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LIÇÃO Nº 2 – A CRIAÇÃO DE EVA, A PRIMEIRA MULHER    

A mulher foi também criada de modo especial. 

INTRODUÇÃO

 – A mulher foi criada de modo especial.

 – As Escrituras mostram serem homem e mulher complementares, iguais diante de Deus mas diferentes entre si. 

I – A DESCRIÇÃO DA CRIAÇÃO DA MULHER 

– No prosseguimento do estudo sobre a origem da raça humana, que é o primeiro bloco deste trimestre em que estamos a perquirir sobre a doutrina do homem, a chamada Antropologia Teológica, hoje iremos minudenciar a criação da mulher. 

– Cumpre observar, portanto, que “Adão”, o primeiro homem, é o ancestral de toda a raça humana e, por isso mesmo, é ele conhecido como o “pai da humanidade”, o representante de toda a humanidade, já que todos os demais seres humanos provêm dele, inclusive a própria mulher (I Co.11:8). 

– Depois de ter criado o homem, posto o mesmo no jardim e lhe dado instruções, o Senhor verificou que o homem não podia viver solitário, era um ser social. Por isso, afirmou para Si mesmo:

“Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele” (Gn.2:18). 

– É evidente que esta consideração divina não decorreu de um “erro de cálculo”.

Trata-se tão somente de uma forma de expressão que permita a nós entendermos o que foi a deliberação divina.  

– Em Gn.1:26, já vimos que o Senhor quis criar o homem sexuado, macho e fêmea, e aqui, em Gn.2:18, há apenas uma expressão que nos permita vislumbrar este projeto divino.

– Deus já sabia que o homem que criara era um ser social, que dependia de companhia para poder não só sobreviver como cumprir o propósito que Deus dele queria, mas,

como havia feito o homem como um ser racional, capaz de pensar e de se relacionar com seu Criador, o Senhor, de modo pedagógico, quis que o homem tivesse consciência de sua potencialidade e,

por isso mesmo, antes de criar a mulher, quis que o homem sentisse a necessidade que tinha de companhia, tivesse consciência de sua natureza social. 

– Assim, o Senhor leva todos os animais criados à presença de Adão e lhe manda que desse nome a todos eles (Gn.2:19).

Ao fazê-lo, o Senhor quis mostrar ao homem que ele era o dominador de toda a criação terrena, pois o gesto de dar nome a alguém é uma demonstração de autoridade sobre aquele ser que é nomeado. 

– Nossos pais revelam o domínio que tem sobre nós precisamente porque são eles que nos dão o nome que temos, lembrando que, na cultura oriental, o nome não é apenas uma designação, como é na cultura ocidental, mas um sinal de identidade, uma demonstração do caráter do ser.

– Além de mostrar que o homem era superior aos demais seres vivos terrenos, tanto que lhes poderia nomear, o Senhor, também, com esta atitude,

quis mostrar ao homem que ele era dotado de razão, dotado de intelecto, de capacidade de pensar e que, portanto, era criativo, podendo se constituir numa espécie de parceiro do próprio Deus,

tendo condições de modificar a natureza que fora criada pelo Senhor e, mais do que isto até, comunicar-se de forma inteligível e articulada, tanto que era capaz de criar palavras.  

– A linguagem humana, ao contrário do que dizem alguns cientistas, é totalmente distinta da eventual linguagem que possam ter os outros seres vivos, pois é a expressão da sua razão, é a própria expressão do homem interior, deste componente imaterial que só o homem possui na criação terrena. 

– Adão, então, obedientemente, deu nome a todos os seres e, usando de seu intelecto, pôde perceber, sem que Deus o falasse, que todos os animais tinham seu parceiro, que todos tinham a sua companhia, mas que ele estava só.

Adão, então, sentiu a necessidade de uma companhia, notou que era um ser social, que não era bom que estivesse sozinho (Gn.2:20). 

– Adão sentiu-se incompleto, Deus fez com que Adão tivesse tal sentimento, precisamente para valorizar a solução que o próprio Senhor já havia dado.

Assim, a proeminência de Adão, a sua condição de pai da humanidade, a sua ancestralidade, que é, por exemplo, evidenciada pelo apóstolo Paulo em I Tm.2:13, é mostrada pela Bíblia Sagrada como sendo uma incompletude, como algo que necessita de um aperfeiçoamento. 

– Não se tem, portanto, sentido algum, dizer-se que a Bíblia Sagrada é um livro “machista” ou “patriarcalista”, mas, bem ao contrário, ao trazer a revelação da origem da própria raça humana,

mostra que a proeminência de Adão jamais foi tida e havida como detenção de uma posição absoluta ou suficiente, mas como uma proeminência que dependia de complementação. 

– Deus havia cumprido o Seu propósito de fazer Adão sentir a necessidade de uma companhia e, mais do que depressa, para que esta consciência não o fizesse sofrer, ter uma melancolia,

fez cair sobre ele um profundo sono, a primeira “anestesia” da história e realizou, também, a primeira cirurgia, tomando uma das costelas de Adão e dela fazendo surgir a mulher (Gn.2:21). 

– Esta narrativa bíblica apresenta importantíssimas lições. A primeira é a de que a sexualidade é despertada espontaneamente no ser humano, pois é algo da sua natureza.

Adão foi feito macho, assumiu esta consciência posteriormente, tendo havido um “pesado sono” entre o instante desta consciência e o momento em que se uniu com sua companheira. 

– É assim que se desenvolve a sexualidade no ser humano. Após o período de formação, onde o ser humano é definido como homem ou mulher, há um intervalo em que ocorre um “profundo sono” do organismo com relação à sexualidade, “sono” este que cessa quando do início da adolescência, quando, então,

se desenvolvem os caracteres sexuais secundários, que fazem com que o ser humano fique pronto para a procriação, para se unir a uma pessoa do sexo oposto e, assim, se completar e participar da reprodução da espécie humana. 

– Vemos, assim, que é uma grande mentira a afirmação de que cabe ao ser humano escolher entre ser “homem” ou “mulher”, o que se daria mediante uma “construção social”,

visto que o texto bíblico é bem claro ao mostrar que homem e mulher foram criados antes mesmo que existisse sociedade, apesar de o homem ter sido criado um ser social.  

– Ademais, é importante observar, como diz o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, que a ideia de “construção social” ou “construto social” é fruto de uma indevida dissociação entre o “mundo mental” e o “mundo real”, como se pudesse haver uma “construção social” que não tivesse uma correspondência na realidade.

Se eventual “construção social” não tiver tal correspondência estaremos diante de uma imaginação e nada mais.

– O sexo é determinado naturalmente ( e está aí a genética a demonstrar que os homens têm os cromossomos X e Y, enquanto as mulheres têm dois cromossomos X), pela vontade divina, sendo que há dois períodos bem determinados para a fixação de tal sexualidade:

o inicial, ocorrido durante a formação do próprio corpo, na fase intrauterina, e outro, que é a final, desenvolvida na adolescência, quando são desenvolvidos os caracteres sexuais secundários. 

– Por isso, é completamente desordenadora e confrontadora da natureza a chamada “erotização infantil”, este movimento levado avante pelo inimigo de nossas almas em que se pretende “despertar precocemente” o ser humano do “pesado sono de Adão”,

atiçando a sensualidade e a vida sexual ainda na infância, quando o ser humano ainda não está preparado para a sexualidade, quando ainda o corpo não está pronto para exercer toda a sexualidade. 

– A cada dia que passa, seja pela própria alimentação, seja pelos estímulos provocados na sociedade, máxime pela mídia, nossas crianças têm sido levadas a assumir uma posição diante da sexualidade,

a ter relacionamentos sexuais e o resultado disto outro não é senão uma série de distúrbios e de prejuízos para a formação física, moral e espiritual da pessoa, o que, aliás,

tem levado muitos a adotar o homossexualismo, como se isto fosse “natural”, mas, simplesmente, a consequência de uma perversão da própria natureza humana, provocada por estímulos externos e que nada tem de naturais. 

– A segunda lição que aprendemos desta narrativa bíblica é de que homem e mulher são iguais em essência e em natureza. Deus formou a mulher do homem, ou seja,

não há qualquer diferença essencial entre homem e mulher. A mulher foi tirada do homem, num verdadeiro caso de “clonagem”, que faz com que não haja diferença substancial entre homem e mulher: ambos são seres humanos. 

– É importante vermos como, na revelação que Deus deu ao homem sobre a sua própria criação, tem-se um posicionamento totalmente distinto daquilo que foi veiculado durante muitos anos entre os pensadores humanos,

inclusive os que eram considerados os mais racionais, como era o caso dos filósofos gregos, onde havia uma discussão sobre a própria humanidade da mulher, que era visto como um ser que,

ou não era dotado de alma ou, então, possuía uma alma inferior. Deus mostra que homem e mulher são ambos imagem e semelhança de Deus, ambos têm a mesma essência, não havendo um maior do que o outro, um superior ao outro, em termos de natureza. 

– Esta igualdade é reafirmada quando se diz que a mulher foi tirada de uma das costelas de Adão, ou seja,

do lado do homem, a demonstrar que homem e mulher deveriam viver lado a lado, eram complementares, não havendo uma superioridade ou inferioridade de um em relação ao outro.  

– No plano original de Deus, não havia qualquer preponderância entre homem e mulher, ainda que o homem tenha sido criado primeiro, em termos cronológicos.

Esta diferença cronológica, no entanto, nada significava, senão a própria consciência que teve o homem da necessidade que tinha da mulher. Aliás, é assim que o apóstolo Paulo bem sintetiza a situação, quando disse:

“Todavia nem o varão é sem a mulher, nem a mulher sem o varão, no Senhor” (I Co.11:11). 

– Terceira lição que nos dá o texto sagrado é de que a mulher, embora seja essencialmente igual ao homem, dele é diferente, já que sua estrutura teve como ponto inicial um osso, ao contrário do homem que teve como estrutura fundante o pó da terra. 

– Por isso, a sexualidade abrange muito mais do que a simples genitalidade, a simples diferença dos órgãos reprodutores de um e de outro.

Bem ao contrário, a sexualidade abrange características distintas não só físicas mas também psicológicas que fazem com que a unidade, a completude somente se construa com a união entre um homem e uma mulher.

– É interessante observar que a palavra hebraica “formou”, em relação à mulher, é diversa da empregada para o homem.

Trata-se da palavra “banah” (בוה), cujo significado principal é “edificar”, “construir”.

Ao criar a mulher, Deus estava a construir algo maior do que a própria mulher, que era a própria unidade da humanidade, condição “sine qua non” para que o propósito divino fosse alcançado. 

– Quando despertou, sem que Deus tivesse falado coisa alguma, Adão, ao ver a mulher, disse que ela havia sido tirada de seus ossos, era carne de sua carne, e, por isso, seria chamada “varoa”, porque do varão havia sido tirada.

Assumiu, assim, de livre e espontânea vontade, a oferta que Deus lhe dera, aceitando recebê-la por companheira. 

– Esta afirmação de Adão traz-nos uma quarta lição, qual seja, a de que homem e mulher se completam, formam uma unidade, mas que tal completude, tal unidade depende da presença de Deus.

Adão estava em plena comunhão com Deus e percebeu que a mulher lhe fora dada como companheira.

É por isso que o apóstolo Paulo diz que homem e mulher precisam um do outro, mas “no Senhor” e, também, é a razão pela qual o sábio Salomão faz questão de descrever a união entre o homem e a mulher como um “cordão de três dobras” (Ec.4:12),

 a mostrar que esta união é mais uma demonstração da imagem e semelhança de Deus, já que temos aqui, mais uma vez, uma “triunidade”, a exemplo da Triunidade Divina. 

– Como se isto fosse pouco, tem-se que a condição de igualdade em essência da mulher é reconhecida pelo próprio Adão que, ao despertar do sono, faz questão de dizer que a mulher era “osso dos seus ossos, carne da sua carne”.

Ou seja, a mente do homem, sem pecado, estava em perfeita consonância com o imperativo divino da igualdade em essência entre o homem e a mulher. 

– Entretanto, o texto sagrado também mostra, claramente, que há uma diferença entre o homem e a mulher, diferenças entre si, o que elimina, de pronto, o “igualitarismo” que se tem defendido nos últimos tempos, que teve início no movimento feminista que hoje encontra seu desenvolvimento na “ideologia de gênero”,

esta nefanda teoria que se mostra como um dos principais elementos do “espírito do Anticristo”, que, estando entre nós desde sempre (I Jo.4:3), está na iminência de dominar completamente o planeta, pois o /Senhor Jesus está às portas para arrebatar a Igreja. 

– Embora Adão reconheça que a mulher é “osso dos seus ossos e carne da sua carne”, chamou-a de “varoa”, “porque do varão foi tomada”, ou seja, a mulher, embora tenha sido tomada do varão, com ele não se confundia, tinha especificidade. 

– A palavra “varoa”, que se encontra na Versão Almeida Revista e Corrigida, é a palavra hebraica “issah” (ִא ָשה).

“…Substantivo feminino que significa mulher, esposa ou fêmea. A origem da palavra foi registrada em Gênesis 2:23, onde Adão disse:

‘Ela será chamada mulher’, porquanto foi tomada do homem(…).

Embora esta palavra signifique, predominantemente, mulher ou esposa, é ainda usada de várias outras maneiras:

aquelas que são capazes de gerar filhos (Gn.18:11);

uma viúva (Rt.4:5; I Sm.27:3);

uma adúltera (Pv.6:26; 7:5);

crianças do sexo feminino (Nm.31:18) ou fêmeas de animais (Gn.7:2)” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 802, p.1542).

– Percebe-se que Adão, ao nomear a mulher como “varoa”, demonstrou que tinha ela uma individualidade própria, ainda que fosse da mesma essência do homem.

Era um ser humano, tanto quanto o homem, mas tinha peculiaridades que a tornavam diferente. 

– A mulher foi criada para ser “adjutora” (Gn.2:18). A palavra aqui em foco é “neghedh” (ֶנֶגד),

“…uma frente, i.e., parte fronteira;

(especificamente) uma contraparte, ou parceiro;

usualmente (advérbio especialmente com preposição) defronte de ou perante:

-defronte, diante, ao, x longe, x distante, x de, presença, x outro lado, vista, x a certa distância.” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 5048, p. 1786). 

– A mulher, portanto, é uma “contraparte” do homem, ou seja, alguém que lhe completa, que vai aonde ele não vai, alguém que estende e amplia o alcance do varão, com ele formando uma unidade,

alguém que é parceiro, ou seja, forma um par, está ao lado, tornando possível o propósito estabelecido por Deus para aquele ser criado à Sua imagem e semelhança. 

– A ideia de “adjutora”, portanto, nada tem que ver com a ideia de uma “serviçal”, de uma “criada”, como alguns desavisados podem interpretar, mas, como diz a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, “alguém que o ajude como se fosse a sua outra metade”. 

– A mulher, portanto, deve se associar ao homem para que ambos consigam cumprir o propósito estabelecido por Deus à humanidade, fazendo aquilo que o homem não tem condições de fazer,

já que tem ela uma sensibilidade mais aguçada que o homem, bem como uma perspicácia que a permite realizar várias tarefas ao mesmo tempo, como bem descreve o proverbista no capítulo 31 de Provérbios.

 

– Esta ideia de “ajudadora”, a palavra hebraica “’ezer” (ֵעֶזר), “…adjutora, auxiliadora, ajudadora, ajuda, socorro, auxílio, amparo” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave.

Dicionário do Antigo Testamento, verbete 5828, p.1835) mostra, claramente, que não há qualquer subalternidade no papel da mulher, mas, antes, até um aspecto protetivo, de socorro, o que explica, aliás, a própria sensibilidade de que a mulher é dotada, para servir de anteparo e de proteção ao homem. 

– Esta verdade bíblica foi bem expressa pelo ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, em trecho que, por sua biblicidade, vale a pena transcrever:

“…Na descrição de Gênesis 2, 18-25, a mulher é criada por Deus « da costela » do homem e é colocada como um outro « eu », como um interlocutor junto ao homem, o qual, no mundo circunstante das criaturas animadas, está só e não encontra em nenhuma delas um « auxiliar » que lhe seja conforme.

A mulher, chamada desse modo à existência, é imediatamente reconhecida pelo homem « como carne da sua carne e osso dos seus ossos » (cf. Gên 2, 23), e precisamente por isto é chamada « mulher ». Na linguagem bíblica este nome indica a identidade essencial com referência ao homem:

 ‘iš – ‘iššah, o que, em geral, as línguas modernas infelizmente não conseguem exprimir. « Ela chamar-se-á mulher (‘iššah), porque foi tirada do homem (‘iš) » (Gên 2, 23).

O texto bíblico fornece bases suficientes para reconhecer a igualdade essencial do homem e da mulher do ponto de vista da humanidade.

Ambos, desde o início, são pessoas, à diferença dos outros seres vivos do mundo que os circunda.

A mulher é um outro «eu» na comum humanidade. Desde o início aparecem como « unidade dos dois », e isto significa a superação da solidão originária, na qual o homem não encontra um « auxiliar que lhe seja semelhante » (Gên 2, 20).

Trata-se aqui do « auxiliar » só na ação, no « submeter a terra » (cf. Gên 1, 28)?

Certamente se trata da companheira da vida, com a qual o homem pode unir-se como a uma esposa, tornando-se com ela « uma só carne » e abandonando por isso « seu pai e sua mãe » (cf. Gên 2, 24)…” (Carta Apostólica Mulieris dignitatem, n.6. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1988/documents/hf_jpii_apl_19880815_mulieris-dignitatem.html#_ednref24 Acesso em 01 nov. 2019). 

– Este auxílio, ademais, não é unilateral, apenas da mulher em relação ao homem, mas recíproco, ou seja, tanto da mulher em relação ao homem, como do homem em relação à mulher.

Tanto assim é que algumas versões, como a Nova Versão Internacional, traduz G.2:18 da seguinte maneira:

Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda”. 

– A utilização de “corresponder” dá esta ideia de reciprocidade, que está, sim, embutida no texto, até porque

“…Na « unidade dos dois », o homem e a mulher são chamados, desde o início, não só a existir « um ao lado do outro » ou « juntos », mas também a existir reciprocamente « um para outro ».

Assim se explica também o significado daquele « auxiliar » de que se fala em Gênesis 2, 18-25: « Dar-lhe-ei um auxiliar que lhe seja semelhante ».

O contexto bíblico permite entendê-lo também no sentido de que a mulher deve « auxiliar » o homem — e que este, por sua vez, deve ajudar a ela — em primeiro lugar por causa do seu idêntico « ser pessoa humana »:

isto, em certo sentido, permite a ambos descobrirem sempre de novo e confirmarem o sentido integral da própria humanidade.

É fácil compreender que — neste plano fundamental — se trata de um « auxiliar » de ambas as partes e de um « auxiliar » recíproco. Humanidade significa chamada à comunhão interpessoal.…” (JOÃO PAULO II. end. cit. n.7).

– “…Em sua infinita bondade e sabedoria, Deus cria um ser para ajudar o homem a sair de sua solidão existencial.

Esse ser já surge das mãos artísticas do perfeito Criador com uma missão e a cumpre de forma plena: ajudar o homem em algo que ele não poderia realizar por si mesmo — sair da solidão.

O termo “ezèr kenegdo” — cujas versões no português são:

“ajudadora idônea”;

“ajudadora que lhe seja idônea”;

“alguém que o auxilie e lhe corresponda”;

“ajuda que lhe seja adequada” – é com frequência mal interpretado, transmitindo a ideia de que a mulher criada é uma subordinada ou prestadora de serviços com grau inferior ao do primeiro ser humano criado.

Porém, se conferirmos o termo “ezèr” em outras passagens bíblicas (por exemplo, no Salmo 46.1), ele nos mostrará o próprio Deus como nosso “ezèr”, ou seja, aquele que nos tira de uma situação da qual não podemos sair sozinhos (por exemplo, da tribulação).

A palavra “ezèr”, quando se refere a Deus, jamais é traduzida portando a ideia de que Deus é nosso subordinado ou prestador de serviços, mas a ideia de Deus como auxílio, ajudador, em algo que está acima de nossas capacidades.

Logo, afirmar que a mulher é subordinada ao homem é uma falta grave na interpretação bíblica ou uma leitura parcial tendenciosa.

A grande motivação da criação da mulher é, primariamente, o companheirismo, termo que vem do latim “cum panis”, que significa “aquele com quem dividimos o pão”.

Essa sim é a bela finalidade da criação da mulher — um ser que está ao meu lado e com quem eu posso dividir o meu pão.…” (CATITO, Carlos e Dagmar. Adapt. por Lagoinha.com. O verdadeiro significado da ajudadora idônea. 24 set. 2015. Disponível em: https://www.lagoinha.com/ibl-vida-crista/o-verdadeiro-significado-da-ajudadoraidonea/ Acesso em 01 nov. 2019). 

– Como afirma a missionária norte-americana Diane Hofer Ellis: “… A palavra auxiliadora tem um significado muito especial. A palavra em Hebraico é ezer, que se refere a alguém que dá ajuda ao outro no dia de batalha.

A palavra “aliado” capta bem essa ideia. Foi usado a respeito de Deus como nosso socorro (Sl 124.8) e nosso auxílio contra os nossos adversários (Dt 33.7).

Também, foi usado em relação a um rei que ajudou o outro, ou até dos soldados que ajudaram seu rei. Então, ser auxiliadora não é algo inferior, como Deus não é inferior.

Isso ajuda-nos para entender como a mulher é a auxiliadora na vida dos homens: ela ajuda na guerra espiritual na vida dos homens.

Ela não é opcional, mas sim, é uma aliada necessária para que o homem e a mulher cumprisse as ordens de Deus.

Sem ela cumprindo sua função, seria mais difícil para o homem cumprir suas ordens.

A mulher é uma aliada necessária na vida do homem.…” (Uma auxiliadora que corresponda: como ser uma aliada necessária – parte 1. 10 jul. 2017. Disponível em: https://mulherdapalavra.blogspot.com/2017/07/uma-auxiliadora-que-corresponda-como.html Acesso em 01 nov. 2019). 

– Advém daí o fato de que a sublimidade da feminilidade se encontra na maternidade.

Quando Adão vai dar um nome para a mulher, o que parece ter ocorrido apenas após a queda, dá a ela o nome de “Eva”, por ser ela a “mãe de todos os viventes” (Gn.3:20).

– Está aqui em foco a palavra hebraica “Hawwah” (ַחַוה), “…doador(a) de vida; Havah (ou Eva), a primeira mulher:- Eva” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 2332, p.1627). 

– A maternidade é o ápice da feminilidade, porquanto é por meio dela que a mulher completa o propósito divino para a humanidade, sendo o instrumento para a perpetuação da espécie humana,

o veículo pelo qual se cumpre a segunda ordem dada por Deus ao primeiro casal, que foi o da multiplicação, o da reprodução (Gn.1:28). 

– A maternidade mostra bem este papel complementar da mulher, pois é por meio dela, mulher, que se dá continuidade, na geração seguinte, ao cumprimento da ordem divina à raça humana, que, ante a transitoriedade do ser humano, se tem a perpetuação do desígnio divino para os seres humanos.

– Não foi à toa, portanto, que o inimigo de nossas almas resolveu tentar a mulher para, por meio dela, atingir o plano divino concebido para a humanidade.

A mulher era a complementação do projeto divino e o instrumento através do qual se daria a perpetuação deste plano. Aquela que era o veículo da vida se tornaria o veículo da morte.

– No entanto, o ardil do inimigo se mostrou inócuo, pois, embora a mulher tenha sido o instrumento para a entrada do pecado no mundo, ainda que um mero instrumento imediato,

já que o pecado entrou no mundo pelo ser humano e não apenas pela mulher, como nos mostram os textos de Rm.5:12 e I Co.15:21, já que Adão anuiu com o gesto de Eva e ambos comeram do fruto proibido (Gn.3:6),

o fato é que a mulher estava destinada a ser, também, o veículo da redenção, na medida em que, desde a revelação do plano salvífico, ficou evidenciado que o Redentor seria “semente da mulher” (Gn.3:15). 

– Tanto assim é que Eva muito se alegrou quando deu à luz um varão (Gn.4:1), quiçá pensando já ter chegado o Redentor mas, embora não fosse Caim o Salvador esperado, ao se tornar mãe, Eva pôde verificar que a promessa de Deus realmente se cumpriria e que, por meio da maternidade, a mulher seria o veículo pelo qual introduziria no mundo, que estava no maligno, Aquele que haveria de redimir a humanidade.

E, no tempo aprazado, realmente nasceu Jesus de mulher (Gl.4:4), que foi o ponto culminante da autorrevelação de Deus à humanidade.

OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos aqui as palavras do ex-chefe da Ifreja Romana, João Paulo II:

“…O envio deste Filho, consubstancial ao Pai, como homem « nascido de mulher », constitui o ponto culminante e definitivo da autorrevelação de Deus à humanidade.

Esta autorrevelação possui um caráter salvífico, como ensina em outra parte o Concílio Vaticano II:

« Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e tornar conhecido o mistério de Sua vontade (cf. Ef 1, 9), pelo qual os homens, por intermédio do Cristo, Verbo feito carne, e no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2, 18; 2 Pdr 1, 4)[Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação divina Dei Verbum, n. 2]» (Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, n.3. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1988/documents/hf_jp-ii_apl_19880815_mulieris-dignitatem.html Acesso em 01 nov. 2019) (itálicos originais).  

– A maternidade constitui-se, assim, no ponto culminante da feminilidade e o “ser mulher” não pode ser entendido senão diante deste espectro, de modo que a mulher deve ser entendida sempre como alguém que está sendo preparada para ser mãe, ainda que,

por circunstâncias alheias à sua vontade, esta maternidade não se realize biologicamente, mas, certamente, se realizará psicológica, afetiva e emocionalmente, como vemos, por exemplo,

em casos como os de Noemi, que se tornou mãe de suas noras, mesmo depois da morte de seus filhos (Rt.1:8-14), ou de Débora, que foi mãe para os israelitas (Jz.5:7), independentemente de ter sido mãe biológica.

A propósito, é Raquel, e não Leia, que é tida como a mãe de Israel (Jr.31:15). 

– Entende-se, assim, porque é de origem satânica toda e qualquer teoria, ideologia ou entendimento que busque considerar a maternidade como sendo um “peso”, um “desprestígio”, um “fardo”, uma “opressão” ou coisa semelhante.

Muitos têm agasalhado esta falsa concepção, tanto que, a cada dia que passa, as mulheres têm decidido ter filhos com idade mais avançada, depois que alcançaram uma “certa estabilidade profissional”,

o que tem causado um sem número de problemas, até porque tal opção ocasiona gravidezes de risco em virtude da idade da mulher na primeira gestação. 

– Esta “ojeriza” à maternidade está por detrás também de movimentos que defendem a “liberação sexual”, que desvinculada a prática do sexo à procriação, que desencadeia todo um movimento em prol da contracepção e, dentro dele, da defesa do aborto, mostrando que um abismo sempre chama outro abismo (Sl.42:7). 

– A mulher foi feita para ser mãe e na maternidade se encontra o ponto culminante da feminilidade.

É este o ensino bíblico, é este o desígnio divino a que homens e mulheres devem se submeter sem qualquer questionamento. 

– Neste ponto culminante da feminilidade, que é a maternidade, temos a concessão à mulher do nível mais elevado que pode atingir o ser humano, que é o do “amor maternal”, que o próprio Deus admite ser o mais elevado tipo de amor, como vemos em Is.49:15.

Apresenta-se, pois, aqui, a mulher como o “aperfeiçoamento da humanidade”, aquela que completa o desígnio divino para a raça humana, tanto que, por meio da maternidade,

não só permite a perpetuação da espécie, como torna possível a comunhão interpessoal e, por conseguinte, produz o mais próximo amor ao amor divino.

– Sob esta perspectiva até, poder-se-ia até falar em uma “superioridade feminina”, mas uma superioridade que adviria da maternidade da execução de um amor mais próximo ao amor divino,

que se revelaria no companheirismo e na instigação da sensibilidade sua junto ao homem, algo muito, mas muito diferente, para não dizer diametralmente oposto do “futuro feminino” preconizado pelo “empoderamento feminino”, que se encontra, aliás, entre as finalidades da chamada “Agenda 2030” da Organização das Nações Unidas.

OBS: O objetivo 5 da Agenda 2030 é “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”.

O desvirtuamento do movimento feminista para implementar uma “agenda de gênero”, que tem na “ideologia de gênero” seu ponto culminante é muito bem descrito pela escritora católica norte-americana Dale O’ Leary. 

III – FAMÍLIA – OBRA-PRIMA DA CRIAÇÃO 

– A criação da mulher, porém, traria a criação de algo que lhe era superior, bem como ao homem, a saber: a família.

Assim que Deus trouxe Eva a Adão e este percebeu tratar-se a mulher daquilo que lhe completaria, temos o surgimento da família, a primeira instituição social surgida, criada pelo próprio Deus.

A família é a obra-prima de Deus, pois é através da família que o ser humano poderia cumprir o propósito de Deus para a sua existência. 

– Esta família seria formada pelo casamento de um homem e de uma mulher, como nos mostra claramente Gn.2:24, casamento que é o máximo compromisso entre um homem e uma mulher,

pois não é possível a união de pessoas do mesmo sexo, pois, neste caso, não se terá a complementaridade exigida para se formar a unidade, pois um homem só pode ser completado por um homem e uma mulher só pode ser complementada por um homem.

– Foi somente após a criação da família que sobreveio a bênção de Deus para a humanidade, como vemos em Gn.1:28,

quando é dito que Deus abençoou tanto o macho quanto a fêmea e que o Senhor explicitou qual era o propósito de Deus para o ser humano: frutificar, multiplicar-se e encher a terra, dominando, assim, sobre toda a criação terrena. 

– Frutificar significa “dar fruto”. Esta “produção de fruto” mostra a dimensão espiritual do ser humano.

O homem deveria produzir fruto, ou seja, deveria ter uma conduta tal que demonstrasse a presença de Deus na sua vida. Este fruto outro não é senão o “fruto do Espírito”, que é caridade

(amor),

gozo,

paz,

longanimidade,

benignidade,

bondade,

mansidão,

fé e temperança (Gl.5:22), fruto que, após o pecado, só pode ser produzido quando somos escolhidos e enviados por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo.15:16).

São os “frutos de justiça” por Jesus Cristo para glória e louvor a Deus (Fp.1:11).

Homem e mulher deveriam ter um comportamento que glorificasse ao Criador enquanto administravam a criação terrena. 

– Esta frutificação tornava-se possível pela comunhão que havia entre o primeiro casal e o próprio Deus, que, como se deduz de Gn.3:8, diariamente vinha ao encontro do homem para um instante especial de diálogo e de comunicação, momento em que, certamente, o ser humano era instruído e se edificava espiritualmente pela presença e companhia do Senhor com ele. 

– Multiplicar significa reproduzir. Homem e mulher deveriam gerar outros seres humanos, a nos mostrar, de pronto, que a atividade sexual é boa, na verdade, muito boa (Cf. Gn.1:31), algo criado por Deus e que, portanto, só pode ser uma boa dádiva (Tg.1:17).

Adão e Eva foram criados já com o propósito de se reproduzir e darem origem a outros seres humanos. 

– Encher a terra significa que Adão e Eva deveriam procriar para que habitassem toda a Terra e não apenas o jardim onde haviam sido postos no Éden.

A terra fora criada e preparada para que o homem a habitasse. Mais uma vez vemos como é de origem satânica a ideia de alguns ambientalistas de que a preservação da natureza depende do desaparecimento ou, pelo menos, de uma drástica redução da população humana sobre a face do planeta. 

– Dominar sobre a terra importava em administrar a terra para o Criador, exercer a sua superioridade, adaptando a terra aos seus interesses (”lavrar”), mas preservando a natureza feita por Deus “”guardar”, o que somente seria possível mediante a união de esforços entre homem e mulher.

– É, portanto, na família, construída a partir do casamento, que homem e mulher conseguiriam, em comunhão com Deus, exercer plenamente a sua humanidade.

Era este o ambiente criado pelo Senhor para que se tivesse, na terra já, a reprodução do que existe no céu, visto que a família possui, a um só tempo, os dois tipos de relacionamentos existentes na eternidade:

a comunhão interpessoal, que é a Triunidade Divina, reproduzida no relacionamento conjugal, onde “ambos são uma só carne” (Gn.2:24) e o relacionamento de Pai e Filho, advindo da procriação, que reproduz o relacionamento já existente entre Deus Pai e Deus Filho, como também o relacionamento que se estabelece entre Deus e os homens que creem em Jesus Cristo. 

– Era esta a harmoniosa, sublime e maravilhosa existência que tinha o homem e a mulher na presença do Senhor, situação que perdurou até que o homem pecasse, a tudo pondo fim, como haveremos de estudar em lição futura. 

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4803-licao-2-a-criacao-de-eva-a-primeira-mulher-i

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