LIÇÃO Nº 3 – JOEL, O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO
16 de outubro de 2012
O livro de Joel mostra-nos que o Senhor deseja derramar o Espírito Santo aos que se arrependem de seus pecados para que tenham vida espiritual plena.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos profetas menores, veremos hoje uma visão panorâmica do livro do profeta Joel, o segundo destes livros no cânon da Bíblia.
– O livro de Joel mostra-nos que o Senhor deseja derramar o Espírito Santo aos que se arrependem de seus pecados para que tenham vida espiritual plena.
I – O LIVRO DE JOEL
– Em hebraico, “Yoe’l”(יואל), que significa “Jeová é Deus”. Joel é um profeta do reino do sul, o reino de Judá. Segundo alguns estudiosos, o ministério de Joel é da época do rei Joás, ou seja, um pouco anterior a Isaías e a Amós. Sua antiguidade é admitida na tradição judaica, tanto que é colocado após os escritos de Oseias no “Livro dos Doze” (“Shenem Assar” – שוים עשר).
– Segundo Edward Reese e Frank Klassen, co-organizadores da Bíblia em ordem cronológica, o livro de Joel seria datado de cerca de 828 a.C., durante o reinado de Joás, sendo posto por estes estudiosos entre II Cr.24:14 e II Cr.24:15, ou seja, antes da morte do sumo sacerdote Joiada, na primeira fase do reinado de Joás, quando este rei foi fiel ao Senhor (II Cr.24:2,17,18).
– A mensagem do livro diz respeito ao juízo que viria sobre o povo de Deus, que foi identificado como sendo o cativeiro da Babilônia. Mas a mensagem de Joel também fala do futuro, menciona o derramamento do Espírito Santo e o “dia do Senhor”, o acerto de contas que Deus fará com a humanidade impiedosa. Joel foi mencionado por Pedro no sermão inaugural da Igreja no dia de Pentecostes, exatamente por causa de sua profecia do derramamento do Espírito Santo. Por isso, Joel é conhecido como “o profeta pentecostal”.
– O livro de Joel, que tem três capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:
1ª parte – o dia do Senhor exemplificado – Jl.1
2ª parte – o dia do Senhor profetizado – Jl.2
3ª parte – o julgamento das nações e as bênçãos do milênio – Jl.3
– Em Joel, vemos a revelação de Deus como um ser que quer viver em cada ser humano através do Seu Espírito, mas que, apesar de Seu grande amor, é também um Deus justo, que fará, a seu tempo, o juízo sobre os impenitentes.
OBS: “O livro de Joel ante o Novo Testamento – Vários versículos de Joel contribuem poderosamente à mensagem do NT. (1) A profecia a respeito da descida do Espírito Santo (2.28-32) é citada especificamente por Pedro em seu sermão no dia de Pentecoste (At.2.16-21), depois de o Espírito Santo ter sido enviado do céus sobre os 120 membros fundadores da igreja primitiva, com as manifestações do falar noutras línguas, da profecia e do louvor a Deus (At.2.4,6-8,11,17,18).
(2) Além disso, o convite de Pedro às multidões, naquela festa judaica, a respeito da necessidade de se invocar o nome do Senhor para ser salvo, foi inspirado (parcialmente) em Joel (2.32a; 3.14; ver At.2.21,37-41), Paulo também cita o mesmo versículo (ver Rm.10.13).
(3) Os sinais apocalípticos nos céus que, segundo Joel, ocorreriam no final dos tempos (2.30,31), não somente foram lembrados por Pedro (At.2.19,20), mas também referidos por Jesus (e.g., Mt.24.29) e por João em Patmos (Ap.6.12-14).
(4) Finalmente, a profecia de Joel a respeito do julgamento divino das nações, no vale de Josafá (3.2,12-14), é desenvolvida ainda mais no último livro da Bíblia (Ap.14.18-20; 16.12-16; 19.19-21; 20.7-9).. Há dimensões tanto presentes quanto futuras em todas as aplicações de Joel no NT. Os dons do Espírito que começaram a fluir através do povo de Deus, no Pentecoste, ainda se acham à disposição dos crentes (cf. 1 Co.12.1-14,40).
Além disso, os versículos que precedem a profecia a respeito do Espírito Santo (i.e., a analogia da colheita com as chuvas temporãs e serôdias, 2.23-27) e os versículos que se seguem (i.e., os sinais que se darão nos céus no final dos tempos, 2.30-32) indicam que a profecia sobre o derramamento do Espírito Santo (2.28,29) inclui não somente a chuva inicial no Pentecoste, como também um derramamento final e culminante sobre toda a raça humana no final dos tempos.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.1286-7).
” Cristo Revelado – Joel espera um tempo em que o Senhor deve trazer julgamento aos inimigos de Deus e de Israel, em que as nações devem ser chamadas para prestar conta de seus atos. Ele também viu um dia de grande fartura fluindo do Reino justo do Senhor, em Sião. O instrumento através do qual esses grandes acontecimentos devem vir era o Messias. Jesus é Aquele que irá levar essa era a um fim, derrotando Seus inimigos, recompensando Sua Igreja e estabelecendo Seu definitivo Reino de justiça. Além disso, é Jesus quem promete a vinda do Espírito em resposta à Sua consumada obra de redenção e retorno ao Pai (Jo. 14.15-18; 16.5-24). Na vinda do Espírito em Pentecostes, nós temos o retorno espiritual de Cristo para habitar em Seu povo e conduzir Seu corpo, a Igreja. Sua volta física e literal é predita aqui no Livro de Joel.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.863).
– Segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987), o livro de Joel tem 3 capítulos, 73 versículos, 7 perguntas, 50 ordenanças, 10 promessas, 69 versículos de profecia, 11 versículos de profecias cumpridas, 59 versículos de profecias não cumpridas e somente uma mensagem distinta de Deus (1.2-3.21).
– É interessante notar que, na Bíblia Hebraica (ou seja, a Bíblia adotada pelos judeus, a chamada TANACH), bem como na Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento), o livro de Joel tem quatro capítulos, pois há uma divisão diferente dos versículos do que o que nós adotamos, que foi a adotada pela Vulgata Latina (a tradução da Bíblia para o latim, língua de Roma, por Jerônimo). Isto ocorre porque o capítulo 2 de Joel, que para nós tem 32 versículos, nessas versões tem apenas 27 versículos. O capítulo 3 de Joel nessas versões corresponde ao nosso Jl.2:28-32 e o nosso capítulo 3 é o capítulo 4 daquelas versões, divisão que é seguida pela Bíblia de Jerusalém e pela Tradução Ecumênica Brasileira.
– Na Septuaginta, aliás, o livro de Joel ocupa um lugar diferente no cânon, pois ele é o quarto livro dos profetas menores, depois de Miqueias (a ordem dos profetas menores na Septuaginta é a seguinte: Oseias, Amós, Miqueias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias).
– Segundo alguns estudiosos, o livro de Joel, o 29º livro da Bíblia, está relacionado com a 7ª letra do alfabeto hebraico, “zayin” (ז), cujo significado é de “arma”, “espada”, indicando, portanto, que se trata de um livro que trata, sobretudo, do juízo divino, de movimento e de luta. No dizer de Richard Amiel McGough: “…Joel profetizou a plenitude dos tempos quando o Senhor julgará a terra…” (The Bible Wheel Book, p.211) (tradução nossa do texto original em inglês).
II – O DIA DO SENHOR EXEMPLIFICADO
– O livro de Joel inicia-se com uma mensagem do profeta tanto aos anciãos do povo quanto a todo o povo, em que o profeta mostra que o Senhor estava a alertar o povo através da natureza, visto que uma série de pragas havia assolado a produção dos judaítas. O que ficara da lagarta, o comera o gafanhoto e o que ficara do gafanhoto, o comera a locusta e o que ficara da locusta, o comera o pulgão (Jl.1:4).
– O quadro apresentado pelo profeta Joel era de total desolação, pois não sobrara praticamente coisa alguma do que havia sido plantado para a colheita. Este estado de coisas era um alerta do Senhor para que o povo mudasse a sua forma de se relacionar com Deus, até porque era este o modo primeiro pelo qual o Senhor demonstrava o Seu descontentamento para com o povo (Dt.28:20).
– Joel, como vimos, profetizava nos dias de Joás, o primeiro rei depois do tenebroso período em que Judá ficara sob o governo de Atalia, filha de Acabe e de Jezabel, que havia se casado com Jeorão, filho de Josafá e que quase destruiu a casa de Davi. O povo estava a sair, portanto, de um período de idolatria, mas já dava sinais de que estaria a se desviar dos caminhos do Senhor uma vez mais, o que, aliás, aconteceu após a morte do sumo sacerdote Jeoiada, o principal responsável pela derrubada de Atalia e pela retomada do culto a Deus em Judá.
– Joás havia determinado que se renovasse a casa do Senhor, mas os sacerdotes haviam negligenciado neste negócio, tendo sido necessário que o rei cobrasse mais firmemente esta reforma do templo, no que foi atendido, parecendo, pois, que tudo estava na mais perfeita ordem, que o povo de Judá finalmente havia consolidado o culto a Deus e que havia deixado de lado a idolatria dos tempos tenebrosos de Atalia (II Cr.24:1-14).
– No entanto, é neste momento que o Senhor faz com que fosse dizimada toda a plantação dos judaítas e levanta Joel para seu ministério, a fim de que houvesse uma maior disposição de servir a Deus.
– Esta situação em que a nação judaíta havia sido levada apesar de uma aparente renovação espiritual, mostranos, com absoluta clareza, que o Senhor não Se deixa enganar e que devemos estar vigilantes para que não julguemos segundo a aparência (Jo.7:24). O Senhor conhece o que há no coração do homem (I Sm.16:7; Jo.2:24,25) e, portanto, não há quem possa enganá-l’O.
– Já neste ponto vemos a grande atualidade do livro do profeta Joel. Vivemos, também, dias em que muitos estão a se deixar levar pelas estatísticas, que demonstram haver um “grande crescimento” da igreja, em especial no Brasil, onde, segundo dados do censo de 2010 do IBGE, os “evangélicos” já seriam 22,2% da população e as Assembleias de Deus seriam a denominação que mais cresceu na década.
– Tais números são, porém, ilusórios. O que se percebe, bem ao contrário, é que o número de verdadeiros e genuínos servos de Deus está a diminuir, pois a apostasia grassa nas igrejas locais. Assim como a conclusão da reforma do templo nos dias de Joás dava a impressão de que o povo judaíta havia se decidido a servir a Deus como nos dias de Davi, este “crescimento” numérico pode dar a impressão de que estamos caminhando para uma rápida evangelização do país.
– No entanto, após o final desta reforma e a morte de Jeoiada, o que vemos na história de Judá é o retorno a uma idolatria, fomentada pela elite governante do reino (II Cr.24:17,18), o que prova que o Senhor estava certíssimo ao alertar o povo de Seu desagrado para com eles quando da permissão das pestes que abalaram toda a produção agrícola de Judá, cujo significado foi a primeira mensagem de Joel ao povo.
– Da mesma forma, quando contemplamos a realidade atual da igreja brasileira, vemos, com absoluta clareza, que este “crescimento” não passa de um inchaço, de uma ilusão, visto que temos hoje, segundo os dados do mesmo censo, 3,08% dos “evangélicos” que, assumidamente, não frequentam qualquer denominação, bem como dados que mostram que estes “evangélicos” são completamente irrelevantes em termos espirituais, visto que são vistosos tão somente enquanto “consumidores do segmento gospel”, vivendo do mesmo modo que os incrédulos.
Mais do que nunca, precisamos prestar atenção à mensagem de Joel e verificar que, tal como naqueles tempos, o Senhor está a mostrar, não pela natureza, mas pelos próprios frutos espirituais inexistentes de toda esta gama de falsos servos de Deus, que muito temos de fazer em prol de uma verdadeira e genuína evangelização de nosso querido Brasil.
– Toda a dizimação da plantação tinha um único objetivo: fazer despertar o povo para a sua triste realidade espiritual. “Despertai, ébrios, e chorai; gemei, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto; porque tirado é da vossa boca” (Jl.1:5).
– O problema do povo de Judá era que haviam se embriagado com vinho. Esta situação não deve ser entendida literalmente, mas, sim, como uma declaração divina de que o povo de Judá, em vez de se dedicar às coisas de Deus, em vez de se comportar como um povo separado por Deus dentre os povos para Lhe ser um reino sacerdotal e uma nação santa, havia resolvido desfrutar dos prazeres das coisas desta vida, havia decidido usufruir das coisas terrenas, sem se preocupar em servir a Deus, o que explicava o descaso e desleixo dos próprios sacerdotes e levitas na restauração do templo.
– O apóstolo Paulo também fala desta situação, ao afirmar que não devemos nos embriagar com o vinho, mas nos encher do Espírito Santo (Ef.5:18). Este vinho representa as coisas terrenas, as atrações que este mundo passageiro oferece, que não deve ser aquilo que devemos buscar com prioridade, mas, sim, devemos buscar uma vida cheia do Espírito Santo, uma vida voltada para as coisas eternas. Como disse o Senhor Jesus, devemos ajuntar tesouros nos céus (Mt.6:19-21).
– A situação descrita pelo profeta é de total desolação. “O campo está assolado, e a terra, triste; porque o trigo foi destruído, o mosto se secou, o óleo falta” (Jl.1:10). Quando não se buscam as coisas de cima, a situação é de total desolação, há falta de alimento, há falta da presença de Deus. Quando não se dá prioridade às coisas de cima, não há mais Palavra de Deus, o alimento espiritual por excelência (Mt.4:4; Lc.4:4), também não mais sentimos a presença do Espírito Santo em nossas vidas (“o óleo falta”).
– A situação desoladora por que passava Judá em termos materiais era o reflexo de sua vida espiritual e, para nós, hoje em dia, é uma figura da real situação espiritual de quem vive apenas para as coisas terrenas. Por isso, o apóstolo Paulo é incisivo ao dizer que devemos pensar nas coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus, se é que já ressuscitado com Cristo e estamos mortos para o mundo, com nossa vida escondida em Cristo Jesus (Cl.3:1-3).
– Este tétrico quadro descrito pelo profeta Joel, lamentavelmente, é a visão que Deus tem de muitas igrejas locais na atualidade. Não há produção alguma do fruto do Espírito em muitas delas, visto que todos os seus integrantes estão embriagados com o vinho, deixando de lado as coisas espirituais. Vivem apenas de confraternizações, “campanhas”, “shows gospel”, não havendo mais a real busca de uma vida de santificação, de uma vida de meditação nas Escrituras, de uma vida de oração. A frutificação espiritual tornou-se impossível, porque o gafanhoto, a locusta e o pulgão já destruíram toda a vinha do Senhor. Muitos podem repetir as palavras da sulamita: “…a vinha que me pertence não guardei” (Ct.1:6 “in fine”).
– Alguns estudiosos das Escrituras entendem que este quadro traçado pelo profeta não se aplicaria apenas aos dias de Joás, mas seria, também, um profecia do que ocorrerá com Israel na segunda metade da Grande Tribulação. Nesta linha de pensamento, defendida, entre outros, pelo pastor Aldery Nelson Rocha, estamos diante da situação desoladora que se estabelecerá para os judeus após a profanação do templo pelo Anticristo.
Com base no fato de que Jl.1:9, diz que foi cortada a oferta do manjar e a libação da casa do Senhor, chega-se à situação que seria, posteriormente a Joel, profetizada por Daniel na profecia das setenta semanas (Dn.9:27). É também uma leitura possível do texto.
– O profeta, no entanto, não fica apenas na denúncia do pecado do povo, até então apenas escondido em seus corações e que não havia se manifestado, o que se daria apenas após a morte de Jeoiada. O profeta traz, também, o remédio para esta situação. O objetivo do Senhor, ao levantar Joel, não era apenas mostrar o problema, mas, também, trazer a solução.
– Diante deste quadro trágico, o profeta anuncia uma solução: “Santificai um jejum, apregoai um dia de proibição, congregai os anciãos, e todos os moradores desta terra, na casa do Senhor, e clamai ao Senhor” (Jl.1:14).
– Havia uma forma de reverter este quadro, de impedir que se chegasse o “dia do Senhor”, quando tudo seria consumido. Era clamar ao Senhor, pedir perdão pelos pecados e se reconciliar com Deus. Deus estava a castigar o povo pela sua impenitência, mas não estava disposto a destruir o povo. Se houvesse arrependimento de todos, a começar pelos sacerdotes e anciãos, o Senhor estava pronto a perdoar.
– O caminho para a reversão do quadro de distanciamento de Deus, de alienação das coisas celestiais, do reino de Deus e sua justiça, é o caminho do arrependimento, da humilhação, da busca da presença do Senhor. Temos de buscar a Deus enquanto é tempo (Is.55:6), “porque o dia do Senhor está perto, e virá como uma assolação do Todo-Poderoso (Jl.1:15). Temos nos conscientizado disto, amados irmãos?
– Diante das dificuldades da vida, muitas vezes consequências de nossos próprios erros, temos de clamar ao Senhor. “A Ti, ó Senhor, clamo, porque o fogo consumiu os pastos do deserto, e a chama abrasou todas as árvores do campo” (Jl.1:19). Por causa dos problemas e das vicissitudes da vida, temos de clamar a Deus e não murmurar ou tentar pôr a culpa nos outros, como, lamentavelmente, alguns costumam fazer. As tribulações presentes são um exemplo do que está por vir sobre a face da Terra. Acordemos, pois, enquanto é tempo, e deixemos de nos embriagar com o vinho, para que possamos ser, então, cheios do Espírito Santo.
II – O DIA DO SENHOR PROFETIZADO
– Após ter chamado o povo a se arrepender de seus pecados e, deste modo, alertado o povo para o fato de que estavam naquela situação por causa de sua “embriaguez com vinho”, o profeta passa a descrever o que será o “dia do Senhor”, uma expressão que é recorrente entre os profetas do Antigo Testamento e que diz respeito aos eventos últimos da história da humanidade, ao instante do juízo divino sobre a humanidade.
– O profeta começa dizendo que é preciso clamar que o dia do Senhor está perto, e este clamor deveria se dar de forma pública e notória, daí porque dizer que se deveria “tocar a buzina em Sião e clamar em alta voz no monte da santidade” (Jl.2:1).
– Este “toque da trombeta” é um dos mais conhecidos cerimoniais judaicos, realizado no Ano Novo Judaico (o “Rosh Hashanah”), que a Bíblia identifica como a “festa das trombetas” (Nm.29:1). O “toque da trombeta” é associado, no judaísmo, ao juízo divino e, por via de consequência, ao necessário arrependimento. “…O shofar[a trombeta, feita de chifre de carneiro, observação nossa] faz soar as suas notas estridentes como se estivesse dando um grande alarma: ‘Vós que estais dormindo, acordai! Pensai nas vossas ações! Lembrai-vos de vosso Criador e voltai-vos para Ele em arrependimento! Não sejais daqueles que enquanto apalpam as sombras, deixam de receber o que é real, e gastam suas vidas em busca de coisas ocas que nunca lhes poderão trazer lucro nem proveito… Vós que dormis, acordai! Cuidai de vossas almas! Pensai em vossas ações!’…” (AUSUBEL, Nathan. Rosh Hashanah. In: A JUDAICA, v.6, p.733).
– Esta “festa das trombetas” é tipo do arrebatamento da Igreja, quando o Senhor “…descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus…” (I Ts.4:16 “in medio”), encerrando, assim, a dispensação da graça, o tempo da Igreja sobre a face da Terra, dando-se início ao juízo divino sobre os que rejeitaram a Cristo como Salvador.
– Este “toque da trombeta”, nos dias hodiernos, deve ser a incessante pregação do Evangelho por parte da Igreja, para que as pessoas se arrependam dos seus pecados e recebam a Cristo como seu Senhor e Salvador, bem como a mensagem de que “Jesus brevemente virá” e que devemos estar preparados para encontrá-l’O nos ares e, deste modo.
– Em outras palavras, devemos conclamar os moradores da Terra, a exemplo do que fazia o profeta Joel no seu tempo, de que devemos nos converter dos ídolos a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus a Seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura (I Ts.1:9,10). Era isso que os crentes de Tessalônica pregavam e viviam, sendo, por isso, exemplo para todos os crentes de seu tempo, é isto que devemos continuar a pregar e viver enquanto Igreja do Senhor. Temos feito isto?
– Joel conclamava o povo ao arrependimento, porque o dia do Senhor estava perto e seria um dia de trevas e de tristeza, dia de nuvens e de trevas espessas, um dia igual ao qual nunca houve nem haverá (Jl.2:2).
Este dia do Senhor profetizado por Joel não era apenas os dias do cativeiro babilônico, onde culminaria a desobediência que se iniciava nos dias do rei Joás após a morte de Jeoiada, mas é algo muito mais severo, o “dia da angústia de Jacó” (Dn.12:1), a Grande Tribulação que tão próximo está de nossos dias.
– Assim como profeta, devemos deixar bem claro aos que cristãos se dizem ser que não se pode esperar coisa alguma do tempo da Grande Tribulação, que a oportunidade para nós é agora, é hoje, porque se perdermos esta chance de servirmos a Deus, não se esperam dias bons. Muitos estão a se iludir com a oportunidade de salvação que haverá naquele tempo, mas o profeta Joel é bem claro: “é dia de trevas e de tristeza, de nuvens e trevas espessas”. Não nos iludamos. Se é certo que haverá salvação naquele tempo, também é certo que será um tempo como nunca houve e que será de domínio das trevas, algo muito diferente do que estamos a viver atualmente. Este é o nosso tempo, aproveitemo-lo, amados irmãos, para nele servir a Deus e escaparmos deste terrível período da história da humanidade!
– Neste tempo tenebroso, diz o profeta, “nada lhe escapará” (Jl.2:3 “in fine”). “O dia do Senhor é grande e mui terrível; e quem o poderá sofrer? “(Jl.2:11 “in fine”). A descrição feita pelo profeta é de um juízo divino terrível, que ninguém poderá impedir. Este quadro, aliás, é confirmado pelos selos, trombetas e taças que o Senhor revelará a João no Apocalipse.
– Não devemos ser “terroristas” e deixar o povo de Deus apavorado ou amedrontado, como, aliás, tem feito alguns supostos estudiosos de escatologia nos últimos tempos. Não é aterrorizando as pessoas que as levaremos à conversão. Entretanto, temos de ser realistas quanto ao que significa o “dia do Senhor” e o que a Bíblia fala a respeito dele.
– Mas, uma vez mais, o profeta não se limita a descrever o terrível dia do Senhor, mas, se o descreveu, fê-lo com um único propósito: o de mostrar ao povo como ele poderia escapar daquele dia. Como isto seria possível? “Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não os vossos vestidos, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque Ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-Se e grande em beneficência, e Se arrepende do mal” (Jl.1:12,13).
– O caminho para se escapar do “dia do Senhor” é o caminho da conversão, uma conversão verdadeira, que signifique uma mudança de direção, de sentido na vida, que venha de dentro para fora. Não se trata da assunção de uma religiosidade externa, pois de nada adiantaria “rasgar as vestes” se não se “rasgasse o coração”.
– O profeta conclama a todos que se arrependessem de seus pecados, até mesmo os noivos que estavam em núpcias, que abandonassem o seu tálamo e se voltassem para Deus, santificando-se, proclamando um dia de proibição e pedindo a misericórdia divina.
– Para evitarmos cair na apostasia que caracteriza os dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, temos de agir da mesma maneira, pois a mensagem do profeta é uma mensagem vinda da parte de Deus, Deus que não muda. Para que não soframos o mal decorrente de nossa vida baseada única e exclusivamente nas coisas terrenas, é indispensável que nos voltemos a Deus, que peçamos a Sua misericórdia, pois Ele é tardio em irar-Se, é misericordioso, compassivo e grande em beneficência. Ainda é tempo de voltarmos a buscar o reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar, com prioridade. Ainda é tempo de nos separarmos do pecado, estamos dispostos a isto?
– Os sacerdotes são conclamados a chorar entre o alpendre e o altar (Jl.2:17). Este alpendre de que fala o profeta é o átrio da porta oriental do Templo (I Rs.6:3), que fica entre o pórtico e o grande altar dos holocaustos. Esta posição dos sacerdotes revela que, para que haja perdão dos pecados (o que era figurado pelo altar dos holocaustos), para que o sacrifício vicário de Cristo tenha a eficácia de perdoar nossos pecados, é necessário que clamemos por este perdão, que nos arrependamos dos nossos pecados. O arrependimento e a conversão (observemos que os sacerdotes oravam voltados para o santuário, a indicar que devemos mudar a direção de nossas vidas, passando a olhar para Jesus, o Santo de Deus) são passos necessários e que antecedem o perdão dos pecados no processo da salvação.
– Há, pois, um profundo equívoco na mente daqueles que, nos dias de hoje, estão a defender a integração de pessoas nas igrejas locais sem que tenham elas produzido frutos dignos de arrependimento. O que importa para estes é que a “igreja esteja cheia”, mesmo que seja cheia de pessoas que não se converteram e que, por isso mesmo, não poderiam pertencer à Igreja, que é uma nação formada por aqueles que deixaram as trevas e agora estão na luz do Senhor (Jo.3:19-21; I Pe.2:9,10).
– Não podemos permitir, de forma alguma, que pessoas que ainda não se converteram, que não se voltaram para o santuário, entre o alpendre e o altar, entrem no lugar santo sem que tenham sido perdoadas por Cristo Jesus. Só tem perdão quem se arrepende e se converte. Só pode integrar a igreja aquele que tiver se convertido a Cristo, abandonando a vida pecaminosa. Não existe esta história que andam propalando por aí de que se deve deixar tal pessoa no meio dos crentes até que “o Espírito Santo a toque”. Devemos deixar que ela congregue, que assista aos cultos, mas, enquanto não houver conversão, não pertence ela ao corpo de Cristo. Sigamos o que diz o profeta Joel em sua mensagem ao povo judaíta!
– Com o arrependimento e a conversão, diz Joel, o Senhor teria zelo da Sua terra e Se compadeceria do Seu povo e, em virtude disto, o Senhor responderia com o retorno da abundância, com o envio do trigo, do mosto e do óleo. A fartura, tanto material quanto espiritual, voltaria para Judá quando este decidisse deixar as coisas terrenas e se voltar para Deus.
– Para retornarmos aos dias de abundância espiritual, para que possamos fugir do dia do Senhor, para que tenhamos comunhão com Deus, outro caminho não há senão o arrependimento dos pecados e a conversão. Devemos nos mobilizar para que, em nossas igrejas locais, arrebatemos o maior número possível dos que cristãos se dizem ser da apostasia e da frieza espiritual, mas isto somente se fará se houver arrependimento e conversão, se nos voltarmos ao Senhor, se retornarmos ao caminho da meditação das Escrituras, da oração e da busca de uma intimidade sincera e verdadeira com o Senhor.
– O profeta garante que, em havendo arrependimento e conversão, não haveria por que o povo de Judá ter qualquer dúvida a respeito de sua restauração espiritual e, consequentemente, de que o estado lamentável em que estava a produção agrícola se transformaria totalmente. Os judaítas podiam se alegrar e regozijar porque o Senhor faria grandes coisas, voltando a reverdecer os pastos, o arvoredo a dar o seu fruto, bem como as eiras a se encher de trigo e os lagares, a transbordar de mosto e de óleo (Jl.2:21-24), com a restituição de tudo quanto havia sido dizimado (Jl.2:25-27).
– O desejo do Senhor era, portanto, uma verdadeira restauração espiritual do povo e não aquela aparente renovação que se dava nos dias de Joás. Mais do que uma renovação do templo, de sua estrutura, o Senhor estava interessado em renovar os corações do povo, prepará-los para que fossem, efetivamente, o povo escolhido de Deus dentre todos os povos, a fim de que pudessem cumprir o propósito divino que era o de torná-los um reino sacerdotal e um povo santo (Ex.19:5,6).
– É também este o propósito do Senhor para com a Igreja, o Seu novo povo, igualmente um reino sacerdotal e nação santa (I Pe.2:9,10). O Senhor quer nos restaurar espiritualmente, fazer com que abandonemos uma religiosidade externa e estéril, para que sejamos pessoas enviadas por Cristo para que demos fruto e fruto permanente sobre a face da Terra (Jo.15:16). Mas, para que isto ocorra, não podemos nos embriagar com vinho, mas nos encher do Espírito Santo.
– E, por falar de nos encher do Espírito Santo, é neste instante que Joel profetiza a respeito do derramamento do Espírito Santo, a profecia mais conhecida de Joel, e que foi invocada pelo apóstolo Pedro no dia de Pentecostes (At.2:16).
– Esta profecia de Joel indica que o derramamento do Espírito Santo se daria “depois” do juízo anunciado pelo profeta, juízo este que seria seguido pela vinda de um ensinador de justiça, que faria descer a chuva temporã e serôdia (Jl.2:23).
– Pedro identifica este tempo como tendo início no dia de Pentecostes, utilizando-se, por inspiração do Espírito Santo, da expressão “últimos dias”. Ora, isto já nos mostra, com clareza, que a promessa do profeta Joel não estava circunscrita aos dias de Pedro, mas aquele dia era o início deste período, o início de uma nova etapa no relacionamento entre Deus e os homens. Este período é a dispensação da graça, que somente findará com a volta de Jesus para arrebatar a Sua Igreja. O batismo com o Espírito Santo, portanto, é uma característica que deve acompanhar a Igreja durante o Seu tempo aqui na terra, sendo a própria negação da determinação bíblica a defesa de que a Igreja possa perdurar enquanto tal sem que haja este revestimento de poder.
– Além da vinda do “ensinador de justiça”, que nos fala a respeito da vinda de Cristo, o profeta Joel também deixa claro que, para haver derramamento do Espírito Santo, faz-se mister que tenha havido conversão e arrependimento. A conversão e o arrependimento não só trariam abundância material, mas, também, abundância espiritual, representada pelo derramamento do Espírito Santo.
– Temos, pois, que a plenitude da vida espiritual torna indispensável o derramamento do Espírito Santo. Não há como termos abundância espiritual, termos plenitude de vida espiritual sem que sejamos alcançados pelo derramamento do Espírito Santo.
– A profecia de Joel, também, não deixa qualquer dúvida de que o derramamento do Espírito Santo é um ato soberano de Deus. “diz Deus, que do Meu Espírito derramarei sobre toda a carne”, ou seja, a operação decorreria do próprio Deus, é um ato da Sua vontade, de modo que não devemos querer dar ao homem qualquer participação além da mera recepção em tal operação. Devemos buscar esta bênção, pois é uma promessa de Deus e, como ensina P.M. Beaude, “…a promessa estabelece um laço entre quem promete e quem recebe a promessa, [pois] (…) Deus fez aliança com Seu povo, promete-lhe felicidade(…), é um pai para o Seu povo; um pastor; ocupa-Se dele como de uma vinha.…” (De acordo com as Escrituras, p.15), mas conscientes de que tudo depende única e exclusivamente da vontade de Deus, não da nossa.
– A profecia de Joel, também, faz questão de realçar que esta bênção está disponível a todos os homens que aceitarem a Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas, independentemente de sua condição. O batismo com o Espírito Santo não era restrito aos apóstolos nem àqueles quase cento e vinte irmãos que haviam estado com Jesus durante o Seu ministério.
A igreja caracterizar-se-ia como um povo de pessoas em igualdade de condições diante de Deus, que teria funções diferentes, conforme a vontade do Senhor, mas que não poderia ser separada em ordens ou graus diferenciados, como se quis, posteriormente, defender e se defende até hoje, por exemplo, entre os católicos romanos e os ortodoxos. Toda a igreja é composta de sacerdotes reais, de santos, de profetas, indistintamente (I Pe.2:9). O derramamento seria sobre toda a carne, para homens e mulheres, para pais e filhos, para jovens e idosos. Chegava ao povo de Deus a universalidade que, na antiga aliança, era apenas um desejo distante (cfr. Nm.11:29).
– Não é à toa que, durante a história da igreja, os períodos de desvio e frieza espiritual tenham sempre sido acompanhados por uma cristalização de dogmas e condutas que negam o sacerdócio universal dos cristãos e estabeleçam rituais e classes sacerdotais típicas do paganismo ou da antiga aliança. Não é, também, coincidência que o batismo com o Espírito Santo sempre seja um fator de abalo e de repugnância para as estruturas eclesiásticas nascidas destes mesmos dogmas e práticas antibíblicos.
OBS: Esta circunstância foi muito bem analisada por Benjamin Scott, em sua obra-prima “As catacumbas de Roma”, cujo trecho reproduzimos: ” …Afigura-se-nos que a corrupção que mais influência tem exercido no ‘cristianismo’ proveio da introdução gradual da ideia de um sacerdote mediador para oferecer sacrifícios, semelhante aos sacerdotes do judaísmo ou do sistema pagão. É claro que tal instituição não pode ser encontrada em qualquer ensino de Jesus ou de seus apóstolos.
No novo Testamento nunca se fala de um sacerdócio especial na Igreja Cristã, senão num sentido que inclui cada crente verdadeiro unido a Cristo, o grande “Sumo Sacerdote de nossa confissão’. Notemos que este não é um ponto sem importância, como poderia parecer à primeira vista porque, se admitirmos que há um sacerdócio (no sentido pagão ou judaico), então temos uma série de consequências – como de fato aconteceu, e foi a corrupção da ‘simplicidade que há em Cristo’.
Desde que admitido um sacerdócio, um altar deve segui-lo, para usurpar o lugar de uma simples mesa na ceia comemorativa que Cristo instituiu. O sacrifício acompanha o altar. Isso aconteceu na Igreja de Roma. E mediadores sacerdotais se levantam entre o crente e seu Sumo Sacerdote, que ensinara a todos a chegarem-se ao Pai tão-somente por meio dele mesmo. Desta maneira, Cristo foi despojado de seu sacerdócio, na Igreja de Roma, e desprezado foi o seu ofício de sacerdote e mediador. Ali, o sacrifício perfeito ‘oferecido duma vez para sempre’ é continuamente reoferecido, como se alega nessa igreja.
Outro grande mal é que ao povo cristão ensina-se a confessar os pecados a semelhantes seus, pecadores também, e a depender destes, para obter o perdão; quando é certo que todos possuímos o inestimável privilégio de acesso pessoal a Cristo.(…) Sobre esponto tão importante, que dizem as inscrições nas Catacumbas de Roma ?
Nelas nunca se encontrou termo algum que corresponda ao ofício sacerdotal dos pagãos ou dos judeus. É digno de nota que a palavra ‘ ‘ieréus’, isto é, a pessoa que oferece sacrifício, em nenhum lugar nas Catacumbas ou dos escritos primitivos é aplicada a qualquer posição eclesiástica. Coube ao Romanismo ou ao sacerdotalismo romanizante, fazer a aplicação ao ministro cristão desta palavra tão oposta ao espírito do Novo Testamento’ (Cf. As Catacumbas, de Withrow, p.511 – referência em nota de rodapé de nº 11 no original) ” (SCOTT, Benjamin. As catacumbas de Roma, p.134-5).
– Como Pedro invocaria no dia de Pentecostes, a mensagem do profeta a respeito da abundância espiritual fala que “depois”, o Senhor derramaria o Seu Espírito sobre toda a carne, de modo que os filhos e as filhas dos judaítas profetizariam, os velhos teriam sonhos e os mancebos, visões, assim como, “naqueles dias”, também haveria derramamento do Espírito para servos e servas.- Deus deseja que tenhamos abundância espiritual e esta abundância vem pelo derramamento do Espírito Santo. Este derramamento segue ao arrependimento e conversão, é um momento posterior, portanto, à salvação, não tendo, pois, razão alguma os crentes ditos tradicionais que confundem o batismo com o Espírito Santo com a conversão. Pedro invocou esta profecia de Joel no dia de Pentecostes, para explicar o fato de os discípulos estarem a falar línguas estranhas, não a salvação deles, que já ocorrera anteriormente, inclusive quando receberam o Espírito Santo mediante um sopro do Senhor Jesus na tarde do dia da ressurreição (Jo.20:22).
– Esta profecia de Joel começou a se realizar no dia de Pentecostes, mas não findou ali nem nos tempos apostólicos. Vejam que o profeta falou que o Senhor derramaria “o Seu Espírito”, mas, ao invocar esta profecia, o apóstolo Pedro disse que havia ocorrido derramamento “do Espírito”. Notem aqui o partitivo “de”, que não se encontra na profecia de Joel. O dia de Pentecostes era apenas uma parte do que estava prometido e profetizado, era o início de um período.
– Com efeito, a profecia de Joel ainda não se concretizou em Israel, o que se dará tão somente quando Israel for salvo. Os judaítas dos dias de Joás não atentaram para a profecia de Joel, tornando para a idolatria (II Cr.24:19), caminho que não abandonaram, apesar dos avivamentos ocorridos nos dias de Ezequias e Josias, e que os levaram ao cativeiro da Babilônia.
– No período do Segundo Templo, apesar dos avivamentos ocorridos nos dias de Esdras e Neemias, o povo também não se converteu, caindo não mais na idolatria, mas na indiferença e na religiosidade externa e oca, que foi testemunhada pelo próprio Senhor Jesus em Seu ministério terreno e, ante a rejeição de Cristo por Israel, continuaram eles espiritualmente cegos (Rm.11:7-11; II Co.3:14-16).
– Todavia, no dia em que se converterem, quando estiverem prestes a ser destruídos pelo Anticristo, na iminência da batalha do Armagedom, aí, sim, convertidos, serão todos os israelitas remanescentes cheios do Espírito Santo, o Espírito Santo será derramado sobre eles e, com vida espiritual abundante, estarão eles na condição de serem, durante o reino milenial de Cristo, o reino sacerdotal e povo santo que o Senhor sempre quis que fossem para toda a humanidade, os “restantes que o Senhor chamar” (Jl.2:32).
– Por isso, aliás, a leitura já mencionada supra de que o livro do profeta Joel retrata a segunda metade da Grande Tribulação, uma vez que, ao término desta, o remanescente de Israel se salvará, convertendo-se a Cristo, depois de três anos e meio de cruel perseguição por parte do governo do Anticristo.
– Por que temos tido redução no número de batismos com o Espírito Santo entre nós? Porque o derramamento do Espírito Santo, como ensina o profeta Joel, somente vem quando há prévios arrependimento e conversão.Porque não há que se falar em plenitude de vida espiritual onde ainda habitam o pecado e a prioridade das coisas terrenas.
– Temos visto com imensa preocupação o caminho que tem traçado os que se dizem pentecostais. Em vez de buscarem a presença do Senhor, de darem prioridade ao reino de Deus e a sua justiça, estão atrás de estratégias de marketing, estão a copiar os ditos “neopentecostais”, cuja teologia está no caminho diametralmente oposto da prioridade das coisas de cima, visto que estão a defender a procura das coisas terrenas, da prosperidade material e do bem-estar nesta vida terrena.
– Quando olhamos para o livro do profeta Joel, vemos que o derramamento do Espírito Santo é uma ocorrência posterior ao arrependimento e à conversão, algo que é indispensável para que fujamos do juízo divino. Com efeito, após a promessa do derramamento do Espírito Santo, o Senhor diz que promoverá o “grande e terrível dia do Senhor” (Jl.2:30-32).
– Ou buscamos a plenitude do Espírito Santo, prometida para antes do “grande e terrível dia do Senhor”, ou, por rejeitarmos esta oferta gratuita do Senhor, seremos levado a experimentar este dia tenebroso. É tempo de buscarmos ao Senhor, de usufruirmos de todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, antes que, por rejeitarmos ter a Cristo, sejamos deixados aqui com o mundo que sofrerá a Grande Tribulação.
Pensemos nisto!
III – O JULGAMENTO DAS NAÇÕES E AS BÊNÇÃOS DO MILÊNIO
– O terceiro capítulo de Joel começa, então, a descrever a remoção do cativeiro de Judá e de Jerusalém, uma vez mais nos reportando à profecia das setenta semanas de Daniel, pois este era o prazo que o Senhor deu ao profeta Daniel para que o povo judeu alcançasse a salvação (Dn.9:24), salvação esta que é nada mais, nada menos que a libertação do pecado, algo que somente se pode alcançar em Cristo Jesus, o Filho de Deus (Jo.8:32-36).
– O Senhor não Se limitará a salvar Israel, mas, também, julgará aqueles que tentaram destruir o Seu povo. Aqui se concretiza a palavra do Senhor Jesus de que quem não é por Ele, é contra Ele (Mt.12:30; Mc.9:40; Lc.11:23). Todos quantos se levantaram contra Israel e, portanto, contra o Senhor, serão devidamente julgados e punidos por terem ido contra a menina dos olhos de Deus (Zc.2:8).
– Joel diz que o Senhor congregará todas as nações no vale de Josafá e, ali, com elas, entrará em juízo por causa do Seu povo (Jl.3:2). Como diz Richard Amiel McGough: “…Este é o significado de Josafá – ‘O Senhor julgará’…” (op.cit., p.211). Neste vale, que o profeta Joel chama de “o vale da decisão”, é que se dará o “dia do Senhor”, quando se fará o julgamento das nações que se levantaram contra o Senhor e o Seu povo (Jl.3:14).
– O Senhor, neste dia, retribuirá todo o mal que se fizeram aos judeus ao longo da história da humanidade (Jl.3:3-8), o que somente se dará após a conversão de Israel. Deus não rejeitou Seu povo (Rm.11:1,2) e promoverá a justa retribuição a todos quantos se levantaram contra Ele. Por isso, amados irmãos, mesmo sabendo que os judeus necessitam de salvação, jamais poderemos nos conformar e apoiar toda e qualquer medida que seja contrária ao povo de Israel, pois Ele é o povo escolhido de Deus.
OBS: O antissemitismo e uma política contrária a Israel é uma das características do “espírito do Anticristo” na política internacional e é com grande tristeza que, ao longo dos últimos anos, temos visto que o Brasil, que era amigo de Israel e teve participação decisiva na criação deste país em 1948 na Organização das Nações Unidas, tem, hoje, uma política nitidamente anti-israelita, caminho que, se não for modificado, levará nossa nação a este grupo que será tratado por Deus no vale de Josafá…
– O Senhor permitirá que o inimigo de nossas almas fomente todas estas nações que se decidiram por ser contrárias a Israel sejam enganadas e reunidas para enfrentar os judeus que, ao término da Grande Tribulação, parecerão estar à beira da destruição final (Ap.16:13,14). Enganadas pelo diabo e suas duas bestas, estas nações que, apesar de fracas, achar-se-ão fortes (Jl.3:10), ajuntar-se-ão no vale de Josafá e lá serão julgadas pelo Senhor, que, com Seu poder, a todas elas aniquilará e o Senhor Se fará refúgio e fortaleza para os filhos de Israel (Jl.3:13,15-17).
– Após esta grande vitória, o Senhor Jesus tornará Israel a potência mundial e reinará mil anos, num reinado de paz e justiça, onde a Terra será restaurada de toda a maldição provocada pelo pecado do primeiro casal, havendo abundância material e espiritual (Jl.3:18).
– Judá será um lugar de delícias, um lugar que será habitado para sempre e onde haverá purificação, porque o Senhor habitará em Sião (Jl.3:20,21).
– Este estado de delícias, previsto para ocorrer no milênio, já está à disposição da Igreja desde já. Com efeito, se nos arrependermos e nos convertermos e buscarmos a plenitude espiritual, ou seja, o derramamento do Espírito Santo, desde já estaremos a desfrutar das delícias aqui prometidas.
– O crente revestido de poder, batizado com o Espírito Santo é um crente que é “monte que distila mosto”, já é “um outeiro que mana leite”, um “rio que está cheio de água”, “uma fonte que sai da casa do Senhor e rega o vale de Sitim”. O crente cheio do Espírito Santo já é uma “habitação do Senhor” (Jo.14:17) e que, por isso mesmo, pode trasbordar o poder de Deus e fazer com que os que o rodeiam sejam também alcançados por esta plenitude espiritual.
– A evangelização do mundo alcançou níveis nunca antes atingidos depois que se iniciou o avivamento pentecostal do início do século XX e que ainda perdura até hoje, o mais longo avivamento da história da Igreja. Esta “chuva serôdia”, que está a anunciar a chegada da “festa das trombetas”, é a prova viva de que tudo quanto estamos a falar a respeito do crente batizado com o Espírito Santo é a mais pura realidade.
– Joel faz-nos lembrar o que o Senhor quer de nós enquanto estamos aqui neste mundo fazendo a obra de Deus. Será que somos este “monte que distila mosto”, trazendo alegria da salvação aos que nos rodeiam? Será que somos este “outeiro que mana leite”, sendo fonte de alimentação espiritual dos novos convertidos?
– Será que temos sido “rio que está cheio de água”, saciando a sede daqueles que precisam do refrigério do Senhor em suas vidas? Será que somos “fonte que sai da casa do Senhor que rega o vale do Sitim”, saciando a sede de salvação daqueles que vivem no deserto da vida? Será que somos “habitação do Senhor”, de tal modo que nossa presença traga a presença de Deus aos que estão à nossa volta?
– Vivemos num mundo que está no maligno, num Egito onde há desolação, num Edom que é um deserto de solidão. É imperioso que nos arrependamos de nossos pecados e nos convertamos. É urgente que deixemos de nos embriagar com o vinho e nos enchamos do Espírito Santo. Temos correspondido ao desejo do Senhor para com Seu povo trazido na mensagem de Joel? Que o Senhor nos dê graça para que respondamos a esta questão afirmativamente.
Caramuru Afonso Francisco