LIÇÃO Nº 3 – O COMPORTAMENTO DOS SALVOS EM CRISTO
Paulo, no seu cuidado com os filipenses, mostra-nos como deve ser a conduta do cristão autêntico.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos filipenses, verificaremos hoje como Paulo entendia dever se comportarem os servos de Jesus Cristo.
– A vida cristã caracteriza-se por uma conduta diferente daquela de quem não tem a salvação em Cristo Jesus.
I – O CRISTÃO DEVE TER UM COMPORTAMENTO DIGNO CONFORME O EVANGELHO DE CRISTO
– Na continuidade de sua carta aos filipenses, o apóstolo Paulo, ciente de que permaneceria mais um tempo sobre a face da Terra, tinha um só propósito: o de que sua permanência servisse para proveito daqueles crentes e para o gozo da sua fé (Fp.1:25).
– O apóstolo tinha plena consciência de que seu viver era única e exclusivamente para fazer a vontade de Deus, não mais vivia para si mas para Deus (Gl.2:20). Em sendo assim, o prolongamento da sua vida nada mais podia representar senão de que deveria continuar o seu trabalho para conduzir os homens ao conhecimento do Evangelho e, uma vez obtida a salvação destas pessoas, fazer com que elas prosseguissem na jornada da fé até o fim, até a morte.
– Paulo sabia que os crentes, assim como ele, deveriam desejar estar com Cristo, deveriam viver a vida na fé do Filho de Deus e, para tanto, sem deixar perder um só segundo, iniciou o cumprimento deste propósito na própria epístola, fazendo com que os crentes tivessem um comportamento que os fizesse assim como ele, ou seja, como alguém que tinha convicção de que se encontraria com o Senhor Jesus após a peregrinação terrena.
– Não é por outro motivo, portanto, que o apóstolo, logo após dizer que permaneceria na Terra para proveito e gozo da fé daqueles crentes, ter dito que a finalidade disto é que a glória dos filipenses abundasse por ele em Cristo Jesus pela sua ida até eles (Fp.1:26).
– Os filipenses não deveriam se alegrar apenas pela chegada de Paulo até Filipos, pelo livramento que o Senhor lhe daria, mas, muito mais do que isto, o desejo do apóstolo é que esta alegria se desse em Cristo Jesus. Paulo queria apenas ser o motivo da alegria, mas tal alegria deveria se dar em Cristo.
– Temos aqui, portanto, uma expressão muito presente nas epístolas de Paulo e que é muito importante para entendermos o que o apóstolo entende ser a tônica da vida cristã. É a expressão “estar em Cristo Jesus”. O
apóstolo, inclusive, define o cristão como aquele que está em Cristo, pois “ se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo” (II Co.5:17).
– Tal expressão aparece em o Novo Testamento quando que somente nos escritos de Paulo, a demonstrar, como afirma o teólogo escocês James D.G. Dunn (1939- ), que se trata de “…um traço característico e distintivo da teologia de Paulo (A teologia do apóstolo Paulo. Trad. de Edwino Royer, p.455).
– A expressão “em Cristo”, entre outros sentidos, ocorre “…quando Paulo tem em mente a sua própria atividade ou exorta seus leitores a adotar determinada atitude ou procedimento de ação.(…). O uso da expressão brota em Filipenses quando Paulo tenta persuadir os destinatários a adotar atitudes mais positivas: ‘irmãos, encorajados no Senhor a falar a palavra de Deus (1,14); Paulo ‘espera no Senhor’ e tem fé no Senhor quanto às suas atividades futuras (2,19.24); pede que eles recebam Epafrodito ‘no Senhor com toda a alegria’ (2,29); convida-os a ‘regozijarem-se no Senhor’ (3,1), a ‘permanecerem firmes no Senhor’ (4,1), a ‘serem unânimes no Senhor’ (4,.2), e a ‘alegrarem-se sempre no Senhor’ (4,4), como ele mesmo faz (4,10) (…). A visão de Paulo de toda a sua vida como cristão, sua fonte, sua identidade e suas responsabilidades poderia ser resumida nessas expressões.…” (DUNN, James D.G. Trad de Edwino Royer, op.cit., pp.456-7).
– Nesta expressão, o apóstolo Paulo mostra, com clareza, que ser cristão não é meramente ter fé em Jesus, crer em Jesus, mas ter com Ele uma experiência, a experiência com o Cristo ressuscitado e vivo, a mesma experiência que o apóstolo teve no seu encontro pessoal com o Senhor no caminho de Damasco.”…Paulo evidente se sentiu arrebatado ‘em Cristo’ e conduzido por Cristo. Em certo sentido experimentava Cristo como o contexto de todo o seu ser e agir…”(DUNN. James D.G. op.cit., p.459). Como afirma ainda o já mencionado teólogo, trata-se da experiência da presença de Cristo em todas as nossas atividades, consciente ou inconscientemente.
– Percebemos, portanto, que, quando o apóstolo Paulo fala aos filipenses que a alegria deles deveria ser em Cristo Jesus, está a indicar àqueles crentes que toda a vida do cristão deve ser vivida em função de Jesus Cristo, pois não mais vivemos para nós mesmos mas para o Senhor.
– É por isso mesmo que o apóstolo passa a se preocupar com o comportamento que os crentes de Filipos deveriam ter, pois quem é verdadeiramente cristão está “em Cristo Jesus”, ou seja, experimenta uma comunhão com o Senhor Jesus de tal modo que toda a sua vida, todas as suas atividades são exercidas em função desta comunhão que existe entre ele e Jesus, depois do encontro pessoal que lhe trouxe a salvação.
– Nos dias em que vivemos, esta lição do apóstolo Paulo é extremamente pertinente, pois vivemos numa época em que muitos querem compartimentar suas vidas, segmentar a nossa vida, como se fosse possível separar departamentos da vida em que se siga ao que ensinam as Escrituras e, em outros, onde a Bíblia é dispensada em sua aplicação, gerando, assim, hipócritas religiosos, que não vivem de acordo com os princípios em que afirmam crer.
– Paulo é bem claro aos filipenses que eles deveriam estar “em Cristo”, ou seja, terem toda a sua vida comprometida com os ensinos e a doutrina ensinada pelo Senhor Jesus e pelos Seus apóstolos, o que o apóstolo chama de “portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo”.
– A vida cristã não é uma vida teórica, não se trata de termos conhecimento intelectual dos preceitos bíblicos, de sabermos o conteúdo das Escrituras, mas, sim, uma vida que tem de ser teórico-prática, ou seja, é necessário termos o conhecimento do conteúdo da Bíblia, algo que tem faltado muito em nossos dias tão difíceis, onde o “analfabetismo bíblico” grassa, mas que este conhecimento se revele em atitudes, em que vivamos o que aprendemos da parte do Senhor.
– Esta era a diferença entre Jesus e os fariseus. O Senhor somente ensinava aquilo que fazia (At.1:1), por isso tinha autoridade em Seu ensinamento (Mt.7:28,29), ao contrário dos fariseus, que ensinavam mas não
praticavam aquilo que ensinavam (Mt.23:2,3). O Senhor manda-nos ser como Ele, termos uma justiça superior a dos escribas e fariseus (Mt.5:20), ser ouvintes praticantes e não somente ouvintes do que nos é ensinado (Tg.1:22).
– O verdadeiro e genuíno servo de Jesus não é aquele que apenas ouve o que o Senhor ensina, mas que pratica o que foi ouvido (Mt.7:24-27). Muitos que cristãos se dizem ser terão e têm tido grandes quedas, fracassos espirituais precisamente porque não põem em prática aquilo que ouviram da parte do Senhor. Qual é a nossa condição, amados irmãos?
– Temos de “nos portar dignamente conforme o evangelho de Cristo”. Este era o desejo do apóstolo e o que Paulo queria ver quando fosse novamente ver os filipenses. Este desejo do apóstolo não era circunscrito aos filipenses, mas a todas as igrejas. É o desejo genuíno de todo e qualquer ministro de Cristo, que tem a sua alegria em ver que os crentes estão vivendo de acordo com a Palavra de Deus.
– Não é por outro motivo, aliás, que, ao escrever aos coríntios, o apóstolo demonstra todo o seu desagrado com as notícias que havia recebido daqueles irmãos, dizendo que, por causa delas, tinha receio de, quando fosse até eles, os encontrasse reprovados, precisamente porque não estavam eles a permanecer na fé (II Co.13:1-10).
– Não podemos dissociar o nosso comportamento da nossa fé. Muitos se iludem com a ideia de que a fé é um ato interno, espiritual, o assentimento do que consta nas Escrituras a respeito da salvação por intermédio de Jesus Cristo, uma adesão voluntária à proposta do Evangelho e que, portanto, não precisa se exteriorizar em atitudes concretas, no dia-a-dia do cidadão.
– No entanto, se é verdade que a justificação se dá pela fé em Jesus (Rm.5:1), que está fé vem pela Palavra de Deus (Rm.10:17) e que independe de qualquer obra humana para se aperfeiçoar no salvo (Ef.2:8,9), não é menos verdadeiro que a fé produz boas obras (Tg.2:17), que somos salvos para produzir frutos permanentes (Jo.15:16).
– O apóstolo queria ouvir a respeito dos filipenses que eles se portavam dignamente conforme o evangelho de Cristo, queria ter notícias a respeito da conduta cotidiana dos filipenses, de que estavam a viver de acordo com a Palavra de Deus, a fazer o que a Bíblia nos manda fazer.
– O que os obreiros que estiveram nos presidindo na igreja local a que pertencemos andam ouvindo a nosso respeito, amados irmãos? Como tem sido o nosso comportamento ao longo desta nossa peregrinação terrena? Temos andando conforme o evangelho de Cristo? Eis algumas questões para refletirmos durante este estudo!
– Paulo, diante da revelação recebida do Senhor, sabia que iria novamente a Filipos, que veria novamente os irmãos, até porque não estavam eles ainda devidamente preparados para suportar a sua partida para a eternidade, mas o apóstolo, embora estivesse contente em poder ver os irmãos que tanto amava, não tinha isto como um objetivo supremo de sua vida. Sua maior alegria era ouvir que os filipenses estavam a andar dignamente conforme o Evangelho de Cristo, pois, se ouvisse isto, teria a convicção de que seu trabalho tinha sido exitoso naquela colônia romana.
– Esta alegria de Paulo com o comportamento conforme o evangelho de Cristo não era algo que surgira agora, quando se encontrava no ocaso de seu ministério. Era uma constante na vida do apóstolo. Na sua primeira carta, a que escreveu aos tessalonicenses, o apóstolo já demonstrava que esta era a principal razão de sua alegria, quando afirmou que todos falavam a respeito da mudança de comportamento vivida por aqueles crentes que “…dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus a Seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura.” (I Ts.1:9,10).
– Portar-se dignamente conforme o evangelho de Cristo, portanto, nada mais é que ter uma mudança de comportamento, de tal maneira que haja uma “conversão”, ou seja, uma mudança de direção na vida, o abandono de práticas pecaminosas e a assunção de uma nova maneira de viver, de separação do pecado, ou seja, de santidade. É o que o próprio Paulo escreve aos efésios, neste mesmo período de prisão em Roma, quando afirma categoricamente que “…noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como os outros também…” (Ef.2:2,3).
– A vida cristã faz com que não mais façamos aquilo que todos fazem, pois, agora, não somos mais “maria- vai-com-as-outras”, mas navegamos contra a correnteza, contra a maré, visto que não mais satisfazemos o pecado e o mundo, mas passamos a obedecer a Palavra de Deus, a viver segundo os ensinamentos que nos deixou o Senhor Jesus.
– Muitos, na atualidade, porém, têm negligenciado este aspecto comportamental dos crentes em Cristo Jesus e não querem mudar seu procedimento, tendo uma vida completamente adaptada aos valores e princípios vividos pelo mundo, que são de flagrante desobediência ao quanto ordenado pelo Senhor na Sua Palavra. Querem viver como os outros que não servem ao Senhor, apenas com a diferença de que frequentam, normalmente aos domingos à noite, uma igreja.
– Nada mais enganoso, amados irmãos! O apóstolo Paulo mostra aqui, com absoluta clareza, que devemos ter uma vida cotidiana, uma vida diária de conformidade ao evangelho de Cristo, a fim de que todos que nos vejam, e aqueles que não vejam mas ouçam a nosso respeito, saibam que, em todos os lugares, em todos os momentos, estamos a praticar aquilo que aprendemos na Palavra do Senhor. Isto é ser verdadeiramente um cristão.
II – A UNIDADE COMO BASE PARA UM COMPORTAMENTO DIGNO CONFORME O EVANGELHO DE CRISTO
– Paulo, ao afirmar que desejava que os filipenses tivessem um porte digno conforme o evangelho de Cristo, fundamentou tal conduta na unidade da igreja. Disse o apóstolo dos gentios: “ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do Evangelho” (Fp.1:27).
– O apóstolo queria ouvir dos filipenses, em primeiro lugar, que eles estavam unidos, num mesmo espírito. Não há que se falar em vida cristã se ela não se der em comunidade, se ela não se der na igreja local. A vida cristã exige a presença da Igreja, pois foi esta que o Senhor edificou. O corpo de Cristo é a Igreja e somente nela poderemos desfrutar plenamente de uma vida espiritual genuína e autêntica.
– Os crentes de Filipos tinham podido ajudar o apóstolo até aquele momento e tido uma fé eficaz e eficiente porque viviam como igreja, estavam juntos, unidos, num mesmo espírito. Havia comunhão dos filipenses não só com o Senhor Jesus, mas com os demais irmãos e era isto que fazia daquela igreja uma parcela do corpo de Cristo, que fazia com que as suas orações fossem ouvidas nos céus, a ponto de o Senhor ter postergado o término do ministério do apóstolo.
– A salvação é individual, porque cada um responde individualmente perante o Senhor a respeito da questão da eternidade (Ez.18:20), mas a vida cristã, a vida espiritual é vivida em comunhão com os demais irmãos, porque não é bom que o homem esteja só (Gn.2:18).
– Estamos em Cristo e estar em Cristo significa pertencer a Ele e ao Seu corpo, que é a Igreja (Rm.7:4; I Co.12:27). Este corpo é formado por partes, que são seus membros em particular, que não podem viver separadamente, assim como não podem viver separadamente cada integrante de nosso organismo, de nosso corpo (I Co.12:12-27).
– Quando o Pai revelou a Pedro que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo, o Senhor logo revelou aos Seus discípulos o mistério da Igreja (Mt.16:18) e foi claríssimo ao afirmar que a promessa de prevalência sobre as portas do inferno era dada à Igreja, não aos seus membros em particular.
– Se fomos salvos, não somos de nós mesmos, passamos a pertencer a Cristo, por quem fomos comprados por bom preço (I Co.6:19,20) e se somos de Cristo e pertencemos a Ele, isto faz com que passamos a fazer parte do corpo de Cristo e, como tal, somos membros em particular, que dependemos dos outros irmãos para podermos prevalecer sobre as portas do inferno, para podermos perseverar até o fim e alcançarmos a salvação.
– É este, aliás, o sentido pelo qual o pão, na ceia do Senhor, é partido (I Co.11:23,24), antes de ser tomado e comido pelos irmãos (prática, aliás, que muitos, antibiblicamente, têm abandonado). O corpo de Cristo é formado de partes, partes que dependem umas das outras, partes que têm a mesma essência, pois todas são lavadas e remidas no sangue de Cristo e se mantêm apartadas do pecado, mas que não podem subsistir se não estiverem em comunhão, num mesmo espírito, num mesmo sentir, num mesmo viver.
– Os irmãos devem viver em união, como diz o salmista (Sl.133:1), pois só nesta união se terá a presença do Espírito Santo em todo o corpo, da cabeça aos pés, como o próprio Davi ilustra no salmo, onde se descreve o óleo da unção posto sobre a cabeça do sumo sacerdote e atingindo até a orla dos seus vestidos. Quando há união, a bênção e a vida são sempre ordenadas pelo Senhor.
– Para que haja um porte digno conforme o evangelho de Cristo, é absolutamente necessário que, na igreja local, os crentes tenham um mesmo espírito, tenham união, a fim de que desta união advenha a unidade.
– Escrevendo aos efésios, o apóstolo volta a falar sobre esta necessidade da unidade para que se tenha o porte digno conforme o evangelho de Cristo. Diz o apóstolo que andar dignamente segundo a vocação com que fomos chamados pelo Senhor é “suportarmo-nos uns aos outros e procurar guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, pois “há um só corpo, um só Espírito, uma só esperança da vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef.4:1-5).
– O corpo de Cristo é um só, pois o Senhor disse que edificaria “a Sua Igreja”. Não disse o Senhor que edificaria “várias igrejas”, mas uma única Igreja. Se, portanto, há um só corpo, não se pode criar neste corpo divisões ou separações que impeçam a nossa comunhão.
– Quando falamos aqui na unidade, é evidente que estamos a falar na unidade espiritual, pois este corpo de Cristo é o Seu corpo místico, ou seja, trata-se da Igreja enquanto povo de Deus, enquanto nação espiritual. É evidente que este corpo está espalhado pelo planeta através de muitas denominações, de muitas igrejas locais, mas se trata de um único corpo, corpo este que faz com que seus membros em particular andem sempre em comunhão uns com os outros, participantes ambos de colaboração mútua em prol do reino de Deus e do testemunho público da salvação em Cristo Jesus.
– Este corpo de Cristo tem também um só Espírito. O Espírito Santo está presente em todo o corpo de Cristo. Assim como o óleo precioso desceu da cabeça de Arão até a orla dos seus vestidos, de igual maneira, o Espírito Santo está presente em toda a Igreja, em todos os membros em particular. Nem poderia ser diferente porque, quando cremos em Jesus como nosso único e suficiente Senhor e Salvador, recebemos o Espírito Santo, tornamo-nos habitação do Espírito Santo (Jo.14:16,17).
– A falta da presença do Espírito Santo em alguém faz com que ele não seja membro da Igreja. São estes que não se guiam pelo Espírito Santo (Rm.8:14), que não se movem senão pelos sentidos deste mundo, causando, entre outras coisas, divisões no meio da Igreja (Jd.19).
– Havendo um só Espírito, todos os genuínos, autênticos e verdadeiros cristãos são conduzidos na mesma direção, praticam as mesmas obras, têm todos o mesmo intuito, já que o Espírito é o mesmo. É, por este motivo, amados irmãos, que todos os cristãos têm um mesmo sentimento, um mesmo porte espiritual, um
mesmo comportamento, que é moldado pela Palavra de Deus, até porque o Espírito Santo é o Espírito de verdade (Jo.14:17), que nos guia segundo a verdade (Jo.16:13), que outra não é senão a Palavra do Senhor (Jo.17:17).
– Esta unidade, repetimos uma vez mais, é espiritual, não devendo ser confundida com aspectos puramente humanos, como dados culturais. Barnabé, ao ser mandado pelos apóstolos a Antioquia, para que fosse verificar a notícia do surgimento da primeira igreja gentílica, ao ali chegar alegrou-se ao ver a graça de Deus naquelas pessoas, tendo, inclusive, as exortado para que permanecessem no Senhor com propósito do coração (At.11:23).
– É evidente que Barnabé, ao ver aqueles crentes, verificou que eles eram bem diferentes dos crentes judeus, tinham outra cultura, outros costumes, mas, no aspecto espiritual, verificou que eles haviam deixado o modo de viver pecaminoso e passado a seguir o evangelho. Isto era a “graça de Deus”, a presença da “fé no Senhor”, o que os tornava unidos aos crentes judeus, integrantes plenos da Igreja.
– De igual maneira, a Igreja hoje prossegue sendo assim, com diferenças culturais, decorrentes de aspectos humanos, mas todos tendo o mesmo Espírito, sendo guiados em toda a verdade, sendo moldados segundo a Bíblia Sagrada.
– Mas, além de um só corpo e um só Espírito, Paulo diz, também, que os que andam dignamente conforme o evangelho de Cristo têm, também, “uma só esperança da sua vocação” (Ef.4:4). Ou seja, os genuínos e autênticos cristãos estão esperando o Senhor Jesus, algo que, como já vimos supra, foi também asseverado pelo apóstolo na sua primeira carta aos tessalonicenses (I Ts.1:10).
– A Igreja está de passagem nesta terra, é aqui peregrina, não almeja qualquer posição neste mundo, mas está a caminhar em direção à cidade celestial, consoante a bíblica expressão da Constituição dogmática “Lumen gentium”, o principal documento doutrinário da Igreja Romana, no Concílio Vaticano II, que, por sua biblicidade, aqui reproduzimos: “…o novo Israel que, caminhando no presente tempo, busca a futura cidade perene (cf. Hb. 13:14), também é chamado de Igreja de Cristo (cf. Mt.16:18)…” (Constituição dogmática “Lumen Gentium” n.9. In: VIER O.F.M., Frei Frederico (coord.). Compêndio do Vaticano II, p.49).
– Somos chamados para habitarmos a cidade celeste, da qual aguardamos o Senhor Jesus (Fp.3:20) e, portanto, como todos temos um mesmo destino proposto a nós, temos de andar juntos, com o mesmo proceder, no mesmo caminho, que é apertado, após termos entrado pela mesma porta, que é estreita (Mt.7:14), pois todos vamos para o mesmo lugar.
– Esta união, que nos leva à unidade, advém, também, do fato de que temos um só Senhor e um só Deus e Pai de todos (Ef.4:5,6). Se assim é, recebemos as mesmas ordens, os mesmos mandamentos, da parte de um Senhor e Deus que não muda (Ml.3:6), que é sempre o mesmo (Hb.13:8), n’O qual não há sombra de variação (Tg.1:17).
– Por isso, não há como fazermos coisas diversas, termos comportamentos antagônicos, uma vez que este corpo tem uma só cabeça, que é Cristo (Ef.1:22; 5:23), que, como já vimos, não muda e nos deixou plenamente conhecida a vontade do Pai para que a possamos seguir enquanto estivermos nesta nossa peregrinação terrena (Jo.15:15; At.1:1,2).
– Esta é a união e unidade de que Paulo fala aos filipenses, o “mesmo espírito” que queria ouvir que estava sendo seguido pelos crentes de Filipos, oitiva esta que desejava mais até do que rever os crentes em Filipos.
– Com esta união e unidade, os crentes de Filipos poderiam ter outra característica imprescindível para todo cristão genuíno e autêntico: o combate conjunto com o mesmo ânimo pela fé do Evangelho (Fp.1:27).
– Paulo queria ouvir falar que os filipenses juntamente combatendo com ânimo pela fé do Evangelho. Assim como o apóstolo, mesmo preso, continuava a lutar contra as hostes espirituais da maldade, fazendo a vontade de Deus e evangelizando mesmo dentro do presídio, os crentes de Filipos também deveriam evangelizar, levar a Palavra de Deus àqueles que estavam escravizados pelo pecado, fazendo isto com união e unidade, cada qual participando naquilo que haviam sido chamados pelo Senhor a fazê-lo.
– A evangelização, o combate pela fé do evangelho, é uma demonstração da união e unidade do povo de Deus, é um elemento que nos permite verificar se os cristãos estão, ou não, se portando dignamente conforme o evangelho de Cristo. Paulo, falando aos tessalonicenses, em sua primeira epístola, fala que a pregação do evangelho em Tessalônica se deu “com grande combate” (I Ts.2:2).
– Dentro deste aspecto, como salientamos já na lição anterior, vemos que o “termômetro espiritual” de muitos que cristãos se dizem ser está a mostrar um frieza espiritual preocupante e que revela uma desconexão entre eles e a cabeça, que é Cristo Jesus.
– O Senhor mandou que todos pregássemos o Evangelho a toda criatura por todo o mundo e, no entanto, são poucos, muito poucos os que estão a cumprir este mandado de Cristo. Basta ver o número de pessoas convidadas pelos irmãos para as reuniões da igreja local para vermos quanto isto tem sido negligenciado em nossas igrejas na atualidade. OBS: Por oportuno, reproduzimos aqui trecho de catequese do atual chefe da Igreja Romana, a respeito disto: “…Evangelizar é a missão da Igreja e não apenas de alguns, mas a minha, a sua, a nossa missão. O apóstolo Paulo exclamou: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1 Cor 9,16). Todos devem ser evangelizadores, especialmente com a vida! Paulo VI destacou que “Evangelizar… é a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar” (Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 14).…” (FRANCISCO. Catequese de 22 de maio de 2013. Disponível em: http://papa.cancaonova.com/catequese-do-papa-francisco-sobre-a-acao-do-espirito-na-evangelizacao- 220513/ Acesso em 23 maio 2013).
– É sem dúvida um eloquente fator de demonstração de nossa pertinência ao corpo de Cristo o exercício e desempenho da vocação a que fomos chamados pelo Senhor, que tem na evangelização, no ganhar almas para o reino de Deus, um fator proeminente e relevantíssimo.
– No entanto, amados irmãos, o que percebemos é que, nos dias tão difíceis pelos quais passamos, muitos dos que cristãos se dizem ser não têm sequer a noção de que se encontram em meio a um “combate pela fé do Evangelho”. Muito pelo contrário, desconhecem, por completo, que vivemos em permanente luta contra as hostes espirituais da maldade, em uma guerra espiritual. Como bem salientou o pastor Bruno Skolimovski (1884-1961), um dos pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil, “o povo de Deus aqui na Terra, tem um sinal, povo que vive em santa guerra contra o mal; povo que espera a Jesus Cristo, que presto vem. É pois Ele mesmo quem nos diz isto: ‘Vigia mui bem’.” (primeira estrofe do hino 455 da Harpa Cristã).
– Quando temos a noção de que estamos em guerra contra o diabo e seus anjos, contra o pecado e o mundo, despertamos para a realidade de que devemos estar no exército de Cristo, batalhando, juntamente com os demais soldados alistados pelo Senhor Jesus, para salvar as almas da perdição e vencermos todas as astutas ciladas do diabo, revestindo-nos da armadura de Deus (Ef.6:11).
– No entanto, muitos, hoje, encontram-se, assim como o levita mencionado em Jz.17:9,, atrás de comodidade, num torpor espiritual que o faz querer viver em paz neste mundo, como se isto fosse possível para quem se porta dignamente conforme o evangelho de Cristo. Por isso, busca adaptar-se ao mundo, concorda com tudo o que o mundo faz e pratica, com tudo o que o mundo quer impor sobre nós, comportamento este que o faz se desconectar com a videira verdadeira, que é Cristo Jesus, deixando, assim, de produzir fruto e, lamentavelmente, sendo cortado, lançado fora e sendo candidato à ser queimado no momento oportuno pelo juízo divino (Jo.15:2-6).
– Paulo dizia aos filipenses que eles deveriam combater juntos pela fé do Evangelho, devendo, por isso, lutar para que muitos fossem atingidos pelo evangelho de Cristo, a partir de seus próprios testemunhos, de seu próprio porte digno, que é, sempre, a maior e mais audível pregação que podemos dar aos incrédulos.
– Neste combate espiritual indispensável a quem pertence ao corpo de Cristo e quer se comportar dignamente conforme o evangelho de Cristo, vemos a grande diferença entre o cristão e outros grupos religiosos, como, por exemplo, os muçulmanos.
– Quando se fala em combate com o mesmo ânimo pela fé do evangelho, torna-se quase impossível não fazer aqui um paralelo com o conceito islâmico da “jihad”, considerado como o “sexto pilar” da fé muçulmana por muitos segmentos do Islamismo e que é hoje a principal fonte de inspiração para o vertiginoso crescimento da religião muçulmana em todo o mundo, religião esta que é a que mais cresce na atualidade no planeta.
– A “jihad” é “o esforço”, o “empenho”, uma “luta” para levar aos outros a fé islâmica. No Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, é dito que “…Allah prefere os lutadores, com suas riquezas e com si mesmos, aos ausentes, dando-lhes um escalão acima destes. E a ambos Allah promete a mais bela recompensa. E Allah prefere os lutadores aos ausentes, dando-lhes magnífico prêmio…” (4:95b), ou, ainda, “…E combatei, no caminho de Allah, os que vos combatem, e não cometais agressão. Por certo, Allah não ama os agressores. E matai-os, onde quer que os acheis, e fazei-os sair de onde quer quer vos façam sair(…). Então, se eles vos combaterem, matai-os. Assim é a recompensa dos renegadores da Fé. E, se eles se abstiverem, por certo, Allah é Perdoador, Misericordiador. E combatei-os, até que não mais haja sedição pela idolatria e que a religião seja de Allah. Então, se se abstiverem, nada de agressão, exceto contra os injustos. (2:190-193).
– Nota-se, portanto, que, enquanto os muçulmanos falam em uma luta corporal e imposição da fé pela força das armas, o Evangelho fala de uma luta espiritual, em que as armas não são carnais, mas espirituais (II Co.10:4). Todavia, muitos que cristãos se dizem ser estão confiando mais em armas carnais do que nas espirituais, até porque, como já vimos, não têm o Espírito, não são espirituais.
III – A RESISTÊNCIA AO COMBATE PELA FÉ DO EVANGELHO
– Neste combate conjunto pela fé do Evangelho está o esforço, o empenho pela propagação do Evangelho, mediante uma vida exemplar, sincera e devota diante de Deus, como também mediante a participação de todos na evangelização, inclusive através de meios pacíficos e ordeiros com vistas a impedir o domínio da mentalidade mundana e anticristã na condução da sociedade.
– Neste combate, como em toda ação, haverá uma reação, uma resistência. O apóstolo queria mostrar aos filipenses que o fato de a vontade de Deus se cumprir e de nós a cumprirmos, isto, de modo algum, representaria a ausência de oposição e de resistência Afinal de contas, ainda que o Evangelho estivesse sendo pregado por Paulo, ele se encontrava preso por causa desta mesma oposição, desta mesma resistência.
– Por isso, o apóstolo faz questão de dizer aos filipenses que eles não se espantassem com os que resistiam, com aqueles que iriam se opor a este combate pela fé do Evangelho, com aqueles que não comungariam com o desejo de salvação das almas, com o desejo da evangelização (Fp.2:28).
– O próprio apóstolo já dissera aos filipenses que muitos estavam a pregar o Evangelho em Roma não por amor ou por dedicação à causa do Senhor, mas, única e exclusivamente, para acrescentar ao apóstolo aflições às suas prisões (Fp.1:17), agindo por inveja, porfia e contenção (Fp.1:15,17).
– Isto que ocorreu com o apóstolo em Roma, ocorreria em Filipos e continua a ocorrer em nossos dias em todas as igrejas locais. Lamentavelmente, no meio dos verdadeiros e genuínos cristãos, existem falsos irmãos, que não são espirituais, que não são guiados pelo Espírito Santo, mas que se intrometem no meio dos servos de Deus para perturbar o povo de Deus.
– Tais pessoas não têm o Espírito, são sensuais, causam divisões (Jd.19) e não produzem o fruto do Espírito, mas tão somente as obras da carne (Gl.5:19-21), entre as quais se encontram a inveja, a porfia e a contenção.
Não podemos, pois, nos escandalizar quando encontrarmos resistência no meio da igreja local quando estamos tão somente a querer fazer cumprir a vontade do Senhor.
– Esta resistência não vem apenas “de fora” da igreja, mas, também, vem “de dentro” dela, visto que há muitos que entre nós estão mas que não são verdadeiros e genuínos servos do Senhor, máxime nos dias de apostasia que estamos a viver. São pessoas que deram ouvidos a espíritos enganadores, a doutrinas de demônios e que, por isso, apostataram da fé (I Tm.4:1), pessoas que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, seguindo as suas dissoluções e causando a blasfêmia do caminho da verdade (I Pe.2:1,2).
– Não devemos nos espantar com a resistência que surgir quando nos dispormos a cumprir a vontade do Senhor, a nos portar dignamente conforme o evangelho de Cristo, pois isto é a reação das hostes espirituais da maldade contra a nossa postura decidida de servir a Deus autêntica e verdadeiramente.
– Quando há tal resistência, muitas vezes inesperada por nós pelo menos no que toca a quem se levanta contra nós, o apóstolo Paulo afirma que se trata de um “atestado de autenticidade” de nossa fé. A resistência é um indício de perdição para o que resiste a Deus, mas um indício de salvação para aquele que sofre a resistência. É algo que vem da parte de Deus como que autenticando a nossa fé e o nosso compromisso com Ele.
– Não nos esqueçamos do que nos disse o Senhor Jesus, ou seja, de que, quando todos estiverem falando bem de nós, devemos “acender um sinal amarelo” em nossa vida espiritual, pois não é esta a atitude que se espera dum verdadeiro servo do Senhor, visto que um tratamento desta maneira só foi dispensado aos falsos profetas (Lc.6:26).
– A ausência de resistência ao que eventualmente fizermos na obra do Senhor é um mal indicador, um indicador de que estamos a proceder de acordo com o curso deste mundo, que não estamos a incomodar as hostes espirituais da maldade, que estamos a agradar a carne e a sua concupiscência. Quando, entretanto, agimos contra tudo isto, certamente virá a resistência e a perseguição, como estava a mostrar o próprio apóstolo encarcerado.
– Paulo é bem claro aos filipenses, dizendo que a sua participação no corpo de Cristo, a sua comunhão com o Senhor, não só fazia com que eles cressem em Jesus, como também que padecessem com Ele (Fp.1:29).
– Muitos, em nossos dias, querem ter comunhão com Jesus, querer fazer parte da Sua Igreja, do Seu corpo, mas tão somente para crer n’Ele e, mediante a fé, alcançar as bênçãos prometidas na Sua Palavra. Entretanto, estar “em Cristo Jesus” significa, também, participar das aflições do Senhor Jesus, participar do Seu sofrimento, do Seu vitupério (Fp.3:10; Hb.11:26; 13:13).
– Ser um com o Senhor Jesus, que é o objetivo traçado por Cristo na Sua obra salvífica (Jo.17:21), significa pertencer àquele corpo que foi açoitado, cuspido, humilhado e martirizado para nos salvar. O verdadeiro discípulo de Jesus é injuriado, perseguido, caluniado por causa do Senhor (Mt.5:11).
– Os filipenses deveriam estar prontos para sofrer por causa do Evangelho, se é que queriam ter um comportamento digno conforme o evangelho de Cristo. Somente poderemos participar da glorificação com o Senhor Jesus se, como Ele, antes passarmos pela humilhação e pelo sofrimento. Antes de subirmos ao céu, devemos, também, passar pelo Getsêmane e pelo Calvário. Estamos dispostos a isto?
– O escritor aos hebreus bem demonstrou que o caminho percorrido pelo Senhor Jesus exige o desprezar da afronta e suportar tal passagem pelo gozo que nos está proposto (Hb.12:2). Somente seremos imitadores de Jesus se tivermos a galhardia de enfrentar a oposição, suportá-la e, confiando e esperando no Senhor, amando- O e ao próximo, superá-la no dia final.
– Por isso, Paulo recomendou aos filipenses que tivessem o mesmo combate que viam existir na própria vida do apóstolo. Não era apenas para que os filipenses se condoessem com a situação do apóstolo e, por causa disso, contribuíssem para a sua sobrevivência, tanto material como espiritual. Era, sem qualquer sombra de dúvida, importante que os filipenses participassem das aflições do apóstolo, pois, assim, o combate seria conjunto pela fé do evangelho.
– No entanto, mais do que condoer-se, ajudar financeiramente e interceder nas orações pelo apóstolo, os crentes de Filipos deveriam, também, estar prontos para passar pelo mesmo sofrimento, pelo mesmo combate, estando prontos a sofrer por causa do Evangelho, sabendo que isto faz parte da vida cristã.
– Não há vida cristã sem cruz, é esta a conclusão a que chega o apóstolo Paulo ao falar de como deve ser o porte digno conforme o evangelho de Cristo. Temos aqui já a falácia da teologia da prosperidade e da teologia da confissão positiva de nossos dias, onde se procura construir uma vida cristã sem sofrimentos, uma vida cristã sem combate, uma vida cristã sem cruz.
– Paulo é claríssimo ao mostrar que, se estamos em comunhão com o Senhor, todos n´so também temos de participar de Seu sofrimento. Por isso, razão tem o poeta sacro Antônio Almeida, ao dizer que devemos amar a mensagem da cruz, levando a cruz até que a troquemos por uma coroa (coro do hino 291 da Harpa Cristã).
– Não é por outro motivo que, ao final de sua peregrinação terrena, o apóstolo Paulo vai dizer que havia combatido o bom combate, acabado a carreira e guardado a fé e que estava apenas a aguardar a coroa da justiça, que não só ele receberá, mas todos quantos amarem a vinda do Senhor (II Tm.4:7). É este o sentimento que temos, amados irmãos? Será que temos o comportamento digno aludido por Paulo aos filipenses? Pensemos nisto!
IV – O DESEJO DE PAULO PARA COM OS CRENTES FILIPENSES
– Adentrando agora ao segundo capítulo, o apóstolo continua a dizer o que desejava ver na vida dos crentes de Filipos, a quem esperava, conforme vimos no término do primeiro capítulo, que combatessem, como ele próprio, sobre a face da Terra.
– Paulo desejava que os crentes filipenses tivessem o mesmo ânimo, o mesmo amor, o mesmo sentimento que tinha o apóstolo (Fp.2:2). Assim agindo, os filipenses completariam o gozo de Paulo.
– Mais uma vez notamos que o apóstolo Paulo não estava pensando apenas em se livrar da prisão, não tinha como objetivo tão somente escapar das cadeias e da ameaça da morte em Roma, mas tinha por finalidade ver cumprida a vontade de Deus, era este o seu desejo acima de qualquer coisa.
– Paulo diz que seu gozo somente seria completo, somente seria perfeito se, além de se livrar da prisão, pudesse ir novamente a Filipos e encontrar aqueles crentes com o mesmo sentimento que ele mesmo possuía, o mesmo ânimo em servir a Deus, o mesmo amor a Deus e ao próximo, que tivessem comunhão com o apóstolo e, portanto, com o Senhor.
– Quando estamos servindo a Deus em sinceridade, temos comunhão uns com os outros. Esta comunhão faz com que tenhamos todos o mesmo sentimento, o mesmo amor e o mesmo ânimo. Não é possível sermos irmãos em Cristo Jesus e não termos esta comunhão.
– O próprio Senhor Jesus nos advertiu que temos de estar todos ligados n’Ele, como as varas que estão ligadas na videira (Jo.15:5), pois o próprio Senhor disse ser a videira verdadeira (Jo.15:1).
– Se somos como varas da videira, não podemos, pois, ter outra essência que não a “seiva” mandada pelo Senhor, o Seu amor que é derramado em nós pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm.5:5). Em sendo assim, como, então, podermos dizer que não temos o mesmo sentir dos demais cristãos, e ainda assim, dizer que estamos em comunhão com o Senhor? Pensemos nisto!
– Esta comunhão é descrita como um estado em que há “conforto em Cristo” (Fp.2:1). Estamos em comunhão com o Senhor quando sentimos conforto, ou seja, como diz a Nova Versão Internacional, quando sentimos “motivação” em Cristo. Jesus Cristo nos conforta, sentimo-nos bem em fazer a Sua vontade? Temos alegria em vermos a vontade de Deus se cumprindo em nossas vidas? É esta a razão de ser de nossa existência? Se a resposta for afirmativa, temos, sim, “conforto em Cristo”, um indicador de que estamos em comunhão com Ele e com os salvos, com a Sua Igreja.
– Mas, além do “conforto em Cristo”, o apóstolo afirma que um outro indicador da comunhão com o Senhor é a “consolação de amor”, que a Nova Versão Internacional traduz por “exortação de amor” ou a Bíblia de Jerusalém por “consolação, que há no amor”.
– Quando estamos em comunhão com o Senhor, também somos consolados pelo amor, ou seja, pelo próprio Senhor, que é amor (I Jo.4:8). O amor de Deus que é derramado em nossos corações também nos consola, de tal modo que, apesar de todas as dificuldades, podemos prosseguir nossa jornada, sabendo que Deus nos ama e que provou este amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8).
– Todas as aflições do tempo presente não são capazes de nos impedir de marchar rumo à direção determinada pelo Senhor, porque sabemos que Ele nos ama e que quer sempre o melhor para nós, em especial nos preparando um lugar para com Ele morarmos para sempre nas mansões celestiais (Jo.14:2,3).
– Por isso, o apóstolo não temia a morte e até desejava partir e estar com Cristo, pois isto lhe era muito melhor (Fp.1:23), mas, tendo já recebido a revelação da parte de Deus de que ainda não era chegado o seu momento da partida, queria, ao avistar novamente os crentes de Filipos, ter a convicção de que eles também tinham este mesmo desejo de partir com Cristo, ter este mesmo sentimento de consolação no amor de Deus.
– Outro ponto de demonstração de comunhão com o Senhor era a “comunhão no Espírito”. Não há verdadeira comunhão com o Senhor, se não tivermos comunhão no Espírito, pois o Espírito é quem glorifica o Senhor Jesus (Jo.16:14).
– A comunhão no Espírito exige de cada um que sejamos devidamente guiados pelo Espírito, dirigidos por Ele, em toda a verdade (Jo.16:13; Rm.8:1,14). Quem não tem o Espírito de Cristo não é do Senhor Jesus (Rm.8:9).
– Quando temos comunhão no Espírito, não andamos mais segundo a carne, ou seja, não damos vazão à natureza pecaminosa que ainda habita em nós, não estamos a viver segundo nossos instintos, segundo este mundo, mas a viver de acordo com a direção recebida da parte do Senhor, segundo a Sua Palavra, pois o Espírito é Espírito de verdade, que nos guia segundo a verdade, ou seja, segundo a Palavra de Deus (Jo.17:17).
– Reside aqui, aliás, uma forte indicação se estamos diante de alguém que é verdadeiramente um cristão ou apenas um falso cristão, alguém que está no meio do povo de Deus mas a ele não pertence. Por isso, o Senhor Jesus disse que pelos frutos n´s conheceríamos os Seus discípulos (Mt.7:15-20).
– Paulo não titubeia em dizer que desejava que os crentes de Filipos tivessem esta “comunhão no Espírito” que ele mesmo possuía e o que fazia se alegrar mesmo diante de uma situação tão difícil como a que enfrentava preso em Roma. Isto porque sabia o apóstolo que tal circunstância era querida pelo Senhor e que se encontrava ele na direção e orientação do Espírito Santo.
– Temos também esta convicção que tinha o apóstolo e que ele desejava que existisse entre os crentes de Filipos? Somos guiados pelo Espírito Santo? Temos prazer em andar segundo o Espírito? Ou será que a carne já tem tomado conta de nossas vidas, fazendo com que desagrademos a Deus?
– Por fim, outro fator que indicava a comunhão com o Senhor eram os “entranháveis afetos e compaixões” (Fp.2:1), que a Nova Versão Internacional chama de “profunda afeição e compaixão”e a Bíblia de Jerusalém, por “toda ternura e compaixão”.
– Aqui, sem dúvida alguma, o apóstolo tinha certeza de que tal característica estava presente na igreja em Filipos, pois, conforme vimos já na lição 1, era esta uma peculiaridade, uma nota distintiva existente naquela igreja, especialmente em relação ao apóstolo dos gentios.
– Quem tem comunhão com o Senhor sempre demonstra “profunda afeição e compaixão’, ou seja, demonstrar amor ao próximo, é capaz de se pôr no lugar do próximo e sentir-lhe as dores e dramas, estando disposto a minorar-lhe o sofrimento, a querer e fazer o bem ao outro.
– O amor ao próximo é um reflexo concreto e palpável de quem tem o amor a Deus (I Jo.4:20) e somente teremos real comunhão com o Senhor se demonstrarmos afeto e compaixão ao próximo, próximo este que é qualquer um, como Jesus deixou claro na parábola do samaritano, contada precisamente para responder a uma indagação a respeito de quem seria o nosso próximo (Lc.10:25-37).
– Paulo desejava ardentemente que os crentes de Filipos tivessem comunhão com o Senhor. É este o desejo que deve estar no coração de todos quantos são incumbidos pelo Senhor de apascentar o Seu rebanho, de evangelizar as pessoas. Tem sido este o desejo dos ministros do Evangelho em nossos dias? Pensemos nisto!
– Estamos, então, diante da quarta alegria da carta aos filipenses, que, por isso mesmo, é chamada pelos estudiosos da Bíblia como “a carta da alegria”. Trata-se da “alegria da fraternidade cristã”. “…Havia em Filipos uma tendência religiosa perigosa, a da fragmentação da Igreja em partidos. Paulo reúne todos os elementos que contribuem para união de vida e de amor entre os irmãos, e ainda acrescenta o exemplo supremo de humildade, o da descida de Cristo do trono até a cruz, num esforço de combater o espírito partidário. E afirma que o que vai completar a sua alegria é que os filipenses sejam de fato unidos de alma. Verdadeiramente, nada há que complete a nossa alegria mais do que isso, contemplar a união da igreja local, união essa que resulta de amor e de humildade, a fim de que ‘cada um considere os outros superiores a si mesmo’ (v.3). Pode haver maior alegria?!…” (SENA NETO, José Barbosa de. Carta aos filipenses: a carta da alegria! Disponível em: http://prbarbosaneto.blogspot.com.br/2008/01/carta-aos-filipenses-carta-da- alegria.html Acesso em 29 maio 2013).
– Depois de ter dito o que completaria o seu gozo, o apóstolo Paulo exortou os crentes de Filipos a que nada fizessem por contenda ou por vanglória, mas por humildade (Fp.2:3).
– Paulo, ao falar do que esperava ver na vida dos crentes filipenses, quando fosse outra vez a eles, falou de aspectos interiores dos seres humanos, não atentando para a aparência ou para o exterior. Não disse que esperava ver uma igreja financeiramente abastada, nem tampouco que os crentes tivessem uma boa posição social, mas, sim, que eles estivessem em comunhão com o Senhor, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa (Fp.2:2).
– O apóstolo reforça, então, a necessidade que houvesse união entre os crentes a fim de que pudessem eles construir uma unidade, fundamental para que um grupo de sedizentes crentes seja, realmente, uma parcela da Igreja edificada por Cristo Jesus.
– Esta união, que daria ensejo à construção da unidade, no entanto, deveria resultar em atitudes concretas, pois, como sabemos, o amor não é meramente um sentimento, mas, muito mais do que isto, um comportamento, uma conduta que é demonstrada por ações concretas e efetivas (Tg.2:14-17; I Jo.3:18).
– Apesar de ter de se valer de atitudes concretas, o apóstolo faz questão de mostrar aos filipenses que estas atitudes concretas e efetivas, que se revelam na realidade exterior, de nada valem se não forem produzidas de coração, ou seja, com uma intenção pura e sincera de agradar a Deus, de fazer a vontade do Senhor.
– O apóstolo já havia revelado aos filipenses que alguns pregadores do Evangelho que haviam se levantado em Roma, apesar de estar a pregar a Palavra de Deus e tal pregação resultar em salvação de almas, estavam a realizar uma obra que não era agradável a Deus, pois estes pregadores o faziam por inveja, porfia e contenção (Fp.1:15,17), pessoas que, ao agirem desta maneira, davam mostras de que estavam a resistir ao Senhor e, como tal, estavam dando indícios de que se perderiam espiritualmente (Fp.1:28).
– Paulo, então, deseja que os crentes de Filipos fossem pessoas que fizessem a vontade do Senhor mas não apenas de aparência, de forma exterior, mas que o fizessem de coração, voluntariamente, sem segundas intenções, que quisessem apenas agradar ao Senhor.
– Para tanto, não poderiam fazer coisa alguma por contenda, ou seja, não poderiam fazer algo que, aparentemente, fosse do agrado do Senhor mas tão somente com o desejo de contender, ou seja, lutar contra alguém, competir com alguém, como, aliás, lamentavelmente se faz nos dias de hoje, dias de intensa competição.
– A contenda é um elemento que demonstra que não há comunhão entre as pessoas, que não se está debaixo da chamada divina, como se vê, por exemplo, no episódio entre os pastores de Abrão e de Ló (Gn.13:7), contenda esta que revelou a própria circunstância de que Ló não se encontrava incluído na chamada divina para Abrão (Gn.12:1). O próprio patriarca disse a seu sobrinho que a contenda não é atitude adequada a irmãos (Gn.13:8).
– No episódio de Massá e Meribá, quando o povo endureceu o seu coração contra o Senhor, houve uma verdadeira contenda contra Deus (Ex.17:7) (a palavra “Meribá” significa exatamente “contenda”), endurecimento de coração que selou o destino de Israel impedindo-o de receber a promessa de Abraão e o submetendo à lei mosaica, algo que não podemos praticar neste tempo da graça (Sl.95:7,8; Hb.3:15; 4:7).
– Por isso, a contenda é uma característica de quem rejeita a Deus, de quem é soberbo, pois, como diz o proverbista, da soberba só provém a contenda (Pv.13:10) e quem levanta a contenda é o homem perverso (Pv.16:28). O amante da contenda é, simultaneamente, amante da transgressão (Pv.17:19), prova de que quem a pratica ou faz as coisas por contenda jamais será alguém que tenha o Espírito Santo, alguém que sirva a Deus.
– Paulo não queria que os crentes de Filipos fizessem algo por contenda pois isto seria uma prova de que eles haviam se perdido espiritualmente, algo que o apóstolo jamais desejaria àqueles que, um dia, haviam crido em Cristo Jesus.
– Mas o apóstolo também pedia aos filipenses que nada fizessem por vanglória, ou seja, que nada fizessem para serem vistos pelos homens, a exemplo dos fariseus (Mt.23:5). Pessoas que querem a glória para si e não para o Senhor. Pessoas que amam mais a glória dos homens que a glória de Deus (Jo.12:43). Quem age por vanglória não serve a Deus, preferindo posição nas instituições humanas (Jo.12:42), agindo em sentido diametralmente oposto a Cristo (Jo.5:41).
– Quem age por vanglória rebela-se contra Deus, que não divide a Sua glória com pessoa alguma (Is.48:11). O Senhor Jesus, neste mundo, viveu única e exclusivamente para glorificar o Pai, enquanto o Pai glorifica o Filho (Jo.17:1), Filho que é também glorificado pelo Espírito Santo (Jo.16:14). Nenhuma Pessoa Divina glorifica-Se a Si próprio e todo aquele que está em comunhão com a Trindade também não pode buscar glória para si.
– Por isso, o apóstolo Paulo mandava aos filipenses que considerassem os outros superiores a si mesmos, não atentando para o que era propriamente seu, mas cada qual também para o que era dos outros (Fp.2:3,4). Ao contrário do individualismo existente em nossos dias, o apóstolo diz, claramente, que os verdadeiros e genuínos salvos em Cristo Jesus são altruístas, não buscam coisa para si, mas, sim, para o outro.
– Paulo esperava ver em Filipos o mesmo altruísmo que vira em Epafrodito que, tendo vindo trazer recursos para o apóstolo, chegou mesmo a adoecer para que o apóstolo não ficasse sem o mínimo necessário para a sua sobrevivência (Fp.2:27,30), pois muito provavelmente, ao ver a necessidade do apóstolo, abriu mão daquilo que lhe fora dado para sua própria subsistência durante sua estada em Roma, em benefício do apóstolo.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2013_L3_caramuru.pdf
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