LIÇÃO Nº 2 – QUEM ERA JÓ
Jó é apresentado como um homem de grandes virtudes e qualidades espirituais, que sobrepujavam, e muito, a prosperidade material que possuía.
INTRODUÇÃO
– Jó é apresentado como um homem de grandes virtudes e qualidades espirituais, que sobrepujavam, e muito, a prosperidade material que possuía.
– Devemos observar este exemplo e tentar sermos vistos por Deus como alguém que seja “sincero, reto, temente a Deus e que se desviava do mal”.
I – QUEM ERA JÓ
– Depois de uma lição introdutória, vamos adentrar propriamente no estudo do livro de Jó.
– O livro de Jó começa com a apresentação da principal personagem da narrativa, antes uma verdadeira discussão a respeito do sofrimento do justo e dos propósitos divinos para isto.
– Logo de início, o texto sagrado demonstra que o que é importante e relevante ao ser humano é alcançar um testemunho de Deus a respeito de sua integridade e sinceridade. Qual o testemunho que Deus tem dado de nós?
– Em primeiro lugar, devemos observar que Jó é uma figura real, pois assim nos afirmam as Escrituras, ao apontar que “havia um homem na terra de Uz cujo nome era Jó (Jó 1:1).
– Lamentavelmente, muitos supostos estudiosos das Escrituras e entendidos da Bíblia Sagrada têm procurado fazer crer que Jó seria uma figura mitológica, sem existência real, apenas uma lenda criada para justificação do sofrimento dos justos.
– Repudiamos este entendimento, porque o mesmo contraria o que diz a Bíblia Sagrada, que é a Palavra de Deus.
O fato de não haver evidências arqueológicas a respeito do patriarca Jó ou de não se ter sequer localizado, com precisão, a “terra de Uz”, é irrelevante para crermos na existência real desta personagem.
Cremos porque a Bíblia afirma que “havia um homem na terra de Uz cujo nome era Jó” e é o que basta para afirmarmos que Jó realmente existiu. Não bastasse isso, duas outras passagens bíblicas referem-se a Jó como uma pessoa real (Ez.14:20 e Tg.5:11).
– Após apresentar o nome de Jó, as Escrituras concentram-se no seu caráter, na sua textura espiritual, realçando, de forma evidente, que é esta a prioridade, a razão de ser do homem.
– O homem foi feito para ser a imagem e semelhança de Deus, ou seja, o propósito maior de Deus para com o homem é que este tenha uma estatura espiritual, tenha uma vida de comunhão com seu Criador, propósito este que, rompido pelo pecado de nossos pais no Éden, é o alvo principal do plano de redenção da humanidade, como podemos verificar em Ap.21:3,4.
– Por isso, o servo de Deus deve ter, como prioridade em sua vida, a busca desta estatura espiritual, devendo, sobretudo, buscar o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33), as coisas que são “de cima”(Cl.3:1-3).
– Eis o motivo pelo qual devemos rechaçar e repudiar todo e qualquer evangelho que priorize o material, seja a que título for, pois, se esperarmos em Cristo somente para esta vida ou para os bens materiais, seremos os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19).
– Diz o texto, em primeiro lugar, que Jó era um homem sincero, ou seja, um homem autêntico, verdadeiro, “sem cera”, ou seja, que era, efetivamente, o que aparentava ser.
A expressão “sincero” provém do latim e quer dizer “sem cera”, evocando o vaso que não apresentava qualquer trinco ou rachadura, pois era comum que os oleiros, para esconder falhas dos vasos, colocassem cera para que as rachaduras e defeitos não fossem vistos pelos consumidores.
– De igual forma, é imperioso que o servo de Deus seja sincero, ou seja, que não busque esconder dos semelhantes os seus erros, os seus defeitos, as suas imperfeições.
A partir do momento que buscamos ter uma vida de “faz-de-conta”, de hipocrisia, de mentira, de aparência, selamos a nossa perdição e somos sérios candidatos ao lago de fogo e de enxofre, à morte eterna.
– A Bíblia é bem clara ao dizer que ficarão de fora da vida eterna todos os que amam e cometem a mentira (Ap.22:15).
A comunhão com Deus exige a sinceridade. O apóstolo Paulo afirmou que a comunhão com Cristo exige a sinceridade (I Co.5:8; II Co.1:12,17).
– A sinceridade em Jó era algo presente em qualquer circunstância, tanto que, no calor da prova, o inimigo, usando de sua própria mulher, pôde exclamar: “ainda reténs a sua sinceridade?” (Jó 2:9).
Era este o principal valor que Jó possuía e o que primeiro o Senhor procura em cada um de nós. Não sendo a mulher de Jó, mas procurando fazer o(a) querido(a) irmão(ã) meditar: “Ainda reténs a sua sinceridade? “
OBS: “…Nosso culto deve ser sincero; nossas orações devem ser corretas(…) devem obter harmonia entre o ser humano e o seu Criador.
Do mesmo modo nossos atos de bondade devem ser verdadeiros e feitos em sinceridade; devem ser consistentes em nossas obrigações legais e devem ter a intenção de semear a paz entre o homem e seu semelhante…” (BUNIM, Irving M. A ética do Sinai, p.64)
– Prosseguindo a descrição do patriarca, o texto sagrado diz-nos que Jó era um homem reto. A sinceridade falava do relacionamento íntimo entre o patriarca e Deus, a sua pureza de propósitos, a sua observância interna e real do que aparentava ser.
A retidão, por sua vez, fala-nos do relacionamento de Jó com os seus semelhantes, na sociedade.
– Jó era um homem reto, ou seja, um homem justo, um homem direito, um homem que reconhecia o seu lugar na sociedade e que não procurava prejudicar a quem quer que seja.
O grande jurista romano Ulpiano disse, certa feita, que os princípios do direito, que é a ciência que cuida da retidão e da justiça, são três, a saber:
“a ninguém lesar, viver honestamente e dar a cada um o que é seu”(Institutas de Justiniano 1,1,3) .
– Em outras palavras, ser reto é ser justo. Ser reto é ser direito, ou seja, é não ser torto. O homem tem de ser reto, até porque Deus o fez reto (Ec.7:29), e a retidão impõe uma constância de atitudes, uma previsibilidade de comportamento, algo que, em os nossos dias, é cada vez mais raro.
Com grande facilidade vemos pessoas que, ontem, diziam “sim”, agora dizerem “não”, só porque se alteraram as circunstâncias à sua volta.
No entanto, o servo de Deus deve ser reto, deve ter uma posição definida, sabendo o que é certo e o que é errado. Devemos ser retos, porque Deus é reto (Dt.32:4; Sl.25:8).
– Durante todo o desenvolvimento do livro, Jó demonstrará sua retidão, reconhecendo que tudo o que Deus lhe havia dado, poder-lhe- ia ser tirado (Jó 1:21, 2:10).
– A terceira característica de Jó é a de que ele era temente a Deus. Ser temente a Deus não é ter medo de Deus, mas, muito pelo contrário, ter respeito a Deus, comportar-se de modo que se reconheça que Deus é o Senhor e que nós somos apenas Seus servos.
– Ser temente a Deus é reconhecer que Deus deve guiar nossos passos e que nós devemos obedecer-Lhe, simplesmente porque Ele é o Senhor.
Aqui repousa, aliás, a própria moralidade do servo do Senhor. Fazemos ou deixamos de fazer algo não porque tenhamos medo de Deus, mas porque reconhecemos que Ele é o Senhor e que a Ele cabe ordenar os homens sobre o que deve ser feito ou não.
– Ser temente a Deus é ser dependente de Deus, é negar o convite feito pelo inimigo de sermos autossuficientes e de querermos ser “pequenos deuses”, dizendo, para nós mesmos, o que é certo ou o que é errado, exatamente a mensagem satânica que está sendo disseminada no mundo, atualmente sob a roupagem do movimento Nova Era.
– Jó era temente a Deus, reconhecia em Deus o senhorio sobre o universo e sobre a sua vida e, por isso, aborrecia o mal (Pv.8:13). A Bíblia diz que o temor do Senhor é o princípio da ciência (Pv.1:7), é o princípio da sabedoria (Sl.111:10).
– É no temor de Deus que Jó depositava a sua confiança (Jó 4:6), não sendo diferente conosco nestes dias (Pv.14:26), pois, ao temermos a Deus, sabemos que Ele é soberano e, portanto, como diz o cantor sacro, “reina antes da fundação do mundo”, tendo, pois, o absoluto controle sobre todas as coisas, o que nos deixa tranquilos quando à Sua bênção sobre nós e o cumprimento de Suas promessas a nosso respeito.
– Só poderemos alcançar a pureza se tivermos o temor do Senhor, pois só Ele é limpo (Sl.19:9). Não temer a Deus é ser ímpio e, portanto, sem qualquer parte com o Senhor e com a vida eterna (Sl.36:1; Rm.3:12-18).
OBS: “…O ser humano não pode sobrepujar a tentação somente com o amor. Ele também precisa sentir pelo Eterno uma mistura de temor e reverência. O ‘amor’ pode motivar as ações positivas de serviços, mas só o ‘temor’ pode refrear o ser humano de violar as proibições….” (BUNIM
, Irving M. A ética do Sinai, p.28).
– A quarta, mas nem por isso menos importante característica de Jó, era que ele era um homem que “se desviava do mal”. Além de ser sincero, reto e temente a Deus, Jó era prudente.
– Isto demonstra que Jó sempre avaliava as suas atitudes e procurava estar sempre longe de situações que pudessem trazer-lhe o mal.
A ausência desta característica é a causa de muitos fracassos espirituais. Se é verdade que o homem deve ser símplice como a pomba, sendo puro de propósitos e sem malícia, também não é menos verdadeiro que deve ser prudente como a serpente, que sempre verifica o ambiente antes de nele se inserir (cf.Mt.10:16).
– Embora não sejamos do mundo (Jo.17:16), nele estamos (Jo.17:11) e, ali, como Jesus deixou bem registrado na passagem que estamos mencionando, não há ovelhas, mas, sim, lobos devoradores, que estão a serviço do adversário, cujo trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
Não podemos ser ingênuos, mas devemos estar vigilantes, para impedir que os embaraços desta vida impeçam-nos de acabar a carreira e combater o bom combate (Pv.22:3;27:12; Hb.12:1).
– Desviar-se do mal é ter esta atitude de prudência, de discernimento e não permitir que fatos que, muitas vezes, não são pecados em si mesmos, possam atrapalhar a nossa vida espiritual.
Jó procurava desviar-se do mal e isto só lhe foi benéfico na sua existência. Desviemo-nos do mal, deixemos de fazer coisas que não convenham a um servo de Deus (I Co.10:22,23), coisas, repetimos, que não são pecados, mas que podem nos embaraçar e nos levar a pecar.
Há uma promessa de Jesus no sentido de pedir ao Pai para que nos livre do mal (Jo.17:15), mas devemos fazer a nossa parte, vigiando (Mc.13:37).
II – A PROSPERIDADE DE JÓ
– Depois de ter descrito o caráter espiritual do patriarca, o texto sagrado começa a descrever a prosperidade de Jó, numa clara demonstração de que o importante e prioritário é ter uma verdadeira vida de comunhão com Deus.
– Tanto assim é que tudo o que foi descrito como sendo a prosperidade de Jó lhe foi retirado na sua provação, mas o seu caráter não pôde ser mudado, pois ele não se construíra em cima do que ele possuía, mas num relacionamento direto com o seu Criador.
Jesus disse que a vida de alguém não consiste na abundância do que possua (Lc.12:15), verdade que tem sido sistemática e exaustivamente obscurecida pelo nosso adversário, que tem preconizado uma civilização do ter e do materialismo, conseguindo, inclusive, através da mídia e do próprio sistema que implantou neste mundo, levar após si muitos que, um dia, foram genuínos servos do Senhor (cf.II Pe.2:1-3).
Que Deus nos guarde e nos impeça de sermos iludidos pela perspectiva materialista que domina o mundo.
– Inicia a descrição do texto pela família de Jó. Afirma que o patriarca tinha dez filhos: sete homens e três mulheres.
Esta colocação da família de Jó se, de um lado, mostra a própria concepção antiga de que a família fazia parte do patrimônio do indivíduo, algo que nos soaria estranho nos dias atuais; de outro, mostra-nos que a principal dádiva que Deus pode dar ao homem é a família, que foi criada pelo próprio Senhor.
– A descendência de alguém é a própria “herança e galardão do Senhor” (Sl.127:3), sendo, pois, o que de mais valioso pode alguém ter na face desta Terra.
Há, mesmo, estudiosos das Escrituras que afirmam que um dos principais motivos que o adversário tem para odiar o ser humano é, precisamente, a capacidade que este tem, ao contrário do ex-querubim ungido, de procriar e ter descendentes.
– A menção dos filhos de Jó, em primeiro plano, portanto, não é casual, mas uma demonstração bíblica de que a família é o nosso maior bem. Temos cuidado deste tesouro que Deus tem nos confiado, ou temos sido negligentes no cuidado de nossa família?
– Jó era não só um pai de muitos filhos, mas um pai cuidadoso que fazia questão de velar pela santidade e pela vida espiritual de seus filhos. Criava seus filhos com qualidade, preocupação que devemos ter.
Por isso, mister se faz que os crentes façam um planejamento familiar, que sejam criteriosos na formação de sua família e na criação de seus filhos, pois é o mais rico tesouro que o Senhor pode nos confiar e sobre o qual teremos de prestar contas.
– Vemos, portanto, que a prosperidade material de Jó, que tinha uma fortuna vasta, como nos informa o texto sagrado, era consequência de uma vida de comunhão com Deus.
Não que uma vida de comunhão com Deus vá trazer, necessariamente, a prosperidade material, pois se falarmos isto, estaremos mentindo, pois há inúmeros exemplos de pessoas que eram virtuosas e verdadeiros instrumentos nas mãos de Deus mas que não possuíam qualquer patrimônio exuberante, tendo de viver às custas de seu trabalho, como é o caso, v.g., dos apóstolos.
– Jó tinha plena consciência de que todo aquele bem-estar econômico era fruto de seu relacionamento com Deus, relacionamento este que era o mais importante e o que deveria sempre perdurar, sendo a prosperidade material uma consequência, bem-vinda, que não lhe era, em absoluto, um estorvo, mas onde o patriarca não punha o seu coração.
Ela existia, mas não tinha por ele buscada, nem estava nela a sua esperança, tanto que, quando tudo se foi, e em um só dia, mesmo assim, Jó ainda pôde adorar ao seu Deus, porque seu relacionamento com Ele independia de tudo isto.
III – O TESTEMUNHO DE DEUS A RESPEITO DE JÓ
– A Bíblia, após descrever o caráter de Jó e seu patrimônio, apresenta-nos um quadro singular e enigmático, segundo o qual o adversário comparece diante de Deus, juntamente com os demais “filhos de Deus”, como que para prestar contas de suas andanças e vagueações ao redor da Terra.
– O texto sagrado afirma-nos que isto ocorreu e é o que basta para crermos e admitirmos que isto assim se deu, não devendo nos meter em coisas que não vimos e tentar explicar porque o adversário pôde entrar na presença de Deus, porque ele assim o fez (ou faz) (Cl.2:18).
– Não devemos nos esquecer, porém, de duas coisas importantes:
primeiro, que Deus é onipresente, ou seja, está presente em todos os lugares e que, portanto, já que o texto não diz que onde Ele estivesse, não se tem dificuldade alguma que o diabo pudesse dialogar com o Senhor em qualquer lugar, que não era aquele do qual foi expulso quando pecou.
– Por segundo, o texto permite-nos observar que foi quem Deus quem tomou a iniciativa do diálogo e que, portanto, esta “aproximação” a Deus se deu por vontade exclusiva do Senhor, a primeira mostra da soberania divina neste livro e que nos prova claramente que Satanás só atua nos limites e sob o controle do Senhor.
– O fato é que o adversário apresentou-se diante de Deus e o próprio Deus deu testemunho a respeito de Jó, dizendo ser ele sincero, reto, temente a Deus e que se desviava do mal (Jó 1:8).
– O testemunho de Deus a respeito de Jó ressalta que “não havia ninguém semelhante a ele” na face da Terra.
Isto mostra que o servo de Deus deve sempre se sobressair pelo seu caráter diferenciado no meio de um mundo pecaminoso.
É neste sentido que Jesus afirmou que o cristão é luz do mundo e, como tal, não pode ser escondido debaixo do alqueire (Mt.5:14,15), bem como que Moisés explicou que o Senhor constituiu-nos por cabeça e não por cauda (Dt.28:13).
– O crente deve se sobressair não pelo seu dinheiro, não por sua posição, mas pela sua obediência ao Senhor.
O importante é que o homem seja distinguido não pelos homens, mas por Deus. Jesus conta-nos a história de alguém que queria ser louvado pelos semelhantes e que, por isso, não foi justificado por Deus (Lc.18:9-14).
Devemos, portanto, evitar querermos aparecer diante dos homens, mas que possamos ser relevantes diante do Senhor.
IV – JÓ, UM PAI DE FAMÍLIA EXEMPLAR
– O cuidado de Jó para com seus filhos era, sobretudo, espiritual. Sendo um homem muito rico, Jó, naturalmente, cuidava das necessidades materiais de seus filhos e com grande opulência, a ponto de seus filhos terem, cada um, sua casa, terem servos a seu dispor e realizarem, costumeiramente, banquetes, vivendo, assim, regaladamente, como pessoas de grande poder aquisitivo que eram.
– No entanto, Jó não se limitava a providenciar a manutenção material de seus filhos, mas buscava santificá-los ao término do turno dos banquetes. Assim, buscava manter seus filhos em padrões de santidade.
Será que temos tido esta preocupação, de buscar a santificação de nossos filhos? Uma ordem vinda dos céus afirma-nos que, quem é justo, faça justiça ainda e quem é santo, santifique-se ainda (Ap.22:11b).
– Observemos, ainda, que a preocupação de Jó em santificar seus filhos não impedia que seus filhos desfrutassem dos bens que possuíam nem tampouco tivessem momentos de alegria e de diversão.
Santidade não se confunde com tristeza, santidade não se confunde com privação ou ausência de diversão ou de convívio social.
– Não podemos nos misturar com o mundo, devemos ser santos, separados do pecado, mas a separação do pecado não implica em separação da sociedade nem da convivência com as demais pessoas.
– Os filhos de Jó, mais jovens e com outra disposição, não podiam, mesmo, ter os mesmos interesses e a mesma disposição do seu pai, mais velho e com outra estrutura psicológico-física.
Por isso, seus filhos gostavam de festas e banquetes, o que não era mais o desejo e a disposição de seu pai, mas, cada um ao seu modo e cada um dentro de sua faixa etária, mantinham-se em santidade, sem que isto significasse opressão ou tirania por parte de Jó.
– Jó santificava os seus filhos, o que quer dizer que havia alguma espécie de culto a Deus para que isto se verificasse.
O texto nada nos diz a respeito mas devemos inferir isto, até porque não sabemos, com detalhes, como se realizava a própria adoração de Jó a Deus, já que não se tratava de um israelita e não estávamos na época da lei.
– Isto também nos mostra que a forma de adoração a Deus, a denominada liturgia, é algo secundário e que deve ser observado mas não a ponto de instituir um formalismo que mate o próprio propósito que é o de adorar e glorificar o nome do Senhor.
– Algo que tem faltado nos lares dos crentes é o culto doméstico, que, convenhamos, ganhou algum impulso durante a quarentena e “lock down” decretados por conta da pandemia do COVID-19, o que tem sido um grande prejuízo para as famílias e, por extensão, para a Igreja, que, afinal de contas, nada mais é que a reunião das famílias.
– A extinção do culto doméstico é o principal trunfo que o adversário tem conquistado nos nossos dias. Sem transformar o seu lar em um altar perante o Senhor, os crentes têm aberto um enorme brecha para que o mundo ingresse em suas casas e, através delas, atinjam a igreja, retirando a espiritualidade e prejudicando, enormemente, seja a evangelização, seja o ensino da Palavra de Deus, como se pôde verificar no momento em que as pessoas ficaram privadas de cultuar coletivamente por causa da pandemia.
Que o exemplo de Jó sirva-nos de incentivo e estímulo para buscarmos a santificação de nossos lares e de nossos filhos, em especial.
– Além de Jó santificar seus filhos, a Bíblia informa-nos que ele se levantava de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles. Jó era um homem de oração, um homem de intercessão, um homem de sacrifícios.
Jó dava a prioridade às coisas celestiais, à sua relação com Deus, apesar de ser um homem que, com certeza, dada a sua riqueza, era ocupadíssimo, cheio de afazeres e de deveres, não só no cuidado de seu patrimônio mas, até mesmo, na comunidade onde vivia, conforme inferimos do desenvolvimento do livro (v.g., Jó 29:8).
– Isto, porém, não o impedia de servir a Deus e de buscá-lo de madrugada. Quantos de nós temos orado de madrugada?
Quantos de nós temos colocado nosso relacionamento com Deus em primeiro lugar? Jó não só santificava seus filhos, mas buscava a própria santificação, o perdão de suas falhas e, assim, tinha condições de interceder pelos seus filhos.
– Diz o texto que Jó fazia isto “continuamente”, ou seja, fazia parte da sua rotina, não era algo esporádico, algo transitório, algo que era contemporâneo a uma dificuldade, a uma prova, ou, então, fruto de um estímulo emocional, mas era algo que advinha do seu próprio caráter, do seu próprio viver. Temos buscado, assim, a Deus?
OBS: “Jó, como chefe de família, tinha o dever sacerdotal ou pastoral no que diz respeito a seus familiares. Como sacerdote, ofereceu sacrifícios expiatórios, num total de dez, para cada filho e filha.
Não os ofereceu por causa de algum pecado conhecido, mas porque ‘talvez’ tinham pensado alguma coisa errada, na sua ignorância: seriam, portanto, os sacrifícios pelos pecados por ignorância (Lv. 4:13-21) e demonstram o quanto Jó ansiava pela santificação da sua família.” (A BÍBLIA VIDA NOVA, com. a Jó 1:5, p.531).
– O pai de família tem sob sua responsabilidade a condução da adoração doméstica. Não se trata de algo que Jó deveria fazer só porque estávamos em pleno período patriarcal, mas de algo que é exigível ainda hoje, pois se trata de uma função cometida à cabeça do casal, que é o marido (I Co.11:3; Ef.5:23).
– Com efeito, dentre as atribuições da cabeça do casal está a de se submeter a Cristo, que é a cabeça do varão (I Co.11:3), de modo que, na organização familiar, temos que é o marido quem leva a família até Cristo, sendo, portanto, o sacerdote, pois o sacerdote é aquele que faz a mediação entre Deus e o povo, consagrando, tornando santo aquilo que vai ao encontro de Deus.
– O pai de família deve levar a sua família à presença de Deus, é sua a responsabilidade, como um verdadeiro sacerdote do lar.
Evidentemente que este papel, exercido em tom familiar, não exclui, de forma alguma, o sacerdócio universal de todo servo de Deus, no âmbito da igreja, mas é uma atividade complementar e, em certa medida, até anterior à Igreja, na medida em que o primeiro ambiente de convivência de um ser humano é o ambiente familiar.
– Jó era um homem justo, um exemplo, a ponto de Deus mesmo dar dele testemunho e é este homem que nos servirá de exemplo e aprendizado sobre a questão do sofrimento sobre a face da Terra, como haveremos de ver nas próximas lições.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5812-licao-2-quem-era-jo-i