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LIÇÃO Nº 3 – ABRAÃO, A ESPERANÇA DO PAI DA FÉ

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Abraão mostra-nos que a fé é indispensável em o nosso relacionamento com Deus.

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INTRODUÇÃO

– Adentrando ao estudo de exemplos bíblicos de provisão divina, estudaremos a vida do patriarca Abraão.

– Abraão mostra-nos que a fé é indispensável em o nosso relacionamento com Deus.

  1. A VIDA DE ABRÃO ANTES DE SUA CHAMADA

– A Bíblia pouco nos fala sobre a vida de Abrão antes de sua chamada. Apenas nos diz que era filho de Terá e que acompanhava a seu pai de forma obediente, tanto que deixou Ur dos caldeus, o centro da civilização mundial da época, para acompanhar seu pai a Harã, numa demonstração de fidelidade e de obediência.

Obedecer aos pais é um sinal de temor a Deus e deve ser uma característica sempre presente na vida dos sinceros adoradores do Senhor.

Parafraseando o apóstolo do amor, como podemos crer em alguém que diz obedecer a Deus, que não vê, se nem sequer obedece aos pais, que vê ?

Uma das principais características dos nossos dias é a apologia do conflito de gerações, é o conflito à desobediência a pais e mães, mas devemos, sempre, observar que isto não provém de Deus e que este é um traço dos homens deste mundo (I Tm.3:1). Um bom servo de Deus, mostra-nos a vida de Abrão, começa sendo um filho obediente.

OBS: Entre os muçulmanos, Abrão é considerado o “primeiro islämico”. Eis o trecho em que o Corão enaltece a figura de Abrão: “…E quem rejeitaria o credo de Abraão, a não ser o insensato?

Já o escolhemos (Abraão), neste mundo e, no outro, contrar-se-á entre os virtuosos. E quando o seu Senhor lhe disse: Submete-te a Mim!, respondeu: Eis que me submeto ao Senhor do Universo!

Abraão legou esta crença aos seus filhos, e Jacó aos seus, dizendo-lhes: Ó filhos meus, Deus vos legou esta religião; apegai-nos a ela, e não morrais sem serdes submissos (a Deus). (1.130-132).

Entre os judeus, a admiração pelo patriarca não é menor. Assim se refere a ele um rabino comentarista do Pentateuco: “…O Midrash compara Abrão a um frasco de delicioso e precioso perfume. Mas desde que este cheiroso perfume é transportado por diversos lugares, todos se deleitam com seu aroma.

E o Midrash continua: ‘Abrão, que estava cheio de boas ações e belíssimas virtudes, tinha que abandonar a sua pátria para que sua fama e seus ensinamentos se tornassem conhecidos no mundo inteiro.

É este ‘frasco de perfume’- a fé monoteísta, com seus preceitos éticos – que Israel vem transportando através do mundo…” (Meir Matzliah MELAMED. Torá, a Lei de Moisés, com. Gn.12, p.29).

“…O monoteísmo é nota predominante para Moisés. Ao escrever sobre os patriarcas, procurou sempre direcionar mostrando que os monoteístas são escolhidos e abençoados pelo Senhor.

A despeito de suas falhas e alguns deslizes, Abraão tem sido reconhecido como um dos maiores líderes espirituais da Humanidade, como homem de fé inabalável , pelas religiões judaica, cristã e islâmica…”(Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.3, p.69).

– Com certeza, Abrão foi idólatra no início de sua vida. Vivia em Ur dos caldeus, onde campeavam a idolatria e o politeísmo.

A sociedade humana logo havia se corrompido, mesmo depois do dilúvio, tendo chegado ao cúmulo de desafiar a Deus, o que fez com que o Senhor, por Sua misericórdia, tivesse espalhado os homens pela terra, gerando as diversas nações que até hoje existem (Gn.11:1-9).

Os povos estavam, então, em plena organização e surgiam os primeiros conflitos pelo controle e pelo poder do mundo.

Nesta luta, surgem os cultos a ídolos, adotados como deuses e protetores de cada família, de cada tribo, de cada nação, como justificadores da luta pela supremacia.

Entretanto, num instante que não sabemos qual, Abrão teve a revelação de que Deus é um só, é único e que a idolatria e politeísmo que se criavam eram contrários à vontade deste único Senhor.

Manteve-se, portanto, Abrão, fiel ao princípio. Mais um traço característico do servo de Deus: a fidelidade ao princípio, ao que o Senhor fez reto, jamais se curvando às invenções humanas (Ec.7:29).

OBS: “…Abrão nasceu cerca de 2.333 anos antes de Cristo… De família abastada da Caldéia, enriquecida pela arte de fabricar imagens dos ídolos reverenciados pelos babilônicos.

Os moradores de Babilônia, em artes e política na época, influíam em outros povos, tornando o fabrico de esculturas um negócio lucrativo.

Terá, pai de Abrão, era hábil fabricante de ídolos; rico fazendeiro, gozava do conforto da água encanada, estrutura do saneamento básico, privilégio para poucos; possuidor de muito ouro, prata, gado e servos; tornou-se um homem riquíssimo e também seus filhos.

Desacreditavam nos ídolos fabricados e passaram a sofrer terrível perseguição por parte de Ninrode, rei de Babilônia, que forçava reverências e sacrifícios aos seus deuses…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.3, p.56).

-O Corão insiste numa tradição, sem qualquer respaldo bíblico, de que Abrão, ao ter a revelação de que Deus foi único, abandonou a todos os seus e entrou em conflito inclusive com seu pai, que não teria aceitado a ideia do Deus único.

Em algumas passagens, o livro sagrado dos islâmicos procura mostrar um Abrão irritado e inflamado contra seu pai e os seus, por causa desta revelação divina. Entretanto, a Bíblia não nos autoriza tal interpretação, porquanto Abrão somente partiu para Canaã após a morte de seu pai.

 Não sabemos se Abrão teve a revelação de Deus antes de partir para Harã ou se quando lá já estava. De qualquer modo, Abrão não deixou de estar sob as ordens de seu pai até a morte deste, o que invalida a interpretação corânica de rebeldia e afronta.

OBS: Alguns trechos do Corão que trazem esta tradição errônea: “…Quando Abraão disse a Ezra, seu pai: Tomas os ídolos por deuses?

Eis que te vejo a ti e a teu povo em evidente erro…(6:74)/ Abraão implorava perdão para seu pai, somente devido a uma promessa que lhe havia feito; mas, quando se certificou de que este era o inimigo de Deus, renegou-o. Sabei que Abraão era sentimental, tolerante (9:114)/ E menciona, no Livro, (a história de) Abraão; ele foi um homem de verdade, e um profeta.

Ele disse ao seu pai: Ó meu pai, por que adoras quem não ouve, nem vê, ou que em nada pode valer-te? Ó meu pai, tenho recebido algo da ciência, que tu não recebeste. Segue-me, pois, que eu te conduzirei pela senda reta! Ó meu pai, não adores Satanás, porque Satanás foi rebelde para com o Clemente!

Ó meu pai, em verdade, temo que te açoite um castigo do Clemente, tornando-te, assim, amigo de Satanás. Disse-lhe:

Ó Abraão, porventura detestas as minhas divindades? Se não desistires, apedrejar-te-ei. Afasta-te de mim! Disse-lhe:

Que a paz esteja contigo! Implorarei, para ti, o perdão do meu Senhor, porque é Agraciante para comigo. Abandonar-vos-ei, então, com tudo quanto adorais, em vez de Deus.

Só invocarei o meu Senhor; espero, com a invocação de meu Senhor, não ser desventurado. E quando os abandonou com tudo quanto adoravam, em vez de Deus, agraciamo-lo com Isaac e Jacó, e designamos ambos como profetas. (19:41-49).

– Alguns comentaristas entendem que Abrão fosse o filho mais novo de Terá. Assim é a opinião de Adam Clarke: “…Harã era, com certeza, o filho mais velho de Terá, e ele aparece como tendo nascido quando Terá tinha cerca de setenta anos de idade e seu nascimento foi seguido pelo de Naor, seu segundo filho, e de Abrão, seu filho mais novo.

Muitos têm se confundido aqui, supondo que, por ter Abrão sido mencionado em primeiro lugar, ele era o filho mais velho de Terá, mas ele foi colocado em primeiro por ordem de dignidade.

Como exemplo disto nós já temos visto que, em G.5:32, onde Noé é apresentado como tendo Sem, Cam e Jafé em ordem de sucessão, embora fique evidente nas Escrituras que Sem era o filho mais novo, mas, pela sua dignidade, foi nomeado primeiro, como Abrão aqui, e Jafé, o filho mais velho, nomeado por último, como Harã aqui.

Terá morreu com duzentos e cinco anos de idade, Gn.11:32; quando Abrão partiu de Harã, tinha setenta e cinco anos de idade, Gn.12:4, por conseguinte, Abrão nasceu não quando seu pai Terá tinha setenta anos, mas quando ele tinha cento e trinta anos de idade…” (CLARKE, Adam Comentários, vol.1. CD-ROM Master Christian Library, p.146) (tradução nossa).

II – A CHAMADA DE ABRAÃO

– Morto Terá, Deus Se revela a Abrão, mandando que ele saísse do meio da sua gente e fosse para um lugar que lhe seria ainda mostrado.

A primeira observação que devemos fazer, aqui, é que Deus foi quem chamou a Abrão e não o contrário.

Esta é uma demonstração de que Deus sempre tomou a iniciativa, pelo Seu tão profundo amor, de procurar o homem, embora sempre tenha sido o homem quem tenha necessitado da presença de Deus.

Deus é quem toma a iniciativa de formar uma nação para anunciar o Seu nome a todas as gentes. Este é o Deus a quem servimos: um Deus de amor que quer salvar o homem e, por isso, vai ao seu encontro.

Como afirma o chamado “texto áureo da Bíblia”, Deus não somente amou o mundo mas enviou o Seu Filho para nossa salvação (Jo.3:16). A iniciativa para a salvação do homem é divina!

– A segunda observação que temos aqui é que, para que Abrão atendesse ao chamado de Deus, era necessário que ele saísse de sua terra, de sua parentela e da casa de seu pai.

É indispensável, para quem quer servir a Deus, que se separe do mundo, que se desvincule totalmente do pecado e do mal, em que o mundo está imerso (I Jo.5:19).

Não é possível alguém querer servir a Deus e não deixar o sistema de vida comprometido com o pecado e com a maldade.

Nisto é que consiste a santificação, ou seja, a separação do crente do mundo.

Para que Abrão pudesse servir a Deus, era necessário que ele abandonasse a idolatria de seu povo, de sua parentela e da casa de seu pai. Não seria possível que ele pudesse servir a Deus ainda sob os valores que haviam regido sua vida até ali.

De igual forma, já que o Deus de Abrão é o nosso Deus, um Deus que não muda e nEle não se vê sombra de variação (Tg.1:17), para servirmos a Deus devemos sempre nos separar do pecado, estarmos no mundo, mas não sermos do mundo (Jo.17:11,15,16).

Este é o primeiro passo e, por isso, devemos estar vigilantes com as ofertas de contemporização e de tolerância com o pecado que o diabo tem apresentado, incessantemente, aos servos do Senhor.

OBS: “…Em Abraão, Deus estava estabelecendo o princípio importante de que os seus deviam separar-se de tudo quanto possa impedir o propósito divino na vida deles…”(Bíblia de Estudo Pentecostal, p.50). “…O conceito de separação do mal é fundamental para o relacionamento entre Deus e o Seu povo.

Segundo a Bíblia, a separação abrange duas dimensões, sendo uma negativa e outra positiva:

(a) a separação moral e espiritual do pecado e de tudo quanto é contrário a Jesus Cristo, à justiça e à Palavra de Deus;

 (b) acercar-se de Deus em estreita e íntima comunhão, mediante a dedicação, a adoração e o serviço a Ele….” (BPIBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.1779)

– A terceira observação que temos aqui é que a caminhada com Deus se inicia por um chamado de Deus, uma resolução de abandono do mundo e de suas concupiscências (Tt. 2:12), mas é, sobretudo, um ato de fé.

Abrão foi considerado o pai da fé porque deixou sua casa, sua parentela, sua terra e foi para um lugar que ainda não lhe tinha sido revelado: “para a terra que eu te mostrarei”. Deus não anunciou a Abrão qual seria esta terra, como também não nos anuncia como será a vida que viveremos neste mundo para sermos instrumento de Sua glória.

O fato de não sabermos qual é esta terra, entretanto, é a essência de nossa fé. Somente poderemos ter fé se esperarmos algo, se não soubermos o que é este algo, pois se não houver esta esperança, não poderá haver fé (Rm.8:24).

É por isso que as Escrituras dizem que andamos por fé e não por vista (II Co.5:7). Devemos, assim, rejeitar toda e qualquer atitude que exija que vejamos a bênção de Deus e a Sua presença a qualquer instante de nossas vidas, pois devemos agir como Abrão: ir, ainda que a terra não nos esteja ainda à vista, pois é nisto que consiste a fé: o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem (Hb.11:1).

– A promessa de Deus para Abrão era singular. Disse que faria dele uma grande nação, sendo certo que o patriarca nem sequer tinha um filho e, o que era ainda pior, sua mulher era estéril (Gn.11:30), o que tornava humanamente impossível o cumprimento do que lhe era prometido pelo Senhor.

Entretanto, Abrão havia compreendido que existia um único e verdadeiro Deus, que tinha o controle absoluto sobre todas as coisas e, portanto, de alguma maneira, que o patriarca não sabia qual era, aquilo haveria de se cumprir.

– Ter fé é precisamente confiar naquilo que o Senhor revela a nós, revelação esta que se encontra primacialmente e de forma infalível nas Escrituras Sagradas. Deus disse a Abrão que faria dele uma grande nação e o patriarca creu, tudo deixando consoante o mandado divino.

– É importante observar que Abrão creu naquilo que Deus disse. Não foi uma fé que já surgiu robusta, pois, ao longo da história do patriarca, vemos que a fé vai se desenvolvendo aos poucos. Tanto assim é que, chamado com 70 anos, somente deixa Harã quando tinha 75 anos.

Pensou que sua descendência viria através de seu servo Eliezer, depois que seria o herdeiro da promessa Ismael para só, então, crer que seria um filho de Sara o herdeiro da promessa.

– Dizemos isto porque devemos sempre observar que a confiança em Deus é algo que está sujeito a desenvolvimento contínuo, daí porque Jesus ter dito que nossa fé tem de ser como um grão de mostarda, que é a semente que maior desenvolvimento tem, pois, sendo a menor de todas as sementes, dá origem à maior de todas as hortaliças (Mt.17:20; Mc.4:31,32). Por isso, os discípulos pediram ao Senhor que aumentasse a sua fé (Lc.17:5).

– Mas, além de a fé ter de crescer continuamente, também se percebe que devemos confiar naquilo que Deus fala e não naquilo que nós queremos que Deus faça.

A fé não é um pensamento positivo que tenhamos, como defendem os teólogos da confissão positiva, ainda que um pensamento verbalizado com textos escriturísticos (normalmente tomados fora do contexto), mas, sim, confiança naquilo que Deus revelou e disse que haveria de fazer.

A provisão divina está sempre em consonância com a Palavra de Deus, nunca a pode contrariar.

– Mas, além de dizer ao patriarca que faria dele uma grande nação, o Senhor também disse que o abençoaria e engrandeceria o seu nome.

Abrão não correra atrás de projeção, fama, destaque ou posição social, mas o Senhor disse que o levaria a uma situação de proeminência entre os homens, o que não somente ocorreu com o patriarca durante a sua vida mas é algo patente até hoje, visto que Abrão é referenciado pelas três religiões monoteístas do mundo (judaísmo, cristianismo e islamismo), duas das quais são as maiores religiões do planeta.

Abrão tem, portanto, um nome elevado na humanidade e há séculos e séculos, num cabal cumprimento da promessa que Deus lhe deu.

– Deus garante a nós a Sua bênção. O apóstolo Paulo diz que, nos lugares celestiais em Cristo, todo servo do Senhor já foi abençoado com todas as bênçãos espirituais. Estar em Cristo, portanto, é estar debaixo das bênçãos do Senhor. Mas o que é bênção? “Bênção” é o “ato de abençoar” e “abençoar” é “desejar bem a”, “conceder proteção ou tornar próspero”, “amparar”, “auxiliar”.

– Percebe-se, pois, que o Senhor garante que sempre nos deseja bem, que sempre quer o nosso bem. Como disse o Senhor, através do profeta Jeremias, ao povo que estava cativo na Babilônia, o Senhor sempre tem pensamentos de paz e não de mal para nos dar o fim que esperamos (Jr.29:11).

Deus diz isto a um grupo de judaítas que havia sido levado cativo para a Babilônia e que parecia que eram os mais amaldiçoados, já que a maior parte do povo havia sido mantida na terra de Canaã ao contrário daqueles cerca de dez mil que foram deportados.

No entanto, seriam estes os primeiros a ser livres da morte e da destruição em Jerusalém. “Bênção”, pois, é o bem que Deus sempre nos dá, ainda que, à primeira vista, em nossa compreensão, este bem seja um aparente mal.

– Abrão não seria apenas abençoado e engrandecido, mas ele mesmo seria uma bênção. Que maravilha! A provisão divina faz com que nós mesmos sejamos um instrumento do bem querer divino em relação à humanidade.

O verdadeiro e genuíno servo de Deus se torna uma bênção, ou seja, em vez de ser alvo do bem querer divino, é a própria concretização do bem querer divino para as outras pessoas. Cristo também Se tornou uma bênção (At.10:38) e nós, como Seus servos, também devemos sê-lo, visto que somos Seus imitadores (I Co.11:11).

Nós estamos aqui para servir e não para ser servidos. Percebem os amados como tudo isto é exatamente o que prega a teologia da prosperidade?

– Como Abrão seria uma bênção, os que o abençoassem seriam abençoados, pois, ao querer bem ao patriarca, recebiam o benefício que ele próprio trazia da parte de Deus, enquanto que os que o amaldiçoassem, seriam também amaldiçoados, pois rejeitariam o benefício divino representado pelo próprio patriarca.

Por fim, em virtude da obediência de Abrão, todas as famílias da terra seriam abençoadas, pois de Abrão haveria de nascer o Salvador do mundo.

– Vemos, portanto, que, já nas promessas de Deus ao patriarca, vemos o sentido de toda a provisão que Deus daria àquele homem que escolhera para dar continuidade à linhagem do Messias: a salvação da humanidade.

A provisão divina tem como propósito a salvação do ser humano, a restauração da comunhão de Deus com o homem e somente assim poderá ser entendida e compreendida.

– A Bíblia, então, revela-nos que Abrão partiu, mas não partiu de qualquer maneira, mas, diz o texto sagrado, “como o Senhor lhe tinha dito” (Gn.12:4). Eis o segredo da vitória do servo de Deus: fazer o que Senhor determinou mas também como o Senhor determinou.

Dizem os filósofos, desde Aristóteles, que um ser possui quatro causas: a material (que diz respeito ao conteúdo do ser), a formal (que diz respeito à forma do ser), a eficiente (que diz respeito ao processo de obtenção do conteúdo com a forma conveniente) e a final (que diz respeito ao propósito, ao objetivo do ser).

Somente podemos afirmar que somos servos de Deus se, além de termos um conteúdo agradável a Deus (o que a Bíblia denomina de “vestes brancas”), termos, também, uma forma agradável a Deus, ou seja, fazermos COMO Ele determinou.

Eis a razão pela qual o apóstolo Paulo disse que não devemos nos conformar com este mundo (Rm.12:1), ou seja, não podemos ter a forma, o jeito, a maneira, o modo deste mundo, mas sermos diferentes também na forma.

 Abrão teve vitória porque fez COMO Deus mandou. Verdade é que, como veremos em lição posterior, Abrão não agiu exatamente como Deus ordenou, porque as Escrituras informam que, ao partir, “foi Ló com ele” (Gn.12:4), e esta desconformidade a ordem de Deus iria trazer a Abrão sérias conseqüências.

Aprendamos, pois, com Abrão e façamos COMO o Senhor ordenar. Foi o próprio Jesus quem disse que bem-aventurado é o servo que, quando vier o Senhor, achá-lo servindo ASSIM (Mt.24:46).

– É interessante notar que, ao partir Abrão de Harã para a terra de Canaã, sem saber que esta era a terra que Deus lhe prometeria dar, Abrão saiu com sua mulher, com Ló, com seus servos e sua fazenda, dando a entender que tinha tido prosperidade material durante o tempo em que viveu em Ur e em Harã. Mais uma demonstração de que o objetivo do servo de Deus não é obter a prosperidade material, mas, sim, a de atender ao chamado de Deus.

Abrão é apontado, sempre, pelos teólogos da prosperidade como um exemplo do acerto de sua teologia, mas, muito pelo contrário, a vida de Abrão, que, espiritualmente, se inicia pela sua chamada, mostra que a prosperidade material, embora seja uma dádiva de Deus, é algo irrelevante no serviço espiritual do crente.

– Abrão passou por Canaã, foi até Siquém, até ao carvalho de Moré e observou que a terra ali era habitada pelos cananeus, ou seja, aos olhos humanos, não era aquela a terra que Deus lhe mostraria, uma vez que se tratava de uma terra ocupada e por descendentes de Cão, ou seja, uma terra que, a princípio, Deus havia destinado para outros que não os descendentes de Sem.

Entretanto, nosso Deus é um Deus que fala, que não permite que os Seus servos fiquem confundidos ou desorientados. A Bíblia afirma que Deus apareceu a Abrão e lhe mostrou que aquela era a terra que Ele daria à sua semente (Gn.12:7).

– Profunda promessa esta a de Abrão, vez que Abrão não tinha sequer um filho, que dirá uma semente. A terra estava habitada pelos cananeus, como fez questão de enfatizar o texto bíblico, mas Deus afirma a Abrão que aquele terra, já habitada, seria ocupada pela sua semente, algo até então inexistente e sem qualquer perspectiva de vir a existir. Este é o nosso Deus !

Ele faz as coisas que não são serem como também o contrário. Deus tem lhe prometido coisas que não existem e que as circunstâncias demonstram não ser possível existir ? Olhe para este texto e acrescente a sua fé, pois o nosso Deus é o Deus do impossível e tudo que prometeu, fará ! (Jr.1:12; Mt.24:35).

– Abrão, ao ter tido a presença de Deus, edificou um altar ao Senhor. O altar é uma presença constante na vida de Abrão. Se Abrão é chamado amigo de Deus é porque tinha o mesmo sentimento de Deus, tinha uma profunda comunhão com o Senhor.

Comunhão é o estado em que há uma comunidade de sentimentos, de propósitos, de ideias, ou seja, os sentimentos, os propósitos e as ideias de Abrão e de Deus eram iguais, eram idênticos, eram comuns.

Será que o querido(a) irmão(ã) tem comunhão com Deus? Abrão adorou ao Senhor, edificou um altar ao Deus que lhe aparecera. Temos tido este mesmo comportamento? Temos adorado a Deus com nossa vida, que é o nosso altar nos dias de hoje?

Quando Deus Se revela a nós nos cultos, no cotidiano, temos-Lhe correspondido construindo um altar nas nossas ações, nos nossos pensamentos, na nossa vida? Se somos “filhos de Abraão”, devemos ter a mesma conduta do patriarca. Mas, lembre-se: como diz conhecido cântico, “em altar quebrado, não se oferece sacrifício a Deus”!

– Após ter edificado um altar a Deus, Abrão, certamente movido pelo Espírito de Deus, já que se encontrava em perfeita sintonia com a vontade divina, não ficou em Siquém, mas se moveu dali para a montanha à banda do oriente de Betel, que não tinha ainda este nome (será mais tarde Jacó, neto de Abraão, que dará este nome ao lugar, até então conhecido como Luz – Gn.28:19), e armou a sua tenda.

A tenda é outro elemento que encontraremos na vida de Abrão. A tenda simboliza o desprendimento de Abrão em relação a este mundo. Ele era peregrino na terra, mesmo tendo promessas de Deus de domínio sobre esta mesma terra.

Da mesma forma, nós, crentes em Cristo, somos peregrinos nesta terra (I Pe.2:11), não é aqui a nossa morada nem o nosso descanso (Mq.2:10). Será que temos este mesmo desprendimento que tinha Abrão ou o adversário já tem conseguido fazer com que finquemos raízes nas coisas deste mundo e nas coisas desta vida ?

Qual é o nosso propósito: caminhar para o céu e desfrutar do que Deus aqui nos traz, mas sem nos prendermos a isto, armando sempre a nossa tenda segundo o movimento do Espírito ou querermos Cristo apenas para as coisas desta vida, vez que a elas estamos presos e arraigados ?

Lembre-se: quem espera em Cristo só nesta vida é o mais miserável de todos os homens (I Co.15:19) !

– Em Betel, Abrão invocou o nome do Senhor e edificou um novo altar. Aqui, Abrão ensina-nos que não basta esperarmos Deus falar conosco.

Mesmo estando em comunhão com Ele, torna-se necessário invocá-l’O, ou seja, buscá-l’O. Embora a iniciativa da salvação do homem seja divina, como vimos supra, há uma parte humana de esforço e constância na busca da presença de Deus.

Precisamos, por isso, sempre estarmos em atitude de busca da presença de Deus, seja através da oração, do jejum, da consagração, do louvor, da leitura e meditação de Sua Palavra, da frequência aos cultos e reuniões de oração.

O homem que, verdadeiramente, serve a Deus, sabe que não é autossuficiente, que depende da misericórdia do Senhor e de uma constante aproximação de Deus. Como disse o salmista Asafe, “para mim, bom é aproximar-me de Deus” (Sl.73:28).

É com preocupação que vemos que muitos crentes somente se lembram de buscar a Deus quando vão aos cultos e isto uma vez por semana (e olha lá!).

Devemos buscar a Deus a todo tempo, a todo instante. Recentemente, ouvi um testemunho de um irmão dizendo que aprendeu a buscar a Deus a cada instante do seu dia-a-dia e que o Senhor lhe tem falado muito nas mínimas coisas, até mesmo na paisagem à margem das estradas que sempre tem de percorrer por causa da sua ocupação. Que lindo vermos os céus e a terra proclamarem a glória de Deus e podermos ser atentos a isto. Invoquemos a Deus.

III – O CARÁTER DA CHAMADA DE ABRAÃO

– Ao observarmos a chamada de Abraão, ao lado dos ensinos preciosos que recebemos do patriarca, também verificamos ensinamentos gloriosos a respeito do caráter de Deus.

– Em primeiro lugar, lembremos que a chamada de Abraão era a continuidade do cumprimento da promessa de Deus, no Éden, de redimir o homem e fazê-lo tornar a comunhão com seu Criador.

Fracassada a comunidade única e seu governo humano, que, ao invés de promover a reconciliação com Deus, partiu para o desafio contra o Criador, Deus inicia o trabalho da formação de uma nação diferente das demais, onde manifestasse Seu amor e Seu poder.

– Assim, a chamada de Abraão mostra-nos a soberania de Deus, ou seja, a supremacia de Deus sobre todas as coisas. Não havia, não há nem nunca haverá o que possa impedir a realização da vontade divina (Is.43:13).

– Embora Deus seja soberano e livre para tomar as Suas decisões, como, por exemplo, o fato de ter escolhido Abrão e não outra pessoa das milhares que existiam no mundo, vemos que Ele respeita, decididamente, a liberdade que deu ao homem, de forma que, embora tenha escolhido Abrão, não o forçou a que obedecesse ao Seu chamado, tendo Abrão decidido partir por sua livre e espontânea vontade.

Esta é a grande diferença entre o filho de Deus e o filho do diabo, pois o adversário escraviza o homem, retira a sua liberdade, enquanto que Deus sempre respeita o livre-arbítrio humano que, afinal de contas, é resultado da própria criação divina.

O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus e esta imagem e semelhança comporta a liberdade, o poder de decisão, como se vê claramente em Gn.2:16,17.

– Observemos que Deus chamou Abrão, mas que este partiu assim como Deus havia ordenado (Gn.12:1-5). A ordem foi divina, mas o ato de execução foi humano.

Assim acontece até hoje. Deus chama os homens, mas os homens devem atender ao chamado, atendimento este que não é somente de palavras, mas, sobretudo, de gestos concretos e atitudes efetivas. Daí porque Jesus ter nos contado a parábola a respeito dos dois filhos (Mt.21:28-32).

OBS: “… a narrativa da Abraão, desde o início, chama a atenção para a seguinte verdade: a obediência a Deus é essencial para o usufruto da salvação n’Ele. (1) Abraão obedeceu à palavra do Senhor.

Sua obediência incluiu deixar seu lar e sua pátria e confiar-se ao cuidado de Deus, na sua orientação divina e nas Suas promessas…(2) Assim como Abraão, todos os crentes em Cristo são conclamados a deixar “sua terra…parentela… e casa do pai” (12.1) para seguir a Jesus, no sentido de buscar uma pátria ‘ melhor, isto é, a celestial (Hb.11.16…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. a Gn.12.4, p.51).

“…A história de Abraão está diretamente ligada à história de toda a humanidade: com ele começa a surgir o embrião de um povo que terá a missão de trazer a bênção de Deus para todas as nações da terra. Esse povo será portador do projeto de Deus: toda nação que se orientar por esse projeto estará refazendo no homem a imagem e semelhança de Deus, desfigurada pelo pecado.

O caminho começa pela fé: Abrão atende o chamado divino e aceita o risco sem restrições. Ele percorre rapidamente a futura terra prometida: isso mostra que o projeto do qual ele é portador, é um projeto histórico, encarnado dentro da ambigüidade e conflitividade humana. O que Deus promete a Abrão ?

Simplesmente aquilo que qualquer nômade desejava: terra para os rebanhos e filhos para cuidar deles. Em outras palavras, o que Deus promete é exatamente aquilo a que o homem aspira para responder às suas necessidades vitais. E hoje, quais são as supremas necessidades do homem ? Por trás das necessidades estão as aspirações e, dentro destas, a promessa de Deus…”(BÍBLIA SAGRADA, EDIÇÃO PASTORAL, com. Gn.12:1,9, p.25).

IV – ABRAÃO E SUAS ADVERSIDADES NO CAMINHO DA FÉ

– Abrão estava em plena comunhão com o Senhor, crescia espiritualmente, pois, como diz Matthew Henry, grande comentarista bíblico, Deus estava Se revelando a Abrão gradativamente.

– Entretanto, quando havia esta comunhão e esta crescente intimidade entre Abrão e Deus, surge um sério problema na vida do patriarca: a fome.

Dizem as Escrituras, em Gn.12:10, que havia fome naquela terra. Desta fome, Abrão não foi poupado e, assim, surge, na vida do patriarca próspero e com grande patrimônio, um problema inesperado. Estava em terra estranha, habitada por gente que não era boa, sem residência fixa, com uma promessa de que aquela terra seria dada à sua semente, sendo que nem um filho sequer Abrão tinha e, agora, vê-se ameaçado o seu patrimônio.

– O fato de Deus não ter impedido que Abrão sofresse as consequências da fome sobre a terra de Canaã é mais um episódio que desmente os teólogos da prosperidade, que, desde os tempos do patriarca Jó, propalam que o servo de Deus jamais pode passar por dificuldades econômico-financeiras.

 Deus é o dono de todo o ouro e de toda a prata, não há dúvida alguma sobre isto, mas está muito mais interessado em que aprendamos a depender d’Ele inteiramente, a termos comunhão com Ele do que venhamos a ter riquezas e abundância de bens nesta vida, correndo, inclusive, o risco de nos apegarmos a estas coisas e, por conta disto, a exemplo do mancebo de qualidade (Mt.19:16-22), virmos a perder a nossa salvação.

Para que Abrão pudesse continuar crescendo espiritualmente, necessário se fazia que viesse a lição da dependência também nos assuntos materiais.

– Lamentavelmente, entretanto, Abrão não aprendera, ainda, esta lição. Sobrevindo a dificuldade econômico-financeira, não invocou a Deus, como fizera em Betel, nem esperou que o Senhor lhe aparecesse, como fizera em Siquém, mas decidiu “descer para o Egito”, então o país mais promissor do mundo, que começava a se apresentar como nova potência mundial, onde a abundante água do rio Nilo, o maior rio do mundo, não permitia que houvesse dificuldades econômico-financeiras.

Era uma decisão acertadíssima do ponto-de-vista humano, uma grande demonstração de sabedoria e inteligência humanas, mas um verdadeiro desastre sob o aspecto espiritual. Com efeito, Deus não participou desta decisão, Abrão decidiu ir para uma terra que não era a mostrada nem a prometida por Deus e, ainda mais, sem consultar ao seu Senhor.

-“Descer ao Egito” passou a ser, por causa disto, uma expressão metafórica para toda decisão humana sem a orientação e a direção divinas.

Passou a significar uma atitude de comprometimento com os valores humanos, com os princípios deste mundo, sem qualquer preocupação com a vontade divina. Infelizmente, muitos são os crentes que estavam caminhando muito bem com o Senhor e, por uma dificuldade ou outra, acabam resolvendo “descer ao Egito”.

Não nos iludamos com a abundância material, com o caráter promissor ou com a hospitalidade e boa aparência do Egito: o Egito é o mundo e nele não há o essencial, o fundamental para a vida de qualquer crente, a saber, a presença, a direção e a aprovação de Deus.

– Uma vista rápida e irrefletida sobre o texto mostra que Abrão se comportara como qualquer pai de família responsável.

O texto afirma que ele fora ao Egito apenas para peregrinar, porque a fome era muito grande na terra (Gn.12:10). Entretanto, Abrão havia feito uma importante decisão em sua vida: a de seguir a Deus e a Sua orientação. Não poderia, pois, mais fazer o que quisesse de sua vida, sob qualquer argumento ou pretexto.

Mesmo para peregrinar no Egito, deveria ter a ordem do Senhor, mas tudo fez por sua conta e risco. Vejamos que Deus não impediu Abrão de descer ao Egito, como também não evitou que as consequências deste gesto tresloucado se fizessem sentir na vida do patriarca.

Do mesmo modo, Deus respeita o livre-arbítrio de Seus servos, avisa-os, aparece-lhes, atende-os quando invocado, mantém-se pronto a ajuda-los e protegê-los, mas deixa que cada um siga o caminho que bem entender, respondendo, naturalmente, pelo que vier a fazer.

– Seguir a nossa decisão, escolhermos o que fazer sem a direção nem a orientação de Deus é algo que nos deixa em péssima condição diante de Deus e dos homens.

Temos esta experiência e podemos afirmar que as vezes em que tomamos decisões por nossa conta e risco pagamos preço muito caro, que só não nos trouxe a completa destruição porque Deus é misericordioso e Seu amor tem impedido que venhamos a ser aniquilados por causa de nossa rebeldia e desobediência. Nunca desçamos ao Egito.

Nunca deixemos de pedir a orientação divina para as decisões de nossas vidas, não somente as decisões fundamentais e que marcam para sempre nossa história, mas as decisões que parecem extremamente singelas e até corriqueiras. Deus deseja participar de toda a nossa vida e nada devemos subtrair ao senhorio de Cristo.

– Tomemos, porém, cuidado com a busca da orientação divina. Deus apareceu a Abrão e Lhe revelou a Sua vontade. Assim também, como Cristo vive em nós, devemos ter conhecimento da voz de nosso Senhor. Não há qualquer necessidade de crentes irem correndo atrás deste ou daquele servo para conseguir uma palavra de Deus.

 O irmão está em comunhão com Deus? Conhece Jesus? Então, com certeza, conhece a Sua voz (Jo.10:14,27) e, deste modo, sem precisar ir de um lado para outro, como se fosse ovelha desgarrada sem pastor, receberá a divina orientação no tempo, hora e lugar oportunos.

V – ABRAÃO FRAQUEJA NA FÉ

– Fora da direção divina, Abrão começa sua jornada para o Egito, que seria um grande fracasso espiritual. Quando estamos em dissonância com a vontade divina, nossos passos somente nos conduzirão para o abismo, pois, como afirma a Palavra, um abismo chama outro abismo (Sl.42:7).

É o que veremos neste período de Abrão, em que, ausentes o altar e a tenda, estarão presentes os pecados e as dificuldades decorrentes de sua prática.

– Logo ao chegar ao Egito, Abrão concerta-se com sua mulher Sarai para que contassem uma “meia-verdade”, ou seja, que Sarai se identificasse para a sociedade egípcia como irmã de Abrão, sem, entretanto, contar que também era sua mulher.

Vemos aqui que, longe da direção de Deus, logo o homem passa a praticar a mentira, porquanto a “meia-verdade” nada mais é que uma mentira inteira. Ao dizer que Sarai era sua irmã, Abrão não estava mentindo, mas sua intenção era a de enganar os egípcios, fazendo-os crer que Sarai não tinha marido.

Este é o intuito da chamada “meia-verdade”, é contar algo verídico, mas com a intenção de engano e de engodo, o que caracteriza a mentira inteira.

– A mentira é abominável aos olhos do Senhor. Não podemos praticar nem amar a mentira. O pai da mentira é o diabo (Jo.8:44).

Nos dias atuais, o adversário tenta mascarar a mentira, trazendo conceitos como “meia-verdade”, “mentira profissional”, “omissão”, “mentira comercial”, “força de expressão” ou outros que, no entanto, devem estar ausentes da vida do sincero servo de Deus.

Os mentirosos não herdarão o reino de Deus (Ap.21:8; 22:15). Seja nosso dizer “sim, sim; não, não”, pois o que passa disso, disse Jesus, é de procedência maligna (Mt.5:37, Tg.2:12; 5:12).

– É interessante verificar que, assim que Abrão chegou ao Egito, já arquitetou esta mentira com sua mulher. A mentira é a primeira anfitriã que surge no mundo sem Deus e cheio de pecado.

Nem poderia ser diferente, pois não há comunhão entre a luz e as trevas e, quando estamos na luz, desfrutamos da Verdade, que é o próprio Cristo (Jo.14:6).

– A mentira traz, como consequência, a hipocrisia, o engano, a duplicidade. O servo de Deus aborrece a duplicidade e, por isso, ama a lei do Senhor (Sl.119:113).

O verdadeiro servo do Senhor é sincero, ou seja, “sem cera”, sem aparência enganosa, sem engodo, sem uma vida dupla, em que a aparência não corresponde à essência. O mais vigoroso discurso de Jesus foi contra a hipocrisia religiosa (Mt.23) e o Nosso Senhor é o mesmo.

Aos crentes aparentes e hipócritas, está reservado duro juízo por parte do Deus que tudo vê e tudo observa (Mt.7:21-23).

Podemos enganar muitos por pouco tempo; poucos, por muito tempo, mas jamais conseguiremos enganar a Deus, com quem teremos de tratar (Hb.4:13). Na igreja, em especial, a mentira trará a morte e aos olhos de todos (At.5:1-11).

– Abrão, fora da direção de Deus, resolveu mentir para que fosse bem sucedido na sua vida no Egito. Intentava, com a mentira, evitar que fosse morto por causa de eventual cobiça que se tivesse sobre sua mulher Sarai.

Entretanto, tão esperto estratagema foi inócuo, pois, em razão da formosura de Sarai, aconteceu exatamente o que Abrão temia: Sarai foi levada para a casa de Faraó. Assim é todo crente que, para ter vantagem, prefere pecar a confiar a Deus.

Nunca nos devemos esquecer de que, embora tenhamos de fazer a nossa parte, é de Deus que vem nossa proteção e toda a sorte de bênçãos. Se O deixamos, nada poderemos fazer (Jo.15:5).

– Como já dissemos, a vida de Abrão mostra-nos que a prosperidade material nem sempre corresponde a um nível espiritual agradável a Deus.

Diz a Bíblia que Faraó concedeu a Abrão muitos bens por causa de Sarai. A mentira trazia aparentes vantagens para Abrão, pois, por força da tomada de Sarai para a casa de Faraó, seu patrimônio foi aumentado e Abrão alcançou posição social de proeminência no Egito.

Entretanto, nada disso representava coisa alguma agradável a Deus. Devemos sempre nos policiar, pois, muitas vezes, as vantagens materiais advindas de uma conduta errônea perante Deus nada significa em termos de aprovação divina, mas, muitas vezes, como foi no caso de Abrão, não passam de ciladas e artimanhas do adversário.

Abrão teve aumentado seu patrimônio, mas não tinha comunhão com Deus, nem altar nem tenda estavam presentes. Muito pelo contrário, Abrão começava a fincar perigosas raízes numa terra que não era a da vontade de Deus.

– Não demorou muito, entretanto, para que Deus mostrasse Seu desagrado com aquela situação. Logo Deus feriu a Faraó com grandes pragas.

O servo de Deus que fora chamado para ser uma bênção (Gn.12:2), agora era a causa de males e sofrimentos para os que estavam a seu redor. Este é mais um vigoroso alerta da Palavra de Deus para os que se decidiram servir a Deus: Deus tem um plano em sua vida, irmão(ã), de ser uma bênção.

Todavia, se houver resistência, se houver relutância, Deus, que respeita o livre-arbítrio do homem, não impedirá que haja esta recusa, mas, inevitavelmente, o(a) irmão(ã) passará a ser causa de males, sofrimentos e de pragas para os que estiverem ao seu redor.

– A Bíblia não nos informa como Faraó descobriu que a causa de todo aquele sofrimento era Abrão, mas o fato é que Deus, que estava no controle de tudo, permitiu que a verdade fosse descoberta.

É importante aqui ressaltar que a revelação da verdade foi obra de Deus e que isto veio a lume por permissão divina, ainda que Faraó tenha chegado a tais conclusões, aparentemente, por obra dos seus magos e adivinhadores.

Deus tem compromisso com Seus propósitos e com Sua Palavra e, para tanto, como é soberano, pode valer-se dos meios que bem entender. Sua Palavra diz, como já dissemos supra, que toda hipocrisia será revelada, pois nada ficará encoberto (Ec.12:14).

Assim, não nos surpreendamos quando houver revelações por meios estranhos ou até repugnantes (como por meio de magos, como deve ter ocorrido no Egito), pois devemos sempre ver nisto o zelo e o cuidado do Senhor, cuja soberania será somente realçada nestes episódios.

– Descoberta a mentira de Abrão, passou ele muita vergonha. Desmascarado publicamente, foi expulso do Egito, juntamente com sua mulher.

O pecado jamais trará vantagem verdadeira e permanente para o homem. Só a bênção do Senhor enriquece e não acrescenta dores (Pv.10:22), enquanto que os supostos benefícios trazidos pela vida pecaminosa, além de efêmeros, somente trazem problemas, dificuldades e derrotas.

É por isso que o apóstolo Paulo afirma que a corrida às riquezas nunca têm um final agradável (I Tm.6:9,10). Abrão saiu, pela misericórdia divina, com um patrimônio grande, mas de forma vergonhosa, humilhante, sem qualquer autoridade moral, como um verdadeiro criminoso, tanto que foi escoltado até a fronteira pelos soldados de Faraó (Gn.12:20).

– Quão distante estava Abrão do propósito divino para a sua vida! Humilhado, escoltado, ainda que rico e cheio de bens e de servos e servas (entre os quais, muito provavelmente, encontrava-se Agar, que lhe seria, futuramente, mais um grande problema, problema, aliás, que perdura até hoje, como se pode ver no Oriente Médio).

Como é triste para um servo de Deus sair da direção e orientação de seu Senhor. Querido(a) irmão(ã), faça um exame na sua vida e verifique se você se encontra em Canaã ou se já desceu ao Egito e lá está envolvido com a mentira, com a duplicidade, com a hipocrisia, com o engano, embora possa até estar desfrutando de uma prosperidade material.

Ainda é tempo, deixe o Egito ainda hoje, fale a verdade (Zc.8:16; Tg.4:4,7-10) e seja mais do que vencedor (Rm.8:37).

VI – LIÇÕES DO FRACASSO DE ABRÃO NA SUA IDA AO EGITO

– Esta passagem da vida de Abrão, portanto, traz-nos preciosos ensinamentos a respeito da necessidade de o servo de Deus sempre estar debaixo de divina orientação nas suas decisões e atitudes.

O que devemos priorizar em nossas vidas é o agrado a Deus, é o cumprimento do propósito divino para nossas vidas. Não devemos nos guiar apenas por fatores humanos, como a prosperidade material ou a tranquilidade frente aos demais homens com o sacrifício de nossos compromissos com Deus.

Abrão obteve prosperidade material no Egito, mas sua vida sem a direção de Deus trouxe-lhe prejuízos que, se não fosse a misericórdia de Deus, seriam irreparáveis.

– Não bastasse o mal causado a si próprio, a sua família e aos que estavam à sua volta, a vida de Abrão no Egito ainda impediu que o patriarca pudesse testificar de seu Deus para aquele povo. Com efeito, tendo saído envergonhado e humilhado do Egito, Abrão não teve condição alguma de dar testemunho deste Deus único Que lhe aparecera em Siquém.

Este é o grande objetivo de nosso adversário ao querer nos desviar da direção divina: fazer com que percamos a autoridade moral e espiritual, que fiquemos sem condições de dar testemunho de Deus para os perdidos.

Sem condições de dar testemunho, calados, estaremos saindo do propósito de Deus para a igreja que é a pregação do Evangelho a toda criatura (Mc.16:15).

É muito triste percebermos que fomos embaraçados pelo inimigo e que já não temos condição de sermos luz do mundo ou sal da terra. Assim estava Abrão no Egito.

– Que Deus nos guarde e que, o quanto antes, deixemos todo pecado e embaraço e voltemos a correr a carreira que nos está proposta pelo Senhor (Hb.12:1). Este é o principal motivo pelo qual, nos dias hodiernos, temos sentido uma mornidão espiritual crescente em muitos lugares.

Temos deixado nos desviar da divina orientação e temos aceitado nos acomodar em situações que, embora materialmente vantajosas, representam um grande prejuízo espiritual. Saiamos deste estado, ainda que venhamos a pagar um alto preço por isto.

Não seja como o levita que corria de um lado para outro atrás de comodidade (Jz.17:9), mas que nossa caminhada sempre para atingir o alvo pelo prêmio da soberana vocação divina em Cristo (Fp.3:14).

Como diz a poetisa sacra Frida Vingren: “Se Cristo comigo vai, eu irei. E não temerei, com gozo irei. Comigo vai. É grato servir a Jesus, levar a cruz. Se Cristo comigo vai, eu irei” (estrofe do hino 515 da Harpa Cristã). Sigamos, então, a direção de Cristo em nossas vidas!

OBS: “…Aqui, sua fé foi deficiente. Ele ainda acreditava na promessa geral e agia naquela fé referente a ela; mas ele não usou esta fé com referência à intervenção divina às circunstâncias, para as quais ela também seria igualmente aplicável.

Muitos confiam em Deus para suas almas e para a eternidade, mas não confiam nEle para seus corpos e para a vida atual. Para aquele que segue a Deus completamente em simplicidade de coração, todas as coisas devem ser bem sucedidas no final.

Tivessem Abrão e Sarai simplesmente se passado por quem eles eram, não teriam incorrido em perigo algum, pois Deus, que os havia obrigado a ir para o Egito, tinha preparado o caminho antes deles.

Nem Faraó nem seus cortesãos teriam notado a mulher, ela teria aparecido a eles como a mulher do estrangeiro que viera peregrinar na terra deles.

O resultado prova isto suficientemente. Todo raio de luz da verdade é uma emanação da santidade de Deus, e tremendamente sagrada a Seus olhos.

Considerando o assunto, um antigo piedoso disse as seguintes palavras, cujos educadores em prevaricação têm resolvido de forma muito vigorosa: “Eu não contaria uma mentira para salvar as almas do mundo inteiro”, disse ele.

Leitor, esteja vigilante: tu podes cair por causa de problemas relativamente pequenos, enquanto resistes resolutamente e com sucesso para aqueles que requerem um força de gigante para enfrentá-los.

Em toda questão, Deus é necessário; busca-o para o corpo e para a alma; não penses que algo pequeno ou insignificante demais para interessá-lo, pois isto diz respeito a teu presente e à tua paz eterna…” (CLARKE, Adam Comentários, v.1, p.157, CD-ROM Master Christian Library) (tradução nossa).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/index.php/adultos/14-adultos-liccoes/1875-licao-3-abraao-a-esperanca-do-pai-da-fe-i

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