LIÇÃO Nº 3 – AS BASES DO CASAMENTO CRISTÃO
15 de abril de 2013
O casamento mostra a igualdade de homem e mulher diante de Deus e as diferenças entre homem e mulher entre si.
O casamento mostra a igualdade de homem e mulher diante de Deus e as diferenças entre homem e mulher entre si.
INTRODUÇÃO
– Como vimos na lição anterior, o casamento é a única forma legítima, segundo os princípios éticos estabelecidos por Deus, para a constituição de uma família. Ao determinar que a família nasça do casamento, Deus, a fim de que os homens não tivessem do que se escusar (ou seja, não tivessem desculpa), determinou quais seriam os deveres para cada um dos cônjuges, marido e mulher, vez que, embora sejam iguais diante de Deus, são complemento um do outro e, portanto, devem realizar tarefas distintas no lar.
– O modelo bíblico original da família não impõe, como se costuma dizer, uma prevalência do homem sobre a mulher. O domínio do homem sobre a mulher, que tem sido a tônica e característica da história da humanidade, é resultado do pecado do primeiro casal, não da vontade de Deus, de modo que não é verdade o pensamento de que a igualdade entre os sexos (denominada no “politicamente correto” de “igualdade de gênero”, expressão que deve ser evitada entre nós) exija o abandono do modelo bíblico de família, mais uma das muitas mentiras diabólicas que têm ganhado terreno e crédito no mundo sem Deus.
I – O PADRÃO BÍBLICO DO PAPEL DO MARIDO
– Marido e mulher, como já vimos, devem viver em união, em unidade de propósitos, não querendo um dominar ao outro, mas sabendo que nem mesmo os próprios corpos estão sob seu domínio, mas, sim, sob o domínio do cônjuge. “Cônjuge” significa “estar sob o mesmo jugo com alguém”, ou seja, tanto homem como mulher estão debaixo de normas e princípios em caráter de igualdade, sem que um seja superior ao outro. Homem e mulher têm estruturas físicas, sentimentais e emocionais diversas e Deus, que os criou (Gn.1:27), sabe muito bem destas diferenças. Daí porque estabeleceu funções distintas para o marido e para a mulher na vida conjugal, o que não é senão a constatação de que eles são seres distintos, embora, diante de Deus, sejam iguais, pois para o Senhor não há acepção de pessoas (Dt.10:17).
– Uma das consequências do pecado do homem foi o término da situação original de equilíbrio e harmonia entre ambos os sexos (Gn.3:16). O pecado trouxe ao mundo a injustiça, a iniquidade (I Jo.3:4), de forma que não é de se admirar que, desde então, o homem tenha estabelecido, nas relações sociais, a começar da relação familiar, uma injusta superioridade sobre a mulher. Como relataram as Nações Unidas, na década de 1990, na conferência sobre a situação da mulher, esta tem sido discriminada em todas as classes sociais, em todos os países do mundo, sem qualquer exceção, uma comprovação de que a Palavra de Deus é a verdade. Entretanto, no princípio não foi assim e o estatuto bíblico da família não pode, em absoluto, ser utilizado para confirmar ou aprovar algo que é fruto do pecado. Uma família cristã está livre do poder do pecado, não tem qualquer compromisso com o mundo e, portanto, deve refletir o modelo bíblico original, que é o da igualdade de tratamento, o da igualdade de direitos, mas o da diversidade de funções e de atividades.
OBS: “…Essa cultura arcaica de diminuir a mulher não tem fundamento no espírito da Criação. (…). As mulheres não podem ser diminuídas diante dos homens em nada; o Senhor ordenou que fosse uma só carne, isto é, iguais. Eles completam um ao outro para tornar possível a procriação e dar ao fruto nascido o privilégio de ser um indivíduo portador de um corpo físico, ama, espírito e, sobretudo, da imagem do Criador.(…) O Senhor também não fez a mulher inferior ao homem em termos espirituais; ela também traz consigo a imagem do Criador e é possuída de um espírito imortal e assexuado como os homens. Quando o texto bíblico diz que o Senhor criou macho e fêmea à Sua imagem, Ele não determinou se um deles seria maior ou menor em autoridade…”( SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.63-4).
– O marido, diz a Palavra de Deus, deve ser a cabeça do casal (I Co.11:3), ou seja, a direção, o planejamento familiar, a estruturação dos projetos, dos fins a ser perseguidos deve ser de iniciativa e decisão do marido. Isto, entretanto, não quer dizer, como têm entendido os homens brasileiros, típicos machistas latino-americanos, que o marido deva ser um ditador no lar, o único senhor, o dono absoluto da verdade, que pela ameaça, pela força física e pela brutalidade domine os demais membros da família. Em primeiro lugar, a Bíblia diz que, embora o marido seja a cabeça da mulher, Cristo é a sua cabeça (I Co.11:3). Ora, toda e qualquer decisão, toda e qualquer autoridade do marido está submetida a Cristo e à Sua vontade. O marido é, assim, mero despenseiro de Cristo no lar e, como tal, deve ser achado fiel ao seu Senhor (I Co.4:1,2). Quão diferente é, pois, o modelo bíblico do que vemos, frequentemente, nos lares de crentes brasileiros!
– Em segundo lugar, ser a cabeça do casal importa em ter capacidade intelectual, em pensar, em ter condições de dirigir os demais membros da família. Lamentavelmente, vemos, hoje em dia, famílias desorientadas, perdidas, em que a mulher é obrigada a tomar decisões e a dar as rédeas na sua casa, porque o marido não tem juízo, não pensa, não raciocina, não se comporta como um verdadeiro “macho”. Na Bíblia, o “macho” é aquele que pensa, que projeta, que planeja, não o que espanca, bate e usa da força bruta. Um marido que não tem capacidade de planejamento, que não prevê todas as hipóteses possíveis corre o risco de deixar sua família em situação difícil, ainda que seja santo, como é o caso do profeta cuja viúva teve de ter o socorro miraculoso de Eliseu para superar a dificuldade por ele deixada (I Rs.4:1-7).
– Quando estamos a falar de planejamento, não podemos deixar de mencionar o aspecto econômico-financeiro, que apresenta, mormente nos dias difíceis que vivemos, um aspecto relevante. Embora venhamos a tratar disto em lição futura, desde já é importante observar que, ao lado do amor, a mulher deve ter um marido que tenha um bom nome. Salomão, em seu cântico romântico, afirma que as mulheres amam aqueles homens que “como unguento derramado é o teu nome” (Ct.1:3). O marido deve ter um comportamento de equilíbrio, de sensatez e de responsabilidade a ponto de causar admiração e respeito perante a comunidade, principalmente no que diz respeito aos aspectos econômico-financeiros, onde deve zelar para que tenha “o nome limpo”. Uma postura desta natureza trará à mulher uma autoestima, uma sensação de segurança e confiança que muito contribuirá para o bem-estar da família.
– Em terceiro lugar, ser a cabeça do casal importa em capacidade de amar como Cristo amou a Igreja, ou seja, o marido precisa ter o amor divino (que os gregos denominavam de “agape”), um amor desinteressado, um amor disposto ao autossacrifício. Ser cabeça da família é estar disposto a se sacrificar pela mulher e pelos filhos, a se prejudicar para que a família tenha um mínimo de dignidade. Muitos supostos crentes gostam de mandar, de exigir obediência, submissão, mas são preguiçosos, não buscam obter uma melhor e maior remuneração, não gostam de trabalhar, não querem servir, mas ser apenas servidos. Não são maridos que estejam cumprindo a Palavra de Deus.
– Com efeito, Cristo deve ser o exemplo para o marido. Embora seja a cabeça da Igreja (Ef.5:23), Jesus não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos (Mt.20:28), tendo demonstrado isto em todo o Seu ministério, pois sempre estava à disposição para fazer bem (At.10:38). Jesus não Se isolava dos pecadores, dos necessitados, mas ia ao encontro deles, a fim de lhes comunicar a mensagem da salvação, a ponto de os fariseus criticarem este comportamento (Mt.11:19). O marido, de igual modo, deve ser alguém que esteja disposto a atender os demais familiares (mulher, filhos e outros que com eles convivam no núcleo familiar), indo ao encontro de suas necessidades.
O marido deve tomar a iniciativa do diálogo, deve procurar saber quais são as necessidades dos familiares e não esperar que seja comunicado de algo, como, lamentavelmente, agiam (e ainda hoje agem) os “senhores patriarcais” da sociedade rural brasileira bem como os pais de família brasileiros até a primeira metade do século XX. O marido é aquele que deve “lavar os pés” dos membros de sua família, administrando-lhes a lição da humildade e ajudando cada um a moldar suas vidas segundo a Palavra de Deus.
– Em quarto lugar, ser a cabeça do casal é tomar a decisão, mas não significa imposição da vontade sem a participação dos demais membros da família. A Bíblia informa-nos que Deus, que é Soberano, não impõe a Sua vontade ao homem, busca a sua anuência, convida para o Seu projeto. Ora, se Deus é assim, por que o marido seria diferente? Vejamos a forma de expressão de Jesus em Sua oração sacerdotal: “tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo.17:4b), ou seja, houve uma proposta do Pai ao Filho, que foi aceita e cumprida. O marido, portanto, deve propor e obter a aceitação da mulher e dos demais integrantes da família para os propósitos assumidos, propósitos estes que, como vimos, têm de ter, primacialmente, a aprovação divina.
– Jesus jamais impôs a Sua vontade ao homem por força ou por violência, mas procurou convencer o homem pelo Espírito Santo (Zc.4:6). Verdade é que Seu ministério não se fez apenas com discursos ou parábolas, tendo, também, mostrado Seu poder (At.1:1;10:38), algo que, depois, foi observado pelos Seus seguidores, como é o caso do apóstolo Paulo (II Co.2:4,5).
Da mesma forma, o marido não pode se impor com base na força ou na violência, como, infelizmente, é a tônica em muitos lares, mas, antes, pelo contrário, o marido deve orientar e obter a adesão dos demais familiares a seus projetos e propósitos, mediante o poder da persuasão, do convencimento, o que exige um constante e permanente diálogo entre os integrantes da família, bem como que tais ideias e projetos se mostrem como resultado de uma vida de poder, o que o marido somente atingirá se tais planos e projetos tiverem a anuência e concordância do Senhor, o que implica, por sua vez, numa vida de comunhão com Deus. A força do exemplo do marido, numa vida santa e dedicada a Deus, é a principal fonte de autoridade para levar os demais familiares à adesão aos seus projetos e propósitos.
– Em quinto lugar, ser a cabeça do casal importa em ser o modelo afetivo do lar. Muitos acham que, por ser o marido chamado na Bíblia de cabeça, o marido é o protótipo da razão, o padrão da racionalidade, do bom senso e, consequentemente, eliminam da figura do marido qualquer traço sentimental ou emocional. Embora, normalmente, associemos a cabeça à razão, à insensibilidade, não é esta associação o pensamento dos escritores sagrados. Senão vejamos. Jesus é chamado de cabeça da Igreja (Ef.5:23), mas, nem por isso, as Escrituras Sagradas deixam de afirmar que ninguém tem maior amor do que Jesus (Jo.3:16; 15:13). Portanto, ser cabeça da família, antes de dispensar a presença de sentimento ou emoção, exige-a no tom mais elevado. Aliás, como tem demonstrado a medicina nos últimos anos, o estado sentimental do indivíduo é estabelecido, em grande grau, pela produção de substâncias no cérebro, ou seja, ao contrário do que se imaginava, é a cabeça a principal coordenadora e orientadora dos sentimentos no corpo humano.
– Neste ponto, portanto, vemos quão distinto do modelo bíblico é o modelo cultural existente notadamente entre os latinos, segundo o qual, o marido, por ser “homem”, “macho”, não deve demonstrar afetividade, sentimento ou emoção. “Homem não chora”, diz a cultura latina e, em razão disto, construiu-se a figura de um marido que se mostra insensível, “durão”, que esconde as suas emoções para que, assim, tenha respeito, consideração e autoridade em casa. Deve, segundo este padrão, em relação à mulher, demonstrar superioridade, apetite sexual animalesco, tratando a mulher como objeto e evitando todo e qualquer comportamento de afeto e carinho que esteja desvinculado da atividade sexual. Isto é o que diz nossa cultura, mas não é o que dizem as Escrituras Sagradas!
– O marido deve amar sua mulher como Cristo amou a Sua igreja, já vimos supra. Ora, Jesus demonstrou este amor não só na cruz do Calvário, onde ele atingiu o clímax, mas durante todo o Seu ministério. Jesus sempre demonstrou afeição, com todos, sem qualquer distinção ou acepção de pessoas. Compadeceu-Se, alegrou-Se, chamou a Si as crianças, que eram tidas como estorvo pelos Seus próprios discípulos, deu atenção a mendigos cegos, a mulheres de vida irregular, a leprosos, a enfermos de toda espécie, que eram desprezados e marginalizados pela sociedade. Jesus era pura sensibilidade e reside nesta capacidade de sentir exatamente o que sentimos (que é ter “com-paixão”) a autoridade e capacidade para interceder por nós junto ao Pai (Hb.2:17,18).
– O marido deve demonstrar este amor cotidianamente, até porque a mulher, por sua postura mais sentimental e emocional, necessita sentir diariamente o amor do marido. No livro de Cantares de Salomão, que é um poema que canta, precisamente, o amor conjugal e no qual tiramos grandes lições a respeito de como deve ser o relacionamento entre marido e mulher (o que mostra a importância que Deus dá a este tipo de relacionamento, a ponto de ter incluído, na revelação, um livro inspirado diretamente vinculado a isto), vemos que a primeira expressão da mulher é, exatamente, esta: “porque melhor é o seu amor do que o vinho” (Ct.1:2), ou seja, o que a mulher mais deseja é sentir o amor do marido, saber que ele a ama e isto é mais importante do que todo e qualquer prazer que o mundo possa oferecer (o vinho significa, exatamente, a alegria que se obtém na vida terrena). Já quase no final do cântico, a mulher exclama, mais uma vez: “Eu sou do meu amado e ele me tem afeição” (Ct.7:10). Será, querido marido, que sua mulher pode fazer delas estas palavras?
– No livro de Cantares, vemos o marido, constantemente, fazendo elogios à sua amada, agradando-a, ilustrando o seu ego (da mulher, não o seu), procurando impedir que a mulher perca a sua autoestima ou seja atingida, de modo fatal, na sua sensibilidade. A mulher, dizem as Escrituras, é o vaso mais fraco (I Pe.3:7), afirmação bíblica que não deve ser utilizada, como é costumeiro, para dizer que o homem é mais forte e, por isso, deve dominar sobre a mulher, mas, bem ao contrário, afirmação que deve ser levada em conta pelos maridos para que cuidem mais e melhor de suas mulheres, pois, se são mais fracas, mais delicadas, devem ter maior cuidado, não ser eliminadas ou destruídas de vez! Vejamos alguns dos elogios feitos pelo marido à mulher em Cantares:
a) égua do carro de Faraó (Ct.1:9) – pode parecer estranho, nos nossos dias, mas a expressão era altamente elogiosa, pois as éguas do Faraó eram os animais mais belos e mais bem cuidados daquela época. Será, querido marido, que sua mulher pode ser comparada às éguas de Faraó? Será que o amado tem propiciado o melhor que está à sua disposição para manter a saúde, a beleza e a fama de sua mulher?
b) olhos de pomba (Ct.1:15; 4:1; 6:5) – o marido diz à sua amada que os olhos dela são como os de pomba. A pomba é o símbolo da doçura, da ternura, pois seu olhar é gentil e transmite isto aos que a veem. Caro marido, o tratamento que o irmão tem dado à sua mulher permite que a mesma tenha este olhar, que transmita candura, doçura aos outros, ou, pelo contrário, tem um olhar abatido, revoltado e triste?
c) pomba minha (Ct.1:14; 6:9) – aqui o marido compara sua amada a uma pomba. A pomba tem características tão excelentes que é um dos símbolos do Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Trindade. Ser pomba é não ter amargura, ser simples, ser dócil, ser prolífera, ser companheira. Querido marido, o tratamento que o irmão dá a sua mulher permite o desenvolvimento destas qualidades em sua mulher?
d) rosa de Sarom, lírio dos vales (Ct.2:1) – aqui o marido compara sua amada à rosa de Sarom, a um lírio no meio dos espinhos. Por primeiro, é bom que se diga, popularizou-se a ideia de se considerar ser esta uma figura de Jesus Cristo, por causa da sua menção ao lírio dos campos no sermão do monte (Mt.6:28), mas, aqui, a rosa de Sarom e o lírio dos vales é a mulher, não o marido, de modo que se tem figura da Igreja e não de Jesus. O marido compara sua mulher à rosa de Sarom, que surgia na primavera, sendo o verdadeiro símbolo da renovação da natureza, da beleza que havia desaparecido no inverno, enquanto que o lírio dos vales também se sobressaía dentro de uma vegetação espinhosa por sua beleza e perfume. A mulher deve ser alguém que, em meio às lutas e às adversidades da vida, traga ao marido um alento, um contemplar de beleza e de sentimento. Querido marido, seu tratamento para com sua mulher dá motivos a ela para ser o refrigério que o irmão precisa ter em casa, ou, a forma como o irmão a trata, faz com que seus problemas só aumentem quando o irmão abre a porta de seu lar?
e) cabelo como os das cabras de Gileade (Ct.4:1, 6:5) – aqui o marido compara sua amada a um rebanho de cabras, enaltecendo os seus cabelos, que deveriam ser negros, como negros eram os pelos das cabras de Gileade. Os cabelos deveriam ser compridos, pois a visão de um rebanho de cabras descendo os montes faz lembrar esta espécie de cabelos. Vemos, aqui, o marido elogiando a mulher fisicamente, o que deve ser uma necessidade no relacionamento conjugal. O marido deve ter atração física pela sua mulher continuadamente, atração esta que deve aumentar pelo conhecimento cada vez mais intenso da interioridade da mulher ao longo do casamento. A mulher sempre se preocupa, é de sua natureza, em se mostrar atraente e bela ao seu marido e ele deve ter sua atenção a este ponto, sob pena de causar um desnecessário fator de instabilidade na família.
Além disso, o cabelo fala da honra da mulher (I Co.11:6), de modo que o cabelo fala da honra da mulher, que é algo que o marido deve elogiar e buscar incentivar e estimular na sua companheira.
f) dentes como o rebanho das ovelhas tosquiadas (Ct.4:2, 6:6) – aqui o marido diz que os dentes da amada o lembravam um rebanho que acabava de ser tosquiado e que se mostram férteis. Os dentes falam da alegria, da satisfação. O marido deve ter uma mulher satisfeita, feliz, que tenha prazer em fazer crescer o lar, não só tendo filhos, mas também em qualidade de vida. Querido marido, sua mulher tem satisfação na vida? Você contribui para que ela almeje o crescimento e desenvolvimento de sua vida familiar?
g) lábios como um fio de escarlate, como favos de mel (Ct.4:3,11) – aqui o marido diz que os lábios da mulher têm um falar doce, ou seja, a mulher fala coisas agradáveis, construtivas. Mas, como afirmam as Escrituras, a boca fala daquilo que o coração está cheio (Mt.15:19; Mc.7:21). A mulher bem tratada pelo marido, constantemente elogiada, não tem motivos para maldizer o mundo e aqueles que nele habitam, não é mexeriqueira, não está de mal com a vida. Querido marido, você tem contribuído para que o interior de sua mulher seja de tal modo que seus lábios tenham um falar doce?
h) fronte qual um pedaço de romã (Ct.4:3; 6:7) – aqui o marido diz que a face da mulher é avermelhada, como um pedaço de romã, fruta avermelhada que era símbolo da fertilidade na cultura oriental (tanto que, ainda hoje, há crendices daquela época que envolvem a romã na passagem de ano). Observemos que os lábios já tinham sido associados à cor vermelha (fio de escarlate), a mostrar que o marido vê, na mulher, um ser apaixonado, um ser que mantenha o interesse e o ardor dos primeiros dias de relacionamento. Evidentemente, que não se está aqui dizendo que o relacionamento conjugal deve ser movido pela “paixão”, entendida esta como um “movimento violento e impetuoso do ser para o que ele deseja”, algo que é fugaz, passageiro, carnal, mas um amor constante e permanente, que seja sempre cultivado. Querido marido, o irmão ainda consegue enxergar na face de sua mulher o amor dela pelo seu marido?
i) pescoço como a torre de Davi (Ct.4:4; 7:4) – aqui o marido enaltece o pescoço da mulher, pescoço este que é o liame entre a cabeça e o restante do corpo. O pescoço fala da elegância, do porte da mulher. A posição do pescoço no andar é de fundamental importância para o andar gracioso, como ensinam os treinadores de modelos, por exemplo. O marido louva a sua mulher por ter ela um pescoço como a torre de Davi, ou seja, por ter um porte, uma elegância elogiável, que traz segurança, pois a torre de Davi, uma fortaleza construída em Jerusalém, cujos escudos dos soldados, colocados na sua parte superior, faziam com que se apresentasse de forma bela e elegante aos olhos dos habitantes.
O pescoço, também, fala-nos de segurança, de ligação entre cabeça e restante do corpo, sendo, precisamente, este o papel que deve desempenhar a mulher na família. Querido marido, sua mulher é sua porta-voz na família, é alguém que tem condições de ser um elo entre o marido e os demais integrantes da família, alguém que, por receber segurança do marido, pode transmiti-la para os demais membros da família. Aqui razão tem o ditado popular segundo o qual “se o marido é a cabeça, a mulher é o pescoço”. Não é sem motivo que a Palavra de Deus afirma que a mulher pode destruir o seu lar com suas próprias mãos (Pv.14:1). Querido marido, sua mulher tem sido tratada de tal forma que possa ser o pescoço de sua família?
j) belos são os teus amores…, cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano (Ct.4:10,11; 7:1b-3) – o marido deve ter um relacionamento íntimo com a sua mulher, deve existir uma perfeita harmonia na vida sexual, que não vise apenas a satisfação própria, egoísta, mas a satisfação do outro, não apenas para procriação, mas também para satisfação, sem incontinência e dentro dos limites previstos pelo próprio Deus em Sua Palavra (I Tm.4:3). O marido não deve tratar a mulher como objeto sexual, como tem ensinado o mundo, mas manter um relacionamento que leve em consideração a necessidade de satisfação e a dignidade da mulher como pessoa num instante como este.
k) jardim, manancial fechado (Ct.4:12) – este texto é muito citado na interpretação alegórica que se faz do livro de Cantares, sendo de todos conhecida a figura da Igreja como jardim fechado. No entanto, o texto também tem aplicação literal. Aqui o marido compara a mulher com um jardim, um manancial fechado, o que nos faz lembrar das áreas de preservação ambiental, das reservas florestais de nossos dias, locais onde se preserva a natureza, o meio-ambiente, onde estranhos não têm acesso, onde não é possível a destruição.
A mulher deve ser elogiada na sua discrição, na preservação da intimidade da família. Mas, para que ela preserve a intimidade, o segredo no lar, não é possível a intimidação, a ameaça, como vemos em muitos homens, inclusive que se dizem crentes (aliás, este comportamento tem sido muito encontrado em candidatos a obreiros nos ministérios em que, biblicamente, exige-se o testemunho e anuência da mulher para a separação ou consagração), mas, tão somente, a confiança, a segurança advinda do relacionamento conjugal. Não é por outro motivo, que a mulher se compara a um muro, já quase no final do cântico (Ct.8:10). A Igreja é um jardim fechado porque confia plenamente e encontra segurança no seu Senhor (Jo.10:28,29; Sl.91:1,2). Querido marido, sua mulher pode ter esta mesma segurança e confiança quando observa o seu comportamento?
l) renovos como um pomar de romãs, com frutos excelentes, fonte dos jardins, poço das águas vivas (Ct.4:13,14) – aqui o marido compara a mulher como alguém que é sempre renovada, que sempre traz refrigério e refrescor à família. Mas, para que a mulher possa renovar, ser uma fonte de renovo e de vitalidade para a vida em família, é mister que o marido, assim como o Senhor da Igreja faz mandando o Espírito Santo (que é o vento mencionado em Ct.4:16), oxigene a casa, esforce-se para que haja não só a renovação espiritual do lar, mediante uma vida de contínua adoração, como também traga para a família a necessária contextualização, a necessária adaptação às transformações sociais, mantido, obviamente, o reinado de Cristo no lar.
m) aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, formidável como um exército com bandeiras (Ct.4:10) – o marido deve ver sua mulher como o ser mais belo e excelente sobre a face da Terra. O marido não pode ter olhos senão para a sua mulher. Não basta dizer que se casou com apenas uma mulher para que se cumpra o mandamento bíblico. Dizem as Escrituras que é preciso que se una a sua mulher e se lhe apegue a ela. Há muitos maridos que, imprudentemente, vivem elogiando as mulheres dos outros, só encontram virtudes nas outras mulheres, desmerecendo a sua própria mulher. O marido, em Cantares, entretanto, não agiu assim. Compara a sua mulher à lua, que reina soberana na noite, ofuscando o brilho de qualquer outro astro; ao sol, que, por sua vez, impede que apareçam os outros astros durante o dia, tamanho o seu brilho, bem assim, na alvorada ou no crepúsculo, ao planeta Vênus (a “estrela d’alva”), que é o astro que, na transição da noite para o dia ou vice-versa, consegue aparecer com maior fulgor. Ninguém pode ocupar, no universo do marido, o lugar da sua mulher. As atenções devem estar voltadas a ela, tanto nos momentos de alegria, como no de dificuldades. O marido tem de dar a devida honra a sua mulher, que deve ser enaltecida e admirada assim como um exército formidável com bandeiras.
n) pés que nos sapatos são formosos (Ct.7:1) – aqui o marido elogia a sabedoria e equilíbrio da sua mulher. Os pés falam de andar, de procedimento, de atitudes. A mulher deve ser elogiada pelo seu equilíbrio, pela sua moderação, pela sua modéstia. O marido deve incentivar, estimular e criar condições para que a formosura da mulher se demonstre, exatamente, no instante em que seus pés encaixam-se nos sapatos, ou seja, no exato momento em que as ações da mulher estão de acordo com os princípios e regras de moral social e bons costumes.
– O mais interessante é que, ao mesmo tempo em que o marido deve se esforçar para que enxergue em sua mulher todas as qualidades cantadas pelo poeta no Cântico dos Cânticos, vemos, também, que estes adjetivos, este comportamento é um dever da mulher!
II – O PAPEL BÍBLICO DO PAPEL DA MULHER
– A mulher, dizem as Escrituras, deve ser sujeita a seu marido (Ef.5:22). Ser sujeita significa estar debaixo de uma base, de um lançamento, de uma plataforma (do latim “sub jectum”). A mulher, portanto, deve orientar suas sensações, emoções e intuições de acordo com os planos, projetos e finalidades traçados pelo marido. Não há, portanto, como se exigir sujeição da mulher quando não há tais planos, projetos ou finalidades.
– A mulher deve se unir ao marido nos planos e projetos assumidos, fazendo-o por amor e não por medo, conveniência ou qualquer outro sentimento. Diz o texto sagrado que a sujeição deve ser como ao Senhor, o que implica em sujeição por amor, com dedicação, confiança, humildade, fidelidade e lealdade. Nada mais antibíblico, portanto, do que a ideia que tem sido difundida de que o casamento ou a vida familiar tradicional seja algo contrário à dignidade da mulher ou à sua independência.
A mulher, como o homem, não foram feitos para serem “independentes”, pois dependem um do outro para se completarem, para que possam transformar em realidades todo o potencial humano. A chamada “liberação feminina” é mais uma das mentiras satânicas e resultado de uma postura antibíblica dos homens, inclusive de cristãos, que confundem a sujeição da mulher com opressão, escravidão ou algo semelhante.
– A mulher tem o direito (diríamos, mesmo, o dever) de opinar junto a seu marido sobre os planos, projetos e objetivos que devem ser buscados pela família, usando de sua capacidade intuitiva aguçada, de sua sensibilidade e emoção para que seja tomada a melhor decisão. Até pelo fato de ser mais sensível e intuitiva do que o homem, a mulher é um importante canal para que seja obtida e comunicada a vontade de Deus num determinado fim perseguido pela família. Jesus deixou-nos claro que a mulher é a principal fonte de comunicação para a divulgação de Seus propósitos, como vemos nos exemplos da profetisa Ana (Lc.2:38) e das mulheres que foram ao túmulo vazio (Lc.24:9).
– A mulher é a principal responsável pela manutenção do afeto e da sensibilidade nas relações familiares, seja como mãe (Is.49:15), seja como mulher (Pv.31:11; Ct.3:1).
– Neste ponto, assim como já vimos com relação aos maridos, faz-se preciso que a mulher demonstre toda esta sensibilidade e afeto através de elogios e atitudes em relação a seus maridos, elogios e atitudes que vamos, também, extrair do livro da Bíblia dedicado ao amor conjugal, que é o livro de Cantares de Salomão, onde o marido é visto pela mulher da seguinte forma:
a) beije-me ele com os beijos da sua boca (Ct.1:2) – conforme já falamos supra, o ponto principal que a mulher vê em seu marido é a sua afeição, a sua capacidade de amar, que aqui está simbolizado pelo beijo, sinal não só de afeto como também de autoridade (Cf. Sl.2:12). A mulher deve ser receptiva ao afeto do marido, às suas demonstrações de carinho, bem como deve reforçar a autoridade do marido no lar, desde que acompanhada pelo exemplo (os beijos são da boca do marido). A mulher deve desejar o seu marido, deve valorizar o jeito do seu marido amá-la, evitando comparações com outros homens e modelos outros que sejam apresentados pela sociedade ou pela mídia.
b) unguento derramado é o teu nome (Ct.1:3) – a mulher deve zelar pelo bom nome de seu marido. Infelizmente, temos presenciado e vivenciado inúmeras circunstâncias em que a mulher é a primeira a comprometer a honra, a fama, a posição do marido perante a sociedade. Divergências, mágoas, ressentimentos devem ser tratados intimamente, com preservação da figura do marido e da mulher perante os filhos e perante a sociedade. Não se está aqui defendendo a atitude de hipocrisia, que é muito comum entre “moralistas”, em que se disfarça a existência de um relacionamento conjugal já há muito falido, mas, sim, o que diz conhecido provérbio popular: “roupa suja se lava em casa”. Na própria intimidade, a mulher deve preservar a honra do marido, daí porque a mulher, na poesia de Salomão, ter dito que o marido era um “ramalhete de mirra”(na NVI, “pequenina bolsa de mirra”) (Ct.1:13), ou seja, um pequeno saquinho de mirra, um perfume de aroma agradável extraído de algumas árvores da Arábia, que normalmente era colocado pelas jovens entre seus seios, pendurado no pescoço, ou seja, até mesmo na vida em família, deve ser exalado o bom nome do marido. A mulher deve, sempre, preservar o nome do marido, incentivando-o e estimulando-o a que tenha, em sua vida e proceder, o “bom cheiro de Cristo” (II Co.2:15). Como diz o sábio, ela [a mulher, observação nossa] lhe faz bem, e não mal, todos os dias da sua vida” (Pv.31:12).
c) cacho de Chipre nas vinhas de En-Gedi ( ou “ramalhete de flores de hena das vinhas de En-Gedi”, na NVI) (Ct.1:14) – aqui a mulher compara o marido a uma flor muito cheirosa e parecida com a rosa, que era abundante em En-Gedi, um conhecido oásis da Palestina. A mulher precisa criar condições para que seu marido seja romântico, tenha liberdade para expressar toda a sua sensibilidade para a sua companheira. Num mundo onde o homem não pode expressar a sua sensibilidade, é preciso que a mulher tenha prudência e discrição para que, na intimidade pelo menos, o marido possa expressar tais sentimentos, notadamente no relacionamento familiar. Cabe a mulher lapidar a pedra bruta que, normalmente, são os homens e transformá-los num puro e lindo diamante para a sociedade. Por ser a parte mais sensível, a mulher tem de saber que cabe a ela complementar este lado do seu marido. Como diz conhecida música popular, “os brutos também amam” e cabe à mulher desembrutecer os homens.
d) macieira entre as árvores do bosque (Ct.2:3,5) – aqui a mulher compara seu marido como uma macieira entre as árvores do bosque. Ao contrário do que se afirma, sem qualquer respaldo bíblico, a macieira não foi apresentada, na Bíblia, como sendo a árvore da ciência do bem e do mal no jardim do Éden. Ela exsurge, aqui, no livro de Cantares como uma árvore frutífera no meio de árvores sem frutos, pois, nos bosques que estão aqui em mente, temos, normalmente, árvores sem frutos, as chamadas “gimnospermas” (como os pinheiros), que não têm frutos, mas tão somente flores e sementes.
O marido deve ser visto pela mulher como um provedor, como aquele que sacia as necessidades da família, tanto as materiais, quanto as afetivas. Um dos grandes problemas que temos, nos dias de hoje, é a insuficiência do trabalho do marido como única fonte de subsistência das famílias, o que tem gerado grandes distorções no relacionamento familiar. Mas, além do sustento, a macieira produz uma sombra, que também as árvores do bosque não conseguem produzir (as copas das gimnospermas, via de regra, permitem a travessia da luz solar, daí porque serem chamadas estas florestas de “florestas abertas”, ao contrário das florestas tropicais, que não permitem a penetração da luz solar).
Isto mostra, claramente, que os maridos devem, também, trazer segurança para as mulheres, que a mulher busca confiança e refúgio no seu marido e deve se comportar de tal maneira que isto se torne uma realidade em sua vida. Não é por outro motivo que a mulher louva o gesto de proteção do marido representado pelo abraço, como se descreve em Ct.2:6. O marido está pronto a ser o protetor da mulher se nela sentir confiança.
e) levou-me à sala do banquete e o seu estandarte em mim era o amor (Ct.2:4) – aqui a mulher mostra sua admiração pelo seu marido porque ele lhe proporciona uma vida de alegria (o banquete representa, exatamente, a festa, a alegria). A mulher deve compartilhar dos momentos de alegria proporcionados por seu marido, valorizá-los, reconhecer todo o seu esforço para trazer momentos melhores e menos aflitivos para a mulher e para a família como um todo. A mulher deve procurar desenvolver, no seu lar, o amor como sendo a bandeira que deve ser enaltecida. Entra, aqui, também, a necessária cooperação da mulher para que o seu marido tenha uma intimidade e uma vida de comunhão com Deus de tal sorte que sempre haja festa espiritual na casa, no lar, mediante um contínuo e freqüente culto doméstico, que, pelo marido, seja dirigido ou, pelo menos, coordenado.
f) semelhante ao gamo ou ao filho do veado (Ct.2:9,17; 8:14) – aqui a mulher compara seu marido a um cervo, a um veado. Este animal é conhecido pela graciosidade dos seus movimentos, agilidade e vigilância. O que chamou a atenção da amada no seu marido foi exatamente a presença destas qualidades. A mulher jamais deve matar, em seu marido, a perspicácia, o sonho, a agilidade mental e intelectual. Deve colaborar de forma a que ele faça projetos e os execute satisfatoriamente, contribuindo com sua intuição e sensibilidade para que haja o êxito. A vigilância, também, é importante para que a família escape dos perigos e das sombras, daí porque a mulher ansiava pela vinda do marido antes do anoitecer (Ct.1:17).
O marido, inclusive, deve ser o canal da busca da proteção divina ao lar, mediante a coordenação e direção do culto doméstico (Ct.4:6). A mulher virtuosa privilegia tanto o marido previdente e planejador que, com suas atitudes, reforça os projetos e planos do marido, tanto que “não temerá, por causa da neve, porque toda a sua casa anda forrada de roupa dobrada.” (Pv.31:21). É interessante notar, aqui, como o mundo deturpa os conceitos bíblicos, buscando menosprezá-los. Na cultura brasileira, a associação do homem ao gamo ou ao veado é pejorativa, pois este animal é símbolo de afeminação, quando, na verdade, biblicamente, ele apresenta uma característica masculina por excelência: a racionalidade, a destreza mental.
g) ele apascenta o seu rebanho entre os lírios (Ct.1:16) – aqui a mulher se diz do seu marido porque ele apascenta o seu rebanho entre os lírios, ou seja, a mulher vê no marido alguém que trabalha, que busca ganhar o pão com o suor do seu rosto, enfrentando todas as dificuldades e adversidades que este trabalho,
inevitavelmente, por causa do pecado do casal primordial, trouxe para os seres humanos (Gn.3:19). A mulher, portanto, jamais pode desconsiderar o esforço do marido na provisão da família, ainda quando este esforço se revele inútil ou sem resultados imediatos (como ocorre, cada vez mais, com o crescente desemprego que grassa pelo mundo). A reação da mulher a todo este esforço do marido é fundamental para que o marido mantenha o equilíbrio e a sensatez e para que as carências não destruam a vida familiar.
h) levantar-me-ei…buscarei aquele a quem ama a minha alma (Ct.3:1a) – aqui vemos a mulher considerando o marido como aquele que deve ser procurado, que deve ser buscado. A mulher, não encontrando o marido em sua cama (ou seja, na sua intimidade), não mede esforços para localizar o seu marido, ainda que tenha de sair durante a noite pelas ruas e praças da cidade. A mulher deve procurar por seu marido, não deve ser indiferente a ele, não deve permitir que o marido, dentro de sua tendência a uma vida insensível e puramente racional, desvincule-se de sua mulher, de sua família. A mulher não pode permitir o desinteresse e o isolamento do marido na vida familiar, algo que é muito comum, já que o marido passa poucas horas no convívio do lar. A mulher deve esforçar-se ao máximo para que seu marido seja trazido para o lar, seja um participante do cotidiano doméstico.
i) tiraste-me o coração, minha irmã, minha esposa…(Ct.4:9) – a mulher tem de tirar o coração do seu marido, ou seja, com os seus olhos (e já vimos que os olhos são como que de pomba, portanto, canais de doçura, ternura e simplicidade), a mulher tem de fazer com que o desejo do marido seja para ela, e tão somente ela. O marido deve ser cuidado e tratado de tal maneira que passe a depositar na sua mulher os desejos de sua vida terrena, que passa a ver, em sua mulher, o alvo de sua existência, a razão de ser dos seus projetos e planos. A mulher deve tirar o coração do homem, não outras pessoas e deve fazê-lo com seus olhos, não com carnalidade ou qualquer sedução barata, que a nada leva. Como diz o sábio, “o coração do seu marido [i.e., da mulher virtuosa, observação nossa] está nela confiado” (Pv.31:11a). Não é por outro motivo que se diz que muitos maridos, pelo porte de suas mulheres, serão ganhos para Cristo sem palavra (I Pe.3:1). Pelas atitudes de mulheres santas, que com sua simplicidade e suas qualidades do fruto do Espírito, capturarão o coração de seus maridos, eles poderão chegar-se a Cristo, como elas chegaram.
OBS: Observemos, aqui, por oportuno, que Pedro está se dirigindo a casais que se formaram antes da conversão de qualquer dos seus integrantes, não se podendo utilizar este versículo como autorização para que haja o “jugo desigual”.
j) já vim para o meu jardim, irmã minha, minha esposa; colhi a minha mirra com a minha especiaria; comi o meu favor com o meu mel; bebi o meu vinho com o meu leite (Ct.5:1a)– aqui o marido avisa a mulher que usufruiu daquilo que foi feito para ele. Veio para o jardim, comeu o seu favor de mel, o seu vinho com leite. Se ele assim se alimentou, é porque a mulher o preparou. É fundamental que a mulher execute as tarefas que lhes são cometidas dentro do lar, entre os quais, destacam-se a provisão da alimentação e das demais necessidades.
O modelo tradicional de família, já hoje quase inexistente, cometia ao marido o trabalho fora de casa e à mulher, o trabalho dentro de casa. Hoje em dia, em virtude da necessidade de ambos os cônjuges trabalharem, para que haja o mínimo de conforto na vida da família, é preciso que haja uma distribuição de tarefas entre os cônjuges, o que não é biblicamente condenado, como alguns “machistas” têm entendido. De qualquer modo, o controle das tarefas dentro de casa tem de ser da mulher, pois, como dizem as Escrituras, a mulher virtuosa “ainda de noite se levanta, e dá mantimento à sua casa, e a tarefa às suas servas” (Pv.31:15).
É imperioso que a mulher tenha sob seu controle estas atividades domésticas, pois isto faz parte da sua sensibilidade e intuição e é fundamental para que o marido possa bem desempenhar as suas atividades, bem assim os filhos. A imagem social do marido está vinculada a isto (Pv.31:23), bem assim o da própria mulher (Pv.31:28,29).
k) eu abri ao meu amado, mas já o meu amado se tinha retirado…acharam-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me, tiraram-me o manto…(Ct.5:6,7) – aqui a mulher conta um triste experiência, resultado da sua indiferença e resistência ao marido. O marido a havia procurado, mas a mulher não lhe deu ouvidos, resistiu-lhe, fez-se indiferente para com ele e, como consequência, ele se foi. Arrependida, a mulher corre em seu encontro, mas é espancada, ferida, despida pelos guardas. Isto mostra que a mulher não deve, em momento algum, permitir que o marido se sinta isolado, solitário. Muitas vezes, a mulher, em razão de divergências e de conflitos, isola o marido, mantém-no numa “geladeira”, no “congelamento de relacionamento”, em todos os sentidos, a começar pelo sexual. As consequências de uma tal conduta são desastrosas para a mulher, pois o marido deixará de protegê-la e a família poderá ser alvo do ataque daqueles que estão, constantemente, buscando a quem possa tragar, o diabo e seus anjos (I Pe.5:8; Ap.12:10). Sendo a fonte de sensibilidade no lar, a mulher não pode, em absoluto, ser a promotora de uma insensibilização no relacionamento conjugal, pois isto trará graves seqüelas que, muitas vezes, podem ser irreversíveis.
OBS: Este comportamento de interrupção do relacionamento íntimo, que muitos especialistas denominam de “castigo sexual”, por sinal, é expressamente vedado pelas Escrituras, como vemos em I Co.7:4,5, sendo uma ocasião que os cônjuges darão ao inimigo para inserir, no casamento, a prostituição e o adultério, manchando, assim, o leito matrimonial (Hb.13:4). Guardemos o conselho do apóstolo: “Não deis lugar ao diabo” (Ef.4:27).
l) ele traz a bandeira entre mil, a sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus olhos…como os das pombas, as suas faces como um canteiro de bálsamo, como colinas de ervas aromáticas; os seus lábios…como lírios que gotejam mirra (Ct.5:10-13) – aqui a mulher enaltece várias qualidades que se encontram na cabeça do marido. Primeiro, diz que ele é um comandante, aquele que leva atrás de si um exército. A mulher deve reconhecer a direção do marido na vida familiar, não representando isto uma escravidão ou uma servidão. Os soldados não obedecem ao comandante apenas por causa de hierarquia, mas porque enxergam nele alguém valoroso, alguém dotado de coragem e de força para enfrentar o inimigo. Se Davi não tivesse suas próprias qualidades como guerreiro, certamente que os seus valentes jamais aceitariam submeter-se a ele! O marido deve, porém, ter a mente de Cristo, pois é isto que representa a cabeça de ouro, pois o ouro nos fala da divindade. Será que os pensamentos, os planos dos maridos têm sido os pensamentos, os planos de Deus? Só os planos de Deus não podem ser frustrados (Jó 42:1 – ARA).
A mulher deve, portanto, aderir e lutar pela concretização dos planos de seu marido, quando vir que o seu marido tem a cabeça como o ouro mais apurado. Com relação aos olhos, assim como a mulher deve transmitir doçura, ternura e simplicidade, o marido também deve assim se portar, pois, se é um crente verdadeiro, também recebeu o Espírito Santo como pomba, a exemplo de seu Senhor. Entretanto, há muitos maridos que querem se comportar como leões, tigres ou bestas-feras, que não é o modelo bíblico procurado pela mulher. Há mulheres, também, que têm buscado “gatos”, “pães”, esquecendo-se de que devem ter, ao seu lado, verdadeiras pombas, homens provedores, simples, doces e ternos, capazes de suprir-lhes a necessidade de afeto e de mantimento.
O marido, também, deve ter desejo pela mulher e isto que representa o “canteiro de bálsamo” das suas faces, uma provável alusão ao costume oriental de se perfumarem as barbas, para demonstrar agrado à mulher. Querida mulher, seu comportamento faz com que seu marido tenha desejo em lhe fazer companhia, tenha desejo de chegar logo a casa, ou será que seu marido é mais um daqueles que tudo fazem para ficar o maior tempo possível fora de casa? Muitos alcoólatras, que passam horas e horas em bares, começaram esta vida exatamente porque suas mulheres não lhes davam prazer algum a que chegarem logo a casa, após um dia estafante de serviço, o que os fez parar nos bares e lá, dia após dia, acabaram se viciando e preferindo mil vezes a companhia da “branquinha” do que da mulher rixosa que têm em casa, cuja insuportabilidade foi afirmada pelo próprio Deus em Sua Palavra.(Pv.25:24; 27:15).
Um marido bem tratado e cuidado saberá externar uma sensibilidade, um sentimento que não é particularmente desenvolvido nos varões, mas que será despertado pelo carinho e afeto da mulher, tanto que seus lábios serão como lírios que gotejam mirra. Querida mulher, seu marido tem estas características? Se não, qual a sua culpa nisto?
m) as suas mãos …anéis de ouro; o seu ventre…alvo marfim; as suas pernas…colunas de mármore; (Ct.5:14-15a) – A mulher deve estimular e incentivar o amor a que seja trabalhador. As mãos falam do trabalho e o marido deve trabalhar, esforçar-se para a construção de uma vida familiar digna, trabalho que não é somente o material, mas também o espiritual, a fim de que o lar seja um altar de adoração contínua ao Senhor.
Este trabalho deve ser feito sob a direção e orientação do Senhor, daí porque os anéis serem de ouro, com joias preciosas incrustadas. O marido é cantado, aqui, como alguém que tem um ventre como o marfim, ou seja, tem um interior excelente. A mulher deve se esforçar por entender o seu marido no aspecto interno, i.e., sua alma e espírito, de tal modo que compreenda as suas manifestações exteriores. Há, mesmo, quem veja aqui uma alusão ao porte físico do marido, que deve ser, sim, alvo do conhecimento e do cuidado por parte da mulher, que deve ser a primeira interessada em que seu marido tenha um bom porte físico. O marido deve ser, também, alguém que dê segurança e firmeza ao lar, tanto que suas pernas devem ser colunas de mármore, isto é, o marido deve ter um comportamento tal que toda a vida familiar esteja estruturada através de sua vida. A mulher, portanto, não pode se comportar como Sansão, que destruiu o templo de Dagom com suas próprias mãos, mediante a destruição das colunas daquele templo. Já falamos disto neste estudo: a mulher louca derribará a sua casa, exatamente ao destruir a reputação do seu marido e toda a sua autoridade no lar.
n) o seu parecer…como o Líbano; o seu falar…muitíssimo suave (Ct.5:15b-16) – Aqui a mulher afirma que o seu marido tem o parecer do Líbano, ou seja, é tão impressionante e vistoso como o cedro do Líbano. O cedro é uma árvore da família dos pinheiros, de grande porte, cuja madeira é procurada por sua durabilidade, sendo considerado o rei das árvores na Palestina.
Dizer que o marido tem a aparência do cedro do Líbano é dizer que a mulher o considera como a mais alta autoridade no lar, como sendo alguém de grande estatura moral, que tem firmeza e caráter inquebrantável, com condições de edificar um lar, assim como o cedro era muito utilizado para a edificação de casas, notadamente de grandes edifícios, como, por exemplo, o templo de Salomão.
O cedro é resistente à água, a principal das substâncias que poderiam danificá-lo e permite que a luz do sol penetre nos seus bosques, a mostrar que o marido deve alguém que, apesar de respeitado e considerado por sua mulher, nunca pode permitir que a luz da Palavra de Deus deixe de penetrar no ambiente familiar. Querida mulher, tem a irmã enaltecido seu marido como cedro do Líbano ou preferido contar seus defeitos e fracassos aos filhos e a tantos quantos estão à sua volta? Tem havido sua colaboração para que seu marido resista às lutas, às tempestades desta vida?
O marido deve ter um falar suave, aliás, muitíssimo suave, o que, evidentemente, somente será conseguido se o marido se sentir tão amado, com seu coração capturado pela mulher. Vemos no exemplo de Abigail a forma como alguém deve desfazer o furor do homem (I Sm.25:18-44). Se Abigail fosse como algumas mulheres que se dizem crentes, nos nossos dias, certamente teria perecido assim como toda a sua família.
– A administração do cotidiano do lar, segundo os planos e diretrizes decididos pelo marido, deve ficar com a mulher, pois sua intuição e sensibilidade são fundamentais para que a família possa suprir todas as suas necessidades econômico-financeiras, de higiene e vestuário entre outras (Pv.31:13-27).
Verdade é que, em virtude de a mulher estar, cada vez mais, trabalhando fora de casa, deve haver um compartilhamento de tarefas com o marido, mas jamais deve a mulher deixar de responder pela coordenação e supervisão desta parte, pois é este o modelo bíblico e as condições culturais não alteram a natureza do homem e da mulher.
OBS: Deve-se, por sua lucidez, reproduzir aqui o pensamento católico-romano a respeito deste assunto, exposto no Concílio Vaticano II, reunião que, há 50 anos, determinou os atuais parâmetros doutrinários da Igreja Romana: “…A família é em certo sentido uma escola de enriquecimento humano. Mas, para atingir a plenitude de sua vida e de sua missão requer a comunhão da alma no bem-querer, a decisão comum dos esposos e a diligente cooperação dos pais na educação dos filhos.
É de grande proveito para a formação desses a presença ativa do pai. Mas, sem desprezar a legítima promoção social da mulher, deve-se pôr a salvo o cuidado da mãe em casa, da qual necessitam principalmente os filhos menores.…” (Constituição Pastoral ‘Gaudium et Spes’ , nº 52). Bem assim registrar, aqui, o pensamento do Papa João Paulo II, chefe da Igreja Romana de 1978 a 2005 a respeito:
“…Se há que reconhecer às mulheres, como aos homens, o direito de ascender às diversas tarefas públicas, a sociedade deve estruturar-se, contudo, de maneira tal que as esposas e as mães não sejam de facto constrangidas a trabalhar fora de casa e que a família possa dignamente viver e prosperar, mesmo quando elas se dedicam totalmente ao lar próprio.
Deve além disso superar-se a mentalidade segundo a qual a honra da mulher deriva mais do trabalho externo do que da actividade familiar. Mas isto exige que se estime e se ame verdadeiramente a mulher com todo o respeito pela sua dignidade pessoal, e que a sociedade crie e desenvolva as devidas condições para o trabalho doméstico.
A Igreja, com o devido respeito pela vocação diversa do homem e da mulher, deve promover, na medida do possível, também na sua vida, a igualdade deles quanto a direitos e dignidades, e isto para o bem de todos: da família, da Igreja e da sociedade. É evidente, porém, que isto não significa para a mulher a renúncia à sua feminilidade nem a imitação do carácter masculino, mas a plenitude da verdadeira humanidade feminil, tal como se deve exprimir no seu agir, quer na família quer fora dela, sem contudo esquecer, neste campo, a variedade dos costumes e das culturas. …” (JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, nº 23. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_19811122_familiaris-consortio_po.html Acesso em 12 fev.2013).
III – OS MALES DA OMISSÃO DOS PAPÉIS
– O modelo bíblico estabelecido para a família deve ser rigorosamente cumprido para que se tenha o êxito na vida familiar. Sem que se observe o padrão divino, as famílias tendem a apresentar problemas sérios, que culminarão não só na falência da vida familiar, mas também, em prejuízo para cada integrante da família e para a sociedade, que é constituída de famílias.
OBS: Precisamos capacitar homens e mulheres para que cumpram os seus deveres conjugais, segundo os princípios da Palavra de Deus, quais sejam: o homem amando a esposa, liderando-a em amor, honrando-a, tratando-a como Cristo trata a Igreja (1 Pe 3.7); a mulher, seguindo em amor a liderança; os pais, instruindo os filhos na doutrina e admoestação do Senhor; os filhos obedecendo e honrando os pais. É de causar espanto o índice de esposas cristãs que não se sentem amadas pelos seus maridos. E de maridos que não se sentem amados por suas esposas (BIFANO, Gilson. A família e os desafios do nosso tempo. clickfamilia.com.br Acesso em fev.2004).
– O comportamento rebelde do ser humano em relação a seu Criador tem, na vida familiar, uma de suas mais nefastas e deletérias conseqüências, porquanto a ausência de observância dos princípios divinos traz desajustes tais na vida em família que, não raro, causam a própria destruição do lar.
– Quando o homem deixa de cumprir o seu papel de provedor do lar, bem assim de fonte de segurança e confiança na família, a consequência é a própria desestruturação completa da família. Como vimos, no próprio livro de Cantares, a retirada do marido trouxe dores atrozes para a mulher (Ct.5:7), algo que tem acontecido cotidianamente na nossa sociedade. Os homens, em primeiro lugar, já não mais conseguem sustentar seus lares exclusivamente com o seu trabalho, diante da perversa ordem sócio-econômica que tem vigorado no mundo como um todo. Esta insuficiência fez com que as mulheres tivessem de ingressar no mercado de trabalho, algo que, inclusive, tem sido apresentado como uma demonstração da “liberação feminina”, como uma prova da “igualdade de sexos”, mas que, na verdade, não passa de uma comprovação da contínua e cada vez maior exploração do homem pelo homem nos sistemas econômicos concebidos pelos homens e inspirados pelo deus deste século, tanto assim que as “mulheres iguais e dignificadas pelo trabalho” sempre percebem menores salários que os homens…
– A saída da mulher de dentro dos lares trouxe inúmeros problemas para a vida familiar. Com ambos os cônjuges fora de casa, não há a possibilidade de a mulher administrar, com sua intuição e sensibilidade, as tarefas domésticas que, ou são distribuídas ou divididas entre os cônjuges, ou, então, mormente em países de cultura “machista” como o do Brasil, impõem à mulher uma dupla jornada de trabalho, que traz um grande mal aos relacionamentos conjugal e entre pais e filhos. Mesmo onde há a distribuição de tarefas, estes relacionamentos também sofrem prejuízos.
– Marido e mulher têm, sensivelmente, prejudicado seu diálogo e comunicação, bem assim seus interesses devem ser repartidos entre si, os filhos e suas atividades profissionais que, no mais das vezes, ocupam de dez a doze horas diárias, inviabilizando quando oportunidade para que haja aquela inter-relação que, como vimos, é fundamental na construção de uma vida conjugal, porquanto o que o marido deve ver na mulher e o que a mulher deve ver no marido dependem, fundamentalmente, da colaboração de um e de outro. Nem um nem outro têm verdadeiro conhecimento a respeito da vida do outro, não há tempo para isto, e, com isto, prejudica-se, sensivelmente, a intimidade. Não raras vezes, acabam-se encontrando confidentes e parceiros de angústias e de aflições no ambiente de trabalho, o que se torna uma cunha saliente na intimidade do lar, que pode pôr tudo a perder.
– O desarranjo no lar torna-se evidente e as funções nitidamente de pai e mãe acabam sendo transferidas para terceiros (avós, babás, professoras de creches, professoras da EBD etc.), o que traz enorme prejuízo à própria construção da família, que não terá, mais, uniformidade de valores e de crenças, sendo que a falta de afeto e de proximidade entre os integrantes da família acabarão sendo compensados com atitudes puramente materialistas (satisfação de desejos materiais, tais como compra de presentes, autorização para viagens ou encontros etc.), num grau cada vez mais intenso de permissividade e falta de disciplina, que causará ainda maior distanciamento entre os integrantes da família.
– Nestes casos, é preciso que haja um acompanhamento familiar por parte da Igreja, de tal modo que os efeitos danosos da necessidade da mulher sair de casa para trabalhar sejam minimizados. Em primeiro lugar, deve-se estimular que os casais tomem esta atitude na mais absoluta necessidade, evitando que famílias suficientemente providas, em nome de um consumismo desenfreado, de um amor do dinheiro, caiam neste laço.
– Em segundo defendemos que a igreja procure construir uma agenda que não diminua, ainda mais, o tempo dos familiares em casa lugar, , pois, no mais das vezes, as atividades da igreja local também contribuem para que o tempo de contacto entre cônjuges e entre pais e filhos, já tão diminuto, seja ainda mais reduzido.
– Em terceiro lugar, é imperioso que se cultive, nos pais, o senso de responsabilidade e a necessidade de autossacrifício em prol da vida familiar, devendo-se, mesmo, incutir-se em cada cônjuge o desejo de se prejudicar até em prol do companheiro e dos filhos, pois este é o amor que se exige de cada cônjuge.
– Em quarto lugar, deve a igreja, na medida das suas possibilidades, ajudar na educação dos filhos dos seus membros e no acompanhamento deles, seja mediante a formação dos próprios serviços de cuidado dos filhos durante o período em que as mães estejam trabalhando, seja mediante uma fiscalização e acompanhamento das instituições utilizadas pelos seus membros, a fim de evitar distorções e orientações contrários à sã doutrina, seja através do reforço ao seu departamento infanto-juvenil, seja através de um trabalho de acompanhamento das famílias nestas condições, com visitas periódicas e supressão das principais necessidades, inclusive com o objetivo de se impedir que a intimidade do lar seja quebrada de tal maneira que se institua um “jugo desigual”.
OBS: Neste sentido, aliás, devemos, aqui, reconhecer o acerto da proposta do Papa João Paulo II, chefe da Igreja Romana de 1978 a 2005 com respeito à criação de uma “pastoral da família” na instituição que a preside, convocação feita logo no limiar de seu pontificado, em 1981, que tem produzido grandes resultados. A “pastoral da família” é concebida em diversas fases, desde a infância, mas, queremos, aqui, ressaltar a chamada “pastoral pós-matrimonial”, transcrevendo aqui os seus parâmetros, tais quais fixados por aquele líder religioso: “…69.
O cuidado pastoral da família regularmente constituída significa, em concreto, o empenho de todos os membros da comunidade eclesial local em ajudar a casal a descobrir e a viver a sua nova vocação e missão. Para que a família se transforme mais numa verdadeira comunidade de amor, é necessário que todos os membros sejam ajudados e formados para as responsabilidades próprias diante dos novos problemas que se apresentam, para o serviço reciproco, para a comparticipação activa na vida da famíia. Isto vale sobretudo para as famílias jovens, as quais, encontrando-se num contexto de novos valores e de novas responsabilidades, estão mais expostas, especialmente nos primeiros anos de matrimónio, a eventuais dificuldades, como as criadas pela adaptação à vida em comum ou pelo nascimento dos filhos.
Os jovens cônjuges saibam acolher cordialmente e inteligentemente valorizar a ajuda discreta, delicada e generosa de outros casais, que já de há tempo fazem a mesma experiência do matrimónio e da família. Assim, no seio da comunidade eclesial – grande família formada pelas famílias cristãs – realizar-se-á um intercambio mútuo de presença e ajuda entre todas as famílias, cada uma pondo ao serviço das outras a própria experiência humana, como também os dons da fé e da graça. Animada de verdadeiro espirito apostólico, esta ajuda de família a família constituirá um dos modos mais simples, mais eficazes e ao alcance de todos para transfundir capilarmente os valores cristãos, que são o ponto de partida e de chegada do trabalho pastoral. Deste modo as famílias jovens não se limitarão só a receber, mas por sua vez, assim ajudadas, tornar-se-ão fonte de enriquecimento para outras familias, há tempo constituídas, com o seu testemunho de vida e o seu contributo de facto. Na acção pastoral para com as famílias jovens, a Igreja deverá prestar uma atenção específica para as educar a viver responsavelmente o amor conjugal em relação com as exigências de comunhão e de serviço à vida, como também a conciliar a intimidade da vida de casa com a obra comum e generosa de edificar a Igreja e a sociedade humana. Quando, com a vinda dos filhos, o casal se torna em sentido pleno e específico uma família, a Igreja estará ainda próxima dos pais para que os acolham e os amem à luz do dom recebido do Senhor da vida, assumindo com alegria a fadiga de os servir no seu crescimento humano e cristão. …(JOÃO PÁULO II. Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, nº 69. ed.cit. Acesso em 12 fev.2013). Se a Igreja Romana pôde construir um serviço assim, por que nós não o podemos ?
– Mas, além dos lares que têm o desarranjo em virtude da necessidade de sobrevivência, também encontramos aquelas famílias em que as omissões se dão por motivos outros, que são a negligência ou inobservância pura e simples do que é ensinado pela Palavra de Deus. Neste ponto, estão, por exemplo, os maridos e mulheres que, a pretexto de servirem a Deus exemplarmente, deixam suas vidas familiares em último plano, privilegiando reuniões de todo tipo e espécie em suas igrejas locais (e, não raras vezes, nas igrejas dos outros), querendo, com isto, enganar-se a si e aos outros. Quantas vezes não temos conhecimento de mulheres que se dizem “santas”, “profetisas”, “missionárias” e, a pretexto de seus “ministérios”, não deixam marido e filhos sem comida, sem roupa lavada, que nem sequer limpam as suas casas, que, muitas vezes, assemelham-se a pocilgas pelo lamentável estado de higiene? Tais pessoas jamais podem ser admitidas na linha de frente dos trabalhos das igrejas locais, pois são falsos servos do Senhor, não amam a Jesus, pois o próprio Mestre afirmou que “vós sereis Meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo.15:14) e, se assim estão procedendo, não estão cumprindo o modelo bíblico estabelecido para a família.
– O apóstolo Paulo foi bem claro ao dizer que marido e mulher têm de ter sua atenção voltada mais para o seu cônjuge do que para a obra do Senhor, como vemos, claramente, em I Co.7:32-34. Assim, é preciso que seja, primeiro, o cônjuge agradado e, depois, em havendo tempo e obtido este agrado, haja dedicação ao trabalho do Senhor, pois esta é a vontade de Deus, como temos visto neste estudo, mormente na descrição sublime do relacionamento conjugal, que Deus quis que fosse registrado pelo homem mais sábio que houve sobre a face da Terra, exceto Jesus.
– Para estes casos, a solução está em se arrependerem de seus pecados (pois está havendo pecado, já que pecado é transgressão contra a Palavra de Deus e o modelo bíblico estabelecido para a família é Palavra de Deus) e começarem a praticar as obras que as Escrituras determinam sejam praticadas pelo marido e pela mulher. Cabe à igreja, com amor e mansidão, construir estruturas capazes de ensinar, redarguir, corrigir e instruir em justiça estes casais, a fim de que haja a restauração da vida familiar e, por conseguinte, o crescimento espiritual da igreja local.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
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