Sem categoria

LIÇÃO Nº 13 – A VELHICE DE DAVI   

As últimas palavras de Davi foram proféticas, prova de que dormiu no Senhor, que perseverou em ser um homem segundo o coração de Deus.  

INTRODUÇÃO

– Terminando o estudo dos livros de Samuel, estudaremos a fase final da vida de Davi.  

– As últimas palavras de Davi foram proféticas, prova de que dormiu no Senhor, que perseverou em ser um homem segundo o coração de Deus.  

I – O EPÍLOGO DO SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL

– Estamos a terminar o estudo dos dois livros de Samuel e, nesta última lição, o tema posto para nós é sobre a velhice de Davi.  

– Na verdade, se formos rigorosos, em se tratando de um trimestre bíblico, ou seja, de estudo dos livros de Samuel, veremos que estes livros poucos detalhes dão sobre a velhice de Davi, tema que é mais minudentemente tratado no primeiro livro dos Reis e no primeiro livro das Crônicas, de modo que o tema proposta foge um pouco da proposta apresentada.  

– O segundo livro de Samuel, depois de narrar a rebelião de Absalão (e é o único livro das Escrituras a fazêlo, pois, no primeiro livro das Crônicas, não há a narrativa do negócio de Urias, o heteu e de suas consequências),

trata da sedição de Seba, de que já tratamos, ainda que mui sucintamente na lição anterior, uma outra rebelião contra o rei Davi, que foi sufocada pelos irmãos Joabe e Abisai, dois dos três comandantes do exército de Davi, sendo que Joabe era o principal comandante (II Sm.20).  

– Segundo Edward Reese e Frank Klassen, cronologistas bíblicos, a rebelião de Absalão ocorreu em 993 a.C., ou seja, no 32º ano do reinado de Davi, tendo retornado ao trono no ano seguinte, ou seja, após a recuperação do reino, Davi ainda reinou 7 anos, tendo sido neste mesmo ano a rebelião de Seba, logo sufocada.  

– Completamente consolidada a retomada do poder por Davi, teve ele de enfrentar um outro problema, desta feita, um problema causado por Saul e que foi posto à tona pelo próprio Deus. Iniciou-se uma fome, que durou três anos.  

– Tudo indica que esta fome, no início, foi tratada por Davi como um fenômeno natural, já que, sabemos, tais ocorrências eram cíclicas na terra de Canaã, como vemos na história dos patriarcas Abraão (Gn.12:10), Isaque (Gn.26:1) e Jacó (Gn.42:5).

– No entanto, quando a fome entrou no seu terceiro ano, Davi percebeu que as coisas estavam além do natural e consultou ao Senhor, tendo, então, Deus informado o rei que a causa da fome era o fato de Saul ter matado os gibeonitas (II Sm.21:1,2), quebrando, assim, a aliança que Israel firmara com eles nos dias de Josué (Js.9:3,15-17).  

– Davi, então, chamou os gibeonitas a fim de que pudesse repará-los, tendo, então, eles pedido que lhes fossem dados sete homens, descendentes de Saul, para que fossem enforcados, tendo Davi os atendido, poupando, entretanto,

Mefibosete, diante da aliança que firmara com Jônatas, tendo sido, então, mortos dois filhos que Saul tivera com sua concubina Rizpa, como também cinco netos de Saul, o que representou o fim da linhagem de Saul (II Sm.21:3-14).  

– Este episódio mostra-nos que Deus não é desatento para com os compromissos assumidos, como também que ouve o clamor dos desvalidos, daqueles que não têm a quem recorrer. Saul, em sua “santarronice”,

quis exterminar os gibeonitas, querendo, com isso, resolver um erro que os israelitas haviam cometido ao se deixar enganar por aqueles habitantes.

Entretanto, enganados ou não, os israelitas haviam prometido poupar a vida dos gibeonitas e esta promessa não fora anulada pelo Senhor.  

– Os anos haviam se passado, parecia que Deus não havia “prestado atenção” nisto, mas era um ledo engano.

Chegou o tempo de se reparar a justiça e o Senhor se incumbiu de fazê-lo. Mostrava que era Ele quem reinava efetivamente sobre israel, embora houvesse um rei.   

– Aprendamos esta lição: Deus é justo e nada ficará impune. Deixemos com Ele a execução da justiça, pois a vingança é d’Ele e d’Ele só (Dt.32:35; Rm.12:19; Hb.10:30).  

– Em seguida, o texto do segundo livro de Samuel trata das últimas guerras que Dani empreenderia contra os filisteus e que ocorreram, segundo Reese e Klassen, em 988 a.C., ou seja, três anos antes do término do reinado de Davi, onde se pode dizer que se tem, efetivamente, o início da velhice do rei.  

– Isto porque, na primeira destas batalhas, Davi se cansou, o que antes jamais havia ocorrido, e o rei quase morreu, porque um dos filhos de Golias, Isbi-Benobe, tentou matar Davi, percebendo a sua fadiga, o que somente não ocorreu porque Abisai saiu em socorro do rei e matou o filho do gigante.

A partir de então, por decisão dos seus próprios soldados, Davi não mais saiu em batalha. Havia chegado a velhice para o monarca (II Sm.21:15-17).  

– Vemos, pois, que, também para Davi, chegou o tempo da velhice, algo que é inexorável e inevitável, com exceção daqueles que morrem jovens. Estamos debaixo do influxo do tempo, não podemos controla-lo e devemos nos adaptar às mudanças decorrentes de cada faixa etária.  

– O fato é que a velhice, como qualquer outra faixa etária, tem as suas peculiaridades e devemos todos não lutar contra a natureza, assumindo as limitações próprias da idade. Davi não teimou, assumiu que não tinha mais condições de ir ao campo da batalha e o Senhor honrou a sua consciência, tanto que o texto narra que houve, ainda,

mais três batalhas contra os filisteus e, em cada uma delas, morreu um dos filhos do gigante Golias, de modo que, mesmo sem Davi poder sair à guerra, Deus deu vitória a Israel sobre os filisteus, finalmente pondo fim ao poderio bélico daquele povo que tanto tinha atormentado e, ainda por cima, como “cereja do bolo”, também exterminando a descendência de Golias.

– Este episódio tem um sentido espiritual importante. Devemos lutar contra o mal usando de todas as nossas forças, mas sabendo de nossas limitações e que devemos, sim, confiar no Senhor que, indo além da nossa capacidade, saberá esmagar a força do inimigo. Façamos a nossa parte que Deus, que é fiel, sempre fará a dele. Aleluia!  

– O compilador dos livros de Samuel (que muitos acham ter sido o profeta Isaías), logo após esta narrativa da destruição do poder bélico dos filisteus (não confundamos, a partir de então, nunca mais os filisteus se levantariam contra Israel em guerra, mas isto não significa que tivessem sido exterminados como povo),

registra aqui um salmo de Davi, um salmo de gratidão pelo livramento de todos os seus inimigos e das mãos de Saul, que é o Salmo 18, que Reese e Klassen dizem ter sido composto por volta de 1010 a.C., logo após Davi ter concluído a conquista das terras que dariam a Israel praticamente as mesmas fronteiras prometidas pelo Senhor a Abraão.

– A colocação deste salmo aqui não foi desarrazoada. Embora cronologicamente não esteja no lugar certo, o fato é que este salmo mostra algumas verdades exatamente por ter sido posto aqui, quando há o cumprimento da promessa divina de que Davi livraria Israel dos filisteus, terminando um processo que começara com Sansão.  

– Por primeiro, o compilador quer lembrar que Davi era um profeta, ou seja, alguém que tinha a Palavra de Deus e que recebera mensagens da parte do Senhor.

Este salmo, portanto, encontrava seu pleno e integral cumprimento agora, quando Davi já estava velho e, inclusive, nem sequer indo à guerra.

Era a prova indelével de que o Senhor vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12) e que isto independia do homem, tanto que o cumprimento se dava depois que Davi já não pegava mais em armas. 

– Por segundo, o compilador quer mostrar que o livramento de Israel dos filisteus se deveu a Deus e a mais ninguém.

Sansão, Eli, Samuel e Saul foram incapazes de libertar Israel dos filisteus, e Davi, embora tenha sido bem sucedido, não o foi por sua força, já que a aniquilação do poder bélico se deu quando não mais pôde ir à guerra.

Tudo foi obra do Senhor que, paulatinamente, foi dando a Israel esta vitória. Não é à toa que o salmo começa dizendo que “O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador” (II Sm.22:2).  

– Por terceiro, o compilador mostra que Deus sempre esteve no controle de todas as coisas. Desde os dias de Sansão, com idas e vindas, houve guerra entre Israel e os filisteus, havendo instantes em que os filisteus pareciam ter vencido de forma irreversível, quando, por exemplo, inclusive chegaram a tomar a arca da aliança.

Mas o fato é que Deus tinha o compromisso com o Seu povo e já havia dito, lá para a mãe de Sansão, que haveria, um dia, o livramento de Israel da mão dos filisteus. Segundo Reese e Klassen,

entre a fala do Anjo do Senhor (que se entende seja uma teofania) à mulher de Manoá até a derrota dos filisteus quando se deu a morte do último dos filhos do gigante, cujo nome não é dado nas Escrituras, decorreu um período de 139 anos, mas o fato é que se cumpriu a promessa e o intento do Senhor, pois operando Ele quem impedirá? (Is.43:13).  

– Por quarto, o compilador ressalta aqui que a principal característica de Davi não era a de ser guerreiro, mas, sim, o de ser profeta, o homem segundo o coração de Deus.

A vitória vem quando Davi não pode mais lutar, não pode mais ir ao campo de batalha, mas, ao registrar o salmo em que o rei profetizara a vitória sobre os inimigos, o compilador está a indicar que a grande força do rei não era o fato de ser guerreiro, mas, sim, o de servir a Deus, mesmo com todas as suas imperfeições, que o livro, aliás, não teve qualquer receio em narrar.  

– Esta circunstância faz-nos lembrar o que disse o apóstolo Paulo em sua última carta, dirigida a seu filho na fé, Timóteo, em que afirma que havia combatido o bom combate e acabado a carreira, mas, e isto era o mais importante, guardado a fé (II Tm.4:7). De nada adianta lutarmos se, ao final, perdermos a fé.

Nossa dimensão deve ser sempre a eternidade  e, a exemplo dos patriarcas, que tinham esta visão (Hb.11:9,10,1416), também era esta a dimensão almejada por Davi, que sabia que Deus estava em Seu templo (II Sm.22:7),

nos céus (II Sm.22:15) e que tinha uma conduta que procurava não se afastar de Deus, guardar os Seus caminhos, ser reto (II Sm.22:21-25), um Deus que vive e que deve ser exaltado para sempre (II Sm.22:47).  

II – O RECENSEAMENTO DE ISRAEL  

– Mas Davi, mesmo envelhecido, não deixou de ser homem e, por isso, sujeito ao pecado. E o rei haveria de cometer mais um pecado, a saber, mandou que se fizesse um recenseamento, ou seja, que se contasse o número de israelitas, para que soubesse qual era o número de seus súditos (II Sm.24:1).  

– Davi retoma a estabilidade de seu reino, sufocando exemplarmente a revolta dos filisteus. Não há mais quaisquer adversários externos ou internos que pudessem perturbar seu reino e, deste modo, poderia se dedicar com afinco à sua tarefa de deixar tudo pronto para que o seu sucessor viesse a construir o templo ao Senhor em Jerusalém.  

– Entretanto, se Davi não tinha mais adversários externos ou internos a enfrentar, tinha um inimigo que não havia desistido de lutar contra ele: o diabo. A Bíblia é clara ao dizer que Davi foi incitado pelo diabo para  que numerasse o povo (I Cr.21:1).

É verdade que o texto de II Sm.24:1 diz que “a ira do Senhor se tornou a acender contra Israel e incitou Davi”. Então, como ficamos: foi Deus ou o diabo quem incitou Davi a numerar o povo?  

– Não devemos nos esquecer que os textos de Samuel e de Crônicas foram escritos com grande diferença de anos.

Samuel foi escrito provavelmente durante os reinados de Saul, Davi e Salomão pelos profetas Samuel, Natã e Gade, enquanto que os livros de Crônicas foram escritos muitos séculos depois, segundo a tradição judaica, por Esdras.

Tal distância de tempo leva-nos a entender dois importantes fatores:

a) um texto praticamente contemporâneo tende a não ter a mesma profundidade e análise de um texto muito mais tardio, que não se deixa influenciar pelo momento dos fatos.

b) textos muito distantes temporalmente no Antigo Testamento são textos que se encontram em estágios diferentes da revelação divina a Israel – quanto mais tardio o texto, maior a revelação recebida, pois a revelação foi progressiva até a vinda do Messias, quando chegou à Sua plenitude (Hb.1:1).

– Diante destas circunstâncias, vemos, claramente, que, em II Sm.24:1, não havia condições históricas, políticas e espirituais para que se dissesse que Davi havia sido incitado pelo diabo para fazer o que havia feito.

Já em Crônicas, quando não havia mais tais fatores obstativos, bem como uma revelação maior, tem-se que tal declaração não causa o mesmo choque e rejeição que haveria na oportunidade do primeiro texto. 

– Foi, pois, mesmo o diabo quem incitou Davi para que numerasse o povo. Deus Se mostrou irado com Israel, não explicitando o texto o porquê de tal ira.

Talvez, diante da rebelião de Seba, quando Israel questionou a aliança que havia feito com Davi e, assim, a própria escolha divina para que Davi reinasse sobre Israel, o que foi expressamente reconhecido neste pacto (II Sm.5:1-3), ou, mesmo,

a traição cometida pela tribo de Judá na rebelião de Absalão, quando todo o povo pendeu para o usurpador, abandonando Davi, inclusive o povo que habitava em Jerusalém (II Sm.15:13; 16:15).  

– Como Davi disse no Salmo 36, o melhor lugar onde devemos estar é sob a sombra das asas do Senhor, no “esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente”, como diz o salmista anônimo que compôs o Salmo 91 (Sl.91:1).

Quando o Senhor nos nega a Sua misericórdia, em razão da Sua justiça, então não temos como escapar, pois estaremos debaixo da ira de Deus (Jo.3:36).  

– O fato é que Deus havia Se desagradado de Israel com as atitudes de rebelião que havia tomado contra o Seu ungido e, como o pecado de rebelião é como o pecado de feitiçaria (I Sm.15:23), Deus retirou a Sua mão de sobre o povo e, como resultado disto, o diabo pôde tentar a Davi num capítulo em que Davi era difícil de ser atingido: na vaidade.  

– O diabo veio a Davi e começou a lhe mostrar a grandeza do seu reino, a magnificência de seu governo e, diante disto, incitou Davi a que efetuasse um recenseamento, para que soubesse quantos súditos ele tinha.

A princípio, tratava-se de uma medida extremamente benigna não só para o rei, mas para todo o povo, pois, sabendo qual era a população de Israel, Davi poderia melhor administrar o país, inclusive para fins de arrecadação e do que hoje se denomina de “formulação de políticas públicas”, como, aliás, vemos ocorrer decenalmente no Brasil, quando são feitos os recenseamentos pelo IBGE.  

– No entanto, esta medida, aparentemente salutar, afrontava diretamente a lei de Moisés. Na lei, vemos somente duas oportunidades em que o povo foi contado, as duas vezes no deserto, ambas por ordem de Deus: a primeira, no primeiro dia do mês segundo, do segundo ano da saída do Egito (Nm.1:1); a segunda, trinta e oito anos depois (Nm.26:1-4; Dt.2:14).  

– Ambos os recenseamentos foram determinados expressamente por Deus e tinham objetivos atinentes ao relacionamento de Deus com o Seu povo: no primeiro recenseamento, descobriu-se quem estava pronto a ir à guerra de cada tribo (só eram contados os homens de vinte anos para cima, com exceção dos levitas)

bem como se tornou possível a remissão dos primogênitos, que foram substituídos pelos levitas como “a porção do Senhor” no meio do povo (motivo por que foram contados, então, todos os homens levitas, independentemente da idade).

No segundo, Deus mostrou como havia cumprido a Sua palavra a respeito da morte de toda a geração do êxodo, com exceção de Josué e de Calebe (Nm.26:63-65).  

– Como bem notou Russel Shedd (1929-2016), “…o censo regia-se por cláusulas especiais da lei (Ex.30:1215; Nm.1:2-4, 47-49).

Não podiam ser contados os levitas, as mulheres e pessoas menores de vinte anos e, quando o censo era comum, orientava-se comente pelo motivo de resgate, uma espécie de imposto per capitã (religioso), para o Senhor…” (BÍBLIA SHEDD, com. I Sm.24:1, p.474) (destaque original).  

– Ora, a decisão tomada por Davi não provinha de qualquer ordem da parte do Senhor. Davi tomava a iniciativa de numerar o povo sem que Deus o mandasse. Era resultado de uma incitação satânica que, como afirma Matthew Henry, resultou de uma tentação de vaidade, de uma manifestação de orgulho no coração de Davi.

“…O que havia de pior na numeração do povo foi que Davi fez isto na soberba de seu coração, assim como o pecado de Ezequias foi mostrar seus tesouro para os embaixadores.

[O recenseamento} era resultado de seu sentimento de grandeza própria em ter o comando de um povo tão numeroso, cujo crescimento, em vez de ser considerado como uma bênção de Deus, passou a ser por ele atribuído a seu próprio esforço.

[O recenseamento] era uma demonstração de orgulhosa confiança em sua própria força. Publicando entre as nações o número de seu povo, ele {Davi] pensou que pareceria o mais formidável, e ninguém duvidaria disso, e se ele tivesse que enfrentar alguma outra guerra, ele sobreporia seus inimigos com a multidão de suas forças, em vez de confiar apenas em Deus…” (Comentários de toda a Bíblia, com. a II Sm.27. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/Commentaries/MatthewHenryComplete/mhccom.cgi?book=2sa&chapter=024 Acesso em 30 out. 2009) (tradução nossa de texto em inglês).  

– A determinação de numeração do povo envolvia, pois, uma manifestação de soberba por parte de Davi, que tanto se notabilizara pela sua humildade até então. Deus retirara sua mão e Davi não soube resistir à incitação satânica e se achou poderoso e forte.

Talvez sensibilizado pelo fato de não mais poder ir à guerra, tentou “compensar” a “reforma militar” com dados estatísticos que denunciassem aos inimigos a força de seu exército e o número de seu povo, a fim de “dissuadir” quaisquer inimigos.

Davi esquecera-se completamente de que não dependia de cavalos, nem de cavaleiros, mas única e exclusivamente do Senhor dos Exércitos.  

– Quantos não procedem da mesma maneira na atualidade? Quantos que não confiam na força do seu braço, no número dos membros de sua igreja local, na sua fama, na consideração e respeito que desperta nos círculos e ambientes que frequenta?

É triste quando o homem se deixa levar pela vaidade, pelo orgulho, pela soberba, pois a Bíblia é taxativa ao dizer que este comportamento não tem a aprovação divina, sendo certo que Deus humilha aqueles que se exaltam (Ez.21:26; Lc.18:14) .  

– Joabe, ao receber a ordem do rei para recensear o povo, ainda tentou argumentar com Davi. Apesar de toda a sua conduta malévola ao longo dos anos, Joabe sempre procurou resguardar a imagem do rei Davi.

Era pessoa leal ao rei e que, sempre que podia, procurava impedir que o rei tomasse alguma deliberação que arranhasse a sua autoridade.

Joabe fez ver ao rei que a numeração do povo era desnecessária e afrontaria a Deus, mas, como a ira do Senhor estava sobre o povo, como Davi sucumbira à incitação maligna, não teve força para impedir o recenseamento (II Sm.24:3,4; I Cr.21:2-4).  

– Diante desta circunstância, não pôde Joabe fazer outra coisa senão numerar o povo, tendo, então, andado por todo o reino a fim de contar o povo, tendo chegado à soma de um milhão e cem mil homens de Israel e quatrocentos e setenta mil homens de Judá (I Cr.21:5) ou,

na numeração que consta em II Sm.24:9, oitocentos mil homens de Israel e quinhentos mil homens de Judá, não tendo, porém, sido contados por Joabe nem os levitas nem os benjaminitas, por decisão do próprio Joabe. O recenseamento durou nove meses e vinte dias (II Sm.24:8).  

– Notemos aqui que, embora Deus tivesse permitido que se fizesse o recenseamento, não se realizou ele como queria Davi.

Joabe não contou os levitas nem os benjaminitas, o que parece que não era a ordem de Davi, que queria que todos fossem contados. Joabe assim procedeu diante das características dos recenseamentos anteriores, procurando violar o menos possível a lei do Senhor.

Também não contou a Benjamim pois sabia que eventual recenseamento dessa tribo poderia trazer problemas políticos a Davi, diante da recente sedição de Seba e de todo o ressentimento existente entre a casa de Saul e a casa de Davi.  

– A diferença de números nos dois relatos do recenseamento também não pode ser objeto de estranheza pelo leitor da Bíblia.

Aqui, mais uma vez, temos a questão da diferença de tempo entre os dois textos, sendo certo que o texto de II Sm.24, bem mais recente e sob o impacto dos acontecimentos, efetivamente não fez um relato minudente de um episódio que trouxe a ira de Deus sobre o povo.  

III – DAVI ARREPENDE-SE DO PECADO COMETIDO E ESCOLHE A PUNIÇÃO  

– O fato é que, apesar de ter feito o recenseamento meio que à revelia do que mandou o rei, quando Joabe veio trazer o resultado e a soma para Davi, o rei mostrou, uma vez mais, que era um homem segundo o coração de Deus.

Havia, sim, pecado e, ao receber o relato do recenseamento, sentiu o entristecimento divino com sua atitude. A Bíblia diz que “doeu o coração de Davi” com este gesto e confessou o seu pecado, pedindo a Deus que lhe fosse tirada esta iniquidade (II Sm.24:10; I Cr.21:7,8).  

– Não estamos livres de pecar, pois não há homem que não peque (I Rs.8:46; II Cr.6:36), mas, quando pecamos, precisamos ter a sensibilidade espiritual para que peçamos perdão ao Senhor Jesus, o mais rapidamente possível, pedindo-Lhe perdão (I Jo.2:1,2).

O homem que é salvo em Cristo Jesus não está, ainda, livre de pecar, enquanto não passa para a dimensão eterna, mas o pecado é um acidente, visto que os filhos de Deus não vivem pecando (I Jo.3:6-9).  

– Davi realmente se arrependeu de seu pecado e publicamente o confessou, no instante mesmo em que lhe era passado o relatório do recenseamento mal feito por Joabe.

Tanto estava arrependido que nem questionou seu comandante do exército quanto ao descumprimento de suas ordens, tendo tão somente pedido perdão a Deus pelo erro cometido.

Arrependimento envolve mudança de mentalidade, mudança de vida. Temos, realmente, nos arrependido de nossos pecados e pedido perdão?  

– Apesar de Davi ter se arrependido do mal que cometera, como sempre, há uma consequência decorrente deste erro.

No dia seguinte à confissão, por ordem do Senhor, o profeta Gade trouxe uma mensagem para o rei: o Senhor propunha três penalidades para o pecado cometido, a saber (II Sm.24:13; I Cr.21:12):

a) sete (ou três) anos de fome sobre a terra

b) três meses de perseguição de Davi por seus inimigos

c) três dias de peste sobre a terra

– Muitos indagam porque Deus permitiu a Davi que escolhesse que pena sofreria por causa do pecado cometido.

Por que Deus não determinou logo o que aconteceria? Por que deixar esta escolha para o próprio Davi?

Precisamente para que Davi experimentasse que era, sim, o ungido do Senhor, o escolhido para reinar sobre Israel, mas que, acima de tudo dependia de Deus.

Esta experiência da escolha da penalidade era apenas uma demonstração de Deus de que Davi era o escolhido mas devia obediência ao Senhor.

Até hoje, quando se quer demonstrar quem é, efetivamente, o detentor do poder, utiliza-se da fórmula da “lista tríplice”, ou seja, alguém que está à testa de um determinado organismo ou repartição tem limitado o seu poder mediante a escolha de alternativas feitas por outra pessoa ou órgão.

Davi tinha, assim, o aprendizado de que não poderia se ensoberbecer, mas manter-se humilde diante do Senhor.  

– A escolha feita por Davi parece ter sido motivada por interesses egoísticos. Em vez de escolher sofrer por três meses diante de seus inimigos, Davi preferiu que viesse uma peste sobre o povo de Israel.

 Apesar desta aparência de egocentrismo, na verdade, a escolha de Davi foi inspirada pelo Espírito Santo.

Como tinha se arrependido de seus pecados, Davi estava na direção do Senhor e, como tal, escolheu a pena que era a mais justa, visto que teve o devido discernimento de que seu pecado tinha como causa a má conduta do próprio povo de Israel.

– Davi não poderia escolher fugir da presença de seus inimigos, porque Israel já o havia feito fugir de Absalão.

Com relação à fome, Israel já tinha sofrido fome por causa do que Saul havia feito sobre os gibeonitas, não querendo o rei que se tivesse um outro período de escassez.

Davi pediu a pena que atingiria os culpados, no caso, o povo de Israel, no período mais breve de tempo, ou seja, apenas três dias (II Sm.24:14; I Cr.21:13).

– Nesta resposta, também, Davi mostra que é muito melhor confiar na misericórdia de Deus do que nos homens.

Nas mãos do Senhor, até a penalidade é mais branda, mais piedosa, enquanto que, nas mãos dos homens, até os louvores e as benesses são vis.

Davi também mostrava ao povo que fora um tolo em confiar no seu próprio braço e que o povo de Israel deveria confiar única e exclusivamente em Deus.

IV – A INTERCESSÃO DE DAVI PELO POVO E O SACRIFÍCIO QUE APLACA A IRA DE DEUS  

– Veio, pois, a peste sobre o povo, tendo morrido setenta mil homens (II Sm.24:15; I Cr.21:14). Até o tempo determinado, morreu toda esta gente e, então, o Senhor mandou que um anjo destruísse Jerusalém.

Quando o ser celestial estava para realizar a operação, o Senhor não o fez, em virtude da intercessão de Davi.

Quando Davi pediu a penalidade, clamou pela misericórdia do Senhor, pediu que o Senhor usasse da Sua misericórdia no tratamento com o povo.

Por esta oração intercessória do rei, no momento mesmo em que escolhera a penalidade da peste como punição pelo recenseamento, o Senhor não determinou a destruição do povo.  

– Temos aqui uma demonstração clara de que os juízos de Deus são condicionais ao comportamento do homem, como bem explana a respeito o profeta Jeremias em Jr.18:7-10.

Havendo sincero arrependimento por parte do povo, contrição e quebrantamento de coração, o Senhor não resiste a tais manifestações humanas e usa da Sua misericórdia (Sl.51:17; Is.57:15).

A oração intercessória de Davi teve este efeito, porquanto Davi havia se arrependido do mal que fizera e para o for incitado em virtude do pecado do próprio povo em relação a ele mesmo.  

– É interessante vermos que, assim como Davi, logo pela manhã, havia recebido a visita do profeta Gade, no dia seguinte à confissão de seu pecado, também estava de manhã acordado e acompanhando o que se passava em Jerusalém.

Davi não era um homem ocioso, mas alguém que, logo cedo, estava já em plena atividade e, o que se mostra mais importante, atividade relacionada com o culto a Deus, com a adoração ao Senhor.

De manhã, entrevistou-se num dia com o profeta; no outro, estava em estado espiritual tão elevado que o Senhor lhe deu a visão do anjo destruidor entre a terra e o céu com a espada desembainhada na sua mão estendida contra Jerusalém (II Sm.24:16; I Cr.21:16).  

– Como têm sido as nossas manhãs? Como esta a nossa vida devocional com Deus? Será que temos estado com o profeta (isto é, com a Palavra de Deus, que é a maior de todas as profecias)?

Será que temos estado num ambiente espiritual que possamos ter visões vindas diretamente do Senhor?

Será que nossa visão deste mundo é a da ira de Deus permanecendo sobre todo aquele que não crê que Jesus é o único Senhor e Salvador do mundo e que tal visão nos impele a clamar a Deus para sermos instrumentos para o anúncio da salvação da humanidade na pessoa de Jesus Cristo?

– Ao ter a visão do anjo destruidor, Davi outra reação não teve senão pedir ao Senhor que a culpa pelo recenseamento caísse sobre ele e não sobre o povo.

Havia sido ele quem havia contado o povo, não a população que padecia pelo erro cometido pelo rei. Davi chama ao povo de “ovelhas” e pede que o castigo caísse sobre ele e sobre a sua casa, não mais se castigando o povo (II Sm.24:17; I Cr.21:17).

– Davi chega ao ápice de sua oração intercessória. Já havia pedido a misericórdia do Senhor sobre o povo quando da escolha da punição e, não resistindo ao sofrimento do povo, tendo compaixão por ele, como verdadeiro pastor, pede para que o Senhor cessasse o castigo sobre o povo e punisse a ele e a sua casa.

Repetia, assim, o mesmo gesto de Moisés que pediu que Deus riscasse seu nome do livro da vida, caso não favorecesse o povo de Israel (Ex.31:31,32).

– Davi aqui prefigura o seu descendente, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que tomou sobre si o nosso castigo e, em lugar dele, nos deu a paz (Is.53:5).

O pedido de Davi não foi feito apenas em favor de Israel, mas de todo o povo de Deus, pois, efetivamente, sobre a casa de Davi, sobre o Senhor Jesus recaiu o pecado não só dos israelitas do tempo de Davi, mas os pecados do próprio Davi, enfim, os pecados de todo o mundo (I Jo.2:2).

Nunca devemos nos esquecer que, se vida espiritual temos, isto se deve ao sacrifício de Jesus no Calvário, ao fato de Ele ter tomado sobre Si os nossos pecados. Como diz o pastor e poeta sacro José Teixeira de Lima:

“Meus pecados levou, na cruz onde morreu, o sublime e meigo Jesus; os desprezos sofreu, a minh’alma salvou e mudou minhas trevas em luz” (refrão do hino 484 da Harpa Cristã).  

– O verdadeiro líder é aquele que sente compaixão pelos seus liderados. Davi sentiu o sofrimento daqueles que morriam com a peste e pediu que a peste recaísse sobre ele e sobre sua casa, visto que ele havia numerado o povo.

Sabia, pelo discernimento espiritual, que Deus não estava sendo injusto ao matar o povo, pois fora Israel quem pecara ao se rebelar contra o Senhor, quebrando o pacto com Davi e, por duas oportunidades,

tendo ficado ao lado dos que queriam apeá-lo do poder, mas o próprio Davi, apesar disto tudo, não pôde suportar aquela cena de sofrimento e pediu que pagasse, em lugar do povo, pelo pecado, já que fora ele o móvel pelo qual a ira de Deus se manifestara sobre Israel.  

– Jesus também sentiu compaixão pelos homens e nós, como integrantes de Seu corpo, também devemos ter este mesmo sentimento.

Entretanto, nos dias hodiernos, muitos cuidam tão somente dos seus interesses, não dos de Cristo Jesus (Fp.2:21), negando, assim, o ministério que receberam da parte do Senhor.

Davi viu o povo não como alguém que estava sofrendo uma justa punição divina, mas como “ovelhas do pasto do Senhor” (Sl.100:3), condição que assumiram não por seus méritos, mas pela misericórdia do Senhor.

Como seríamos diferentes em nossos relacionamentos com os irmãos se sempre nos lembrássemos desta verdade bíblica.

– Deus ouviu o clamor de Davi e mandou que o profeta Gade levasse a ele uma mensagem: a de que ele deveria levantar um altar ao Senhor na eira de Araúna (ou Ornã), o jebuseu, precisamente onde se encontrava o anjo visto por Davi. Com este sacrifício, Deus aplacaria a Sua ira sobre o povo de Israel.

– Por que o anjo do Senhor parou justamente na eira de Araúna (ou Ornã), o jebuseu? Porque era o único pedaço de Jerusalém que ainda estava nas mãos dos jebuseus, que ainda não tinha sido conquistado pelo povo de Israel.

Pelo que se verifica do texto sagrado, Araúna e Ornã tinham um bom relacionamento, não se sabendo porque, mas o fato é que aquela área continuava fora do controle de Davi e de Israel.

Jerusalém tinha sido escolhida pelo Senhor para ser o lugar da Sua presença e, precisamente, o local que o Senhor havia escolhido para a construção do templo continuava, imperceptível, em poder de um incircunciso, de alguém que não pertencia ao povo de Israel.  

– Deus permitiu que Satanás incitasse Davi e que houvesse o cometimento do pecado não só para que a justiça se fizesse sobre Israel, mas, também, para que o último resquício jebuseu fosse terminado em Jerusalém.

Ainda havia uma quase que imperceptível “escória” na pureza de Jerusalém: a eira de Araúna (ou Ornã). Ao tentar destruir todo o povo, o diabo perde o obstáculo que se mantinha para que a glória do Senhor viesse a Jerusalém no templo.  

– Qual é a nossa eira de Araúna (ou Ornã), o jebuseu? Qual é aquele imperceptível ponto de nossa vida que ainda não se submeteu ao senhorio de Deus, que ainda resiste a uma vida espiritual abundante que tem se desenvolvido em nossa existência terrena? Retiremo-la antes que a peste venha e nos exija um sacrifício para a sua retirada.  

– Davi, imediatamente, vai ao encontro de Araúna (ou Ornã) e diz a ele que deveria construir um altar em sua propriedade e fazer sacrifícios para que a peste cessasse.

Araúna quis dar a propriedade para Davi, mas o rei não aceitou, dizendo que deveria pagar o preço de mercado por ela, pois se tratava de um sacrifício, do pagamento de um preço de redenção do povo.

Comprou Davi a área por cinquenta siclos de prata (ou seiscentos siclos de ouro), edificou ali um altar e se ofereceu sacrifício, sacrifício que foi aceito por Deus, que fez cair fogo do céu, cessando, portanto, a praga sobre Israel (II Sm.24:20-25; I Cr.21:18-26).

– Deus escolheu aquele lugar como local de sacrifício, tanto que, após a compra da área, o anjo meteu a sua espada na bainha.

Por isso, Davi sacrificou naquele lugar, diante da expressa ordem de Deus, confirmada por aquela visão, já que o alto de Gibeão estava distante e Davi tinha receio de ir até lá diante da espada do anjo desembainhada diante de Jerusalém.

– Notamos que Davi era escrupuloso, não aceitava que os sacrifícios se fizessem em qualquer lugar, sendo prudente e observando os mandamentos do Senhor.

Somente diante da ordem expressa do Senhor por meio do profeta Gade e pela confirmação da visão, aceitou oferecer sacrifício num terreno que, a princípio, era imundo, já que pertencente a um estrangeiro, não havendo tempo para que fosse devidamente santificado, santificação, aliás, que se operou com a resposta divina que fez descer fogo do céu para mostrar a aceitação do sacrifício.   

– Seria ali, na eira de Araúna ou Ornã, o jebuseu, agora comprada pelo rei Davi, que haveria de se construir o templo de Jerusalém.

O lugar onde a misericórdia de Deus se tinha feito sentir pelo povo de Israel, o lugar onde a ira do Senhor havia sido aplacada pelo sacrifício pago por grande preço por Davi, uma figura do sacrifício do mais alto preço,

aquele que tiraria o pecado do mundo, que o Filho de Davi iria efetuar muitos séculos depois, não em Jerusalém, mas fora da cidade, onde se queimavam os animais sacrificados por causa do pecado (Ex.24:14; Hb.13:11,12).  

– Deus, uma vez mais, perdoava não só Davi como o povo de Israel. Nesta permissão divina, caía a última cidadela jebuseia de Jerusalém e Davi ficava sabendo qual era o lugar em que deveria o templo ser erguido.

Justiça e misericórdia caminhavam juntas para que o plano de Deus para a salvação do homem tivesse prosseguimento.

Como diz o próprio Davi no Salmo 145:Justo é o SENHOR em todos os Seus caminhos e santo em todas as Suas obras. 

Perto está o Senhor de todos os que O invocam, de todos os que O invocam em verdade.  Ele cumprirá o desejo dos que O temem; ouvirá o seu clamor e os salvará.

O Senhor guarda a todos os que O amam; mas todos os ímpios serão destruídos.” (Sl.145:17-20).  

– Não temos dúvida em afirmar que, com este episódio, Deus deu estabilidade definitiva a Davi, livrando-o não só do inimigo de todos nós, o diabo, como também daqueles que lhe eram ocultos no meio do povo e que foram punidos com a morte pela peste.

E, como se isto fosse pouco, libertou Israel da última cidadela jebuseia de Jerusalém, deixando o terreno livre para a construção do templo de Jerusalém, onde faria repousar a Sua glória até a vinda do Filho. Este é o nosso Deus!  

– Segundo Reese e Klassen, após este episódio, Davi compôs o Salmo 30, salmo composto para ser entoado quando da dedicação do templo, o que se faria apenas com Salomão.

O fato de Davi compor este salmo nesta oportunidade mostra-nos, claramente, que Davi compreendeu, pelo Espírito de Deus, que tudo o que ocorrera tinha o propósito de lhe mostrar onde deveria ser construído o templo.

Já resolvida a questão da localização, bastava a Davi apenas elaborar o salmo que deveria ser cantado no dia da dedicação da casa do Senhor.  

– Neste salmo, Davi deixa marcada a própria expressão da misericórdia divina no local escolhido para ser o templo, relembrando, assim, as circunstâncias em que se descobriu ser aquele o lugar para a edificação da casa do Senhor.

Davi agradecesse a Deus por ter o responsável por sua exaltação, mostrando-se, assim, completamente arrependido do sentimento de orgulho que motivara o recenseamento.

Lembra que o Senhor o havia sarado e ao povo, como também preservado os santos, reconhecendo, assim, que os mortos pela peste eram os ímpios que habitavam no meio de Israel, quase que imperceptivelmente.

A ira de Deus havia durado um curto momento, mas no Seu favor estava a vida (Slo.30:1-4).

– Neste salmo, Davi reconhece que o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã, como também de nada vale a vaidade humana, pois todos os homens devem descer à cova, motivo por que devemos, enquanto vivermos, louvar ao Senhor, não nos calarmos e que toda a glória humana seja tributada única e exclusivamente ao Senhor (Sl.30:5-12).

– Como seria bom que todos os salvos em Cristo Jesus, notadamente aqueles que estão à frente do povo de Deus, meditassem profundamente neste salmo!

Davi desdenha da sua vã ilusão de prosperidade (Sl.30:6) e sabe que de nada vale ter uma “memória”, uma “fama” para as gerações seguintes, já que na cova não pode anunciar a verdade.

Preferia, antes, em vida, clamar pela misericórdia e piedade divinas e fazer com que fosse um instrumento para a glória do nome do Senhor.

Muitos de nossos líderes estão se engalfinhando para passar para a posteridade, para serem reconhecidos como “grandes homens de Deus”, através dos monumentos e megatemplos que estão a construir,

por intermédio de impérios empresarial-eclesiásticos que os façam ser famosos e ricos, esquecidos de que o mais importante é fazer com que o nome do Senhor seja glorificado.

Davi percebeu isto a tempo, conseguindo que a peste gerada por sua soberba cessasse no meio do povo. Será que assistiremos, ainda, à morte de milhares e milhares de vítimas dizimadas por causa da soberba de alguns? Que Deus nos guarde!  

– Terminava com a misericórdia divina mais um episódio lamentável da vida espiritual de Davi. O rei, porém, “dera a volta por cima”, obtendo o perdão divino e poderia, doravante, tudo organizar para que seu filho Salomão levasse a efeito a construção do templo e garantisse o culto ao Senhor em Israel. Será que podemos fazer o mesmo?

V – AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE DAVI  

– No segundo livro de Samuel, temos, após o registro do salmo onde Davi profetizara a vitória sobre os seus inimigos, salmo que foi incluído, como vimos supra, depois da narrativa da derrota final dos filisteus, o registro de suas últimas palavras, antes mesmo da narrativa do recenseamento do povo, de que acabamos de falar.  

– No primeiro livro das Crônicas, bem como no primeiro livro dos Reis, o autor faz questão de trazer pormenores deste período final do reinado de Davi, mostrando-nos que Davi, apesar de idoso, não se preocupou em preparar o seu filho Salomão, que Deus já indicara como sendo o seu sucessor (II Sm.12:24,25; I Rs.1:13,17).  

– Ante esta indiferença, que reflete, uma vez mais, o descaso de Davi para com a sua família, Davi, pelo que vemos do relato bíblico, teve um forte enfraquecimento, a ponto de ficar acamado (I Rs.1:1-4),

o que precipitou as ações de Adonias que, sendo o filho mais velho, quis tomar o trono antes mesmo que Davi morresse, obrigando Davi, então, a mandar que Salomão fosse ungido e entronizado (I Rs.1:5-53).  

– Parece mesmo que tal enfraquecimento de Davi foi uma providência divina para que o rei tratasse da sua sucessão, pois, depois que Salomão é ungido, o primeiro livro das Crônicas narra a realização de duas reuniões com o povo de Israel,

com a presença tanto de Davi quanto de Salomão, em que são tomados preparativos para a construção do templo, como também Davi dá conselhos ao novo rei, prova de que Davi retomou, ainda que temporariamente, a saúde depois que providenciou a sua sucessão.

– Isto nos mostra como era do interesse do Senhor que a questão da sucessão se resolvesse e como não é uma boa conduta a de líderes que, mesmo com idade avançada e já sem condições de estar à frente do povo de Deus, postergam a sua sucessão, causando inúmeros prejuízos à obra do Senhor.  

– Só depois destas reuniões é que Davi volta novamente ao leito e, então, dá conselhos a Salomão, vindo, depois, a falecer.  

– No entanto, como tais episódios não se encontram registrados no segundo livro de Samuel, que é o objeto de nosso estudo neste trimestre, não os analisaremos amiúde, restringindo-nos ao exame das últimas palavras de Davi, estas, sim, constantes do segundo livro de Samuel, conforme a proposta deste trimestre.  

– Como não poderia deixar de ser, as últimas palavras de Davi tinham de ser um salmo. É o salmo registrado em II Sm.23:1-7. Trata-se de um salmo messiânico.

Davi, antes de partir para a eternidade, diz a todo o povo que “haverá um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus.

E será como a luz da manhã, quando sai o sol, da manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor e pela chuva a erva brota da terra”.

Este justo seria da sua descendência, diz o velho rei, o suave em salmos de Israel, lembrando Davi que este justo ainda não havia nascido, não se tratava de Salomão, portanto.

Este justo, que viria da sua descendência, também haveria de lançar fora os filhos de Belial e levá-los a julgamento de fogo.  

– Davi passa para a eternidade com uma revelação sobrexcelente do Messias, um exemplo vivo daquilo que nos fala o apóstolo Pedro em I Pe.1:10-12.

Davi morria profetizando a respeito da salvação em Cristo Jesus, não só da salvação mas do próprio juízo final, tendo a alegria de saber que foi escolhido para dar a dignidade real a este “justo”, a este que traria a justiça à humanidade.  

– Se Davi pôde alcançar esta graça, quando ainda não ministrava para si mesmo, mas para nós, por que haveríamos de querer ter outras prioridades, outras coisas a pensar ou a buscar?

O importante é fazermos a obra de Deus e, mesmo quando cessar o nosso tempo de trabalhar, termos a convicção de que, não em antevisão profética, como Davi, mas, durante todo o tempo, antes, durante e depois de nosso serviço ao Senhor,

tenhamos sempre a visão do Cristo glorificado, pronto a nos receber quando aqui encerrarmos a carreira que nos está proposta, pois ela deve ser corrida olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé. Temos esta visão “davídica” em nosso serviço ao Senhor?

É ela muito mais importante do que o apego a cargos ou posições. Melhor é termos um sucessor e a ele entregarmos o que deve ser feito e contemplarmos, com o sentimento do dever cumprido, o juiz dos vivos e dos mortos, devidamente entronizado, a nos aguardar, como viu Estevão (At.7:56). Qual tem sido a nossa visão?  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco  

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4747-licao-13-a-velhice-de-davi-i

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Iesus Kyrios

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading