LIÇÃO Nº 3 – A VERDADEIRA ADORAÇÃO
INTRODUÇÃO
-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, estudaremos o diálogo entre Jesus e a mulher samaritana.
-Jesus trouxe a verdadeira adoração.
I – O DIÁLOGO COM A MULHER SAMARITANA
-Na sequência do estudo do Evangelho segundo João, estudaremos hoje mais um diálogo registrado pelo apóstolo do amor, desta feita travado entre Jesus e uma mulher samaritana.
-Temos aqui mais um diálogo que não foi registrado nos outros evangelhos. Além de ter sido um diálogo reservado, como o travado com Nicodemos, tratou-se de um episódio de difícil assimilação entre os discípulos, já que se teve uma situação que rompia com arraigados preconceitos culturais da época.
-Diante disto, temos mais uma circunstância em que o Espírito Santo deixou para momento oportuno o registro do episódio, o que se fez quando o povo judeu já vivia um estado adiantado de diáspora e quando necessitava a Igreja de demonstrações eloquentes do amor de Jesus e de Sua humanidade e deidade, que se mostram bem evidenciadas neste encontro do Senhor com aquela mulher.
-A narrativa do Evangelho começa com a informação de que Jesus resolveu deixar a Judeia em meio a uma intriga que se queria criar entre ele e João Batista e os respectivos discípulos de cada qual.
-Após ter iniciado Seu ministério, inclusive com o apoio de João Batista, que, por duas vezes, deu testemunho de que Jesus era o Cristo, Jesus permitiu que Seus discípulos batizassem, assim como fazia o Batista.
-Não demorou muito para que se iniciasse uma discussão, fomentada pelo povo, a respeito de quem deveria ser seguido: João Batista ou Jesus. Em momento algum, João Batista quis se contrapor a Cristo, reafirmando ser Jesus o Messias e não ele.
-Jesus, porém, percebendo que este clima em nada beneficiaria o desenvolvimento de Seu ministério, como também o próprio trabalho do Batista, resolveu voltar para a Galileia.
-Temos aqui uma importante lição: devemos evitar intrigas e contendas entre os que realizam a obra de Deus, ainda que tenham pleno discernimento espiritual de que um determinado trabalho está para se findar, passou o seu tempo. As inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas e dissensões são obras da carne (Gl.5:20) e tudo devemos fazer sem contendas (Fp.2:14).
-Nos dias em que vivemos, muitos são os que querem se projetar mediante polêmicas e contendas, notadamente nas redes sociais. Jesus estava no início de Seu ministério e uma situação deste tipo bem poderia gerar “engajamento”, mas não era este o comportamento do Senhor e não pode ser também o nosso.
-Normalmente, os judeus, quando iam da Judeia, situada na região sul de Israel, para a Galileia, que ficava ao norte, atravessavam o rio Jordão em Jericó e transitavam pela Pereia, tornando a atravessar o rio para ingressar na Galileia, tudo para que não passassem por Samaria, a região que ficava entre Judeia e Galileia.
-Isto era consequência da rivalidade e verdadeiro ódio que havia entre judeus e samaritanos. Os samaritanos eram estrangeiros que tinham vindo habitar aquela região depois que o reino de Israel, o reino das dez tribos, havia sido levado cativo pelos assírios em 722 a.C.
Eles passaram a ter uma vida religiosa misturada, servindo a Deus e também aos seus deuses, o que, evidentemente, gerou a repulsa dos judeus, ou seja, os habitantes do reino de Judá (II Rs.17:31,32).
-Como se não bastasse isso, em retaliação pelo fato de não lhes ter sido permitido ajudar os judeus a reconstruírem o templo quando do retorno do cativeiro da Babilônia, passaram sistematicamente a se opor ao povo judeu, seja tentando impedir a reconstrução do templo (Ed.4:1-5), seja, posteriormente, opondo-se à própria reedificação de Jerusalém (Ne.2:10; 4:1-3).
-No período intertestamentário, os samaritanos não perderam oportunidade de se oporem aos judeus, seja construindo um templo rival no monte Gerizim, seja instigando Alexandre, o Grande a marchar contra Jerusalém, que se livrou de destruição pela estratégia do sumo sacerdote Jado,
-Instaurou-se uma grande inimizade entre os dois povos, como atesta o historiador judeu Flávio Josefo:
“…Os descendentes desses judeus fizeram contínua guerra aos samaritanos, porque nem uns nem outros queriam deixar seus costumes.
Os de Jerusalém sustentavam que somente o templo de Jerusalém era santo e que não se devia fazer sacrifícios em outros lugares. Os samaritanos sustentavam, ao contrário, que era preciso ir oferecê-los no monte Gerizim…” (Antiguidades Judaicas XII.1.453. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. V.1, p.251).
-A rivalidade cresceria ainda mais no reinado de Hircano I, um dos reis macabeus, que destruiu o templo do monte Gerizim por volta dos anos 129/128 a.C., bem como a própria cidade de Samaria, que foi, posteriormente, reconstruída por Herodes, o Grande, mas não o templo.
-Entretanto, apesar de todo este histórico, o texto bíblico diz que era necessário que Jesus passasse por Samaria (Jo.4:4).
A necessidade, como se verá ao longo do texto, dizia respeito à salvação da mulher samaritana e da população da sua cidade, como da própria elucidação a respeito da natureza da obra salvífica de Cristo, que não se circunscrevia a Israel e que tinha em vista a restauração de uma verdadeira comunhão entre Deus e a humanidade e a instauração de uma verdadeira adoração.
-Este texto mostra-nos, claramente, como a pregação do Evangelho está acima da diversidade cultural e como a mensagem da salvação é universal, deve atingir a todos os homens indistintamente.
Lamentavelmente, esta realidade bíblica tem sido de difícil assimilação ao longo de toda a história da Igreja, estando, aliás, por debaixo da primeira grande controvérsia doutrinária surgida entre os cristãos e dirimida no concílio de Jerusalém (At.15).
-Como ensina o pastor Antônio Mardônio Nogueira Vieira: “… Após participar da Páscoa em Jerusalém e encontrar-se com Nicodemos, seguiu para a Galileia pelo caminho mais curto, ou seja, por dentro de Samaria, para demonstrar aos Seus discípulos que não preconceituoso (Jo.4:4), como os demais judeus, os quais não comunicavam com os samaritanos (v.9).…” (Lições bíblicas. Jovens e adultos. 1. trim. 1995. Mestre, p.48).
-Esta difícil assimilação, aliás, como já dito, pode ser uma das razões pelas quais somente João tenha registrado este episódio.
-Jesus vai até Sicar, uma cidade de Samaria que ficava próxima à herdade que Jacó havia dado a seu filho José.
Este pedaço de terra fora comprado por Jacó por cem peças de dinheiro junto a Hamor, filho de Siquém (Gn.33:19), sendo, portanto, um dos raríssimos campos que foram adquiridos pelos patriarcas em suas peregrinações, tendo sido ali, inclusive, que foram sepultados os ossos de José, já que este território foi entregue para a tribo de Efraim, filho de José (Js.21:21; 24:32).
-Jesus chegou ao local perto do meio-dia, tendo se sentado junto ao poço de Jacó, cansado do caminho (Jo.4:6). João deixa-nos bem claro que Jesus era um ser humano, tanto que se cansou do caminho e acabou se assentando junto ao poço de Jacó, faminto e sedento.
-Os discípulos foram, então, providenciar alimento para si e para o Senhor Jesus (Jo.4:8) e, nesse horário, veio uma mulher samaritana para retirar água, o que era inusitado, pois, normalmente, as mulheres vinham buscar água pelo período da manhã, a demonstrar que esta mulher, por algum motivo, não podia conviver com as demais pessoas de sua cidade.
-Quando a mulher se aproximou, Jesus pediu-lhe água, o que causou imediata admiração dela, pois os judeus nem sequer se comunicavam com os samaritanos (Jo.4:9).
-Jesus, a exemplo do que fez com Nicodemos, príncipe dos judeus e mestre de Israel, não vai travar um diálogo firmado em questões comezinhas, não vai discutir a rivalidade entre judeus e samaritanos, mas aprofunda o discurso, dizendo que se a mulher conhecesse o dom de Deus e quem lhe estava pedindo água, ela pediria água viva (Jo.4:10).
-Como afirma o psicólogo e psiquiatra Augusto Jorge Cury (1958- ):
“…Quando Cristo apareceu diante daquela mulher, ela tinha plena consciência da discriminação dos judeus e esperava que ele, sendo um ‘judeu puro’, certamente a rejeitasse, não lhe dirigisse uma palavra. Porém, Ele começou a dialogar longamente com ela.
A mulher ficou impressionada com sua atitude e ninguém conseguia entender como ele rompera uma discriminação tão cristalizada. Jesus teve um diálogo profundo, elegante e acolhedor com a samaritana.
Não apenas rompeu a ditadura do preconceito racial, mas também a do preconceito moral. Para Ele, aquela mulher era, acima de tudo, um ser humano, independentemente de sua raça e da sua moral. Dificilmente alguém foi tão acolhedor com pessoas consideradas tão indignas…” (O Mestre dos mestres: Jesus, o maior educador da história. Rio de Janeiro: Sextante, 2006 (Análise da inteligência de Cristo, v.1), pp.62-3).
-Jesus sabia da necessidade que aquela mulher tinha de um contato com Deus, necessidade, aliás, que é de todo ser humano. Por isso, fala-lhe a respeito do “conhecimento do dom de Deus” e, assim como fizera com Nicodemos, apresenta-Se como “o dom de Deus”.
-Jesus é o “dom de Deus” para a humanidade, foi dado aos homens para que se restabelecesse a amizade entre Deus e os homens, para que se restaurasse a comunhão entre o Criador e a coroa da sua criação terrena. Jesus é “o dom de Deus”, ou seja, Deus quis salvar os homens, por isso deu o Filho para morrer por nós e pagar o preço dos nossos pecados, “dom” oferecido a todos os homens indistintamente.
-Paulo, aliás, reafirma esta universalidade do propósito salvador, ao dizer que, sendo ele o pior dos pecadores, foi também alcançado pela salvação, numa demonstração de que todos os que crerem igualmente serão salvos (I Tm.1:15,16).
-O “dom de Deus” dá “água viva”. Esta expressão de Jesus, dada ao lado da fonte de Jacó, que é o local em que há sempre água corrente, pois este é o significado de “água viva”, como vemos, por exemplo, em textos como Lv.14:50-52; 15:13.
-O Senhor, então, com aquela mulher, usa da mesma pedagogia de que se utilizara com Nicodemos, usando coisas terrestres para falar de coisas espirituais. Usa a circunstância de se ter ali um poço de águas vivas para dizer que a verdadeira “água viva” somente poderia ser fornecida pelo “dom de Deus”, pois só quem crê em
Jesus haveria de receber o Espírito Santo, que “são os rios de água viva [que] correrão do seu ventre” (Jo.7:38,39).
-Jesus estava a trazer a salvação, e, com ela, o restabelecimento da comunhão entre Deus e o homem, de modo que se teria a reativação do espírito humano, que voltaria a se ligar com o Senhor, e, a partir do interior do ser humano, que se tornaria habitação divina, ter-se-ia a unidade entre Deus e o homem.
-Como afirma o psicólogo e psiquiatra Augusto Jorge Cury (1958- ): “…O mestre de Nazaré queria produzir pessoas que se interiorizassem e fossem ricas e ativas nos bastidores da inteligência…” (O mestre da sensibilidade. Rio de Janeiro: Sextante, 2006 (Análise da inteligência de Cristo: v.2), p.23).
-Como já dizia o proverbista, Deus quer que Lhe demos o coração (Pv.23:26), para que, sendo ele purificado, tenhamos um coração novo (Ez.36:26), liberto dos pecados que o habitam (Mt.15:18,19).
-Diante da declaração de Jesus, a mulher samaritana, ainda envolvida com as “coisas desta vida”, perguntou ao Senhor como ele poderia tirar “água viva” se não tinha sequer como retirar a água do poço, que era fundo, tanto que lhe estava a pedir água (Jo.4:11).
-Como se não bastasse, ainda acrescentou a mulher uma provocação, perguntando se Jesus Se considerava maior que Jacó, que havia tomado daquela água e dado a seus filhos, Jacó a quem a mulher chama de pai, o que, certamente, era ofensivo para os judeus.
-A mulher samaritana agia como Nicodemos, não saindo da dimensão terrena, não tendo um “raciocínio espiritual”, o que não é se admirar, já que o homem, no pecado, tem seu entendimento cegado pelo deus deste século para que não veja a luz do Evangelho da glória de Cristo (II Co.4:4).
-Neste diálogo, vemos como deve ser conduzido o evangelismo pessoal. Jesus falou de algo espiritual e a mulher, naturalmente, não o pôde compreender.
Assim como o Senhor não Se deixou desviar por questões alheias ao objetivo da salvação das almas, como era a discussão racial entre judeus e samaritanos, também não recriminou esta ignorância espiritual da mulher.
-Muitos têm se perdido no evangelismo permitindo que o diálogo se desvie para questões irrelevantes e que se constituem em obstáculo para a pregação da Evangelho, como polêmicas, escândalos e contendas de palavras, fonte de invejas, porfias, blasfêmias e ruins suspeitas (I Tm.6:4), que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes (II Tm.2:14).
-A ignorância espiritual, que deve ser esperada, deve ser compreendida pelo evangelizador. Jesus, além de não dar qualquer guarida à provocação da mulher, desconsiderando por completo a afirmação a respeito de Jacó, disse à mulher que quem tomasse daquela água voltaria a ter sede, mas a água que Ele desse traria a plena satisfação, porque geraria uma fonte que jorraria para a vida eterna (Jo.4:13).
-Jesus Se identifica, então, como “o dom de Deus” que poderia dar “a água viva”, uma água que geraria uma fonte, daí porque ser “água viva”, que jorraria para a vida eterna. Jesus não só Se coloca acima de Jacó e de seus filhos, mas mostra que tinha algo que nenhum patriarca poderia dar: a vida eterna.
-O caminho para afastar a ignorância espiritual, portanto, é apresentar Jesus, é mostrar que Jesus é o Salvador e que n’Ele temos a vida eterna. O Senhor, aqui, por outros meios, apresenta a mesma mensagem que proferira a Nicodemos.
-Ao príncipe dos judeus, mestre de Israel, o Senhor Se apresenta como o antítipo da serpente de bronze levantada no deserto que poderia trazer “nova vida” para os n’Ele cressem, pois Nicodemos era profundo conhecedor das Escrituras.
-Para a mulher samaritana, estando à beira do poço de Jacó, de onde ela tirava água diariamente, apresenta- Se como Aquele que poderia trazer “água viva” cuja “fonte jorraria para a vida eterna.
-Como é importante saber quem é o seu ouvinte e, deste modo, da forma apropriada, poder mostrar Jesus como o Salvador. Temos feito isso?
-Apesar de Jesus ter mencionado “a vida eterna” e, portanto, ter mostrado que seu foco era espiritual e não terreno, a mulher ainda não compreendera a mensagem. Pediu aquela “água viva” para que não precisasse vir mais ao poço para tirar água (Jo.4:15).
-A propósito, esta resposta da mulher samaritana lança totalmente por terra uma estapafúrdia e absurda interpretação dada recentemente por um certo indivíduo de que Jesus estaria aludindo, ao dizer “água viva” ao sêmen, algo repugnante e que chega mesmo a beirar a blasfêmia.
-Jesus não desiste do diálogo. Ele é Deus e, como tal, longânimo (Nm.14:18; Jn.4:2; II Pe.3:9). Seu objetivo era a salvação daquela vida, era saciar a sua sede de Deus, que Ele já observara naquele coração.
-Então, ante o pedido da mulher para que se lhe desse da água para que nunca mais viesse a ter de vir ao poço, o Senhor Jesus mandou que a mulher chamasse o seu marido para que viesse ao Seu encontro (Jo.4:16).
-A mulher estava vindo ao poço por volta do meio-dia, separada das demais pessoas de sua cidade, porque tinha uma vida moral irregular.
Estava a conviver maritalmente com um homem, já tendo tido cinco maridos, e, ante tal circunstância, era desprezada pelos seus próprios conterrâneos. Era tida como uma “mulher da vida” e, sob este aspecto, por todos desprezada.
Assim, se tivesse esta “água viva”, não precisa mais passar por este constrangimento de ter de vir ao poço de Jacó perto do meio-dia, horário impróprio e que, por isso mesmo, ela não sofreria qualquer discriminação.
-A mulher, diante desta afirmação, admitiu que não tinha marido (Jo.4:17a). Era a confissão do próprio pecado e, sem confissão de pecados, não há como alcançarmos o perdão, a salvação (I Jo.1:9).
-O diálogo entre Jesus e a mulher samaritana é uma das passagens preferidas daqueles que defendem a chamada “teologia inclusiva”, um pensamento que tem alcançado muito acolhimento nos últimos tempos, em especial pelo atual chefe da Igreja Romana, o Papa Francisco, segundo o qual “Deus acolhe a todos indistintamente”, “o amor de Deus é para todos, todos”.
-Jesus não rejeitou aquela mulher samaritana, apesar de ela ser samaritana, mulher e de vida moral irregular. Jesus demonstrou não ter discriminação racial, sexual ou moral.
-Não resta dúvida, como mostramos supra, citando Augusto Jorge Cury, que o Senhor Jesus veio desmontar a chamada “ditadura do preconceito”, ou seja, o domínio do conceito prévio como regra para os relacionamentos interpessoais e sociais, a discriminação injusta, a consideração de que os seres humanos são superiores ou inferiores por causa de elementos que, em si mesmos, não trazem qualquer superioridade ou inferioridade, como a cor da pele, a origem étnica, o sexo, a escolaridade etc.
-Este raciocínio, entretanto, tem sido levado às últimas consequências, notadamente após o discurso racionalista desenvolvido a partir da Idade Moderna e que tem encontrado guarida em movimentos revolucionários, como as Revoluções Francesa e Russa.
-A partir do fato de que não se pode ter a discriminação injusta das pessoas, passou-se a defender que todas as pessoas são idênticas, iguais, o chamado igualitarismo, o que não corresponde à realidade, porquanto não há um ser humano que seja idêntico ao outro, como também há elementos naturais que tornam os homens diferentes e que, por isso, exigem um tratamento distinto para que a justiça seja feita.
-Assim, uma criança não pode ser tratada da mesma maneira que um adulto ou um idoso; um homem não pode ser tratado da mesma maneira que uma mulher; uma pessoa honesta e observadora das leis não pode ser tratada da mesma maneira que um criminoso.
-Além desta circunstância, tem-se, também, que este raciocínio inclusivista tem desprezado o próprio senhorio divino, a circunstância de que é Deus quem estabelece o que é o certo e o errado, o que é o bem e o mal e que a ordem social precisa, mesmo dentro das imperfeições humanas, fazer valer o que é bom e o que é justo, como Deus ordenou a Noé e seus descendentes (Gn.9:5,6; Rm.13:1-7).
-Se é verdade que Deus quer acolher a todos e não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34), também não é menos verdadeiro que não toma o culpado por inocente nem vice-versa (Nm.14:18).
-Deste modo, o pecador, para alcançar o perdão dos pecados e ter a vida eterna, precisa confessar o seu pecado e o deixar, sem o que não alcançará a misericórdia divina (Pv.28:13).
-Jesus não discriminou a mulher samaritana. Embora fosse samaritana e mulher, travou diálogo com ela, o que causou espanto dos Seus próprios discípulos (Jo.4:27), como havia causado à própria mulher (Jo.4:9), mas isto não dispensou a mulher de ter de confessar o seu pecado.
-A “teologia inclusiva” é mais uma armadilha satânica, que pretende convencer as pessoas de que elas não precisam abandonar o pecado para terem comunhão com Deus, para terem a vida eterna, o que é exatamente o contrário do que pregou e ensinou o Senhor Jesus, como vemos tanto no diálogo com Nicodemos (Jo.3:18) como aqui com a mulher samaritana.
-Jesus, ante a confissão da mulher, mostrou-lhe que ela estava certa ao dizer que não tinha marido, pois o homem com quem estava a conviver maritalmente não poderia ser chamado seu marido, visto que não tinha havido casamento e havia tido quatro maridos anteriormente, o que, efetivamente, não era algo que fosse da vontade de Deus (Jo.4:17b,18).
-Esta afirmação de Jesus é extremamente oportuna. Em nossos dias, pasmem todos, há até ministros do Evangelho em nosso meio que querem dispensar o casamento como única forma legítima de convivência entre um homem e uma mulher.
-Jesus foi bem claro ao dizer que a mulher não tinha marido, vez que estava em “união estável” ou “união livre” com um homem, que não era seu marido e, portanto, toda e qualquer relação íntima mantida entre eles era pecaminosa, adultério ou fornicação.
E sabemos todos que os fornicadores e adúlteros não herdam o reino de Deus nem entram na nova Jerusalém (I Co.6:10; Ap.21:8; 22:15).
-Jesus também foi bem claro que a mulher já tinha tido quatro maridos e que isto não era agradável a Deus, algo digno de repreensão e censura, ainda que a lei permitisse o divórcio, algo porém odiado por Deus (Ml.2:16).
-Lamentavelmente, em nossos dias, o divórcio tem sido uma constante entre os que se dizem cristãos, sob a desculpa de que a lei brasileira o permite. Entretanto, Jesus é o mesmo (Hb.13:8) e continua a repreender e a censurar uma tal conduta. Lembremos disto!
-A mulher é confrontada com o seu pecado e o confessa, reconhecendo que Jesus era profeta (Jo.4:19). Vendo que Jesus era profeta, a mulher, embora tivesse confessado seu pecado, quis, uma vez mais, desviar a conversa para o campo da religiosidade, trazendo outra provocação a Cristo.
-Considerando Jesus como um profeta, indaga-Lhe qual o lugar de adoração, já que os judeus diziam que somente se podia adorar a Deus no templo em Jerusalém, enquanto os samaritanos diziam que o local de adoração deveria ser no monte Gerizim, onde eles chegaram a edificar um templo que havia sido posteriormente destruído, monte Gerizim onde, aliás, estavam naquele momento (Jo.4:20).
-Jesus, uma vez mais, não desvia o diálogo para questões religiosas. Respeitosamente, dirige-se à mulher, e ao chamá-la de “mulher”, mesma expressão que utilizara com relação a Sua própria mãe (Jo.2:4), Cristo mostra o respeito à dignidade daquela mulher mesmo demonstrando ter pleno conhecimento de sua vida moral irregular, ensinando-nos de que devemos sempre abominar o pecado mas jamais deixar de amar o pecador.
-Jesus, então, mostra que como “o dom de Deus”, estava a mudar inteiramente a questão da adoração. A adoração não se faria nem em Jerusalém nem no monte Gerizim, mas o Pai deveria ser adorado em espírito e em verdade, porque era isto que o Pai estava a procurar (Jo.4:21-23).
-Jesus mostrou à mulher que, até a Sua vinda a este mundo, o local correto de adoração era, sim, Jerusalém, pois assim havia sido determinado por Deus a Israel (Dt.12:11-14; I Cr.21:28-22:1), o reino sacerdotal e o povo santo do Senhor (Ex.19:5,6).
-Mas, da mesma maneira que Deus havia escolhido Jerusalém para que ali fosse construído o templo, também havia determinado que o Salvador seria judeu (Jo.4:22) e assim Se identifica à mulher samaritana como “o profeta como Moisés” (Dt.18:15-19).
-Jesus também mostra que o Pai era Deus e Deus é Espírito e, portanto, deve ser adorado em espírito e em verdade (Jo.4:23,24).
-Àquela humilde mulher, Jesus traz, ainda que de outra forma, a mesma mensagem que dera a Nicodemos. Ele, Jesus, era Aquele que permitiria a vivificação do espírito, que restabeleceria a ligação entre Deus e o ser humano, de tal forma que agora a adoração se daria no interior de cada um, porque, em Cristo, poderíamos ser um com a Divindade (Jo.17:22,23).
-A mulher muda, então, o patamar da conversa, finalmente chegando à dimensão espiritual. Compreende bem o que Jesus está a falar e, diante do que disse o Senhor, pergunta a respeito do Messias, “o profeta como Moisés”. O Cristo era visto pela mulher como o profeta que, quando viesse, anunciaria tudo (Jo.4:25).
-A mulher samaritana tinha a compreensão de que o Messias seria alguém que completaria a revelação divina, “anunciando tudo”. Embora não tivesse a noção de que o Messias seria Deus feito homem, tinha a compreensão de que seria Ele o “maior profeta”, porque “tudo anunciaria”, nada ficaria para ser anunciado depois d’Ele.
-Neste aspecto, vemos como muitos, na atualidade, dizendo-se cristãos ou religiosos, estão bem aquém da compreensão desta mulher, porque creem piamente em “revelações”, “visões” ou coisas quetais que vieram depois de Jesus.
-Não há como crermos nestas “revelações” e “visões”, pois, como disse a mulher samaritana, no que não foi corrigida pelo Senhor Jesus, o Cristo “anunciaria tudo”. Não só Jesus não corrigiu a mulher samaritana como repetiu posteriormente o que foi dito por ela, como vemos em Jo.15:15.
-Não há, pois, como nos atermos a revelações além daquilo que está nas Escrituras, as fiéis testemunhas do Senhor Jesus (Jo.5:39), lembrando que o Novo Testamento nada mais é que o registro do que foi dado por Cristo aos apóstolos (Jo.21:22 c.c. Ap.1:1; At.2:42; Ef.3:4,5; I Pe.1:20,21 c.c. II Pe.3:15,16).
-Jesus identifica-Se como o Cristo, como o “profeta como Moisés” àquela mulher (Jo.4:26) e, neste momento, os discípulos chegam trazendo a comida, admirados que Ele estivesse falando com uma mulher (Jo.4:27).
-A mulher, então, diante desta identificação, deixou o cântaro com que vinha buscar a água do poço e foi à cidade para anunciar que havia tido um encontro com o Cristo, um profeta que lhe havia dito toda a sua vida (Jo.4:29).
-A mulher não estava mais com sede, também não se sentia mais desprezada ou discriminada, havia igualmente perdido o preconceito racial. Agora, de forma convincente, vai até Sicar e fala a todos que havia encontrado o Cristo e a cidade toda foi até o poço de Jacó (Jo.4:30).
-A mulher experimentara a salvação e agora não se continha e queria transmitir o que havia recebido aos outros. A pessoa verdadeiramente salva não consegue se conter, tem o mesmo sentimento de Cristo Jesus e, portanto, também quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:3,4).
-A mulher sentia-se perdoada em seus pecados e, por isso, não se importava com eventual discriminação que viesse a sofrer por parte de seus ouvintes.
Tinha abandonado o pecado e não tinha porque temer ser rejeitada por causa deles. É interessante notar que o texto bíblico diz que ela se dirigiu aos homens de Sicar, demonstrando ter superado os traumas do preconceito tanto moral quanto sexual.
-Em sua pregação, não deixou de admitir os erros da sua vida. Disse que o Cristo lhe havia dito tudo quanto tinha feito, mas não ficou a pregar as coisas erradas que havia feito, como se costuma ver em nossos dias, em que temos verdadeiros “tristemunhos”, onde a pessoa se limita a reportar, com requintes de pormenores, as maldades outrora praticadas.
-A mulher admitiu que sua vida pregressa era ruim, mas agora estava a anunciar o Cristo, o Salvador do mundo, Aquele que poderia transformar a vida dos ouvintes assim como havia transformado a sua própria vida. Pregar o Evangelho é pregar a Cristo (At.8:5; I Co.1:24; II Co.4:5), a Jesus (At.8:35; 9:20; 17:18; I Co.2:2).
II – A CEIFA E O CEIFEIROS
-Enquanto a mulher foi a Sicar pregar a Jesus, os discípulos pediram a Jesus que Se alimentasse. Embora sedento e faminto, Jesus não tinha bebido água, pois a mulher nem sequer havia tirado água do poço, como também não começou a comer aquilo que havia sido trazido pelos discípulos.
-Em vez de comer, Jesus resolveu ensinar os discípulos e prepará-los para o que estava a acontecer. Disse que a Sua comida era fazer a vontade d’Aquele que O havia enviado para realizar a Sua obra (Jo.4:32-34).
-Jesus, mesmo faminto e sedento, quis ensinar os discípulos que, acima das legítimas necessidades fisiológicas de cada um, está o papel que cada um de nós desempenha neste mundo em nosso relacionamento com Deus, qual seja, o de realizar a obra de Deus.
-A prioridade em nossas vidas terrenas deve ser a realização da obra de Deus, exercermos o papel que nos é dado no corpo de Cristo. Não podemos ter uma visão horizontal, que somente enxerga a satisfação das necessidades terrenas, algo que é próprio dos gentios (Cf. Mt.6:31,32), mas buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).
-Aquela mulher samaritana, tornada missionária, bem compreendeu isto, e de imediato, a ponto de não ter sequer tirado água do poço e ido evangelizar a sua cidade, pois sabia que Jesus não demoraria por aquelas plagas.
-Já os discípulos de Jesus precisam, ainda, aprender esta lição, pois estavam mais preocupados com a alimentação do que com a realização da obra de Deus.
-Muitos, na atualidade, estão tendo o mesmo comportamento dos discípulos. Condicionam a realização da obra de Deus a uma garantia de subsistência, ao comer, beber e vestir e o resultado disto, amados irmãos, é que, a olhos vistos, temos contemplado o decréscimo no desenvolvimento da obra do Senhor.
-Ainda que os censos tenham ainda demonstrado que as Assembleias de Deus ainda sejam a denominação que mais cresce em nosso país, não podemos deixar de constatar que o Senhor tem levantado outros grupos, ante a insuficiência e retrocesso apresentados por nós na evangelização, sem se falar em muitas divisões entre nós que não são motivadas somente por interesses pessoais, mas que são consequência de interesses pessoais e terrenos se sobreporem aos interesses do reino de Deus.
-Ao dizer que realizar a obra a que tinha sido enviada era Sua comida, o Senhor Jesus nos ensina que a razão de ser de nossa vida nesta peregrinação terrena, a nossa sobrevivência depende de atendermos aos desígnios do Senhor, da nossa fidelidade ao chamado que recebemos.
-Não nos esqueçamos de que, no sermão escatológico, Cristo Jesus nos conta três parábolas para ilustrar a vigilância exigível de cada um que pretende ser arrebatado e, nas três, vemos que a fidelidade está vinculada ao cumprimento das tarefas cometidas pelo Senhor.
-O servo fiel e prudente é aquele que, constituído sobre a casa do Senhor, dá o sustento a Seu tempo, ou seja, faz o que lhe foi mandado fazer na casa (Mt.24:45,46).
As virgens prudentes que entraram na casa do noivo para as bodas foram as que fizeram reserva de azeite e assim puderam cumprir o seu papel de levar a noiva até a casa do noivo (Mt.25:10). Por fim, os servos bons e fiéis foram os que negociaram os talentos conforme mandado pelo Senhor (Mt.25:21,23).
-Jesus, então, disse aos discípulos que a ceifa não se daria dali a quatro meses, conforme o calendário agrícola, mas que já se estava no tempo da colheita e somente o que ceifa é que recebe galardão e ajunta fruto para a vida eterna, trazendo o regozijo tanto daquele que semeia quanto do que colhe (Jo.4:35,36).
-Jesus estava a dizer aos discípulos que haveria ali, naquele monte, local do templo rival de Jerusalém, terra de samaritanos, uma colheita de almas e que o próprio Jesus faria a ceifa das almas cuja semente estava sendo plantada por aquela mulher com quem havia dialogado.
-Jesus mostra aos discípulos que havia aqueles que semeavam e os que ceifavam e que ambos eram importantes e não podiam ser menosprezados.
Assim como o Senhor não havia desprezado aquela mulher, os discípulos jamais poderiam desprezar os seus ouvintes, nem tampouco desprezar os outros quando ganhassem almas para o reino de Deus, uma vez que poderiam estar somente a colher aqueles que tinham sido semeados por outros.
-Jesus ensinava que a obra era de Deus e que, por isso, na sua realização devemos tão somente buscar a glorificação de Deus.
O próprio Senhor, ao término de Seu ministério, diria que havia glorificado ao Pai consumando a obra que Lhe havia sido dada a fazer (Jo.17:4).
-Paulo também tinha esta consciência e, em meio ao partidarismo estabelecido na igreja em Corinto, relembra esta verdade espiritual (I Co.3:4-8).
-Os discípulos precisavam, desde já, no início de seu aprendizado com o Senhor, ter esta posição de humildade e dedicação, lembrando que estavam a trabalhar onde outros haviam semeado e que, portanto, não poderiam se achar extremamente importantes ou indispensáveis (Jo.4:38).
-Adorar nada mais é reconhecer a soberania de Deus, o Seu senhorio sobre nós. É a conduta diametralmente oposta a de rebeldia, como nos mostra o Salmo 2, onde o salmista recomenda a que “se beije o Filho” (Sl.2:12), que se sirva ao Senhor com temor e se alegre com tremor (Sl.2:11).
-A adoração deve ser em espírito e em verdade, ou seja, feita a partir da própria abnegação, a assunção da tarefa cometida pelo Senhor e a imitação de Cristo, seguindo as Suas pisadas, ou seja, como disse o Senhor:
“…Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me” (Mt.16:24).
-Foi precisamente o que fez a mulher samaritana. Imediatamente, deixou o cântaro, o que revela a abnegação, já que não pensou em si nem na sua sede, mas em transmitir aos outros a notícia de que havia encontrado o Cristo.
Sem pensar na reputação que tinha junto a seus concidadãos, foi levar a mensagem da salvação, da qual fora incumbida, tomando, assim, sobre si a sua cruz e, neste gesto, seguiu a Jesus, pois enviada por Ele, estava a repetir o que o Senhor Jesus estava a fazer nesta terra, realizando a obra que Lhe havia sido dada pelo Pai, a “Sua comida”.
-A adoração era em espírito, porque resultava da salvação, da fé em Jesus Cristo, que gerou o perdão e a remoção dos pecados cometidos e fez com que se tivesse a comunhão com Deus. O espírito fora vivificado, pois a mulher samaritana nascera de novo, nascera do Espírito.
-A adoração era em verdade, porque resultava da pregação do Evangelho, que lhe fora pregado pelo próprio Cristo, a Palavra que é a verdade (Jo.17:17), proferida pela própria Verdade (Jo.14:6), verdade que depois foi confirmada pelos próprios samaritanos, depois de eles próprios terem ouvido as palavras do Senhor (Jo.4:42).
-Depois de ter feito este ensino, Jesus recebe os samaritanos que vão até o poço de Jacó para conhecer aquele que havia sido pregado pela mulher. Já vinham crentes, porque haviam crido no Evangelho pregado por ela (Jo.4:39).
-Os samaritanos pediram que Jesus ficasse com eles por dois dias. Veja como o Evangelho dissipa o preconceito. No próprio monte Gerizim, símbolo de toda a rivalidade entre judeus e samaritanos, Jesus era convidado para ficar dois dias entre os samaritanos.
-Jesus aceitou o convite e continuou a pregar o Evangelho e muitos creram n’Ele por causa da Sua pregação e passaram a dizer à mulher que estavam crendo não mais por causa da pregação dela mas pelas palavras ditas pelo próprio Jesus, porque se convenceram de que Ele era o Cristo, o Salvador do mundo (Jo.4:42).
-Esta é a dinâmica do Evangelho. O Evangelho é pregado, as pessoas creem e depois passam a ter uma convivência pessoal com o Senhor Jesus e esta experiência pessoal traz a firmeza na fé em Jesus e não é mais pela mensagem que os levou a Cristo, mas por esta comunhão com o Senhor que os servos de Jesus passam a viver até encontrarem com o Senhor nos ares.
-Adorar a Deus em espírito e em verdade é servir ao Senhor, é realizar a Sua obra a todo tempo, como bem mostrou a mulher samaritana ao pregar a Cristo em Sicar. Temos agido assim? Pensemos nisto!
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/11385-licao-3-a-verdadeira-adoracao-i