LIÇÃO Nº 2 – O PADRÃO DA LEI MORAL
Confira também leitura Diária – 1º Trim. 2015 – Lição 2: O padrão da lei moral
Comentada por: Pr. José Serafim de Oliveira
Os preceitos morais da lei expressam o caráter divino que deve ser seguido pelo homem.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, veremos hoje um quadro panorâmico das “dez palavras”.
– Os preceitos morais da lei expressam o caráter divino que deve ser seguido pelo homem.
I – A UNIDADE DA LEI
– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, após termos visto as circunstâncias em que a lei de Deus foi dada ao povo de Israel no monte Sinai, faremos um estudo panorâmico dos dez mandamentos, que serão analisados um a um nas próximas lições.
– Como dissemos ao término da lição anterior, a lei estabelece um padrão moral, que, por ter origem em Deus, é perene, imutável, como, aliás, afirma o próprio subtítulo deste trimestre que fala em “valores divinos para uma sociedade em constante mudança”.
– A fim de iniciarmos o estudo deste “padrão da lei moral”, torna-se absolutamente necessário lembrarmos que a lei de Deus que foi dada ao povo de Israel no monte Sinai é uma unidade, é um conjunto completo, tanto que Tiago, o irmão do Senhor, em sua epístola, bem explica que “…qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos” (Tg.2:10).
– Há um falso ensino de que a lei dada por Deus é de duas naturezas: a “lei moral” e a “lei cerimonial”. Segundo este pensamento, defendido pelos adventistas do sétimo dia, teríamos os “dez mandamentos”, que seria a “lei moral”, a “lei de Deus”, enquanto que as demais ordenanças seriam a “lei cerimonial”, que chamam de “lei de Moisés”, que teria sido escrita por Moisés.
Tal pensamento tem como finalidade tentar sustentar a “guarda do sábado” por parte dos cristãos, pois se estaria diante de uma “lei moral”, enquanto que todas as demais ordenanças da lei seriam apenas “lei cerimonial”, que teriam sido “cravadas na cruz”.
– Tal pensamento, entretanto, não tem qualquer fundamentação bíblica. Não há, nas Escrituras, qualquer distinção entre “lei de Deus” e “lei de Moisés”. Como bem explana o nosso comentarista, o pastor Esequias Soares da Silva: “…A Bíblia afirma que existe só uma lei. Os judeus interpretam assim: um só Deus, um só legislador, portanto, uma só lei.
O que existe, na verdade são preceitos morais, preceitos cerimoniais e preceitos civis. É chamada de Lei de Deus, porque teve sua origem Nele. Lei de Moisés porque foi Moisés o legislador que Deus escolheu para promulgá-la no Sinai.
Os preceitos, tanto do Decálogo como os fora dele, são chamados alternadamente de Lei de Deus ou do Senhor e Lei de Moisés (Lc 2.22,23 e Hb 10.28). Não são duas ou três leis, mas uma só lei apresentada por esses nomes (Ne 8.1,2,8,18).…” (O crente deve guardar o sábado? Disponível em: http://apologiadosfieis.blogspot.com.br/2014/10/o-crente-deve-guardar-o- sabado-por.html Acesso em 10 nov. 2014).
– “…todas as observâncias judaicas foram dadas por Deus, e por isso, todas elas foram recebidas com igual reverência, como um único conjunto coeso. Isso é testificado no Êxodo: “O Senhor disse a Moisés: ‘Sobe para mim no monte.
Ficarás ali para que eu te dê as tábuas de pedra [10 mandamentos], a lei [Torah escrita] e as ordenações [Torah oral] que escrevi para sua instrução'” (Ex 24,12). A distinção que os sabatistas forçam entre o Decálogo (os Dez Mandamentos) e a Torah (Lei de Moisés), não é fruto do pensamento judaico comum: “O Talmude, a propósito de um ponto em discussão, lembra: ‘A lei mandava recitar todos os dias os dez mandamentos.
Por que não os recitam mais, hoje? Por causa das maledicências dos minim [os dissidentes]; para que estes não possam dizer: ‘Estes somente foram dados a Moisés, no Sinal’ (Talmud Jer. Berakot 1 ,3c). Segundo estes minim, Deus só pronunciou os dez mandamentos (Dt 5,22); as outras leis são atribuídas a Moisés.
A recitação diária do decálogo, na oração comunitária, favorecia indiretamente esta ideia de que provocava certo desprezo pelas outras leis. A fim de evitar este mal-estar, o judaísmo ortodoxo – talvez nos círculos de Iabne [ou Jâmnia], no fim do século 1 d.C. -suprimiu do serviço sinagogal cotidiano a recitação do decálogo” (LOPES, Félix Garcia. O Decálogo. São Paulo: Paulus, 1995. p. 35).…” (NASCIMENTO, Fernando. Sábado – lei moral e cerimonial. Disponível em: http://oswaldo- superhancpetram.blogspot.com.br/2010/12/origem-das-inverdades-sobre-o-natal.html Acesso em 10 nov. 222014).
– Não resta, pois, dúvida alguma que a lei é una, não comporta qualquer divisão de natureza, pois toda ela proveio de Deus. Sem fazer qualquer distinção, o apóstolo Paulo diz que “…a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rm.7:12), confirmando a sua origem divina, pois só Deus é intrinsecamente santo (Is.6:3), justo (Ex.9:27) e bom (Mt.19:17).
OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos aqui parágrafo do Catecismo da Igreja Romana: “O Decálogo forma um todo inseparável. Cada “palavra” remete a cada uma das outras e a todas; elas se condicionam 2 reciprocamente.
As duas tábuas se esclarecem mutuamente, formam uma unidade orgânica. Transgredir um mandamento, é infringir todos os outros. Não se pode honrar os outros sem bendizer a Deus, seu criador. Não se pode adorar a Deus sem amar a todos os homens, suas criaturas. O Decálogo unifica a vida teologal e a vida social do homem” (§ 2069 CIC).
– Conquanto a lei seja um todo único, é inegável que contém preceitos de diversa natureza, que os estudiosos da Bíblia costumam classificar em “preceitos morais”, “preceitos civis” e “preceitos cerimoniais”. Como ensina o pastor Esequias Soares da Silva: “…Há princípios que são imutáveis e universais.
Não há para ele a questão de transculturação. Onde quer que o Evangelho for pregado, esses princípios estão presentes e os chamamos de preceitos morais ou éticos. Os dois maiores mandamentos são preceitos morais (Mc 12.29-31).…” (Apologia – verdades e mentiras sobre a questão do sábado. Disponível em: http://profetadoevangelho.blogspot.com.br/2011/09/apologia-verdades-e-mentiras-sobre.html Acesso em 10 nov. 2014).
– Como bem explica Frank Brito, “…Leis morais vigorariam e seriam obedecidas mesmo se não houvesse queda ou pecado. Ou seja, fazem parte da ordem natural da criação. Por outro lado, leis civis lidam com o problema do pecado, pressupondo que há queda, que o pecado entrou no mundo. Se não houvesse queda, então, haveriam leis morais, mas não haveriam leis civis. (…)Se não houvesse queda, não haveria necessidade de expiação.
E, não havendo necessidade de expiação, não haveria necessidade de sacrifícios de animais prefigurando o sacrifício expiatório de Cristo. Sendo assim, esta lei também pressupõe que há queda, que o pecado entrou no mundo. Se não houvesse queda, haveriam leis morais, mas não haveriam as leis cerimoniais, que prefiguravam a obra redentora de Cristo.…” (A queda de Adão e os três aspectos da lei. Disponível em: http://resistireconstruir.wordpress.com/2014/04/20/o-pecado-e-os-tres-aspectos-da-lei/ Acesso em 10 nov. 2014).
– Deus é o Senhor de todas as coisas, é o Soberano, a quem o ser humano deve obedecer, já que se trata de criatura divina. É Deus quem estabelece a ordem das coisas, quem diz o que é o certo e o errado e, portanto, toda a lei é expressão da vontade divina, tem uma unidade, pois Deus é uno, mas, como afirma Frank Brito, há preceitos que foram estabelecidos por Deus no próprio ato da criação humana, enquanto que há preceitos que foram estabelecidas por causa do pecado.
– Toda a lei foi dada por Deus, mas os preceitos constantes da lei têm diferentes aplicações. Alguns preceitos revelam a própria ordem de criação, são valores imutáveis, que devem ser seguidos a qualquer tempo pelo ser humano. Outros preceitos, porém, dizem respeito a circunstâncias históricas, a momentos da própria revelação progressiva de Deus, que se referem ao próprio desenvolvimento do plano de redenção da humanidade.
– A “lei moral”, como ensina o Catecismo Maior de Westminster, revelou-se desde o início da criação, “in verbis”: “A regra de obediência revelada a Adão no estado de inocência, e a todo o gênero humano nele, além do mandamento especial de não comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, foi a lei moral Gen. 1:27; Rom. 10:5, e 2:14:15; Gen. 2:17).
– Como bem afirma o Catecismo da Igreja Romana: “A Lei Antiga é o primeiro estágio da Lei revelação. Suas prescrições morais estão resumidas nos Dez Mandamentos. Os preceitos do Decálogo assentam as bases da vocação do homem, feito à imagem de Deus; proíbem aquilo que é contrário ao amor de Deus e do próximo e prescrevem o que lhe é essencial.
O Decálogo é uma luz oferecida à consciência de todo homem, para lhe manifestar o chamamento e os caminhos de Deus e protegê-lo do mal: Deus escreveu nas tábuas da lei aquilo que os homens não conseguiam ler em seus corações” (§ 1962 CIC).
– Existem, portanto, preceitos da lei que transcendem as dispensações, as diferentes revelações específicas de Deus e é isto que o próprio Jesus nos ensina no sermão do monte, quando afirma que veio cumprir a lei (Mt.5:17) e que a justiça de Seus discípulos devem ser superiores aos dos escribas e fariseus, sem o que não entraremos no reino dos céus (Mt.5:20).
– Por ser a expressão da vontade de Deus, estes preceitos morais devem ser seguidos, em muito maior profundidade, pelos discípulos de Cristo Jesus e reside aí a necessidade de conhecermos quais são tais preceitos e os observarmos.
OBS: Como diz o Catecismo Maior de Westminster: “…95. De que utilidade é a lei moral a todos os homens? A lei moral é de utilidade a todos os homens, para os instruir sobre a natureza e vontade de Deus e sobre os seus deveres para com Ele, obrigando-os, a andar conforme a essa vontade; para os convencer de que são incapazes de a guardar e do estado poluto e pecaminoso da sua natureza, corações e vidas; para os humilhar, fazendo-os sentir o seu pecado e miséria, e assim ajudando-os a ver melhor como precisam de Cristo e da perfeição da sua obediência.Lev. 20:7-8; Rom. 7:12; Tiago 2:10; Miq. 6:8; Sal. 19:11-12; Rom. 3:9, 20, 23 e 7:7, 9, 13; Gal. 3:21-22; Rom. 10:4. 96.
De que utilidade especial é a lei moral, aos homens não regenerados? A lei moral é de utilidade aos homens não regenerados para despertar as suas consciências a fim de fugirem da ira vindoura e forçá-los a recorrer a Cristo; ou para deixá-los inescusáveis e sob a maldição do pecado, se continuarem nesse estado e caminho.I Tim. 1:9-10; Gal. 3:10, 24; 1:20, 97.
De que utilidade especial é a lei moral aos regenerados? Embora os que são regenerados e crentes em Cristo sejam libertados da lei moral, como pacto de obras, de modo que nem. são justificado, nem condenados por ela; contudo, além da utilidade geral desta lei comum a eles e a todos os homens é ela de utilidade especial para lhes mostrar quanto devem a Cristo por cumpri-la e sofrer a maldição dela, em lugar e para bem deles, e assim provocá-los a uma gratidão maior e a manifestar esta gratidão por maior cuidado da sua parte em conformarem-se a esta lei, como regra de sua obediência. Rom. 6:14 e 7:4, 6; Gal. 4:4-5; Rom. 3:20 e .8:1, 34 e 7:24-25; Gal. 3:13-14; Rom. 8:3-4; II Cor. 5:21; Col. 1:12-14; Rom. 7:22 e 12:2; Tito 2:11-14.…”
– “…As ‘dez palavras’ são pronunciadas por Deus no contexto de uma teofania (‘Sobre a montanha, no meio do fogo, o Senhor vos falou face a face’: Dt 5,4). Pertencem à revelação que Deus faz de Si mesmo e de Sua glória. O dom dos mandamentos é dom do próprio Deus e de Sua santa vontade. Ao dar a conhecer as suas vontades, Deus se revela a seu povo…” (§2059 CIC).
“…O ‘terceiro uso da lei’ significa que os cristãos devem estudar a lei de modo cuidadoso, não somente como uma palavra de condenação que continuamente os impele para a graça de Deus, mas também como o fundamento para determinarem como devem ser as suas ações.
Nesse estudo e interpretação da lei, três princípios fundamentais devem ser conservados em mente:
(1) Deus é espírito e por isso os Seus mandamentos dizem respeito tanto às ações externas quanto aos sentimentos íntimos do coração.
Isso é verdade quanto a toda a lei e, portanto, o que Cristo faz no Sermão da Montanha é simplesmente explicitar o que já estava implícito, e não promulgar uma nova lei. A lei de Cristo não é outra senão a lei de Moisés (CALVINO, João. Institutas 2.8.6-7).
(2) Todo preceito é ao mesmo tempo positivo e negativo, pois toda proibição implica em uma ordem e vice-versa (Institutas 2.8.8-10).
Assim, nada é deixado de fora da lei de Deus.
(3) O fato de que o Decálogo foi escrito em duas tábuas mostra que a devoção e a justiça devem caminhar de mãos dadas (Institutas 2.8.11).
A primeira tábua trata dos deveres para com Deus; a segunda diz respeito às relações com o próximo. Assim, o fundamento da justiça é o serviço a Deus e este é impossível sem um relacionamento justo com as outras pessoas.
Portanto, existe uma continuidade fundamental entre o Antigo Testamento e o Novo (Institutas 2.10; 3.17). Essencialmente, essa continuidade tem a ver com o fato de que a vontade de Deus revelada no Antigo Testamento permanece eternamente a mesma, com o fato adicional de que o âmago do Antigo Testamento foi a promessa de Cristo, do qual o Novo Testamento fala como um fato consumado.…” (MATOS, Alderi de Souza. Os reformadores e a lei – valor, semelhanças e diferenças. Disponível em: http://www.mackenzie.com.br/6968.html Acesso em 10 nov. 2014).
– “…Não se trata, portanto, de abolir, mas sim de cumprir, e este cumprimento exige mais, e não menos, justiça, como diz Jesus imediatamente a seguir(…). Trata-se, então, apenas de um reforçado rigor de obediência à lei? E se não é assim, em que consiste esta maior justiça?
Se no princípio da ‘releitura’, — da nova leitura de partes essenciais da Torá —, a importância é colocada na fidelidade exterior, na continuidade ininterrupta, surpreende, na continuação da escuta, que Jesus apresente a Torá de Moisés e a Torá do Messias numa relação de antítese: foi dito aos antigos: ‘Eu, porém, digo-vos’. O Eu de Jesus avança para uma dignidade que nenhum doutor da lei podia permitir-se.(…).
Com isto não se visa naturalmente uma qualidade retórica do discurso de Jesus, mas sim à clara pretensão ao nível do autor da lei — ao nível de Deus…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré: primeira parte – do batismo no Jordão à Transfiguração, p.101).
– “…Jesus não diz nada de inaudito e de totalmente novo quando contrapõe às normas casuísticas desenvolvidas praticamente na Torá a pura vontade de Deus, como a ‘maior justiça’ que devia esperar-se dos filhos de Deus (Mt.5:20).
Ele assume a dinâmica interior da Torá desenvolvida pelos profetas e, como o eleito, como o profeta que está com Deus mesmo face a face (Dt.18:15), dá –lhe a sua forma radical. Assim, compreende-se por si mesmo que nestas palavras não seja formulada uma ordem social, mas sim apresentadas às ordens sociais os seus critérios fundamentais, que não podem todavia se concretizar como tais de modo puro em nenhuma ordem social.
A dinamização das ordens jurídicas e sociais concretas, que Jesus deste modo realiza, a sua dedução a partir diretamente do domínio divino e a transmissão da responsabilidade para uma razão que se torna visível correspondem à íntima estrutura da Torá.
Nas antíteses do Sermão da Montanha, Jesus não Se situa diante de nós nem como rebelde nem como liberal, mas como o intérprete profético da Torá, que nada anula, mas cumpre, e cumpre precisamente na medida em que indica à razão que atua historicamente o seu lugar de responsabilidade.…” (BENTO XVI. op.cit., pp.119-20).
– Eis a razão pela qual todo discípulo de Cristo deve, sim, estudar e observar os dez mandamentos, porquanto eles expressam a vontade do Senhor e estamos neste mundo, a exemplo de Cristo, para fazer a vontade de Deus. OBS:
II – JESUS VALORIZOU OS DEZ MANDAMENTOS
– Foi neste sentido que Jesus, ao pronunciar o sermão do monte (Mt.5-7), expôs a Sua doutrina e, de forma admirável, reafirmou a ética estabelecida no monte Sinai, não só confirmando o teor dos dez mandamentos, como, dentro da progressiva revelação de Deus aos homens, que encontrava ali, em Cristo, seu máximo esplendor, sua plenitude (Hb.1:1-3; Jo.14:8,9), deu-nos a verdadeira noção da profundidade e do alcance das normas éticas exigidas por Deus ao homem. Por isso Jesus pôde dizer que veio não para abrogar a lei mas para cumpri-la (Mt.5:17).
OBS: “…Seria muitíssimo proveitoso que os estudantes da Escritura pudessem compreender que a lei ou vontade de Deus para o homem é inerente à criação e não às alianças. As expectativas do Criador para sua criatura, o homem, estão postas desde Adão.
Os dois maiores mandamentos (Deuteronômio 6:5; Levítico 19:18; Marcos 12:28-31) não tiveram sua primeira aplicação quando foram incluídos na aliança feita com Israel no Sinai, mas foram nitidamente aplicados ao comportamento do homem para com Deus e os outros, desde a introdução do homem (Gênesis 4:1-12; 6:5,11-13; 18:20; Judas 7).
Um homem não está debaixo da lei de Deus por estar sob uma aliança (nova ou velha). Ele está debaixo da lei de Deus porque é um homem. Pode-se escapar da lei de Deus somente renunciando à raça humana. As renúncias tem sido frequentemente solicitadas, porém não há evidência de que alguma tenha sido aceita.
O homem, sob a aliança, faz uma promessa de ser fiel a Deus e seus mandamentos e recebe, por sua vez, as promessas e as bênçãos do Senhor, mas seja o que for que ele fizer, não há escapatória da lei divina. Mas por que, se pergunta, num sermão sobre “o evangelho do reino” Jesus exorta seus ouvintes para que cumpram, cuidadosamente, até o menor mandamento da lei de Moisés?
A resposta é: porque sua assistência era judaica e estava, como Jesus disse, sob a aliança. Qualquer atitude que eles tivessem para com a lei de Deus, conforme expressada na aliança judaica, eles iam trazer para o reino. A aliança não é tão importante como o princípio da confiança absoluta e obediência a Deus em todas as coisas.
Qualquer um, disposto a agir irresponsavelmente com o menor mandamento de Deus, seja qual for a aliança, é indigno do reino do céu. Uma nova aliança viria, mas o princípio permaneceria o mesmo. Algumas ordenações de Deus são manifestamente maiores do que outras, porque elas assentam mais perto do coração da divina justiça (Marcos 12:28-33; Mateus 23:23), mas nenhum mandamento de Deus é sem imenso significado, uma vez que o sopro do Todo-Poderoso está nele (2 Timóteo 3:16).
Aquele que repreendeu os fariseus por engolirem camelos não os encorajou a deglutirem mosquitos com prazer (Mateus 23:23). Tiago procurou fazer-nos entender que os mandamentos de Deus são indivisíveis, desde que ele está por trás deles todos (Tiago 2:10-11).
Não é o caso de quebrar só um mandamento, pequeno ou grande. É o caso de desafiar a Deus e ser infiel a ele. A obediência não é limitada, por princípio, a sistemas de justificação pela lei (Gálatas 3:10). É, também, uma expressão de fé (Tiago 2:14-26) e amor (João 14:15,23-24; 1 João 5:3) no sistema do evangelho da graça e da justificação pela fé (Mateus 7:21). Como tal, ela tem aplicação à salvação em cada época (Hebreus 11).
O cidadão do reino, como os fiéis de todas as eras, não está procurando justificar a si mesmo por sua zelosa obediência a todos os mandamentos de Deus, mas a retribuir o amor que foi derramado sobre ele tão imerecidamente.
A lei de Deus é uma adaga no coração do arrogante e do que se considera justo, mas para o cristão ela é o padrão da conduta justa à qual, pela graça de Deus, ele aspira (Romanos 12:1-2). Deus pretende, não somente, redimir seu povo, mas transformá-lo também (Romanos 8:29; 2 Coríntios 3:18).”. . . será considerado mínimo no reino dos céus” (Mateus 5:19b).
Muitos comentadores, até os responsáveis, têm procurado retirar a força da advertência de Jesus, sugerindo que aqueles que tratam levianamente os mandamentos menores de Deus não sofrerão perda séria.
Admitidos no estádio do céu, eles simplesmente terão de sentar-se nas galerias, em vez de nos camarotes! Nós dissentimos vigorosamente deste ponto de vista porque
(1) o resto do sermão não concorda com ele (Mateus 7:21,24-27) e
(2) a expressão “grande” ou “maior no reino” é usada por Jesus, na outras passagens em Mateus, para se referir a cada cidadão no reino (Mateus 18:1-4; 20:26-28), não admitindo nenhum lugar para “o menor.“
Cuidado com aqueles mestres que pensam que sabem quais dos mandamentos de Deus são importantes e quais não são!…” (EARNHART. Paul. O sermão da montanha: extraindo os tesouros das Escrituras, exposições práticas. http://estudosdabiblia.net/sermon.htm).
– A ética constante dos “dez mandamentos” é o próprio caráter divino que Deus quer que seja assumido pelo homem que aceita servi-l’O. É a marca genética , hereditária, que assume o filho de Deus, aquele que nascer de novo, da água e do espírito (Jo.3:3,5,8), que for gerado pela Palavra de Deus(I Pe.1:23).
Este novo nascimento, esta geração pela Palavra faz com que o homem passe a ter princípios, valores e ações inteiramente novos (II Co.5:17), de forma que passa a produzir o fruto do Espírito (Gl.5:22), fruto este contra o qual não há lei (Gl.5:23). O cristão, portanto, não cumpre a lei para ser salvo, como defendiam os judaizantes nos tempos apostólicos, hoje representados pelos legalistas e fariseus hodiernos (alguns assumidos e organizados como, v.g., os adventistas do sétimo dia; outros enrustidos e infiltrados em nosso meio, inclusive na liderança) mas, bem ao contrário, por serem salvos, novamente nascidos, gerados pela Palavra produzem um fruto que é plenamente compatível com a ética que Deus revelou, através de Moisés, no monte Sinai e que foi reafirmada, com todo esplendor e profundidade, por Jesus no sermão do monte.
OBS: ” …03- O Espírito por trás da letra ou da lei de Deus é amor e perdão. Ao longo do tempo pequenas leis foram adicionadas aos mandamentos do Senhor e isso vinha prejudicando o povo de Deus. Entendemos que hoje muitos pregadores e instituições continuam impondo esses adicionais aos mandamentos do Senhor.
São regrinhas que vão desde a maneira certa de pentear os cabelos, até à forma de fazer as bainhas das calças dos homens. São regras que não falam de amor e perdão mas de usos e costumes.04 – Ao encontrar uma pessoa que é conhecedora da palavra e não exerce essa palavra nós só temos que entender que são fariseus e escribas modernos.
A justiça de Deus cairá sobre eles e não há espaço no Reino de Deus para esse tipo de comportamento e pessoa. V. 20 (MOTA, Rev. Ary Sérgio Abreu MOTA. Uma janela para o sermão do monte. http://www.ejesus.com.br/estudos/2000-01/uma_janela_para_o_sermao_do_monte.htm).
– Os “dez mandamentos” contêm duas partes bem nítidas (daí porque até serem duas as tábuas da lei – Ex.22:15,16): cinco mandamentos relacionados à relação do homem para com Deus e cinco mandamentos relacionados da relação do homem para com o seu semelhante. Daí porque Jesus ter sintetizado a lei em apenas dois mandamentos, a saber:
“Amar a Deus sobre todas as coisas” e “amar ao próximo como a ti mesmo” (Mc.12:28-34), ensinamento, aliás, que repetia pensamentos exarados pelo rabino Hilel que, duas gerações antes de Jesus aparecer, teria dito que a essência da Torah era “aquilo que é execrável para ti não o farás a teu semelhante. O resto [da Torah] é somente comentário” (apud AUSUBEL Nathan. A JUDAICA, v.6, p.706).
OBS: “…A importância dos Dez Mandamentos não se resume unicamente no seu significado, mas ao fato de que constituem exemplos clássicos para todas as demais leis. Por sua divisão em duas tábuas de cinco fundamentos cada uma, temos as categorias principais desses fundamentos: os primeiros cinco são leis do homem em relação a Deus; os outro cinco, do homem para com os seus semelhantes.
A primeira tábua inicia-se com o preceito de crença no Eterno Deus, e os mandamentos se baseiam no amor a Ele, o que é a pedra fundamental do judaísmo. A segunda tábua termina com as palavras ‘de teu próximo’, e todos os preceitos que constam nela têm por base o amor aos nossos semelhantes. O amor a Deus, quando é de todo o coração, conduz inevitavelmente ao amor para com o próximo, porque este foi criado à Sua imagem….” ( MELAMED, Meir Matzliah, explic. e com.). A Lei de Moisés : Torá, nova edição, com. a Ex. 20:17, p.215-6)
– Os cinco mandamentos referentes à relação entre Deus e Israel são os seguintes:
- a) não terás outros deuses diante de mim
- b) não farás para ti imagem de escultura nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra; não te encurvarás a elas nem as servirás
- c) não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão
- d) lembra-te do dia de sábado para o santificar; seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra
- e) honra a teu pai e a tua mãe para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.
– Os cinco mandamentos referentes à relação entre os israelitas e os seus semelhantes são os seguintes:
- a) não matarás
- b) não adulterarás
- c) não furtarás
- d) não dirás falso testemunho contra o teu próximo
- e) não cobiçarás a casa do teu próximo, a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.
– Como se pode perceber, os primeiros cinco mandamentos estabelecem o relacionamento entre Deus e Israel. São mandamentos que dizem respeito à adoração exclusiva de Israel a Deus, adoração esta que era em espírito e em verdade, sem qualquer utilização de imagens de escultura, como costumavam fazer os demais povos, numa atitude que representava um aviltamento da divindade (Cf. Rm.1:21-23), uma adoração reverente (daí não se poder usar o nome de Deus em vão), bem como uma adoração exteriorizada mediante o sinal do descanso sabático, uma nota distintiva entre Israel e os demais povos.
Por fim, uma adoração reconhecedora da soberania e da criação divina da própria nação, mediante o respeito aos pais, como prova e exigência para a manutenção da geração na Terra Prometida.
– Já os outros cinco mandamentos dizem respeito ao relacionamento entre o israelita e seu semelhante, fosse ele israelita ou não, um elemento que denotaria o próprio papel sacerdotal de Israel para com os demais povos e de cada indivíduo com relação ao seu próximo.
Deste modo, o israelita deveria primar pelo respeito à vida do seu semelhante, pelo respeito ao casamento e às famílias constituídas com base neste modo divinamente criado para a perpetuação da espécie e para a realização do ser humano, pelo respeito à propriedade, bem como pela verdade nos relacionamentos e pela solidariedade fraterna, sem a cobiça do alheio.
Eram estes os valores que deveriam reinar entre os indivíduos, que, assim, externariam o sentimento de Deus para com cada um dos seres humanos.
– É, sem dúvida, a pureza e sublimidade desta ética divina que fez o grande diferencial entre a religião de Israel e a dos demais povos, que, não raro, eram fonte de discórdia e de verdadeiras tragédias morais e sociais.
Não é sem razão, portanto, que, até hoje, os judeus se orgulhem da qualidade ética dos seus princípios religiosos, visto que, à evidência, sua ética é sobre-humana e representa o propósito de todo e qualquer ordenamento jurídico que tenha ou venha a ser construído para regular as relações de convivência entre os homens.
III – UM NOVO SENTIDO PARA O DECÁLOGO
– No sermão do monte, Jesus reafirmou os “dez mandamentos”, como já dissemos supra, embora lhes tenha dado o verdadeiro alcance, preocupando-se muito menos com o formalismo e a ênfase dada à aparência, características do seu entendimento e compreensão pelos escribas e fariseus, mas muito mais com o seu sentido, a sua razão de ser, a sua profundidade.
OBS: “…Como Jesus ensinava de forma livre, era comum que algumas pessoas interpretassem seus ensinos como contrário a tudo aquilo que havia sido ensinado antes de Jesus. Muitos discípulos pensavam que desde aquele momento a Lei dada por Deus através de Moisés (o livro de Êxodo, Levítico e Deuteronômio), e através dos profetas (todos os livros dos profetas maiores e menores) estaria completamente abolida.
O que Jesus está ensinando é que o que Deus pretende com a sua mensagem do Reino, é mais profundo do que qualquer lei moral. Ele chega a dizer que a grandeza no reino de Deus, se media pela conformidade dos ensinamentos morais da Lei e dos profetas e até mesmo a entrada no reino de Deus estaria vinculada a uma prática de justiça, (procurar obedecer a Deus), bem maior do que a dos professores da lei e dos fariseus.
Tanto professores da Lei (escribas), quanto fariseus, sabiam todos os mandamentos do Senhor. Mas a justiça deles (prática da lei), não estava de acordo com os discursos por eles pronunciados. A prática da lei que Deus exige de seus discípulos é a fidelidade nos atos e não somente na palavra…” (Rev. Ary Sérgio Abreu MOTA. Uma janela para o sermão do monte. http://www.ejesus.com.br/estudos/2000- 01/uma_janela_para_o_sermao_do_monte.htm).
– Na parte ética do sermão do monte, que é a preponderante, Jesus analisa os mandamentos relativos à convivência entre os homens, à conduta que deveriam ter os seus discípulos em relação aos demais seres humanos, já que não é intenção do Senhor isolar os Seus servos do convívio com os demais homens, mas tão somente livrá-los do mal (Jo.17:15).
Assim, passa a analisar cada um dos mandamentos referentes a esta convivência, trazendo o verdadeiro alcance de sua aplicação.
OBS: “…O fariseus propunham uma religiosidade do comportamento, com padrões pré-estabelecidos pela Torah (ou sua interpretação dela). Era a hermenêutica do Halacha (como deve se andar). Esta hermenêutica pressupõe, que “tudo que estava escrito nos tempos passados, fora escrito de forma que seria válido para os novos tempos” (Koster, History, Culture and Religios of Hellenistic Age, p. 242).
A hermenêutica de Jesus, apresentada no Sermão do Monte, se coloca como antítese desta proposta: “Ouvistes o que foi dito…, eu, porém, vos digo…” Há um conflito claro entre a escola de Jesus e as escolas farisaicas. Apesar de serem leigos – não eram sacerdotes – os fariseus dominaram a religião e a transformaram em um peso, na religião do fazer.
A proposta de Jesus foi outra – no meu entender – não foi a religião do fazer, mas a do ser. Mesmo que não façam, como Jesus muitas vezes não fez, e por isso foi criticado pelos ‘homens do fazer’, mas que sejam como Jesus foi. Ser não é pesado e não cansa, fazer muitas vezes sim…” (SOUSA, Dr. Ágabo Borges de SOUSA. Olhando os fariseus para pensar nosso tempo. http://www.stbne.org.br/boletim/boletim049.htm)
– O primeiro mandamento a ser analisado por Jesus foi o sexto, a saber, “não matarás”. Diz Jesus que não basta que tenha ocorrido a morte do próximo para que se tenha a condenação divina, mas tão somente a cólera, a raiva, o ódio ao próximo já é suficiente para que tenha ocorrido a transgressão deste mandamento (Mt.5:22).
Com efeito, a raiz de todo homicídio outra não é senão o desprezo para com o próximo, a sua desconsideração enquanto imagem e semelhança de Deus. Aí se encontra a verdadeira raiz de tal delito e sem que haja a mudança interior do homem, de modo que ele passe a amar a Deus e ao próximo como a ele mesmo, sempre se terá a possibilidade de se chegar até a se matar outro homem.
Por isso se vê a falência completa dos sistemas prisionais pelo mundo, porquanto se não houver a mudança interior do homem, jamais poderá ele deixar de desprezar o próximo e de matá-lo se entender necessário. O primeiro homicídio relatado nas Escrituras bem demonstra que o mal surgiu bem antes da perpetração do delito (Gn.4:5). Por isso, as Escrituras nos aconselham a não permitirmos que haja em nós raízes de amargura, pois são elas que nos privam da graça de Deus (Hb.12:15).
– O segundo mandamento analisado por Jesus foi o sétimo, a saber, “não adulterarás”. Diz Jesus que não basta que tenha ocorrido a conjunção carnal, o relacionamento sexual entre alguém casado e outrem que não seja seu cônjuge para que se tenha a condenação divina, mas a simples impureza sexual, mesmo mental, já é suficiente para que se tenha ocorrido a transgressão deste mandamento (Mt.5:28), nivelando este mandamento com o décimo, que fala da cobiça.
Com efeito, a raiz de todo adultério não é outra senão a cobiça e a impureza sexuais(II Sm.11:2,3). Aí se encontra a verdadeira raiz de tal delito e sem que haja a santidade do ser humano quanto a este aspecto, a fim de que não se deixe envolver pela carnalidade, inútil será qualquer tentativa de observância deste mandamento.
Neste sentido, aliás, deve ser o próprio tratamento da questão pela igreja, sendo lamentável que muitos tentem, como os escribas e fariseus, tentar encobrir fracassos morais em nome de um tecnicismo jurídico que foi totalmente descartado por Jesus no sermão do monte.
– Dentro, ainda, da questão relativa ao adultério, Jesus analisou a questão do divórcio, presente na lei judaica, segundo nos diz o próprio Senhor, pela dureza dos corações dos israelitas (Mt.19:8). Coerente com o ensinamento a respeito do adultério, que significa impureza sexual, o Senhor considerou que o divórcio é possível, desde que tenha havido esta impureza sexual (“pornéia”, no texto original grego), pois, neste caso, trata-se de uma hipótese-limite entre a santidade do cônjuge diante de Deus e o seu compromisso com o seu cônjuge, como haveremos de observar em lição específica sobre o tema neste trimestre.
– O terceiro mandamento analisado por Jesus foi o oitavo mandamento, ou seja, “não dirás falso testemunho contra o teu irmão”, quando, então, Jesus aponta para o verdadeiro alcance deste testemunho, que ia muito além da proibição de um falso depoimento perante as autoridades numa questão judicial. Jesus avalia a própria necessidade de o Seu discípulo viver compromissado com a verdade, de estar envolvido pela verdade em todos os aspectos de sua vida (Ef.6:14), já que a verdade é o próprio Cristo (Jo.14:6; I Jo.5:20).
Reside aqui a incompatibilidade entre a ética cristã e o “relativismo ético” que predomina no mundo de hoje: o crente fiel tem posições bem definidas e que não mudam ao sabor das circunstâncias. Seu falar é sim, sim e não, não, pois tudo o mais, inclusive e especialmente o relativismo ético (seja o antinomismo, seja o generalismo) são de procedência maligna (Mt.5:37). O relativismo ético conduz a uma vida comprometida com o mundo e à mornidão espiritual, que é fatal para a vida espiritual (Ap.3:14-16).
OBS: “…É uma das tragédias desta parte do sermão que tem sido reduzida a pouco mais do que o lugar da batalha sobre a tolerância dos juramentos judiciais. O mal que Jesus ataca em sua proibição de jurar (versículo 34) não são os juramentos, mas a fraude.
Ele varre fora os vãos juramentos dos fariseus, com suas sutilezas enganosas, ao observar que não há nada pelo que eles possam jurar (o céu, a terra, Jerusalém, suas próprias cabeças) que não esteja, no final, ligado diretamente a Deus e ao seu poder (versículos 34-36; 23:16-22).
O Senhor está simplesmente ressaltando a verdade essencial que toda palavra que emitamos está “diante de Deus” e sujeita ao julgamento divino (Mateus 12:36-37). Um simples e enfático “sim” ou “não” coloca os homens sob não menor obrigação de dizer a verdade e honrar seus compromissos do que o mais rígido juramento.
Os juramentos nunca tiveram a intenção de aumentar a obrigação do jurador de dizer a verdade (que já existia) mas a dar maior segurança àqueles que os recebiam (Hebreus 6:13-18).Quais são as lições práticas a aprender de tudo isto?
Alguns têm visto aqui uma sólida advertência contra a profanidade. Uma boa lição sobre este assunto seria, certamente, oportuna. Somos, sem dúvida, uma geração profana. Manchados com pequenas blasfêmias e procurando outras maiores, tratamos com urbano divertimento o sacrílego espezinhar de palavras como Deus, Cristo, céu, inferno, salvação e danação.
Nosso hábito de pronunciar impensadamente nomes santos nos tem custado nosso senso de reverência e com ele nosso senso de humanidade. Mas a profanidade não é aqui a preocupação fundamental de nosso Senhor. Sua preocupação é com a honestidade, total e absoluta honestidade.
O que devemos a nosso irmão e nosso próximo é a verdade, em todas as nossas palavras, ou palavra nenhuma. Há muitas tentações para mentir e para ser infiel. Ódio, culpa e cupidez nos levam a esticar a verdade, até que ela se rompe.
Egoísmo ou concupiscência nos instigam a quebrar os votos solenes do casamento. Irreflexão nos incita a esquecer, como sem importância, as promessas do dia-a-dia que fazemos aos outros. Alguns cristãos denegriram sua integridade por acusações sem fundamento e declarações sem apoio.
Outros desgastaram sua honra por compromissos não cumpridos. Tal procedimento é inaceitável em um cidadão do reino. Servimos a um Deus que não pode mentir (Tito 2:1) e temos que levar a seu serviço uma honestidade e uma veracidade transparentes (Colossenses 3:9; Efésios 4:15,25)…” (EARNHART, Paul. O sermão da montanha: extraindo os tesouros das Escrituras, exposições práticas. http://estudosdabiblia.net/sermon.htm).
Deve-se aqui, por oportuno, reproduzir o Catecismo da Igreja Romana, que é muito feliz ao declarar a relação do cristão com a verdade : “…2468 A verdade como retidão da ação e da palavra humana, tem por nome veracidade, sinceridade ou franqueza.
A verdade ou veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se veraz nos próprios atos e em dizer verdade em suas palavras, evitando a duplicidade, a simulação e a hipocrisia. 2469 ‘Os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca, quer dizer, se não se manifestassem a verdade’ (S. Tomás de Aquino, s. th. 2-2, 109, 3 ad 1).
A virtude da veracidade dá justamente ao próximo o que lhe é devido; observa um justo meio entre o que deve ser expressado e o secreto que deve ser guardado: implica a honradez e a discreção. Por justiça, ‘um homem deve honestamente a outro a manifestação da verdade’ (S. Tomás de Aquino, s. th. 2-2, 109, 3).2470 O discípulo de Cristo aceita ‘viver na verdade’, quer dizer, na simplicidade de uma vida conforme ao exemplo do Senhor e permanecendo em Sua Verdade. ‘Se dizemos que estamos em comunhão com Ele, e andamos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade’ (1 Jo 1, 6)…. http://www.vatican.va/archive/catechism_sp/p3s2c2a8_sp.html#I% 20Vivir%20en%20la%20verdad). (tradução nossa do texto em espanhol).
– Após mencionar os mandamentos que cuidavam do relacionamento entre os homens (é interessante observar que Jesus não faz um comentário específico sobre o oitavo mandamento, que preserva a propriedade, talvez até porque do Senhor é a terra e a sua plenitude, cfe. Sl.24:1), Jesus passou a analisar o próprio âmago da lei, da ética divina, que outro não é senão o amor.
É por isso que condena a chamada “pena de talião”, assim denominada por ser estruturada na regra da retribuição do mal praticado ao ofensor “tal e qual a ofensa”, princípio que tem sido, ao longo dos séculos, abandonado pelos sistemas jurídicos mas que encontra, ainda, grande ressonância no coração dos homens, tanto que é a vingança a máxima regra observada no cotidiano das pessoas, onde os Estados organizados não conseguem atingir e fazer valer as suas leis mais benevolentes (sem se falar, por exemplo, nos países islâmicos que, cada vez mais, estão a adotar a “sharia”, ou seja, a legislação diretamente baseada no Corão, que está totalmente alicerçada neste princípio da lei de talião).
Ao invés do “olho por olho, dente por dente” que constava da lei de Moisés, mais uma demonstração da dureza dos corações dos homens (Ex.21:24,25; Lv.24:17-20), Jesus apresenta o perdão como regra a ser observada (Mt.5:39-42). Nós, como pessoas salvas por Jesus, graças ao perdão de Deus, jamais podemos nos esquecer desta conduta em nossos relacionamentos, sob pena de termos um triste e lamentável fim (Mt.18:23-35;Lc.17:3-5).
– Jesus, ainda tratando da verdadeira essência da ética divina, que é o amor (até porque Deus é amor- I Jo.4:8), mostra-nos que devemos amar até mesmo os nossos inimigos, não podendo a justiça baseada na ética divina contentar-se com o argumento tão lógico defendido pelos escribas e fariseus de que devemos aborrecer os nossos inimigos. Se não mais vivemos, mas Cristo vive em nós (Gl.2:20), temos, então, de ter o Seu mesmo sentimento (Fp.2:5), que é o de amar a todos os homens indistintamente (Jo.3:16; Tt.2:11).
Reside aí o grande diferencial nas intenções e motivações das ações dos servos de Deus e os de que não servem a Deus. O cristão sincero e fiel não pode odiar nem se alegrar com o fracasso do adversário, mesmo sendo ele um ímpio (Jó 31:28,29; Pv.24:17). A vingança é algo que não cabe ao cristão executar, muito menos desejar (Rm.12:9).
OBS: “…O Mestre começou o Seu ministério ensinando na Galileia, valendo-se de temas como os princípios éticos do reino de Deus, a nova lei do amor, as instruções especiais aos discípulos, a natureza do reino, o relacionamento entre as pessoas, o fim desta dispensação. Com isso, as portas da sinagoga se fecharam para Jesus.
Motivados pela inveja, feridos pelo preconceito, defensores das tradições, amantes de si mesmos, os mestres O expulsaram. Sua mensagem era poderosa, crítica e revolucionária para os judeus (Marcos 6:3; Lucas 4:22), chegaram ao ponto de querer matá-l’O logo no início do Seu ministério (Lucas 4:28,29)…Sua doutrina não visava à tomada do reino de Israel pelas guerrilhas ou pela revolução armada.
Ele buscava a criação de um reino mais augusto e poderoso, o que não correspondia com a expectativa dos judeus. Suas conquistas não seriam alcançadas pela espada, mas sim pela mais sublime de todas as virtudes: o amor. O amor é a arma mais forte para se conquistar…!…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.5, p.75-6).
Neste passo, oportuna é a transcrição de parte de sermão do grande pregador ingl6es Charles Haddon Spurgeon, que bem ilustra este ponto-de-vista que deve ter o cristão ” ….Em primeiro lugar, observe que esta cruzada, esta guerra santa, sagrada de que eu falo não é contra os homens, mas contra Satanás e contra o erro.
‘Nós não lutamos contra a carne e o sangue’. Os cristãos não estão em guerra contra homem algum que anda sobre a terra. Nós estamos em guerra contra a infidelidade, mas nós amamos e oramos pelas pessoas que são infiéis; nós estamos em estado de guerra contra qualquer heresia, mas não temos inimizade contra os heréticos; nós nos opomos e lutamos até a morte contra tudo o que se opõe a Deus e a Sua verdade, mas em direção a todo homem nós ainda nos esforçamos em executar a máxima santa, ‘Amai vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam’. O soldado cristão não tem qualquer arma ou espada, porque ele não luta contra os homens.
É contra ” maldade espiritual nas alturas” que ele luta e contra outros principados e poderes e contra aqueles que se assentam nos tronos e seguram os cetros em suas mãos. Eu tenho observado, entretanto, que alguns cristãos – e é um sentimento ao qual todos nós estamos propensos – estão muito inclinados a fazer da guerra de Cristo uma guerra de carne e sangue, ao invés de uma guerra contra o erro e contra a maldade espiritual.
Vocês nunca notaram nas controvérsias religiosas como os homens atacam-se um ao outro, fazem comentários pessoais e se ofendem uns aos outros ? O que é isto senão esquecer o que é a guerra de Cristo ? Nós não estamos lutando contra os homens, mas antes lutando pelos homens.
Nós estamos lutando por Deus e por Sua verdade, contra o erro e contra o pecado; não contra os homens. Ai do cristão que esquece esta regra sagrada do estado de guerra. Não toque a pessoa dos homens, mas atinja seu pecado contra um coração decidido e com braço forte. Mate tanto os pequenos quanto os grandes pecados; nunca deixe que coisa alguma que seja contra Deus e Sua verdade seja poupada; mas nós não estamos em guerra contra as pessoas dos pobres homens errados.
Nós odiamos Roma mais do que abominamos o inferno, mas pelos seus devotos nós sempre oramos. Nós denunciamos ferozmente a idolatria e a infidelidade mas os homens que se humilham perante elas não são objeto de indignação, mas de dó. Nós não lutamos contra os homens mas contra as coisas que nós consideramos que sejam erradas aos olhos de Deus.
Façamos sempre esta distinção, caso contrário o conflito com a igreja de Cristo se degradará numa simples batalha de força bruta e vestes roladas no sangue e, então, o mundo será novamente um Aceldama – um campo de sangue.
É este o erro que tem levado mártires para a execução e confessos prematuros para a prisão, porque seus oponentes não puderam distinguir entre o erro imaginário e o homem. Enquanto eles falavam corajosamente contra o erro aparente, no seu fanatismo ignorante, eles acharam que deveriam também perseguir o homem, o que eles não precisariam, nem deveriam ter feito.
Não terei medo de declarar com todas as palavras da língua inglesa que eu puder reunir e não terei medo de dizer coisas duras contra o diabo e contra os seus ensinos, mas jamais contra qualquer homem, como eu, está neste imenso, amigos, nem contra qualquer ser vivo com que eu esteja em inimizade neste instante nem muito menos contra o bebê que acabou de vir ao mundo.
Nós devemos odiar o erro, nós devemos abominar a falsidade; mas não podemos odiar homens, pois o estado de guerra de Deus é contra o pecado. Que Deus nos ajude a sempre fazermos esta distinção…” (A guerra da verdade. http://www.spurgeon.org/sermons/0112.htm. (tradução nossa de texto em inglês)
– Como bem explica Frank Brito: “… Enquanto as leis morais exigem absoluta retidão, interna e externa, diante de Deus, as leis civis somente estabelecem a obediência externa a alguns aspectos das leis morais.
Enquanto a lei moral estabelece que eu não posso nem mesmo odiar meu próximo em meu coração, a lei civil exige que somente o homicídio externo seja punido (Nm 35:31), mas não o ódio. Enquanto a lei moral estabelece que eu cometo adultério até mesmo quando eu cobiço a mulher de meu próximo, a lei civil estabelece que somente o adultério externo e consumado seja punido (Lv 20:10).
Tendo isso entendido, podemos entender qual era o veneno dos escribas e fariseus. Conforme lemos no sermão do monte, e em outros lugares, os escribas e fariseus avaliavam as exigências das leis morais de maneira exclusivamente externa, provavelmente com base nas meras exigências das leis civis. Então, se a lei civil pune somente o homicídio externo, quem não tivesse literalmente tirado a vida de alguém, não havia quebrado o sexto mandamento. Se a lei civil pune somente o adultério externo, estava isento de culpa quem nunca tivesse deitado com a mulher do próximo.
Cristo, todavia refutou as mentiras deles quando revelou que a obediência exigida pela Lei de Deus inclui a obediência do homem em todos os aspectos de seu ser, não somente aquilo que pode ser visto pelos homens e castigado pelos magistrados civis (cf. Mt 5:21-28).
Isso significa que o propósito de Deus com as leis civis não é castigar toda manifestação de pecado e que as exigências das leis morais devem ser entendidas como sendo maiores e do que as leis civis. Enquanto as leis morais exigem a perfeita obediência, de todo coração, as leis civis exigem somente a obediência externa a alguns aspectos das leis morais.
É importante separar as duas coisas para não cairmos no erro dos escribas e fariseus. Uma coisa é descobrirmos se algo era moralmente proibido pela Lei de Deus. Outra coisa é descobrirmos se algo era um crime a ser castigado pelos magistrados com base nas leis civis. Com base nas leis civis, por exemplo, nem todo homicida deve receber pena capital. Somente homicidas que tiram a vida de seu próximo devem receber pena capital (Ex 21:14).
“Todo o que odeia a seu irmão é homicida” (I Jo 3:15), mas se não chegarem ao ponto de tirar suas vidas, não devem receber pena capital. Ou seja, a lei civil não exige que toda forma de homicídio seja castigado pelos magistrados, mas somente o homicídio externo e consumado.…” (A diferença entre as leis morais e as leis civis. Disponível em: http://resistireconstruir.wordpress.com/2014/04/20/a-diferenca-entre-as-leis-morais-e-as-leis-civis/ Acesso em 10 nov. 2014).
– O padrão da lei moral, portanto, é excelente, é a própria conformidade nossa ao caráter divino, algo que somente pode ser alcançado mediante a salvação em Cristo Jesus, pois, com o novo nascimento, passamos a nos conformar à imagem de Cristo (Rm.8:29) e, por isso mesmo, passamos a ser conhecidos como “cristãos” (At.11:26), ou seja, “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo”.
– Deste modo, uma vez mais, vemos que o padrão estabelecido pela “lei moral” somente pode ser alcançado mediante a nossa inserção no corpo de Cristo, é resultado da salvação e não um meio para se alcançar a salvação.
É, por isso mesmo, que tudo quanto foi declarado nos dez mandamentos é somente praticado por quem está em Cristo, por quem é nova criatura e daí a importância de os estudarmos, no seu devido alcance, pois ao conhecermos os dez mandamentos, estaremos, indubitavelmente, descobrindo qual o comportamento que devemos ter como filhos de Deus. Eis o que estudaremos nas próximas lições.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2015_L2_caramuru.pdf