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LIÇÃO Nº 13 – EU E MINHA CASA SERVIREMOS AO SENHOR

No relacionamento com a sociedade, a família deve ser um altar ao Senhor.   

INTRODUÇÃO

 – No término deste trimestre, estudaremos como deve ser o relacionamento da família com a sociedade. 

– No relacionamento com a sociedade, a família deve ser um altar ao Senhor.  

I – O RELACIONAMENTO DA FAMÍLIA COM A SOCIEDADE NO PERÍODO ANTEDILUVIANO  

– Chegamos ao final do estudo deste trimestre, que esperamos tenha sido profícuo, a fim de que melhoremos a nossa vida familiar e, por conseguinte, a nossa própria vida espiritual.  

– Finalizando este tão importante estudo, analisaremos como deve ser o relacionamento da família com a sociedade como um todo. Sendo a base da sociedade, a família precisa se relacionar com o todo social de tal maneira que não perca suas características, como também não deixe de ser o que sempre deve ser, ou seja, o ambiente propício e adequado para a comunhão com Deus e o cumprimento de Seu propósito para a humanidade.  

– Temos visto ao longo do trimestre que a família foi criada por Deus para ser o ambiente propício e adequado para que o homem entre em comunhão com o Senhor, como também realize o propósito estabelecido por Deus quando da criação do ser humano.  

– Com a entrada do pecado no mundo, esta circunstância tornou-se extremamente prejudicada, mas, com a salvação em Cristo Jesus, é, sim, retornarmos ao princípio estatuído por Deus à família e, deste modo, criarmos condições para que nossas famílias sejam ambientes em que se adore a Deus, verdadeiros “lares”, verdadeiros altares ao Senhor, fato que fará com que toda a sociedade seja atingida pelo Evangelho, já que a sociedade é formada de famílias.  

– Neste ponto, logo vemos que a família não pode, em absoluto, ficar subordinada à sociedade, deve, sim, manter a sua autonomia e independência, que, aliás, conforme já visto ao longo do trimestre, é uma das características do modelo familiar tal como criado pelo Senhor. 

– Logo no limiar da história da humanidade, vemos dois modelos bem distintos de organização social, que bem demonstram isto. Enquanto Caim deu preferência à “cidade”, ou seja, à “sociedade”, menosprezando o aspecto familiar (Gn.4:16,17); Sete, assim que teve o seu filho, deu preferência à “família”, passando a invocar o nome do Senhor quando teve o seu primogênito Enos (Gn.4:26).  

– A civilização caimita deu proeminência à tecnologia, à cultura, aviltando os valores familiares, surgindo, em seu bojo, a poligamia e a prostituição, tudo porque se construiu longe da presença do Senhor e, por conseguinte, em total menosprezo à comunhão com Deus, que se faria precipuamente mediante o ambiente criado para tal fim, a saber, a família. Por isso, os caimitas são identificados como sendo “filhos dos homens” (Gn.6:2). 

– Já a civilização setita, por se erigir com base na família, por privilegiar o ambiente especialmente criado para se ter a comunhão com Deus, notabilizou-se pela sua proximidade com o Senhor, a ponto de ter o primeiro profeta (Enoque – Jd.14) e de ter a descendência conhecida como “filhos de Deus” (Gn.6:2).  

– Todavia, quando ambas as civilizações entraram em contato, algo muito triste ocorreu. Os setitas não souberam preservar os valores familiares, a invocação ao nome do Senhor e acabaram adotando o “modus vivendi” dos caimitas, a ponto de adotarem a poligamia e o total menosprezo ao casamento, gerando, então, uma sociedade totalmente corrompida, que acabou sofrendo o juízo divino com o dilúvio.  

– O menosprezo dos valores familiares estabelecidos por Deus, portanto, levou à corrupção generalizada da humanidade, uma situação que o Senhor Jesus descreveu como sendo idêntica a que se viveria nos dias imediatamente anteriores à Sua vinda (Mt.24:37-39), ou seja, os dias em que estamos a viver.  

– Temos, assim, uma importante lição quando analisamos os dias antediluvianos: se os “filhos de Deus” adotarem o “modus vivendi” dos “filhos dos homens”, menosprezando os valores familiares, perecerão juntamente com os incrédulos, porque deixarão de servir ao Senhor.  

– O assunto é grave e tem sido um dos fatores primordiais para a apostasia espiritual que temos presenciado entre os que cristãos se dizem ser. Nos dias hodiernos, não são poucos os que afirmam servir a Deus mas têm adotado o “modus vivendi” familiar do mundo, trazendo, assim, para si mesmos a perdição eterna, como será evidenciado quando do arrebatamento da Igreja.  

– Lamentavelmente, muitos estão, a exemplo dos descendentes de Sete nos dias de Noé, a assumir uma vida familiar mundana, onde não há mais qualquer adoração a Deus no lar, que, aliás, não pode ser propriamente chamado de “lar”, tendo em vista a ausência total de um altar ao Senhor em suas casas, onde o pecado domina e a mentalidade é completamente moldada pela mídia e pelo “mistério da injustiça”. 

– Quando verificamos, em muitas igrejas locais, na atualidade, a forma como jovens e adolescentes vivem a sua sexualidade, quando verificamos o número de divórcios que ocorrem entre os casais que cristãos se dizem ser, quando contemplamos a total falta de educação cristã nas casas, quando analisamos a inexistência completa de cultos domésticos nas famílias ditas cristãs, contemplamos, com imensa tristeza, que, efetivamente, muitos são os que, a exemplo dos descendentes de Sete, hoje são apenas nominalmente “filhos de Deus” e, em suas casas, estão a repetir os mesmos erros que levaram o Senhor a destruir toda aquela geração antediluviana.  

– No relacionamento com a sociedade, não podemos, de forma alguma, deixarmos que nossa vida familiar seja corrompida. É imperioso que mantenhamos o propósito divino estatuído para o lar, ou seja, que lá seja um lugar de invocação ao nome do Senhor, um local destinado a experimentarmos a comunhão com Deus.  

– Em meio àquela corrupção generalizada que vivia a humanidade no período antediluviano, sobressaiu-se a figura de Noé, que a Bíblia diz ter achado graça aos olhos do Senhor (Gn.6:8). Ao contrário do restante da humanidade de seu tempo, Noé mantinha os valores familiares e invocava o nome do Senhor, não tendo cedido à multiplicação da maldade sobre a terra, nem à contínua maldade das imaginações dos pensamentos (Gn.6:5).  

– Noé preservou a sua vida familiar, porque, em primeiro lugar, permaneceu invocando o nome do Senhor, tanto que Deus veio falar-lhe a respeito da Sua decisão de destruir a terra com o dilúvio. Na casa de Noé, havia comunicação com Deus, buscava-se a presença do Senhor, ia-se ao encontro de Deus.  

– Somente se tivermos uma vida de adoração ao Senhor em nossa família, somente se O invocarmos em nosso lar, teremos condições de resistir aos ataques do mundo e à influência corruptora da sociedade que se constrói ao largo dos princípios bíblicos. É preciso termos, em nossas casas, uma contínua meditação nas Escrituras e uma vida de oração, a fim de que, sujeitando-nos a Deus, podermos resistir ao diabo e fazê-lo fugir de nossas casas (Tg.4:7).  

– Noé tinha uma vida de comunhão com o Senhor e, por isso, manteve a sua casa fora da influência corruptora da sociedade antediluviana. Tanto foi assim que o Senhor pôde falar-lhe e Noé, uma vez tendo recebido a mensagem divina, pôde transmiti-la a seus filhos e ter, da parte dele, a mesma fé e obediência que levaram à salvação de toda a família (Gn.7:1).  

– Temos, aqui, outro fator que levou à preservação da família de Noé mesmo diante de toda a corrupção da sociedade. Noé não somente tinha comunhão com Deus, como também soube transmitir os valores morais e espirituais para seus filhos, precisamente o que o Senhor determinaria a Israel por intermédio de Moisés (Dt.6:6,7).  

– Noé não fez como Jó que, embora fosse um homem reto, sincero, temente a Deus e que se desviava do mal (Jó 1:1,8), tinha um relacionamento com Deus solitário, que não se estendia a seus filhos, visto que sacrificava ao Senhor sozinho, após o turno de banquetes de seus filhos (Jó 1:4,5), a mostrar que, ao contrário do patriarca, os demais integrantes da família tinham uma vida espiritual pífia, uma vida voltada apenas para as coisas deste mundo, distante de Deus. O resultado disto, sabemos todos, foi que os filhos de Jó pereceram (Jó 1:18,19).  

– Em nossos dias, há muitos Jós entre os servos de Deus. Cristãos retos, sinceros, tementes a Deus e que se desviam do mal, mas que, infelizmente, não transmitiram esta devoção e comunhão a seus filhos, que estão voltados tão somente para as coisas desta vida, que se preocupam apenas em banquetear, em desfrutar dos prazeres deste mundo, completamente distantes do Senhor e que, por isso mesmo, estão à mercê do homicida desde o princípio (Jo.8:44). Saiamos desta situação e evangelizemos nossos filhos, antes que seja tarde demais!  

– Noé soube transmitir os valores morais e espirituais iniciados por Sete e, desta maneira, teve condições de levar sua família a aderir ao projeto divinamente estabelecido para a construção da arca que levou à salvação de toda a família da destruição.  

– Devemos, a exemplo de Noé, fazer de nossa casa um local de adoração ao Senhor, de preservação dos valores e princípios bíblicos, pois, assim fazendo, também levaremos toda a nossa família a “entrar na arca”, que é símbolo de Cristo Jesus, o nosso Salvador, e fazer com que todos sejam salvos da ira futura (I Ts.1:10), todos sejam guardados da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo (Ap.3:10).  

– Agora, se formos permissivos como foi o patriarca Jó, veremos, como ele, a destruição de nossos familiares, pois, se eles adotarem o “modus vivendi” mundano, se puserem como objetivos de suas vidas os prazeres deste mundo, os “banquetes”, se preferirem o “embriagar-se com o vinho” em vez da plenitude do Espírito Santo (Ef.5:18), estaremos diante de uma “tragédia anunciada”, visto que, a exemplo da sociedade corrompida dos dias de Noé, terão seus pensamentos voltados única e exclusivamente para a maldade e tais pensamos se concretizarão na prática da maldade e do pecado, e, por causa disso, não terão ouvidos para a pregação do Evangelho e serão subvertidos como foi aquela geração. Que Deus nos guarde!  

– Foi por ter uma vida familiar condizente com a vontade divina que Noé pôde, durante cem anos, ser o “pregoeiro da justiça” (II Pe.2:5), alertando o povo do iminente juízo, a fim de que pudessem se arrepender de seus pecados. Verdade é que ninguém se converteu, mas o fato é que Noé cumpriu o seu papel de avisar aquele povo, tornando-se, assim, inocente da morte de seus contemporâneos.  

– De igual modo, temos, hoje, o dever de anunciar o Evangelho a toda criatura, mas só poderemos fazê-lo se, tal qual Noé, também tivermos uma vida familiar que nos dê a devida autoridade para nos dirigimos à sociedade. Temos condição de sermos “pregoeiros da justiça”? 

II – O RELACIONAMENTO DA FAMÍLIA COM A SOCIEDADE NO PERÍODO PATRIARCAL  

– No período patriarcal, vemos, mais uma vez, como é absolutamente necessário que construamos a nossa família como um ambiente propício e adequado para a comunhão com Deus, a fim de que não nos corrompamos com a sociedade que decide construir uma organização ao largo da vontade divina.  

– Quando o Senhor chamou Abrão para iniciar a formação de uma nação que Lhe fosse peculiar dentre todos os povos, houve uma ordem peremptória: “Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai” (Gn.12:1).  

– Para que houvesse a formação de uma nação santa, isto é, separada do pecado, era absolutamente necessário que Abrão saísse do meio da sua parentela e da casa de seu pai. O propósito de formação de uma nação santa começava, portanto, da família nuclear, do casal Abrão e Sarai, que não tinha filhos.  

– Vemos, portanto, que tudo começa pela família, não há como termos uma “nação santa”, se não tivermos, por primeiro, uma família santa. Por isso, precisamos ter santidade em nossa família, por isso precisamos, para influenciarmos a sociedade, sermos santos, sem o que nós é que seremos influenciados pela sociedade e poremos a perder tudo quanto o Senhor quer fazer através de nós neste mundo.  

– Abrão não cumpriu exatamente o que Deus lhe mandou fazer. Diz-nos o texto sagrado que, ao sair de Ur de caldeus, o patriarca levou com ele a seu sobrinho Ló (Gn.12:4), o que lhe causou muitos males, até que Ló dele se separou (Gn.13:5-11). Não podemos ter “Lós”, ou seja, pessoas estranhas ao chamado de Deus, pessoas que não comungam de nossa fé, que tenham influência ou ditem a nossa maneira de viver, pois isto nos impedirá de termos o cumprimento do propósito divino em nossas vidas, em nossas casas.  

– Além de Abrão não ter cumprido exatamente o que Deus lhe mandara no tocante a ter levado Ló consigo, ainda partiu para o Egito, em virtude da fome que havia em Canaã, sem qualquer orientação divina para tanto (Gn.12:10) e, lá chegando, por intermédio de uma mentira, quase que pôs tudo a perder, visto que Sarai acabou sendo tomada por Faraó (Gn.12:13-20).  

– Neste gesto do patriarca, vemos o perigo de querermos nos adaptar aos costumes mundanos, à forma de viver do “Egito”. Abrão, sabendo que os egípcios gabavam-se da formosura das mulheres (característica que, como vimos, era própria de uma sociedade corrompida, como a antediluviana, conforme se verifica de Gn.6:2), quis se acomodar a esta circunstância, buscando esconder o seu relacionamento conjugal com Sarai dos egípcios.  

– Esta contemporização com o mundo, que verificamos no gesto de Abrão, é também seguida por muitos que cristãos se dizem ser em nossos dias. Também, diante das imensas pressões do mundo, fazer algumas “acomodações”, abrindo perigosas brechas para a atuação do diabo, da carne e do mundo, que levam as famílias a situações de extremo perigo, como aconteceu com o patriarca, que se viu privado de sua mulher, tomada que foi por Faraó.  

– Muitos, na atualidade, têm também permitido que a mentira construa situações perigosas para a higidez familiar e, não raras vezes, como não há uma intervenção sobrenatural divina, como aconteceu no caso de Abrão, vemos a completa destruição das famílias, completamente minadas pelo inimigo de nossas almas.  

– Observemos, aliás, que o gesto de Abrão serviu para enriquecê-lo materialmente e não são poucos os que, na atualidade, em busca de uma prosperidade financeira, abrem mão dos valores morais e espirituais divinamente estabelecidos pela família. Ganham dinheiro, tornam-se ricos e famosos, mas, infelizmente, destroem seus lares e a si mesmos. Tomemos cuidado, amados irmãos, jamais contemporizemos com o mundo!  

– Retornando a Canaã e separando-se de Ló, Abrão pôde construir uma casa completamente independente do mundo que o cercava. Foi esta casa forjada nos princípios bíblicos que pôde se manter independente das nações que habitavam em Canaã e foi nesta independência que Abrão pôde experimentar a grande vitória sobre os reis que haviam tomado as cidades da planície, como também receber a bênção de Melquisedeque (Gn.14:12-24), bem assim receber do próprio Deus a mensagem de que o Senhor era o seu escudo e o seu grandíssimo galardão (Gn.15:1).  

– Quando vivemos uma vida de santidade em nossa família, podemos desfrutar de vitórias espirituais, podemos resgatar os perdidos, como também podemos gozar da comunhão e da bênção de Deus. Deus está disposto a nos conceder todas estas dádivas que deu a Abrão, desde que, a exemplo do patriarca, partamos para o caminho da obediência estrita e da santificação. Estamos dispostos a isto?

– Mas a vida familiar de Abrão teria novo percalço, quando, instigado por Sarai, quis o patriarca dar “uma ajuda” a Deus e aceitou ter um filho por intermédio da sua serva egípcia Agar (Gn.16:1-4). Temos aqui mais uma contemporização com o mundo, com o “Egito”, por intermédio de um subterfúgio humano para se atingir a promessa divina.  

– Em nossa vida familiar, precisamos estar atentos para as promessas divinas e agirmos com fé, com confiança em Deus e não buscarmos estratagemas humanos que nos levem aos objetivos traçados pelo Senhor. Nossa vida familiar não pode ser ditada por preceitos humanos, não podem ser guiadas por estratagemas cunhados pelos homens.  

– É com tristeza que vemos, cada vez mais, famílias que cristãs se dizem ser abandonarem a confiança em Deus em troca de estratagemas humanos a fim de alcançarem objetivos que estão de acordo com a vontade divina. Exemplo disso é o planejamento familiar. Muitos cristãos, em nome da fertilidade ou da qualidade de vida dos filhos, têm se submetido a procedimentos e a técnicas criadas pela ciência, esquecidos de confiar em Deus e, mesmo, dos preceitos divinos estabelecidos. 

– Abrão havia recebido de Deus a promessa de que teria um filho de suas entranhas (Gn.15:4), mas preferiu aceitar o mecanismo de ter filho através da serva de sua mulher, como se Deus precisasse de meios humanos para ver cumprida a Sua vontade. Hodiernamente, também, muitos têm adotado meios humanos, muitos deles contrários à Palavra de Deus, para ver cumprida em sua vida familiar a vontade de Deus.  

– O resultado desta atitude de Abrão foi terrível. Além de causar transtornos e males na convivência familiar, a ponto de ter de expulsar Agar e seu filho Ismael de casa, Abrão gerou uma inimizade que perdura até hoje, como vemos no conflito existente entre judeus e árabes, que transtorna não só estas nações mas todo o mundo.  

– O resultado destas atitudes tomadas pelas famílias, na atualidade, não tem consequência diversa. Para falarmos apenas no planejamento familiar, que temos tomado como exemplo, quanto não temos visto em decorrência destas estratégias humanas, como, por exemplo, os milhões e milhões de abortos, as questões não menos trágicas do congelamento de embriões humanos, sem falar nas mazelas causadas pelos chamados “métodos contraceptivos”?  Muito melhor é confiar em Deus, amados irmãos!  

– Abraão, ainda, voltaria a moldar-se conforme o mundo no tocante à sua vida familiar, quando, em Gerar, tornou a dizer que Sara era sua irmã, o que também quase causou o término do seu casamento, pois Abimeleque também a tomou por mulher (Gn.20:1,2). Aqui aprendemos que a vida familiar precisa ser continuamente seguida segundo os padrões divinos, pois, em havendo “recaídas”, tudo pode ser posto a perder. Vigiemos, amados irmãos!  

– Após a expulsão de Agar e de Ismael, entretanto, vemos que Abraão não mais teve problemas de ordem familiar. Passando a ter a obediência estrita e a santidade como normas de conduta, o patriarca pôde desfrutar do cumprimento da promessa do Senhor em seu lar, inclusive tendo ensinado seu filho a servir a Deus, pois vemos que Isaque cresceu sendo um homem de oração (Gn.24:63, 25:21). Esta vida familiar de acordo com a vontade do Senhor serviu para o aprimoramento espiritual do patriarca Abraão, aprimoramento tal que é comprovado no episódio do sacrifício de seu próprio filho.  

– No episódio do sacrifício de Isaque, ademais, vemos o sublime propósito que Deus tem para a vida familiar, qual seja, o da alegria espiritual, o da visão da salvação na pessoa de Cristo Jesus. Com efeito, como nos ensina o Senhor Jesus, foi naquela oportunidade que Abraão pôde exultar por ver a salvação na pessoa de Cristo (Jo.8:56). Uma vida familiar construída na obediência e na santidade fará com que tenhamos a “visão do Calvário”, fará com que tenhamos a “visão do reino de Deus”, o que nos proporcionará alegria espiritual decorrentes de uma fé, de um amor e de uma esperança inabaláveis, que nos permitirão perseverar até o fim e ser salvos. Aleluia!  

– Na vida do patriarca Isaque, não foi diferente. Isaque já construiu a sua família sob a orientação divina, aceitando a ordem de seu pai de apenas se casar com uma mulher que fosse de sua parentela (Gn.24:1-9). Isaque, assim, manteve a linha de obediência estrita e de santidade que, a duras penas, havia sido aprendida por seu pai Abraão.  

– Assim, mesmo tendo a promessa de Abraão, Isaque, ao ver que sua mulher era estéril, não buscou qualquer estratagema humano para ter descendência, mas confiou única e exclusivamente em Deus, passando vinte anos em oração, até que teve seus filhos (Gn.25:21,26). Que exemplo a ser seguido!  

– No entanto, Isaque e sua mulher Rebeca praticaram algo em sua vida familiar que foi fatal para a higidez de sua família, qual seja, o favoritismo entre os filhos. Mesmo diante da promessa divina de que o filho maior serviria ao menor, o fato é que os pais tomaram partido com relação a seus filhos gêmeos, o que gerou uma falta de comunhão que levou à destruição daquele núcleo familiar.  

– Isaque, mesmo diante da sinalização divina quanto ao futuro de seus filhos, quando da gravidez de sua mulher, resolveu privilegiar seu primogênito, por causa do agrado que tinha com o “modus vivendi” de seu filho, enquanto que Rebeca, talvez por causa da promessa divina, privilegiava o caçula (Gn.25:28). Tanto um quanto o outro, entretanto, fizeram de suas concepções motivo para favorecimento indevido dos filhos, comportamento que é muito comum em nossos dias, mas que, tal como ocorreu na família de Isaque, apresenta-se como deletério e de funestas consequências.  

– Esaú, como era do gosto de Isaque, foi a tal ponto privilegiado que passou a desprezar as coisas divinas, desprezando a primogenitura e tendo uma vida voltada para os prazeres mundanos, sendo profano e fornicário (Hb.12:16), o que o levou a abandonar a santidade, adotando a poligamia e se misturando com as mulheres de Canaã, gerando aflição de espírito em seus pais (Gn.26:34,35,;28:6-9).  

– O fato é que, após o episódio da bênção de Jacó por Isaque, o ponto culminante deste favoritismo, o núcleo familiar de Isaque se desfez e nunca mais foi restaurado. A família se findou antes do tempo, pois Isaque ainda viveu pelo menos oitenta anos depois da destruição de seu núcleo familiar (Gn.35:28). 

– Não podemos, portanto, para que não haja a destruição da família, adotarmos o favoritismo entre os filhos e, mais do que isto, basearmos tal favoritismo em valores culturais, em nossas predileções humanas, a ponto de elevarmos tais gostos e predileções acima da vontade divina e das coisas do Senhor. Quantos, nos dias de hoje, não têm incentivado e estimulado seus filhos a colocarem valores humanos acima das coisas de Deus só porque seus filhos resolvem exercer atividades que são de nosso gosto, só porque realizam algo que não conseguimos realizar e que são frustrações nossas?

 Temos de levar nossos filhos a buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33). OBS: Não são poucos os casos de pais que estimulam e incentivam comportamentos dos filhos, que chegam a ficar famosos e ricos, tirando inclusive proveito econômico-financeiro deste sucesso dos filhos, ainda que os filhos enveredem por caminhos absolutamente contrários à vontade de Deus. Quantos servos de Deus não têm se perdido espiritualmente, com apoio explícito de seus pais, porque, no caminho da fama e do dinheiro, os pais preferem usufruir do dinheiro a fazer com que seus filhos tenham uma vida de santidade!  

– Não podemos abrir mão dos valores morais e espirituais advindos da Palavra de Deus em nossa vida familiar, pois, caso contrário, contribuiremos decisivamente para a perdição de nossos filhos. Não só Esaú se perdeu com o comportamento adotado por Isaque, como o próprio Jacó, que crescera dando prioridade aos valores espirituais, a ponto de desejar sobremaneira a primogenitura de seu irmão, foi influenciado pelo comportamento adotado por seus pais.  

– Com efeito, quando é mandado para Padã-Arã a fim de formar família consoante os princípios estatuídos pelo Senhor a Abraão (Gn.28:1-5), Jacó constrói sua família segundo os padrões mundanos, esquecendo-se das promessas divinas e do próprio compromisso que assumira diante de Deus em Betel de que O serviria (Gn.28:20-22).  

– Em Padã-Arã, Jacó formou sua família em atitude completamente distante de Deus, assumindo os valores daquele lugar, tanto que, durante vinte anos, não erigirá sequer um altar ao Senhor. Assume a poligamia, tem filhos com as servas de suas mulheres, mantendo-se passivo diante da competição de suas esposas, bem como permite que seus filhos sejam criados num ambiente idólatra, a ponto de que Raquel, a sua mulher amada, tenha, inclusive, quando da saída de Padã-Arã, levado os ídolos de seu pai consigo, numa clara indicação de que queria manter-se como “proprietária” das terras de seu pai Labão, em total afronta à própria ordem divina de retornarem a Canaã, que era a terra prometida por Deus a Jacó.  

– O resultado deste comportamento de acomodação e adaptação a valores alheios à Palavra de Deus encontramos na própria história de José, vendido por seus próprios irmãos, cuja vida se desenvolveu completamente fora dos ditames prescritos pelo Senhor. Assim, os filhos de Jacó se misturaram com os povos da terra, assumiram a violência e a prostituição como norma de conduta, sem falar na própria inveja e ódio que os levaram a mentir para seu pai e a mantê-lo em um sofrimento e dor durante longos dezessete anos, achando que José havia sido morto.  

– Em virtude da promessa divina feita a Abraão, Jacó teve a chance de restaurar a sua vida familiar, sem o que não se poderia constituir legitimamente Israel como uma nação santa e propriedade peculiar de Deus entre os povos. Não só Deus mandou que Jacó retornasse a Canaã (Gn.31:5), como também, depois do retorno, após a necessária reconciliação com Esaú, mantido o apartamento com relação a seu irmão (Gn.33:4,16,17), teve não só de retomar a sua vida de adoração a Deus (Gn.33:18) como levar toda a sua família a uma vida de santificação e de adoração ao Senhor, o que exigiu o abandono da vida de idolatria e de mundanismo até então existentes (Gn.35:1-7).  

– Não há como usufruir das promessas divinas se não pusermos nossas famílias em sintonia com Deus, se não abolirmos o mundanismo e a idolatria do seio de nossas casas. Temos observado este princípio ou, como Jacó, estamos a querer nos enganar ao longo dos anos, sem que haja qualquer progresso espiritual, como aconteceu na vida daquele patriarca?  

– Somente depois que Jacó tomou a iniciativa de fazer com que sua família servisse a Deus é que o Senhor lançou um terror sobre todas as nações de Canaã e pôde, então, Jacó viver uma vida independente daquelas nações e não mais ser influenciado por elas (Gn.35:5).  

– Nossas famílias estão devidamente protegidas e amparadas pelo Senhor, a ponto de o mundo não ter condições de influenciar nossas casas? Somente quando nos santificarmos e abandonarmos o mundo, deixarmos de amá-lo é que poderemos influenciar e não sermos influenciados pela sociedade corrompida que está à nossa volta. Se amarmos o mundo e o que no mundo há, o amor do Pai não estará em nós e, deste modo, não teremos condição alguma de sermos abençoados e de termos comunhão com Deus, bem assim de caminharmos para a eternidade com o Senhor (I Jo.2:15-17).  

– A permanência da família de Jacó dependeu deste gesto de submissão ao Senhor. Não fosse esta atitude, Israel não teria se formado e, fatalmente, se misturaria com os demais povos de Canaã e se teria frustrado todo o plano divino para a descendência de Abraão.  

– A permanência de nossas famílias depende, também, de uma vida de comunhão com o Senhor. Quantas famílias cristãs que apostataram da fé porque deixaram de lado a vida espiritual, a santidade, preferindo assumir os valores mundanos e carnais. Hoje estão completamente envolvidas pelo pecado e totalmente destruídas. Que Deus nos guarde, amados irmãos!  

– Esta vida de comunhão com Deus e de santidade foi a razão pela qual o Senhor pôde, no Egito, multiplicar o povo que, separado dos egípcios, pôde, no devido tempo, ser resgatado pelo Senhor e partir para a Terra Prometida.  

III – O RELACIONAMENTO DA FAMÍLIA COM A SOCIEDADE NO TEMPO DA LEI  

– Visto como se deu o relacionamento da família com a sociedade na época dos patriarcas, devemos agora verificar como se deu o relacionamento entre família e sociedade no período da lei, um longo e extenso período. Nosso comentarista trata tão somente de dois casos desta época, a saber, os casos de Josué e dos recabitas.  

– Não temos condição de, neste estudo, fazer uma análise ampla de todos os casos que tratam do relacionamento da família com a sociedade durante toda a vigência da lei, mas queremos nos deter em alguns casos, ainda que superficialmente, ampliando um pouco o universo tomado pelo ilustre comentarista.  

– Por primeiro, é importante verificar que na própria formação de Moisés, a família teve um papel preponderante. Deus fez com que Moisés fosse criado, em sua primeira infância, pela sua própria mãe Joquebede (Ex.2:7-10), a nos mostrar a importância de criarmos nossos filhos, na tenra idade, no caminho do Senhor para que ele não venha a se esquecer dos valores e princípios bíblicos ao longo de sua vida (Pv.22:6).  

– Sem a educação doutrinária nos primeiros anos de vida de nossos filhos, não teremos como moldar o caráter de nossos descendentes em conformidade com a Palavra do Senhor, o que gerará um sem-número de transtornos e de problemas em nossa família, à medida que os filhos forem crescendo.  OBS: Como já dissemos supra, o “mistério da injustiça” tem procurado, de todos os modos, fazer com que as nossas crianças sejam forjadas numa mentalidade mundana e anticristã, contando, para isso, com um sistema educacional que está completamente impregnado pelo pecado e pelo ódio à sã doutrina. Não é por acaso que, recentemente, tenha sido aprovada uma lei que exige que entreguemos nossos filhos já aos quatro anos ao sistema educacional.  

– Moisés, embora tenha sido criado segundo os padrões estabelecidos por Deus e, por isso mesmo, preferido sofrer o vitupério de Cristo a ter o gozo passageiro das coisas do mundo, quando já tinha quarenta anos de idade (Hb.11:24-26), não teve o mesmo cuidado ao formar a sua família, de sorte que, quando foi chamado por Deus para libertar Israel da escravidão, não pôde contar com a sua mulher, que o abandonou, levando consigo seus filhos (Ex.4:20-26).  

– Moisés ficou sozinho e, deste modo, é que executou tudo quanto o Senhor lhe mandou fazer, de volta ao Egito. Verdade é que, posteriormente, teve sua família de volta (Ex.18:2-11), mas sua mulher sempre foi um fator de instabilidade para a sua vida, tanto que foi a responsável pela rebelião de Miriã (Nm.12:1-16).  

– Ao casar fora da direção do Senhor, Moisés ocasionou transtornos no exercício de seu ministério, dando-nos preciosa lição para que não deixemos de buscar a direção e orientação do Espírito Santo na formação de nossas famílias. É interessante notar que, por causa disto mesmo, não escolheu o Senhor a família de Moisés para o sacerdócio, mas, sim, a de Arão, precisamente porque a família de Moisés se formou fora da direção de Deus.  

– Não teremos condição de estabelecer um relacionamento familiar com a sociedade a contento se não seguimos a direção de Deus no próprio ato fundante de nossas famílias, que é o casamento. Um casamento fora da vontade de Deus trará sempre prejuízo à nossa vida espiritual e poderá, a exemplo do que ocorreu com a família de Moisés, ocasionar uma verdadeira “esterilidade espiritual” de nossa descendência. Que Deus nos guarde!  

– Com relação a Josué, citado pelo nosso ilustre comentarista e cuja afirmação ao povo de Israel dá o título a esta lição, vemos algo diverso, até diametralmente oposto ao que ocorreu com Moisés.  

– As Escrituras nada falam a respeito de que como se deu o casamento de Josué, de como este grande homem de Deus constituiu a sua família, mas tudo indica que ele o fez consoante os princípios estabelecidos pelo Senhor, ou seja, casou-se com alguém que era de sua tribo (Efraim), assumindo um casamento monogâmico, tendo ensinado a lei do Senhor para seus filhos.  

– No final de seu governo, Josué presenciava um continuo distanciamento de Israel da lei do Senhor. Seguindo a própria acomodação de seu líder, que, indevidamente, delegara às tribos a tarefa de dar continuidade à conquista da Terra Prometida, não tendo se preocupado em consultar a Deus para que pusesse um sucessor à frente do povo, Josué começou a incomodar-se com o declínio espiritual contínuo da sua nação.  

– Assim é que o velho líder chamou a todos os anciãos, aos cabeças, aos juízes e aos oficiais do povo, como a todo o povo, para que se apresentasse diante de Deus em Siquém, a principal cidade de sua tribo e onde o próprio Jacó fizera sua família servir ao Senhor (Js.24:1).  

– A escolha de Siquém para esta reunião não era, portanto, despropositada. O velho patriarca estava a perceber que a fonte de todo o declínio espiritual do povo estava no fato de que aquela geração não estava a ensinar seus filhos na lei de Moisés, como fora determinado por Deus.  

– Assim, em vez de chamar o povo para que se reunisse com ele diante do Senhor em Siló, onde se encontrava o tabernáculo (Js.18:1), Josué preferiu chamá-los a Siquém, a fim de recordar-lhes o pacto firmado entre a família nuclear de Jacó, origem de todo o Israel, e o próprio Deus (Gn.35:1-4).  

– Josué, então, quando o povo se apresentou diante dele, sendo usado profeticamente pelo Senhor, fez o povo se lembrar de que, antes da chamada de Abrão, tanto este como seus pais eram idólatras e adoravam, em Ur dos caldeus, a outros deuses, mas que Deus chamara a Abraão e dele constituíra uma nação, o povo de Israel, que fora libertado do Egito e agora ocupava a terra que lhe havia sido prometida (Js.24:2-13).  

– Josué, então, exortou o povo a que temesse a Deus e O servisse, com sinceridade e com verdade, deitando fora os deuses estranhos, a exemplo que fizera a família de Jacó em Siquém (Js.24:14,15).  

– Sem qualquer imposição, Josué disse para o povo que, se Israel quisesse, que não servisse a Deus e optasse em servir a deuses estranhos, fossem os deuses que serviram os antepassados de Ur dos caldeus, fossem os deuses do Egito, que haviam sido conhecidos pelos israelitas durante o período em que lá habitaram. No entanto, disse Josué, fosse qual fosse a escolha dos israelitas, ele e sua casa serviriam ao Senhor.  

– Ao assim afirmar, Josué mostrava, com absoluta clareza, que sua família tinha uma vida de comunhão com o Senhor que independia dos rumos tomados pela sociedade israelita. Josué tinha uma vida familiar independente, de serviço ao Senhor, que não se abalava diante dos rumos que estavam sendo tomados pelo povo, mesmo sendo ele o líder do povo, ainda que já, então, envelhecido e já não tendo o comando direto de toda a nação.  

– Josué negligenciara o seu ministério, mas não havia se descuidado de sua família, a ponto de fazê-la toda servir ao Senhor. Que exemplo que temos de seguir! É certo que não podemos deixar de lado a tarefa que o Senhor nos der no Seu povo, mas, mais importante que tal tarefa, é cumprir a missão de sermos instrumentos de Deus para que nossos familiares venham a servir ao Senhor.  

– Josué fez questão de mostrar ao povo que Deus é um Deus santo e Deus zeloso, que não admite a convivência com o pecado (Js.24:19). Tal advertência de Josué mostra-nos que ele fora sincero e claro com seus familiares, exigindo que, em sua casa, houvesse santidade e zelo pelas coisas de Deus, ou seja, que, além da separação do pecado, vivessem seus familiares em temor a Deus, i.e., em obediência estrita aos mandamentos do Senhor.  

– Vemos, assim, que, na casa de Josué, repetia-se o que fora aprendido pelos patriarcas, ou seja, de que, em nossa casa, devem reinar a santidade e o temor a Deus. É assim que temos vivido, amados irmãos? Somente deste modo é que poderemos manter uma vida familiar independente do mundo e que não se deixará influenciar pela corrupção generalizada que vemos nestes dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja.  

– Tendo o povo decidido servir a Deus, Josué mandou que o povo deitasse fora os deuses estranhos que havia no meio deles e inclinassem o seu coração ao Senhor (Js.24:22-24). Só, então, firmou o povo concerto com o Senhor.  

– Para que nossa casa sirva a Deus conosco, é indispensável que os deuses estranhos sejam lançados fora e que nossos corações se inclinem ao Senhor. Se não fizermos isto, jamais poderemos ser influenciadores do mundo, luz do mundo e sal da terra, como nos determinou o Senhor Jesus (Mt.5:13-16). Estamos dispostos a isto?  

– Apesar de aquele povo ter firmado concerto com o Senhor e abandonado os deuses estranhos, não ensinaram a lei do Senhor a seus filhos (Jz.2:10) e o resultado disso foi que a idolatria reentrou em Israel, comprometendo toda a nação, que passou alguns séculos num estado de completa estagnação espiritual (Jz.2:11-23).  

– Toda a nação santa ficou comprometida e foi incapaz de ser o reino sacerdotal querido por Deus por causa da falha ocorrida nas famílias, por causa da falta de instrução dos filhos na lei do Senhor. Israel tornou-se irrelevante do ponto-de-vista espiritual. Lamentavelmente, é precisamente isto que tem ocorrido em muitas igrejas locais em nossos dias. Despertemos enquanto é tempo!  

– Este estado de coisas explica porque, antes de Gedeão ser usado por Deus para libertar Israel da opressão dos midianitas, tenha o Senhor exigido do juiz que destruísse o altar de Baal que havia na casa de seu pai Joás e, em seu lugar, edificasse um altar ao Senhor (Jz.6:25-32), gesto que fez com que toda a sua família se convertesse, a começar de seu pai, que não permitiu que o povo fizesse mal a Gedeão por causa da destruição daquele altar idólatra.   

– Gedeão não poderia, de forma alguma, libertar o povo de Israel se, antes, a sua casa não abandonasse a idolatria. Todavia, assim como ocorreu com outros casos neste período dos juízes, Gedeão não manteve uma vida familiar condizente com a Palavra de Deus, visto que adotou a poligamia como “modus vivendi” (Jz.6:30) e o resultado disto foi que sua família foi totalmente destruída pelo seu filho bastardo Abimeleque (Jz.9:1-5).  

– A falta de uma vida familiar independente e santificada foi a causa das derrocadas de outros juízes, como Eli e Samuel, que, ainda que tenham servido ao Senhor, não souberam repetir o gesto de Josué, deixando que suas famílias fossem influenciadas pelo mundo, a ponto de verem seus filhos envolvidos com o pecado e causarem a ruína de seus governos.  

– No período da monarquia, a situação não se alterou. Saul não serviu a Deus e, por conseguinte, não pôde fazer com que sua família o fizesse, família que acabou quase que totalmente extirpada de Israel. Davi, o homem segundo o coração de Deus, não é um modelo de vida familiar, tendo, ao aderir à poligamia e a se casar fora da direção do Senhor, causado enormes males ao seu próprio governo, como se vê das consequências de seu adultério com Bateseba, que fez com que a espada não saísse de sua casa.  

– Com Salomão, então, a vida familiar em desconformidade com os mandamentos divinos, fez com que o rei, inclusive, se desviasse dos caminhos do Senhor, gerando a própria divisão do reino.  

– A inserção da idolatria em ambos os reinos deu-se sobretudo a partir das vidas familiares dos israelitas. Temos aqui a demonstração clara e transparente de que, quando não cuidamos espiritualmente de nossas famílias, há um comprometimento total do povo de Deus, que se torna incapaz de cumprir os desígnios divinos e apostata da fé.  

– É neste clima de completa apostasia espiritual que se destaca o outro caso mencionado pelo ilustre comentarista, qual seja, o dos recabitas, descendentes de Jonadabe (II Rs.10:15), que, por sua vez, era descendente de Jetro, sogro de Moisés, os chamados queneus, que, a convite do grande líder israelita, passaram a coabitar com os israelitas (Jz.1:16).  

– Os queneus passaram a coabitar com os israelitas dentro de uma circunstância em que já demonstravam o valor que davam à família. Com efeito, Jetro fora ao encontro de Moisés para levar-lhe a mulher Zípora e seus filhos, como que mostrando ao grande líder que não poderia ele estar à frente do povo de Israel com sua situação familiar fora dos princípios divinos.  

– Notamos, pois, que, desde os dias de Jetro, os queneus eram pessoas que prezavam pela família e é este o motivo pelo qual se adaptaram bem em Israel e passaram a servir ao Senhor, mantendo, porém, a sua independência em relação ao restante do povo israelita (Jz.4:11).  

– Tinham os queneus um respeito muito grande pela família, a ponto de não se deixarem influenciar pela corrupção que ocorreu em Israel. Mantiveram sempre a sua independência e, o que é mais belo, a sua fidelidade ao Senhor. Assim, foi através de uma queneia que Israel se viu livre de Sísera, general do rei canaanita Jabim (Jz.4:18-24), prova de que se tratava de um povo que se mantinha fiel ao Senhor e, por isso mesmo, pôde ser usado por Ele para a libertação da nação.  

– Nos dias de Jeú, quando se promovia a restauração espiritual de Israel após o período de grande apostasia promovida por Acabe, Jezabel e seus filhos, foi também em um queneu que Jeú encontrou apoio para extirpar o culto a Baal. Jonadabe esteve ao seu lado em tudo quanto o rei fez para eliminar o culto aos baalins (II Rs.10:15-28).  

– Nesta ocasião, Jonadabe, sabendo do risco que corriam os queneus de se contaminar com a infidelidade dos israelitas (até porque certamente notou que Jeú não extinguiu com o culto aos bezerros de ouro) prescreveu uma regra a seus familiares, no sentido de que eles jamais tomassem vinho, como também jamais deixassem de ser nômades (Jr.35:6,7).  

– Com estas medidas, vemos, claramente, que Jonadabe pretendeu deixar seus familiares livres da influência da sociedade israelita, reconhecendo o sinal dos tempos, ou seja, de que a casa de Jeú não iria pôr fim à idolatria e que seria necessário impedir que tal situação contrária à vontade de Deus viesse a comprometer a existência da família e a fidelidade ao Senhor.  

– O reino de Israel pereceu, mas os queneus, não. Depois da destruição de Israel, os queneus, que se mantinham fiéis ao Senhor, foram morar no reino de Judá e, nos dias de Jeremias, mesmo em meio a tanta apostasia, estavam eles ali, em Jerusalém, servindo ao Senhor, cumprindo fielmente tudo quanto fora prescrito por seu pai Jonadabe séculos antes (Jr.35:1-19), ocasião em que o Senhor confirmou, mais uma vez, que salvaria aquela família da destruição que viria sobre Judá e Jerusalém (Jr.35:18,19).  

– Os recabitas são, pois, uma figura do que ocorre com as famílias que se mantêm independentes do mundo, que não se deixam influenciar pela apostasia espiritual, que resolvem estatuir um “modus vivendi” que seja de acordo com a vontade de Deus.  

– Biologicamente, os recabitas não tinham direito à promessa divina, mas, como creram no Senhor, foram “adotados” por Deus e agora se constituíam em parte da nação santa, da propriedade peculiar dentre os povos, exatamente o que ocorre conosco, os gentios que aceitaram a Cristo como Senhor e Salvador e que, por isso, passaram a serem “filhos de Deus” (Jo.1:12), por adoção (Rm.8:15).  

– Para tanto, Jonadabe se manteve fiel aos mandamentos divinos, não se deixando seduzir pelas coisas deste mundo, comportamento que o fez ajudar Jeú a extirpar o culto a Baal e que o levou a estabelecer ambas as prescrições que foram fielmente seguidas por seus descendentes.  

– Ao proibir o consumo do vinho, Jonadabe ensina-nos que, para termos uma família que resista à apostasia espiritual, é absolutamente indispensável que tenhamos a plenitude do Espírito Santo em nossas vidas, que não demos lugar ao mundo. O vinho simboliza as coisas terrenas, a alegria passageira, a busca pelos prazeres desta vida, daí porque ter o apóstolo Paulo nos recomendado a que não nos embriaguemos com o vinho, em que há contenda, mas nos enchamos do Espírito (Ef.5:18).  

– De igual modo, ao prescrever que os recabitas se mantivessem nômades, habitando em tendas e não adquirindo propriedades e, em razão disto, se tornassem sedentários, Jonadabe nos ensina que uma família, para se manter livre das influências deste mundo, não deve prender-se às coisas terrenas, mas ter seu coração nos tesouros celestiais (Mt.6:19-21).  

– Temos nos comportado como os recabitas? Será que temos nos mantido fiéis aos ensinamentos de nossos pais, que nos doutrinaram segundo a Palavra de Deus, fazendo com que não busquemos os prazeres deste mundo, nem tampouco prendamos nosso coração nos tesouros terrenos?  

– Os recabitas mantiveram-se independentes e não foram assimilados seja pelo reino do norte, seja pelo reino do sul. Sobreviveram a ambos os juízos divinos, decorrentes de uma vida de idolatria que a nação escolhida e formada pelo próprio Deus passou a viver, a começar de suas famílias. Qual é a nossa situação? Temos nos mantido livres da influência maligna?  

– Se formos “recabitas”, teremos uma vida familiar que está de acordo com a Palavra de Deus e nos manteremos fiéis aos ensinos e à maneira de viver que recebemos de nossos pais, cumprindo a doutrina do Senhor e, desta maneira, sobrevivendo a todos os ataques do maligno, sem falar que estaremos sempre prontos a auxiliar todos os movimentos  que o Espírito Santo criar em prol da santificação e da restauração espiritual de nossa sociedade, a começar da própria igreja local que frequentamos.  

IV – O RELACIONAMENTO DA FAMÍLIA COM A SOCIEDADE NO TEMPO DA GRAÇA  

– Por fim, resta-nos falar sobre como deve ser o relacionamento da família com a sociedade neste tempo em que vivemos, na dispensação da graça, no tempo da Igreja.  

– Conforme vimos na lição anterior, todo o ministério de Jesus, como também os ministérios dos apóstolos tiveram como pedra de toque a família, a sua restauração espiritual, já que a Igreja nada mais é que a reunião de famílias.  

– Usando aqui de feliz expressão cunhada pelo ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II (1978-2005), “…entre os deveres fundamentais da família cristã estabelece-se o dever eclesial: colocar-se ao serviço da edificação do Reino de Deus na história, mediante a participação na vida e na missão da Igreja.…” (Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n.49. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp- ii_exh_19811122_familiaris-consortio_po.html Acesso em 18 abr. 2013).  

– A família, portanto, tem de se apresentar para a sociedade que carece da salvação em Cristo Jesus, como um instrumento que se coloque a serviço da edificação do Reino de Deus, como um sustentáculo da Igreja, que tenha condições de levar o Evangelho a quem precisa de salvação.  

– É, portanto, a família um local propício e adequado para que se demonstre o amor de Deus aos homens, para que se se verifique a veracidade da Palavra de Deus, para que se levem as pessoas a um encontro pessoal com Jesus Cristo. Como afirmou, também de forma feliz, o ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI (2005-2013), “…ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo…” (Encíclica Deus caritas est, n.1. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus- caritas-est_po.html  Acesso em 18 abr. 2013). Ora, vimos, ao longo deste trimestre, que a família foi o ambiente criado por Deus para Se encontrar com o homem e isto que nossas famílias devem proporcionar a todos os homens, um local onde possam se encontrar com Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.  

– Deste modo, não há como permitirmos que, em nossa família, em vez de nos encontrarmos com o Senhor, que somente virá até nós se estivermos em santidade, em temor a Ele, venha a ser encontrado o inimigo de nossas almas, venha a ser encontrado o pecado e o mundo.  

– Temos de tomar a mesma posição que tomou Josué ou Jonadabe, temos de ser baluartes do Evangelho, temos de transformar nossas casas em altares a Deus, onde todos possam ter a oportunidade de se encontrar com o Senhor, a começar dos integrantes de nossa família.  

– Para tanto, é indispensável que nos separemos do pecado, que observemos o modelo estabelecido por Deus para nossas famílias, que vivamos em amor, contribuindo para a edificação do Reino de Deus, para o crescimento espiritual de nosso lar, de nossa igreja local e, por conseguinte, sendo instrumentos para a salvação e edificação espiritual da sociedade a que pertencemos.  

– Temos de ser diferentes, temos de ser sal da terra e luz do mundo. Ainda reproduzindo palavras de João Paulo II, “…A família cristã é chamada a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e original, colocando-se ao serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e de amor.(…) a família cristã, nascida de um matrimônio que é imagem e participação da aliança de amor entre Cristo e a Igreja, manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus membros…” (op.cit., n. 50). 

– Será que podemos dizer que nossas famílias estão a cumprir este dever que lhe é imposta neste tempo da Igreja, neste tempo da graça de Deus? Será que, a exemplo de Noé, poderemos eficazmente dar o nosso testemunho e sermos “pregoeiros da justiça” neste tempo imediatamente anterior ao derramamento do juízo divino sobre a humanidade? Será que podemos dizer que eu e nossa casa servimos ao Senhor? Que Deus nos ajude a responder afirmativamente.  

     Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco  

Site: http://www.portalebd.org.br/files/2T2013_L13_caramuru.pdf

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