LIÇÃO Nº 3 – DONS DE REVELAÇÃO
Os dons de revelação têm o propósito de manifestar a onisciência de Deus no meio da Igreja.
INTRODUÇÃO
– Na continuidade do estudo dos dons espirituais, estudaremos os chamados dons de revelação, ou seja, a palavra da sabedoria, a palavra da ciência e o discernimento de espíritos.
– Os dons de revelação têm o propósito de manifestar a onisciência de Deus no meio da Igreja.
I – A CLASSIFICAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS
– Depois de termos visto, na lição anterior, o propósito dos dons espirituais, passaremos a estudá-los um a um, consoante a lista apresentada pelo apóstolo Paulo em I Co.12:8-11.
– É importante observarmos que, ao longo do Novo Testamento, encontramos três listas de dons, todas em cartas do apóstolo Paulo, listas estas que foram feitas sob inspiração do Espírito Santo mas com propósitos e contextos diferentes.
– Destarte, não podemos considerar que tais listas sejam absolutamente distintas e que cada uma delas traz dons de natureza diversa, como se se tratassem de relações totalmente estanques, que não admitem nenhuma comunicação entre si.
– Não podemos nos esquecer que o apóstolo Paulo escrevia suas cartas visando situações concretas enfrentadas pelas igrejas destinatárias e que seu objetivo primordial era cristalizar e consolidar a doutrina cristã numa igreja nascente, objetivo este, aliás, quer também o do Espírito Santo, que levou o apóstolo a escrever estas cartas para que seus ensinos pudessem superar o limite da própria geração apostólica.
– Paulo traz uma lista dos dons espirituais ao tratar deste assunto com a igreja em Corinto. Com efeito, ao iniciar o capítulo 12 da primeira carta canônica àquela igreja, o apóstolo inicia dizendo que não queria que os coríntios fossem ignorantes a respeito dos dons espirituais e, a partir do versículo 8, fala de nove dons, a saber:
palavra da sabedoria, palavra da ciência, fé, dons de curar, operação de maravilhas, profecia, dom de discernir os espíritos, variedade de línguas e interpretação das línguas.
– Diante do fato de que Paulo fala destes dons como sendo dons espirituais (em grego, “carismas”), tem-se entendido que os dons espirituais são nove, ou seja, são nove as manifestações do Espírito Santo que, de forma especial e particular, promove a edificação, exortação e consolação da Igreja.
– Estes dons espirituais são manifestações do Espírito Santo, ou seja, como já vimos em lições anteriores, são “poderes extraordinários”, “poderes especiais” que o Espírito Santo reparte a alguns crentes, a fim de promover a edificação, exortação e consolação da Igreja,
poderes estes que somente são conferidos a quem for previamente batizado com o Espírito Santo, já que não vemos, nas Escrituras, ninguém que tenha sido usado, na dispensação da graça, com tais dons que não tenha sido previamente revestido de poder.
– Tomando-se a relação de I Co.12:8-11, podemos dividir os dons espirituais em três categorias, a saber:
a) dons de poder: fé, dons de curar, operação de maravilhas – são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas efetuem demonstrações sobrenaturais do poder divino, com a realização de milagres, de maravilhas e de coisas extraordinárias, que confirmem a soberania de Deus sobre todas as coisas e a Sua presença no meio da igreja. São evidências da onipotência divina no meio do Seu povo.
b) dons de ciência ou dons de revelação: palavra da sabedoria, palavra da ciência, dom de discernir os espíritos – são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas revelem mistérios ocultos aos homens, com a tomada de atitudes e condutas que evidenciem que Deus sabe todas as coisas e que nada Lhe fica oculto. São evidências da onisciência divina no meio do Seu povo.
c) dons de elocução ou de fala: variedade de línguas, interpretação de línguas e profecia – são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas sejam instrumentos da voz do Senhor, para que o Espírito Santo demonstre que Se comunica com o Seu povo. São evidências da onipresença divina no meio do Seu povo, uma presença que nos faz descansar e que nos traz edificação.
– Diante desta clássica definição, nosso ilustre comentarista resolveu estudar os dons espirituais em três lições distintas, uma para cada um dos três grupos de dons, a começar pelos dons de revelação, também conhecidos como dons de ciência.
– Os dons de ciência (também chamados “dons de revelação”) são três e, por meio deles, o Senhor manifesta a Sua onisciência no meio da Igreja, para que jamais venhamos a nos esquecer de que Deus sabe todas as coisas e, assim, pode sempre nos orientar na nossa jornada, devendo ser sempre o nosso referencial, a saber: palavra da sabedoria, palavra da ciência e dom de discernir os espíritos. Diz o pastor Antonio Gilberto que estes dons são “…dons que manifestam o saber de Deus (I Co.12:8-10).
Esses dons manifestam a multiforme sabedoria de Deus…” (Verdades pentecostais, p.70) (destaques originais).
II – A PALAVRA DA SABEDORIA
– O primeiro dom de ciência mencionado na lista de I Co.12:8-11 é o dom da palavra da sabedoria, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que deem, em ocasiões especiais e de forma sobrenatural, palavras orientadoras e que nos fazem sair de situações difíceis.
– “…O dom da sabedoria é um recurso extraordinário proveniente do Espírito Santo, cuja finalidade é a solução de problemas igualmente extraordinários. Como dom espiritual, é uma espécie de sabedoria dada por Deus [I Co.2:7].
É a capacitação do Espírito Santo na vida da Igreja para orientação e conselho aos crentes sobre dificuldades, cuja solução está fora do seu alcance no dia-a-dia da Igreja [At.6:2,3], no trato com as pessoas descrentes [Cl.4:5] e na pregação do Evangelho [Cl.1:28]…” (DFAD XX.3, pp.173/4).
– A sabedoria, aqui, é a habilidade de agir ou falar em conformidade com a razão e a moral, com prudência e experiência de vida, com sensatez e equilíbrio.
Trata-se não só de uma pessoa que tenha conhecimento (o que é “erudição”), nem tampouco da pessoa que demonstra criatividade e, diante dos recursos existentes, consegue construir algo que lhe dá o máximo de aproveitamento da oportunidade surgida (o que é “inteligência”),
mas, sobretudo, a capacidade de associar os recursos, o ambiente, a situação para dela se obter o máximo proveito, não só para si, mas, principalmente, para a glória do nome do Senhor.
– A sabedoria, como as Escrituras informam, é algo que está além da razão humana, vem diretamente de Deus e tem no temor ao Senhor o seu princípio (Sl.111:10a).
Como, nestes dias de desequilíbrio e de incontinência (II Tm.3:3), tem faltado sabedoria, mesmo no meio do povo do Senhor!
– Salomão indica que a verdadeira sabedoria, a instrução e a ciência têm como ponto de partida “o temor do Senhor”.
Não há que se falar em se ter sabedoria, ciência ou instrução sem que haja “o temor do Senhor”, temor este que é uma das disposições permanentes que nos traz o Espírito Santo quando cremos em Cristo, pois o Espírito Santo é o “Espírito de sabedoria” (Is.11:2) e o próprio Cristo, que vem habitar em nós, foi feito por Deus para nós “sabedoria” (I Co.1:30).
– Esta expressão de Salomão é extremamente atual, porquanto a humanidade tem sido dominada por um sentimento de autossuficiência tal que se arvora sendo capaz de ter e adquirir conhecimentos de toda ordem à margem de Deus.
Na verdade, um grande “ensino” de nossos dias é de que alguém, para se achar um profundo conhecedor, um grande entendido, por primeiro, precisa eliminar a própria hipótese da existência de Deus.
– Nada mais falso, porém, pois, como nos diz Davi, nos salmos 14 e 53, o primeiro sinal de ignorância é, precisamente, a afirmação da inexistência de Deus (Sl.14:1; 53:1).
Quando alguém afirma que Deus não existe, está apenas revelando a sua suprema ignorância e o resultado desta negação de Deus, desta alienação de Deus outro não é senão a completa corrupção de valores e de costumes, o império da maldade e do aviltamento da pessoa humana (Sl.14:1-3; 53:1-3), coisa facilmente constatável nos dias difíceis em que estamos a viver.
– O “temor do Senhor”, ou seja, a reverência a Deus, o respeito aos Seus mandamentos, a submissão à Sua autoridade, é, realmente, o “princípio” da ciência, da sabedoria e da instrução.
É tanto o “princípio”, no sentido de “começo, início”, pois não há como se conhecer algo, de se adquirir ciência e se aprender a conduzir-se neste mundo sem que, antes, estejamos prontos a seguir a orientação vinda da parte de Deus, como também é o “princípio” no sentido de “fundamento, base, alicerce”, pois tudo que o homem venha a conhecer, toda a verdade que venha a descobrir tem de partir da consciência de que Deus mesmo é a verdade (Jr.10:10), de que tudo provém d’Ele, a fonte de todo conhecimento.
– O proverbista fala-nos, logo de pronto, de que o temor do Senhor é necessário para “se conhecer a sabedoria e a instrução, para se entenderem as palavras da prudência” (Pv.1:2).
Aqui, como ao longo do livro de Provérbios, devemos sempre atentar, para uma boa compreensão do texto, para o chamado “paralelismo hebraico”, uma forma de redação muito própria da poesia israelita, que consiste em repetir a mesma ideia com palavras diferentes. Assim, sempre as afirmações são feitas em duas frases, duas sentenças “paralelas”, ou seja, há a repetição da mesma ideia mas com palavras diferentes.
– Por isso, quando se diz “conhecer a sabedoria e a instrução” e “entender as palavras da prudência”, estamos a falar da mesma ideia, que é repetida com palavras diferentes.
– “Sabedoria”, portanto, não se confunde, como alguns pensam, com “erudição”, ou seja, com o resultado de um estudo intelectual exaustivo. “Sabedoria” é, antes, “…a arte de ser bem sucedido, de formar o plano correto para alcançar os resultados desejados” (HUBBARD, D.A. Sabedoria. In: DOUGLAS, J.D. (org.).
O novo dicionário da Bíblia, v.II, p.1423). É algo prático e não teórico, ou seja, a sabedoria se demonstra nas atitudes tomadas, não no conhecimento acumulado no cérebro. É saber fazer a coisa certa no momento certo da maneira certa.
– Por isso, a sabedoria é algo que não se circunscreve a um campo do conhecimento ou a um aspecto da vida, mas ela é algo indivisível, algo que abarca todos os quadrantes da vida. “…A sabedoria bíblica é ao mesmo tempo religiosa e prática.
Originando-se no temor do Senhor (Jó 28:28; Sl.111:10; PB.1:7; 9:10), ramifica-se até abarcar todos os qaudrantes da vida conforme é indicado no extenso comentário sobre a sabedoria no livro de Provérbios.
A sabedoria adquire discernimentos respigados dos conhecimentos sobre os caminhos de Deus e aplicação à vida diária…” (HUBBARD, D.A.op.cit., pp.1423/4). É uma combinação de discernimento e de obediência.
– É bem por isso que se diz que “conhecer a sabedoria e a instrução” é “entender as palavras da prudência”.
A sabedoria é o entendimento das palavras que nos fazem agir corretamente, agir com cautela, com cuidado, superando todos os obstáculos e impedimentos que exsurgem em nossa peregrinação terrena, de modo a não nos desviarmos da rota que nos levará a encontrar com o Senhor nos ares.
– Quando o proverbista fala em “instrução”, está a nos indicar que a sabedoria não é algo que possa ser elaborado ou criado pelo próprio homem.
Ele, por si só, não conseguirá ter a verdadeira sabedoria, pois esta tem de ser “aprendida”, “adquirida”, prova de que não se trata de algo que já exista no ser humano.
– Neste ponto, aliás, diferençamos bem “sabedoria” de “inteligência”, A inteligência nasce, sim, com o homem, pois Deus fez o ser humano um animal racional, um ser dotado de razão, como nos mostra claramente a Bíblia Sagrada quando nos revela que Deus mandou a Adão que desse nome aos animais, prova de que a inteligência já se encontrava no homem quando de sua criação (Gn.2:19,20).
– No entanto, a sabedoria depende de uma “instrução”, de um aprendizado, pois a sabedoria é o próprio Deus e somente d’Ele poderemos adquiri-la.
Por isso é dito que a sabedoria existia no “princípio dos caminhos de Deus”, i.e., desde a eternidade (Pv.8:22-30). Esta expressão enigmática do proverbista seria desvelada pelo apóstolo Paulo, que iria identificar esta sabedoria com o próprio Jesus Cristo, o Verbo (I Co.1:24,30).
– A sabedoria consiste, portanto, em “entender as palavras da prudência”, ou seja, conhecer tudo quanto o Senhor quer revelar ao Seu povo, ter a capacidade de receber a instrução divina para o nosso viver. Trata-se de aprender o que é a “justiça, o juízo e a equidade” (Pv.1:3).
Por isso mesmo, o Senhor Jesus dirá que Seus discípulos precisam exceder em justiça os escribas e fariseus (Mt.5:20), precisamente porque aprenderam d’Ele, que é a sabedoria e, por aprenderem de Cristo, serão praticantes da justiça, do juízo e da equidade.
– Aquele que não aprende a sabedoria, que não a recebe é chamado, no livro de Provérbios, de “simples” (Pv.1:4), “louco”(Pv.1:7) e “tolo” (Pv.10:10).
São pessoas que rejeitam o ensino do Senhor e preferem seguir sua vida sobre a face da Terra segundo os seus próprios conceitos e valores, o que os levará à perdição, pois, num mundo de trevas como o que vivemos, sem a luz não há como se chegar à verdade, se chegar a Deus.
– Por isso, é dito que o temor do Senhor é o princípio pelo qual se pode dar ao simples, prudência, ou seja, é a única maneira pela qual alguém deixará de ser “simples”, de ser um “ingênuo” (na linguagem utilizada pela Bíblia de Jerusalém), sabendo discernir entre o bem e o mal, sabendo seguir as orientações divinas que lhe concederão vida eterna.
– A sabedoria, também, é absolutamente necessária para que os jovens tenham “conhecimento e bom siso”, ou seja, para que os jovens adquiram uma real maturidade, crescendo não só em estatura, mas, também, a exemplo do Senhor Jesus, em sabedoria e graça para com Deus e os homens (Lc.1:52).
– Aliás, um dos sérios problemas que temos tido em nossos dias é a falta de maturidade, tanto espiritual quanto psicológica, de nossa juventude, fator que começou a preponderar e predominar com maior intensidade a partir da segunda metade do século XX, precisamente quando se extirpou toda e qualquer referência religiosa no sistema educacional do Ocidente.
Nossos jovens, na atualidade, embora dominem a tecnologia de ponta, são incapazes, em sua esmagadora maioria (incluindo, infelizmente, os que cristãos se dizem ser), de discernirem o certo do errado, de saber se conduzirem conforme a vontade de Deus neste nosso dia-a-dia debaixo do sol. Que é isto? Falta de sabedoria!
– Mas, e ninguém mais do que Salomão poderia dizer isto, o temor do Senhor não é necessário apenas para quem quer adquirir a sabedoria não a tendo, como é o caso do “simples” ou do “jovem”, mas também é fundamental para aquele que já sabe, ou seja, para o sábio.
– O temor do Senhor é necessário “para o sábio ouvir e crescer em sabedoria”, “para o entendido adquirir sábios conselhos”. A sabedoria, sendo algo proveniente de Deus, é infinita, ilimitada e, por isso mesmo, jamais alguém “saberá tudo”. Pelo contrário, quando mais a pessoa crescer em sabedoria, mais reconhecerá que nada sabe.
– Entre os gregos, o conceito de “sabedoria” era um tanto quanto diverso. Tanto para Platão quanto para Aristóteles, os mais proeminentes filósofos gregos, a sabedoria era o conhecimento do todo e a capacidade para aplicação deste conhecimento de forma correta e justa.
Se para Platão a sabedoria vinha do “mundo das ideias”, deste mundo sobrenatural; para Aristóteles, a sabedoria era resultado de um correto aprendizado, de um uso apropriado do raciocínio.
No entanto, e vem daí a própria palavra “filosofia”, cujo significado é “amigo da sabedoria”, o verdadeiro sábio era aquele que reconhecia que nada sabia. É a célebre frase do filósofo grego Sócrates, que foi o mestre de Platão: “só sei que nada sei”.
– Neste ponto, portanto, há uma confluência do pensamento bíblico com o pensamento grego. O verdadeiro sábio é aquele que reconhece que precisa cada vez mais crescer em sabedoria, que o que sabe nada significa, tendo em vista que a sabedoria é infinita, vez que proveniente de Deus, ser ilimitado.
– O verdadeiro sábio é aquele que se mantém pronto a cada vez mais aprender do Senhor, que reconhece que a sabedoria é infinita e que, portanto, devemos estar prontos a aprender de Deus a cada momento, a cada instante.
Que bom seria se todos os que cristãos se dizem ser, principalmente os que já são maduros, assim se portassem…
– O “entendido” precisa “adquirir bons conselhos”, o que é, conforme o paralelismo bíblico, o mesmo que “ouvir e crescer em sabedoria”. Temos aqui, então, o significado da expressão “bons conselhos”, que é o título da nossa lição, que outra coisa não é senão a própria “sabedoria”.
– Vemos, portanto, que, quando alguém teme a Deus, não só é ouvido pelo Senhor (Jo.9:31), como também ouve o que o Senhor tem a lhe ensinar.
Aquele que teme a Deus é capaz de compreender o significado das Escrituras, “entendendo provérbios e a sua interpretação”, entendendo “as palavras do sábio”, porquanto tudo quanto foi escrito, foi escrito por inspiração do Espírito Santo (II Pe.1:20,21),
bem assim os seus “enigmas”, que é como a Versão Almeida Revista e Atualizada traduz a palavra hebraica “chiydah” (חידה ), que tem o significado de um “dizer obscuro”, um “dito de difícil entendimento”, ou seja, algo que necessite ser interpretado, uma melhor tradução que o de “adivinhações” que se encontra na Versão Almeida Revista e Corrigida.
– Por isso, o texto bíblico só pode ser entendido espiritualmente. Não é através de uma erudição intelectual que se poderá chegar à verdade das Escrituras, mas única e exclusivamente pelo Espírito Santo. Isto não significa que não devamos estudar o texto, procurá-lo entender intelectualmente, mas o discernimento é fruto do “temor do Senhor”, é aquisição de sabedoria.
– Os “loucos”, porém, desprezam a sabedoria e a instrução, querem ter conhecimento à margem de Deus e o resultado é que permanecem na maior ignorância, pois não têm acesso à verdade.
Como consequência, mantêm-se escravizados pelo pecado e pelo maligno, sendo incapazes de praticar o verdadeiro bem enquanto estiverem neste mundo, habilitando-se, pois, à perdição.
– Por tudo que pudemos observar, pois, todo salvo tem a sabedoria de Deus, é guiado pelo Espírito Santo que lhe traz sabedoria, até porque é temente ao Senhor e, por isso, age sempre sabiamente.
– Neste ponto, aliás, devemos distinguir a sabedoria enquanto algo que é dado a todo crente pela sua comunhão com o Espírito Santo, pela sua salvação, um dos “sete Espíritos de Deus” (Ap.3:1; 4:5; 5:6), ou seja, um aspecto,
uma qualidade do Espírito que é transmitida ao espírito do salvo, o “Espírito de sabedoria” (Is.11:2), pois, como afirma o pastor Erivaldo de Jesus, “…o Espírito Santo é o grande agente da sabedoria (Is.40:13-14)…” (Bíblia da Pregadora Pentecostal, p.1036).
– Tomemos, pois, cuidado, pois, notadamente na literatura romanista, este aspecto do Espírito Santo é chamado de “dom da sabedoria” e apresentado como um dos “dons do Espírito Santo”, mas, na verdade, não é desta qualidade advinda de nossa participação na natureza divina de que estamos a falar (II Pe.1:4),
daquilo que, mui propriamente, o pastor Erivaldo de Jesus, já mencionado, denominou de símbolo da “…perfeição absoluta do governo divino sobre o mundo…” (ibid., p.1036), mas, sim, do dom denominado de “palavra de sabedoria”.
OBS: Eis o entendimento romanista a respeito: “A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito.
Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Em plenitude, pertencem a Cristo, Filho de Davi . Completam e levam à perfeição as virtudes daqueles que os recebem.
Tornam os fiéis dóceis para obedecer prontamente às inspirações divinas.…” (Catecismo da Igreja Católica, §§ 1830 e 1831).
– Há situações em que o Espírito Santo terá de agir de modo sobrenatural para trazer uma palavra específica de sabedoria a alguém, para dar uma orientação precisa num determinado instante da vida de alguém.
É aqui que usa, então, os salvos que receberam a “palavra de sabedoria”, uma manifestação tópica, extraordinária do Espírito Santo para uma determinada situação concreta, em que se traz a orientação a alguém que necessita bem se conduzir numa determinada situação.
– Não são, assim, todos os salvos que possuem esta “palavra de sabedoria”, mas alguns crentes que, escolhidos pelo Espírito Santo, são usados pelo Senhor num determinado instante para proferir uma “palavra de sabedoria” a alguém, uma determinada e específica orientação em que se revela toda a prudência e todo bom siso, em que o Espírito Santo instrui alguém para que aja de forma agradável ao Senhor.
– É interessante notar que Paulo denomina este dom de “palavra de sabedoria”, ou seja, não se trata da sabedoria que tem todo aquele que serve a Cristo Jesus, mas, sim, de uma “palavra”, de uma determinada e específica orientação, proveniente do Espírito Santo, a fim de que possamos ser devidamente instruídos num caso concreto pelo Consolador.
– No Antigo Testamento, vemos que o Senhor usou Aitofel com este dom durante o reinado de Davi (II Sm.16:23), sem falar, logicamente, na figura de Salomão, a quem o Senhor deu este dom como a nenhum outro homem, com exceção de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Rs.3:28).
– Em o Novo Testamento, vemos o exercício deste dom pelo próprio apóstolo Paulo, quando estava no Sinédrio, depois de ter sido preso em Jerusalém, no templo.
Depois de ter iniciado seu discurso e sendo ferido por ordem do sumo sacerdote, Paulo piorou ainda mais a sua situação ao repreender o sumo sacerdote Ananias, sem saber que se tratava do sumo sacerdote (At.23:1-5).
– Neste instante, então, o Espírito Santo o tomou e ele proferiu uma “palavra de sabedoria”, ao dizer que estava sendo julgado no tocante à esperança e ressurreição dos justos (At.23:6), o que impediu o seu julgamento e o livrou das mãos do Sinédrio, dentro do propósito divino que era o de levá-lo para Roma (At.23:11).
III – A PALAVRA DA CIÊNCIA
– O segundo dom de ciência ou de revelação é a palavra da ciência, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que tenham conhecimento sobrenatural de coisas.
– “…A palavra do conhecimento ou da ciência diz respeito ao conhecimento das coisas de Deus [I Co.1:5; II Co.8:7].
Esse dom consiste em uma ciência manifestada unicamente pelo Espírito Santo: ‘como me foi este mistério manifestado’ (Ef.3:3), pelo qual podemos saber [Ef.1:17-19], compreender e, assim, conhecer [Ef.3:18,19] aquilo que, pelo entendimento humano, jamais poderíamos alcançar [I Co.2:9,10].” (DFAD XX.3, p.174).
– Sem que haja qualquer comunicação natural a respeito de um fato, o Senhor permite ao servo portador deste dom que tenha acesso a fatos e as ocorrências que estavam ocultas, com o propósito único e exclusivo de edificar, exortar e promover o crescimento espiritual de alguém.
– Vemos, pois, que nada há, neste dom, que o nivele a um mero exercício de adivinhação, como, lamentavelmente, se tem disseminado em muitos lugares.
A adivinhação não passa de uma imitação fajuta e irrazoável deste dom, no mais das vezes sendo pura operação maligna (At.16:16), vez que tal prática é abominável aos olhos do Senhor (Lv.20:27; Ez.12:24).
– Sabemos todos que o Senhor conhece todas as coisas, nada Lhe é oculto, pois todas as coisas estão patentes aos Seus olhos (Hb.5:13).
– O Senhor conhece tudo, tanto as coisas que o homem pode ter condições de conhecer, como aquelas que o homem jamais conhecerá, como é o caso daquilo que se encontra no coração, na mente do ser humano (I Sm.16:7; Mc.2:6-8; Jo.2:23-25).
– Este conhecimento ou ciência de tudo por parte do Senhor impede que qualquer coisa se lhe seja oculta e há instantes em que, para o bem da edificação, consolação e exortação da Igreja, seja necessário revelar algo que não era do conhecimento de alguém ou, mesmo, da Igreja.
– É bom salientarmos que a vida de todos os seres humanos está devidamente registrada pelo Senhor (Sl.139:16; Ml.3:16) e que tais livros serão, um dia, abertos pelo Senhor a fim de que cada ser humano seja julgado pelas suas obras:
os salvos, no Tribunal de Cristo (Rm.14:10; II Co.5:10), a fim de que recebam galardão pelo que fizeram por meio do corpo, ou bem, ou mal, já que o Senhor não mais leva em conta os pecados cometidos antes do perdão dos pecados ocorrido na salvação em Jesus Cristo (Jr.31:34; Hb.8:12; 10:17);
os ímpios e aqueles que nascerem no milênio, no Juízo do Trono Branco (Ap.20:11-15), quando todos serão julgados segundo as suas obras e a revelação que tiveram do Senhor (Rm.2:10-16).
– Assim, trata-se de um desígnio divino a revelação de tudo quanto está oculto, não se tratando, portanto, tal ato senão de uma demonstração da justiça divina, a nos ensinar, inclusive, que a transparência e a publicidade constituem-se em uma exigência de justiça e retidão, que deve ser observada por tantos quantos dizem temer a Deus e guardar os Seus mandamentos.
– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus disse que nada do que está oculto assim permanecerá, mas será devidamente revelado ao seu tempo (Mt.10:26; Mc.4:22; Lc.12:2).
– Quando alguém recebe a Cristo como Senhor e Salvador de sua vida, passa a ter conhecimento das coisas espirituais.
O Espírito Santo é o “Espírito de conhecimento” (Is.11:2). “…Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus, mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”. (I Co.3:11b,12).
Por isso mesmo, o Senhor Jesus agradeceu ao Pai por ter revelado as coisas espirituais aos pequeninos, embora lhes tenha ocultada dos sábios e entendidos (Mt.11:25).
– Portanto, não há necessidade alguma de se ter a “palavra da ciência” para que se possa compreender as coisas espirituais, para que se possa entender o plano de Deus para a salvação do homem, para que se possa entender o que está revelado nas Escrituras.
Este conhecimento é acessível a todos quantos têm o Espírito Santo, a tantos quantos são salvos na pessoa de Cristo Jesus.
– Este “Espírito de conhecimento”, que é mais um aspecto do Espírito Santo que é transmitido ao espírito do salvo, mais um dos “sete Espíritos de Deus”, não se confunde, portanto, com a “palavra do conhecimento”.
Como afirma o pastor Erivaldo de Jesus, “…o Espírito Santo é o grande agente do conhecimento…” (op.cit., p.1036). Não é deste “dom do Espírito Santo”, como denominam os romanistas, de que está aqui a falar.
– Isto é importante porque, lamentavelmente, muitos hoje estão sendo enganados por falsos ensinos que dizem que existem alguns “iluminados” que têm acesso a “visões” e “revelações” que são, então, repassadas a supostos “discípulos”, que apenas têm de “engolir” aquilo que é ensinado pelo “líder”, pelo “mestre”, o que é absolutamente antibíblico.
Todo e qualquer salvo é um homem espiritual e, como tal, tem pleno acesso ao ensino do Espírito Santo, que compara coisas espirituais com espirituais, pois é dotado da mente de Cristo (I Co.2:14,15).
– No entanto, em razão do Seu profundo amor, o Senhor, sempre que isto contribuir para a edificação, exortação e consolação da Igreja, entendida aqui não apenas uma comunidade, um conjunto de pessoas mas até um membro em particular, pode dar a conhecer algum fato, alguma circunstância, alguma ocorrência que está oculta, a fim de que, pelo conhecimento disto, possa haver a edificação, exortação e consolação.
– Tem-se, então, o dom da “palavra do conhecimento”, ou seja, a revelação de algo que estava oculto e cuja revelação servirá para o proveito e crescimento espiritual daquele que fica a saber daquilo que estava oculto.
– Aqui, como no dom da “palavra da sabedoria”, tem-se que se trata de uma situação específica, de uma revelação voltada para um caso concreto, para uma determinada ocorrência.
É apenas uma “palavra da ciência”, não se trata de uma revelação completa a respeito da vida de alguém ou de uma completa e total eliminação da privacidade de alguém.
– A “palavra da ciência”, como dom espiritual que é, tem o propósito de trazer edificação, exortação e consolação e, portanto, não se confunde com satisfação de curiosidade, como, lamentavelmente, muitos têm tratado esta graça especial que o Espírito Santo entrega à Igreja.
Deus jamais revelará algo para satisfação de curiosidade nem tampouco para fomentar o mexerico, a fofoca, já que tal atitude é absolutamente contrária à vontade de Deus (Lv.19:16).
– A revelação de algo que está oculto tem sempre um propósito espiritual. Assim, por exemplo, quando o pecado de Davi foi revelado por Natã (II Sm.12), o que se visava era o arrependimento do rei, o mesmo tendo ocorrido quando o pecado de Acabe foi revelado pelo profeta Elias (I Rs.21:17-29).
De igual modo, a revelação operada pelo próprio Senhor Jesus com relação à vida moral da mulher samaritana (Jo.4:15-19), que tinha como propósito fazer aquela mulher abrir seu coração para recebê-l’O como o Cristo.
– Assim, não é bíblico que alguém primeiro “revele” um dado concernente à vida da pessoa para só, então, depois, trazer uma promessa da parte de Deus para aquela pessoa, estribando a autoridade desta sua “promessa”, “palavra profética” em cima de uma revelação.
A “palavra da ciência” é sempre a revelação de algum fato que, em si mesmo, propicia o crescimento espiritual daquele que recebe a palavra.
– O que se tem visto, em nossos dias, lamentavelmente, é o exercício de uma “palavra de esperteza” em que pessoas sem qualquer temor a Deus usam de subterfúgios para descobrir fatos e circunstâncias relativas a pessoas e, a partir daí, ganhar a confiança destas mesmas pessoas para trazer “revelações” e “promessas”, que nada mais são que meios para arrecadar recursos financeiros.
– O Espírito Santo dá, sim, “palavra de ciência” a alguns salvos a fim de que, pela revelação de fatos, ocorrências e circunstâncias, numa espécie de “antecipação” da revelação de tudo quanto está oculto, propiciar a edificação, exortação e consolação da Igreja.
Através destas revelações, muitos crentes são animados na sua fé, têm aumentada a sua esperança, são fortalecidos na graça de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– No entanto, não devemos, como salvos, correr atrás de “reveladores”, a fim de sabermos o que fazer ou de descobrirmos o que o Senhor tem nos reservado.
Devemos entregar nossos caminhos ao Senhor, confiar n’Ele, sabendo que tudo Ele fará (Sl.37:5). Não devemos ficar ansiosos pelo dia de amanhã, mas, sim, lançar toda a ansiedade sobre o Senhor Jesus, sabendo que Ele sempre tem cuidado de nós (Mt.6:34; I Pe.5:7).
– Deste modo, caso o Senhor entenda que é necessário nos revelar algo para o nosso crescimento espiritual, para que bem suportemos a nossa peregrinação terrena,
Ele usará algum salvo que tenha o dom da “palavra da ciência” para que, mediante a revelação deste algo, faça aumentar a nossa fé n’Ele ou promova a nossa edificação, exortação ou consolação. É uma graça especial que Deus pode usar, se o quiser, na Igreja a nosso favor.
– Trata-se de atitude altamente reprovável diante de Deus o fato de corrermos atrás deste ou daquele irmão, que, supostamente, tem o dom da “palavra da ciência” para que, através de uma “revelação”, venhamos a ter quietude espiritual.
Uma ação como esta revela tão somente que somos incrédulos e que não confiamos no Senhor. Fujamos de uma tal atitude, amados irmãos, pois, se assim agirmos, estaremos à mercê do inimigo de nossas almas.
– Quem corre atrás de “revelações” está considerando que Deus está a seu serviço, está querendo manipular os fatos e os acontecimentos, considera-se alguém que é digno de saber o futuro ou descobrir fatos do passado.
Ora, amados irmãos, nada disso se coaduna com a proposta de Cristo para nós O servirmos, nada disso está de acordo com a carreira que nos foi proposta quando cremos em Jesus como Nosso Senhor e Salvador. Pensemos nisto!
– As vezes em que vemos o exercício do dom da “palavra da ciência” nas Escrituras, em nenhuma delas, observamos que a pessoa tenha saído em busca de alguma “revelação”, mas ela veio por livre iniciativa do Senhor. Portanto, procedamos deste modo e jamais incorreremos em erro ou engano.
III – O DOM DE DISCERNIR ESPÍRITOS
– O terceiro dom de ciência é o dom do discernimento dos espíritos, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que identifiquem operações espirituais em acontecimentos e fatos do cotidiano.
– “…O dom de discernir os espíritos é um recurso do Espírito Santo contra as falsificações dos demônios [At.16:17,18].
A expressão ‘discernir os espíritos’ está no plural em grego, como acontece com os dons de curar e de operação de maravilhas, pois esse dom pode manifestar-se de várias maneiras.…” (DFAD XX.5, p.175).
– Por intermédio deste dom, percebemos o aspecto espiritual envolvido nas mais diversas e simples ocorrências do dia-a-dia, não nos deixando cair nos laços do adversário, bem como nos precavendo até aquele grande dia, cuja proximidade também é resultado do nosso discernimento espiritual.
– É importante observar que o dom do discernimento é uma identificação súbita e momentânea, numa determinada situação, da operação espiritual, não se confundindo com o discernimento corriqueiro que todo cristão deve ter, por estar em comunhão com o Senhor e ter em si o Espírito Santo que o orienta a cada dia.
– O servo de Deus, o homem espiritual, como já afirmamos supra, tem o Espírito de Deus (Rm.8:9). É o Espírito Santo que habita em nós que nos dá a consciência e a convicção de que somos filhos de Deus (Rm.8:16).
Quando aceitamos a Cristo, recebemos o Espírito e, por isso, somos vivificados em Cristo (I Co.15:22), uma vez que, com o perdão dos nossos pecados, nosso espírito passa, novamente, a ter comunhão com o Senhor, sendo o elo de ligação que nos faz adorar a Deus e a fazer a Sua vontade.
– Este homem espiritual, por ter o Espírito Santo, recebe a revelação das coisas de Deus (I Co.2:11). Ao aceitar a Cristo, o homem deixa as trevas e vem para a luz e, assim, tudo pode ver, tudo pode enxergar.
Quando se nasce de novo, passa-se a ver o reino de Deus (Jo.3:3), deixa-se a cegueira espiritual, própria daqueles que viviam sob o domínio do pecado (II Co.4:4), para se enxergar a glória de Deus (Jo.11:40). Jesus veio dar visão aos cegos espirituais (Jo.9:39).
– Esta visão espiritual que o homem que aceita a Cristo recebe é o primeiro passo do que se chama de “discernimento espiritual”. Por isso, o apóstolo Paulo afirma que “o que é espiritual discerne bem tudo e ele de ninguém é discernido” (I Co.2:15).
Jesus, um dia, alegrou-Se espiritualmente ao revelar esta verdade espiritual: “Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt.11:25b).
– Discernimento, diz o lexicógrafo (i.e., o que escreve dicionários), é “capacidade de compreender situações, de separar o certo do errado”.
Quando o homem aceita a Cristo, ele passa a ter a direção do Espírito Santo, que vem nele habitar e, a partir de então, sabe bem diferençar o que é certo e o que é errado, o que agrada a Deus do que não agrada a Deus.
Esta capacidade de separação é complemento do conhecimento da Palavra, é o resultado de uma vida de comunhão e de intimidade com o Espírito Santo.
– O homem espiritual tem a capacidade de discernir o que é certo e o que é errado, de avaliar as situações e verificar, em cada caso, o que deve fazer para continuar sua vida de obediência a Deus e de glorificação do Seu nome. Todo crente, portanto, tem este discernimento espiritual.
– Ao mesmo tempo, entretanto, que o homem espiritual passa a compreender as coisas sob o ponto-de-vista espiritual, ele passa a ser incompreendido pelos demais homens, ditos “homens naturais”. Com efeito, como a Bíblia nos mostra, ele tudo discerne, mas ele de ninguém é discernido.
Não devemos, pois, nos surpreender com o espanto causado junto aos incrédulos pelo nosso testemunho.
Para eles, nosso comportamento, guiado pelo Espírito de Deus, parece loucura, é algo incompreensível e, realmente, eles não podem compreender o que se passa, porque são cegos espirituais, não conseguem ver a luz do evangelho de Cristo (II Co.4:4) e, por isso, não podem compreender a realidade das coisas.
– O crente vê o invisível (Hb.11:27), não anda por vista, mas por fé (II Co.5:7) e, desta maneira, não se guia pela lógica, pelo raciocínio humano, mas, sim, pela orientação divina.
Isto faz com que as pessoas não possam, mesmo, compreender os passos do servo do Senhor, passos que, entretanto, como diz o salmista, são confirmados pelo Senhor (Sl.37:23). Como entender a construção de uma arca, como fez Noé, num mundo onde nunca havia chovido? Como compreender que Moisés mande o povo marchar em direção a um mar?
Como raciocinar que um pequeno pastor de ovelhas vá à luta contra um guerreiro gigantesco levando apenas um funda e seis pedrinhas? Não dá para entender, mas o homem espiritual discerne as coisas de um outro ponto-de-vista, de um critério muito mais sublime que a lógica humana, porque tem discernimento espiritual.
– É fundamental, pois, nestes dias trabalhosos em que vivemos, que saibamos distinguir entre o que é certo e o que é errado, distinção esta que só se fará mediante a ação do Espírito Santo e o conhecimento da Palavra.
É essencial que tenhamos comunhão com o Senhor e que ouçamos a Sua voz, a fim de bem nos portarmos neste mundo, embora isto nos leve a uma cada vez maior incompreensão por parte daqueles que não têm Cristo como seu Senhor e Salvador.
– Mas, além do discernimento espiritual que é próprio e comum de todo homem espiritual, ensina-nos a Bíblia que há, também, um dom espiritual, o dom de discernimento dos espíritos (I Co.12:10).
Este dom espiritual não é comum a todos os crentes, mas é um dos dons de ciência, revelação ou de conhecimento que o Espírito Santo concede a alguns crentes, para benefício de toda a igreja, com o objeto de demonstração do poder do Senhor no sustento de cada crente até aquele grande dia.
– O dom de discernimento dos espíritos é “…uma dotação especial dada pelo Espírito, para o portador do dom discernir e julgar corretamente as profecias e distinguir se uma mensagem provém do Espírito Santo ou não(…).
No fim dos tempos, quando os falsos mestres (…) e a distorção do cristianismo bíblico aumentarão muito(…), esse dom espiritual será extremamente importante para a igreja.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Dons espirituais para o crente (estudo), p.1757).
– O dom de discernimento dos espíritos, pelo que se verifica, portanto, é a capacidade especial que o Espírito Santo dá a alguns crentes para que julguem as manifestações espirituais que ocorrem dentro das igrejas locais, de modo a atestar se são provenientes de Deus, ou não, bem como quem identifica os falsos mestres e seus falsos ensinamentos que se infiltram, cada vez mais, encobertamente no meio do povo de Deus.
– Nos dias de tanto engano e de tanta atuação do “espírito do anticristo”, torna-se absolutamente necessário que este dom esteja na igreja para auxílio dos crentes em geral.
Se é verdade que cada salvo tem discernimento espiritual, também não é menos verdadeiro que a sutileza do nosso inimigo, a “mais astuta de todas as alimárias da terra” (Gn.3:1), é tal que não podemos ignorar os seus ardis (II Co.2:11).
– Sabendo, pois, de nossa vulnerabilidade, o Senhor quis dotar a igreja do dom de discernimento dos espíritos, para que alguns vasos por Ele escolhidos sejam usados para mostrar a toda a comunidade a procedência autêntica, ou não, de manifestações espirituais.
Este dom é extremamente necessário neste último tempo e, lamentavelmente, ante a frieza espiritual de muitos, sua falta tem contribuído enormemente para a apostasia da fé de muitos.
– Vivemos um período em que muitos querem ver sinais e maravilhas, em que o misticismo tem tomado conta de muitos ambientes, até porque o mundo pós-moderno é o mundo que busca reviver uma “religiosidade”, uma “espiritualidade”, depois do fracasso das alternativas materialistas e racionalistas que caracterizaram a Modernidade.
Se os crentes adotarem esta estratégia, como muitos já o têm feito, correrão o risco de serem enganados e de se associarem às práticas mundanas, pensando estar agradando ou adorando a Deus.
– Mais do que nunca, torna-se preciso que tenhamos o devido discernimento de tudo o que acontece à nossa volta e de tudo o que se quer introduzir no nosso meio.
Devemos ter a mesma estrutura da igreja de Éfeso que pôs à prova os que se diziam apóstolos, mas não o eram (Ap.2:2). Mas, para tanto, é necessário que os servos do Senhor busquem a presença de Deus, já que os dons espirituais são dados apenas àqueles que já são batizados com o Espírito Santo.
OBS: “…O terceiro dom [discernimento dos espíritos, observação nossa] (…) é, em nossa experiência de vinte anos de ministério carismático, o mais ignorado e esta falha é grandemente sentida. Discernir espíritos pela revelação do Espírito Santo faz-se mister em TODOS os aspectos da obra de Deus(…).
Quantos problemas seriam evitados na igreja se funcionasse, correta e biblicamente, o dom do discernimento dos espíritos.
A desonestidade do espírito humano, que leva comunidades inteiras a escândalos e desgraças, poderia ser evitada por alguém que tratasse desse espírito revelando por discernimento o problema antes de se agravar. Quantas vidas já se perderam por falta desse dom…” (McALISTER, Robert. Os dons do Espírito Santo, pp.21-2).
– Assaz oportuno aqui observar que não se pode confundir o dom de discernimento de espíritos com uma suposta capacidade de “identificação de demônios”, prática que tem sido difundida pelos defensores da doutrina dos “espíritos territoriais”, que fazem questão de dizer que são capazes de “identificar por nome” os demônios.
– Não há necessidade nem proveito algum em se saber qual o nome do demônio e de que hoste espiritual da maldade ele pertença.
Tais “capacitações de identificação”, no mais das vezes, são resultado de pesquisas junto a lendas, práticas e supostos conhecimentos advindos dos praticantes de religiões afro-brasileiras ou outras crenças mágicas, de feitiçaria ou magia.
– Como se pode dar crédito a conhecimentos vindos de demônios e feiticeiros, sabendo nós que o diabo é o pai da mentira (Jo.8:44) e que engano todo o mundo (Ap.12:9)?
Como dar valor a um suposto conhecimento advindo das profundezas satânicas? Como já dizia o patriarca Jó: “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém!” (Jó 14:4).
Portanto, não nos envolvamos com tais falsos ensinos, pois dom de discernimento de espírito nada tem que ver com identificação de demônios.
– Vivemos tempo em que os poucos crentes dedicados se contentam com o batismo com o Espírito Santo e, uma vez revestidos de poder, não continuam a busca dos dons espirituais. Isto tem trazido enorme prejuízo à igreja, pois os dons espirituais são necessários para o crescimento espiritual de todos os crentes.
Não é o portador do dom que se beneficia com ele, mas antes, o portador é apenas um instrumento para o aprimoramento espiritual de toda a igreja.
Precisamos de portadores do dom de discernimento dos espíritos e, por isso, busquemos este dom, a fim de que todos nós tenhamos mais uma ferramenta deixada à disposição do Senhor para não nos deixarmos ser enganados pelo inimigo.
– Busquemos, pois, o dom do discernimento dos espíritos, pois, conquanto seja o Espírito quem distribui os dons conforme o Seu querer (I Co.12:11), Ele necessita de pessoas bem dispostas para que efetue a Sua obra (Lc.1:17 “in fine”).
Se todos nos pusermos à disposição do Senhor, certamente escolherá alguns para que todos nós sejamos ricamente abençoados e evitemos ser tragados pelo engano destes dias difíceis em que vivemos.
– Conhecendo a Palavra, tendo o discernimento do homem espiritual e sendo complementados pela manifestação do dom do discernimento dos espíritos, certamente saberemos descobrir todas as ciladas do inimigo ao longo do caminho e, a exemplo de Esdras e daquele povo que o seguia, chegaremos sãos e salvos a Jerusalém (Ed.8:31,32), não a Jerusalém terrena, mas a celestial, “adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap.21:2 “in fine”).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6349-licao-3-dons-de-revelacao-i