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LIÇÃO Nº 3 – O CÉU – O DESTINO DO CRISTÃO

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo sobre o caminho da salvação, falaremos hoje do céu, o destino do cristão.
-O cristão tem como alvo morar no céu.

I – CÉU – A HABITAÇÃO DE DEUS

-Estamos a estudar a vida cristã sob a perspectiva de “caminhada”, “peregrinação”, “carreira”. Já vimos que esta é uma imagem essencial do significado da salvação, tanto que os cristãos, antes de assim ser chamados pelos gentios em Antioquia (At.11:26), eram conhecidos como “os do Caminho” (At.19:9,23; 22:4; 24:14,22).

-Pois bem, quando se denomina a vida cristã de “caminho”, estamos dizendo que há um ponto de partida e um ponto de chegada, pois o caminho nada mais é “porção mais ou menos estreita de terreno entre dois lugares por onde alguém pode seguir; espaço ou distância percorrida ou ainda por percorrer para se chegar a determinado lugar”.

-É precisamente este o significado da palavra grega “hodos” (̔̔̔̔όδός), “…aparentemente, uma palavra primária, uma estrada; (consequentemente) um progresso (a rota, ato ou distância); (figurado): um modo ou meio:— jornada, caminho, estrada.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS-CHAVE. Dicionário do Novo Testamento, verbete 3598, p.2315).

-O ponto de entrada do caminho da salvação é a “porta estreita” (Mt.7:13; Lc.13:24), porta esta que é Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo.10:7,9). Crendo em Jesus como Senhor e Salvador, arrependendo- se dos seus pecados, a pessoa é levada até a porta estreita e lá inicia sua jornada.

-O ponto de chegada do caminho da salvação é a salvação, ou seja, o alcance do eterno e perene livramento do mal e do pecado, a comunhão plena e para sempre com o Senhor, que é a “vida eterna”. Ora, esta vida eterna é desfrutada no céu, de modo que é este o destino de quem entra por este caminho apertado.

-Já os patriarcas tinham esta noção de que iriam habitar uma “pátria celestial” (Hb.11:13-16), que é também a esperança de todo o cristão (Fp.2:20,21; I Ts.1:10).
-Mas o que é o “céu”? Sob este nome, temos diferentes conceitos e devemos aqui analisá-los para que não sejamos confundidos.

-A primeira vez que temos a palavra “céu” nas Escrituras é logo no primeiro versículo do livro do Gênesis, que diz que Deus criou os céus e a terra no princípio (Gn.1:1).

-Aqui já há uma discussão com relação ao significado destes “céus”. Entendem alguns que a expressão se refere ao “mundo espiritual”, ao local onde habitavam todos os anjos antes da queda de Satanás e dos anjos que o seguiram, que foram expulsos destes “céus” (Cf. Is.14:12; Ez.28:16), passando a habitar “os lugares celestiais” (Cf. Ef.6:12), de onde serão defenestrados para a Terra quando do arrebatamento da Igreja (Ap.12:7-12).

-Outros já entendem que a expressão “os céus e a terra” se referem ao Universo físico, à matéria criada por Deus, de modo que “céus” seriam o espaço sideral e a própria atmosfera terrestre, procurando, inclusive, basear-se em Jó 38:4-7.

-O fato é que, em meio a esta discussão, já observamos três significados para “céu” ou “céus”. O primeiro, o “mundo espiritual”, ou seja, o mundo que existe além da matéria, a eternidade, onde não vigora o tempo nem o espaço, que é a habitação de Deus e dos anjos, seres igualmente espirituais como Deus (Jo.4:24; Hb.1:14).

-O segundo significado é o de “espaço sideral”, tudo quanto existe no Universo além de nosso planeta, além da Terra, como as estrelas, as galáxias, os astros em geral.

-O terceiro significado é o de “atmosfera terrestre”, ou seja, a parte do planeta formada por gases e que estão acima da crosta terrestre, onde estão as nuvens e, acima delas, todo o invólucro que permite a manutenção da vida mediante o controle dos gases e das radiações. A “expansão” criada para separar as águas, como se descreve em Gn.1:5.

-Bem por isso, muitas vezes a expressão bíblica está no plural, “céus”, mostrando que há mais de um céu e que não devemos confundi-los. Apesar da utilização da expressão no plural, a Bíblia Sagrada não diz quantos são os céus.

-Verdade é que o apóstolo Paulo chama o Paraíso de “terceiro céu” (II Co.12:3,4), a nos mostrar, pois, que, pelo menos, há três céus, como temos aqui observado – o primeiro céu, que seria a atmosfera terrestre; o segundo céu, que é o espaço sideral; e o terceiro céu, que seria o mundo espiritual.

-A tradição judaica fala em “sete céus”, isto porque, quando Deus teria criado o firmamento, ou seja, a “expansão” em Gn.1:5, teria dito “Haja” e esta palavra, em hebraico, tem o valor numérico de “sete”.

-No entanto, devemos ter cuidado com a tradição judaica, pois nesta questão há a introdução de elementos esotéricos e sem respaldo bíblico, que devem, por isso mesmo, ser evitados.

-Quando falamos em caminho da salvação, o seu ponto de chegada é a presença do Senhor, pois iremos para sempre morar com Ele e, por isso mesmo, este lugar outro não é senão os “céus dos céus” ou os “céus”, como nos mostra Salomão.

-Na oração que o rei Salomão fez a Deus, disse que os céus são a habitação de Deus (I Rs.8:30, 43,49; II Cr.6:21,30,33,39).

-Também o cronista diz que as orações dos israelitas foram ouvidas quando da dedicação do templo nos dias do rei Ezequias nos céus, que eram a habitação de Deus (II Cr.30:27), como também o profeta Isaías quando ora ao Senhor (Is.63:15).

-Todos os dias o homem recebia a visita de Deus na viração do dia (Gn.3:5), a nos mostrar que a Terra, onde o homem se encontrava, pois o jardim do Éden ficava na Terra, não era o lugar da habitação do Senhor, mas, sim, os céus. Assim, o primeiro casal já sabia que Deus não habitava na Terra.

-Quando Senhor promete que havia novamente comunhão com o homem por meio da semente da mulher, no dia mesmo da queda quando se revela a salvação, o primeiro casal ficou a saber que habitaria com Deus e, sabendo que o acesso ao jardim fora vetado, pôde, desde então, compreender que esta morada eterna com Deus se daria nos céus.

-Esta noção ficou bem patente quando da trasladação de Enoque que, por ter andado com Deus, o Senhor para si o tomou, tendo ele desaparecido da Terra, exatamente porque foi para o céu (Gn.5:22-24), o mesmo Enoque que profetizou que o Senhor viria com milhares de Seus santos (Jd.14), ou seja, Seu lugar não é a Terra mas, sim, os céus.

-O outro ser humano que foi poupado da morte, o profeta Elias, foi também levado ao céu, como vemos em II Rs.2:11.

-Ao verificarmos as ideias religiosas dos diversos povos, iremos sempre observar a noção de que Deus habita nos céus.

Na religião babilônica mais antiga, lugar onde teve início a civilização pós-diluviana, temos como divindade primeira “Anu” ou “Am”, “o senhor das constelações, rei dos espíritos e dos demônios (…) [que] habitava as mais altas regiões celestiais.…” (Anu. In: WIKIPEDIA. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Anu#:~:text=5%20Liga%C3%A7%C3%B5es%20externas-
,Divindade,perseguir%20e%20punir%20os%20criminosos. Acesso em 13 fev. 2024).

-Outra civilização milenar, a chinesa, temos, também, a ideia de “Tian”, “céu”, que se confundia com a própria ideia divina.

O principal deus era “Shangdi”, cujo significado é “senhor das alturas”, que passou a ser também denominado de “Tian”. “…A adoração dos céus foi, por milhares de anos, a expressão de culto da China Imperial.” (Tian. In: WIKIPEDIA. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tian#:~:text=Tian%20(chin%C3%AAs%20tradicional%3A%20%E5%A4%A9 %3B,mitologia%2C%20filosofia%20e%20religi%C3%A3o%20chinesas Acesso em 13 fev. 2024).

Esta noção foi adotada por todas as principais filosofias religiosas da China, tanto o taoísmo quanto o confucionismo.

-Notamos, assim, que houve grande resquício da noção de que Deus habita os céus mesmo entre as nações gentílicas.

-Mas o próprio Senhor Jesus diria que a habitação de Deus é o céu. Ele, sendo Deus, disse que, enquanto homem, veio do céu e que para lá voltaria, mas enquanto Deus Ele ali estava (Jo.3:13).

-Na oração sacerdotal, o Senhor também mostrou que habitava a glória com o Pai e que para lá tornaria (Jo.17:6).

-Mas, um pouco antes desta oração, quando de Suas últimas instruções aos discípulos, prometeu que levaria os Seus discípulos para o lugar para onde ele iria (Jo.14:1-3) e que este era o ponto final do caminho da salvação (Jo.14:4).

-Não é por outro motivo que o escritor aos hebreus disse que devemos olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, a fim de que, assim como Ele, corramos com paciência a carreira que nos está proposta para que desfrutemos, como ele, do gozo que Lhe foi proposto (Hb.12:1-3), gozo este que é desfrutado no trono do Pai, à Sua direita, estando-nos prometido o trono de Cristo (Ap.3:21), tudo isto no céu (Hb.4:14-16; 12:22,23).

-Quando entramos no caminho da salvação, já passamos a desfrutar, aqui na Terra, da companhia do Espírito Santo, o Consolador ou Paráclito, Aquele que é chamado a estar ao nosso lado, guiando-nos em toda a verdade (Jo.14:16; 16:13).

-Espiritualmente, passamos a já ter acesso ao “trono da graça”, “pelo novo e vivo caminho que Jesus nos consagrou” (Hb.10:19,20) e, por isso, já podemos desfrutar de todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef.1:3), razão pela qual o próprio Cristo está conosco (Mt.28:20), em nosso meio (Mt.18:20).

-Mas aqui não é o nosso descanso (Mq.2:10), de modo que estamos indo para aquele lugar que Cristo prometeu, a cada passo mais perto de Deus, quando, então, glorificados, completaremos o processo da nossa salvação (Rm.8:30; I Pe.1:9), pois a herança incorruptível, incontaminável e imarcescível destinada aos que vencerem está guardada nos céus para nós (I Pe.1:4).

II – CÉU – O LUGAR PROMETIDO PELO SENHOR JESUS AOS SEUS DISCÍPULOS

-Vemos que Deus habita os céus e que, se vamos morar com Ele para sempre numa comunhão plena, não há outro lugar em que habitaremos senão estes céus, não tendo, pois, respaldo bíblico algum ideias de que o salvo habitará nesta terra, como defendem as Testemunhas de Jeová, estando o céu somente reservado para “cento e quarenta mil” pessoas.

-Deus disse que haveria, com a salvação, o retorno da comunhão entre Deus e os homens e esta comunhão seria plena, uma perfeita unidade, como nos diz o Senhor Jesus em Sua oração sacerdotal (Jo.17:20-24), algo mais elevado do que a própria posição inicial do ser humano na criação.

-Com efeito, Deus criou o homem para dominar sobre toda criação terrena (Gn.1:28) e, desta forma, imperioso era o homem ficar na Terra, para bem cumprir a sua condição de mordomo. Foi, por isso mesmo, posto na Terra para lavrar e guardar o jardim formado por Deus (Gn.2:15).

-No entanto, após a queda, com a salvação, Deus deseja coabitar com o homem (Ap.21:2,3) e, em vez do jardim do Éden, preparou uma cidade nos céus onde desfrutará da companhia com os homens, num estado de comunhão que será idêntico ao estado de comunhão que há entre as Pessoas da Trindade Divina (Cf. Jo.17:20-24).

-O Senhor quis salvar o homem e ainda elevá-lo para um novo patamar, não apenas de mordomo, mas, sim, de amigo, companheiro. Por isso, o Senhor Jesus disse que não chamaria mais Seus discípulos de servos, mas, sim, de amigos (Jo.15:15).

-Foi por isso que, desde então, o Senhor prometeu aos homens que os levaria para a Sua morada, para a Sua habitação, que, como vimos, é o céu, onde está o Seu trono (Sl.103:19), o lugar para onde o Senhor disse que levará os que vencerem (Ap.3:21).

-Jesus nos prometeu levar ao céu e, por causa disto, é esta a esperança de todos os que n’Ele creem. É esta a nossa esperança, a âncora firme (Hb.6:19) que nos permite continuar caminhando apesar de todas as dificuldades e obstáculos que existem no caminho da salvação, “o caminho apertado”.

-Esta promessa de ir para os céus é uma constante na vida daqueles que vivem pela fé, como nos mostra o escritor aos hebreus em Hb.11:9-16 mas Jesus a renovou quando estava quase a Se despedir de Seus discípulos.

-Tendo informado mais uma vez que seria preso e morto, Jesus notou que os discípulos ficaram perturbados, inquietos, desanimados. Diante de tal circunstância, Cristo, então, lhes faz a promessa de que os levaria para a casa do Seu Pai, para as mansões celestiais (Jo.14:1-3).

-Para que os discípulos não desanimassem com as sombrias perspectivas que se avizinhavam, Jesus disse que eles seriam levados para “a casa do Pai” e que, para tanto, deveriam tão somente seguir o Caminho.

-A promessa de que seremos levados ao céu é absolutamente necessária para que continuemos nossa jornada no caminho apertado. Ele é “apertado”, como já vimos na lição anterior, porque é repleto de

dificuldades e obstáculos, sendo que, a exemplo do que ocorreu com Cristo, muitas das vezes temos adversidades que podem nos levar até a morte física, ao derramamento de nosso sangue.

-Entretanto, a promessa da pátria celestial permite-nos prosseguir nesta peregrinação terrena e chegarmos até o fim servindo ao Senhor, como aconteceu com os patriarcas de Israel.

-Jesus disse que na casa do Pai havia muitas moradas e que nos iria preparar lugar. Esta realidade vemos enunciada no Salmo 24, em que o Rei da glória entra por duas vezes nos portais eternos. Na primeira vez, entra solitariamente (Sl.24:7,8).

-Isto nos fala da Sua ascensão (At.1:9-11), quando Se separou fisicamente de Seus discípulos e foi assumir seu lugar no trono do Pai à Sua direita. Só Ele, que havia descido do céu, subia ao céu (Jo.3:13).

-Na segunda vez, porém, o salmista mostra que o Rei da glória entra pelos portais eternos acompanhado de “Seus exércitos” (Sl.24:9,10), comprovando, assim, que, primeiro, o Senhor Jesus foi preparar lugar para a Sua Igreja e para os justos aperfeiçoados e, no dia do arrebatamento da Igreja, há de levá-los para a casa do Pai, onde já preparou lugar.

-Por isso, a pregação do Evangelho não pode deixar de mencionar a promessa de Jesus nos levar para o céu. É a mensagem quadrangular: “Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e brevemente voltará”.

-Nos dias hodiernos, com tantos falsos profetas e falsos mestres, temos visto a pregação de um Evangelho que despreza a promessa de morarmos no céu, o que é um rotundo absurdo. Prega-se hoje um Evangelho que promete “um paraíso na terra”, que está voltado única e exclusivamente para as coisas desta vida, para as coisas terrenas.

-Embora tenhamos, em nossos dias, uma proliferação deste falso evangelho, capitaneado pelos adeptos da “teologia da prosperidade”, da “teologia da confissão positiva”, da “teologia da missão integral” e da “teologia da libertação”, o fato é que isto não é novidade, pois, como disse Salomão, “…nada há novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós” (Ec.1:9 “in fine”,10).

-O apóstolo Paulo já falava dos “inimigos da cruz de Cristo”, que “só pensam nas coisas terrenas” (Fp.3:19), como também “dos mais miseráveis de todos os homens”, que “esperam em Cristo só nesta vida” (I Co.15:19), prova de que este tipo de pensamento e ensinamento já existiam nos primórdios da história da Igreja.

-O Evangelho é a boa nova de que Jesus veio salvar o homem, que, enquanto aqui estamos sobre a face da Terra, a salvação gera tanto bem-estar espiritual quanto material, reveste-nos de poder mas que tudo isto acontece para que venhamos a morar com Ele no céu.

-Esta realidade está explicitamente apresentada por Pedro no sermão que fez após a cura do coxo da porta Formosa do templo, quando, ao chamar o povo ao arrependimento e à conversão, anuncia o tempo do refrigério pela presença do Senhor, ou seja, as bênçãos decorrentes da salvação, mas, também, o fato de que Jesus voltaria do céu para promover a restauração de tudo (At.3:19,20).

-Paulo, como já dissemos, também, mais de uma vez, lembra os destinatários de suas epístolas que o servo de Cristo Jesus espera ir para o céu (I Ts.1:10; Fp.3:20,21).

-Não se pode deixar de considerar que o caminho da salvação é o caminho para o céu, que estamos indo para o céu. Como dizia um querido e saudoso irmão, o diácono Manoel Clóvis Machado e que serviu ao Senhor por mais de setenta anos: “eu me entreguei para Jesus para ir para o céu, por isso não posso descuidar e acabar deixando de ir para lá”.

-Como afirma o missionário e poeta sacro Samuel Nyström (1891-1960), primeiro presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB):

“Para o céu eu vou embora for nublado, o caminho, às vezes, espinhoso está, por Jesus, meu Mestre sempre bem guiado, em Seus passos sigo até que chegue lá. Aleluia! Pr’o céu vou caminhando, nada me desanimará! Para o céu eu me vou aproximando, sempre meu Jesus me guiará” (primeira estrofe e estribilho do hino 332 da Harpa Cristã).

-Aliás, ao recordamos este hino da Harpa Cristã, podemos observar que não só este hinário, que está a completar seu centenário, mas os hinários mais antigos das denominações ditas protestantes (Salmos e Hinos, Cantor Cristão, Antemas Celestes, Coros Sacros, Cantor Pentecostal, entre outros) são repletos de hinos que revelam o anelo do cristão pelo céu, a esperança de chegarmos ao céu.

-Em nossos dias, entretanto, os ditos “hinos” ou “cânticos” nem sequer mencionam o céu, procurando, antes, enaltecer o “eu” e a “prosperidade material”, numa clara demonstração da apostasia que tem caracterizado este tempo final da Igreja sobre a face da Terra.

-Esta promessa do Senhor Jesus foi como que presenciada pelo primeiro mártir da Igreja. Enquanto era injustamente acusado, Estêvão pôde ver os céus abertos e Nosso Senhor e Salvador em pé aguardando a chegada do Seu servo (At.7:54,55), e a revelação desta visão foi o estopim para que a multidão enfurecida matasse o diácono.

-Entretanto, estas palavras de Estêvão serviram de comprovação à Igreja de que o destino de todo servo fiel é o “terceiro céu”, o Paraíso, aonde levou o apóstolo Paulo para que nos contasse a respeito disto (II Co.12:2- 4).

-Na sua feliz alegoria, John Bunyan (1628-1688) não deixa despercebido este aspecto importantíssimo da vida cristã.

Cristão, orientado por Evangelista, vai à busca da porta estreita, mas, na verdade, o que diz ele: “Eu busco ‘uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder seu valor [I Pe.1:4], herança guardada e protegida nos céus [Hb.11:16] para ser revelada nos últimos tempos’…” (BUNYAN, John. Trad. de Simone Lacerda de Almeida e Viviane Borges Soares Andrade. O peregrino. Parte 1: as aventuras do peregrino, p.117).

-Quando iniciamos o caminho da salvação fazemo-lo com o objetivo de chegarmos aos céus. Não é à toa que o livro de Bunyan termina com Cristão e Esperançoso entrando na Cidade Celestial, pois este é o destino de todos aqueles que entram pela porta estreita.

III – IMPLICAÇÕES DE O DESTINO DO CRISTÃO SER O CÉU

-Tendo visto que o destino do cristão é o céu, porque para isto ele entra pela porta estreita, vejamos agora o que isto implica na vida cristã.

-Por primeiro, como o cristão sabe que seu destino é o céu, ele busca ajuntar tesouros nos céus e não na Terra (Mt.6:19), porque sabe que está apenas de passagem aqui, que sua morada permanente é o céu, onde viverá com o Senhor para todo o sempre.

-A perspectiva de estarmos indo para o céu dá a noção de que não se pode trocar as coisas eternas e duradouras pelas efêmeras e temporárias. Mostra a total insensatez de abrirmos mão daquilo que é perene, por aquilo que é passageiro.

-Não é por outro motivo que o inimigo de nossas almas busca, de todas as formas, fazer-nos ocupar nossa mente com coisas absolutamente supérfluas e fugazes, como são a fama, as riquezas materiais, a posição social, o poder político a fim de que, envolvidos com isto, percamos de vista as mansões celestiais.

-Entretanto, como bem ensina Salomão, que teve todas estas coisas, tudo não passa de vaidade e, como tal, são coisas encontradiças no caminho da perdição, o caminho “espaçoso”, que, conforme visto na lição anterior, é o caminho do “espaço vazio”, o caminho da “vaidade”.

-Ao contar a parábola do rico insensato, o Senhor Jesus bem disse qual a qualidade daquele que se deixa envolver por estas coisas.

Diz o Mestre que, após ter recolhido nos celeiros a fartura que acumulara e que era suficiente para que tivesse uma vida regalada dali por diante, foi pedida a sua alma e ele de nada pôde desfrutar. Deus o chama de “louco”, porque é loucura voltar-se para as coisas desta vida em detrimento do que é eterno.

-A consciência de que se está indo para o céu gera, então, o desapego às coisas terrenas e a busca das coisas espirituais.

Quem nasceu de novo, quem entrou pela porta estreita, quem ressuscitou com Cristo pensa nas coisas que são de cima e não nas que são da terra (Cl.3:1-3).

-Os discípulos do Senhor Jesus buscam primeiramente o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33), considerando que as coisas terrenas, mesmo as necessárias, são acréscimos, acessórios que nos serão dados pelo Senhor, mas que não prendem o nosso coração.

-Ninguém está aqui dizendo que o cristão não deve trabalhar para conseguir obter o seu sustento nem tampouco não deve se esforçar para que obtenha um lugar na sociedade que lhe permita ter uma vida minimamente digna, o que faz com que se preocupe com uma formação educacional e intelectual, com a busca de uma ocupação digna, com a formação de uma família, com o estabelecimento de uma habitação.

-Todas estas coisas são necessárias, como diz o próprio Cristo no sermão do monte (Mt.6:32), mas não são elas o objetivo, o alvo de nossa existência, sendo acréscimos, acessórios em nossa peregrinação terrena.

-Mas, além do desapego das coisas terrenas, a consciência de que estamos indo para o céu dá-nos esperança e bom ânimo para prosseguirmos a jornada.

-Como já salientamos, o Senhor Jesus renovou e explicitou a promessa de nos levar para o céu num instante em que a notícia de Sua separação física abalou os discípulos, que ficaram com seus corações turbados (Jo.14:1).

-A convicção de que iremos morar no céu dá-nos forças para suportar todas as tribulações pelas quais importa passarmos para entrar no reino de Deus (At.14:22).

-Superamos as consequências nefastas de nossos atos, as tentações e as provações somente porque sabemos que vamos para o céu, onde o Senhor limpará de nossos olhos toda lágrima e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor (Ap.21:4).

-Era esta a esperança do apóstolo Paulo, quando, sabendo que seria martirizado, pôde dizer ter combatido o bom combate, acabado a carreira e guardado a fé e que lhe esperava a coroa da justiça (II Tm.4:7,8).

-Quem tem consciência de que seu destino é o céu também tem uma vida de santificação. Entrando na graça pela fé, adquirimos firmeza e esta firmeza nos traz a esperança da glória de Deus (Rm.5:2), ou seja, estamos no caminho da salvação aguardando chegar à glória de Deus, estar na presença do Senhor onde Ele Se encontra no Seu trono.

-Esta esperança da glória de Deus, que nos permite suportar as tribulações, tribulações estas que nos trazem paciência e experiência, acaba gerando a esperança, que não traz confusão (Rm.5:3-5), esperança que nos leva a nos purificar (I Jo.3:3), pois sabemos que o Senhor é puro e que não há como entrarmos no céu se não estivermos lavados e remidos no sangue do Cordeiro (Ap.22:14), cujas vestes estiverem brancas (Ap.3:4,5).

-A consciência de que estamos indo para o céu faz-nos não só suportar as contrariedades desta vida, mas, também, fazer com que a nossa expectativa da glória de Deus se torne em esperança, esta âncora da alma (Hb.6:19).

-Por isso mesmo, quem tem consciência de que seu destino é o céu tem uma vida de vigilância, é prudente, procura desviar-se do mal, a exemplo do patriarca Jó (Jó 1:1,8; 2:3).

-A vigilância é fortemente exigida pelo Senhor a Seus servos (Mt.24:42; 25:13; 26:41; Mc.13:33,35,37; 14:34,38; Lc.21:36), como também pelos apóstolos (At.20:31; I Co.15:34; 16:13; I Pe.4:7; 5:8).

-Mui especialmente nos tempos em que estamos a viver, o “princípio de dores”, é fundamental estarmos a vigiar, porquanto há todo um trabalho intenso da parte de nosso adversário para que deixemos de ter o céu como alvo e nos distraiamos com as coisas desta vida, nos envolvamos com o pecado, seja diretamente, seja por meio de algum embaraço.

-Quem tem como alvo o céu sabe que, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14) e como diz a poetisa sacra Ingrid Anderson Franson, “no céu não entra pecado” (início da primeira estrofe do hino 422 da Harpa Cristã), de forma que não podemos colocar em risco a nossa santidade, se realmente estamos indo para o céu.

-Esta vigilância também é animada pela perspectiva de que, como sabemos que nosso destino é o céu, a eternidade, esta passagem para a dimensão eterna não tem data predeterminada, pode ocorrer a qualquer momento.

-Por primeiro, sabemos que, no dia do arrebatamento da Igreja, encontrar-nos-emos com o Senhor nos ares (I Ts.4:15-17). Ora, este dia não se sabe nem nunca se saberá quando será (Mt.24:36), ainda que o cumprimento dos sinais esteja nos mostrar que isto ocorrerá mui brevemente (Mc.13:29; Lc.21:31).

-Por segundo, como mencionava o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), “se Jesus não voltar, nós iremos”, ou seja, temos a perspectiva de, a qualquer momento, morrermos fisicamente, pois “para morrer basta estar vivo”, como diz conhecido adágio popular.

Também não sabemos o dia de nossa morte física e, quando ela vier, passaremos para a eternidade, não mais podendo alterar a nossa situação espiritual.

-A consciência de que estamos indo para o céu faz-nos ter, portanto, uma visão realista a respeito de nossa existência sobre a face da Terra, faz-nos compreender que “…toda carne é como erva, e toda glória do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor” (I Pe.1:24).

-Diante desta consciência, não nos deixamos iludir com as vaidades mundanas e podemos repetir as palavras do pastor, missionário e poeta sacro Justus Henry Nelson (1850-1937): “Sua vinda aguardo eu cantando ‘Meu lar no céu’, Seus passos hei de ouvir soando além do escuro véu. Passarinhos, belas flores querem m’encantar. São vãos terrestres esplendores mas contemplo meu lar” (quarta estrofe do hino 36 da Harpa Cristã).

-Quem tem consciência de seu destino é o céu dedica-se ao serviço, é o “servo fiel e prudente” que será encontrado pelo Senhor quando do encontro de Cristo com a Igreja nos ares (Cf. Mt.24:45,46).

-Quem sabe que está indo para o céu tem conhecimento de que a primeira coisa que se fará quando houver a reunião dos salvos com Jesus Cristo será o Tribunal de Cristo, onde haveremos de prestar contas pelo que fizemos por meio do corpo (Rm.14:10; II Co.5:10).

-O salvo sabe que o Senhor é o galardoador daqueles que O buscam (Hb.11:6) e que Jesus está com o galardão de cada um de Seus discípulos para dar a cada um segundo a sua obra (Ap.22:12).

-O salvo é aquele que, no caminho apertado, tomou a sua cruz, sabendo que a trocará por uma coroa na eternidade e, por isso mesmo, é dedicado ao serviço, procurando fazer tudo quanto o Senhor lhe mandar.

-Bem por isso, quando temos convicção de que nosso destino é o céu, batalhamos pela fé que uma vez foi dada aos santos (Cf. Jd.3) e praticamos sempre boas obras, porque elas foram criadas para que nós andássemos nelas (Ef.2:10).

-A presença de boas obras na vida do cristão, aliás, é uma demonstração de que está ele a produzir o fruto do Espírito, porque, como ensinou o Senhor Jesus, a árvore boa produz bons frutos (Mt.7:17).

-Quem tem consciência de que seu destino é o céu não se escandaliza, ou seja, não desanima nem sai do caminho da salvação porque outros o fizeram, porque outros tropeçaram.

-Jesus é pedra de tropeço e rocha de escândalo para aqueles que são rebeldes, insubmissos ao Senhor, desobedientes (I Pe.2:6-8).

Assim, se, infelizmente, como diz o missionário, pastor e poeta sacro Samuel Nyström, “Amigos velhos voltem-se pra trás”, devemos dizer como o poeta: “Forte sigo com o Senhor Jesus ao lado, convidando a outros aceitar a paz” (terceira estrofe do hino 332 da Harpa Cristã).

-A crescente apostasia e frieza espirituais que estamos a observar, bem como a proliferação de escândalos devem ser vistos, por aqueles que sabem que seu destino é o céu, como mais um sinal de que Nosso Senhor e Salvador está às portas e que, por isso mesmo, devemos redobrar a vigilância, o serviço e a prática de boas obras, porque o que de há de vir virá e não tardará.

-Por isso mesmo, quem sabe que seu destino é o céu caracteriza-se pela obediência, porque sabe que a obediência é absolutamente necessária para chegarmos ao trono da graça, pois Cristo aprendeu a obediência (Hb.5:8), sendo obediente até a morte (Fp.2:8).

-Deste modo não há como se chegar ao céu senão pela obediência e bem por isso quem tem convicção de que seu destino é o céu anda com temor e tremor durante a sua peregrinação terrena (Ef.6:5), pois é assim que temos de desenvolver a nossa salvação (Fp.2:12 NAA).

-Por fim, quem tem consciência de que seu destino é o céu anela pelo céu, deseja a pátria celestial, quer ir para lá o quanto antes, ama a vinda do Senhor (Cf. II Tm.4:8), porque sabe que lá é um lugar melhor do que aqui e poderemos desfrutar do amor de Deus em toda a sua plenitude, como também da Sua glória, pois “…as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm.8:18b), como também que “…as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam” (I Co.2:9b).

-Como diz o poeta sacro Jonathan Bush Atchinson, (1840-1882) traduzido por Manuel de Arruda Camargo (1870-1936), no estribilho do hino 625 da Harpa Cristã: “Jamais se contou ao mortal! Jamais se contou ao mortal! Metade da glória celeste jamais se contou ao mortal!”. Quem não deseja isto que é muito mais sublime do que podemos imaginar?

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10416-licao-3-o-ceu-o-destino-do-cristao-i

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