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LIÇÃO Nº 2 – DESPERTAMENTO ESPIRITUAL, UM MILAGRE

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo das lições que o avivamento espiritual experimentado por Israel desde o término do cativeiro até o governo de Neemias, estudaremos a respeito do que é o avivamento espiritual.

– O avivamento espiritual é um milagre.

I – O QUE É O AVIVAMENTO OU DESPERTAMENTO ESPIRITUAL

– Na sequência do estudo a respeito das lições que podemos haurir sobre avivamento espiritual nos episódios que envolvem desde o término do cativeiro da Babilônia até o governo de Neemias, veremos hoje o que é propriamente um avivamento ou despertamento espiritual.

– Cumpre observar, por primeiro, que as expressões “avivamento” e “despertamento” serão tomadas aqui como indistintas, como sinônimas, não havendo qualquer diferença entre elas, sendo que a Bíblia Sagrada se refere tanto a uma quanto a outra expressão.

– Assim, se, por exemplo, o profeta Habacuque pede que a obra do Senhor seja “avivada” ao longo dos anos (Hc.3:2), o apóstolo Paulo conclama os salvos a “despertar” dentre os mortos (Ef.5:14).

– – Avivamento é o ato de “tornar ou tornar-se mais vivo, reanimar ou reanimar-se, despertar, tornar-se mais forte, mais intenso, aumentar, intensificar-se, tornar-se mais nítido, destacar-se, tornar-se mais ativo (diz-se de fogo, brasa etc.), tornar mais ágil, apressar” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

– Como se pode, pois, observar, quando se fala em avivamento se está a falar de um estágio posterior ao de viver. Só pode ser avivado quem já está vivo e é por isto que este termo foi utilizado pelos pentecostais para se referir ao estágio espiritual posterior à conversão, para o apossamento das bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3).

– A única vez que o termo aparece na Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) bem como na Nova Almeida Atualizada (NAA), as duas versões oficiais da Assembleias de Deus vinculadas à CGADB, é em Hc.3:2, onde o profeta, no início da sua oração que finaliza o seu livro, faz um pedido ao Senhor, depois de ter ouvido a Sua Palavra e temido:

– “Aviva, ó Senhor, a Tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na ira, lembra-Te da misericórdia” (ARC) ou “Senhor, tenho ouvido a Tua gama, e me sinto alarmado. Aviva a Tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida. Na Tua ira, lembra-Te da misericórdia” (NAA).

– “Aviva”, aqui, é tradução da palavra hebraica “chayah” )היה) cujo significado é “viver, fazer viver, manter vivo, viver prosperamente, viver para sempre, sustentar a vida, ser rápido, ser restaurado para a vida ou para a saúde”. A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) usa a palavra “katenoesa”(κατενόησα) cujo significado é “observar”, “reparar”, “contemplar”, “perceber”.

OBS: A Nova Versão Internacional traduziu “aviva” como “realiza de novo”, enquanto a Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz a palavra por “Faze agora, no nosso tempo, as coisas maravilhosas que fizeste no passado”.

A Tradução Ecumênica Brasileira traduz o termo por “vivam teus atos”, com nota em que afirma que o significado da expressão é “faze viver”, lembrando aqui a Edição Pastoral, que utiliza a expressão “faze-a reviver”, que também é seguida tanto pela Versão dos Monges de Mardesous segundo o Centro Bíblico Católico como pela Bíblia de Jerusalém.

A Versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo traduz a palavra por “vivifica”. Já a Bíblia Viva, fugindo bem do significado, traduz o termo por “ajude-nos novamente nesta hora em que tanto precisamos de ajuda”.

Mantém a mesma tradução da Versão Almeida Revista e Corrigida, as seguintes versões: Almeida Fiel e Corrigida, Almeida Atualizada, Bíblia na Linguagem de Hoje, Tradução Brasileira e Edição Contemporânea de Almeida.

– Avivamento é, em primeiro lugar, o ato de tornar mais vivo, ou seja, transformar a vida espiritual em uma vida mais intensa, em uma vida abundante. Isto nos faz lembrar as palavras de Jesus que disse que tinha vindo ao mundo para que Seus discípulos tivessem vida, mas Sua missão não cessava aí. Tinha vindo para que houvesse vida e vida em abundância (Jo.10:10).

– Neste texto, vemos, claramente, que a obra de Cristo não se limitava a dar vida àqueles que estavam à mercê do trabalho do inimigo, que é roubar, matar e destruir, mas que esta vida deveria ser abundante na vida de cada um dos alcançados pela Sua obra salvadora.

– Vida abundante é uma vida em toda a sua plenitude, com todos os benefícios proporcionados pela comunhão com Deus.

Vida é estar em comunhão com Deus, é não ter mais separação de Deus por causa do pecado, mas vida abundante é a comunhão com a presença de todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Por isso, um dos significados de “chayah” é o de “viver prosperamente”.

– Avivamento é, em segundo lugar, o ato de reanimar, de despertar. Neste sentido, o conceito de avivamento lembra-nos uma figura do mundo jurídico, que é o direito do proprietário de constranger o seu confinante a proceder com ele à aviventação dos rumos apagados, a renovação dos marcos destruídos ou arruinados (artigo 1.297 do Código Civil).

– O proprietário, pela lei brasileira, sempre que perceber que os marcos e os limites de sua propriedade encontram-se desgastados, desaparecidos ou prontos a desaparecer, pode fazer com que eles sejam “aviventados”, ou seja, voltem a ser notórios, públicos, conhecidos de todos.

– Assim também ocorre na vida espiritual. O Senhor, que é nosso proprietário (I Co.1:30), pois nos comprou com o Seu sangue na cruz do Calvário (I Co.6:20; 7:23), de tempos em tempos, pode perceber que nossos marcos, nossos sinais estão sendo obscurecidos pelo dia-a-dia, pelas dificuldades desta vida e, por isso, faz com que os “aviventemos”, que os renovemos, mediante o avivamento.

– O avivamento, também, assume as características de uma renovação espiritual, de um desabrochar dos sinais da presença de Deus que se estavam perdendo. Foi assim na história de Israel e tem sido na história da Igreja. Foi por isso que o profeta Habacuque pediu ao Senhor que avivasse a Sua obra ao longo do tempo, no decorrer dos anos. Por isso um dos significados de “chayah” é “fazer viver, manter vivo, viver para sempre”.

– Em terceiro lugar, avivamento é o ato de tornar-se mais forte, mais intenso, intensificar-se. O avivamento envolve, também, o crescimento espiritual do crente.

– A vida espiritual é dinâmica, ou seja, é um contínuo movimento. Assim como o organismo biológico vivo sempre está se transformando, não cessa de mudar a cada instante, com o surgimento de novas células a cada segundo, também o crente não cessa de se modificar a cada instante do ponto-de-vista espiritual.

– Entretanto, enquanto na vida física nós passamos, a partir da juventude, a iniciar um desgaste cada vez mais intenso, pois o homem exterior, isto é, o nosso corpo, é corruptível, o homem interior, pelo contrário, como não sofre os efeitos do tempo, passa a ter cada vez maior intensidade, a ter um progresso a cada segundo que passa, caminhando para atingir o nível de varão perfeito, a estatura completa de Cristo (II Co.4:16; Ef.4:13).

– O avivamento, portanto, é a manutenção da vida espiritual alcançada e a obtenção de maior vigor no decorrer do tempo, pois o homem interior é corroborado com poder pelo Espírito Santo (Ef.3:16). Por isso, um dos significados de “chayah” é “sustentar a vida”.

– Em quarto lugar, o avivamento é o ato de tornar-se mais nítido, destacar-se. Assim como, ao se “aviventarem” os limites entre dois prédios, percebe-se mais claramente onde se começa a propriedade de uma pessoa e onde ela termina, o avivamento é, também, uma ação que nos permite identificar com mais clareza quem pertence ao Senhor e quem d’Ele não é.

Uma igreja avivada é uma igreja que discerne bem quais são os verdadeiros e autênticos crentes e quais são os falsos apóstolos, a exemplo do que se deu na igreja de Éfeso que, em seu tempo avivado, pôde desmascarar os falsos apóstolos (Ap.2:2).

Um crente avivado é aquele que demonstra a presença de Deus na sua vida, bem como o poder do Espírito Santo. Por isso, os sinais e maravilhas são abundantes, como se vê nos tempos apostólicos (At.2:43; 4:30; 5:12,15; 19:4; I Co.2:4). Por isso, um dos significados de “chayah” é “restaurar para a vida e para a saúde”.

– Em quinto lugar, o avivamento é tornar-se mais ativo, mais ágil, apressar. É interessante observar que, para o lexicógrafo (isto é, o autor do dicionário), avivamento é tornar mais ativa uma chama, uma brasa, o que nos remete, de imediato, ao símbolo do fogo que João Batista utilizou para o batismo com o Espírito Santo.

– O avivamento tem, como efeito, fazer com que a haja mais ação na obra do Senhor, que haja um movimento e é por isso que o avivamento é, antes de mais nada, um movimento do Espírito Santo.

– Assim como no dia de Pentecoste, um som como de um vento veemente encheu o cenáculo e causou um reboliço que chamou a atenção de uma multidão de peregrinos, do mesmo modo o avivamento na igreja local causa uma movimentação que faz com que haja uma repercussão no meio da igreja e dos incrédulos.

Porventura, não foi o que ocorreu no avivamento da rua Azusa, cujos resultados se espalharam, rapidamente, pelos quatro cantos do mundo, inclusive aqui no Brasil?

– Mas, além de fazer com que haja mais ação (e eis a razão pela qual Jesus mandou que os discípulos aguardassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder – Lc.24:49b), o avivamento concede, também, o senso da urgência, a consciência da necessidade de, apressadamente, pregar o Evangelho, diante da iminência da volta do Senhor.

– A igreja dos dias apostólicos é apontada como sendo uma igreja que aguardava Jesus para os seus dias, tanto que necessário foi que os apóstolos, notadamente Paulo, dessem uma melhor explicação a respeito disto, para que não houvesse decepção entre os crentes (cf. II Ts.2:2).

– No entanto, este sentimento era resultado direto do avivamento experimentado por aqueles irmãos. O avivamento dá-nos a consciência da urgência da tarefa da Igreja e não é casual que o arrebatamento da Igreja seja antecedido por um avivamento, a “chuva serôdia” que vinha um pouco antes da colheita, celebrada na Festa dos Tabernáculos.

Nossa dispensação terminará com a evangelização de todas as gentes (Mt.24:14) e isto só é possível diante de um avivamento, pois só ele faz com que haja pressa e urgência na obra do

Senhor. Por isso um dos significados de “chayah” é, precisamente, o de “ser rápido”.

II – O AVIVAMENTO NA HISTÓRIA DE ISRAEL

– Um dos pontos essenciais do pentecostalismo é a crença de que o avivamento da Igreja é contínuo, ou seja, que Deus não cessa de intervir no meio de Seu povo para impedir que a vida espiritual deixe de ser abundante.

– Esta crença é extremamente fortalecida quando abrimos as Escrituras Sagradas e contemplamos a história de Israel.

– Já na antiga aliança, quando ainda o Espírito Santo era dado sob medida, Deus promovia frequentes avivamentos no meio do povo, a demonstrar, portanto, que a crença pentecostal é a que corresponde à realidade da Palavra do Senhor.

– “…Na Bíblia, foram registrados avivamentos em que um grande número de pessoas voltou-se para Deus e desistiu de seu modo pecaminoso de viver. Os avivamentos foram liderados por alguém que reconheceu a crise espiritual da nação, superou o medo e tornou a vontade de Deus conhecida às pessoas.

PRINCIPAIS AVIVAMENTOS DA HISTÓRIA DE ISRAEL
Xxxxxxxxxxxxxx

…” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, p.628) (quadro baseado no apresentado na referida Bíblia, mas com modificações nossas, inclusive do título).

– Pelo que podemos perceber pelo quadro supra, ao longo da história de Israel, Deus levantou homens para que houvesse um despertamento espiritual, para que o povo voltasse a ter vida espiritual e vida espiritual abundante.

– Como afirma o teólogo John Stott (1921-2011), um avivamento é “… uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela.

– Os inconversos se convencem do pecado, arrependem-se e clamam a Deus por misericórdia, geralmente em números enormes e sem qualquer intervenção humana. Os desviados são restaurados. Os indecisos são revigorados.

E todo o povo de Deus, inundado de um profundo senso de majestade divina, manifesta em suas vidas o multifacetado fruto do Espírito, dedicando-se às boas obras…” (A verdade do Evangelho, p. 119 apud COSTA JÚNIOR, Antonio Pereira da. Avivamento ou aviltamento? Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/avivamento/aviltamento_avivamento_antonio.htm > Acesso em: 26 maio 2006).

– “…O que aprendemos sobre o reavivamento no Velho Testamento? É que não é fácil experimentar um reavivamento, mesmo sob Davi e sob aqueles profetas maravilhosos na sua pregação, como Moisés. Mas uma coisa é certa, Deus nunca cessou a Sua obra com relação ao pacto. (…).

– por natureza, estamos espiritualmente mortos, a melhor das nossas obras não é meritória, o melhor da nossa vida não nos traz a comunhão com Deus.

– Por natureza, não podemos andar com Deus, ser inculpáveis e servi-l’O como Ele nos chama a fazer.

Regeneração é absolutamente uma necessidade de acordo com o Velho Testamento.

– É uma volta para Deus, um andar com Ele conforme a Sua vontade. (…) Mas a questão é esta: A regeneração leva necessariamente a reforma?

Na história da Igreja, conforme lemos no Velho Testamento, as pessoas, mesmo regeneradas, ainda podem adormecer espiritualmente; elas não morrem, mas ficam adormecidas.

– Os cuidados do mundo, as pressões da sociedade, as angústias econômicas que alguém enfrenta; problemas familiares, preocupações com as crianças… nós podemos cair no sono espiritual. Então, o que é necessário?

– Temos que ser despertados, e um despertamento é uma volta àquele estado de regenerado.(…). Quando vem o despertamento, a pessoa despertada precisa respirar.

Com a atuação do Espírito, ela responde pessoalmente; então outros têm a mesma experiência e quando isso atinge uma parte da sociedade então há um reavivamento.…” (VAN GRONINGEN, Gerard. Avivamento sob o prisma do Velho Testamento. Disponível em:< http://www.monergismo.com/textos/avivamento/avivamento_prisma.htm > Acesso em: 26 maio 2006).

– O pregador e teólogo Charles Finney (1792-1875), ele próprio um protagonista do que se chamou de

“Segundo Grande Avivamento” nos Estados Unidos da América, foi um dos que meditaram sobre este tema do avivamento espiritual, tendo dito que “avivamento é a renovação do primeiro amor dos cristãos, que resulta em despertamento e conversão de pecadores a Deus”.

– Pelo que se pode verificar nestas definições destes estudiosos, o avivamento se apresenta como uma ação divina, algo que vem da parte de Deus e, por isso mesmo, como diz o título de nossa lição, estamos diante de um milagre, visto que milagre nada mais é que uma intervenção divina no curso das coisas.

– Diz John Stott que o avivamento é “uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus”. Nesta definição, vemos, claramente, a consideração do avivamento como um milagre, como uma ação divina.

– Por isso mesmo, não se pode dar ouvido a quem considere o avivamento algo que possa ser criado pelo ser humano, que seja o resultado de uma atitude ou uma decisão humana, mas, sim, como uma obra que vem exclusivamente do Senhor.

– Por isso quem busca um avivamento deve proceder como vimos na lição anterior na atitude do profeta Daniel: buscar ao Senhor.

– Não podemos crer em fórmulas prontas, criadas pela inteligência humana, para se “gerar” um avivamento, para provocá-lo. É evidente que as Escrituras, ao nos mostrar uma série de avivamentos ocorridos, traz-nos um norte sobre que condições e que circunstâncias geram um avivamento, mas isto é algo que está reservado única e exclusivamente ao Senhor.

– Em termos de avivamento, aliás, pode-se afirmar que a expressão mais pertinente é a que encontramos no derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, ou seja, embora todos soubessem que haveria o revestimento de poder, pois o próprio Jesus mandou que os discípulos o aguardassem (At.1:4,5) e

todos o estivessem fazendo buscando ao Senhor em oração, o fato é que o revestimento de poder veio “de repente” (At.2:1), a mostrar, claramente, que tudo fica na inteira disposição do Senhor.

– Na definição de Charles Finney, não temos conclusão diferente. Ele define o avivamento como “renovação do primeiro amor dos cristãos” e este primeiro amor, que é o amor de Deus que vem aos nossos corações

quando cremos em Cristo Jesus, é, evidentemente, de origem divina, já que é amor derramado pelo Espírito Santo (Rm.5:5).

– A propósito, como vimos na expressão do teólogo Gerard Van Gronigen (1921-2014), o avivamento é

“tornar ao estado de regenerado”, o que se coaduna perfeitamente com o que disse Finney e, neste ponto, não temos como deixar de reconhecer que a regeneração é o maior milagre que pode acontecer na vida de um ser humano, pois se trata de “nascer de novo”, “nascer da água e do Espírito”, “nascer do Espírito” e, se ter a vida biológica já é um milagre atribuível única e exclusivamente ao Senhor (I Sm.2:6), que dirá ter vida espiritual (Gn.2:7; Zc.12:1; Ef.2:1).

– O próprio Senhor Jesus mostrou que o perdão dos pecados, que é o pressuposto para a regeneração, é algo que somente pode ser atribuído a Deus, sendo milagre maior do que qualquer sinal de cura física, como se vê no episódio da cura do paralítico em Cafarnaum (Mc.2:1-12).

– Por isso, não se pode concordar com Charles Finney que, desconsiderando a sua própria definição, entende que o avivamento não seja um milagre, pois, segundo ele, o milagre é algo que está além dos poderes da natureza e, num avivamento, não se teria a suspensão das leis da natureza.

– Ocorre, porém, que o avivamento nada tem que ver com o mundo natural, mas, como diz John Stott, é uma “visitação sobrenatural do Espírito”, o que, de pronto, desmonta o argumento apresentado por Finney.

– Num avivamento, o que se tem é a “tomada da consciência da presença de Deus”. Observe-se que Deus sempre está presente, e não apenas por causa da Sua onipresença, mas em razão de Seus compromissos com o Seu povo, seja Israel, seja a Igreja.

– Ocorre, porém, que, com o passar do tempo, em virtude dos cuidados do mundo, das pressões da sociedade, das angústias econômicas que alguém enfrenta; dos problemas familiares, das preocupações com as crianças, enfim, por causa das coisas desta vida, nós podemos cair no sono espiritual,

deixamos de dar a devida atenção ao reino de Deus e sua justiça e, a exemplo dos discípulos no barco no mar da Galileia, desprezarmos a companhia do Espírito Santo e a presença do Senhor Jesus em nosso meio.

– Assim, num determinado instante, quando alguns notam este torpor espiritual e começam a clamar ao Senhor, o Espírito Santo vem ao encontro do povo de Deus, despertando-o, fazendo notar a presença do Senhor e, deste modo, promovendo o avivamento, fazendo com que as coisas de cima sejam buscadas prioritariamente e que cesse o desvio espiritual que se estava a verificar.

– Esta visitação surpreende as pessoas, como diz John Stott, ou seja, em mais uma prova que se está diante de um milagre, a forma como que se percebe esta visitação e como se dão as consequências disto é imprevisível, daí porque ter se dito que não existem fórmulas prontas nem estratégias humanas para se ter um avivamento ou para desenvolvê-lo.

Decididamente, o avivamento não é como uma experiência em laboratório que pode ser monitorada e controlada pelos homens.

– Finney também fala deste despertamento causado pelo avivamento, ao dizer que “o avivamento em uma comunidade é o despertamento, a aceleração e a recuperação da igreja mais ou menos recuada e um despertamento mais ou menos geral de todas as classes e uma atenção garantida ao chamado de Deus”.

Vemos aqui que o povo objeto do avivamento presta atenção à voz do Senhor e abandona uma atitude de recuo, de retrocesso nas coisas espirituais, o que nos faz lembrar a advertência feita pelo escritor aos hebreus ao lembrar seus leitores que Deus não tem prazer na alma daquele que recua (Hb.10:37),

o que foi sintetizada numa afirmação que, embora tenha se tornado um bordão, deve, sim, ser aqui lembrada por ter base bíblica – recuar, nunca; desistir, jamais; avançar, sempre.

– Ora, se o avivamento é um atendimento ao chamado do Senhor, qual é a principal vocação de Deus para os homens? É a chamada para a salvação, para o arrependimento dos pecados e para a conversão.

– Esta é a mensagem trazida por Jesus Cristo (Mc.1:14,15) e que ele mandou que a Igreja levasse adiante (Mc.16:15; Lc.24:47).

– Por isso mesmo, o avivamento produz necessariamente a conversão dos pecadores, seja a decisão por Cristo por parte dos inconversos, seja a reconciliação daqueles que haviam se distanciado do caminho da verdade. É isto exatamente que falam tanto Stott quanto Finney ao tratar do avivamento.

OBS: Diz Finney sobre isto: “…Ele [o avivamento, observação nossa] pressupõe que a igreja esteja imersa em um estado de recuo espiritual e um avivamento consiste num retorno da igreja de seus retrocessos e na conversão dos pecadores…” (Conferências sobre avivamento, p. 17.
Disponível em: https://www.ccel.org/ccel/f/finney/revivals/cache/revivals.pdf Acesso em 28 maio 2020) (tradução Google alterada por nós).

– Avivamento genuíno e autêntico, que esteja de conformidade com as Escrituras, produz a conversão dos pecadores e a reconciliação dos afastados, Avivamento é tornar à vida e somente tem vida quem está em comunhão com o Senhor e a comunhão com Deus pressupõe a retirada dos nossos pecados.

– Muitos querem identificar um avivamento pelas manifestações sobrenaturais, mas a maior manifestação sobrenatural é a salvação das almas, é o perdão dos pecados. Isto tem sido negligenciado, desprezado e tal comportamento é a negação do próprio avivamento.

– Advindo a reconciliação das pessoas com Deus, que é a salvação, as bênçãos decorrentes da salvação também se revelam e o avivamento produz a manifestação da glória de Deus, seja mediante a própria expressão desta glória de forma sobrenatural,

– seja mediante a produção do fruto do Espírito por parte dos avivados, fazendo com as que suas boas obras façam com que as pessoas glorifiquem ao Pai que está nos céus (Mt.5:16), como também que até as condições sociais sejam alteradas, pois os avivados acabam por influenciar positivamente todas as áreas da convivência, pois o povo de Deus é sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13-15).

– Por isso mesmo, e vemos isto ao longo de toda a história de Israel, um avivamento espiritual produz circunstâncias favoráveis para a vida secular entre os israelitas,

seja porque passam a fazer a vontade do Senhor e, como consequências, lhes advêm as bênçãos prometidas no pacto palestiniano, seja porque, em havendo um maior cumprimento da lei, estabelece-se um clima de paz interior e exterior que permitem a melhoria das condições de vida para todos.

III – O AVIVAMENTO NO TÉRMINO DO CATIVEIRO DA BABILÔNIA

– Visto o que é o avivamento, afigura-se pertinente verificarmos como ele se manifesta no término do cativeiro da Babilônia, já que estamos diante de um estudo de caso, em que procuraremos tirar lições do avivamento a partir deste período que vai desde o término do cativeiro da Babilônia até o governo de Neemias, na formação do que se convencionou chamar de “Comunidade do Segundo Templo”.

– Na lição passada, vimos que tudo tem início quando o profeta Daniel começa a buscar ao Senhor a fim de que se cumprisse a profecia de Jeremias de que o cativeiro duraria setenta anos.

– Tendo sido levado para babilônia no primeiro grupo de cativos, Daniel sabia muito bem quando se dariam os setenta anos e ao perceber que estavam para se cumprir, começou a clamar a Deus, com oração e jejum, para que houvesse o perdão dos pecados do povo e, assim, devidamente perdoado, alcançasse Israel a sua redenção e se restaurasse como povo santo e propriedade peculiar do Senhor dentre os povos.

– A finalidade de Daniel, portanto, era de que Deus Se manifestasse ao povo, fizesse sentida a Sua presença entre eles, precisamente o que estamos aqui a denominar de avivamento ou despertamento.

– O Senhor ouviu a oração do profeta e lhe enviou o anjo Gabriel que, então, revelou a Daniel que a redenção de Israel ainda demoraria setenta semanas de anos, ou seja, 490 anos, ou seja, cumprir-se-ia a profecia de Jeremias mas ainda não se teria a redenção do povo judeu.

– Estes 490 anos teriam início quando fosse dada a ordem para a reedificação da cidade de Jerusalém, e, deste modo, o Senhor também atendia o pedido do profeta para que a ira divina se afastasse tanto de Jerusalém quanto do templo, que haviam sido destruídos por Nabucodonosor no décimo primeiro ano do cativeiro.

– Daniel fez esta oração no primeiro ano do rei Dario, o medo, que havia assumido o governo da Babilônia após a invasão dos persas.

– Dario era um “rei vassalo”, ou seja, um rei que estava subordinado ao rei persa,

Ciro. Embora haja discussão sobre a identidade de Dario, uns entendem ter sido um general de Ciro, chamado Gobrias, enquanto outros entendem ter sido o tio de Ciro, o rei Ciáxares II, que teria entregado a Média a Ciro e este, em compensação, lhe deu o governo da Babilônia.

– De qualquer modo, o fato é que, logo em seguida (pois o primeiro ano de Ciro é o primeiro ano de Dario, o medo, o ano de 539 a.C. como atestam os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen), por determinação direta do rei persa, foi autorizado aos judeus que retornassem para a Terra Prometida e lhes foi ordenado que reconstruíssem o templo (II Cr.36:22; Ed.1:1).

– Esta ação de Ciro, que é o cumprimento da profecia de Jeremias, é uma intervenção direta de Deus. Ciro, que Isaías já profetizara séculos antes como sendo alguém que seria escolhido pelo Senhor para fazer bem ao Seu povo (Is.44:28; 45:1),

diz que havia recebido esta ordem do “Senhor Deus dos céus”, que parece ser o “deus do bem” da religião persa, ou seja, o Senhor Se utilizou das crenças e da cultura da Pérsia para persuadir o rei a libertar os judeus e a mandar que eles reconstruíssem o templo.

– Quando observamos a ordem de Ciro, não faz ela o menor sentido do ponto-de-vista político. Os judeus eram um povo sem maior expressão e que, inclusive, tinha sido bem tratado no governo babilônio, muito em função da posição de Daniel na corte.

– Agora, sem que eles tivessem tido qualquer papel seja a favor, seja contra o domínio da Pérsia sobre a Babilônia, recebiam a autorização para retornar à Terra Prometida e de reconstruir o templo, sendo que Ciro nem sequer partilhava dos mesmos sentimentos religiosos daquele povo.

– Isto nos mostra, claramente, que o avivamento é um milagre de Deus. Ouvindo a oração de Daniel, o Senhor não só cumpre a profecia de Jeremias como também começa a criar as condições para que se reiniciasse a jornada de Israel para a sua redenção, fazendo com que, necessariamente, os judeus tivessem de reconstruir o Templo, cujos utensílios foram todos devolvidos por Ciro.

– Deus atendia prontamente à oração de Daniel, que havia até pedido pressa (Dn.9:19), mas, ao contrário do que pedira o profeta, e na ordem dos próprios objetivos manifestados pelo homem de Deus, manda que primeiro se reconstruísse o templo, para depois cuidar da cidade de Jerusalém.

– O avivamento procura, primeiro, cuidar de instituir o templo, de restaurar em cada um a condição de

“morada de Deus no Espírito”, de “templo santo do Senhor” (Ef.2:21,22), para, só, então, cuidar da cidade santa.

O avivamento precisa começar em nós e, começando em nós, certamente atingirá a Igreja, que é a reunião de todos nós.

Isto nos faz lembrar um conhecido provérbio que diz: “se cada um limpar a frente da sua calçada, em pouco tempo a cidade toda estará limpa”.

– Daniel orou, buscou ao Senhor, teve a resposta, mas o cumprimento da profecia e o início do processo todo revelado se deu de modo surpreendente e inesperado, mesmo aos olhos de um experimentado estadista como era o homem de Deus.

– O avivamento é assim mesmo: sabemos que tem de começar pela oração, pela santificação, pelo arrependimento e conversão, mas jamais poderemos predeterminar de que modo virá, mas que virá, isto estejam certos, virá.

– Por fim, na ordem dada por Ciro mais um fato inusitado: a ordem era reedificar o templo, mas os judeus não eram obrigados a retornar.

– Quem quisesse fazê-lo que o fizesse. Temos aqui uma demonstração clarividente que o Senhor respeita o livre-arbítrio humano e que não obriga pessoa alguma a servir-Lhe.

– Deus havia mandado Ciro que o templo deveria ser reedificado. Os judeus, muito mais até do que o rei Ciro, sabiam do significado do templo e de sua reconstrução e do próprio gesto do rei. Mas, mesmo assim, Deus não obrigou qualquer judeu a retornar à Terra Prometida. Deveriam fazê-lo quem quisesse.

– Sabemos que não foi a maioria que retornou, porque muitos estavam bem estabelecidos nas cidades dos babilônios, tendo muitos também ido morar em cidades persas.

– A comodidade falou mais alto que o chamado divino. Entretanto, a oportunidade foi aberta a todos, e de forma muito solene e que a todos foi conhecida. Deus continua a atuar da mesma maneira, não havendo quem possa querer, posteriormente, se desculpar por não ter atendido à vocação divina.

– No avivamento, também, somente é restaurado e avivado quem o desejar. O Espírito Santo continua a dizer com a Igreja que quem quiser pode tomar de graça da água da vida (Ap.22:17). Qual é a nossa decisão?

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5387-licao-2-despertamento-espiritual-um-milagre-i

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