LIÇÃO Nº 2 – ABEL, EXEMPLO DE CARÁTER QUE AGRADA A DEUS
Abel é o primeiro homem chamado de justo nas Escrituras e pelo Senhor Jesus..
INTRODUÇÃO
– Iniciando o estudo de personagens bíblicas que nos indicam como deve ser o caráter do cristão, estudaremos Abel.
– Abel é o primeiro homem chamado de justo nas Escrituras e pelo Senhor Jesus.
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I – OS FILHOS DE ADÃO E EVA
– Expulsos do jardim do Éden, o primeiro casal começou a cumprir a ordem divina para lavrar a terra como determinado pelo Senhor (Gn.4:23).
Isto nos mostra claramente que Deus está no controle de todas as coisas, pois, apesar da entrada do homem no pecado e do aparente triunfo de Satanás, nada pôde impedir que se fizesse exatamente o que Deus havia determinado:
o homem não teve mais acesso ao jardim do Éden e foi aguardar a sua morte física.
– A narrativa bíblica prossegue dizendo que Adão conheceu Eva e ela concebeu, tendo a Caim, tendo a mulher dito ter alcançado de Deus um varão (Gn.4:1).
– Este texto traz importantes lições.
A primeira é de que o primeiro casal, embora tenha pecado, iniciou uma busca da comunhão com Deus. Disto podemos ter certeza por duas razões.
Por primeiro, porque eles cumpriram a ordem de Deus para a procriação. Mesmo expulsos do jardim do Éden, não se rebelaram contra o Senhor, mas resolveram se multiplicar.
– Apesar da vergonha que passaram a ter entre si, em virtude do pecado, não deixaram de querer a procriação.
– A segunda razão pela qual podemos dizer que o primeiro casal buscava a presença de Deus é que Eva agradeceu a Deus quando deu à luz Caim, dizendo ter alcançado de Deus um varão, prova de que via no nascimento de seu filho um sinal da misericórdia divina, de que estava em pé a promessa de que viria a “semente da mulher” prometida no jardim do Éden para a redenção da humanidade.
– O primeiro casal foram os primeiros a crer na promessa recebida de Deus, fé esta que é a responsável pela salvação de todos quantos viveram sobre a face da Terra até a vinda do Senhor Jesus, como, aliás, bem diz o escritor aos hebreus ao nos trazer a galeria dos heróis da fé no capítulo 11 daquela carta.
– A segunda lição que aprendemos é de que devemos cumprir o propósito divino da procriação e, assim, ter filhos, reconhecendo-os como bênção do Senhor para nós.
– “Caim” significa “aquisição”. O primeiro casal, a começar de Eva, era grato a Deus por Sua misericórdia, reconheciam que Deus não os havia abandonado e que por isso tinham adquirido uma bênção, que era o filho, que, muito provavelmente, entendiam ser aquele que restabeleceria a comunhão com o Senhor, como prometido.
Os filhos devem sempre ser considerados como uma bênção, pois são “herança do Senhor” (Sl.127:3).
– A terceira lição que aprendemos neste texto é a de que o fato de estarmos num estado de depravação por causa do pecado não nos impede de reconhecer de que Deus está no controle de todas as coisas e de que é participante de Sua criação.
– O primeiro casal agradeceu a Deus o nascimento de seu filho Caim, prova de que a pecaminosidade do homem não o impede de ter conhecimento de que Deus existe e de atribuir ao Senhor tudo quanto ocorre em suas vidas.
– O apóstolo Paulo bem nos mostra isto ao dizer que a própria criação revela Deus aos homens, de modo que eles não podem se desculpar por não terem escolhido servi-l’O (Rm.1:18-20), circunstância, aliás, que nos mostra que Deus dá real oportunidade de salvação a todos os homens, não havendo, assim, uma predestinação incondicional, como defendem os calvinistas.
– O texto sagrado, também, mostra-nos que Caim teve um irmão, que recebeu o nome de “Abel”, cujo significado é “sopro”, “vapor”. É importante destacar que o texto sagrado não diz que eram apenas estes os dois filhos do primeiro casal.
– Sem levar em conta se havia filhos antes da queda, devemos observar que, em Gn.5:4, é dito que teve o primeiro casal filhos e filhas, de modo que foram muitos os filhos que Adão teve, mesmo se considerarmos que os teve apenas depois da queda, durante os 930 anos em que viveu após a queda, e dentro de um propósito divino de que a terra se enchesse, não tendo porque não acharmos que o primeiro casal foi extremamente fértil durante toda a sua existência terrena.
– O texto sagrado diz que Caim se dedicou a lavrar a terra e Abel, a criar animais, prova de que o primeiro casal e seus filhos logo aprenderam a dominar os animais, domesticando-os.
– Em data não mencionada pelo texto sagrado, que se contenta em dizer ter sido “ao cabo de dias”, quando Caim e Abel já eram muito provavelmente adultos, embora não tivessem ainda se casado, estes dois filhos do primeiro casal resolveram adorar a Deus, trazendo um sacrifício ao Senhor, tendo Caim trazido uma oferta ao Senhor e Abel, dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura.
– Temos aqui mais uma demonstração de que o primeiro casal vivia em busca do Senhor depois que expulsos do jardim do Éden.
Seus dois filhos certamente aprenderam com seus pais a necessidade de se invocar o nome do Senhor, de tentar se relacionar com Ele, o que deveria ser feito mediante uma adoração, o reconhecimento da soberania e do senhorio de Deus.
– Sem sacrifício não seria possível chegar-se a Deus. Este ensino o primeiro casal deu a seus filhos e eles, tendo aprendido isto, vão à presença do Senhor, ofertando-lhe aquilo que tinham, demonstrando toda a sua gratidão e reconhecimento do senhorio de Deus sobre todas as coisas, inclusive as suas vidas.
– Tanto Abel quanto Caim se apresentaram diante de Deus, mas, numa demonstração de que Deus é o Senhor e que nós somos servos, a Bíblia diz que Deus atentou para o sacrifício de Abel, mas, não, para o de Caim.
O homem deve se apresentar diante de Deus, mas deve fazê-lo dentro dos parâmetros divinos, não segundo o bel prazer do ser humano.
– Se a adoração é o reconhecimento da soberania divina, de Seu senhorio, tem-se que somente podemos adorar ao Senhor do modo e da forma determinados pelo próprio Deus.
A adoração é uma necessidade do homem, uma comprovação da misericórdia divina e do desejo de Deus de ter comunhão com o ser humano, não um favor que o homem possa fazer a Deus.
– Isto é fundamental, pois muitos, em nossos dias, agem como se seu culto a Deus fosse uma necessidade para Deus e não para o homem, como se estivéssemos fazendo um favor a Deus e não o contrário, isto é, que a aceitação de nosso culto pelo Senhor é um favor imerecido da Sua parte, uma manifestação da graça divina para com o ser humano.
– Deus somente aceitou a oferta de Abel e por que o fez?
Defendem alguns que Deus não aceitou a oferta de Caim porque Caim trouxe como oferta da terra e seria necessário derramamento de sangue para que houvesse aceitação por parte do Senhor, o que teria sido ensinado pelo próprio Deus ao primeiro casal quando o Senhor matou o animal e derramou sangue para fazer as túnicas de peles com que vestiu o primeiro casal após a queda (Gn.3:21).
– Outros, porém, não entendem que tenha sido este o motivo pelo qual Deus não atentou para a oferta de Caim, pois ele era lavrador e a prática da agricultura era algo que havia sido determinado pelo próprio Deus (Gn.4:23), de modo que o simples fato de ter trazido frutos da terra não significaria, por si só, motivo para a rejeição da parte de Deus, até porque, na lei de Moisés, o Senhor previu a hipótese de sacrifícios com a utilização de vegetais e frutos da terra (Lv.2:1;6:14,15), a indicar, portanto, que a oferta de frutos da terra objetivamente não é algo que Deus não aceite.
– O que verificamos aqui é que a adoração deve ser feita pela totalidade do ser humano, tanto exteriormente, por meio do corpo e da matéria, como também interiormente, com a alma e o espírito.
O que se percebe é que Caim apenas adorou a Deus exteriormente, de modo formalista, como um simples ritual.
Preparou o altar e apresentou “uma oferta ao Senhor” e o uso do artigo indefinido “uma” traz uma importante conotação, qual seja, a de que, embora exteriormente, Caim estivesse a reconhecer a soberania divina, na verdade, intimamente, não estava a dar o Seu devido valor, a Sua devida reverência, o Seu verdadeiro senhorio.
– Caim apresentou-se a Deus de modo displicente, sem levar em conta a soberania divina, de modo meramente formal, não tendo trazido o melhor que tinha, mas, simplesmente, procurado cumprir algo que havia aprendido de seus pais, sem cuidado, sem considerar que Deus é o Ser Supremo e que devemos buscá-l’O em primeiro lugar, com prioridade.
– A adoração a Deus deve envolver a integralidade do ser humano, que foi criado corpo, alma e espírito e que, portanto, deve estar totalmente vinculado ao Senhor.
É a ausência de uma adoração interior que torna toda e qualquer oferta ou sacrifício abomináveis ao Senhor, conforme podemos observar na mensagem que Deus deu a Judá nos dias do profeta Isaías, em que o Senhor condena veementemente aqueles que vinham à Sua presença apenas exteriormente, sem que seus corações (coração aqui é o homem interior, isto é, alma e espírito) estivessem efetivamente servindo ao Senhor (Is.1:10-18).
– Bem ao contrário, Abel trouxe o melhor que tinha para apresentar a Deus.
A narrativa diz que trouxe “os primogênitos de suas ovelhas” para apresentar ao Senhor, ou seja, o que tinha de melhor.
Abel mostrava, assim, que dava a Deus a prioridade em sua vida, que dava o devido valor, a devida consideração, o devido respeito ao Senhor. Abel mostrava que temia a Deus, que se submetia a Ele, reconhecendo Sua dependência de Deus e que sem Ele nada poderia fazer.
– Como ensina o pastor Luiz Henrique de Almeida Silva, pioneiro das videoaulas na internet e que congrega nas Assembleias de Deus em Imperatriz/MA, ao derramar o sangue dos animais, Abel tudo entrega a Deus, considera que a própria vida deve ser entregue ao Senhor e que, assim, ele próprio considerava que merecia a morte e que toda a sua vida deveria ser dedicada ao Senhor.
– Abel serviu a Deus integralmente, reconheceu sua condição pecaminosa e sua necessidade de entregar-se ao próprio Senhor, dizendo-se servo e à disposição d’Ele.
É por isso que Abel é chamado de “justo” (Mt.23:35), porque é alguém que reconhece a justiça divina e a nossa injustiça, bem como a nossa umbilical necessidade que temos de obedecer ao Senhor para que alcancemos a salvação, que nos é imerecida.
– O verdadeiro adorador reconhece que Deus é o Senhor e que, portanto, devemos adorá-l’O do modo determinado pelo Senhor, bem como nos entregarmos totalmente a Ele, estando dispostos a viver única e exclusivamente para Ele.
É por isso que o salvo em Cristo Jesus, a exemplo de Abel, vive pela fé e vive única e exclusivamente para Deus (Gl.2:20).
II – LIÇÕES QUE APRENDEMOS COM ABEL
– Pelo que verificamos da história bíblica até aqui, vemos, claramente, que Caim e Abel, os dois primeiros filhos do primeiro casal, pelo menos após a queda, tiveram a mesma instrução, a mesma educação.
Tanto é que foram ambos sacrificar ao Senhor, numa demonstração de que ambos tiveram por parte de seus pais o ensino de que Deus deveria ser adorado.
– No entanto, Caim, num determinando instante da vida, achou que o sacrifício poderia ser feito ao seu modo, à sua maneira, ou seja, deixou de observar as instruções recebidas de seus pais, quis “inovar”, enquanto que Abel não o fez, mantendo os ensinos de seus pais, sendo atento e diligente no cumprimento daquilo que Deus havia ensinado aos seus pais.
– É por isso que Abel é chamado de “justo” nas Escrituras e pelo Senhor Jesus (Mt.23:35; Lc.11:51; Hb.11:4; I Jo.3:12), pois vivia segundo a Palavra de Deus, que é a referência de justiça, a reta justiça (Jo.7:24).
– Abel não só ouviu a Palavra de Deus que lhe foi transmitida pelos seus pais, como também a praticou.
Abel não pôs em dúvida o quanto lhe fora ensinado pelos seus pais a respeito da necessidade de adoração a Deus, a respeito da soberania divina e, portanto, não quis jamais “inovar” como fez seu irmão Caim.
– A submissão à Palavra de Deus, a sua prática, a crença no que é dito por Deus é uma indispensável qualidade de quem quer agradar a Deus, de quem quer alcançar testemunho de agradar ao Senhor, testemunho este, aliás, indispensável para que atinjamos a glorificação, o último estágio do nosso processo de salvação (Hb.11:5).
– Não foi à toa, portanto, que o Senhor Jesus, ao terminar o sermão do monte, que é o seu sermão doutrinário por excelência, fez a distinção entre os que ouvem e praticam a Sua Palavra e os que ouvem e não praticam, reputando por sábio e prudente, como aquele que edifica sobre a rocha, tão somente aqueles que ouvem e praticam a Palavra de Deus (Mt.7:24-27),
que foi, precisamente, o caso de Abel e não o de Caim, que, embora tenha ouvido tanto quanto Abel o que era necessário fazer para que o sacrifício fosse aceito, tão somente ouviu, mas não o fez, pelo menos a partir de um determinado instante, como disse Moisés, “ao cabo de dias”.
– Ao “levar a sério” o que havia ouvido de seus pais e considerar, de forma real e prática, a soberania divina, Abel também demonstrou que tinha fé, ou seja, dava crédito ao que Deus havia dito para os seus pais, creu no que Deus havia falado.
– É importante verificar que esta atitude de Abel é emblemática, pois, pelo que podemos verificar da reação de Eva quando do nascimento de Caim, era este que era tido e havido como o possível “Redentor”, a “semente da mulher” que esmagaria a cabeça da serpente, como Deus prometera ao primeiro casal logo após a queda.
– Esta legítima expectativa apresentada pelo primeiro casal poderia ter gerado em Abel um sentimento de inveja, de menosprezo de si próprio, até porque seu nome significa “vapor” ou “sopro”, ao contrário do de Caim, cujo significado era “aquisição”.
Parecia que Caim era tido como uma “aquisição” da parte de Deus, a esperança de redenção, enquanto que Abel seria algo “temporário”, “sem expressão”.
– No entanto, Abel não tinha qualquer pretensão de ser o “redentor” ou de ser “importante”.
Bastava-lhe a certeza de que Deus cumpriria a Sua promessa de redenção e que, portanto, o Senhor era digno de toda honra e adoração, deveria ser reconhecido como o Senhor misericordioso, como Aquele que, mesmo sem merecimento do homem, poderia e queria salvar a humanidade e restaurar a amizade perdida com a prática do pecado.
– Abel não se importava com projeção ou em ser o depositário das esperanças de redenção, mas estava perfeitamente satisfeito com a promessa dada por Deus e nela confiava piamente.
– É esta atitude de renúncia do próprio “eu” e de plena confiança no que é dito pelo Senhor que caracteriza os “justos”, que se apresenta no caráter de todo aquele que agrada a Deus.
Por isso mesmo, Abel é o primeiro herói da fé da galeria do capítulo 11 da epístola aos Hebreus, pois é o primeiro a acreditar sem qualquer dúvida na promessa de Deus, mesmo não tendo presenciado o seu pronunciamento.
Ele é o primeiro que creu sem ver e, por isso, era bem-aventurado (Jo.20:29).
– Para sermos discípulos de Cristo Jesus precisamos ter este mesmo comportamento. Tomé foi repreendido pelo Senhor porque quis ver para crer e o próprio Jesus foi claríssimo ao dizer que só pode ser Seu discípulo aquele que renunciar a si mesmo (Lc.14:33).
– Nesta atitude de observar a Palavra de Deus, nela confiar, também estava embutida a consideração de Deus como o Senhor, ou seja, o reconhecimento que não cabe ao homem outra posição senão a de servo, senão a de obedecer, de seguir as regras, jamais de criá-las ou modificá-las ao seu talante, ao seu gosto.
É exatamente a rejeição à proposta satânica de se ter uma vida independente de Deus (Gn.3:5).
– É na prática, na tomada de atitudes que se observa se a pessoa é, ou não, um servo de Deus, alguém que tem a Deus como O que manda, O que determina, O que estabelece.
Não basta dizermos que Deus é o Senhor, se não fazemos o que Ele manda. O Senhor Jesus, também no sermão do monte, fez questão de afirmar que reprovará todos quantos disserem que Ele é o Senhor mas que, no dia-a-dia, praticam a iniquidade, ou seja, transgridem precisamente o que Ele manda (Mt.7:22,23).
A prova do amor que temos a Ele está em fazermos o que Ele manda (Jo.15:14).
– Neste sentido é que devemos entender a lição de Tiago, que diz que a fé sem obras é morta em si mesma (Tg.2:17), pois se não houver atitudes, condutas que demonstrem que realmente se está a crer na Palavra de Deus, a fé é apenas uma ilusão, uma falácia.
Abel tomou atitudes que demonstravam ter ele realmente fé em Deus, entendendo que Deus é o Senhor e que, portanto, deve ser adorado do modo por Ele determinado, e não segundo a vontade do homem.
– Abel entendia perfeitamente que era apenas um “sopro”, um “vapor”, ou seja, que não tinha qualquer mérito, que sua existência sobre a face da Terra era passageira e que seu correto destino era tão somente a morte, pecador que era.
Abel sabia que não tinha direito a acessar a árvore da vida (quem sabe não tenha visto o acesso negado ao jardim).
Era esta, aliás, a mesma concepção de outra pessoa tratada por Deus como justa, a saber, o patriarca Jó, que tinha plena consciência de que “o homem, nascido de mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação, sai como a flor e se seca; foge também como a sombra, e não permanece” (Jó 14:1,2).
– Por isso, inclusive, ao oferecer seu sacrifício, entregou um ser vivo, matando-o, como a dizer que era necessário morrer alguém para que se satisfizesse a justiça divina.
Talvez, ao saber por seus pais que um animal foi morto para que eles pudessem ser vestidos e assim tivessem como sair do Éden para começar a lavrar a terra, Abel tenha intuído que somente se teria vida, ou seja, amizade com Deus, se houvesse a morte de um inocente.
– Temos aqui uma outra característica fundamental para quem quiser agradar a Deus: o reconhecimento de nossa situação pecaminosa e a indispensabilidade da execução da justiça divina para que se restabeleça a amizade entre Deus e o homem.
O pastor norte-americano Paul Washer (1961 -) foi bem claro ao afirmar: “…A primeira coisa que devemos abraçar é que todos os homens nascem em pecado e entregues ao pecado, e esse é o motivo de todos os homens nascerem odiando a Deus…” (O verdadeiro evangelho, p.29).
– O Senhor Jesus foi enfático ao dizer que somos maus (Mt.7:11) e esta convicção nos faz entender quão amoroso é o Senhor ao nos proporcionar o plano da salvação e, quando admitimos a nossa maldade, a nossa malignidade, a nossa pecaminosidade, entendemos que não merecemos entrar em comunhão com Deus e que isto somente se fará através de um alto preço, do preço de uma vida inocente.
– Foi isto que Abel entendeu e, por isso, ele procurou entregar uma vida em adoração a Deus, sabendo que o pecado do homem somente poderia ser satisfeito com uma vida.
– Temos de estar dispostos a entregar a vida ao Senhor, de entregarmos nossas vidas em Suas mãos, reconhecendo que Ele é o dono da vida (I Sm.2:6), sem o que jamais poderemos ter um caráter que Lhe agrade.
– Alguém poderia dizer, então, que o motivo da aceitação do sacrifício de Abel foi a oferta, ou seja, animais, com o devido derramamento de sangue, o que, de certo modo, contrariaria o entendimento de que Deus olhou para o ofertante e não para a oferta.
Sabemos que há aqueles que acham que o sacrifício de Abel foi aceito porque nele havia sangue, o que inocorria no caso da oferta de Caim.
– Entretanto, assim não entendemos. Na verdade, o Senhor diz a Caim que se ele fizesse bem, haveria aceitação para ele e para a sua oferta (Gn.4:7).
O texto bíblico também é claro que o que Deus rejeitou não foi a oferta, mas o ofertante e a oferta (Gn.4:5).
– O problema não estava em que Abel ofereceu animais e Caim, vegetais, pois, se assim fosse, o Senhor não poderia, séculos depois, prever sacrifícios de vegetais na lei de Moisés (Lv.2:1-7; 5:11), já que Deus é imutável (Ml.3:6), até porque a ideia de derramamento de sangue era perfeitamente simbolizada, algumas vezes, pela libação com vinho (Ex.29:40; Lv.23:13).
– O problema estava na consideração de Deus como Senhor e do homem como servo e o reconhecimento de que o homem não merece a misericórdia divina, é mau e merecedor de morte e que, por causa disso, é necessário reconhecer-se o favor imerecido de Deus, o Seu tão grande amor para conosco, representado no Seu desejo de nos salvar e que esta salvação exige um preço que nós não podemos pagar.
– Abel compreendeu isto e não só escolheu uma oferta em que poderia demonstrar tal reconhecimento, entregando uma vida a Deus, como também procurou oferecer o melhor que tinha, sabendo que este melhor era o mínimo que poderia oferecer ao Senhor.
– Abel, diz o texto sagrado, trouxe dos “primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura” (Gn.4:4).
Abel ofereceu o que tinha de melhor, o prioritário, o que ocupava o primeiro lugar, bem diferente do seu irmão, que ofereceu o que estava à sua mão, como diz o texto bíblico: “ do fruto da terra ‘uma’ oferta ao Senhor” (Gn.4:3).
– O reconhecimento de Deus como Senhor, a aceitação da soberania divina importa em considerar Deus como o mais importante em nossas vidas, como o prioritário, como o que tem de ocupar não apenas o primeiro lugar, mas o único lugar.
Como diz o poeta sacro Joel Carlson (1889-1942):“Meu Jesus, Tu és bom, Tu és tudo pra mim” (primeira estrofe do hino 25 da Harpa Cristã).
– Cristo bem salientou esta necessidade de darmos prioridade ao Senhor quando disse que devemos buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, tendo o mais apenas como acréscimos (Mt.6:33), considerados aqui como acréscimos o que é essencial à sobrevivência material (comida, bebida e vestimenta – Mt.6:31).
– Para Abel, o mais importante era fazer a vontade de Deus, era estar em comunhão com o Senhor, era saber que, mesmo estando de Deus separado por causa do pecado, era desejo do Senhor que esta união fosse restabelecida e isto ocorreria mediante a “semente da mulher”.
O mesmo sentimento apresentado pelo Senhor Jesus para quem “a comida era fazer a vontade d’Aquele que o enviara e realizar a Sua obra” (Jo.4:34).
– O justo vive pela fé, diz tanto o profeta Habacuque quanto o apóstolo Paulo (Hc.2:4; Rm.1:17) e viver pela fé nada mais nada menos é senão confiar em Deus, admitir que não merecemos ser salvos mas que Deus nos salvará por intermédio do preço a ser pago pela “semente da mulher”.
Não é por outro motivo que o escritor aos Hebreus disse que o melhor sacrifício foi o de Abel, porque ele o fez por fé (Hb.11:4).
– Abel “fez bem”, segundo testemunho do próprio Deus a Caim (Gn.4:7), precisamente porque reconheceu a sua pecaminosidade e que indispensável seria a execução da justiça divina para que pudesse restabelecer sua comunhão com Deus, mas confiava que isto seria feito.
– Por ter “feito bem”, Abel foi considerado justo e esta sua justiça foi testemunhada pelo próprio Deus, que disse a Caim que o sangue de Abel clamava por justiça desde a Terra (Gn.4:10).
– Os justos não passam despercebidos do Senhor. Sua justiça clama providências divinas e tais providências serão tomadas no devido tempo pelo Juiz de toda a terra (Gn.18:25; Ap.16:4-6).
Eis o motivo por que os verdadeiros justos não se vingam de pessoa alguma, não revidam os males que lhes são feitos, porque sabem que a vingança pertence tão somente ao Senhor (Dt.32:35; Rm.12:19; Hb.10:30), de que não são merecedores de coisa alguma, e, neste reconhecimento, deixam tudo nas mãos d’Aquele que julga justamente (I Pe.2:21-23).
– Abel foi o primeiro injustiçado da história. Foi assassinado por seu irmão Caim sendo inocente, uma verdadeira figura de Cristo Jesus.
Deus não impediu que ele fosse morto, para nos mostrar que o mundo está no maligno (I Jo.5:19), para nos mostrar que vivemos num sistema injusto e perverso.
Mas, em Seu diálogo com Caim, o Senhor também deixou certo que esta injustiça não persistirá, que chegará o dia em que tudo será devidamente julgado, em que todos prestarão contas diante do Soberano do Universo (Mt.23:35; Lc.11:51; Hb.3:13; Ap.20:11-15).
– Com Abel, também, aprendemos qual é a verdadeira religião, ou seja, aquela que parte do princípio de que Deus quer salvar o homem e que o homem não merece ser salvo, que é precisamente a mensagem do Evangelho.
Como diz Paul Walsher: “…Muito da psicologia moderna fala a respeito de se sentir bem com quem você é.
Entretanto, não é isso que eu quero; eu quero que você seja salvo de quem você é e do que você tem feito.
Todos nós, antes da conversão, tínhamos um coração de pedra, um coração odiador de Deus, um coração maligno, nascido no pecado e dado ao pecado.
Esse é o testemunho da Palavra! Os homens antigos ouviam isso ser pregado constantemente, mas parece que as novas gerações não podem suportar a verdade; antes, preferem ser enganadas e pensar bem de si mesmas.
Contudo, um homem que não aceita a sua própria doença não pode ser curado. Um homem que não tem todas as suas esperanças moídas a respeito de seus próprios méritos, valor e justiça pessoal não pode voltar-se para Cristo.
Nós precisamos entender que estamos destituídos de qualquer valor e que há somente um Salvador — e Seu Nome é Jesus.…” (O verdadeiro Evangelho, p.32).
– Para Abel, a religião partia de Deus, tanto que ele reconheceu que deveria oferecer um sacrifício em que reconhecia sua própria inutilidade, sua própria nulidade diante do Senhor.
Já para Caim, a religião partia do homem, era o homem que poderia dizer o que seria sacrificado e como deveria ser feito o sacrifício.
Caim achava-se no direito de tomar a iniciativa de se aproximar de Deus, como se isto fosse um “favor” para a Divindade, tanto que não aceitou a ideia de que o sacrifício não fora aceito.
– Todas as religiões humanas, com exceção da verdadeira religião, sempre começam com o homem e são inúteis tentativas de o homem se chegar a Deus.
Como diz o poeta sacro Almeida Sobrinho: “Com ofertas e obras mortas, sacrifícios sem valor, enganado pensa o homem propiciar seu Criador.
Meios de salvar-se inventa; clama, roga em seu favor a supostos mediadores, desprezando o Deus de amor” (segunda estrofe do hino 18 da Harpa Cristã).
– Somente é possível uma religação entre homem e Deus se a iniciativa for divina e se o homem se submeter aos parâmetros estabelecidos pelo Senhor.
Abel é justo não porque se achasse bom ou fosse realmente bom, mas porque aceitou se anular, reconhecer a sua completa nulidade diante de Deus, a ponto de reconhecer merecer a morte.
Por este gesto, Deus aceitou seu sacrifício e, depois de morto, pôde o sangue de Abel reclamar a justiça divina.
– Este pensamento de Abel de considerar que nada merecia foi, inclusive, confirmado pelas próprias Escrituras, que reconhecem que, mesmo tendo o direito de reclamar a justiça, o sangue de Abel era inferior ao de Cristo (Hb.12:24).
– Com efeito, o sangue de todos os justos que foi derramado ao longo da história da humanidade reclama a execução da justiça divina, que um dia, inclusive, será plenamente realizada, mas são sangue de pecadores, de pessoas que foram salvas não porque tivessem méritos, mas simplesmente porque creram na graça de Deus, no favor imerecido de Deus prometido desde a queda do homem.
– A justiça de Deus somente foi satisfeita com o derramamento do sangue d’Aquele que nunca pecou (Hb.4:15), d’Aquele que não tinha pecado mas Se fez pecado por nós (II Co.5:21).
Por isso, diz o escritor aos hebreus que o sangue de Jesus fala melhor do que o de Abel (Hb.12:24).
O sangue de Cristo não reclama vingança, mas traz justiça aos homens, paga o preço dos pecados e nos leva para junto de Deus (Ef.2:13,14), purifica-nos de todo o pecado (I Jo.1:7).
– O texto bíblico diz ainda que Deus deu “testemunho dos dons de Abel” (Hb.11:5), ou seja, Abel agradou a Deus e, por causa disso, Deus aceitou a sua oferta, ou seja, Deus reconheceu a intenção de Abel e, apesar de sua pecaminosidade, ante a fé demonstrada, manteve-Se benevolente, benigno e gracioso com relação a Abel, o que não aconteceu com Caim.
Por isso, os pecados de Abel foram devidamente cobertos em virtude de seu sacrifício até serem completamente removidos quando da morte de Jesus na cruz do Calvário, o Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo (Jo.1:29).
– Este é o “testemunho dos dons” que Deus deu de Abel. Deus aceitou a oferta de Abel, algo que foi, inclusive, percebido por Caim e que trouxe toda a ira contra o seu irmão. O testemunho de Deus de que Se agradou da oferta de Abel trouxe o ódio de Caim, que era do maligno (I Jo.3:12).
Assim sempre ocorre com os justos, pois, se o mundo odiou a Cristo, odiará todos os que creem n’Ele (Jo.15:18-20).
– Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e, portanto, quando agradamos a Deus, desagradamos ao mundo, a este sistema que está no maligno e a quem pertencemos automaticamente em virtude de nossa natureza pecaminosa e sob o domínio do qual nos colocamos assim que adquirimos a consciência.
– Quando agimos como Abel, passando a ser considerados justos por Deus, não por nossos méritos, mas por termos crido na promessa de salvação dada pelo Senhor ao homem e concretizada em Cristo Jesus, passamos a deixar de pertencer a este mundo, gera-se uma oposição entre nós e o mundo e temos de agradar ao Senhor, mantendo-nos separados do pecado.
– O resultado disto é que o ódio que o mundo nos tem pode nos levar até a morte física, como ocorreu com Abel. Temos de ter esta consciência e jamais acreditarmos que é possível servir a Deus e sermos simpáticos e agradáveis ao mundo.
A morte de Abel está registrada para sabermos a realidade espiritual existente e que temos de estar dispostos a morrer por termos agradado ao Senhor.
– Abel foi chamado pelo seu irmão Caim para ir ao campo e quando estavam eles dois sós, Caim o matou (Gn.4:8).
– Temos aqui uma importante lição.
Embora não seja possível que nos isolemos das pessoas, que saiamos do mundo, não podemos ter intimidade com aqueles que não seguem a Deus, não podemos permitir que tenhamos um “lugar a sós” com eles, como temos com o Senhor. Se isto correr, estaremos sempre em perigo.
É preciso termos discernimento espiritual, a fim de que não sejamos alvos fáceis, nem fiquemos vulneráveis ao maligno. Daí porque o Senhor ter nos ensinado a orar para que sejamos livres do mal (Mt.6:13).
Como diz o comentário rabínico do livro do Gênesis chamado “Genesis Rabba”, provavelmente escrito por volta do ano 300 d.C. por Hoshaiah (?-350): “Não faça amizade com um homem mau, e nenhum mal o alcançará”.
– De qualquer forma, permitindo Deus, estaremos sempre sujeitos a sermos mortos por causa de nossa fé, mas isto nada significará senão o nosso encontro com o Senhor, como aconteceu com Estêvão (At.7:57-60), pois devemos temer não aquele que pode matar o corpo, mas, sim, Aquele que pode lançar no lago de fogo e enxofre, que pode decretar a morte eterna (Mt.10:28).
– Se houve uma certa falta de vigilância por parte de Abel, também é forçoso reconhecer que, ao acompanhar seu irmão Caim ao campo, Abel mostrou não ter qualquer ressentimento, mágoa ou malignidade com relação a seu irmão.
É bem provável que Abel tenha notado um comportamento diferente de Caim com relação a ele, mas isto não fez com que Abel tivesse qualquer prevenção com relação a Caim. Abel demonstrou, assim, querer bem ao seu irmão e não suspeitar mal, o que é a característica de quem tem o amor de Deus (I Co.13:5).
Abel demonstra, assim, que a fé em Cristo Jesus (a “semente da mulher” prometida no Éden e em quem Abel cria plenamente) faz com que jamais sejam pessoas desconfiadas dos outros, pessoas que não queiram bem às pessoas e que sempre entendam que os outros estão sempre maquinando contra elas.
Tal conduta não é apropriada para quem confia em Deus e tem convicção de que está indo para o céu. Será que somos assim? Pensemos nisto!
– Abel foi assassinado, era inocente, não merecia morrer por este motivo, mas isto não o impediu de ser considerado justo pelo Senhor, de o Senhor tomar para Si a execução da justiça e de ser ele o primeiro herói da fé.
Do mesmo modo, se formos justos, ou seja, se formos justificados pela fé e agradarmos ao Senhor, também nada nos impedirá de chegar aos céus. Amém!
– Soframos, pois, como cristãos, como pessoas que vivem agradando ao Senhor desde o momento de nossa justificação e, deste modo, poderemos ter a plena confiança em Deus, sabendo que apenas o justo se salva e, enquanto aqui estivermos, assim como Abel, façamos sempre o bem, inclusive jamais suspeitando ou querendo o mal daqueles que nos odeiam (I Pe.4:15-19).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/98-licao-2-abel-exemplo-de-carater-que-agrada-a-deus-i