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LIÇÃO Nº 2 – O NASCIMENTO DE JESUS

lição 02

 A narrativa de Lucas do nascimento de Jesus mostra toda a realidade da encarnação do Verbo.   

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INTRODUÇÃO

 – Iniciando o estudo do Evangelho segundo Lucas, estudaremos o anúncio e o nascimento tanto de João Batista quanto de Jesus.

– A narrativa de Lucas do nascimento de Jesus mostra toda a realidade da encarnação do Verbo.

I – O ANÚNCIO DO NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA  

– Dando início ao estudo do evangelho segundo Lucas, depois de uma visão introdutória, haveremos de estudar, nesta lição, as narrativas dos anúncios e dos nascimentos de João Batista e de Jesus, assuntos que abrangem o texto de Lc.1:5 a 2:20, constituindo o início da primeira parte do evangelho que, como vimos na lição anterior, é a “narrativa da infância”.

– Lucas, como avisa no introito de seu evangelho, tinha o objetivo de narrar tudo quanto Jesus começou não só a fazer mas também a ensinar (At.1:1) desde o princípio (Lc.1:2) e, fiel a este objetivo, quis iniciar sua narrativa pelo anúncio do nascimento de João Batista, que foi o precursor de Cristo e aquele que pôs fim ao silêncio profético que já perdurava cerca de quatrocentos anos. Sem dúvida alguma, é a partir daí que se iniciará um novo tempo não só para Israel como para toda a humanidade.

– Como afirma com muita proficiência o ex-chefe da Igreja Romana, o Papa Emérito Bento XVI: “…No início da atividade de Jesus, os quatro Evangelhos colocam a figura de João Batista e apresentam-no como precursor. São Lucas antecipou a ligação entre as duas figuras e as respectivas missões, colocando-a na narração da infância de ambos. Já na concepção e no nascimento, Jesus e João são postos em relação entre si…” (A infância de Jesus. Trad. de Bruno Bastos Lins, p.21).

– Assim, Lucas fala do princípio deste novo tempo, que se deu, como faz questão de frisar, “no tempo de Herodes, rei da Judeia”, trazendo, desde logo, uma característica de seu evangelho que é a de precisar tempo e lugar dos fatos que narra, como a nos mostrar a submissão de Cristo ao tempo e ao espaço, como qualquer criatura, um sinal de Sua humilhação, de Sua humanidade.

– Lucas, então, introduz a figura de “dois justos” que viviam naquele tempo: o sacerdote Zacarias, que era da ordem de Abias, e sua mulher, Isabel, que pertencia à família de Arão. Conquanto fossem justos e observadores de todos os mandamentos e preceitos do Senhor, Isabel era estéril e, por isso, não tinham filhos.

– Zacarias foi, então, selecionado, conforme o costume sacerdotal, para oferecer o incenso no templo do Senhor. Pela grande quantidade de sacerdotes, naquele tempo, durante os vinte anos de exercício do sacerdócio perante a casa do Senhor (Nm.4:3,23,30,35,39) e o fato de que os sacerdotes se revezavam em vinte e quatro turmas no serviço da casa do Senhor (I Cr.24:1-19), certamente o sacerdote somente oferecia o incenso no lugar santo uma vez em sua vida.

– Zacarias era da ordem de Abias, que era a oitava turma (I Cr.24:10), o que faz entender que deveria ter oficiado na segunda metade do quarto mês, o mês de Tamuz, entre julho e agosto do nosso calendário, época do verão em Israel.

– Quando Zacarias entrou para oferecer o incenso, um momento sublime de seu ministério sacerdotal, um anjo lhe apareceu, posto em pé à direita do altar do incenso, o que provocou imediatamente uma reação no velho sacerdote (não nos esqueçamos que a expressão “avançado em idade” dada a Zacarias queria dizer que ele era idoso, mas tinha menos de cinquenta anos, pois esta era a idade limite para o exercício do sacerdócio na casa do Senhor, de forma que tinha menos de cinquenta anos), que ficou turbado e temeroso.

– O anjo disse a Zacarias para que não temesse e trouxe ao sacerdote uma boa notícia, a de que ele seria pai, pois suas orações haviam sido ouvidas e Isabel, sua mulher haveria de conceber. Zacarias deveria pôr o nome na criança de João, cujo significado é “graça, favor de Deus”.

– O anjo ainda disse a Zacarias que tal evento traria alegria e prazer ao velho sacerdote e muitos se alegrariam no seu nascimento. Também disse que o menino seria grande diante do Senhor, não beberia vinho nem bebida forte e seria cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe, sendo instrumento de Deus para a conversão dos filhos de Israel ao Senhor.

O menino iria adiante do Senhor no espírito e virtude de Elias para converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à prudência dos justos com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.

– Zacarias, ao ouvir estas palavras do anjo, demonstrou incredulidade, pois se achava velho e sabia que sua mulher era estéril. O anjo, então, se identificou, dizendo ser Gabriel, o anjo mensageiro, mas, ante a incredulidade do sacerdote, disse que ele ficaria mudo até ao dia em que aquelas coisas aconteceriam.

– É realmente impressionante que Zacarias, tendo orado para que o Senhor abrisse a madre de sua mulher, quando recebe a notícia de que sua oração fora ouvida, não tenha crido na mensagem e, por causa disso, tenha sido emudecido.

 Trata-se de uma lição que devemos aprender, qual seja, a de que devemos orar com fé e jamais duvidar, para que não venhamos a ter percalços em nossa vida espiritual e em nosso ministério. Ao ficar emudecido, Zacarias não pôde mais exercer seu ministério sacerdotal, uma vez que não era permitido que qualquer pessoa defeituosa exercesse o sacerdócio (Lv.21:17).

 OBS:  “…No início do seu matrimônio, Zacarias orava, de modo contínuo, ao Senhor, pedindo que Ele lhe desse um filho como herdeiro; porém, ao saber da esterilidade de sua mulher, acreditou que suas orações tinham sido inúteis. Segundo seu conceito, nem Deus poderia reverter essa situação(…). Zacarias julgava não ter motivos para creditar na mensagem, visto ser ele um ‘grande teólogo’ — como sempre, a maioria quase absoluta dos teólogos consideram-se senhores da verdade e pensam saber tudo — desse modo, Zacarias não poderia aceitar a suposta tolice ministrada pelo anjo(…).

 Zacarias perdeu a direção de sua Igreja por não ter acreditado na mensagem de Deus transmitida por Seu anjo. Durante o tempo determinado, ele não falou nem ouviu uma única palavra. Como Zacarias, tem muita gente amando mais o poder que o cargo lhe confere do que a importância da missão.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de.

O Cristo desconhecido dos judeus, da ciência, da História e até mesmo dos ‘cristãos’: uma nova biografia do Homem de Nazaré, pp.56-7).

– A incredulidade de Zacarias, no entanto, não impediu que se cumprisse o desígnio divino. Sua demora no lugar santo para oferecer incenso e sua saída já sem poder falar foram sinais claros de que tinha ele tido alguma visão no templo e assim entendeu o povo (Lc.1:22). Vemos, pois, como Deus deixa, então, bem nítido que estava a iniciar um novo tempo para Israel.

– Zacarias retornou para a sua casa, em local que não é explicitado, mas que era uma cidade de Judá (Lc.1:39), certamente uma das oito cidades que os judaítas haviam entregado aos levitas quando da repartição da terra (Js.21:4,10-16), a saber: Hebrom, Libna, Jatir, Estemoa, Halom, Debir, Jutá e Bete- Semes.

Arriscamo-nos a entender que esta cidade ou era Jatir, ou Debir, ou Halom, ou Estemoa, que são quatro cidades localizadas nas montanhas (Js.15:48-51).

– Isabel concebeu, conforme havia sido dito pelo anjo, e se ocultou durante cinco meses, certamente temerosa de que algo lhe poderia acontecer, diante do emudecimento de seu marido (Lc.1:25).

– Lucas, desde já, neste anúncio do nascimento de João Batista, mostra como Deus estava a intervir na história humana, sem, porém, deixar e mostrar as características próprias do ser humano. Se Deus manda um anjo para trazer a mensagem ao sacerdote, anjo este que é o mesmo Gabriel que havia sido personagem importante na renovação da esperança messiânica de Israel nos dias de Daniel, se Deus abre a madre de uma mulher avançada em idade, também se mostra aqui toda a imperfeição humana, ante a incredulidade de Zacarias e o próprio temor de Isabel, mesmo depois de ter engravidado.

– Lucas mostra, com absoluta clareza, a intervenção divina para o cumprimento das profecias, mas, também, a falibilidade do homem, que depende, e muito, da graça divina para se restabelecer, o que, aliás, era o significado do próprio nome daquele profeta que levaria o povo de Israel à conversão, que prepararia ao Senhor um povo bem disposto.

II – O ANÚNCIO DO NASCIMENTO DE JESUS

– Depois de ter narrado o anúncio do nascimento daquele que prepararia ao Senhor um povo bem disposto, Lucas passa a narrar o anúncio do nascimento de Jesus, sendo também o único evangelista a fazê-lo, dentro do seu objetivo de narrar as coisas “desde o princípio”.

– Mais uma vez precisando o tempo em que os fatos ocorreram, Lucas indica que, no sexto mês da gravidez de Isabel, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, onde morava uma virgem que já estava desposada, ou seja, prometida em casamento a José, da casa de Davi, virgem esta cujo nome era Maria (Lc.2:26.27).

– O anjo saudou Maria, dizendo que ela era agraciada, pois Deus era com ela e bendita ela era entre as mulheres.

Maria, a exemplo de Zacarias, ficou turbada, mas o anjo, assim como fizera com Zacarias, disse àquela jovem que não temesse, porque ela havia achado graça diante de Deus e, por isso, conceberia o Messias, o Santo de Deus, o filho de Davi, a quem se deveria dar o nome de Jesus, que seria grande, chamado de filho do Altíssimoe que reinaria eternamente ocupando o trono de Davi.

– Maria, numa reação contrária a de Zacarias, indaga o anjo como isto se daria, já que não conhecera varão, já que era virgem, e o anjo, prontamente, lhe explica que a concepção seria obra e graça do Espírito Santo, que desceria sobre ela, de modo que o menino que nasceria dela seria Filho de Deus, o Santo de Deus (Lc.1:28-35).

OBS: “…A pergunta de Maria estava de acordo com a vontade de Deus — e eu não creio que houvesse aqui falta de fé.

Zacarias tinha frequentemente pedido um filho, e não se tratava aqui senão do poder e da bondade de Deus para atender aos seus desejos. Porém, levado, pela declaração positiva de Deus, ao ponto aonde era necessária a fé, ele não se fia na promessa do Senhor, muito embora, numa ordem natural de coisas, não tivesse mais que esperar um exercício extraordinário do poder de Deus.

Mas Maria pergunta, com santa confiança, visto Deus assim a favorecer, como se cumpriria, fora da ordem natural, a maravilha que lhe era anunciada. Mas do seu cumprimento ela não duvida.

Ela diz: ˂˂Bem-aventurada é aquela que creu˃˃. Pergunta apenas O Como daquilo que lhe é anunciado e que se cumprirá, visto dever fazer-se fora da ordem da natureza.…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João. Trad. de Dr. Martins do Vale, p.14) (destaques originais).

– Ante aquela notícia, Maria, novamente numa atitude totalmente oposta a de Zacarias, deu seu “sim” a Deus, aceitando o desígnio divino, mesmo diante das terríveis consequências que isso traria para a sua vida.

– Neste anúncio do anjo Gabriel a Maria, vemos importantes lições que devem aqui ser relembradas, para evitar as distorções doutrinárias que levaram à mariolatria.

– Por primeiro, é importante observar que, ao saudar Maria, o anjo Gabriel a chama de “agraciada”. Portanto, ao contrário do que ensinam os mariólatras, Maria não é “cheia de graça”, mas, sim, foi objeto da graça de Deus.

Somente Jesus é cheio de graça (Jo.1:14), até porque Ele é a própria graça de Deus que se manifestou aos homens, trazendo-lhes salvação (Tt.2:11), algo que nos é lembrado pelo poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “Graça, graça, a mim basta a graça de Deus: Jesus” (dois primeiros versos do refrão do hino 205 da Harpa Cristã).

– Por segundo, o anjo diz a Maria que ela era bendita entre as mulheres, porque havia achado graça diante de Deus. Ora, tal circunstância deve ser entendida sob o aspecto humano, ou seja, Maria foi abençoada por ter sido escolhida ser a mãe de Jesus, nada querendo indicar que tivesse sido “concebida sem pecado”, como afirma um dos dogmas marianos.

Ela achou graça diante de Deus, assim como Noé (Gn.6:8), não havendo, pois, nenhuma situação diferente de Maria em relação aos demais seres humanos no tocante à sua concepção.

– Por terceiro, Maria se identifica como sendo “serva do Senhor”, a desmentir os mariólatras que a denominam de “Nossa Senhora”. Maria nunca se pôs na condição de senhora, mas, sim, de serva, até porque o anjo Gabriel lhe disse que o grande seria Jesus, o filho do Altíssimo.

– Por quarto, o anjo Gabriel disse que quem reinaria eternamente na casa de Jacó e Seu reino não teria fim seria Jesus, e não, Maria, de modo que o anúncio do nascimento de Jesus também desmente aqueles que chamam a Maria de “Rainha do céu”.

– Maria achou graça diante de Deus e, ao contrário do sacerdote Zacarias, teve uma atitude de fé que deve servir de exemplo para todos nós.

Zacarias tinha tudo para crer na mensagem do anjo, já que orara para que Isabel, sua mulher, tivesse sua madre aberta e a notícia da resposta de suas orações era um sinal de alegria e contentamento que não geraria qualquer problema para o sacerdote. No entanto, Zacarias não creu, acabando por arruinar o seu ministério sacerdotal.

– Já Maria, ao aceitar a mensagem trazida pelo anjo, assumia uma posição extremamente perigosa e melindrosa em sua vida. Como estava desposada com José, a gravidez lhe traria sérias consequências, pois seria tomada por adúltera e, portanto, sujeita à morte por apedrejamento (Lv.20:10; Dt.22:13-21).

– “…Certamente, Maria pensou muito antes de dizer sim para o representante do Senhor, creio que ela refletiu muito bem sobre todo seu projeto de vida conjugal que levaria com seu futuro esposo, o príncipe herdeiro do trono de Davi.

Ela sabia muito bem que seu povo era legalista ao extremo e não poderia, em hipótese alguma, acreditar que uma virgem concebesse e desse à luz um filho. Ainda que os representantes da lei aceitassem sua versão, seu pai e sua mãe já tinham dado o veredicto, condenando-a supostamente por adultério e jamais iriam, sob qualquer pretexto, perdoar Maria de ‘tal pecado’.

O fato de seus pais terem um neto bastardo seria uma vergonha inconcebível para todas as gerações e que os hipócritas, legalistas judaizantes, não poderiam suportar(…). Se Maria soubesse que isso era só o começo de sua tortura, certamente ela teria pensado um pouco mais e, quem sabe, nunca teria dito ‘sim, Senhor, eis-me aqui’.

Quando ouço alguém dizer ‘eis-me aqui, Senhor, usa-me segundo a Tua vontade’, fico preocupado em saber se a pessoa sabe o que está dizendo.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. op.cit., pp.89-91).

– Maria apareceu grávida e isto foi percebido não só por seus pais mas por toda a cidade de Nazaré, um lugar que nem sequer estava no mapa oficial de Israel, um local sem expressão, situada bem próxima da cidade de Séforis, que era o centro administrativo da Galileia no tempo do rei Herodes.

 Ora, num lugar pequeno como aquele, esta circunstância não deixou de ser verificada e Maria, certamente, passou por momentos angustiantes, correndo risco de vida e esta é a razão pela qual, apressadamente, foi para a casa de Isabel (Lc.1:39), aquela que o anjo lhe dissera ter concebido e estar grávida de seis meses (Lc.1:36).

– Mais uma vez, vemos em Lucas a demonstração das imperfeições da humanidade mesmo diante da intervenção divina. A mulher que havia achado graça diante de Deus é obrigada a fugir de sua cidade, por ter aceitado o desígnio do Senhor. Ao mesmo tempo, entendemos porque o anjo Gabriel dissera a Maria a respeito da gravidez de Isabel, como que dando o escape que Maria precisaria ter.

– Devido ao próprio caráter sucinto do relato bíblico, não percebemos a grande aflição sofrida por Maria para cumprir a vontade de Deus.

Tal circunstância não deve ser, porém, ignorada por nós, porquanto o mesmo sofrimento que Maria teve, a mesma incompreensão sofrida por Maria por ter aceitado receber Jesus em seu ventre, é o sofrimento e a incompreensão que todo salvo em Jesus Cristo experimenta neste mundo, ao aceitar receber Jesus em seu interior.

 Maria, diante das aflições sofridas, fugiu para a casa de Isabel, que sabia ter também sido abençoada por Deus segundo a mensagem angelical; nós, também, devemos, ante as aflições desta vida, nos refugiarmos nas promessas de Deus, na Palavra de Deus.

III – A VISITA DE MARIA A ISABEL

– Maria, por circunstâncias não reveladas nas Escrituras, mas que podemos inferir pelo contexto bíblico, incompreendida em sua gravidez, foge para a casa de Isabel. Isabel era sua prima e, por ser Isabel da casa de Arão, em virtude disto, há quem diga que Maria era levita, ou seja, da tribo de Levi.

No entanto, tal afirmativa não pode prosperar, pois a genealogia de Jesus, segundo nos dá conta Lucas, faz com que Maria seja reconhecida como judaíta, uma vez que a genealogia de Lucas segue a linha materna, dentro da própria concepção judaica de que a nacionalidade judaica vem da mãe, e não do pai.

OBS: “…Será que as palavras da casa de Davi se referem a José, ou a José e Maria, ou somente a Maria? As palavras referem-se unicamente a Maria. Dessa forma visa-se assinalar que, segundo a exposição de Lucas, Maria era da descendência de Davi (cf. v. 32 e 69).

A origem davídica de José é atestada em Lc 2.4, bem como na genealogia em Mateus e por intermédio do título “filho de Davi”, atribuído publicamente ao Redentor.…” (RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, pp.15-6) (destaque original).

– Maria, ao chegar a casa de Isabel, a saudou e, no mesmo instante, a criancinha que estava no ventre de Isabel, saltou, sendo cheia do Espírito Santo, cumprindo-se, assim, o que fora dito pelo anjo Gabriel a Zacarias. Vemos aqui como Lucas mostra que o homem precisa ser cheio do Espírito Santo para poder realizar a obra de Deus, o ministério determinado pelo Senhor.

– Isabel, então, é cheia do Espírito Santo e exclamou, com grande voz, que Maria era bendita entre as mulheres e bendito era o fruto do seu ventre, sendo, então, Maria chamada de “mãe do Senhor”. Em mais uma passagem, é- nos mostrado que Jesus é o Senhor e não Maria, que seria a mãe do Senhor, uma mulher bendita entre as outras, mas que não seria um ser humano diferente, concebida sem pecado, como querem fazer crer os mariólatras.

– Vemos o cuidado de Deus para com o Seu povo e com aqueles que se dispõem a servi-l’O, como era o caso de Maria. Num momento extremamente delicado daquela jovem que fugia da incompreensão dos seus próprios familiares, era consolada pelo Espírito Santo que, usando da boca de Isabel, confirmava as palavras que haviam sido ditas pelo anjo, a fim de que a fé de Maria não esmorecesse em virtude das dificuldades existentes em cumprir a vontade de Deus, algo que o Senhor continua a realizar até hoje na vida dos Seus servos fiéis.

– Nesta mensagem consoladora, o Espírito Santo, por intermédio de Isabel, fez questão de mostrar que o caminho da fé, da confiança em Deus é o caminho da bem-aventurança, tanto que Maria foi chamada bem- aventurada por ter crido e aquela manifestação sobrenatural confirmava a certeza de que tudo que fora dito seria cumprido. Também seremos bem-aventurados se crermos no Senhor e nas Suas promessas.

– Este episódio, também, mostra-nos, claramente, que a humanidade começa na concepção, é aí que surge o ser humano. Tanto João quanto Jesus não haviam ainda nascido, estavam no ventre de suas respectivas mães, mas o evento mostra, claramente, que havia ali quatro pessoas humanas bem distintas.

– Com efeito, o texto diz que, ao ouvir a saudação de Maria, a criancinha no ventre de Isabel saltou, a provar que Isabel era pessoa distinta da criancinha, que era João.

Como se isto fosse pouco, este salto da criancinha representou que ela foi cheia do Espírito Santo, em virtude da presença de outro ser, este, talvez um embrião ou já um feto, que era Jesus, que estava no ventre de Maria, que é chamada por Isabel, que foi cheia em seguida do Espírito Santo, como mãe do Senhor, a mostrar, também, que distintas pessoas eram Maria, chamada de mãe, e Jesus, chamado de Senhor.

 – Tal episódio, narrado por um médico, mostra, com absoluta clareza, que o ser humano passa a existir a partir da concepção e, como tal, deve ter sua vida protegida desde então, a mostrar como não tem qualquer respaldo bíblico a defesa da prática do aborto.

– Diante das palavras proferidas por Isabel, Maria é reanimada pelo Espírito Santo e também é cheia do Espírito Santo, tanto que proferiu um cântico, conhecido como o “Magnificat”, e, sabemos todos, que estes cânticos nas Escrituras nada mais são que palavras proféticas proferidas sob o impulso do Espírito Santo.

Lucas mostra, assim, que Jesus, ainda um embrião ou um feto, já promovia a unção do Espírito Santo em todos que estavam à Sua volta (Isabel, Maria e o feto João Batista).

– Neste cântico, Maria, onde, uma vez mais, mostra que não é “Nossa Senhora”, mas, sim, a “serva do Senhor”, tanto que diz que sua alma engrandecia ao Senhor e o seu espírito se alegrava em Deus, seu Salvador, em mais uma prova de que não foi concebida sem pecado, já que necessitava de salvação (Lc.1:46,47).

– Como se isso fosse pouco, considera-se uma “serva na sua baixeza“ (Lc.1:48) e reafirma o que já fora dito por Isabel, ou seja, que seria bem-aventurada por ter crido e dado seu “sim” ao Senhor. Maria reconhece que o Poderoso era Deus e que santo era o Seu nome, de modo que também Maria aqui, neste seu cântico, não aceita, em absoluto, ser chamada “Santa Maria, Mãe de Deus”, como fazem os mariólatras.

– Neste cântico, Maria, ainda, mostra qual o significado da obra que Deus estava a realizar, pois afirmou que agia o Senhor com misericórdia, dissipara os soberbos no pensamento de seus corações, depusera dos tronos os poderosos e elevara os humildes, enchendo de bens os famintos e despedindo vazios os ricos. Deus auxiliaria Israel, seu servo, recordando-se da Sua misericórdia, para com Abraão e Sua posteridade para sempre (Lc.1:50-55).

– Jesus é, portanto, apresentado, neste cântico de Maria, como a demonstração da misericórdia divina, como um sinal de elevação da humildade e amparo aos necessitados, sendo a posteridade prometida a Abraão, que faria benditas todas as famílias da Terra (Gn.12:1-3), um conceito que, certamente, Lucas havia aprendido com o apóstolo Paulo (Gl.3:16).

Por este cântico, Jesus é anunciado como sendo Aquele que promoveria a humildade e o amparo aos aflitos e necessitados, como a encarnação da própria misericórdia divina, enfim, como diz Fritz Rienecker, como um médico que viera curar a humanidade.

– Maria, consolada que foi pelo Espírito Santo, foi acolhida na casa de Isabel por três meses, tendo, depois, retornado para a sua casa. Embora Lucas não diga as  circunstâncias em que esta volta se deu, tem-se aqui como certo que, nesse meio tempo, ocorreu o que registra Mateus, tendo José, então, recebido Maria como sua mulher, apesar de estar ela já grávida de três meses, retornando, pois, a Nazaré (Mt.1:18-21).

IV – O NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA  

– Logo após a saída de Maria, Isabel deu à luz o menino. Este fato causou uma repercussão entre os vizinhos e parentes de Isabel, pois ficou bem caracterizado que se tratava de um milagre, já que Isabel, já avançada em idade, era estéril. Como havia dito o anjo, o evento trouxe muita alegria a todos os vizinhos e parentes daquele casal de anciãos.

– Ao oitavo dia, quando da circuncisão do menino, todos o chamavam de Zacarias, que era o nome de seu pai, dentro até da própria circunstância de Zacarias ter ficado mudo quando fora oferecer o incenso no templo, o que levava a considerar que tivesse visto alguma visão no templo.

 Ademais, por ter ficado Zacarias mudo não podendo mais exercer o ministério sacerdotal, a aposição do nome de seu filho como Zacarias representaria a perpetuação do nome do pai no exercício sacerdotal.

– Entretanto, para surpresa de todos, quando foi perguntado a Zacarias como o menino se chamaria, ele escreveu que o nome seria João, nome que nada tinha que ver com as circunstâncias da concepção e nascimento do menino, como era costume se fazer naquele tempo.

Quando isto aconteceu, Zacarias teve a sua fala restaurada, como, aliás, havia sido dito pelo anjo Gabriel, e o velho sacerdote começou a louvar a Deus e foi, também, cheio do Espírito Santo, tendo, então, entoado um outro cântico, conhecido como “Benedictus”. Lucas, mais uma vez, enfatiza a ação do Espírito Santo em toda a obra da redenção.

– Neste cântico, que foi ouvido por todos que tinham vindo acompanhar a circuncisão do menino, o velho sacerdote tornava público o desígnio divino, anunciando que havia chegado o tempo da salvação, a chegada do Messias.

Desde a circuncisão de João Batista, vemos que a vida deste profeta estava vinculada ao anúncio do Salvador, ao anúncio do Cristo, tanto que o cântico que é entoado começa falando da chegada do Cristo, não da chegada do menino, a mostrar como Cristo era superior a João, algo que o próprio João sempre reconheceria durante o seu ministério (Jo.1:20; 3:28-30; At.13:25).

– Neste cântico, realça-se, uma vez mais, o papel da misericórdia de Deus na vinda do Messias, Aquele que viria livrar Israel de seus inimigos, manifestar a misericórdia aos pais e lembrar-se do Seu santo concerto e do juramento que havia jurado a Abraão, a fim de que o povo pudesse servir a Deus sem temor, em santidade e justiça (Lc.1:70-75).

– Mas, além de falar a respeito do Messias, o cântico de Zacarias também fala a respeito de João, chamando-o de profeta do Altíssimo, que iria adiante da face do Senhor para preparar os seus caminhos, confirmando-se, assim, a palavra que já fora proferida pelo anjo Gabriel.

Esta preparação consistiria em dar ao povo de Israel o conhecimento da salvação e a remissão dos seus pecados, pelas entranhas de misericórdia de Deus.

João seria encarregado de alumiar os que estavam assentados em trevas e sombra de morte a fim de dirigir os pés dos israelitas pelo caminho da paz (Lc.1:76-79), o que é confirmado pelos dizeres do apóstolo João em seu evangelho (Jo.1:6-8).

– Lucas, então, mostrando sua ênfase no aspecto humano, termina a narrativa a respeito da infância de João Batista, dizendo que ele crescia e se robustecia em espírito e esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel (Lc.1:80), a indicar que João teve um desenvolvimento normal como o de qualquer criança, ainda que se tenha feito um nazireu e, desde cedo, tivesse um comportamento de eremita, isolando- se da sociedade.

IV – O NASCIMENTO DE JESUS  

– Maria retornou para sua casa, em Nazaré, onde foi recebida por José como mulher. Aguardava o tempo de dar a luz ao menino, mas algo sobreveio que mudou todos os planos daquele casal.

– Sobreveio um decreto da parte de César Augusto, então o imperador romano, mandando que todo mundo se alistasse. Lucas faz questão de dizer que este alistamento se deu quando Cirênio era o presidente da Síria, a província romana a que estava subordinada a Judeia (Lc.2:2). Isto nos mostra a grande preocupação que tinha Lucas de mostrar que estava a relatar fatos históricos, comprovados, não se tratando, portanto, de mito ou lenda.

– A história registra claramente que Cirênio (ou Quirino) foi, sim, presidente da província romana da Síria, mas em momento posterior ao reinado de Herodes, o que serviu de “arma” para aqueles que não creem na Bíblia Sagrada, a fim de mostrar uma “contradição”, mas, um estudo acurado da história nos mostra a precisão de Lucas: “…notemos de início que Lucas afirma ser esse o “primeiro” censo feito sob Quirino (haute apographe prote egeneto).

A menção do “primeiro” pressupõe a existência do “segundo”, algum tempo depois. Portanto, Lucas estava ciente desse segundo censo feito por Quirino, em 7 d.C., a que Josefo faz alusão na passagem acima mencionada. Sabemos disso porque Lucas (que viveu muito mais perto dessa época do que Josefo também menciona Gamaliel, que faz alusão à insurreição de Judas, o Galileu, ”nos dias do recenseamento” (At 5:37).

Os romanos tinham o hábito de realizar um censo de 14 em 14 anos, o que se enquadra no esquema do primeiro censo em 7 a.C. e do segundo, em 7 d.C. Todavia, seria Quirino (chamado Kyrenius pelos gregos, por causa da ausência do “q” no alfabeto atiço, ou talvez porque esse procônsul foi realmente um governador bem-sucedido de Creta e Cyrene, no Egito, cerca de 15 a.C.) na verdade o governador da Síria? O texto lucano diz aqui hegemoneuontos tes Syrias Kyreniou (”enquanto Cirênio estava conduzindo – governava – a Síria”.

Ele não é chamado de Legatus (o título oficial romano para governador de uma região), mas o particípio hegemoneuontos é usado aqui, termo apropriado para um hegemon como Pôncio Pilatos (chamado de procurador, mas não de Legatus). Não se deve dar muito valor ao título oficial.

Mas sabemos que entre 12 e 2 a.C., Quirino era o responsável pela captura sistemática de montanheses rebeldes, nos planaltos de Pisídia (Tenney, Zondervan Pictorial Encyclopedia, 5:6), pelo que era uma personagem militar de grande prestígio, no Oriente Próximo, nos últimos anos do reinado de Herodes, o Grande.

A fim de assegurar eficiência e rapidez, é possível que Augusto tenha colocado Quirino como responsável pela execução do recenseamento, na região da Síria, no período de transição entre o final da administração de Saturnino e o início do governo de Varo, em 7 a.C. Certamente, foi por causa do seu modo eficiente de executar o censo de 7 a.C. que o imperador o colocou como responsável pelo de 7 d.C.

Quanto à falta de referências seculares a um recenseamento geral do Império Romano nessa época, não há problema algum. Kingsley Davis (Encyclopaedia Britannica, 14th ed., 5:168) declara:

 “A cada cinco anos, os romanos contavam seus cidadãos e propriedades, a fim de determinar seu potencial. Esse costume estendeu-se por todo o império romano em 5 a.C.”.…” (ARCHER, Gleason. Enciclopédia de Temas Bíblicos, pp.309-10 apud Descontradizendo contradições bíblicas. Disponível em: https://www.facebook.com/descontradizendocontradicoes/posts/153928954756424 Acesso em 16 fev. 2015).

– Diante deste decreto do imperador romano, José e Maria tiveram de sair de Nazaré para irem até Belém, pois ambos eram da casa de Davi e deveriam se alistar na cidade de sua família. Vemos aqui que a concepção sobrenatural, a circunstância de Jesus ser o Filho de Deus, o Santo de Deus, não impediu que tivessem seus pais de, como todo e qualquer súdito do Império Romano, ter de se deslocar para Belém, a fim de que cumprisse a ordem imperial.

 Vemos como o evangelista mostra a submissão de Cristo a todos os parâmetros humanos, inclusive os políticos.

– Maria foi, então, para Belém e lá, segundo nos registra Lucas, acabou por dar à luz o menino, sendo interessante observar que Lucas não faz qualquer alusão à profecia de Miqueias a este respeito, a indicar o prisma universal que estava dando ao seu evangelho.

– Lucas, ainda, deixa registrado que a criança nasceu em uma manjedoura, ou seja, num estábulo, porque o casal não encontrou lugar para eles em qualquer estalagem de Belém (Lc.2:7).

– Registra-se, assim, a um só tempo, a humildade proeminente na figura de Jesus, que é mostrado como sendo uma criança indefesa, que nasce e precisa ser envolta em panos, mas, muito mais do que isto, uma criança totalmente despojada de realeza ou de qualquer privilégio.

Embora fosse o Santo de Deus, o Filho de Deus, nascia em uma manjedoura, pois seus pais não tinham sequer conseguido um lugar na estalagem para se hospedarem.

– Esta narrativa de Lucas mostra bem outro conceito que era muito caro ao apóstolo Paulo, qual seja, o da “kenosis”, ou seja, do “esvaziamento” total que Jesus fez para vir ao mundo, deixando não só a Sua glória divina, mas, também, abrindo mão de toda e qualquer vantagem dentro dos parâmetros humanos, sendo um servo que Se humilhou até a morte e morte de cruz (Fp.2:5-8).

Sendo o Senhor, também vinha ao mundo “na baixeza de servo”, para aqui nos utilizarmos da expressão que Maria usara no seu cântico.

– Jesus era Aquele que viera para servir, não para ser servido e, já no Seu nascimento, demonstra todo este despojamento, toda este desapego, que deve nos servir de inspiração, máxime nos dias em que vivemos, onde campeiam o individualismo, o egoísmo e o triunfalismo.

– Jesus veio para a dissipação dos soberbos no pensamento de seus corações (Lc.2:51) e começava, desde o nascimento, a ter um viver humilde, a fim de poder ensinar aos Seus discípulos, no futuro, a respeito da humildade. No evangelho de Lucas, sempre temos o relato de um Cristo que começava fazendo para só depois ensinar (At.1:1).

– Dentro ainda desta noção de humilhação e de elevação dos humildes (Lc.2:52), será aos pastores de Belém que será dada a notícia do nascimento de Jesus. Ora, sabemos todos, que a função de pastores era das mais humildes exercidas no meio do povo judeu.

Os pastores eram, via de regra, os servos mais simples e humildes na sociedade judaica, como podemos observar no próprio fato de Davi, que era o pastor das ovelhas de seu pai (I Sm.16:11; 17:14,15), precisamente por ser o menor, tanto que nem foi chamado para o banquete com o profeta e juiz Samuel.

– Mas é a estes pastores, que estavam no campo e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite, que vem o anjo do Senhor para lhes trazer a notícia da chegada do Messias. Jesus era Aquele que elevaria os humildes, que traria uma total inversão nos valores então seguidos não só por Israel mas por todo o mundo.

O Filho de Deus, que nascia em Belém, por causa do decreto do imperador romano; o Filho de Deus que não tinha sequer uma estalagem para nascer e que nascera entre os animais em um estábulo; o Filho de Deus cujo nascimento era revelado à classe social mais desprezada da sociedade judaica, os pastores.

– Jesus mostra-Se, desde o Seu nascimento, como um homem simples, despojado, desapegado, sem qualquer elemento de aparência que pudesse atrair os homens de seu tempo, dentro dos parâmetros socialmente vigentes.

É alguém humilde que Se volta para os humildes, é alguém que será caracterizado pela simplicidade, outra marca do ensino paulino que fora aprendida por Lucas. O apóstolo temia que os crentes perdessem esta simplicidade que havia em Cristo e, por isso, se tornassem presa fácil de Satanás (II Co.11:3). Também não podemos deixar de considerar esta simplicidade que há em Cristo, que nos é mostrada desde o momento mesmo de Seu nascimento.

– O anjo do Senhor manifesta-se em todo o resplendor e, ante a reação temerosa dos pastores, fala para que eles não temessem, pois ele ali anunciava novas de grande alegria que seria para todo o povo, pois havia se cumprido a promessa messiânica e, na cidade de Davi, havia nascido o Salvador, que era Cristo, o Senhor e o sinal deste nascimento era de que Ele seria encontrado como um menino envolto em panos, deitado numa manjedoura (Lc.2:9-12).

– Chama-nos a atenção aqui a fé daqueles pastores. Todos esperavam o Messias, era a grande esperança que mantinha vivo o povo judeu, mas, apesar do resplendor e da visão sobrenatural, poderia vir o Messias em Belém e ser um menino envolto em panos e numa manjedoura?

Que quadro completamente adverso às figuras alimentadas e acalentadas pelos judeus ao longo dos séculos a respeito do Messias, um guerreiro vitorioso que seria tão vencedor quanto Davi e que traria a libertação de Israel, estabelecendo um reino próspero e que dominaria todo o mundo.

– No entanto, os pastores não duvidaram da mensagem que lhes foi dada e que, pela lógica humana, não faziam qualquer sentido. Prontamente, diante da notícia dada pelo anjo, resolveram ir até Belém.

– Antes de eles irem, no entanto, uma multidão dos exércitos celestiais surgiu, louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens”. A criança estava envolta em panos, deitada numa manjedoura, mas não deixava de ser Deus e, por isso, era glorificada nas alturas celestiais.

Sua vinda significava paz na Terra e boa vontade para com os homens. Deus dava Seu passo de misericórdia em direção aos homens.

– É importante aqui verificar que os anjos disseram “boa vontade para com os homens” e não “homens de boa vontade”, como se costuma dizer por aí. Não há qualquer homem de boa vontade, a boa vontade é de Deus em relação aos homens, todos eles depravados por causa do pecado.

– Findo aquele “concerto celestial”, os pastores resolveram ir até Belém e lá chegando, acharam Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Observemos que é assim que Lucas se refere a Jesus recém-nascido: “um menino deitado na manjedoura”. Por isso, temos aqui o evangelho que fala da humanidade de Jesus, que é mostrada a todo momento em toda a sua plenitude.

– Aqueles pastores, após terem visto a cena que lhes fora descrita pelo anjo, não se deixaram intimidar pela simplicidade, pela imensa humildade que viram, mas, de imediato, começaram a divulgar a palavra acerca do menino. Passaram a dizer que o Messias tinha nascido, que a promessa messiânica havia se cumprido e que o menino envolto em panos que haviam visto numa manjedoura era o Cristo, o Messias prometido.

Que fé tinham aqueles pastores! Hoje, muitas vezes, mesmo sabendo que Jesus está à direita do Pai, que venceu o pecado e a morte, temos receio de dizer que Jesus é o Cristo, o Salvador, mas aqueles pastores não tinham qualquer receio de dizer que o Messias já tinha chegado, mesmo dentro de um quadro totalmente contrário ao de qualquer lógica humana, a de qualquer interpretação que era dada pelos escribas e doutores da lei.

Aprendamos com os pastores, amados irmãos, e jamais deixemos de levar a boa notícia da salvação!

– Sendo homens cheios de fé, os pastores, mesmo diante daquele cenário tão pobre, tão simples, voltaram louvando e glorificando a Deus pelo que tinham visto e ouvido, crendo por terem contemplado o sinal que lhes havia sido indicado pelo anjo, ainda que o cenário não fizesse o menor sentido do ponto-de- vista das tradições religiosas e da lógica humana.

– Maria, diz Lucas, guardou estas coisas em seu coração, já que isto servia de mais uma confirmação de que dera à luz o Messias, apesar de toda a “mudança de planos” em virtude do recenseamento determinado por César Augusto e, mais ainda, de circunstâncias que pareciam desmentir cabalmente o futuro glorioso do menino como predito pelo anjo Gabriel.

No entanto, ante o que falaram os pastores, a respeito da visão celestial, Maria era, uma vez mais, renovada em sua fé, para prosseguir o cumprimento de seu ministério, de ser a mãe do Salvador, o mesmo servindo para José.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

Site: http://portalebd.org.br/files/2T2015_L2_caramuru.pdf

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