalho teria que ter continuidade, de que ainda não chegara o tempo da remissão de Israel, da entrada em comunhão com o Senhor, do cumprimento de todas as promessas divinas para com aquela nação. O profeta, ante aquele gesto de Jeoás, chegava à nítida compreensão de que Israel sucumbiria pela sua desobediência e perderia até a Terra Prometida, como estava previsto na lei (Dt.28:63-68) e que somente então se daria, no futuro, a restauração prometida pelo Senhor (Dt.30:1-10).
– Assim como Eliseu profetizou, aconteceu. Jeoás guerreou contra Bene-Hadade, filho de Hazael, rei da Síria, por três vezes, e recuperou as cidades de Israel que os sírios haviam tomado, embora não tenha conseguido destruir os sírios (II Rs.13:25).
II – A MORTE DE ELISEU
– Eliseu estava doente quando o rei Jeoás foi visitá-lo e pedir-lhe ajuda e, diz-nos o texto sagrado, morreu da doença de que estava acometido (II Rs.13:14,20).
– Como já dissemos, esta doença de Eliseu é uma prova eloquente de que os servos do Senhor não se encontram imunes à enfermidade, nem tampouco imunes à morte física. Tanto uma quanto a outra são decorrências da entrada do pecado no mundo e, portanto, não podemos jamais dizer que alguém que serve a Cristo Jesus jamais ficará doente durante a sua peregrinação terrena ou que a doença é sempre fruto de pecado e de desobediência.
– Eliseu, enquanto estava enfermo, demonstrou cabalmente que continuava em comunhão com Deus, tanto que não só abençoou o rei Jeoás mas proferiu sua última profecia, dizendo que o rei venceria, por três vezes, os sírios, o que efetivamente aconteceu, prova de que se tratava de um homem de Deus, ainda que doente (Dt.18:21,22).
– Alguém pode indagar porque Eliseu, tendo “porção dobrada do espírito de Elias”, veio a morrer, enquanto que Elias não experimentou a morte. Não haveria aí uma contradição? Não teria Eliseu que ser também arrebatado, para mostrar que era o sucessor de Elias, já que lhe havia seguido todos os passos durante o seu ministério?
– Sem dúvida alguma, isto suscita mesmo alguma surpresa entre nós, pois, tendo feito tudo em dobro que fez Elias, tendo passado pelas mesmas circunstâncias, era de se esperar que Eliseu também fosse poupado da morte, como foi Elias.
– No entanto, não devemos ter uma dimensão horizontal, puramente racional, ao tratarmos deste assunto. Lembremos que Elias, cujo nome significa “Jeová é meu Deus”, viera mostrar aos israelitas que só o Senhor era Deus, que Baal era uma ilusão e, como tal, não era o dono da vida, como se supunha na mitologia fenício-cananeia. Assim, ao mesmo tempo em que profetizou a horrenda morte de todos os responsáveis pela institucionalização do culto a Baal, foi também poupado da morte para que os israelitas bem soubessem quem era o único e verdadeiro Deus, o dono da vida.
– Além disso, Elias, ao ser trasladado para os céus sem que tivesse ungido a Hazael, rei da Síria e a Jeú, rei de Israel, tendo, ao revés, ungido a Eliseu como profeta em seu lugar, dada também um sinal aos israelitas de que o seu ministério, esta nova fase do ofício profético em Israel, haveria de ter continuidade, não tinha terminado, mantendo viva a esperança messiânica no meio do povo de Deus e sinalizando que tal esperança deveria ser abeberada, a partir de então, entre os profetas, ante a falência da monarquia e a ilegitimidade da classe sacerdotal instituída por Jeroboão.
– Tanto assim é que, como vimos ao longo do trimestre, os judeus, tanto nos dias de Jesus como até hoje, ainda guardam a expectativa da “vinda de Elias”, têm bem presente em suas mentes a necessidade da continuidade do ministério daquele profeta, a indispensabilidade deste ofício profético como precursor da vinda do Messias.
– Já Eliseu, cujo nome significa “Deus é salvação”, veio mostrar aos israelitas que Deus não somente é o Senhor, mas também é o Salvador, um Deus que ama o Seu povo e que, além do Seu senhorio, quer providenciar a salvação, o escape de Seu povo. O ministério de Eliseu é pontuado pela manifestação da compaixão divina, pelo livramento das dificuldades, pelo atendimento das necessidades do povo. Ao seguir os passos de Elias, ao dar continuidade ao que Elias estivera a fazer, inclusive realizando em dobro tudo quanto Elias fez, o profeta já é uma indicação da continuação do ofício profético em sua nova feição e, portanto, não havia qualquer necessidade de Eliseu ser trasladado para dar este sinal ao povo, que já fora dado pela trasladação de Elias.
– Mas não é só! Ao morrer enfermo, Eliseu mostra, claramente, que o Salvador, o Deus que é salvação, haveria de morrer pela humanidade, de tomar sobre Si todas as enfermidades do povo (Is.53:4,5). O Deus que é dono da vida, que leva um servo Seu sem passar pela morte à glória, será o mesmo Deus que Se fará homem e morrerá em nosso lugar para nos propiciar a salvação.
– A morte de Eliseu não é, portanto, contradição alguma, mas uma revelação a mais que o Senhor dá ao Seu povo a respeito do Seu plano de redenção, um aprofundamento no descortinar do mistério da salvação do homem, que só seria completamente desvelado com o próprio Messias, com Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Como se não bastasse isso, Elias e Eliseu, como figuras daqueles homens e mulheres de Deus que atuam em momentos de apostasia espiritual, como é o caso da nossa geração da Igreja, muito provavelmente a última geração da dispensação da graça, também nos mostram que aqueles que combaterem a apostasia espiritual nos dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, terão dois destinos diferentes: uns, como Elias, serão arrebatados, porque estarão vivos quando da volta do Senhor Jesus para buscar a Sua noiva, serão transformados, sem passar pela morte; outros, como Eliseu, porém, experimentarão a morte, morrerão combatendo a apostasia antes do retorno do Senhor e, por isso, serão ressuscitados em corpo glorioso para, então, encontrar com os vivos transformados nos ares, para, então, estarem para sempre com o Senhor (I Ts.4:13-17).
– Vemos, portanto, que, ao contrário do que possa parecer, a morte de Eliseu está perfeitamente coerente com todo o significado dos ministérios de Elias e de Eliseu e até na sua morte, Eliseu mostra ter continuado o ministério de Elias.
III – O MILAGRE PÓSTUMO DE ELISEU
– A morte representa o fim de todas as coisas. Conhecida é o brocardo jurídico latino “mors omnia solvit” (Novellae 12,20), ou seja, “ a morte dissolve tudo”, “a morte põe fim a tudo”. Assim, com a morte de Eliseu, era de se esperar que seu ministério tivesse findado, ainda que, como já temos dito, o ofício profético teria continuidade através de outras pessoas.
– A trasladação de Elias havia deixado no povo de Israel, a partir dos próprios filhos dos profetas que testemunharam a abertura do rio Jordão por Eliseu, a nítida certeza de que o ministério de Elias havia prosseguido, agora através de Eliseu.
– Eliseu, pouco antes de morrer, havia tido a nítida percepção, através da fragilidade da fé de Jeoás, que também o ofício profético teria prosseguimento a partir de sua morte, o que, certamente, transmitiu aos filhos dos profetas que estavam sob a sua direção.
– No entanto, para o povo em geral, a morte de Eliseu poderia significar a crença de que o ofício profético havia findado. Afinal de contas, Eliseu não tinha deixado sucessor, como acontecera com Elias. A morte de Eliseu, enquanto tal, pareceria como um indicador do fim daquele período de manifestação de Deus através de profetas e poderia o povo deixar de ouvir os profetas que viessem depois.
– O Senhor, então, sabedor de que o povo de Israel precisava de sinais para ter fortalecida a sua esperança messiânica (cfr. Lc.11:16,29; I Co.1:22) e, mais do que isto, pudesse, por meio dos profetas que ainda seriam levantados, ter meios para manter viva tal esperança e prosseguir aguardando o Messias, não deixou que a morte de Eliseu tivesse este condão de término de tudo, de extinção de tudo.
– Pelo contrário, tendo Eliseu morrido e sido sepultado, ocorreu que, na entrada do ano, um grupo de israelitas estava se preparando para enterrar um homem, quando vieram um bando de moabitas que, naquela época, costumavam a invadir a terra de Israel, certamente para realizar alguns roubos.
– Diante da percepção que estes bandidos vinham, querendo refugiar-se daqueles marginais, os israelitas jogaram o corpo do homem no túmulo de Eliseu, a fim de que pudessem escapar daquele bando. Aquele homem, então, ao tocar nos ossos do profeta, ressuscitou (II Rs.13:21), o que foi notório a todo o povo.
– Mediante este sinal, o Senhor estava a mostrar a todos os israelitas que o ministério de Eliseu prosseguia mesmo após a sua morte, que o ofício profético ainda estava vivo, apesar da morte daquele homem de Deus. Por meio da morte, portanto, Deus dava a mesma mensagem que dera ao povo através da trasladação de Elias: a continuidade do ofício profético, agora oficialmente o único meio pelo qual o povo teria revelações progressivas de Deus, manteria a sua esperança messiânica.
– Mediante este sinal, também, o Senhor confirmava a “porção dobrada” dada a Eliseu, conforme pedira no instante da trasladação do profeta Elias (II Rs.2:9-12). Até a sua morte, Eliseu havia feito apenas 13 milagres, contra 7 milagres que haviam sido realizados por Elias. Com este milagre póstumo (ou seja, após a morte), Eliseu completava 14 milagres, exatamente o dobro dos sinais feitos por Elias, mostrando, pois, toda a fidelidade do Senhor.
– Mediante este sinal, o Senhor também, uma vez mais, mostrava a Israel e a nós que nossos ministérios são maiores do que as nossas pessoas. Eliseu já havia morrido, mas seu ministério prosseguia, a ponto de se realizar um milagre póstumo. Portanto, temos aqui uma demonstração cabal de que o bordão “enquanto você tem promessa de Deus, você não morre”, tão comumente anunciado em nossos púlpitos, é uma inverdade, não tem base bíblica. A promessa da “porção dobrada” dada a Eliseu se cumpriu após a sua morte. O compromisso do Senhor é com a Sua Palavra (Jr.1:12), não com a nossa existência terrena, que é passageira e fugaz, enquanto que a Sua Palavra permanece para sempre (I Pe.1:24,25). Lembremos disto, amados irmãos!
– O que o Senhor mostrou ao povo de Israel com a trasladação de Elias, ou seja, a continuidade do ofício profético até a vinda do Messias, mostra igualmente através da morte e deste milagre póstumo de Eliseu. Ao ser trasladado, Elias mostrou que o trabalho de Deus de restaurar o povo prosseguia em Israel, assim como Eliseu, ao morrer e fazer um milagre mesmo depois de morto, também indicava ao povo que o trabalho de Deus continuava apesar de seu passamento. De formas absolutamente contraditórias, o Senhor estava a dizer a mesma coisa, a nos mostrar que não podemos jamais reduzir Deus à lógica humana. Temos, pois, tão somente de confiar em Deus e seguir-Lhe a direção, sabendo que Seus pensamentos e caminhos são muito mais altos que nossos pensamentos e caminhos (Is.55:8,9).
– O milagre póstumo de Eliseu também mostrava que o povo deveria aguardar a realização de sinais como elemento comprovador da presença do Messias, Aquele que traria a efetiva restauração espiritual do povo. Elias havia sido trasladado, Eliseu morrera, mas haveria de vir um profeta como Moisés, a quem os israelitas deveriam ouvir, um profeta que não só traria mensagens de Deus, mas também operaria sinais e prodígios.
– Desde este milagre póstumo de Eliseu, não teremos mais notícia de sinais ou maravilhas realizados por profetas. Deus continuou a operar no meio do Seu povo, mas os profetas apenas traziam mensagens e profecias, sem realizar sinais ou prodígios. Os sinais produzidos por Elias e Eliseu haviam sido suficientes para impedir a apostasia total do povo, para a constituição de um sólido, ainda que diminuto, remanescente fiel, mas a nação não havia obtido ainda a restauração espiritual completa e perfeita.
– Somente com Jesus Cristo os sinais e prodígios reapareceriam no meio do povo de Israel. Até mesmo João Batista, o precursor do Messias, não realizou sinal algum, apesar do grande poder com que foi usado pelo Espírito Santo para levar o povo ao arrependimento (Jo.10:41,42).
– A presença de sinais e maravilhas no ministério do Senhor Cristo, portanto, foi a autenticação de que Jesus era o Cristo, o Messias prometido, mas, mesmo assim, o povo de Israel não O recebeu (Jo.1:12), abrindo-se, pois, a oportunidade para os gentios.
– Nós, como discípulos de Cristo, como membros do Seu corpo, temos de prosseguir com a realização de sinais e maravilhas, pois isto é uma demonstração a todos de que Jesus é o Cristo, o Messias, Aquele que havia de trazer a restauração espiritual não só de Israel, mas de todas as nações.
– Por isso, ao encerrarmos este trimestre, vejamos as características de Elias e de Eliseu, homens sujeitos às mesmas paixões que nós, mas que, num período de apostasia extrema, aceitaram a chamada divina e impediram que o povo se perdesse totalmente, mantendo viva a esperança messiânica e dando um novo norte ao ofício profético, que passou a ser um elemento de manutenção de um remanescente fiel que mantivesse a identidade do povo de Israel até a chegada do Messias.
– Em nossos dias, o Senhor também está a chamar Elias e Eliseus que venham combater a apostasia espiritual e manter um remanescente fiel que possa aguardar o Messias, que virá buscar a Sua Igreja antes do juízo que virá sobre a Terra. Estamos dispostos a atender este chamado? Será que teremos um ministério de poder para toda a Igreja? Que Deus nos permita responder afirmativamente. Amém!
Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco