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LIÇÃO Nº 2 – OS ARTESÃOS DO TABERNÁCULO   

 

A obra de Deus deve ser feita com capacitação espiritual. 

INTRODUÇÃO

– Dando início ao estudo da tipologia do tabernáculo, estudaremos hoje os artesãos do tabernáculo. 

– A obra de Deus deve ser feita com capacitação espiritual. 

I – A PRIORIDADE DAS PESSOAS EM RELAÇÃO ÀS COISAS 

– Dando início ao estudo da tipologia do tabernáculo, notadamente no que concerne à simbologia da obra redentora de Cristo Jesus, estudaremos, por primeiro, os artesãos do tabernáculo. 

– É de se elogiar a conduta tomada pelo Setor de Educação Cristã da Casa Publicadora das Assembleias de Deus que resolveu começar o estudo do tabernáculo pelas pessoas que elaboraram todas as peças do tabernáculo, tornando realidade o modelo que havia sido apresentado a Moisés no monte. 

– Tal atitude é perfeitamente bíblica e nos traz uma importante lição: a de que as pessoas têm prioridade em relação às coisas.

Esta verdade bíblica tem sido frequentemente esquecida e contrariada em nossos dias, onde, como alguém já disse, em vez de amar as pessoas e usar as coisas, tem-se que se usam os seres humanos e se amam as coisas. 

– Quando Deus criou o homem, disse que ele dominaria sobre toda a criação terrena (Gn.1:26), de modo que pôs o homem acima de tudo quanto mais existe sobre a face da Terra, motivo pelo qual é o ser humano chamado de “coroa da criação”, expressão extraída do Sl.8. 

– Esta prioridade do homem em relação a tudo o mais advém do próprio Senhor e isto notamos quando Deus quis que o povo de Israel subisse o monte após o longo sonido da buzina no monte Sinai.

Seu objetivo era estabelecer com os filhos de Israel uma comunhão perfeito, Seu alvo era o povo, as pessoas.

– Tendo falhado a fé dos israelitas, tornou-se necessário que o Senhor Se fizesse presente no meio do povo, pois Sua preocupação prosseguia sendo com os israelitas.

Deus sabia que os filhos de Israel necessitavam da Sua direção e companhia para poderem chegar e conquistar Canaã, pois sem Ele, nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”). 

– Assim, quando vai instruir Moisés a respeito da construção do tabernáculo, começa pelas pessoas.

A instrução começa com a seguinte orientação: “Fala aos filhos de Israel que me tragam uma oferta alçada, de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha oferta alçada” (Ex.25:1). 

– O tabernáculo começa com as pessoas, com os filhos de Israel. Eram eles a prioridade do Senhor, o tabernáculo só seria construído para que Deus pudesse Se relacionar com os israelitas,

para que os israelitas pudessem cultuar e adorar a Deus e para que Deus pudesse perdoar-lhes os pecados e guiá-los até Canaã e, em Canaã, orientá-los até que viesse o profeta que completaria a obra que Moisés não tinha tido condições de realizar.

– A razão de ser do tabernáculo eram as pessoas e o tabernáculo somente seria construído porque todo o homem de coração voluntário iria ofertar para se tivesse o material necessário para a obra.

Sem as pessoas, nada poderia ser construído; sem as pessoas, não haveria por que construir. 

– Assim, mesmo na dispensação da lei, onde o material serviria de sombra para o espiritual, onde o terrestre representaria o celestial (Hb.8:5; 10:1), o ser humano ocupa papel promordial e inafastável, sem o que nada poderia existir ou ser realizado. 

– O primeiro fator que se verifica na construção do tabernáculo é a voluntariedade do coração de todos que fossem ofertar.

Não só as pessoas têm prioridade, como elas são levadas em conta pelo seu todo, ou seja, corpo, alma e espírito.

Não bastava que as pessoas ofertassem para a construção do tabernáculo, mas o Senhor queria que o fizesse apenas aquele que tivesse coração voluntário, cuja vontade estivesse em consonância com o plano divino. 

– Foram as pessoas que, voluntariamente, deram o que se fazia necessário para a construção do tabernáculo.

Deus poderia fazer surgir um tabernáculo no meio do deserto, pronto e acabado, mas não o fez porque a finalidade do tabernáculo era a de estabelecer um relacionamento com os filhos de Israel e nada mais efetivo do que este relacionamento se iniciar na própria construção do santuário.

O Senhor quer estabelecer uma unidade com o Seu povo e não há como termos comunhão se não houver comunicação e a comunicação efetiva é aquele que envolve a cooperação. 

– O Senhor determinou previamente que materiais deveriam ser utilizados na construção, afinal de contas o tabernáculo reproduziria o santuário celestial, tinha de ser feito consoante a vontade do Criador, d’Aquele que haveria de ser adorado.

Mas, ao mesmo tempo em que dizia que materiais deveriam ser utilizados, deixava ao arbítrio de cada um a contribuição, ou não, para a construção. Tudo deveria se fazer voluntariamente, pois é esta a única oferta que é aceita por Deus.  

– A propósito, aqui se tem a queda de um mito que, vez por outra, é repetido por alguns desavisados, qual seja, a de que, no tempo da lei, vigorava a obrigatoriedade, tudo era à força, enquanto que, agora, na graça, tudo é voluntário. Nada mais inexato e antibíblico!

Temos aqui um exemplo de que, mesmo na lei, tudo era baseado na voluntariedade, até porque Deus fez o homem com livre-arbítrio e sempre respeitará tal faculdade que Ele próprio deu ao ser humano.

 

– Exsurge aqui mais uma importante lição espiritual: a adoração deve ser voluntária, ninguém é forçado a adorar e a adoração sem que haja voluntariedade simplesmente é uma farsa, é algo que o Senhor não aceita.

No entanto, a adoração deve ser feita da forma estabelecida pelo Adorado, por quem manda, que é Deus.

Foi isto, aliás, que faltou no sacrifício de Caim e levou à rejeição por parte do Senhor. 

– Só depois de mencionar os filhos de Israel e, dentre eles, os que têm coração voluntário, que o Senhor, então, especificou que materiais deveriam ser ofertados, mostrando, deste modo, o caráter secundário que tinham as coisas em relação às pessoas. 

– Não só o material, mas também o que deveria ser construído era da alçada exclusiva do Senhor, a nos ensinar que com o que e como se adora não é algo que esteja em nosso livre-arbítrio, mas algo que deve ser feito consoante as determinações divinas.

Não nos esqueçamos de que adoração é submissão a Deus, é reconhecimento de Seu senhorio, de que Ele é o Senhor e de que nós somos Seus servos e, como todo servo, prontos a obedecer.

II – A CAPACITAÇÃO DOS ARTESÃOS DO TABERNÁCULO 

– Após ter enumerado quais os materiais que deveriam ser ofertados para a construção do tabernáculo (Ex.25:3-7), o Senhor diz a Moisés o que seria feito com eles:

um santuário e uma habitação divinos no meio dos filhos de Israel (Ex.25:8),

santuário e habitação que deveriam ser feitos conforme o modelo (Ex.25:9),

expressão que esclarece que o tabernáculo seria cópia de algo já existente na dimensão celestial, como explicitaria séculos depois o escritor aos hebreus (Hb.8:5).

– O texto sagrado, então, passa a descrever todas as peças que deveriam ser construídas, a começar da arca da aliança, a mais importante delas, descrição esta que será objeto de lições posteriores neste trimestre. 

– Já no capítulo 28 de Êxodo, o Senhor, demonstrando a sua presciência, já indica a Moisés que Arão e seus filhos seriam designados sacerdotes para serem responsáveis pelo culto, tendo, então,

descrito as vestimentas sacerdotais e o cerimonial de consagração, passando, então, novamente, já no capítulo 30, a descrever ainda outras peças do tabernáculo. 

– No capítulo 31, porém, o Senhor volta a tratar da pessoa humana. Primeiro tinham sido os ofertantes, sem o que não se teria material;

depois, tratou dos sacerdotes, sem o que todas aquelas peças seriam inúteis, pois mister se faria que se realizassem as cerimônias e sacrifícios necessários para que se tivesse adoração.

Agora, o Senhor vai tratar dos que fariam as peças, daqueles que transformariam os materiais que fossem trazidos nos objetos descritos pelo Senhor. Aqueles que dariam forma à matéria. 

– O Senhor é peremptório:

“Eis que eu tenho chamado por nome a Bezaleel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do espírito de Deus, de sabedoria e de entendimento, e de ciência, em todo o artifício, para inventar invenções, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre, e em lavramento de pedras para engastar, e em artifício de madeira, para obrar em todo o lavor” (Ex.31:2-5). 

– Deus havia mostrado a Moisés no monte o modelo do tabernáculo. Era ele quem estava fazendo a intermediação entre Deus e os filhos de Israel, por escolha do próprio povo (Ex.20:19), escolha que havia tido a aquiescência divina (Dt.18:16,17). 

– Moisés recebeu o modelo, mas não seria ele quem deveria confeccionar as peças, não fazia parte de sua missão e não era objetivo divino que tudo ficasse nas costas de Moisés, pois Ele havia formado uma grande nação, um povo, e, como tal, todos deveriam servir ao Senhor, deveria haver a cooperação de todos. 

– Moisés era um intelectual, havia sido instruído em toda a ciência do Egito (At.7:22), mas, até por força de sua formação no palácio de Faraó, não era alguém que tivesse habilidades manuais e artísticas.  

– Como se não bastasse isso, nenhuma habilidade humana poderia ser suficiente para a confecção de tais peças, pois o tabernáculo era um modelo de algo que existia na dimensão celestial e o homem não tem condição alguma de chegar ao patamar divino, pois os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, nem tampouco Seus pensamentos, os nossos pensamentos (Is.55:8,9). 

– Era mister encontrar alguém que tivesse habilidade manual e artística para confeccionar tudo quanto havia sido mostrado a Moisés no monte, mas também alguém que pudesse ter, da parte de Deus, a devida capacitação, pois, sem que Deus desse tal capacidade, ninguém poderia, a contento, reproduzir na terra o que existia no céu. 

– Quem sabe, enquanto era mostrado a Moisés no monte o que deveria ser feito, não tivesse o líder já pensado em quem teria condição de realizar tamanha obra.

Mas o fato é que o Senhor mesmo designou a Moisés quem Ele havia chamado para fazê-lo: Bezaleel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá. 

– A obra de Deus não se faz senão pelos chamados. É preciso ser chamado por Deus para poder exercer uma função específica no meio do Seu povo.

Deus era o Senhor de Israel, era o próprio rei (I Sm.8:7) e, como tal, tinha a prerrogativa de escolher quem quisesse, de chamar quem quisesse para a confecção do tabernáculo.

– Se isto se dava em Israel, não é diferente com relação à Igreja. Jesus é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23) e, como tal, é quem estabelece quem faz o que no Seu corpo, que é a Igreja.

Paulo, algumas vezes, teve de defender a sua autoridade apostólica, mas sempre fazia questão de dizer que era apóstolo porque havia sido chamado por Cristo para tal (Rm.1:1; I Co.1:1). Em outro lugar, aconselha a que cada um ficasse na vocação em que tinha sido chamado (I Co.7:20). 

– Israel e a Igreja são povos, povos formados por Deus, que é um Deus de ordem (I Co.14:33), e que, portanto, ao organizar este povo, põe cada um no seu devido lugar, até porque, tendo sido o Criador de todos quantos chama, conhece muito bem a estrutura e a personalidade de cada um (Sl.103:14). 

– Quando o povo de Deus despreza o chamado divino e passa a usurpar esta prerrogativa divina constituindo para si quem bem entender para exercer as funções que acharem por bem deverem ser exercidas,

partimos para a desintegração do povo, para a sua desaparição, como ocorreu com as dez tribos perdidas de Israel que chegaram ao estado em que se encontram até o dia de hoje porque passaram a construir príncipes para si sem qualquer consideração à vontade divina (Os.8:3,4). 

– Um dos fatores determinantes para a Reforma Protestante e para o naufrágio do domínio de Roma sobre a Igreja Ocidental foi a institucionalização e quase que exclusividade das investiduras em cargos eclesiásticos por motivações políticas e sem quaisquer considerações espirituais, que levaram à corrupção da cúpula eclesiástica daquele tempo. 

– Hoje não tem sido diferente. Um dos principais fatores da apostasia espiritual que estamos a presenciar em nossos dias é a assunção a funções eclesiásticas de pessoas despidas de qualquer vocação divina, muitas até que nem mesmo convertidas são.

Que Deus nos guarde e nos dê o discernimento que tinha o pastor da igreja de Éfeso, que punha à prova os que se diziam apóstolos e desmascarava os que eram falsos (Ap.2:2). 

– O chamado divino é inequívoco, não gera confusão nem dúvida. O Senhor disse ter chamado “por nome” a Bezaleel.

Deus diz exatamente quem era a pessoa que havia escolhido e para o que havia chamado. Deus não muda (Ml.3:6) e continua a chamar por nome a todos quantos fazem parte do corpo de Cristo, a Igreja. 

– É importante observar que, mesmo o Senhor tendo chamado a Bezaleel e dito isto a Moisés, o líder fez questão de dizê-lo ao povo, que referendou esta escolha (Ex.35:30-33).

Tudo que é feito sob a direção e orientação de Deus deve ser claro e transparente, pois Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhumas (I Jo.1:5).

OBS: Como diz o rabino Menahem Mendel Diesendruck:

“…Moisés convocou toda a congregação para lhe entregar os planos da construção do Tabernáculo e todos os objetos, conforme ouvira de Deus, e para lhe comunicar o nome do superintendente e diretor artístico.

Apesar de ter sido Deus quem nomeou Betsalel para esta incumbência, por se tratar de um grande e competente artista, Moisés preferiu ouvir a opinião dos representantes da coletividade, para que não o acusassem de proteção na distribuição de todas as honrarias entre seus parentes.

Com este gesto magno, Moisés nos legou uma grande lição de autêntica democracia, ensinando as próximas gerações que, em todas as coisas relacionadas a campanhas coletivas, contribuições vindas do povo, em todo o que se relaciona com obras públicas, instituições comuns, a opinião pública deve ser consultada e respeitada…” (TORÁ: a Lei de Moisés. Trad,, explicações e comentários dos rabinos Meir Matzliah Melamed e Menahem Mendel Diesendruck, Ex.31, nota 2, pp.257-8). 

– “Bezaleel” era da tribo de Judá, neto de Hur, que era um dos mais próximos auxiliares de Moisés, tanto que estava ao lado de Arão quando da guerra contra Amaleque (Ex.17:10), juntamente com Moisés,

como também incumbido, assim como Arão, do governo de Israel durante a ausência de Moisés que estava no monte (Ex.24:14). Tudo indica que Hur era o príncipe da tribo de Judá. 

– O nome “Bezaleel” significa “nas sombras de Deus”, a indicar que o neto de Hur era alguém que deveria ficar “debaixo da mão de Deus”, “sob a orientação divina”.

É interessante observar que, na caminhada do deserto, o povo de Israel ficava debaixo de uma nuvem durante o dia, nuvem que se tornava em coluna de fogo durante a noite.

Estavam, pois, os israelitas sempre debaixo da proteção divina, na “sombra” durante o dia, no “calor” durante a noite.

– O nome de Bezaleel indica que o homem escolhido pelo Senhor era alguém que jamais sairia da orientação divina, que não transgrediria as medidas e instruções dadas por Deus a Moisés, alguém que ficaria “nas sombras de Deus” na tarefa de confecção das peças do tabernáculo, sob a proteção divina. 

– O Senhor disse a Moisés que havia “enchido Bezaleel do Espírito de Deus, de sabedoria e de entendimento e de ciência em todo artifício” (Ex.31:3).

Para poder reproduzir o que havia no céu, Bezaleel tinha de ser mesmo “cheio do Espírito”, pois a sua tarefa não era meramente artística, não bastava um talento natural, mas tinha de ser animado pelo Espírito Santo. 

– Não há como reproduzirmos em nossas vidas o intento divino se não formos cheios do Espírito Santo.

Nunca poderemos fazer a vontade do Senhor se o Espírito Santo não vier habitar em nós. Bezaleel recebeu a visitação do Espírito, já que o Espírito não poderia nele habitar pois Cristo ainda não havia sido glorificado (Jo.7:38,39),

mas ele se tornou um verdadeiro profeta, porque passou a ser alguém que recebia a visita do Espírito Santo, a fim de que pudesse confeccionar as peças do tabernáculo. 

– O Senhor dotou Bezaleel de três dos sete atributos que as Escrituras revelam ter o Espírito Santo na sua capacitação dos homens: a sabedoria, o entendimento e a ciência. 

– As Escrituras revelam que o Espírito Santo tem sete atributos, quais sejam, a divindade, a sabedoria, a inteligência (ou entendimento), o conselho, a fortaleza, o conhecimento (ou ciência) e o temor do Senhor, atributos estes explicitados em Is.11:2,

quando se diz que o Messias os teria em toda a sua plenitude, plenitude esta que será denominada de “sete Espíritos de Deus” no livro do Apocalipse (Ap.1:4; 3:1; 4:5; 5:6). 

– Salomão diz que, ao fundar a terra, o Senhor Se utilizou de dois destes atributos: a sabedoria e o entendimento (Pv.3:19,20).

Bezaleel, então, recebeu da parte de Deus esta capacitação criativa para poder dar forma às peças do tabernáculo, assim como o Senhor deu forma à terra pelo Espírito Santo (Gn.1:2,3).  

– Mas, além desta sabedoria e deste entendimento, que como que transmitiam a Bezaleel esta capacidade criativa, o neto de Hur também recebeu o conhecimento (ou ciência) para inventar invenções e trabalhar em ouro, em prata e em cobre e em lavramento de pedras para engastar e em artifício de madeira para obrar em todo o lavor. 

– Bezaleel ainda obteve o que hoje denominaríamos de “conhecimento técnico”, a capacidade para poder lidar com marcenaria, carpintaria e metalurgia, de forma a poder confeccionar as peças do tabernáculo.

Deus abriu-lhe de forma sobrenatural a sua mente de modo a que pudesse dominar as técnicas necessária para tal tarefa. 

– É importante observar que, séculos depois desta capacitação sobrenatural de Bezaleel, o povo de Israel ainda não tinha domínio sobre a técnica da metalurgia, ficando à mercê dos filisteus, seus sempre inimigos, por causa disso (I Sm.13:19-22),

a comprovar que o que ocorreu no deserto foi um verdadeiro milagre, uma ação sobrenatural do Senhor para tornar possível a construção do tabernáculo e a instituição do culto a Deus. 

– As Escrituras não afirmam qual era a idade de Bezaleel, mas não devia ser avançada. Era ele neto de Hur e tudo indica que Hur deveria ter mais ou menos a idade de Arão e de Moisés, ou seja, na faixa dos oitenta anos, o que faz com que Bezaleel fosse alguém jovem, de uma geração além da de Josué e de Calebe, por exemplo.

A tradição judaica diz que ele possuía 13 anos de idade quando foi chamado, cálculo, porém, que parte de uma confusão de que Hur fosse filho de Calebe.

OBS: Segue o trecho do Talmude, no tratado Sanhedrin 69b, onde consta esta ideia de que Bezaleel tinha 13 anos quando chamado para a construção do tabernáculo:

“…Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá (Ex.38:22) e está escrito:

[II] E quando Azuba [a mulher de Calebe] estava morta, Calebe tomou para si a Efrata, que lhe deu Hur (II Cr.2:19).

Agora, quantos anos tinha Bezaleel quando ele fez o Tabernáculo? Treze anos, porque está escrito:

[III] E todos os sábios, que faziam toda a obra do santuário, vinham cada um de sua obra que faziam (Ex.36:4).

E isso tem sido ensinado: [IV] No primeiro ano depois do Êxodo, Moisés fez o Tabernáculo; no segundo, ele ergueu e enviou os espiões.

E está escrito: [E] Calebe … disse …] Quarenta anos de idade eu tinha quando Moisés, o servo do Senhor, me enviou de Kadeshbarnea para espiar a terra (Js.14:7) … e agora, eis que hoje eu tenho oitenta e cinco anos. (Js.14:10).

Agora, quantos anos ele tinha quando mandado como espião? Quarenta.

Deduzam catorze anos, a idade de Bezaleel na época, isso deixa vinte e seis [a idade de Caleb no nascimento de Bezaleel]. …” (Talmude Babilônico. Disponível em: http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_69.html acesso em 31jan. 2019) (tradução nossa de texto em inglês).

– Não se pode realizar a obra do Senhor a contento se não se tiver o Espírito Santo e, mais, nos dias em que vivemos, na dispensação da graça, sem que tenhamos a plenitude do Espírito Santo em nossas vidas. Somente podemos dar forma ao modelo estabelecido por Deus se formos cheios do Espírito Santo. 

– Não fosse a presença do Espírito Santo na vida de Bezaleel, aqueles materiais prontamente trazidos pelos filhos de Israel não teriam a utilidade para o qual foram doados, jamais teriam o condão de promover a glória de Deus. 

– Nós, também, se não nos deixarmos encher pelo Espírito Santo, se não nos deixarmos moldar pelo Espírito de Deus, jamais poderemos nos tornar “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:22), “templos do Espírito Santo” (I Co.6:19).

É o Espírito Santo que nos dá a “forma de Cristo” (Gl.4:19), que faz que não mais vivamos, mas Cristo viva em nós (Gl.2:20), que nos faz “cristãos”, ou seja, “pequenos cristos”, “parecidos com Cristo” (At.11:26), “conformes à imagem do Filho” (Rm.8:29). 

– Assim como Bezaleel fez as peças do tabernáculo (Ex.37:1; 38:22), realizando o projeto divino, assim também, estando cheios do Espírito Santo, haveremos de fazer o que Deus planejou em nossas vidas e o resultado disto será a glorificação do nome do Senhor,

a manifestação da glória de Deus, assim como o Senhor manifestou a Sua glória na inauguração do tabernáculo, aprovando tudo quando havia sido feito por Bezaleel. 

– Mas Bezaleel não foi chamado para fazer a obra sozinho. Deus formara um povo e, como tal, a obra tinha de ser coletiva, não apenas no fornecimento dos materiais, mas, também, na própria confecção das peças. 

– Ao lado de Bezaleel, o Senhor também disse a Moisés que havia escolhido um companheiro para aquele judaíta, a saber, Aoliabe, o filho de Aisamaque, da tribo de Dã.

Aoliabe havia sido chamado para ser o companheiro de Bezaleel, aquele que estaria sempre ao seu lado na confecção de todas aquelas peças. 

– O nome “Aoliabe” significa “tenda do meu pai” e isto revela claramente o propósito de Deus na vida daquele danita. Ele fora escolhido para tornar realidade, ao lado de Bezaleel, “a tenda do Pai de Israel” (Is.63:16). 

– Tipologicamente, vemos, com clareza, que, quem está “nas sombras de Deus”, ou seja, não transgride Seus mandamentos, mantém, pela obediência, sob Sua proteção, faz-se “tenda do Pai”, faz-se “habitação do Senhor”.

Por isso, todos os que são guiados pelo Espírito Santo, são filhos de Deus (Rm.8:14), já que o Espírito Santo neles habita (Rm.8:9). 

– Também é importante notar que Bezaleel era da tribo de Judá, a tribo de onde viria o Messias, enquanto que Aoliabe é da tribo de Dã, a primeira tribo que apostatou, partindo para a idolatria (Jz.18).

Deus chamou homens de duas tribos que teriam destinos espirituais muito diferentes para mostrar que é acessível a todos e que que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4), dotando um judaíta e um danita dos mesmos dons espirituais para a confecção das peças do tabernáculo. 

– Como companheiro de Bezaleel, Aoliabe também foi cheio de sabedoria do coração para fazer toda obra de mestre, e a mais engenhosa, e a do bordador, em azul e em púrpura, em carmesim e em linho fino e a do tecelão, fazendo toda a obra e inventando invenções (Ex.35:34).

Podemos, com este texto bíblico, afirmar que a capacitação dada a Bezaleel e a Aoliabe era a mesma, “sem tirar nem pôr”, embora a liderança estivesse com Bezaleel, até porque se dois não estiverem de acordo, não podem andar juntos (Am.3:3). 

– Parece-nos, entretanto, que, assim como a liderança estava com Bezaleel, Aoliabe tinha uma capacidade especial no que concerne ao bordado, pois o texto enfatiza este aspecto ao mencionar o danita.

Deus nunca trata as pessoas como uma “massa”, até porque não fez duas pessoas iguais neste mundo, reconhecendo, portanto, a individualidade, a singularidade de cada um, individualidade e singularidade, entretanto, que não eliminam, antes exigem o compartilhamento, a sociabilidade, pois o homem foi feito um ser social (Gn.2:18). 

– De igual forma, a obra de Deus, em nossos dias, não pode ser realizada de forma solitária.

Ela tem de ser realizada coletivamente, pois, embora a salvação seja individual, o crescimento espiritual exige a convivência com os irmãos.  

– O salvo, por primeiro, não vive solitário neste mundo. Bem ao contrário, assim que alcança a salvação, passa a ser morada de Deus, Deus que não é um ser solitário, mas, sim, uma comunidade, uma triunidade, tanto que, de imediato, vem a Trindade habitar no salvo (Jo.14:17,23),

tornando-o “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:22). Não é por outro motivo que ele nada poderá fazer sem o Senhor (Jo.15:5 “in fine”). 

– Como se isto fosse pouco, assim que alguém é salvo, passa ele a compor a Igreja, a ser membro em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27), condição que o faz necessariamente depender dos demais,

pois a metáfora do corpo bem revela a nossa interdependência uns dos outros, pois, assim como todo órgão do corpo humano depende do outro para sobreviver, assim também dependemos uns dos outros para nos mantermos com vida espiritual durante a nossa peregrinação terrena. 

– Bezaleel e Aoliabe precisavam um do outro para que, devidamente enchidos pelo Espírito de Deus, viessem a realizar a obra para o que o Senhor os tinha chamado.

De igual modo, os salvos na pessoa de Cristo Jesus dependem uns dos outros para que façamos o aumento do corpo para sua edificação em amor, mediante o bom ajuste e o auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte (Ef.4:16). 

– Mas esta cooperação não se circunscrevia aos dois que haviam sido cheios do Espírito Santo para tais tarefas. Eles também receberam, da parte do Senhor, o dom de ensinar outros que fossem seus auxiliares nesta missão.

O texto sagrado é claro ao dizer que o Senhor “…também lhe tem disposto o coração para ensinar a outros” (Ex.35:34). 

– A plenitude do Espírito Santo não é um tesouro que deva ser mantido trancafiado a sete chaves por quem o recebe.

Muito pelo contrário, é algo que precisa ser compartilhado. É certo que, assim como a salvação, o revestimento de poder é individual, mas a sua eficácia é totalmente voltada para o outro.

Os discípulos ficaram em Jerusalém aguardando o revestimento do alto, mas, assim que ele veio, passaram a pregar o Evangelho e a levar a mensagem da salvação para todo o mundo. 

– Bezaleel e Aoliabe foram aquinhoados pelo Senhor com a capacitação sobrenatural para ensinar outros e estes outros, de forma intelectual, aprenderam com eles as artes necessárias para poderem ajudá-los a construir o tabernáculo e suas peças. 

– Bezaleel e Aoliabe foram dotados de capacitação sobrenatural, inclusive a de ensino, mas, ao ensinarem outros, puderam contar com pessoas que, embora não tivessem a plenitude do Espírito, obtiveram o conhecimento necessário para complementar aquilo que era feito pelos dois artesãos principais. 

– Aqueles que são chamados pelo Senhor para o exercício de uma tarefa, seja ela qual for, na obra de Deus, devem também ensinar os seus conservos aquilo que receberam da parte do Senhor, para que, ainda que de forma material e natural, possam os irmãos ajudá-lo a realizar a vontade de Deus.

– Muitos, na atualidade, tendo recebido tal capacitação, negam-se a ensinar os outros, temerosos de perda de posições, de que seus eventuais discípulos possam sobrepujar os seus mestres.

Trata-se de um pensamento egoísta e que não tem aprovação divina. O nosso sentimento deve ser o mesmo de Moisés que, ao ser alertado por Josué de que havia duas pessoas profetizando no arraial, desejou que todo o povo se tornasse profeta (Nm.11:29). 

– Percebamos, ainda, que não houve a transferência do Espírito Santo de Bezaleel e Aoliabe para os seus alunos, mas estes, com inevitável ajuda divina, puderam naturalmente aprender os ofícios e, deste modo, sob a direção de ambos, realizar a contento o projeto determinado pelo Senhor. 

– No entanto, o texto sagrado é explícito ao dizer que todos os que se chegaram a Bezaleel e Aoliabe foram dotados de sabedoria do coração, coração que se moveu para se chegar até os dois artesãos (Ex.36:2), ou seja, eram também pessoas chamadas pelo Senhor para esta tarefa.

Embora não fossem cheios do Espírito, eram pessoas igualmente convocadas pelo Senhor para cooperar. Nunca se faz a obra de Deus com curiosos, “fabricados” ou “oferecidos”. 

– Isto ainda ocorre hoje. Aqueles que o Senhor chama para exercerem os chamados dons ministeriais (Ef.4:11), devem cercar-se de auxiliares, ensinar os outros tarefas materiais e humanas que ajudarão no atingimento das metas e dos propósitos divinos,

até porque o objetivo e a finalidade dos dons ministeriais outro não é senão, como já se disse supra, o aumento do corpo para sua edificação em amor (Ef.4:16). 

– Bezaleel, Aoliabe e seus discípulos tudo fizeram conforme o modelo apresentado por Moisés.

O nome de Bezaleel ainda era lembrado como o autor do altar de cobre nos dias de Salomão, mais de quatrocentos anos depois (II Cr.1:5).

– Com os artesãos do tabernáculo, portanto, aprendemos importantíssimas lições sobre a natureza e a forma de realização da obra do Senhor.

Que nós, assim como Bezaleel e Aoliabe, coloquemos as habilidades recebidas da parte do Senhor para concretizarmos o propósito de Deus para o Seu povo e para a humanidade, sendo antes instrumentos e não obstáculos para a sua pronta realização. Que Deus nos dê esta graça!

 

 

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/3849-licao-2-os-artesaos-do-tabernaculo-i

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