LIÇÃO Nº 13 – JESUS, O MODELO SUPREMO DE CARÁTER
Jesus é o nosso exemplo.
INTRODUÇÃO
– No encerramento do estudo de personagens bíblicas que nos ensinam sobre o caráter cristão, estudaremos Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Jesus é o nosso exemplo.
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I – JESUS, O NOSSO EXEMPLO
– Estamos terminando o trimestre letivo em que estudamos personagens bíblicas que nos ensinam a respeito do caráter cristão.
– Nesta última lição, estudaremos Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que é o próprio tema da Bíblia, que é a figura apontada por todas as personagens que estudamos até aqui, o chamado “antítipo”, Aquele que é o nosso exemplo, o nosso modelo.
– O apóstolo Pedro foi incisivo ao afirmar que Ele é o nosso exemplo e que devemos seguir as Suas pisadas (I Pe.2:21), palavras que simplesmente reproduzem o que o próprio Senhor Jesus ensinou aos Seus discípulos, apresentando-Se como o exemplo a ser seguido (Jo.13:15).
Paulo, também, tinha a Jesus como exemplo, dizendo-se Seu imitador (I Co.11:1).
– A palavra “exemplo” vem do latim “exemplum”, que significa “o objeto distinguido dos outros e posto à parte para servir de modelo”.
Ser “exemplo”, portanto, é alguém que é distinguido dos outros e posto à parte para servir de modelo, o que nos faz lembrar do cordeiro ou cabrito pascal, que era escolhido do rebanho, no décimo dia do primeiro mês do calendário judaico, o mês de Abibe, e posto à prova, verificado se tinha algum defeito ou mancha e, então, depois de ter sido analisado devidamente, levado ao sacrifício para ser consumido durante a noite da Páscoa (Ex.12:5,6).
– A palavra mencionada no grego quando o Senhor Jesus diz que o que Ele havia feito servia de exemplo para Seus discípulos é “hypodeigma” (ὑπόδειγμα), cujo significado é, segundo a Bíblia de Estudo Palavra Chave, “exibição para imitação ou aviso” (verbete 5262, p.2440), que é precisamente o sentido já referido na língua latina e que bem traduz o momento em que o Senhor Se revelou como o exemplo a ser seguido pelos Seus discípulos, pois Ele havia acabado de lavar os pés dos apóstolos, tendo sido uma exibição, uma demonstração de como deveria ser o comportamento dos cristãos, a ser caracterizado pela humildade e pelo serviço.
– A propósito, a utilização desta palavra nos mostra, claramente, que não se estava ali a instituir uma “cerimônia de lavapés”, como fazem algumas denominações religiosas, mas, sim, se estava diante de um “padrão”, de um “aviso”, de uma demonstração de humildade, sendo este o verdadeiro significado da lição que estava sendo dada, ou seja, de que todos os seguidores de Cristo Jesus deveriam ser humildes e dispostos a servir, assim como o seu Mestre.
– Esta mesma palavra é utilizada pelo irmão do Senhor, Tiago, quando fala do “exemplo de aflição e paciência dos profetas que falaram em nome do Senhor” (Tg.5:10).
Estes homens de Deus têm suas vidas registradas nas Escrituras para nosso ensino (Rm.15:4), como tivemos oportunidade de verificar durante este trimestre, para que tenhamos como um “aviso”, como um “modelo”, visto que, da mesma maneira que eles sofreram e suportaram este sofrimento para cumprir a vontade do Senhor, assim acontece com todo aquele que resolve seguir a Jesus.
– O escritor aos hebreus também emprega esta palavra ao se referir ao “exemplo de desobediência” da geração do êxodo de Israel, pois este é um aviso para que não percamos a salvação ao repetir as mesmas coisas que eles fizeram e que o impediram de entrar na Terra Prometida (Hb.4:11), como também Pedro a utilizou para falar do “exemplo de Sodoma e Gomorra”, um “aviso” deixado para sabermos que o juízo de Deus é inevitável para os impenitentes (II Pe.2:6), o que foi repetido por Judas (Jd.6).
– Já a palavra utilizada pelo apóstolo Pedro, quando afirma que Jesus é o “exemplo” é a palavra grega “hypogrammos” (ὑπογραμμος), que é uma palavra composta de “hypo”, preposição que significa “abaixo” e de “grapho”, que significa “escrever”, ou seja, “um exemplo escrito a ser copiado ou imitado por estudantes que começam a aprender” (Bíblia de Estudo Palavra Chave, verbete 5261, p.2440).
– A utilização desta palavra, que é sua única menção em o Novo Testamento, revela-nos importantíssimas lições.
A primeira é a de que Jesus é um “exemplo escrito”, ou seja, Seu modelo foi registrado nas Escrituras, na Bíblia Sagrada, o que é muito oportuno rememorarmos quando estamos a comemorar os 500 anos da Reforma Protestante, que resgatou esta verdade bíblica, qual seja, a de que nossa fé tem de se fundar única e exclusivamente nas Escrituras (“Sola Scriptura” – somente as Escrituras, um dos princípios da Reforma), pois, como disse o Senhor Jesus, são elas que testificam do Senhor (Jo.5:39).
– O apóstolo Paulo ensina-nos que também devemos ser “exemplos escritos”, ou seja, precisamos fazer com que as pessoas, ao nos verem, possam estar como que lendo a Bíblia Sagrada, saibam o conteúdo do texto sagrado, uma vez que temos de viver de acordo com o que está escrito.
Por isso, o apóstolo disse que os crentes de Corinto eram “a carta de Cristo” ministrada por ele, escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (II Co.3:3), carta que deve ser conhecida e lida por todos os homens (II Co.3:2).
– Neste sentido, o apóstolo Paulo se apresenta, em Fp.3:17, como “exemplo”, pedindo para ser imitado. Aqui a palavra grega é “typos” (τυπος), cujo significado é “matriz para impressão”, ou seja, um sinal que era utilizado para marcar um objeto, utilizado para a escrita na argila e na pedra, como também nas antigas máquinas de escrever e de impressão.
– Temos de ter as “marcas do Senhor Jesus” (Gl.6:17) e, embora no contexto em que o apóstolo utilizou estas palavras, estava ele, provavelmente, a dizer de cicatrizes que tinha por causa do Evangelho em seu corpo, é bem possível a aplicação do texto para ser, como o próprio apóstolo Paulo o diz ser no texto de Fp.3:17, um “tipo” de Cristo, ou seja, alguém que, pelo seu comportamento, pela sua conduta, faz referência a Jesus, faz lembrar o Senhor, faz com que haja recordação da pessoa de Nosso Senhor e Salvador.
– Ao longo este trimestre, estudamos personagens bíblicas que, em algum aspecto, faziam referência ao Senhor Jesus. São “tipos” do Senhor Jesus, diz a tipologia bíblica. Nós, também, temos de ser “tipos” de Cristo, porque Ele é o nosso modelo, a nossa referência, o nosso exemplo. As pessoas podem nos imitar por sermos “tipo” de Cristo?
– Paulo dá testemunho dos crentes de Tessalônica, dizendo que eles eram, sim, “exemplo” para todos os fiéis na Macedônia e Acaia (I Ts.1:7) e a palavra que aqui emprega é “typos” e olha que, em Tessalônica, Paulo nem sequer havia terminado o discipulado por causa da perseguição que o obrigou a sair da cidade antes do tempo que havia programado, tanto que precisou, para complementar esta iniciação doutrinária, escrever duas cartas aos tessalonicenses.
– Paulo escreve estas duas cartas porque ele mesmo era um “tipo”, como afirma em II Ts.3:9, quando conclama os tessalonicenses a imitá-lo, no contexto quanto à sua conduta de pessoa trabalhadora, mas que pode ser aplicado em tudo o mais que aqueles crentes tinham visto na vida do apóstolo enquanto ele ali esteve com eles.
– É precisamente esta mesma postura que Paulo diz a Timóteo que ele deveria ter diante da igreja de Éfeso.
Timóteo deveria ser o “exemplo” dos fiéis, ou seja, o “tipo” (I Tm.4:12), o mesmo que exigido foi de Tito diante dos crentes de Creta, que também deveria ser “tipo” de boas obras (Tt.2:7).
Pedro, também, utiliza esta palavra quando afirma que todo presbítero, ou seja, todo obreiro do Senhor dotado do ministério pastoral, tem de servir de “tipo” para o rebanho (I Pe.5:3).
– A segunda lição que nos é dada pela palavra “hypogrammos” é que o “exemplo escrito” tem de ser copiado e imitado. Jesus não veio apenas para ser um “exemplo”, mas um “exemplo a ser copiado e imitado”.
Quando Paulo afirmou ser um imitador de Cristo (I Co.11:1), estava confirmando este papel de “hypogrammos” do Senhor Jesus.
O “hypogrammos” é um exemplo a ser “copiado e imitado”. Jesus veio ao mundo precisamente para ser copiado e imitado.
– Nos dias de hoje, não são poucos os que “imitam” e “copiam” pessoas famosas. Há, mesmo, pessoas que se especializaram nestas imitações e fazem disto o seu meio de sobrevivência, como os chamados “covers” de artistas famosos, sem falar em humoristas que conseguem imitar celebridades.
Todo cristão deve ser um “cover”, um imitador do Senhor Jesus, fazer disto o seu meio de sobrevivência espiritual.
É este o objetivo da vida cristã, o de nos fazermos conformes à imagem do Filho de Deus (Rm.8:29), o que será plenamente alcançado por ocasião da glorificação (Rm.8:30; I Jo.3:2).
– É muito triste vermos que, na atualidade, muitos que cristãos se dizem ser não medem esforços para imitar e copiar pessoas famosas, inclusive as do “meio gospel”, incluídos aqui líderes eclesiásticos, mas não estão nem um pouco preocupados em imitar a Jesus, em copiar a Sua conduta, o Seu comportamento tal qual ele nos é revelado nas Escrituras Sagradas.
Tais pessoas não podem sequer ser chamadas de “cristãos”, pois o “cristão” é um “pequeno Cristo”, é alguém que é “parecido com Cristo”.
– A terceira lição que nos dá a palavra “hypogrammos” é que o exemplo escrito deve ser imitado e copiado por “estudantes que começam a aprender”.
Com efeito, o “hypogrammos” faz-nos lembrar aquelas figuras de letras e palavras que temos nas “cartilhas de alfabetização”, que devem ser copiadas pelas pessoas que estão aprendendo a ler e a escrever.
– Somente pode “imitar e copiar” Jesus quem é “estudante começando a aprender”, ou seja, quem, por primeiro, reconhece ser “estudante” e, portanto, que o Senhor Jesus é o Mestre.
Quando Se apresentou como exemplo, Cristo deixou isto bem claro, pois disse que Ele era “Mestre e Senhor” (Jo.13:13).
– Não há como imitar a Jesus se não reconhecermos que Ele é Mestre e Senhor e, portanto, é Ele quem sabe, é Ele quem manda.
Quando achamos que sabemos, quando não assumimos a nossa ignorância, quando acreditamos na mentira satânica falada ao primeiro casal no Éden de que podemos “ser iguais a Deus sabendo o bem e o mal” (Gn.3:5), jamais poderemos imitar ou copiar o Senhor Jesus, jamais O teremos como exemplo a ser seguido.
– O problema são as “invenções humanas” (Cf. Ec.7:29), as presunções do homem que acha que pode saber das coisas sem recorrer a Deus, que não consegue entender que toda verdadeira sabedoria vem do alto (Tg.3:17), que não consegue ver que os pensamentos e caminhos de Deus são muito superiores aos nossos (Is.55:8,9).
– Salomão não hesita em afirmar que o homem que acha que sabe algo é pior do que o tolo, pois o tolo (e tolo, em Provérbios, é sinônimo de incrédulo, de pessoa sem comunhão com Deus) pode reconhecer a sua ignorância e alcançar a salvação, enquanto que aquele que acha que é sábio, que entende das coisas não sente sequer a necessidade que tem de ser salvo e, por isso, é alguém que tem menos chance de conversão, onde há menos esperança do que no tolo por si só (Pv.26:12).
– Temos que admitir que nada sabemos, que somos de ontem (Jó 8:9) e que, portanto, precisamos aprender. Quando assumimos esta posição, temos as portas abertas para termos a Cristo como nosso Mestre e, assim, teremos amplas condições de imitá-l’O.
Não é por acaso que os seguidores de Jesus são chamados por Ele de “discípulos”, ou seja, “alunos”, “aprendizes”, porque seu papel é exatamente este: o de aprender de Jesus, para poder imitá-l’O e copiá-l’O.
– Ao chamar Jesus de “hypogrammos”, Pedro bem sabia do que estava a falar, porquanto ele mesmo, durante todo o ministério terreno de Cristo, havia sido um “sabichão”, alguém que queria saber mais do que o Mestre, questionando as afirmações de Jesus ao longo de sua trajetória com Ele.
Quando vergonhosamente negou o Senhor, como, a propósito, o Senhor havia dito e Pedro inadmitido, pôde Pedro realmente entender que nada sabia, que só Jesus sabia tudo (como declarará na sua tríplice confissão reparadora – Jo.21:17), tendo sido este fator fundamental para que realmente se convertesse a partir de então.
– Mas, notemos bem, além de Mestre, Jesus Se apresentou como Senhor, ou seja, não basta termos a Ele como alguém que sabe, mas, também, como alguém que manda.
Não só temos que aprender de Jesus, mas também temos de obedecer-Lhe. Ele é o Senhor, Aquele que tem todo o poder nos céus e na terra (Mt.28:18), Aquele que é digno de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (Ap.5:12). Aliás, fazer o que Ele manda é prova de que O amamos (Jo.15:14).
– Somente demonstramos que aprendemos de Jesus quando pomos em prática o que Ele nos ensinou, quando obedecemos à Sua Palavra, quando a praticamos. Jesus disse que Seu discípulo é aquele que ouve e pratica as Suas palavras (Mt.7:24), pois quem ouve e não pratica é um homem insensato (Mt.7:26). A que grupo pertencemos? Pensemos nisto!
– Por fim, a quarta lição da palavra “hypogrammos” é que se trata de “um estudante que começa a aprender”.
Estamos diante de “iniciantes”, de “calouros”, de “pessoas que precisam aprender mais e mais”.
Jamais podemos achar que aprendemos tudo. As coisas relativas a Deus, as coisas espirituais são infinitas, porque Deus é infinito e, por isso, temos sempre de aprender cada vez mais.
A perfeição somente será atingida na glorificação e ela ainda não veio, de modo que temos de prosseguir aprendendo. Esta ´a mensagem do profeta Oseias: “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os.6:3a).
– Esta ideia de que somos sempre iniciantes é importante para que não achemos que, por Jesus ser perfeito, é inútil tentarmos imitá-l’O, mais uma das mentiras de Satanás que tem enganado muita gente.
Todos somos imperfeitos e a perfeição somente virá na glorificação, de modo que a imitação não é algo que somente pode ser feita por perfeitos, mas, precisamente, é algo que tem de ser feito por quem é imperfeito.
Por sermos imperfeitos, devemos imitar Aquele que é perfeito, para nos aproximarmos cada vez mais da perfeição.
– Se há um gigante espiritual em o Novo Testamento este é, sem dúvida, o apóstolo Paulo, que possuía todos os dons ministeriais e espirituais (ainda que não haja um texto explícito que dê a Paulo o dom de interpretação das línguas, cremos que, por inferência, ele também o tinha).
Pois bem, o apóstolo Paulo, mesmo dizendo que tinha de ser imitado, disse que era um “exemplo” da longanimidade divina (I Tm.1:16) e a palavra ali utilizada é “hypotyposis” (ὑποτύπωσις), cujo significado é “cópia ligeira, esboço, esquema imperfeito” (Bíblia de Estudo Palavra Chave, verbete 5296, p.2443).
Se o apóstolo Paulo se achava um “esquema imperfeito”, um mero “esboço”, quem somos nós para acharmos que termos de ser perfeitos para imitar Cristo, se ele mandava que as pessoas o imitassem por ser ele um imitador de Jesus (I Co.11:1)?
– Paulo assumidamente dizia não ter atingido a perfeição (Fp.3:12), querendo, tão somente, esforçar-se para alcança-la, o que, dizia ele, se daria na “ressurreição dos mortos”, ou seja, na glorificação, que é o estágio final do processo da salvação.
Devemos sempre almejar a perfeição mas ela só será atingida no dia do arrebatamento da Igreja, mas para sermos arrebatados, temos de alcançar testemunho de que agradamos a Deus (Hb.11:5) e isto se faz mediante a imitação constante de Cristo, o nosso exemplo.
II – JESUS DEIXOU O EXEMPLO
– Depois de termos visto que o Senhor Jesus tem de ser o nosso exemplo, precisamos verificar que exemplo nos deixou Cristo, ainda que, evidentemente, de modo bem sucinto, já que todas as Escrituras testificam de Jesus, o assunto da Bíblia é Nosso Senhor e Salvador.
– No entanto, quando estamos a falar do exemplo deixado por Jesus para fins do caráter cristão, temos de observar algumas peculiaridades da vida de Cristo sobre a face da Terra, para que possamos dela extrair alguns aspectos relevantes para que tenhamos a Jesus como o “modelo supremo de caráter”, como nos propõe a lição.
– Por primeiro, é importante mostrar que Jesus é “o modelo supremo de caráter”, porque Ele é o “último Adão” (I Co.15:45), ou seja, Ele é imagem e semelhança de Deus, assim como Adão quando foi criado pelo Senhor, pois Jesus foi gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35), sem pecado.
– Jesus é “o modelo supremo”, porque Ele é a “expressa imagem de Deus” (Cl.3:15; Hb.1:3), a “habitação plena da divindade” (Cl.3:19), de modo que quando olhamos para Ele, vemos o Pai (Jo.14:9).
– Sabemos que Jesus é Deus, o Verbo eterno (Jo.1:1), mas este Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (Jo.1:14) e, quando falamos de “modelo supremo de caráter”, estamos a falar deste Verbo encarnado, do homem perfeito, do homem imagem e semelhança de Deus, que haveremos de ser quando da nossa glorificação (I Jo.3:2).
– Assim como Deus deu a Moisés um modelo do santuário celestial para que o grande líder israelita construísse o tabernáculo, que foi feito conforme o modelo (Ex.25:8,9,40; 26:30; At.7:44), também Jesus veio dos céus para ser o “tabernáculo”,
o “homem feito conforme o modelo celestial”, o “homem feito conforme o padrão divino”, para que, seguindo este modelo, possamos usufruir da graça e verdade vindas com Jesus (Jo.1:17) e a glória de Deus possa se manifestar em nós, como se manifestou no tabernáculo quando ele foi levantado (Ex.40:34), glória que era plena no Senhor Jesus (Jo.1:14).
– A palavra “modelo” em Ex.25:9,40 é “tabhnith” (תכנית ), cujo significado é de “semelhança, figura, simulacro”, no sentido de “plano de edifício ou de um objeto”, de “imagem que foi moldada à semelhança de alguma coisa”.
– O Senhor Jesus é a “expressa imagem e semelhança de Deus”, é a “semelhança de Deus” que nos foi mostrada para que nós a imitemos, o alvo a ser perseguido pelos que querem alcançar a glorificação.
Ele é o “modelo”, o “tipo” divino, como menciona Estêvão em At.7:44, ou seja, Aquele que revela todos os caracteres divinos, que demonstra como é o Pai e que, em olhando para Ele, possamos nos aproximar da perfeição, alcançando-a, por fim, quando da glorificação, pois, então, seremos como Ele é (I Jo.3:2).
– Já na Sua anunciação, foi dito pelo anjo Gabriel a Maria que Ele era “o Santo” (Lc.1:35) e, portanto, a primeira característica que temos de observar em Cristo é a Sua santidade. Ele nasceu sem pecado e jamais pecou (Hb.4:15; 9:28; Jo.8:46).
– Tendo nascido sem pecado, ao contrário do “primeiro Adão”, Jesus não pecou, venceu todas as tentações e, portanto, mostrou ser possível ao homem vencer o maligno.
É por isso que estamos a falar aqui do homem Jesus, pois é Ele o nosso “modelo supremo de caráter”, pois Ele, sem jamais deixar de ser Deus, abdicou da glória divina, dela Se esvaziou, para, como homem, vencer o pecado e nos resgatar da perdição (Fp.2:5-8).
– Nós somos pecadores, fomos formados com a natureza pecaminosa (Gn.5:3; Sl.51:5), mas, quando cremos em Jesus, nascemos de novo, tornamo-nos novas criaturas (II Co.5:17), filhos de Deus (Jo.1:12) e ficamos sem pecado, pois somos santificados em Cristo (I Co.1:2).
Por isso, temos de permanecer separados do pecado, viver em santidade e, para isto, temos de fazer o que Jesus fez, pois Ele é “o Santo” e bem nos disse que nossa justiça precisa exceder a dos escribas e fariseus se quisermos entrar no reino dos céus (Mt.5:20).
– O “novo homem” nascido em Cristo não peca (I Jo.3:9) e, para que isto ocorra, para que não “vivamos pecando”, é absolutamente necessário que “permaneçamos n’Ele”, ou seja, que estamos sempre em constante santificação, vivendo separados do pecado.
Não é à toa que uma das últimas e solenes advertências da Bíblia Sagrada, nos instantes finais da inspiração do Espírito Santo para a revelação das Escrituras é a de que quem é santo deve se santificar ainda (Ap.22:11).
– Na Sua geração no ventre de Maria, portanto, o Senhor já nos dá uma importante lição, qual seja, a de devemos nos manter em santidade, separados do pecado, sem o que não poderemos ter um caráter cristão.
– No Seu nascimento, Cristo nos dá o exemplo da humildade. Nasceu em uma manjedoura em Belém, pois não havia lugar para Ele na estalagem (Lc.2:7).
No mundo, não há lugar para Jesus e, por isso, não podemos amar o mundo nem o que no mundo há (I Jo.2:15).
Jesus não só Se humilhou abrindo mão da glória divina para Se fazer homem, mas, como homem, também Se humilhou, despojando-Se de tudo aquilo que se podia oferecer nesta Terra, a começar do Seu nascimento.
– Quando Jesus Se fez como exemplo, já o vimos supra, Ele estava dando uma lição de humildade e esta é a primeira característica que o Senhor quer ver em Seus discípulos.
Foi a primeira das bem-aventuranças mencionadas no sermão do monte (Mt.5:3) e é a lição que explicitamente Jesus mencionou que deveríamos aprender com Ele (Mt.11:29).
– Jesus tomou a forma de servo (Fp.2:7), o Servo do Senhor cantado pelo profeta Isaías em quatro ocasiões (Is.41:2-4; 49:1-6; 50:4-9; 52:13-53:12), Aquele que veio para servir e não para ser servido (Mt.20:28; Mc.10:45).
– Em toda a Sua vida terrena, o Senhor Jesus demonstrou este serviço, tanto no aspecto secular, quando, como arrimo de família, portou-se como o carpinteiro, filho do carpinteiro, dando o sustento a todos os Seus (Mc.6:3), como na própria obra salvífica, quando afirmou que “Sua comida” era a realização da obra do Pai (Jo.4:34), sendo sempre um incansável trabalhador (Jo.5:17).
– Neste serviço, Jesus dá-nos, também, a lição da obediência. O servo é obediente, faz tudo o que o Senhor manda e Paulo nos diz que Jesus foi obediente até a morte, mesmo sendo esta morte, morte de cruz, em que Ele assumiu a nossa maldição, mesmo sem nunca ter pecado (Fp.2:8).
– Em Seu desenvolvimento, Jesus também nos traz preciosos ensinos. O texto sagrado diz-nos que Jesus crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria e a graça de Deus estava sobre Ele (Lc.2:40).
– Quando nascemos de novo, temos de crescer. É lamentável que tenhamos, em nosso meio, muitos “anões espirituais”, pessoas que, embora tenham nascido de novo, simplesmente não crescem espiritualmente, devendo ser mestres, pelo tempo de sua conversão, ainda não verdadeiros “meninos espirituais” (Hb.5:12).
– O crescimento é necessário e ele somente se dá quando há “fortalecimento em espírito”, fortalecimento este que se dá mediante a “plenitude da sabedoria” e o “repouso da graça de Deus”.
– A “plenitude da sabedoria” exige, antes de mais nada, o “temor do Senhor”, pois ele é o “princípio da sabedoria” (Sl.111:10: Pv.9:10).
Temer a Deus é “aborrecer o mal; a soberba, e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa” (Pv.8:13) e representa o “aperfeiçoamento da santificação” (II Co.7:1).
– Portanto, para alcançarmos a “plenitude da sabedoria”, faz-se mister que, antes de mais nada, nos santifiquemos, nos mantenhamos separados do pecado e, para tanto, forçoso é que estejamos a meditar nas Escrituras e a ter uma vida de oração, reforçada pelo jejum (Jo.17:17; I Tm.4:5).
– O “fortalecimento em espírito” começa pela santificação e, quando a santificação se dá, é ela aperfeiçoada pelo temor ao Senhor, que é o aborrecimento do mal, da soberba, da arrogância, do mau caminho e da boca perversa, ou seja, atitudes que nos fazem sempre produzir o fruto do Espírito e a deixar de praticar as obras da carne.
– Nos dias hodiernos, entretanto, são poucos os que, dizendo-se cristãos, procuram ter uma vida neste matiz que nos foi ensinado pelo Senhor Jesus.
Poucos são os que se dedicam ao estudo das Escrituras, não frequentando os cultos de ensino, nem tampouco as Escolas Bíblicas Dominicais.
Não leem habitualmente a Bíblia Sagrada, não sabem o que é uma leitura devocional e, pasmem, não leem sequer a Bíblia quando vão aos cultos, cultos onde, aliás, é cada vez mais diminuto o espaço reservado para a Palavra de Deus.
– Como podemos nos fortalecer em espírito se não há santidade e como falar em santidade se não nos santificamos na verdade, que é a Palavra de Deus?
Jesus, com doze anos de idade, interrogou os doutores no templo a respeito das coisas relacionadas com as Escrituras. Será que temos esta mesma condição depois de doze anos de fé? É algo para pensarmos, não é mesmo?
– Além da “plenitude da sabedoria”, o “fortalecimento em espírito” também envolve o “repouso da graça de Deus”.
A “graça de Deus estava sobre Jesus”, diz-nos Lucas, e esta é outra lição que temos de aprender com o Senhor Jesus. O caráter do cristão somente se evidencia se “a graça de Deus estiver sobre nós”.
– Para que a “graça de Deus esteja sobre nós”, faz-se preciso que tenhamos uma “vida sóbria, justa, pia neste presente século” (Tt.2:12).
Foi exatamente esta a vida que teve Jesus enquanto aqui esteve: uma vida sóbria, ou seja, equilibrada, marcada com temperança, uma vida que suportou as contradições dos pecadores e desprezou a afronta pelo gozo que Lhe estava proposto (Hb.12:2).
– Jesus teve, também, uma vida pia, porquanto, como dissemos, era um homem que meditava continuadamente nas Escrituras, bem como um homem de oração, sendo cheio do Espírito Santo a partir de Seu batismo, que O fez ungido com Espírito Santo e com virtude (At.10:38).
Quando imitamos Cristo, passamos a ter um patamar de vida espiritual diferenciado, buscando primeiramente o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33), as coisas que são de cima, sabendo que a nossa vida está escondida com Cristo em Deus (Cl.3:1-3).
– Jesus teve, também, uma vida justa, ou seja, viveu sempre de acordo com as Escrituras, tendo, aliás, vindo precisamente para cumprir a lei e os profetas (Mt.5:17), objetivo que realizou plenamente, velando para que tudo quanto d’Ele estava escrito se cumprisse, como deixou claro nos Seus derradeiros momentos de vida (Jo.19:28) e, depois, ao testificar este cabal cumprimento para os discípulos no caminho de Emaús (Lc.24:27) e a todos os discípulos (Lc.24:45-48).
– Ainda no Seu desenvolvimento, Jesus nos dá outra importante lição, qual seja, de que “crescia em sabedoria, e em estatura e em graça para com Deus e os homens” (Lc;2:52).
Tal expressão lucana faz-nos lembrar das palavras do proverbista segundo as quais se deve dar instrução aos sábios para que eles se tornem ainda mais sábios e se se ensinar ao justo, ele crescerá em entendimento (Pv.9:9).
– O crescimento espiritual deve ser contínuo. Não há limite para o crescimento na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, aliás, a última observação que Pedro deixa aos crentes em sua última carta (II Pe.3:18), ocasião em que o apóstolo diz ser esta uma prioridade, algo que tem de ser buscado “antes”.
– A vida espiritual é uma vida dinâmica, que não conhece inércia nem estacionamento. Ou crescemos, ou, então, decrescemos.
O Senhor Jesus, enquanto homem, “crescia em sabedoria e em estatura e em graça para com Deus e os homens”, alcançando a plenitude do Espírito Santo quando foi por Ele ungido (Lc.4:1) para, então, dar início ao Seu ministério, quando, então, revelou de forma cabal como é ser um homem santo e cheio do Espírito Santo.
Não foi por outro motivo que mandou que os discípulos não saíssem de Jerusalém para iniciar a obra que deveriam fazer antes, também, de serem revestidos de poder (Lc.24:49).
– No Seu batismo, o Senhor Jesus também mostra como deve ser nosso caráter como cristão, porquanto vai até João para que n’Ele se cumprisse toda a justiça (Mt.3:15).
Jesus, desde o limiar de Seu ministério, vem fazer o que Lhe incumbia, ou seja, tomar o lugar do pecador, fazer-Se pecado por nós (II Co.5:21). Diz Paulo que Ele Se fez pecado por nós, para que nós fôssemos feitos justiça de Deus.
– É indispensável que sejamos feitos justiça de Deus, que as pessoas possam ver em nós a justiça de Cristo, assim como o Senhor nos vê através da justiça de Cristo imputada em nós.
Somos referência de justiça? Somos tidos como “homens de bem”? Temos testemunho diante daqueles que nos cercam? Levamos as pessoas a glorificar o nome do nosso Pai que está nos céus pelas nossas boas obras (Mt.5:16)? Somos reconhecidos como “filhos de Deus”?
– Em Seu ministério público, o Senhor Jesus deixou-nos um exemplo marcante, singular. Diz Pedro na casa de Cornélio que Ele “ungido com o Espírito Santo e com virtude, andou fazendo bem, curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38).
– Temos andado fazendo bem? Temos produzido o fruto do Espírito (amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança)? Temos demonstrado amor a Deus, amor ao próximo e amor a nós mesmos? Temos amado uns aos outros como Jesus nos amou?
– O caráter do cristão deve ser moldado pelo amor. É esta a primeira qualidade do fruto do Espírito, da qual decorrem todas as demais.
Não somos capazes de produzi-lo por nós mesmos, mas, quando cremos em Jesus, o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5) e, por conseguinte, temos condições de desenvolvê-lo, já que ele nos é dado gratuitamente pelo Senhor.
– Este amor é, como bem ilustrou certa feita o pastor Luiz Henrique de Almeida Silva, pioneiro das videoaulas de EBD na internet, o “botão” da flor de onde vêm as demais pétalas, que são as outras qualidades do fruto do Espírito, e é pelo amor, diz-nos o Senhor Jesus, que se identifica um discípulo d’Ele (Jo.13:35).
– Jesus demonstrou este amor, tanto que o provou morrendo por nós quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8), entregando a Sua vida pela humanidade, fazendo-Se pecado por nós, um amor incondicional, um amor pleno e inigualável.
– Entretanto, ainda que, na cruz, tivéssemos a cabal demonstração deste amor, esta foi a tônica de todo o ministério de Cristo. João deixa claro que Jesus havia amado desde o início e amou até o fim (Jo.13:1).
– O cristão deve ser movido por esse mesmo amor e, portanto, deve, também, prová-lo com atitudes concretas e não apenas com palavras (I Jo.3:18).
Jesus andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, não deixou jamais de querer o bem das pessoas, mesmo daquelas que se levantavam contra Ele, tanto que perdoou os Seus algozes no início da crucifixão (Lc.3:34).
Estêvão demonstrou, neste sentido, aliás, ter bem aprendido esta lição do Mestre, pois O imitou neste perdão (At.7:60).
– Na Sua morte, Jesus dá-nos importantíssimas lições com relação ao caráter do cristão. A primeira é que não temos que ter a nossa vida por preciosa, como diria anos depois o apóstolo Paulo (At.20:24), mas que devemos estar prontos a fazer a vontade de Deus, bebendo o cálice que o Senhor quiser que bebamos, mesmo que este seja o do martírio, tendo a mesma abnegação que teve, por exemplo, o próprio Paulo (Fp.2:17; II Tm.4:6-8).
– A segunda é a de que a nossa salvação custou um preço altíssimo, impagável e, por isso, devemos sempre valorizar a redenção que obtivemos pelo sacrifício perfeito de Cristo Jesus.
Pedro nos alerta para que lembremos o preço de nossa salvação e, diante disto, zelemos por preservá-la a todo custo (I Pe.1:18,19).
Como diz o próprio Senhor Jesus, na carta que mandou João escrever para a igreja de Filadélfia, devemos guardar o que temos para que ninguém tome a nossa coroa (Ap.3:11).
– A vida cristã tem um preço. Evidentemente que não se trata de um preço de redenção, pois ninguém pode resgatar uma alma sequer (Sl.49:7,8), mas, quando tomamos a decisão de servir a Jesus, teremos de nos separar do mundo e seremos incompreendidos pelos que não receberam a Cristo Jesus e isto nos custará muitas aflições e privações, mas tudo isto nada é comparado com a glória que nos há de ser revelada (Rm.8:18). Eis outra importante lição que nos dá o Senhor Jesus na Sua morte.
– Na ressurreição, Jesus nos dá a certeza de que a nossa fé não é vã (I Co.15:17). Sua ressurreição traz-nos a certeza de que vale a pena servir a Cristo, que Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo.14:6) e que Seu sacrifício realmente nos trouxe a salvação, um sacrifício perfeito que retirou o pecado do mundo (Jo.1:29; Hb.9:11-14).
– A ressurreição dá-nos, também, a certeza de que podemos, sim, nascer de novo, que é uma realidade a nossa morte para o mundo e para o pecado e que, doravante, devemos viver única e exclusivamente para Deus, circunstância espiritual que nos é figurada e simbolizada pelo batismo nas águas (Rm.6:3-10).
– Por fim, na Sua ascensão, o Senhor Jesus nos dá a garantia de que está, agora, na glória de Deus, à destra do Pai (Hb.8:1; 10:12), intercedendo por nós (Hb.7:25), comprovando que precisamos perseverar para atingirmos este mesmo estágio de glorificação, que por Ele nos foi prometido, desde que vençamos (Ap.3:21).
– Jesus sempre agradou ao Pai e isto foi testificado desde o início do Seu ministério público, quando de Seu batismo (Mt.3:17: Mc.1:11; Lc.3:22), mas também ao término d’Ele, quando o véu do templo se rasgou de alto a baixo, demonstrando ter sido o Seu sacrifício aceito, o que também ficou evidenciado pela Sua ressurreição.
– Também devemos ter um caráter que agrade ao Pai, pois só aqueles que tiverem o testemunho de que agradaram a Deus serão arrebatados (Hb.11:5).
Jesus é o modelo supremo de caráter e devemos sempre imitá-l’O, pois em fazendo isso, não teremos senão o Seu mesmo destino, que é a glória eternal.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/485-licao-13-jesus-cristo-modelo-supremo-de-carater-i