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LIÇÃO Nº 13 – A VERDADEIRA IDENTIDADE DO CRISTÃO

INTRODUÇÃO

– Concluindo o estudo sobre o sermão do monte, analisaremos a sua parte final, onde Jesus nos mostra como identificar quem é Seu discípulo.

– O sermão do monte mostra-nos quem é discípulo de Jesus.

I – OS FALSOS PROFETAS

– Estamos a terminar este precioso estudo a respeito do sermão do monte ou sermão da montanha, o sermão doutrinário e ético de Jesus. Neste sermão, o Senhor nos mostra quem é Seu discípulo, qual é o seu caráter, qual a sua configuração.

– Depois de ter falado sobre os dois caminhos, Cristo, então, partindo para a conclusão do ensino, ainda dentro da temática da vigilância e prudência que devem ter Seus discípulos em sua peregrinação terrena, mostra o cuidado que se deve ter com os falsos profetas.

– Desde logo, devemos observar que Jesus é bem claro ao dizer que haveria falsos profetas no meio dos Seus discípulos. Muitos indagam porque o Senhor permite que haja a infiltração de pessoas incrédulas no meio dos crentes, de verdadeiros agentes diabólicos no rebanho do Senhor.

– Tal indagação, entretanto, encontra resposta da parte do próprio Deus. Em Dt.13:3, é dito que Deus permite que haja falsos profetas no meio do povo precisamente para que eles fossem provados para que se mostrasse se Israel realmente amava a Deus com todo o seu coração e com toda a sua alma.

– Esta mesma realidade é repetida pelo apóstolo Paulo que diz que importava que houvesse heresias no meio da igreja para que os sinceros se manifestassem (I Co.11:19).

– Notamos, portanto, que a existência de falsos profetas no meio do povo de Deus é uma necessidade para que haja uma depuração, uma identificação dos verdadeiros servos do Senhor, para que possamos avaliar o nosso amor a Deus e a nossa sinceridade na vida espiritual. Deus permite a infiltração para que haja a nossa purificação.

– Pois bem. O Senhor Jesus manda a Seus discípulos que tomassem cuidado com os falsos profetas, porque eles viriam até eles vestidos como ovelhas, mas interiormente seriam lobos devoradores (Mt.7:15).

– O primeiro ponto que devemos observar é que os falsos profetas vêm até os discípulos . Não encontraremos o falso profeta em local longínquo, apartado do rebanho do Senhor. Não, não e não! Eles vêm até nós, eles estão no meio de nós.

– Os falsos profetas vêm até o povo de Deus, infiltram-se no seu meio e, para tanto, diz o Senhor Jesus, apresentam-se “vestidos como ovelhas”.

Para poder se aproximar do povo de Deus, os falsos profetas têm de imitar os discípulos de Jesus, devem se apresentar “como ovelhas”.

– Os falsos profetas aproveitam-se da circunstância de que os homens somente conseguem ver o que está diante dos olhos, o exterior (I Sm.16:7).

Assim, a partir desta limitação, os falsos profetas tomam a aparência de discípulos de Jesus, conformam-se exteriormente aos estereótipos criados pelos homens, a fim de que possam se aproximar sem causar desconfiança ou suspeita.

– Paulo fala desta gente ao dizer que os falsos apóstolos se transfiguram em apóstolos e ainda salienta que não é para que nos admiremos, uma vez que o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz e, portanto, seus ministros se transfigurem em ministros da justiça (II Co.11:13-15).

– Os falsos profetas são verdadeiros agentes diabólicos e, portanto, como filhos do diabo que são, têm de ter a marca característica do inimigo de nossas almas, que é a mentira (Jo.8:44).

Assim, precisam ser hipócritas, ou seja, fingirem ser quem não são, apresentando-se, exteriormente, como ovelhas, quando, na verdade, são lobos devoradores.

– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus diz que devemos ter como critério de julgamento não a aparência, mas a reta justiça (Jo.7:24).

O julgamento pela aparência sempre traz imenso prejuízo ao povo de Deus, como podemos observar no episódio dos gibeonitas nos dias de Josué (Js.9), evento que fez com que se iniciasse a inobservância da ordem divina para completa destruição dos habitantes primitivos de Canaã, que tanto prejuízo trouxe aos israelitas.

– Embora os falsos profetas se apresentem exteriormente como ovelhas, em seu interior são lobos devoradores. O lobo é símbolo dos incrédulos, daqueles que querem a destruição do rebanho. O próprio Cristo diz que estaria enviando Seus discípulos como ovelhas em meio de lobos (Mt.10:16; Lc.10:3).

– Os lobos, como diz o profeta Ezequiel, querem arrebatar a presa para derramarem o sangue, destruírem as almas e seguirem a avareza (Ez.22:27).

– O objetivo do lobo é sempre o de arrebatar a presa, ou seja, retirá-la do rebanho. Os falsos profetas sempre buscam a fragmentação do povo de Deus, a divisão (Jd.19), a formação de grupos que estejam em volta de si e não do Senhor Jesus (At.20:30).

– Para isto, buscam matar as pessoas e, portanto, são homicidas, pessoas que odeiam os seus irmãos (I Jo.3:15), que visam apenas o próprio interesse (II Pe.2: 13,14; Jd.12,16).

– Buscam também destruir as almas e, com este objetivo, levam as pessoas a pecar, desviando-as da sã doutrina e da santidade, fazendo com que sejam imitados em suas concupiscências (II Pe.2:10-12; Jd.16,18), principalmente na murmuração e na inobservância do princípio da autoridade, na rebelião e na vida licenciosa que passam a defender.

– Seguem, por fim, a avareza, visto que fazem do povo de Deus negócio com palavras fingidas (II Pe.2:3), tendo o coração exercitado na avareza (II Pe.2:14).

– Eles são cruéis (At.20:29), não perdoarão o rebanho, não terão pena nem dó de ninguém para satisfazer seus interesses escusos, sendo, como diz o Senhor Jesus, devoradores, ou seja, não pensarão duas vezes em obter a destruição de quem quer que seja para poderem fazer prevalecer as suas vontades.

– Diante deste quadro, e ante a limitação que têm os discípulos de Jesus, que são meros homens, como, então, nos acautelar dos falsos profetas? Jesus diz o que deve ser feito: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7:16a).

– O discípulo de Jesus não pode conhecer o interior do homem, algo a que somente Deus tem acesso (I Sm.16:7).

Entretanto, é ele guiado pelo Espírito Santo, por ser filho de Deus (Rm.8:14) e, portanto, tem a mente , podendo discernir tudo e de ninguém ser discernido (I Co.2:12-16).

– Diante disto, Cristo nos mostra que podemos bem identificar quem é falso profeta através dos seus frutos, ou seja, das suas obras. O falso profeta, por ser um lobo devorador, não irá produzir o mesmo fruto da ovelha, não terá as mesmas ações, as mesmas atitudes da ovelha.

– Cristo ensina que, assim como não se colhem uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos, assim não se poderá colher o fruto do Espírito de quem não O possui. De igual modo, uma árvore boa produzirá bons frutos e uma árvore má, maus frutos.

– Assim, identificaremos os falsos profetas a partir dos seus frutos. O apóstolo João diz que os filhos do diabo são identificados pela vida no pecado, pela vida pecaminosa, pois são como o seu pai, que vive pecando desde o princípio (I Jo.3:8).

– Quem não é de Deus, e este é o caso do falso profeta, não pratica a justiça e não ama a seu irmão (I Jo.3:10). Os lobos vestidos como ovelhas, portanto, são aqueles que não praticam a justiça, ou seja, vivem na prática do pecado.

– Quem vive pecando, quem faz do pecar o seu modo de viver é um lobo devorador, ainda que esteja vestido de ovelha.

Não há disposição de alguém que está em nosso meio de praticar a justiça, ou seja, de viver de acordo com a Palavra de Deus? Há, por parte desta pessoa, condescendência com a prática do pecado, uma vida misturada com o pecado? Cuidado, trata-se de um lobo vestido de ovelha. Apartemo-nos desta gente!

– Paulo disse que não podemos nos associar com este tipo de gente. Não podemos ter comunhão com todo aquele que se diz irmão e que for devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão, roubador (I Co.5:11).

– O mesmo apóstolo dos gentios diz algumas das chamadas obras da carne, que são produzidas por quem não é de Deus, por aqueles que não nasceram de novo ou, então, que, tendo nascido de novo, voltaram à prática pecaminosa, apostatando da fé, a saber:

prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias (Gl.5:19-21). Tais pessoas, diz Paulo, não herdarão o reino de Deus.

– Como se isto fosse pouco, o apóstolo João, ao ter a visão da cidade celestial, que é a Nova Jerusalém, o destino de todos os discípulos de Jesus, que, a exemplo de Abraão, Isaque e Jacó buscam uma pátria celeste (Hb.11:13-16),também verificou quais serão as pessoas que ficarão do lado de fora da cidade, ou seja, que não pertencem ao povo do Senhor, a saber:

cães, feiticeiros, os que se prostituem, homicidas, idólatras, quaisquer que amem e cometam a mentira (Ap.22:15) e, na mesma revelação, um pouco antes, também se lhes disse quem irá para o lago de fogo e enxofre fazer companhia ao diabo e seus anjos: tímidos, incrédulos, abomináveis, homicidas, fornicadores, feiticeiros, idólatras e todos os mentirosos (Ap.21:8).

– Mas não é apenas com respeito à prática da justiça que identificamos o filho do diabo. O apóstolo João também diz que o filho do diabo é alguém que odeia o seu irmão.

– A falta do amor é outra característica do filho do diabo, do falso profeta. Nem poderia ser diferente. O filho de Deus ama a Deus e ama o irmão porque é participante da natureza divina (II Pe.1:4) e, sabemos todos, Deus é amor (I Jo.4:8).

– O lobo vestido de ovelha tem outra natureza, não é filho de Deus, é um hipócrita e, portanto, não ama nem a Deus nem ao irmão.

Ele é homicida e, como o Senhor Jesus ensina neste sermão do monte, os homicidas são, precisamente, os que odeiam o seu irmão, os que não amam.

– Na parábola do servo fiel e prudente, proferida pelo Senhor Jesus no Seu sermão escatológico, o mau servo é retratado como aquele que espanca os seus conservos (Mt.24:49), ou seja, alguém que faz mal aos irmãos, que não os ama, que com eles não se importa.

– Quando encontrarmos alguém egoísta, que somente pensa em si, que é movido pelo interesse próprio, individualista e voltado para a satisfação de seus desejos e prazeres, sem levar em conta o outro, podemos ter a certeza de que estamos diante de um lobo vestido de ovelha, de um filho do diabo, de um falso profeta.

– Assim, deu o Senhor Jesus plenas condições para que saibamos perfeitamente identificar o falso profeta, alguém que vive na prática do pecado. Basta vermos as suas ações para que, então, possamos identificá-lo.

– Neste ponto, aliás, vemos como não temos o que temer. Se o falso profeta se aproveita da ocasião de que não temos acesso ao seu interior e, vestido como ovelha, se aproxima de nós para realizar a sua tarefa destrutiva, o fato de ter se aproximado de nós também permite que acompanhemos o seu viver, a sua maneira de vida e, diante de tal proximidade, podemos conhecer os seus frutos.

– Por isso, devemos ter muito cuidado com as pessoas com as quais não temos um contato diário, próximo. Eis porque não podemos nos deixar levar pela aparência em nossos julgamentos.

– Vivemos o tempo da telemática, da informação em tempo real, da aproximação de todo o mundo numa verdadeira “aldeia global”, mas não nos iludamos com este tipo de proximidade, que é, em boa medida, enganoso.

– O contato virtual nunca será um contato completo e suficiente. Nada substitui o acompanhamento diário, pessoal e presencial para que tenha uma verdadeira comunhão, para que se possa efetivamente se associar a alguém.

– Muitos, em nossos dias, são seguidores de “celebridades”, pessoas que, muitas das vezes, não existem, mas são “produtos” criados por alguém, “personagens” que trazem após si milhares, milhões de pessoas, que se associam a pessoas que, na realidade, simplesmente não existem.

– À distância, sem que se tenha um acompanhamento real e efetivo da vida desta pessoa, jamais poderemos saber quais são os seus frutos e, deste modo, não teremos como identificar se são, ou não, ovelhas ou lobos.

– Jesus tinha um contato íntimo e continuado com Seus discípulos. Eles efetivamente O conheciam, como diz o apóstolo Pedro na casa de Cornélio, dizendo que eles haviam sido testemunhas de todas as coisas que Cristo fez, tanto na terra da Judeia como em Jerusalém, que haviam comido e bebido com Ele, inclusive depois que ressuscitara dos mortos (At.10:39-41).

– Um dos objetivos do ministério terreno de Jesus foi exatamente o de Se fazer conhecido a todo o Israel, para que fosse pelos israelitas observado e examinado durante três anos e meio, para que, então, achado sem defeito ou culpa (Lc.23:4,14,22), pudesse, como o Cordeiro pascal, que era examinado e analisado por três dias e meio antes de ser sacrificado (Ex.12:3-6), ser, então, imolado por nós na cruz do Calvário.

– Tomemos, portanto, amados irmãos, muitíssimo cuidado com os pregadores e líderes religiosos midiáticos de nossos dias, porquanto não podemos acompanhar a sua vida, convivermos com eles, de modo que não temos condição de saber se se trata de ovelhas ou de lobos.

– Nós só podemos identificar alguém como ovelha e lobo pelos seus frutos e, diante disto, não temos senão que ter acesso ao seu viver, sem o que não podemos, diz o Senhor Jesus, para bem cuidarmos de nossa vida espiritual, nos associarmos e termos comunhão com eles.

– Um dos grandes perigos em não acatarmos este ensino de Jesus é o de nos escandalizarmos se alguém com quem nos associarmos ou mantivermos comunhão, sendo um lobo ou se tornando um, vier a ser descoberto, a ser desmascarado.

– O risco do escândalo, ou seja, do tropeço espiritual de alguém por causa do pecado de outrem, é uma realidade. Cristo disse mesmo que os escândalos são inevitáveis (Mt.18:7; Lc.17:1). Esta inevitabilidade dos escândalos está relacionada com a própria necessidade da infiltração dos falsos profetas.

– Os últimos dias da Igreja sobre a face da Terra, e estamos a vivê-los, são caracterizados pela proliferação de escândalos (Mt.24:10).

– Quem se escandaliza é aquele que, por causa do erro de alguém, acaba por também fracassar na fé, desacredita da Palavra de Deus, uma vez que aquela pessoa em quem confiava, que mirava como exemplo, mostrou-se ser um enganador, um hipócrita.

– Para não nos escandalizarmos, por primeiro, devemos seguir o ensino de Jesus, qual seja, o de que somente podemos conhecer o outro através dos seus frutos.

Se não somos tão próximos de alguém a ponto de poder verificar os seus frutos, não nos associemos com ele, não nos comprometamos com ele, pois pode ser um lobo vestido de ovelha.

– Por segundo, devemos sempre ter as pessoas como exemplos, como modelos a ser seguidos, na medida em que são elas próprias imitadoras . Paulo dizia para ser imitado porque imitava a Cristo (I Co.11:1), mas ele mesmo advertia que não era perfeito (Fp.3:12).

O que devemos imitar são os atos de tais pessoas que sejam conformes à Palavra de Deus (Hb.13:7), a fé destas pessoas. Não devemos segui-las senão como exemplos mais próximos a nós do nosso grande exemplo, que é o Senhor Jesus, Este, sim, cujas pisadas devemos sempre seguir (I Pe.2:21).

– Cristo, inclusive, reafirmando esta cautela que devemos ter com relação aos falsos profetas, foi enfático ao dizer que nem todo o que diz “Senhor, Senhor!” entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do Pai, que está nos céus (Mt.24:21).

– Não podemos nos impressionar com a retórica, ou seja, com os discursos, com a eloquência, mas, sim, fazer uma crítica dos atos que são praticados pelas pessoas.

Embora o falar denuncie o que há no coração (Mt.12:34; Lc.6:45), devemos lembrar que a mentira nada mais é que um falar divorciado do que realmente se tem no coração e, por isso, podemos ser facilmente enganados nos discursos.

– O poder enganador do diabo (Ap.12:9), que é o pai da mentira (Jo.8:44), está precisamente em fazer as pessoas acreditar no que é dito mas que não corresponde à realidade.

– Foi assim que iludiu o primeiro casal (Gn.3:5,6) e que age em relação à humanidade, cuja incredulidade e corrupção se origina precisamente dos discursos que buscam justificar a rebeldia contra Deus, discursos que levam ao desvanecimento e à obscuridade decorrente da insensatez do coração (Rm.1:21).

– Apenas dizer “Senhor, Senhor” não é suficiente para que alguém seja tido como verdadeiro e genuíno servo de Deus. É preciso que a pessoa faça a vontade de Deus, ou seja, viva conforme os mandamentos do Senhor, tenha a Sua Palavra como única regra infalível de fé e prática.

– Na passagem correlata do chamado “sermão da planície”, o Senhor Jesus diz: “E por que Me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu digo?” (Lc.6:46).

– O verdadeiro discípulo não chama a Deus de “Senhor” tão somente, mas faz o que Ele diz, pratica a justiça, como disse o apóstolo João. É alguém que realmente obedece ao que o Senhor manda.

– Por isso mesmo, o mesmo apóstolo João diz que aquele que faz a vontade do Senhor permanece para sempre (I Jo.2:17), ou seja, é verdadeiro discípulo , tem a vida eterna aquele que faz o que o Senhor manda.

– Aliás, fazer o que Jesus manda, observar a Sua Palavra é demonstração de que se ama a Deus, que se é morada de Deus (Jo.14:21; 15:14), que se está em Cristo (I Jo.2:5).

– Neste ponto, aliás, é importantíssimo observarmos que o Senhor Jesus também nos mostra que sinais e manifestações sobrenaturais não são critério de aferição se alguém é, ou não, um falso profeta.

– Cristo diz que, no dia do juízo, muitos Lhe dirão que profetizaram, expulsaram demônios e fizeram muitas maravilhas em nome de Jesus, mas, mesmo assim, serão eles condenados, porque praticaram a iniquidade (Mt.7:22,23).

– Esta passagem traz surpresa a muitos, porquanto como é possível que alguém profetize, expulse demônios ou faça maravilhas não sendo um discípulo ?

– Por primeiro, notemos que o Senhor fala “daquele dia” e este dia é o dia do juízo do trono branco, o dia em que os ímpios serão julgados (Ap.20:11-15).

Portanto, não está o Senhor a falar dos que foram fiéis até o fim, daqueles que perseveraram e alcançaram a glorificação. A propósito, nem poderia ser, já que o contexto de que Jesus está a tratar é o dos falsos profetas, dos lobos vestidos de ovelhas.

OBS: Oportuno aqui lembrar o item 15 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “[CREMOS] no Juízo Final, onde comparecerão todos os ímpios:

desde a Criação até o fim do Milênio; os que morrerem durante o período milenial e os que, ao final desta época, estiverem vivos. E na eternidade de tristeza e tormento para os infiéis e vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis de todos os tempos (Mt.25:46; Is.65:20; Ap.20:11-15; 21:1-4).

– Assim, vemos que Jesus está a falar de pessoas que, uma vez tendo alcançado a salvação, desviaram-se dos caminhos do Senhor, apostataram da fé, eram ovelhas que se tornaram lobos, pessoas que, tendo escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, foram outra vez envolvidos nelas e vencidos, tendo conhecido o caminho da justiça, desviaram-se do santo mandamento que lhes fora dado (II Pe.2:20,21).

– Mais uma vez, aqui, no sermão do monte, vemos o Senhor Jesus mostrando que a vida cristã é uma continuidade, um caminho, algo que exige perseverança até o fim, a desmentir, pois, a doutrina da predestinação incondicional.

– Quando deixamos a comunhão com o Senhor, é como se nunca O tivéssemos conhecido, tido qualquer relacionamento com Ele. De nada adianta termos sido instrumentos do Seu amor e poder se deixamos de obedecer-Lhe, se passamos a praticar a iniquidade, se voltamos à vida pecaminosa.

– Por isso, não podemos viver do passado de alguém e olharmos para que o ele fez ou deixou de fazer na obra de Deus e, ante um presente tenebroso, nos escandalizarmos e também fracassarmos na fé.

O tempo de servir ao Senhor é “hoje” e, portanto, não temos que deixar de servir a Deus ou desacreditar no Senhor se alguém que era usado pelo Senhor for apanhado em vida pecaminosa, tiver fracassado na fé.

– O texto, a propósito, mostra-nos que uma vida de comunhão com Cristo leva-nos, sim, a sermos instrumentos da manifestação do poder de Deus.

Quem tem comunhão com Deus é esperado que seja alguém em que se manifestem as operações de Deus, os sinais que seguem os que creem e os dons espirituais.

– Muitos utilizam esta passagem do sermão do monte para reforçar que as manifestações sobrenaturais não são garantia de santidade, mas, sim, a produção do fruto do Espírito. Sem dúvida, a natureza divina de que somos participantes se manifesta pelo fruto do Espírito, é o que Jesus está a nos ensinar aqui.

– Entretanto, se a operação de sinais e de maravilhas não são uma demonstração da natureza divina, isto não implica afirmar que a vida cristã se deva fazer sem a presença de tais manifestações.

– Bem ao contrário, ao mencionar tais manifestações, o Senhor Jesus está a afirmar que, no dia-a-dia do Seu discípulo, tais demonstrações de poder devem ser uma constante.

Como afirma o escritor aos hebreus, a salvação que começou a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos confirmada pelos que a ouviram, testificando também Deus com eles, por sinais, milagres e várias maravilhas, e dons do Espírito Santo distribuídos por Sua vontade (Hb.2:3,4).

– O que Jesus está a enfatizar é que devemos manter sempre uma continuidade, uma perseverança na vida de comunhão com Ele, o que se dá pela separação do pecado, e aí então permaneceremos sendo instrumentos do poder de Deus, produzindo o fruto do Espírito e em abundância,

pois a produção do fruto, como nos ensina o Senhor Jesus na parábola do semeador, é diferenciada, e o importante é produzir não trinta, mas cem (Mt.13:23; Mc.4:20), o que somente se dá se estivermos revestidos de poder e com dons espirituais. Na versão apresentada por Lucas, é dito que se deve produzir o fruto com perseverança (Lc.8:15).

II – OS DOIS ALICERCES

– A prática da justiça é o elemento que identifica o discípulo , o fator que distingue o filho de Deus do filho do diabo, na expressão do apóstolo João (I Jo.3:10).

Tanto assim é que os que praticam a iniquidade, ou seja, a injustiça, os que vivem pecando serão apartados do Senhor no dia do juízo final.

– Para ilustrar este ensino, Jesus termina o sermão do monte contando a parábola dos dois alicerces ou parábola dos dois edificadores.

– A parábola dos dois alicerces, portanto, apresenta-se como uma síntese, uma conclusão de todo o sermão do monte.

Quer-nos parecer que a parábola não está apenas relacionada com a questão dos falsos profetas e falsos mestres, que é o tema final do sermão do monte, mas com todo o sermão do monte, com o próprio significado do que é ser um cristão, o que, sem dúvida, envolve também a questão dos falsos profetas e mestres, mas que transcende a este que é apenas um dos aspectos do ensino global contido neste importante discurso do Senhor.

Esta parábola é o coroamento de todo o sermão do monte e, como tal, deve ser entendido como sendo a síntese de todo o discurso doutrinário de Jesus.

OBS: “…A parábola do homem prudente e do insensato serve tanto como uma conclusão ao Sermão da Montanha como uma ilustração da absoluta necessidade de fazer a vontade de Deus (isto é, o que Deus nos disse para fazer).” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota a Mt.7:24-27, p.958).

– Na parábola dos dois alicerces, Jesus apresenta dois homens. Um, que o Senhor denomina de homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha, pondo alicerces; outro, que o Senhor denomina de homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia, sem alicerces.

Tanto num caso, quanto noutro, houve intempéries (chuvas, ventos, rios) que abalaram ambas as edificações. Só que a casa construída sobre a rocha permaneceu, enquanto que a casa feita sobre a areia não resistiu e grande foi a sua queda.

– Temos aqui mais uma parábola que é explicada pelo próprio Jesus, ou seja, mais um caso de interpretação autêntica.

– O primeiro elemento da parábola é o homem prudente, designação dada pelo evangelista Mateus (Mt.7:24).

O termo grego original é “fronimós”, cujo significado é aquele que pensa, que investiga, que tem uma opinião após uma reflexão, aquele que tem a mente sã, que está em perfeito juízo.

A palavra “prudente” vem do latim “prudens”, que, por sua vez, vem da palavra “providens”, que é aquele que vê antecipadamente, que toma cuidado, que é cauteloso, que enxerga antes dos outros.

– “…A prudência consiste no uso habilidoso do conhecimento, no exercício da sabedoria. Trata-se de um cuidado habitual de evitar erros e seguir o mais sábio curso da ação acerca de qualquer questão.

Envolve um sábio estado mental ou espiritual, que resulta em atos ditados pela sabedoria…” (CHAMPLIN, R.N. Prudência. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.489).

– A prudência, na filosofia grega, notadamente em Platão, era considerada uma das quatro virtudes cardeais, ou seja, uma das qualidades essenciais para o caráter de um homem de bem.

Na Bíblia Sagrada, a prudência sempre esteve associada à submissão à vontade de Deus. Em I Sm.18:5,14, as Escrituras atribuem esta característica a Davi, num contraponto com o comportamento apresentado pelo rei Saul.

Apesar de ser jovem, Davi se portava bem nas guerras e no meio do povo e o texto sagrado ainda afirma que o fato de Davi se conduzir prudentemente era porque Deus era com ele.

– Salomão, ele próprio um exemplo eloquente de prudência (pelo menos até seu desvio espiritual), mostra-nos a origem da prudência: o temor do Senhor (Pv.1:2,4,7).

É preciso temer a Deus, ou seja, dar-Lhe o respeito e a reverência que Lhe dão devidas, mediante a submissão à Sua Palavra, para que se entendam as palavras de prudência, para que o simples se torne um homem prudente.

A prudência é a ciência do Santo (Pv.9:10). Jesus, o próprio Deus humanizado, operaria com prudência (Is.52:13).

– O homem prudente, diz-nos Jesus, na parábola, é aquele que ouve e pratica as Suas palavras. A prudência distingue-se da sabedoria precisamente porque, enquanto a sabedoria é uma virtude que independe de qualquer ação para que exista (vejamos o caso de Salomão: ele recebeu sabedoria e já a possuía quando a pôs em prática), a prudência exige sempre a prática de alguma atitude para se revelar.

No homem prudente, repousa a sabedoria (Pv.14:33), mas ele se revela no seu digno proceder (Pv.14:35).

– Jesus confirma o que se disse a respeito da prudência e do homem prudente nas Escrituras hebraicas (Antigo Testamento).

O homem prudente é aquele que ouve e pratica as palavras do Senhor, ou seja, aquele que ouve e compreende a mensagem, como haveria de falar na parábola do semeador.

Ouvir e praticar a palavra é essencial para que sejamos prudentes, para que vejamos antecipadamente o que vai ocorrer, para que procedamos dignamente.

Somente quando praticamos a Palavra de Deus, quando vivenciamos aquilo que ouvimos da parte do Senhor Jesus, teremos condição de sermos prudentes.

– Muitos têm enfrentado, na vida cristã, muitos problemas comportamentais e se perguntam porque não têm tido sucesso espiritual, porque vivem sendo enlaçados e engodados pelo adversário de nossas almas, porque, a exemplo dos destinatários da carta aos hebreus, não saem dos rudimentos da fé, apesar do tempo que estão a servir a Deus (cfr. Hb.6:1). Em muitos casos, a resposta é simples: porque não praticam as palavras de Jesus.

– É fundamental que ouçamos a palavra do Senhor. Por este ouvir vem a fé salvadora (Rm.10:17), fonte de toda a nossa salvação. Entretanto, não basta ouvir.

É necessário, também, praticar esta palavra, sem o que nenhum proveito teremos do ouvir. Ouvir sem praticar é ser ouvinte esquecido (Tg.1:24), é ser enganado por falsos discursos (Tg.1:22).

Se não praticarmos o que ouvirmos, seremos insensatos, como Jesus dirá na continuidade da parábola.

– Ouvir e praticar as palavras de Jesus é ser prudente, é ver antecipadamente, porque aquele que o faz não anda por vista, mas, por fé (II Co.5:7), olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:3).

Por isso, vê o invisível (Hb.11:27), tendo condições, assim, de vencer o mundo (I Jo.5:4,5) e de agradar a Deus (Hb.11:6).

– O homem que ouve e pratica as palavras do Senhor é comparado por Jesus ao homem prudente. O homem prudente, diz o Senhor, edifica a sua casa sobre a rocha.

Em primeiro lugar, é importante considerar que o homem prudente tem preocupações com o futuro e, por isso, trata logo de construir para si uma casa.

– Abrimos aqui, aliás, um parêntese para mostrar aos amados irmãos que deve ser esta uma preocupação de toda e qualquer pessoa que pensa em ter uma vida minimamente digna enquanto aqui vivemos sobre a face desta terra.

É importante que o cristão dê um bom e excelente testemunho para toda a sociedade, esforçando-se para ter a sua casa, ter onde abrigar a sua família.

Vemos, com grande tristeza, milhares de irmãos que não têm a sua casa própria, simplesmente porque não são cuidadosos e zelosos para tanto.

É certo que o Brasil é um dos países que têm um grande déficit habitacional, mas isto não é desculpa para que um servo do Senhor não se esforce para que tenha a sua casa.

Conhecemos muitos servos do Senhor que, com sua persistência e perseverança, mesmo tendo salário pequeno, conseguiram alcançar esta bênção, porque foram prudentes.

Como poderemos dizer aos homens que somos zelosos e cuidadosos com um assunto tão importante como é o nosso destino eterno, se nem ao menos nos preocupamos em adquirir um teto para nossa família?

Que o lema do crente seja o título de uma peça teatral de Martins Pena, um dos maiores dramaturgos brasileiros:

“quem casa quer casa”. Jesus deu como exemplo de prudência a busca da construção de uma casa por parte de alguém. Por que, então, não seguirmos este exemplo dado pelo próprio Jesus?

– Surge, então, o segundo elemento da parábola dos dois alicerces: a casa do homem prudente. Jesus disse que o homem era prudente e, por isso, resolveu construir a sua casa.

Como já vimos, a decisão de construir uma casa já é uma demonstração de prudência, de quem vê antecipadamente as necessidades que surgirão ao longo da vida e o teto deve ser uma destas preocupações, algo que se verifica tanto nos mais humildes, como nos mais abastados.

Vemos, por exemplo, que foi esta uma legítima preocupação do rei Salomão, que construiu um palácio para si, onde pudesse abrigar a sua mulher, a filha de Faraó (I Rs.7:1).

– “…A casa é o símbolo da vida. A vida deve ser edificada com bom senso, considerando o futuro, e não apenas o presente, de acordo com os princípios ditados por Aquele que dá a vida e a sustenta.

A vida física deve ser usada para obter e desenvolver a vida eterna.…” (CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.1, com. Mt.7:24, p.337).

– O homem prudente resolveu edificar a sua casa, isto é, construir a sua vida. Todos nós recebemos a vida da parte de Deus, mas é nossa a tarefa de edificá-la, ou seja, de vivê-la.

A vida é um dom de Deus, que é o único que pode dá-la e tirá-la (I Sm.2:6), mas, a partir do instante em que ela nos é dada, cabe a nós administrá-la, como verdadeiros mordomos.

É nossa e tão somente nossa a responsabilidade de edificarmos, razão pela qual teremos de prestar contas pelo que fizemos enquanto a tivemos aqui neste mundo. Aqui serve a recomendação feita pelo apóstolo: “…veja cada um como edifica…” (I Co.3:10 “in medio”).

– O homem prudente resolveu edificar a sua casa. Isto nos mostra que cada um tem de construir a sua própria vida. Há muitos que se preocupam com a vida alheia, que querem, de toda forma, construir a casa dos outros, que querem comandar a vida dos outros, como se isto fosse possível.

Vale aqui, aliás, um dito popular, que tem sido encontrado nas traseiras de muitos caminhões: “Deus criou a vida para que cada um cuide da sua”.

É verdade que isto não nos autoriza a sermos egoístas e de não ajudarmos uns aos outros. Este é um dever de cada ser humano, até porque Deus não criou o homem para ser só, mas o fez como um ser social, que convive necessariamente com outros.

Há, mesmo, responsabilidades graves e sérias em relação à condução da vida de outros, como no ambiente familiar, muito especialmente com respeito aos cônjuges, que passam a ter uma vida em comum (“uma só carne”) e com relação aos pais e filhos menores (“instrui o menino no caminho em que deve andar”, entre outras ordenanças bíblicas).

Mas, em relação à vida espiritual, temos que há uma responsabilidade individual, na qual nem mesmo os laços familiares têm alguma prevalência. Cada um deve construir a sua casa e ninguém poderá fazer isto por nós.

– Para se construir uma casa, o primeiro passo é o alicerce. A palavra “alicerce” é de origem árabe, vem de “al-isas”, que significa “a base”, “o fundamento”.

Toda e qualquer construção tem de ter um fundamento, tem de ter uma base. Sem base, sem fundamento, a construção toda ficará comprometida, não terá como se manter por muito tempo.

Quanto maior a construção, maior terá de ser o alicerce, maior terá de ser o fundamento. Esta é outra realidade que Jesus nos mostra nesta parábola e que não podemos jamais esquecer.

– Muitos se impressionam com a aparência exterior de algumas edificações, com o acabamento, com a pintura, com os belos jardins, mas devem, antes de tudo, estar atentos para o alicerce, para o fundamento da construção.

Episódios como a queda do edifício Palace II, há alguns anos no Rio de Janeiro, mostram que de nada serve a beleza exterior, se o fundamento da construção não for sólido, se o material da construção não for de boa qualidade.

Assim, também deve ser a nossa vida: pouco importa a ostentação, pouco importa a aparência, o lado exterior, visível, é essencial que saibamos em que está fundamentada a nossa vida.

– Jesus disse que o homem prudente, ao construir sua casa, mostra a sua prudência no instante em que escolhe o fundamento, no momento em que constrói o seu alicerce.

Embora seja algo que ninguém veja, que ninguém perceba, será esta opção, esta escolha que selará o futuro do homem prudente.

Seguramente, no momento da escolha, ninguém das redondezas atentou para o fato de que o homem prudente havia escolhido fazer um alicerce e, mais do que isto, ter como alicerce a rocha.

O alicerce é uma parte da construção que não se vê, que ninguém, a não ser os responsáveis pela construção, sequer se lembra que ele existe.

Recentemente, aliás, ouvimos o comentário de um irmão a respeito da construção de um grande templo em nossa cidade, em que o amado se queixava de, apesar de toda a quantia arrecadada, ainda não tinha “visto nada” no terreno, mal sabendo que se está construindo o alicerce que, pelas dimensões do templo, tem de ser enorme…

– Lucas, quando nos fala desta parábola, diz que o homem prudente decidiu construir com alicerce, pormenorizando, ainda mais, o relato de Mateus, que afirma apenas que houve decisão de edificar sobre a rocha.

Reunindo ambos os relatos, podemos perceber que só existe um alicerce, um fundamento em que se pode construir uma vida espiritual para o ser humano: a rocha, que é símbolo (cfr. I Co.10:4).

– Vemos, pois, que não há outro meio de construirmos uma vida espiritual a não ser em Jesus, o único mediador entre Deus e os homens (I Tm.2:5).

A rocha simboliza Jesus, o único fundamento que foi posto por Deus para que o homem possa alcançar a vida (I Co.3:11).

Nesta parábola, portanto, Jesus mostra a Sua exclusividade e afasta todo e qualquer ensinamento segundo o qual “vários caminhos levam a Deus”.

Em nenhum outro nome poderemos ser salvos (At.4:12), não nenhum outro alicerce em que se possa construir uma casa.

É elucidativo que, na parábola, Jesus diz que se edificou sobre A rocha, usando, assim, o artigo definido, para indicar a exclusividade, porque não há outra rocha que Deus conheça (Is.44:8).

– A simbologia da rocha não é casual. Ela aparece nas Escrituras na história de Israel, como a fonte de água para o povo no deserto (Ex.17:6; Nm.20:8; Dt.8:15), já simbolizando Cristo, como explicaria, milênios mais tarde, o apóstolo Paulo.

O próprio Deus é comparado a uma rocha por Moisés (Dt.32:4,15), o que seria, depois, repetido por Ana em seu cântico (I Sm.2:2) e por Davi em seus salmos (II Sm.22:47; Sl.19:14; 28:1; 31:2,3; 62:2,6,7), bem como por Asafe (Sl.78:16,35) e Etã (Sl.89:26).

Os profetas também se referiram ao Senhor como rocha, como Isaías (Is.26:4; 30:29; 44:8) e Habacuque (Hc.1:12).

Assim, ao dizer que o homem prudente edifica a sua casa sobre a rocha, Jesus mesmo Se identifica como Deus, como a rocha de Israel (II Sm.23:3), revelando, assim, a Sua dupla natureza.

– A rocha é identificada, nas Escrituras, com o próprio Deus, porque é dotada de algumas características que revelam a divindade. Senão vejamos.

Em primeiro lugar, a rocha é firme, ou seja, sua estrutura é tal que confere segurança, confere firmeza a toda e qualquer construção que se faça sobre ela. A firmeza da rocha fala-nos da firmeza da Palavra do Senhor, da Sua verdade (Dt.32:4).

A rocha não se desfaz com facilidade, não se desgasta à toa. É firme e de grande durabilidade, como confirmam, aliás, os geólogos (que estudam as rochas e as formações da terra), que dizem ser necessários milhões de anos para que ocorra a erosão e o desgaste das rochas e, mesmo assim, das rochas que estão expostas às intempéries, que não é o caso da rocha da parábola, que se encontra no interior do solo, fora do alcance das intempéries.

A Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25), não se desgasta com o tempo, nem se modifica por causa das modificações externas do comportamento humano. Por isso, a rocha simboliza Deus, porque Ele não muda nem a Sua palavra.

OBS: Watchman Nee discorda que a rocha se refira a Cristo, preferindo dizer que se referiria às Suas palavras de sabedoria,

“…a palavra que revela a vontade do Seu Pai que está nos céus. A vida e o trabalho do povo do reino deve estar fundado na palavra do novo Rei para o cumprimento da vontade do Pai Celestial. Isto é entrar através da porta estreita e andar no caminho estreito que conduz à vida…” (Novo Testamento – Versão Restauração – nota a Mt.7:24. http://online.recoveryversion.org/FootNotes.asp?FNtsID=282 Acesso em 12 abr. 2005)(tradução nossa de texto em inglês).

Assim, porém, não entendemos, já que Jesus Se identifica plenamente com a Palavra, já que é o Verbo de Deus (Jo.1:1) e, ao voltar vitorioso no Armagedom, trará como título precisamente a Palavra de Deus (Ap.19:13). A rocha é Cristo, pois a Palavra é Cristo.

– A segunda característica da rocha é decorrência da sua firmeza e durabilidade. Como é firme e durável, permite que as pessoas encontrem neste terreno segurança, refúgio, pois é área que não se abala com facilidade.

Por isso, as Escrituras vinculam a rocha à salvação, ao refúgio e à libertação. Na rocha, é possível se refugiar quando há tremores de terra, como também se encontrar um esconderijo, pois nas áreas rochosas, normalmente o acesso é difícil, os caminhos para ali se chegar não são fáceis, mas trazem segurança. Deus é o nosso refúgio, é Ele quem nos protege, quem traz segurança à nossa vida.

– O mundo dos nossos dias vive em constante insegurança e intranquilidade. A violência, a incerteza quanto aos rumos da economia, as grandes dificuldades encontradas nos relacionamentos, inclusive e em especial os familiares, trazem uma perplexidade crescente na humanidade.

Tal qual ocorria nos dias de Jesus, em razão destas circunstâncias tão adversas, os homens correm de um lado para outro, procurando algo que lhes possa dar segurança, algo que lhes possa dar um refúgio. Entretanto, só a rocha pode dar esta segurança, esta proteção, este refúgio. O Deus de Jacó é o nosso refúgio (Sl.46:7b,11b).

– A terceira característica da rocha é o fato de que ela tem de ser buscada na profundidade, pelo menos na circunstância mostrada por Jesus na parábola.

O homem prudente, mormente na região desértica, que é predominante na Palestina, teve de cavar, e muito, para encontrar a rocha sobre a qual edificaria sua casa, como, aliás, é explícito a respeito o relato de Lucas, onde se diz que o homem prudente “cavou e abriu bem fundo, e pôs alicerces sobre a rocha” (Lc.6:49).

A rocha, para ser encontrada, exige esforço e dedicação. É preciso haver vontade por parte do ser humano para que ele se encontre com Cristo.

Não é possível que se sirva a Deus sem esforço, sem dedicação, sem renúncia. O esforço próprio não salva, mas é necessário que se tenha o propósito de se encontrar com Jesus.

– O jovem mancebo, também chamado de mancebo de qualidade, não quis renunciar às suas riquezas para servir a Cristo e, por isso, não encontrou a vida eterna que tanto ansiava por obter.

O “mau ladrão” da cruz também não quis se arrepender dos seus feitos, mesmo próximo à morte, não tendo encontrado Jesus, apesar de estar tão perto d’Ele. Judas Iscariotes não quis se reencontrar com o Senhor, que o havia chamado de amigo, preferindo, antes, dar cabo da sua própria vida a se arrepender e se humilhar diante de Jesus.

São pessoas que não quiseram cavar, que não quiseram abrir bem fundo os seus corações, para que achassem a rocha, para que encontrassem a verdade que os libertaria. Por isso, não alcançaram a vida eterna.

– Deus prometeu dar a vitória a Josué, mas foi incisivo em dizer que ele deveria se esforçar e ter bom ânimo (Js.1:6-9).

Na nossa vida sobre a face da Terra, Jesus também manda que tenhamos bom ânimo quando enfrentarmos as aflições que são típicas desta existência (Jo.16:33).

É preciso haver esforço e dedicação na nossa comunhão com Cristo, sem o que não acharemos a rocha, não teremos como construir um alicerce para a nossa vida espiritual. É imperioso que nos mantenhamos firmes e constantes, sabendo que o nosso trabalho não é vão no Senhor (I Co.15:58).

– O homem prudente cavou e abriu bem fundo para encontrar a rocha. Devemos, também, fazê-lo para encontrarmos Cristo, cujas riquezas de sabedoria e de ciência são profundas (Rm.11:33).

É preciso que nos aprofundemos mais e mais em direção a Cristo, que nos aperfeiçoemos a cada instante para que adquiramos raízes profundas, para que tenhamos um fundamento que permita que as circunstâncias desta vida não nos abalem.

– A quarta característica da rocha advém da sua própria definição. A rocha, dizem os dicionaristas (ou lexicógrafos), é uma “massa mineral que apresenta a mesma estrutura, composição e origem”. Pois bem, esta é uma característica do nosso Deus: Ele é o mesmo, nunca muda (Tg.1:17).

Quando alicerçamos a nossa vida sobre a rocha, temos a certeza de que assim como o Senhor agiu no passado, como se encontra revelado na Sua Palavra, assim agirá conosco. Podemos descansar, porque o Senhor é fiel e cumpre todas as Suas promessas.

Por isso, temos descanso e tranquilidade, porque sabemos que a rocha é a mesma, que a rocha não se modifica, que a rocha não altera a sua composição.

– A quinta característica da rocha é que ela é uma “massa mineral de mesma composição”, ou seja, é um todo. O homem prudente edificou a casa sobre a rocha, não sobre parte da rocha.

A rocha foi seu fundamento, toda a rocha. Jesus falou sobre A rocha, não sobre fragmentos de rocha. Temos de construir nossa vida sobre A Palavra de Deus, sobre Jesus, aceitando-O por completo, inteiramente, integralmente em nossas vidas.

– A parábola indica-nos que não existe como querermos aceitar parte , somente aquilo que nos interessa, aquilo que nos é conveniente.

Lamentavelmente, muitas pessoas estão se iludindo querendo ser cristãs “ao seu modo”, como, aliás, recentemente uma conhecida liderança religiosa quis justificar a conduta de uma figura proeminente da vida política nacional.

Ou construímos nossa vida sobre a rocha, aceitando Cristo como fundamento de nossa vida, aceitando a Sua Palavra como nossa única regra de fé e prática, ou, então, simplesmente não construímos nossa casa sobre A rocha.

– É preocupante o nível do “relativismo ético” que temos observado entre os “que cristãos se dizem ser”. Querem aceitar as Escrituras apenas naquilo que está de acordo com seus padrões, com a sua vontade.

Não têm, portanto, Jesus como fundamento de suas vidas, pois quem assim age não está construindo sobre a rocha.

A rocha é Cristo e é a Bíblia Sagrada quem testifica a respeito de Jesus (Jo.5:39). Muitos têm procurado compatibilizar Jesus com a sua vã maneira de viver, e, para tanto, chegam mesmo a apresentar um outro evangelho (Gl.1:6-9).

Não há outro evangelho, não há outra rocha, não se pode acatar apenas parte da rocha como fundamento das nossas vidas. Aqui é tudo ou nada. Como disse o Senhor no sermão do monte, nosso falar é sim, sim, não, não, o mais é de procedência maligna (Mt.5:37).

OBS: Há, na atualidade, uma busca incessante por um Cristo alternativo, por um Jesus mais tolerante, mais “atualizado”, menos “exigente”.

Não nos deixemos iludir: a rocha é da mesma composição, não muda. O Cristo dos evangelhos apócrifos (elogiado e aplaudido em obras como “O Código Da Vinci”), o Cristo da Nova Era, o Cristo que admite a imoralidade, são “falsos cristos” que nos são apresentados e que não podem chamar a nossa atenção (Mt.24:23-26).

Razão tinha o então cardeal católico-romano Joseph Ratzinger, que se tornaria, no dia seguinte após ter proferido estas palavras, no Papa Bento XVI, ao afirmar que “…o relativismo, isto é, o deixar-se levar ‘em toda por todo e qualquer vento de doutrina’, aparece como a única atitude de grandeza dos tempos hodiernos.

Se vai constituindo em uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida só o próprio ego e o seu querer.…” (trecho da homilia da missa Pro Eligendo Romano Pontifice, celebrada em 18 abr. 2005, na Basílica de São Pedro) (tradução nossa do texto oficial em italiano no site do Vaticano).

– A comparação usada por Cristo não era estranha aos Seus ouvintes. Na época em que Jesus proferiu o sermão do monte (bem como o sermão da planície, para quem entende que os sermões são distintos), já havia, entre os judeus, a figura da rocha como sendo o da fundamentação da vida na Palavra de Deus. Segundo o tratado Pirkei Avot (“Ética dos Pais”) do Talmude (o segundo livro sagrado do judaísmo), o Rabi Elisha ben Abuyah apresenta um pensamento muito semelhante, que ora transcrevemos:

“… Um homem virtuoso que estudou a lei diligentemente é semelhante a quem constrói uma fundação de pedras e uma construção de tijolos, embora seja inundada, ela não pode ser removida.

Um que não é virtuoso, apesar de estudado a Lei, é semelhante a quem deixa pedras sobre uma fundação de tijolos: a menor correnteza derruba a construção… “(RODKINSON, Michael.

O Talmude Babilônico, v.5, p.89) (tradução nossa de texto em inglês). Conquanto este pensamento seja, ao que tudo indica, posterior ao ensino , é mais uma demonstração de que os ensinos do Senhor estavam bem sintonizados com o público-alvo de Suas parábolas, de que o Senhor não apresentava “inovações”, mas ensinos respaldados na revelação divina a Israel.

– A outra personagem da parábola é o homem que Jesus chamou de insensato, que é aquele que ouve mas não pratica as palavras de Jesus (Mt.7:26).

A palavra “insensato” vem do grego “morós”, que significa insensato, tolo, néscio, sem entendimento. Ouvir as palavras de Jesus e não as praticar é demonstração de ignorância, de falta de conhecimento, de falta de compreensão.

Lembramo-nos aqui daqueles que, na parábola do semeador, ouviram mas não compreenderam, que foram aqueles que são semeados à beira do caminho, aqueles que têm arrebatada a palavra por parte do maligno, assim como as aves dos céus comem a semente.

– Ouvir a palavra e não a praticar é se manter debaixo do domínio do maligno, é não nascer de novo, é simplesmente não aproveitar a oportunidade de entrar no reino dos céus.

Aquele que ouve e não pratica o que Jesus ensina edifica a sua casa sobre a areia, ou seja, sem qualquer fundamento.

– Não cometamos o erro de dizer que o homem insensato adotou a areia como fundamento da sua casa, pois isto não corresponde ao que Jesus ensinou.

No relato que Lucas faz da parábola, vemos claramente, no texto, que o insensato simplesmente resolveu construir sem qualquer alicerce, sem qualquer fundamento (Lc.6:49).

Só existe um fundamento para se construir a vida espiritual: Jesus Cristo, a rocha inabalável, como se intitulou a presente lição.

Não existe outro fundamento e, por isso, quem não escolhe a rocha, constrói sem qualquer fundamento.

– A areia é um terreno que não se constitui em fundamento algum. Construir sobre a areia, terreno facilmente encontrado na Palestina desértica, era construir sem qualquer fundamento, sem qualquer preocupação com o futuro. Construir sobre a areia era muito fácil, exigia pouco esforço por parte do construtor e, certamente, foi uma construção muito mais rápida do que a feita pelo homem prudente.

– Assim é a vida sem Deus e sem salvação. É extremamente fácil, não exige qualquer esforço ou dedicação, podendo, mesmo, auferir vantagens imediatas imensas, mas, assim como a construção sobre a areia, não passa de uma ilusão, de uma fantasia, porque a realidade é que não há como se sustentar, por muito tempo, este tipo de construção.

– Vemos que o homem insensato também resolveu construir a sua casa, ou seja, sabia que tinha de viver a vida que lhe havia sido dada por Deus (e, voltando ao parêntese supra, vemos quão insensato e tolo é aquele que, na vida secular, não se preocupa em abrigar a sua família, pois nem o homem insensato da parábola chegou a tamanho grau de tolice), mas resolveu vivê-la do modo mais fácil, da forma mais conveniente, sem esforço, sem dedicação, sem qualquer preocupação para com o futuro.

– O homem insensato pensou apenas no presente, na necessidade de ter um teto aqui e agora e, se possível, da maneira mais rápida e menos custosa possível.

Construir sobre a areia é viver na perspectiva do hoje, sem se importar com a eternidade, pensar tão somente nas coisas desta vida.

É a vida típica dos gentios, como o próprio Jesus havia dito no sermão do monte, ter uma vida voltada única e exclusivamente para as necessidades materiais – comida, bebida e vestido (Mt.6:31,32).

– O homem que já ouviu a mensagem não pode se voltar apenas para estas coisas, não pode ter sua vida voltada para a dimensão terrena, porque, se assim o fizer, será o mais miserável de todos os homens (I Co.15:19).

Infelizmente, tem sido este o caminho de muitos “evangélicos” dos nossos tempos: buscam um Jesus que cure as suas doenças, que lhes traga prosperidade material, que lhes forneça posição social, fama e poder. São homens insensatos, que estão a desperdiçar a oportunidade de construírem suas casas sobre a rocha e que preferem o caminho mais cômodo e fácil da construção sobre a areia.

– A areia, embora cientificamente seja também considerada como uma rocha, é “…um conjunto de grãos de fragmentos mínimos de minerais ou de rochas silicosas, que se encontra nas praias e no leito dos reios e se usa em obras de alvenaria…” (Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse, p.68). Assim, ao contrário da rocha a que nos referimos supra, a areia apresenta qualidades distintas e que explicam porque nem sequer pode servir como fundamento para uma construção.

– A primeira característica da areia é que se trata de um conjunto de fragmentos mínimos de minerais, ou seja, ao contrário da rocha, que é uma massa mineral que tem a mesma estrutura, a areia é fragmentada, ou seja, não há unidade na sua composição, tanto que é comum encontrarmos, no meio da areia, objetos estranhos a ela, detritos e até seres vivos, que ali se alojam.

Sem ter unidade, a areia não pode dar fundamento a coisa alguma, não pode se constituir em base para nada.

– Assim é o que ocorre quando o homem rejeita os ensinos e, apesar de ouvi-los, pretende viver “ao seu modo”, “à sua maneira”. O homem, diante de Deus, é menos do que um grão de areia em relação ao

Universo, ou seja, é menos do que nada (Is.40:17). Um indivíduo diante de Deus, portanto, não é sequer nada e, por isso, não pode o homem querer, com sua presunção e orgulho, querer ter algum merecimento da parte do Senhor.

Como se pode querer construir uma vida espiritual com base em nós mesmos, que somos um grão de areia neste universo (se é que chegamos a tanto) ? A comparação que Jesus nos dá mostra bem a imensa misericórdia que Deus teve para conosco e a nossa necessidade absoluta de nos fundarmos em Cristo se quisermos ter a vida eterna.

OBS: “…O conceito, aqui, é o de justificar-se pelos seus próprios esforços, através da autoconfiança, à semelhança dos fariseus que se estribavam em si próprios como os grandes guardiães da lei mosaica, mas estavam cheios de peçonha mortal.

Infelizmente, para os que assim prossegue, sem mudar de rota e firmar os seus passos em Cristo, o fim deles é a perdição.…” (COUTO, Geremias do. Sermão do monte: a transparência da vida cristã. Lições bíblicas: mestre, jovens e adultos, 2. trim. 2001, p.95).

– Por causa desta fragmentação, a areia simboliza todas as maneiras e formas de viver criadas pelos homens ao longo dos séculos, todas elas em dissonância com o modo estabelecido por Deus. Deus é a rocha, é único, enquanto que os grãos de areia são milhões, mínimos mas de todas as mais diversas características.

Por isso, Jesus comparou o caminho da perdição como uma estrada larga, que permite toda e qualquer idéia, toda e qualquer concepção, toda e qualquer prática.

A fragmentação da areia permite a entrada de todo e qualquer objeto em seu interior. É o ambiente aberto, tolerante, inclusivo e “sem qualquer preconceito” que é defendido ardorosamente pelo mundo sem Deus e sem salvação.

OBS: Como diz Watchman Nee, o criador do perigoso movimento “igreja local”, mas que aqui foi feliz em sua interpretação, “…a areia se refere aos conceitos humanos e aos meios naturais.

Se nós trabalharmos de acordo com os nossos conceitos humanos e nossos meios naturais, nossa vida e trabalho estarão fundados na areia movediça. Isto é entrar na porta larga e andar no caminho espaçoso que conduz à perdição.…” (Novo Testamento. Versão Restauração. Nota a Mt.7:26. http://online.recoveryversion.org/FootNotes.asp?FNtsID=285 Acesso em 12 abr. 2005) (tradução nossa de texto em inglês).

– Construir sobre a areia é dizer que cada homem é a medida do certo e do errado. Aliás, quem constrói sobre a areia já “ultrapassou esta arcaica divisão entre certo e errado”, está no lema de que “é proibido proibir” e que se tem de “atualizar” os conceitos e que se deve acolher e respeitar “a orientação de cada um”, a “liberdade de expressão”, “o modo peculiar de cada um servir a Deus”.

São construções sobre a areia, construções aparentemente belas, lógicas e corretas, mas que, não muito depois, sucumbirão para sempre.

– Não é necessário esforço algum para se construir sobre a areia. Logicamente que a construção sobre a areia demanda tempo, dinheiro, trabalho, mas nada comparável ao que é feito pelo homem prudente. Este deve se esforçar, se dedicar, renunciar, mas o que constrói sobre a areia a nada renuncia, pois apenas usa aquilo que está de acordo com a sua vontade.

Ademais, a areia, por ser fragmentada, amolda-se perfeitamente à construção, não oferece qualquer resistência, não cria qualquer problema.

É superficial, ou seja, encontrada na superfície, não exige muito esforço para ser encontrada, é o “chão raso”, como traduz o terreno a Tradução
Ecumênica Brasileira (Lc.6:49).

– A segunda característica da areia é de que ela é flexível, ou seja, amolda-se às circunstâncias. A areia assume muitas e diferentes formas, consoante o gosto de quem a manipula, como podemos ver com as crianças e mesmo adultos que, na praia, costumam modelar a areia, fazendo os famosos “castelos de areia”, expressão, aliás, que passou a significar os sonhos e ilusões sem qualquer fundamento que se constroem nas mentes das pessoas. É isto mesmo o que representa a areia: a conformidade com o mundo.

– Conformar-se com o mundo é tomar a forma do mundo, é assumir a forma do mundo, é de adequar, se adaptar ao formato do mundo.

Quem constrói sobre a areia é alguém que não quer ser diferente dos demais, alguém que aceita os valores, os princípios e o modo de vida daqueles que não têm Deus nem salvação.

O verdadeiro e genuíno cristão não pode, em absoluto, tomar a forma do mundo. Diz o apóstolo Paulo que não podemos nos conformar com este mundo, mas nos transformar pela renovação do nosso entendimento (Rm.12:2). É esta a forma de experimentarmos a vontade de Deus.

– Enquanto o homem prudente construía de acordo com o formato da rocha que havia escolhido para ser o fundamento da sua casa, o homem insensato preferia construir segundo a sua própria vontade, segundo o seu jeito de ser, pois a areia não lhe trazia qualquer resistência ou oposição.

Do modo como se construía a casa, deste modo era a casa construída, inclusive com mudanças de plano ao longo da construção, pois a areia admite plenamente estas modificações e adaptações. Com a rocha, entretanto, isto não era possível. É a rocha quem traça o plano do homem prudente, não o contrário.

– Muitos querem servir a Deus do seu jeito e, por isso, não querem ter como fundamento a rocha. Preferem construir ao seu modo, achando que, no final, tudo vai dar certo, a bondade divina os impedirá de ter grande queda.

Entretanto, não é este o ensino de Jesus na parábola. O homem insensato ouviu, mas não praticou o que Jesus ensinou e, por isso, terá grande queda.

Construiu do jeito que quis, mas, infelizmente, sua construção não perdurará, não subsistirá (cfr. Sl.6). Como diz a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, “ouviu os ensinamentos de Jesus mas não viveu de acordo com eles” (Mt.7:26).

– A terceira característica da areia é a de que ela não oferece qualquer proteção, qualquer segurança. Assim como a areia se amolda a qualquer tipo de construção, também ela se apresenta como incapaz de oferecer qualquer proteção à construção.

A areia não passa de um conjunto de fragmentos mínimos de minerais e, portanto, não tem a coesão necessária para garantir qualquer proteção à edificação que for erigida sobre ela.

Como Jesus diz na continuidade da parábola, a areia não pôde dar qualquer proteção, qualquer segurança ao construtor.

Assim é este mundo: na hora H, o homem, imerso no pecado, é deixado só e abandonado por todos aqueles que lhe prometeram ajuda e auxílio.

Os falsos amigos, os demônios, ninguém pode ajudar o homem sem Deus no momento decisivo. Nossos primeiros pais, após terem pecado, fugiram, escondendo-se da presença de Deus e não havia quem os pudesse ajudar.

A serpente, que os havia tentado, desaparecera, deixando-os solitários. Assim se dará com todos aqueles que rejeitarem a companhia , o único que nunca nos deixa, o único que jamais nos abandonará (Mt.28:20).

– A quarta característica da areia é de que ela é sempre variável, muda sempre, nunca tem a mesma consistência.

Na própria definição de areia, vemos que é ela formada de “rochas silicosas”, ou seja, percebamos aí o plural.

A areia nunca é igual, apresenta sempre uma composição variada. Nosso Deus é um Deus ordeiro, que nunca muda, mas as coisas desta vida são sempre “inovações”, “novidades”, embrulhos e pacotes novos para trazer sempre o mesmo conteúdo de rebeldia e incredulidade contra Deus e a Sua Palavra.

Não nos deixemos iludir com “novas visões”, “novas unções”, “novas revelações” ou tudo o que for “inovador”, “moderno”, “atual”, pois assim é sempre a areia. A rocha continua a mesma, consistente e imutável. Construamos sobre a rocha, não sobre a areia.

OBS: A Versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo (a mais antiga versão católico-romana da Bíblia em língua portuguesa) traduz por “terra levadiça” e a Versão dos monges de Mardesous, “ terra movediça”, o terreno sobre o qual o insensato construiu sua casa em Lc.6:49.

Estas expressões, como também a conhecida “areia movediça”, mostram bem esta característica da areia. Trata-se de um terreno que é facilmente levado de um lado para outro, que não tem constância, firmeza ou imutabilidade.

– A quinta característica da areia é o fato de que ela é resultado de uma desagregação de rochas silicosas, um agregado de grânulos cujo tamanho convencional é de 0,06 mm a 2mm, desagregação motivada pelos agentes da erosão (segundo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

Ora, como se pode observar, portanto, a areia é fruto de uma desagregação, de uma ação destrutiva. Por isso, a areia simboliza a “base” do homem que está morto no pecado, do homem que morreu por causa dos seus delitos e pecados, do homem que foi contaminado e destruído pelo diabo (Jo.10:10).

É um homem em decomposição, um homem cuja imagem e semelhança de Deus foi irremediavelmente comprometida e que necessita de restauração, de reconstrução. A areia é o resultado de uma degeneração, de uma corrupção. É o símbolo da decadência, da morte espiritual.

– Mas há um novo elemento que Jesus introduz nesta parábola, na verdade elemento introduzido assim que se falou do homem prudente: as intempéries, ou seja, o mau tempo, o dia da adversidade.

– As casas construídas representam as vidas dos prudentes e dos insensatos. Ora, tanto na vida de uns quanto na dos outros, há o dia da adversidade, há o dia mau. O dia da adversidade é uma criação divina(Ec.7:14) e, como Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17), temos que tanto justos quanto ímpios sofrerão adversidades ao longo de sua existência terrena.

Jesus refere-Se às intempéries de forma absolutamente idêntica tanto ao homem prudente (Mt.7:25, Lc.6:48b) quanto ao homem insensato (Mt.7:27; Lc.6:49b).

A identidade de expressões mostra que tanto um quanto outro passam pelos mesmos problemas e aflições nesta vida debaixo do sol, que, afinal de contas, é o tema do escritor de Eclesiastes.

– Esta parábola, então, serve-nos, mais uma vez, para desmentir os defensores da “doutrina da confissão positiva” e da “teologia da prosperidade”, que vivem alardeando que o salvo não tem problemas nesta vida, que, uma vez alcançada a salvação, não é possível que um verdadeiro salvo sofra qualquer dificuldade na vida.

Isto não tem qualquer respaldo bíblico, pois Jesus, nesta parábola, diz que o homem prudente sofreu, sim, dificuldades e problemas, houve contra ele as mesmas intempéries que se abateram sobre o homem insensato. Deus não é injusto nem preconceituoso e, por isso, manda a chuva e o sol tanto para os justos quanto para os pecadores (Mt.5:45).

– A diferença entre justos e ímpios não está em que um tem problemas e o outro, não, como iludem os adeptos da “teologia da prosperidade”, mas nas consequências destas intempéries na vida de uns e na vida dos outros.

Tanto para o homem prudente, quanto para o homem insensato, advieram chuvas, ventos e rios, mas o resultado da ação destas chuvas, ventos e rios foram bem diferentes para eles.

OBS: “…Obedecer a Deus é como construir uma casa sobre um alicerce forte e sólido, que resiste firmemente às tempestades.

Nas ocasiões em que a vida está tranquila, pode parecer que as bases não são importantes, mas quando as crises chegam, os alicerces são testados.

Certifique-se que a sua vida esteja fundamentada sobre um sólido conhecimento e confiança em Jesus Cristo.” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, com. Lc.6:46-49, p.1360).

– Não devemos servir a Deus achando que nossa vida, depois de nossa salvação, será um “mar de rosas” (como se, no mar de rosas, não houvesse os espinhos…). O Senhor Jesus jamais prometeu a Seus discípulos uma vida sem quaisquer dificuldades.

Pelo contrário, sempre que nos fala a respeito da vida espiritual, Cristo faz questão de indicar que será uma vida repleta de obstáculos e de lutas.

Ao revelar o mistério da igreja, logo disse que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt.16:18), ou seja, a primeira característica que revelou da igreja, depois do seu fundamento, foi a constante e renhida luta contra o diabo e seus anjos.

– Quando Jesus falou aos Seus discípulos sobre o que é a vida de comunhão com Ele, foi categórico ao dizer que quem quisesse segui-l’O, deveria renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz (Mt.10:38), ou seja, a vida com Cristo é uma vida em que se tem uma cruz a levar, em que se tem um fardo a carregar, uma responsabilidade a assumir, um peso a suportar.

Servir a Jesus, portanto, não é algo extremamente agradável e fácil, mas uma responsabilidade a ser suportada e com sofrimento.

– Por fim, como se isto fosse pouco, Jesus, nas Suas últimas instruções, disse aos discípulos que no mundo eles teriam aflições, mas que tivessem bom ânimo, já que ele havia vencido o mundo (Jo.16:33).

Assim, ao falar da vida sobre a Terra, Jesus só nos garantiu aflições, como se nada mais tivéssemos de esperar neste mundo.

– Não somos masoquistas, nem dizemos que a vida cristã é uma vida de sofrimento, uma vida de mazelas, uma vida de privações, mas queremos tão somente deixar claro que o ensino é de que a vida de comunhão com Ele sobre a face da Terra não elimina nem impede o sofrimento, a dor e a adversidade.

Jesus promete-nos a vitória sobre o mundo, a vitória sobre a morte, a vitória sobre o mal, mas esta vitória não dispensa as dificuldades e problemas que enfrentaremos inevitavelmente. Esta verdade, que tem sido indevidamente suprimida dos púlpitos, tem de ser divulgada, porque é o que nos ensina a Palavra de Deus.

– Em Mateus, as intempéries foram divididas por Jesus, na parábola, em três espécies, a saber: a chuva, os rios e os ventos (Mt.7:25,27). O registro da parábola em Lucas, entretanto, menciona as intempéries tão somente como “a enchente” (Lc.6:48b, 6:49b).

Por que esta diferença? As Escrituras combinam-se em cada detalhe e aqui, como em outras passagens dos evangelhos, temos de fazer uma interpretação conjunta, já que a visão global do ensino deve ser obtida mediante a reunião das visões de cada evangelista.

– Lucas identifica tão somente “a enchente”, como que desprezando as outras intempéries, para nos indicar que todas as intempéries da parábola têm a mesma função, qual seja, a de serem adversidades, problemas, lutas, obstáculos que surgem na vida das pessoas.

A identificação de apenas uma intempérie em Lucas adverte-nos, portanto, que a vida terá, independentemente de a pessoa ser salva ou não, vicissitudes, momentos adversos, cursos indesejáveis e prejudiciais a nós.

– Ao identificar, entretanto, três espécies de intempéries, Mateus mostra-nos, claramente, que Jesus nos indica que as adversidades têm três origens diferentes, têm três naturezas distintas e que temos de discerni-las ao longo de nossas vidas.

Todas elas são “a enchente”, ou seja, todas são adversidades, mas cada adversidade, cada problema, cada vicissitude pode uma de três origens: ou será chuva, ou será rio, ou será vento.

– A primeira dificuldade apresentada na parábola foi a chuva que desceu. Ora, a chuva aqui simboliza a prova mandada por Deus, que está nos céus (Ex.20:22; Dt.4:36; I Rs.8:32,34).

Deus prova os homens, notadamente aqueles que resolvem servi-l’O, com o intuito de aperfeiçoá-los espiritualmente (Jo.15:2). Provou, por exemplo, Abraão (Gn.22:1) e o povo de Israel (Dt.8:2,3).

A provação divina é, portanto, uma realidade na vida do homem, notadamente do servo de Deus, e tem como propósito o nosso aperfeiçoamento espiritual.

– A segunda dificuldade apresentada na parábola foram os rios que correram (ou que transbordaram, como consta na NVI).

Os rios geram enchentes, através das quais as águas, vindo de baixo, tudo destroem que encontram pela frente.

Talvez o evangelista também se refira aos rios temporários (torrentes, comuns em regiões de pouca chuva, como a Palestina e o Sertão nordestino brasileiro), que se criem apenas na época das chuvas, como que vindo do interior da terra.

A Bíblia de Jerusalém e a Bíblia Sagrada – Edição Pastoral usam o termo “enxurrada”, que dá bem a ideia do resultado do transbordamento dos rios.

Entendemos que os rios simbolizam as tentações vindas do adversário, porque vêm de baixo, das regiões inferiores, daquele que foi precipitado com seus anjos.

A tentação é uma realidade na vida do homem. Ninguém está livre de ser tentado, pois até Jesus foi tentado.

Deus permite a tentação para mostrar a nossa fidelidade, como fez com Jó. O maligno opera mediante a permissão divina, precisamente para que haja testemunho de nossa fidelidade a Deus, ou, então, para que se demonstre, claramente, uma falsa aparência de santidade de alguém (Tg.1:12).

Ser tentado é algo natural na vida do homem. O que não pode ocorrer é ceder à tentação, porque, como diz o poeta sacro, “ceder é pecar”.

– A terceira dificuldade apresentada na parábola foram os ventos que assopraram. Os ventos vêm de um lado para outro (Jo.3:8) e, assim, indicam as dificuldades e os problemas causados por aqueles que estão ao nosso redor, ou seja, os homens, com quem convivemos.

São dificuldades resultantes dos relacionamentos humanos, muitas vezes consequências da lei da ceifa (Gl.6:7).

Muitos problemas são decorrência das nossas próprias atitudes, pois temos o livre-arbítrio e a correspondência desta liberdade é a nossa responsabilidade moral.

São problemas que também podem ter como consequência o nosso aprimoramento espiritual, se agirmos, nos relacionamentos, como nos ensina a Palavra de Deus.

OBS: Watchman Nee discorda da postura por nós assumida. Embora entenda que a chuva represente a provação divina, identifica os ventos como sendo as tentações do maligno, pois o diabo e seus anjos habitaram as regiões do ar (Ef.2:2), enquanto que os rios, por serem provenientes da terra, seriam os problemas decorrentes de nossas ações entre os homens, que são da terra.

De qualquer maneira, mesmo diante desta discordância, que respeitamos, há o mesmo ensinamento das três diferentes origens das dificuldades na vida humana.

– A parábola ensina-nos, pois, que nem sempre toda e qualquer dificuldade do homem é ação do diabo, como alguns, inadvertidamente, andam ensinando por aí.

Muitos culpam o diabo por tudo o que acontece em suas vidas, mas não é este o ensinamento trazido por Jesus nesta parábola. Jesus deixa-nos bem claro que os problemas da vida podem ter três origens: Deus — através da provação; o diabo — através da tentação e o próprio homem — através de seus atos.

– Devemos, portanto, nos problemas concernentes às nossas vidas, ou quando estivermos a ajudar os outros, ter o devido discernimento da natureza do problema e não fazer julgamentos precipitados, baseados na aparência, como, por exemplo, fizeram os “amigos” de Jó, que, em suas acusações, acabaram sendo duramente repreendidos pelo próprio Deus (Jó 42:7).

– Os problemas vêm à vida de todo e qualquer homem e não são problemas fáceis, não, são complicações sérias. Lucas faz questão de dizer que Jesus informou que a enchente veio e “bateu com ímpeto a corrente naquela casa” (Lc.9:48b,49b).

Mateus afirma que as intempéries “combateram aquela casa” (Mt.7:25,27). Apesar da distinta tradução em língua portuguesa, nos dois textos, no grego, o verbo é “prosregnumi”, que significa “ir contra”, “ir com força contra”.

Como podemos perceber, portanto, as dificuldades a que Jesus alude não são “probleminhas”, não são “embaraços”, mas adversidades consideráveis.

É uma “enchente”, ou seja, algo que enche, que toma conta de nossas mentes, de nossos corações, de nossas esperanças, algo que preenche todo o nosso ser. “Problema” é palavra grega que significa “aquilo que está diante dos olhos”. Um problema é algo que tira a nossa visão, que nos faz não ver nada além da dificuldade.

– São estes “becos sem saída”, são estas circunstâncias desesperadoras a que Jesus está Se referindo na parábola.

Não há como fugirmos deles, pois eles são próprios da vida humana sobre a face da Terra. Vêm com ímpeto, isto é, com força, para nos derrubar, para nos fazer cair e é aí, neste instante, que se vê a diferença entre o que serve a Deus e o que não O serve.

– Quem tem a sua vida edificada sobre Cristo, i.e., quem obedece a Cristo, quem assumiu a Palavra como sua regra de fé e prática, sai vencedor do combate, pois a dificuldade não destruirá a sua vida espiritual, porque a rocha mantém o edifício de pé, porque o alicerce resiste às intempéries.

A casa não caiu, diz Mateus; a casa não pôde ser abalada, esclarece Lucas. A vida eterna transcende as coisas desta vida e o problema tem como resultado uma demonstração de firmeza e solidez para o construtor.

– Quem, entretanto, não tem a vida edificada sobre Cristo, i.e., quem faz a sua vontade, quem ouve, mas não pratica a Palavra , sai vencido do combate, pois a dificuldade destruirá a sua aparente vida espiritual, porque, sem alicerce, sem fundamento, o edifício “logo caiu”, diz Lucas; “grande foi a sua queda”, narra Mateus.

A aparência de vida eterna é uma ilusão, é uma fantasia que não resiste aos problemas desta vida. A verdade surge, então, com gravíssimas consequências para o insensato construtor.

“A ruína foi completa”, para aqui nos utilizarmos da versão da Bíblia Sagrada – Edição Pastoral. Uma vida sem Cristo redundará em perda total de vida, na morte eterna, a segunda morte de Ap.20:14, “uma casa totalmente destruída”, como se lê na Nova Tradução na Linguagem de Hoje (Mt.7:27).

– Muitos não querem sofrer, muitos não querem passar por dificuldades porque sabem que não resistem a elas, única e exclusivamente porque não construíram sobre a rocha. Preferem a mobilidade, a fraqueza, a ilusão da areia.

Entretanto, o fato de não quererem ter dificuldades, que não crerem que o crente possa ter problemas na vida, apesar de ter alcançado a salvação, é totalmente indiferente, é mais uma das ilusões e fantasias, é mais um dos “castelos de areia”.

Jesus foi enfático: as tribulações vêm as aflições são próprias da vida sobre a Terra e têm um valor muito grande para o homem: mostra, sem tergiversações, sem rodeios, sem ponderações, o verdadeiro fundamento de nossas vidas.

OBS: “…Como uma casa feita de papelão, a vida do tolo se desmancha, reduzindo-se a pó. A maioria das pessoas não busca deliberadamente construir sua vida sobre uma fundação falsa ou com material inferior, mas não pensa em um propósito verdadeiro para ela.

Muitos se encaminham para a destruição, não por teimosia, mas por negligência. Parte de nossa responsabilidade como cristãos é ajudar os outros a parar e pensar em que direção sua vida tem seguido, e indicar as consequências de ignorar e/ou desprezar a mensagem .…” (BÍBLIA DE ESTUDO
APLICAÇÃO PESSOAL, nota a Mt. 7.26, p.1231).

– Onde temos construído as nossas vidas? Ainda é tempo de começarmos a cavar e abrir bem fundo, retirando tudo aquilo que nos impede de ter acesso à Rocha, a Cristo que está à disposição para ser o fundamento de nossas vidas. Comece a construir hoje sobre a rocha e, com certeza, a sua vitória será maravilhosa. Amém!

OBS: É oportuno aqui repetir o comentário feito por Giancarlo Zizola, o principal especialista italiano em análise do Vaticano, que, em recente entrevista, afirmou que é necessário “…liberar o cristianismo da cristandade, [isto é] desatá-lo [o cristianismo] dos regimes de cristandade – nos quais a religião cresce apenas vegetativamente, protegida por uma rede social e estatal.(…).

O cristianismo não poderá existir no futuro como religião de sociedade, e sim como religião de testemunho.” (Mario SABINO. A igreja precisa de oficina (entrevista com Giancarlo Zizola). Veja, ano 38, n.15, edição 1900, 13 abr. 2005, p.15). Servir a Deus, mostra-nos Jesus, sempre foi uma questão de testemunho. O mais é edificar sobre a areia.

III – A AUTORIDADE DO ENSINO DE JESUS

– Chega-se, então, ao final do relato do sermão do monte, quando Mateus diz que a multidão ficou admirada com a doutrina de Jesus, porque ensinava como tendo autoridade e não como os escribas (Mt.7:28,29).

– Por primeiro, notemos que o Senhor Jesus endereçou Seu sermão aos discípulos, embora tivesse visto a multidão (Mt.5:1), tendo a multidão sido alcançada pelo discurso.

– Os discípulos de Jesus devem levar a mensagem de Jesus à multidão, Jesus quer atingir a multidão, ou seja, quer salvar os que ainda não O conhecem e Se vale dos Seus discípulos para fazê-lo.

– Naquele instante, Jesus estava presente e poderia Ele mesmo falar para que a multidão O ouvisse. Agora, que não está mais fisicamente entre nós, aumenta sobremaneira a responsabilidade de Seus discípulos, pois Jesus tem de continuar a ser ouvido pela multidão. Temos feito os homens ouvir a voz ? Pensemos nisto!

– Por segundo, observemos que a multidão se admirou da doutrina de Jesus. Não tanto do que Jesus falava, pois, basicamente, estava a repetir os ensinos dos escribas e fariseus, ainda que levando a lei a seu real significado, ao seu real alcance.

– Entretanto, o que admirou a multidão não foi tanto o teor do que foi dito, mas, sim, a autoridade de Jesus. Jesus demonstrou autoridade que não havia entre os escribas e fariseus.

– De pronto, Jesus Se apresenta como o legislador, como Deus, tanto que fazia um contraponto entre o que era dito entre os antigos e o que Ele dizia.

Como disse o rabino Jacob Neusner (1932-2016) em livro de sua autoria em que simula um debate entre ele e Jesus, comentado pelo Papa Emérito Bento XVI, Jesus Se apresenta como o próprio Deus ao mostrar o real alcance da lei.

OBS: “…No livro de Neusner vem em seguida este diálogo: ” ‘Era isto’, pergunta o mestre, ‘que Jesus, o mestre, tinha para dizer?’ Eu: ‘Não

propriamente, mas mais ou menos’. Ele: ‘O que foi que ele omitiu?’ Eu: ‘Nada’. Ele: ‘O que foi que ele acrescentou?’ Eu: ‘A si mesmo'” (p. 113s).

Este é o ponto central da “impressão” perante a mensagem de Jesus para o crente judeu Neusner, e esta é a razão central por que ele não quer seguir Jesus, mas permanece no “eterno Israel”: a centralidade do Eu de Jesus na sua mensagem, que a tudo dá uma nova direção. Neusner cita neste momento, como prova para esta “adição”, a palavra de Jesus ao jovem rico: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e segue-Me (cf. Mt 19,21; p. 114).

A perfeição, a santidade exigida pela Tora, como Deus é santo (Lv 19,2; 11,44) consiste agora em seguir Jesus. Neusner aborda esta misteriosa equiparação entre Jesus e Deus, que se realiza nos discursos do Sermão da Montanha, com muito receio e respeito, mas as suas análises mostram que este é o ponto no qual a mensagem de Jesus radicalmente se distingue da fé do “eterno Israel”.…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré. Trad. de Jesus Jacinto Ferreira de Farias, SCJ. v.1, p.103).

– Mas, além desta circunstância, Jesus Se apresenta como o cumpridor da lei. Logo no início do sermão, diz que veio cumprir a lei e a Sua vida revelava este cumprimento, o que nem mesmo Moisés fora capaz de fazer. Jesus podia ser visto como exemplo, era o homem perfeito, Aquele que fazia a vontade de Deus.

– Os escribas e fariseus, ao revés, ensinavam mas não praticavam (Mt.23:3), não tinham, portanto, exemplo a dar, não tinham autoridade nos seus ensinamentos. Como diz conhecido dito popular: “faz o que eu mando, não faça o que eu faço”.

– Neste ponto, aliás, por concluir seu discurso com a parábola dos dois alicerces, o Senhor Jesus reafirma o que já dissera no início do sermão, ou seja, que Seus discípulos deveriam ter uma justiça superior a dos escribas e fariseus (Mt.5:20), precisamente por serem ouvintes e praticantes da Palavra de Deus.

– A autoridade de Jesus, por fim, decorria precisamente do fato de que Ele era o verdadeiro Mestre (Mt.23:8), porque era o Salvador, Aquele que, por cumprir a lei, satisfaria a justiça divina e nos permitiria, pela redenção dos pecados, dar condições a que também cumpríssemos a lei e a lei no seu sentido pleno, no seu real alcance.

– Desta maneira, não há como sermos cristãos se não agirmos exatamente como Jesus. “Cristão”, aliás, é ser um “pequeno Cristo”, ser “parecido com Cristo”. No sermão do monte, Jesus mostra qual é o caráter dos Seus discípulos e se não tivermos tal forma, tal conduta nunca entraremos no reino dos céus. Pensemos nisto!

 

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7385-licao-13-a-verdadeira-identidade-do-cristao-i

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