LIÇÃO Nº 2 – A FIRMEZA DO CARÁTER MORAL E ESPIRITUAL DE DANIEL
A integridade começa pela decisão firme pela santificação.
INTRODUÇÃO
– Damos início ao estudo do livro do profeta Daniel e, nesta lição, analisaremos o capítulo primeiro deste livro.
– A integridade começa pela decisão firme pela santificação.
I – DANIEL É LEVADO CATIVO PARA BABILÔNIA
– Damos início, nesta lição, ao estudo do livro do profeta Daniel, depois de uma lição introdutória em que tivemos uma visão panorâmica deste livro.
– Conforme dissemos na lição anterior, segundo Frank Klassen e Edward Reese, Daniel nasceu por volta do ano 628 a.C., o décimo terceiro ano do reinado de Josias, mesmo ano em que Jeremias iniciou o seu ministério profético.
– Sendo de linhagem real, Daniel vivenciou intensamente o momento político e religioso que havia em Judá neste período. O rei Josias era um rei temente a Deus e que procurou fazer o povo retornar para os caminhos do Senhor, fazendo grande esforço para debelar a idolatria e feitiçaria que haviam sido largamente seguidas pelo povo judaíta durante o longo reinado de Manassés, avô de Josias (II Cr.34:1-7).
– Com efeito, quando do nascimento de Daniel, fazia cinco anos que o rei Josias havia iniciado esta importante e última reforma religiosa da história de Judá, sendo certo que fazia um ano que tinha iniciado a purificação de Judá e Jerusalém, com a destruição de todas imagens, ídolos e bosques que havia (II Cr.34:3,4).
– Daniel nasceu, então, numa atmosfera totalmente contrária à idolatria e não é mera conjectura ou especulação entender que, em sua primeira infância, tenha sido educado de forma a abominar totalmente estas práticas.
– Quando Daniel tinha apenas cinco anos de idade, o rei Josias mandou que a casa do Senhor fosse reparada (II Cr.34:8), ocasião em que foi encontrado no templo o livro da lei, que acabou sendo lido ao rei Josias que, diante da leitura do livro, percebeu quanto o povo de Judá havia se distanciado dos mandamentos divinos, o que fez com que ele pedisse que se consultasse a profetisa Hulda, a qual reafirmou que o Senhor lançaria juízo sobre o povo de Judá por causa de sua desobediência mas que, diante da retidão de Josias, pouparia este de ver a destruição (II Cr.34:8-33).
– Josias, apesar desta mensagem, quis levar o povo ao arrependimento, tendo, então, convocado não só os judaítas mas remanescentes do reino de Israel para a celebração de uma páscoa em Jerusalém, buscando, assim, restabelecer a aliança com o Senhor (II Cr.35).
– Como se não bastasse isso, Deus começava a usar o profeta Jeremias com poderosas mensagens que anunciavam a iminência do juízo divino sobre Judá por causa de sua apostasia espiritual, conclamando o povo a se arrepender dos seus pecados sob pena de serem expatriados de Canaã, como, aliás, estava previsto na lei de Moisés (Dt.28:64-67).
– Daniel, portanto, cresceu tendo pleno conhecimento destas profecias bem como da necessidade de se seguir a lei do Senhor e de que a mesma abominava a prática da idolatria e da feitiçaria. O fato de ter tido sua infância e adolescência num ambiente de temor a Deus foi fundamental para que fizesse a sua opção, que foi a de servir a Deus, apesar de todo o pecado que havia, a começar do próprio palácio.
– Embora Josias fosse um rei temente a Deus, vemos que assim não se portava a sua família. Com efeito, três filhos de Josias foram reis de Judá: Jeoacaz (II Cr.36:1), Jeoiaquim (II Cr.36:4) e Zedequias (II Rs.24:17) e os três foram reis ímpios e infiéis ao Senhor. Isto mostra, claramente, que a geração de Daniel era uma geração que se mostrou resistente às mensagens proféticas do Senhor, mas isto não impediu que Daniel fizesse parte da “minoria”, daqueles que resolveram servir ao Senhor.
– Vemos, portanto, que a decisão de Daniel de servir a Deus não foi uma atitude que tenha nascido somente quando Daniel chegou ao palácio de Nabucodonosor em Babilônia, como alguns equivocadamente pensam ao ler o início do livro de Daniel. Bem ao contrário, Daniel resolveu servir a Deus a partir do momento que adquiriu consciência e, ao saber de tudo o que ocorria no meio de seu povo, entendeu que o melhor caminho a seguir era o de seguir o que estava escrito no livro da lei do Senhor.
– Daniel, desde cedo, tomou a sua atenção para o que se achava escrito no livro da lei do Senhor que, como vimos, foi achado no templo e lido ao rei e, a partir de então, lido e estudado por tantos quantos se decidiram por servir a Deus.
– Sabemos disto porque Daniel, ao ser escolhido para ir para o palácio do rei Nabucodonosor, passou por uma seleção, pois só foram para o palácio aqueles que foram achados “sem defeito, formosos de parecer, instruídos em toda a sabedoria, sábios em ciência e entendidos no conhecimento, que tivessem habilidade para viver no palácio do rei” (Dn.1:4).
– Ora, entre os judaítas, ser “instruído em toda a sabedoria, sábio em ciência e entendido no conhecimento”, outra coisa não poderia ser senão ser pessoa que tivesse conhecimento das Escrituras Sagradas e da lei do Senhor, um estudioso dos escritos sagrados, pois, em Judá, era isto que significava “sabedoria, ciência e conhecimento”.
Como o livro da lei do Senhor havia sido recentemente encontrado no templo, certamente se começou a estuda-lo e Daniel, estando na corte real, interessou-se em aprender a Palavra do Senhor e se sobressaiu neste conhecimento, a ponto de ter sido selecionado para ir viver no palácio de Nabucodonosor.
– Temos, portanto, aqui, o cumprimento do que fala o salmista: “Como purificará o mancebo o seu caminho? Observando-o comforme a Tua Palavra” (Sl.119:9). Nem podia ser diferente, pois o principal meio de santificação do servo de Deus é a Palavra de Deus, como o Senhor Jesus deixa claro em Sua oração sacerdotal (Jo.17:17).
– Daniel, desde cedo, como se vê, era um estudioso da Palavra de Deus e não somente um estudioso mas um praticante dela, mesmo vivendo em meio a um povo que havia se distanciado da Palavra de Deus e que fazia ouvidos moucos às mensagens proféticas que exortavam o povo ao arrependimento.
– Daniel era uma pessoa diferente das que viviam com ele na corte. Enquanto a grande maioria das pessoas se preocupava apenas em participar dos rituais cerimoniais, servindo ao Senhor tão somente de aparência e, depois que saíam do templo, iam adorar ídolos e fazer práticas contrárias à vontade de Deus, Daniel dedicava- se ao estudo e meditação nas Escrituras, a ponto de, com pouco mais de vinte anos de idade, já ser considerado como “instruído em toda a sabedoria, sábio em ciência e entendido no conhecimento”.
– Daniel, porém, não apenas era entendido nas Escrituras, mas, também, tinha uma vida de oração. Ninguém pense que Daniel começou a orar apenas quando chegou a Babilônia. Seu costume de orar três vezes ao dia (Cf. Dn.6:10) iniciou-se desde a mais tenra idade, como resultado até do aprendizado que teve na Palavra de Deus, pois tal costume se desenvolveu a partir do que escreveu Davi, o homem segundo o coração de Deus, no Sl.55:17: “De tarde, e de manhã, e ao meio-dia, orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz”.
– Vemos, portanto, que a decisão firme de servir a Deus depende substancialmente destas duas práticas: a meditação nas Escrituras e a vida de oração, sem o que não teremos condições de nos mantermos separados do pecado e do mundo que nos rodeia.
– Nos dias em que vivemos, não é diferente o ambiente daquele que era vivido por Daniel. Também estamos num ambiente de grande apostasia espiritual, em que, apesar de o Senhor estar, a todo instante, mostrando a iminência do juízo divino sobre a face da Terra, a extrema necessidade de nos arrependermos de nossos pecados e buscarmos a Deus, muitos se contentam apenas de participar de cerimônias religiosas, de terem uma vida espiritual de aparência, continuando a viver no pecado quando fora do “templo”.
– Entretanto, esforcemo-nos para que sejamos, diante de Deus e dos homens, pessoas “instruídas em toda sabedoria, sábias em ciência e entendidas no conhecimento”, o que somente se conseguirá se mantivermos uma vida de meditação nas Escrituras e uma vida de oração, pois, deste modo, a exemplo de Josias e de Daniel, poupados seremos do terrível juízo que há de vir sobre a Terra.
Aliás, é esta a promessa do Senhor Jesus para os fiéis de nosso tempo, como registrado está na carta que o Senhor mandou João escrever à igreja de Filadélfia: “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap.3:10).
– Mas Daniel não era um eremita, ou seja, uma pessoa que se separava do convívio de seus pares. Ele foi selecionado, entre outras coisas, porque “tinha habilidade para viver no palácio do rei”, ou seja, sendo, como era, um nobre, alguém da linhagem real, Daniel também se esmerou em saber conviver e em se portar como um príncipe, como um nobre.
– Daniel era dedicado no estudo das Escrituras e tinha uma vida de oração, mas não era um alienado, alguém que se enclausurava e não conviva com as demais pessoas, mas, pelo contrário, alguém que tinha uma conduta exemplar entre seus pares e que procurou sempre ter uma boa convivência com o próximo, sem que isto representasse qualquer atitude de participação na vida pecaminosa, tão comum na sua geração.
– Daniel mostra-nos, desta maneira, que, embora tenhamos de ser santos, isto não significa que devamos ser antissociais e, mais do que isto até, impõe a necessidade de que sejamos pessoas que estejam no meio das pessoas, pois só assim poderemos cumprir o nosso papel de “luz do mundo” e “sal da terra”, que nos determinou o Senhor Jesus (Mt.5:13-16).
– Daniel distinguiu-se na vida da corte não só pela sua piedade, mas, também, pela sua excelência no convívio social, revelando toda a sua habilidade para viver no palácio, algo que seria fundamental para ser o estadista que foi. Temos, também, de saber viver em sociedade, cumprindo suas regras, portando-se de modo a que, com nossa conduta excelente, sejamos motivo para que os homens glorifiquem a Deus. Temos sido assim?
– No ano terceiro do rei Jeoiaquim, quando Daniel tinha por volta de 22 anos de idade, no ano 606 a.C., Nabucodonosor veio até Jerusalém e a sitiou, tendo, então, o rei de Babilônia determinado que se levassem cativos os jovens nobres da terra para que deles se fizessem funcionários para o seu reino.
– Não deve ter sido fácil para Daniel, conhecedor que era das Escrituras, ter sido escolhido para ser levado cativo para a Babilônia. O cativeiro era a máxima punição prevista na lei de Moisés e o jovem Daniel bem poderia ter se questionado como, sendo fiel a Deus, estava na leva daqueles que foram levados cativos, como se fosse um ímpio.
– No entanto, apesar desta incompreensível situação, Daniel não desfaleceu na sua fé, não se revoltou contra o Senhor, sabendo que Deus sempre procura o bem daqueles que O servem e que, como diria séculos depois o apóstolo Paulo, todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto (Rm.8:28). Mesmo não entendendo o que se passava, Daniel continuou com o firme propósito de servir a Deus, mesmo que em terra estranha, mesmo que, aparentemente, sendo “punido” injustamente.
– Esta deve ser, também, a nossa atitude quando, nas circunstâncias desta vida, aparentemente somos injustiçados. Não podemos deixar de confiar no Senhor, de saber que Ele está no absoluto controle de todas as coisas e de que o mal que pode nos sobrevir não é eterno, certamente será um mal menor que se tornará num bem muito maior. Foi assim que ocorreu com Daniel: sua participação na primeira leva dos cativos era apenas uma passagem para que ele pudesse ser o grande estadista que foi e, mais do que isto, o porta-voz de Deus para que todos nós, ao longo dos séculos, soubéssemos que o Altíssimo tem controle sobre os reinos dos homens.
II – DANIEL E SEUS AMIGOS DECIDEM SERVIR A DEUS EM BABILÔNIA
– Daniel chegou a Babilônia e logo notou que seu destino não era o de uma “punição injusta”. Pelo contrário, foi selecionado por Aspenaz, chefe dos eunucos do rei, para fazer parte de um grupo que moraria no palácio real e que seria preparado para ser funcionário na corte babilônica.
– De pronto, Daniel, sendo, como era, um homem espiritual, percebeu que sua sorte era diferente da dos demais cativos que haviam sido levados e que ganhara uma rica e singular oportunidade na terra do seu cativeiro, cativeiro que sabia duraria setenta anos, como fora profetizado por Jeremias, profecia que jamais se esqueceu, como se pode ver de sua oração a Deus quando já tinha por volta de noventa anos de idade em Dn.9:2.
– Notamos, portanto, que, embora estivesse em terra estranha, talvez não compreendendo a situação de cativeiro que passava, e mesmo diante da situação diferenciada e favorável em que foi posto, logo após a chegada a Babilônia, Daniel sempre escondeu em seu coração a palavra do Senhor, tendo, assim, como norte, como orientação da sua vida o da observância da Palavra do Senhor, não só no sentido de cumprir os mandamentos, mas de confiar nas promessas recebidas da parte de Deus por intermédio dos profetas.
– Daniel e três amigos seus, Hananias, Misael e Azarias, que, como ele, compartilhavam deste mesmo comportamento, não se deixaram deslumbrar com as maravilhas do palácio real nem com a “sorte” que tinham tido de poder, num ambiente de cativeiro, desfrutar de um tão grande privilégio, que era o de terem sido selecionados para serem preparados para ser funcionários do rei de Babilônia, então a potência mundial da época. Continuavam firmes no sentido de servir a Deus.
– Esta é outra importantíssima lição que temos a aprender com estes jovens. Deus, muitas vezes, põe alguns dos Seus servos em posições de destaque na sociedade, em condições de terem influência na condução da própria vida em sociedade, mas, diante desta bênção, desta circunstância, jamais podemos abrir mão daquilo que já estávamos a fazer antes de sermos alçados a esta nova situação, nunca podemos perder de vista de que, se fomos postos neste lugar, é para ali fazermos com que o nome do Senhor seja glorificado.
– Assim que chegaram ao palácio do rei, estes jovens tiveram mudados os seus nomes. Daniel, cujo significado é “Deus é o meu juiz”, passou a ser chamado “Beltessazar”, cujo significado é “Bel protege a sua vida” ou “Bel te guarde”, lembrando que Bel era um dos principais deuses de Babilônia.
– Hananias, cujo nome significa “Jeová é clemente” ou “Jeová é gracioso”, passou a ser chamado “Sadraque”, cujo significado é “decreto do deus lua” ou “enviado de Aku, o deus lua”. Misael, cujo nome significa “quem é Deus?” ou “quem é como Deus?”, passou a se chamar “Mesaque”, cujo nome significa “tirado” ou “quem é como Aku”. Por fim, Azarias, cujo nome significa “Jeová é o meu ajudador” ou “a quem Jeová ajudou”, passou a ser chamado de “Abedenego”, cujo significado é “servo de Nego ou Nebo”, sendo Nego ou Nebo outra divindade babilônica (Is.46:1).
– Esta mudança de nomes aos jovens tinham um importante significado. O nome é a identidade da pessoa, é a própria exteriorização de seu caráter, notadamente na cultura oriental. Hoje, quando damos nome a alguém, fazemo-lo por causa de modismos, de homenagem a alguém, enfim, somos motivados por vários fatores que não dizem respeito à pessoa a ser nomeada.
– Entre os orientais, notadamente os judeus, porém, o nome somente era dado depois de uma profunda reflexão a respeito das circunstâncias do nascimento e da própria concepção daquela pessoa, pois se entendia que o nome traduza a própria identidade do ser, o seu caráter.
– Por isso mesmo, aqueles jovens tiveram mudados seus nomes quando chegaram a Babilônia. Ao receberem nomes que exaltavam as divindades de Babilônia, estava-se como a dizer àqueles jovens que, a partir de então, eles deveriam se esquecer completamente de seu passado em Judá, que não mais pertenciam ao povo judaíta, que haviam sido “adotados” por Babilônia e que, doravante, deveriam abraçar esta oportunidade que haviam recebido do rei de Babilônia, abandonando o seu antigo povo e passando a ser babilônios dali para a frente.
– Como diz o pastor José Serafim de Oliveira, em sua obra que, ao tempo da elaboração deste esboço ainda estava no prelo: “…Esses quatro jovens crentes tinham agora diante de si, um grande desafio. Certamente Satanás não perdeu tempo em lhes trazer mensagens de desânimo, como, por exemplo: Moços, nada de fanatismo religioso; aqui não é Jerusalém, aqui é Babilônia; se vocês quiserem ser bem sucedidos e prosperarem nesta terra, esqueçam suas tradições, seu povo, sua religião, seu Deus, adotem os costumes dos caldeus, sua religião e seus deuses, e tudo lhes irá bem (Dn.1:3–4).…” (Panorama teológico e histórico dos livros de Daniel e Apocalipse, p.4).
– Tudo conspirava para que Daniel e seus amigos, diante desta nova situação, abandonassem por completo a fé em Deus e abraçassem não só a religião mas o modo de vida babilônico. Tinham sido levado cativos, a máxima punição prevista na lei de Moisés, de modo que poderiam achar que Deus os havia abandonado, e de forma injusta, já que eram fiéis ao Senhor. Eram agora recebidos com toda a brandura e lhes era dada uma oportunidade de “vencer na vida” por parte de Nabucodonosor. Como não seria fácil deixar Deus e abraçar os deuses de Babilônia?
– É isto, aliás, o que fizeram todos os demais jovens que, assim como Daniel, Hananias, Misael e Azarias, foram levados cativos, pois a Bíblia diz que somente estes quatro se negaram a participar do manjar do rei. É possível que houvesse outros jovens que não fossem judeus no meio daqueles que foram levados a frequentar o curso de preparação, mas é evidente que aqueles quatro não foram os únicos judeus da turma. Portanto, quase todos os jovens nobres judeus levados para o cativeiro se corromperam, abandonaram a Deus e passaram a servir aos deuses babilônios.
No entanto, somente Daniel e seus amigos alcançaram a bênção de Deus e o destaque que os levou a serem altos funcionários daquele reino, enquanto os outros se tornaram, sim, funcionários daquele reino mas na mediocridade que haviam escolhido em suas vidas espirituais.
– Não é, porventura, o que vemos ocorrer em nossos dias? Quantos que são postos por Deus em lugares de destaque, em circunstâncias privilegiadas, mas que, infelizmente, não resistem aos “cantos de sereia” do mundo e aceitam abandonar a Deus para ter benefícios ofertados pelo mundo, mundo este que, não nos iludamos, está no maligno (I Jo.5:19). São os “quase todos” mencionados em Mt.24:12 que, diante da multiplicação da iniquidade, deixam que seu amor a Deus se esfrie, desviando-se espiritualmente.
– Embora tivessem seus nomes mudados, aqueles jovens não abandonaram a Deus. Não compreendiam porque tinham sido levados cativos mas, ante a singularidade de serem levados ao palácio do rei, viram ali a mão do Senhor e, gratos a Ele, resolveram continuar servindo a Deus, sabendo que o Senhor lhes havia dado uma oportunidade singular e que somente obedecendo a Ele poderiam desfrutar desta chance que lhes era dada.
– Como tinham habilidade para viver no palácio do rei, aceitaram com resignação os novos nomes recebidos, nomes que, entretanto, não representaram a sua mudança de caráter. Temos aqui uma importante lição: no mundo, devemos aceitar as regras e normas existentes, mas jamais podemos mudar nosso caráter, nossa vida de separação do pecado por causa destas normas e regras, pois importa mais obedecermos a Deus que aos homens (At.5:29). Como nos ensina o Senhor Jesus, devemos bem separar o que é de César e o que é de Deus (Mt.22:21; Mc.12:17; Lc.20:25).
– Daniel e seus amigos não se rebelaram com os nomes novos recebidos e os utilizaram ao longo de suas vidas na corte de Babilônia, mas esta mudança, em absoluto, alterou a sua fidelidade ao Senhor.
– O primeiro grande teste foi o da alimentação. Assim que receberam seus novos nomes, Daniel e seus amigos foram cientificados de que iriam se alimentar da porção do manjar do rei e do vinho que ele bebia, durante os três anos de curso de preparação (Dn.1:5).
– Daniel e seus amigos logo perceberam que não poderiam participar do “manjar do rei”, pois, além de a alimentação conter iguarias que não eram permitidas pela lei de Moisés, tratava-se de alimentos que, antes de ser consumidos, eram oferecidos aos deuses babilônios, eram coisas sacrificadas aos ídolos. “Participar do manjar do rei” era renunciar à santidade, quebrar a lei de Moisés.
– Daniel e seus amigos sabiam muito bem a distinção entre conviver com os outros, ter habilidade para viver no palácio do rei e participar do pecado, daquilo que desagrada a Deus. Este discrímen deve ser uma constante na vida do servo de Deus, que está no mundo mas não é do mundo (Jo.17:11,16).
– Aceitar os nomes que lhes foram dados, respeitando as normas vigentes no palácio de Babilônia não comprometida a santidade daqueles jovens, porquanto eles continuavam, no seu íntimo, a ter o mesmo caráter que haviam adquirido no meio do povo apóstata de Judá, ou seja, o de adorarem somente a Deus. O fato de seus novos nomes exaltarem as divindades babilônicas nada significava, já que eles continuavam a servir a Deus. Mas, participar do manjar do rei seria comprometer esta adoração ao Senhor e isto lhes era inadmissível.
– Daniel e seus amigos eram cativos, não tinham qualquer direito e, sob a perspectiva humana, não podiam desrespeitar àquela ordem real. Além do mais, se não se alimentassem daquela ração diária, totalmente vinculada ao “manjar do rei”, como poderiam sobreviver? Recusar tal participação era como que uma sentença de morte. No entanto, aqueles jovens estavam realmente dispostos a servir a Deus e esta fidelidade exige, inclusive, colocar em risco a própria vida.
– Como afirma Nathan Ausubel, “…Na escola tradicional dos valores religiosos judaicos, não havia categoria de devoção que fosse considerada no mesmo nível da do martírio. Não havia ato de virtude ou heroísmo que se pudesse comparar com o que consistia em oferecer a própria vida em ‘holocausto’, para a santificação do Nome de Deus por lealdade à Torah, e em defesa do povo judeu.
Ao longo dos éculos, e em todos os países em que os judeus estivessem residindo, eram constantemente sujeito a mil e uma pressões — tanto explícitas quanto implícitas — de uma sociedade hostil. As pressões buscam induzi-los a abandonar sua religião, sua identidade étnica, e seu separatismo cultural. Para o judeu, como indivíduo, a escolha nunca era fácil; provocava nele um turbilhão interno e uma crise de consciência. O teste de lealdade para com a identidade judaica de grupo era avaliado pela resistência que ele oferecia a todas as tentativas de atraí-lo para longe de sua fé.…” (Kidush Ha-Shem [Santificação do Nome de Deus]. In: A JUDAICA, v.5, pp.425-6).
– Esta mesma firmeza que sempre foi presente no meio do povo judeu, resultado do fato de Deus tê-lo escolhido para ser Sua propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5), tem de existir, também, na Igreja, este povo formado por Cristo Jesus para estar perto do Senhor (Ef.2:11-22), sentimento este demonstrado na vida dos apóstolos, que não tinham a sua vida por preciosa (At.20:24) e ordenada pelo próprio Cristo, que mandou que sejamos fiéis até a morte, mesmo em meio às perseguições (Ap.2:10).
– Ao ver a ordem real de que deveriam se alimentar do manjar do rei, Daniel tomou uma decisão firme: não se contaminou com a porção do manjar do rei nem com o vinho que ele bebia (Dn.1:8).
– O texto sagrado diz que Daniel assentou isto no seu coração, ou seja, foi uma decisão que vinha do seu interior, era uma decisão que resultava de sua comunhão com Deus, de sua piedade. Daniel servia a Deus de coração inteiro, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento, tinha um coração circunciso, ou seja, uma aliança com Deus que provinha do íntimo de seu ser.
– Somente quem serve a Deus de todo o coração, que tem todo o seu ser comprometido com o Senhor tem condições de enfrentar as adversidades e de arriscar a sua própria vida para manter o compromisso assumido com o Senhor.
Quem busca a Deus de todo o coração, encontra-O (Jr.29:13) e, neste encontro, tem início uma real vida espiritual. Como afirmou, certa feita, o ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI: “…Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. No seu Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as palavras seguintes: « Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n’Ele crer (…) tenha a vida eterna » (3, 16).…” (Encíclica Deus caritas est, n.1. Disponível: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus- caritas-est_po.html Acesso em 18 ago. 014).
– Esta era a grande diferença entre Daniel e os demais judeus de sua geração em Judá. Enquanto Daniel servia a Deus de coração, os demais o faziam apenas de aparência. Como temos servido a Deus? De coração ou apenas de aparência? Lembremos que somente os que servem a Deus de coração inteiro serão arrebatados naquele dia!
– Diante desta disposição de Daniel, imperceptível aos olhos humanos, mas claramente percebida pelo Senhor, que é o que sonda os corações e sabe o que neles há (I Sm.16:7; Pv.21:2; Ap.2:23), o Senhor deu a Daniel graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos. OBS: “…Deus, vendo a pureza de Daniel, que fez? 1º – Deu-lhe graça e misericórdia.
2º – Ajudou-o a que seu chefe consentisse que ele comesse só legumes v.10-13.
3º – Abençoou Daniel e os seus companheiros, que ficaram mais gordos, bonitos e perfeitos do que os que comeram na casa do rei.
4º – Conservou os seus servos puros. Aquele que desejar conservar-se puro será guardado pelo Senhor.…” (NYSTRÖM, Samuel. Lição 6 – Daniel e seus companheiros na escravidão. 05 fev. 1939. In: Coleção Lições Bíblicas, v.1, p.794).
– Daniel, ao assentar no seu coração não se contaminar com o manjar do rei, pediu ao chefe dos eunucos que lhes concedesse não se contaminar. Não bastou ter assentado no seu coração não se contaminar, era preciso que se conseguisse um meio para o fazer e este meio somente viria mediante um pedido ao chefe dos eunucos para que se tivesse uma alimentação diferente.
– Daniel mostra aqui mais uma vez sua habilidade para viver no palácio do rei. Mesmo sabendo que não poderia participar da porção do manjar do rei, que isto era inadmissível, sabendo de sua condição de cativo, foi pedir ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar. Não fugiu às normas vigentes, não agiu impensadamente, mas, confiando em Deus, apresentou o seu pedido de ter uma alimentação diferenciada.
– É assim que sempre devemos agir: prudentemente e tendo plena confiança em Deus. Devemos sempre obedecer às normas e regras vigentes no ambiente onde estamos, agindo para cumprir a vontade de Deus com ordem e decência. Muitos, nestes momentos delicados, põem tudo a perder porque agem precipitadamente, achando que, por terem boas intenções, estão isentos de cumprir a forma e modo exigidos para uma determinada situação. Aprendamos com o Senhor Jesus que nunca pecou mas, nem por isso, deixou de observar as normas vigentes na sociedade de seu tempo.
– Deus deu graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos a Daniel e este, num gesto inusitado para tal situação, revelou sua apreensão em desobedecer às ordens do rei, mostrando que, se Daniel, com alimentação diferenciada, fosse visto mais fraco que os demais, poderia comprometer a própria vida do chefe dos eunucos (Dn.1:10).
OBS: “…De acordo com alguns historiadores renomados, era comumente observada a ‘face dos vassalos’ quando estes se punham de pé diante do rei (ver Ne.2:1-2). Se o parecer de algum servo se apresentasse formoso, então ele estava apto para servir ao monarca no que houvesse de mister, se não, seria morto sem misericórdia (comp. Com Et.5:1-3). Os filhos dos reis também eram observados cada dia, se estavam magros ou gordos (ver II Sm.13:3,4).
Daniel e seus companheiros estavam sujeitos a estas e outras penalidades impostas por aquela corte, mas a graça de Deus os salvou de toda aquela burocracia ali existente.…” (SILVA. Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, p.19).
– Daniel, uma vez mais, mostrou a sua habilidade. Aquela afirmação do chefe dos eunucos poderia incutir-lhe medo, pois, se nem o chefe dos eunucos tinha segurança de vida diante da desobediência a uma ordem do rei, que dirá os cativos como ele? Quem sabe o inimigo não lhe tenha soprado nos ouvidos alguma coisa como “está vendo, não há como se livrar da participação do manjar do rei”?
– Entretanto, Daniel não se intimidou, porque nem a ameaça de morte o separava da comunhão que tinha com o seu Deus. Assim deve viver o cristão, naquela convicção externada pelo apóstolo Paulo de que nem a morte nos pode separar do amor de Deus que há em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm.8:38,39). Aleluia!
– Daniel ouviu atentamente o que disse o chefe dos eunucos e reconheceu a situação delicada relatada pelo chefe, mas, numa atitude extremamente prudente, apresentou uma proposta ao despenseiro, ou seja, àquele incumbido pelo chefe dos eunucos para lhes trazer a alimentação, a de que fosse feito um teste de dez dias. Se, ao fim daqueles dias, fossem eles achados mais tristes que os demais, eles se submeteriam à porção do manjar do rei (Dn.1:11-14).
OBS: “… O diálogo do jovem profeta continua, mas não segue mais com o eunuco, mas, sim, com o ‘despenseiro-chefe’. Evidentemente, esse ‘despenseiro’ era um oficial debaixo das ordens do eunuco, Aspenaz.…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, p.18).
– Daniel não retrucou com o chefe dos eunucos, que lhe havia dado uma resposta praticamente negativa, mas, diante das razões apresentadas pelo chefe dos eunucos, foi até o despenseiro e fez esta proposta. Era uma proposta que revelava a fé que Daniel tinha em Deus, a confiança de que o Senhor providenciaria o necessário para que ele mantivesse a sua santidade. Deus o havia sustentado até ali com a alimentação que Lhe era agradável, por que haveria de mudar? Daniel confiava que Deus não muda e que está pronto a honrar aqueles que O honram (I Sm.2:30).
– É neste ponto da narrativa que ficamos a saber que Daniel não estava sozinho neste seu intento. Hananias, Misael e Azarias também estavam dispostos a não se contaminar com o manjar do rei. Apenas estes quatro jovens se dispuseram a servir a Deus, os demais haviam se curvado à exigência do rei de Babilônia. É interessante observar que estes quatro resolveram conviver, formavam um grupo, tanto que o despenseiro encarregado de alimentá-los era o mesmo. Isto mostra que devemos sempre nos associar com os que verdadeiramente servem a Deus, evitando qualquer comunhão com aquele que se diz irmão mas não o é pelas suas atitudes (I Co.5:10,11).
– Diante da graça e misericórdia dados por Deus tanto ao chefe dos eunucos quanto ao despenseiro, o fato é que, após os dez dias do teste, Daniel e seus amigos apareceram com os semblantes melhores, estavam mais gordos que todos os outros mancebos que comiam a porção do manjar do rei (Dn.1:15).
– Naturalmente, embora não esteja explícito no texto, que, durante estes dez dias, os jovens não só se alimentaram de legumes e de água, como também oraram intensamente para que o teste desse certo, pois desejavam ardentemente se manter fiéis ao Senhor, fazer parte de um povo santo. Esta disposição de coração de servir a Deus vinha de uma vida de oração e de meditação nas Escrituras, que não foi interrompida com o cativeiro.
– Ao término dos dez dias, quando o despenseiro verificou que os jovens estavam até melhores que os demais, resolveu tirar a porção do manjar do rei deles e a manter a alimentação diferente até o final do curso. Tinha sido vencida a primeira barreira e aqueles jovens haviam mantido a sua integridade diante do Senhor.
– Daniel e seus amigos, assim, obtinham algo inimaginável na corte babilônica: o de se manter sem participar do manjar do rei, o de suplantar uma ordem real e, assim, poderem, em pleno palácio de Nabucodonosor, manter a sua vida de santidade diante de Deus, continuar a observar os mandamentos divinos a despeito de todas as circunstâncias adversas. Para tanto, usaram de uma resolução firme e nascida em seu coração, mas também de prudência e cautela, para que não fossem vistos como rebeldes e insubmissos.
– É esta a fórmula que temos de seguir em nossos dias. Devemos ter uma firme resolução, nascida de nossos corações, de servir ao Senhor, apesar de todas as circunstâncias adversas, mas agir com cautela e prudência, confiando sobretudo em Deus, para que suplantemos todos os obstáculos e impedimentos que se nos apresentam para que nos mantenhamos inteiramente servindo ao Senhor.
III – O ÊXITO ALCANÇADO POR DANIEL E SEUS AMIGOS
– Depois deste teste nos dez primeiros dias de sua estada no palácio de Nabucodonosor, Daniel e seus amigos começaram a enfrentar um outro desafio, qual seja, o de aprender a cultura babilônia e alcançar a aprovação no curso de preparação que estavam a fazer.
– Daniel e seus amigos rejeitaram a proposta maligna de se desprenderem de sua nação, do seu Deus e da sua identidade judaica, mas tinham de se submeter à nova condição em que haviam sido postos pelo Senhor, qual seja, a de estudantes que deveriam obter a aprovação do rei da Babilônia para servirem como funcionários.
– Daniel e seus amigos sabiam que teriam um longo cativeiro pela frente, pois Jeremias havia profetizado que deveriam ali ficar por setenta anos, ou seja, aquela geração que lá chegava ficaria provavelmente até a morte naquelas plagas. Uma vida tinha de ser vivida e aqueles jovens sabiam que Deus os queria servindo ao rei de Babilônia como funcionários.
– Precisamos sempre observar qual é a vontade de Deus para as nossas vidas e, diante desta vontade, devemos assumir as condições postas pelo Senhor, a fim de que, no lugar e função que estivermos, venhamos a glorificar o nome do Senhor. Afinal de contas, como nos dá o apóstolo Paulo, onde quer que servirmos, estaremos servindo a Deus e não aos homens (Ef.6:5,6).
– Esta consciência está a faltar em muitos que cristãos se dizem ser em nossos dias. Uns entendem que servir a Deus é tão somente ser um pregador do Evangelho, um ministro de Cristo. Assim, não “aceitam” outra posição senão a de ministro do Evangelho, mesmo não tendo sido chamados por Deus para tal obra. Outros, por sua vez, acham que servir a Deus é tão somente comparecer às reuniões da igreja local e ter algumas atividades, entendendo que, no mundo secular, tudo o que fizerem está fora do contexto da adoração ao Senhor.
– Ambos os pontos-de-vista estão equivocados e não correspondem à verdade bíblica. Daniel e seus amigos mostram-nos que servir a Deus não é apenas participar de reuniões ou atividades eclesiásticas, mas, também, dedicar-se em todas as atividades que fomos realizar ao longo de nossas vidas, sempre lembrando que o que fazemos não estamos a fazer para nós ou para os demais seres humanos, mas para Deus.
– Daniel e seus amigos não se contentaram apenas em comer legumes e beber água para agradar e glorificar a Deus, mas se dedicaram, durante três anos, nos estudos, a ponto de, no momento da avaliação, terem sido achados dez vezes mais doutos do que os seus próprios professores, que eram os magos e astrólogos que havia em todo o reino da Babilônia (Dn.1:20).
– Como Daniel e seus amigos conseguiram tal condição? Por primeiro, porque, diante da vida de comunhão que tinham com Deus, o próprio Senhor lhes deu conhecimento e inteligência em todas as letras e sabedoria (Dn.1:17). Por segundo, porque eles se dedicaram nos estudos e se esforçaram para aprender profundamente tudo o que lhes era ensinado.
– Daniel e seus amigos não eram vagabundos. Estudavam com denodo e dedicação, procuravam tudo aprender, aprofundar-se em tudo que lhes era ensinado. Eram esforçados e, diante deste esforço, bem como da vida de comunhão que tinham com Deus, o Senhor fez a Sua parte, abrindo-lhes a mente e lhes dando conhecimento e inteligência.
OBS: “…Daniel trabalhava muito mais do que os outros mancebos, e ainda foi mais perseguido, mas isso não lhe tirou a sabedoria, a saúde e as bênçãos, que, pelo contrário, foram multiplicadas.…” (NYSTRÖM. Samuel. Lição 6 – Daniel e seus companheiros na escravidão. 05 fev. 1939. In: Coleção Lições Bíblicas, v.1, p.794).
– Deus não muda (Ml.3:6). Diante deste fato, o Senhor está pronto, ainda hoje, a dar inteligência e conhecimento aos jovens que, dispondo-se a servir a Deus, também se dedicarem aos estudos e a se aprofundar na ciência humana, a fim de que possam obter lugares de destaque em nossa sociedade, que tanto carece de homens fiéis e tementes a Deus.
– Lamentavelmente, entretanto, o que temos visto em nosso país, um dos países de pior educação em todo o mundo, a esmagadora maioria dos jovens que cristãos se dizem ser não se esforçam para se aprofundar no conhecimento, preferindo amoldar-se à mediocridade e à mentalidade anti-intelectualista que vigora em nosso país, inclusive dentro da igreja.
Que o exemplo de Daniel e seus amigos sirva de estímulo para que os nosso jovens e adolescentes decidam aprimorar-se intelectualmente, sempre dentro de um patamar de comunhão com Deus, pois devemos buscar primeiro o reino de Deus e a justiça (Mt.6:33).
– O desenvolvimento daqueles jovens foi tanto intelectual quanto espiritual, pois eles tanto se dedicavam a buscar a Deus em oração e mediante a frequente meditação nas Escrituras, como também estudavam tudo o que lhes era ensinado nas letras e língua dos caldeus. Assim, somente poderiam, mesmo, crescer tanto na vida intelectual quanto na espiritual.
– Tanto assim é que, enquanto que intelectualmente eles foram achados dez vezes mais douto que os seus próprios mestres, espiritualmente receberam da parte de Deus sabedoria, enquanto que Daniel recebeu entendimento em toda a visão e sonhos, ou seja, foi constituído por Deus como um profeta (Dn.1:17).
– Este mesmo crescimento tanto intelectual quanto espiritual vemos na vida de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Lc.2:52), a nos mostrar que é este o modelo de crescimento que devemos ter para nossas crianças, jovens e adolescentes.
Todavia, estamos muito longe deste ideal, porquanto, como já dissemos, há, hoje em dia, uma mentalidade altamente destrutiva em nossa sociedade, em que os jovens são incentivados e estimulados a apenas querer “ganhar dinheiro” sem qualquer esforço seja de desenvolvimento espiritual, seja de desenvolvimento intelectual.
Que Deus nos ajude a vermos o exemplo de Daniel, seus amigos e do Senhor Jesus para mudarmos este triste quadro vivido em nosso país, inclusive e especialmente entre os que cristãos se dizem ser.
– Daniel e seus amigos foram levados à presença de Nabucodonosor e foram aprovados com louvor, sendo mais doutos que seus próprios mestres, de modo que foram escalados para servir o próprio rei, passando a fazer parte de seus assessores diretos (Dn.1:19).
– O esforço em servir a Deus e em aprender o que lhes era ensinado foi devidamente recompensado. Puderam continuar diante do rei Nabucodonosor, numa posição de destaque, num lugar em que já haviam aprendido a compatibilizar as funções que exerciam com a adoração ao Senhor, bem como haviam sido motivo para a glorificação do nome do Senhor. OBS: “…O caráter do homem se forma no ambiente da pureza, da abnegação e do sacrifício. A saúde é conservada, pela temperança na vida.” (NYSTRÖM, Samuel. Lição 6. Daniel e seus companheiros na escravidão. 05 fev. 1939. In: Coleção Lições Bíblicas, v.1, p.794).
– Os que haviam abandonado a Deus e resolvido abraçar Babilônia eram ali envergonhados. Tornaram- se medíocres funcionários do rei de Babilônia, sem qualquer expressão ou força, porque haviam abandonado o Senhor a quem haviam servido até irem para Babilônia. Muitos ainda hoje passam por este mesmo estado de mediocridade.
Que Deus nos guarde deste destino, mas que, resolutamente, façamos como Daniel e seus amigos, dispostos a servir a Deus de todo o coração, sabendo que, no momento certo, o Senhor nos fará alcançar a liberdade de continuar a servi-l’O e de termos, da parte d’Ele a devida honra, em retribuição pela honra que demos a Ele, mesmo que, para tanto, tenhamos de perder a nossa própria vida física. Estamos dispostos a isto?
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/4T2014_L2_caramuru.pdf