LIÇÃO Nº 3 – O DEUS QUE INTERVÉM NA HISTÓRIA
Deus tem o controle da história e nela intervém.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do livro do profeta Daniel,, estudaremos, nesta lição, o capítulo dois.
– Deus tem o controle da história e nela intervém.
I – NABUCODONOSOR TEM UM SONHO
– Seguindo o livro do profeta Daniel, objeto de nosso estudo neste trimestre, hoje estaremos a analisar o seu capítulo dois.
– O capítulo começa afirmando que, no segundo ano de seu reinado, ou seja, segundo Frank Klassen e Edward Reese, no ano de 604 a.C., o rei Nabucodonosor teve um sonho, que perturbou o seu espírito, a ponto de lhe ter passado o sono (Dn.2:1).
– Naquela época, os sonhos tinham grande valor e era um ponto alto na tarefa dos sacerdotes, magos e astrólogos que estavam junto dos monarcas, como se verifica, por exemplo, no Egito dos dias de José (Gn.40,41), não sendo diferente em Babilônia, cuja religião era extremamente mística e que tinha no exercício dos poderes divinatórios uma de suas principais características.
– Podemos, aliás, dizer que, ao longo dos séculos, esta prática de tentativa de interpretação de sonhos e de, através deles, descobrir-se o futuro, sempre foi uma medida que o homem tomou, buscando conhecer o futuro e ter o seu controle de alguma maneira.
Trata-se de um traço da natureza humana que revela o mal que o pecado tem trazido ao ser humano, pois, nesta busca do conhecimento do futuro para ter o seu controle, vemos, claramente, a falsa crença de uma vida independente de Deus, crença esta instalada no homem pelo próprio inimigo desde a queda do primeiro casal (Gn.3:5).
– Verdade é que Deus Se comunica com o homem por meio de sonhos (Gn.37:5-10; Dt.13:1; Jz.7:13; I Sm.28:6; Jó 33:15-18; Jr.23:28; Dn.1:17; Jl.2:28; Mt.1:20; Mt.2:12,19; Mt.27:19; At.2:17), mas, não podemos nos esquecer que o inimigo de nossas almas procura copiar tudo quanto é feito por meio do Senhor, de modo que a busca humana pela interpretação de sonhos e a ilusão de ter domínio sobre o futuro é algo que é distorção em relação aos sonhos vindos da parte de Deus, que são revelações do Senhor para o conhecimento do futuro, tendo, como objetivo, como diz Eliú, o amigo de Deus, fazer com que o homem seja instruído e submisso ao Senhor (Jó 33:15-18).
– Embora não seja o intuito de nossa lição, é muito bom observar que Deus, ainda hoje, nos fala por sonhos, pois, nos últimos dias, ou seja, nos dias da dispensação da graça, isto ainda ocorreria, como nos informa o profeta Joel, em profecia que o apóstolo Pedro disse estar se cumprindo a partir do dia de Pentecostes (Jl.2:28; At.2:17), não tendo, portanto, razão alguma aqueles que dizem que tal forma de operação divina cessou com a Igreja, como dizem até alguns segmentos ditos neopentecostais na atualidade.
– O fato é que a interpretação de sonhos era uma característica básica daqueles dias, máxime em Babilônia, sede da rebeldia contra Deus desde os tempos de Ninrode (Gn.10:9,10), de modo que era coisa corriqueira o rei ter sonhos e querer a sua interpretação por parte de seus magos, astrólogos, encantadores e feiticeiros.
– Entretanto, desta vez, a situação seria diferente. Nabucodonosor havia sonhado um sonho que o estava perturbando e o fez perder o sono, mas ele não lembrava o que havia sonhado e queria que os magos, astrólogos, encantadores e caldeus (os astrólogos) declarassem qual tinha sido o sonho e lhe desse a interpretação (Dn.2:2,3).
– O que Nabucodonosor queria era algo inusitado e inexistente até então. Os magos, astrólogos, encantadores e feiticeiros sempre davam interpretações a respeito dos sonhos que lhes eram contados, segundo as suas crenças e superstições. Entretanto, agora o rei queria que eles dissessem qual era o sonho e, então, lhes desse a interpretação.
OBS: “…Hal Lindsey e outras autoridades no assunto observam que a primeira classe, traduzida por ‘magos’ significa os escribas sagrados — uma ordem de sábios que tinham a seu cargo os escritos sacros, que vieram passando de mão em mão desde o tempo da Torre de Babel(…). A outra palavra é ‘encantador’ e significado murmurador de palavras — de onde vem ‘esconjurar’, ‘exorcizar’. Eram encantadores que usavam fórmulas mágicas, atuados por espíritos médiuns.(…).
O terceiro grupo é dos ‘feiticeiros’: eram dados à magia negra.(…). A última palavra, ‘caldeus’ denominava a casta sacerdotal deles todos, onde se vir a palavra ‘caldeu’ (menos a exceção dos nascidos na Caldeia) pode-se traduzir igualmente por astrólogo’.…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, p.26) (itálicos originais).
– Ora, diante de tal circunstância, os sábios babilônios disseram ao rei que dissesse qual era o sonho que, então, eles dariam a interpretação (Dn.2:3 e, como diz o próprio texto, a partir deste versículo, o livro do profeta Daniel passa a ser escrito em aramaico ou siríaco).
– Vemos, nesta episódio, como é diferente aquilo que vem da parte de Deus e o que é fruto de operação demoníaca, diabólica. Todo o misticismo religioso babilônico somente se desenvolvia a partir do momento em que alguém dissesse qual era o sonho.
As interpretações dadas dependiam do conhecimento do que era sonhado, a provar que se tratava de operação espiritual que dependia do prévio conhecimento do sonho, uma operação espiritual de quem não tinha a onisciência, de que não sabia tudo, mas apenas era capaz de interpretar aquilo que era falado.
– Eis a grande distinção entre o que é revelação divina e o que é ilusão satânica. O inimigo de nossas almas e seus agentes não são oniscientes, são apenas astutos (Gn.3:1), bem informados, tendo, como diz o escritor e pastor Ailton Muniz de Carvalho, o maior sistema de espionagem do universo, pois são milhões e milhões de agentes que vivem a se informar de tudo o que é dito e feito e, diante deste imenso “banco de dados”, iludem e mentem aqueles que os procuram. No entanto, aquilo que é oculto e escondido jamais pode ser descoberto por eles.
– Nabucodonosor havia sonhado, mas o sonho lhe havia escapado, embora estivesse, por causa do sonho, com seu espírito perturbado, mas os seus magos, astrólogos, encantadores e feiticeiros não podiam descobrir qual era o sonho, pois não tinham comunhão com o único e verdadeiro Deus, que é o único ser que tudo sabe, que tudo conhece. Eram apenas enganadores, que recorriam a poderes espirituais malignos ou a verdadeiras fraudes para darem suas interpretações.
– Não é por outro motivo que o Senhor abomina as práticas divinatórias, que eram terminantemente proibidas na lei de Moisés (Lv.20:27), visto que vinculadas a cultos idolátricos e verdadeira invocação de espíritos malignos (. Nos dias de hoje, não é diferente, tais práticas devem ser evitadas pelos servos do Senhor. OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “Deus pode revelar o futuro a seus profetas ou a outros santos.
Todavia, a atitude cristã correta consiste em entregar-se com confiança nas mãos da providência no que tange ao futuro, e em abandonar toda curiosidade doentia a este respeito. A imprevidência pode ser uma falta de responsabilidade. Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõe ‘descobrir’ o futuro.
A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os fenômenos de visão, o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus.
Todas as práticas de magia ou de feitiçaria com as quais a pessoa pretende domesticar os poderes ocultos, para colocá-los a seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – mesmo que seja para proporcionar a este a saúde – são gravemente contrárias à virtude da religião. Essas práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas de uma intenção de prejudicar a outrem, ou quando recorrem ou não à intervenção dos demônios.
O uso de amuletos também é repreensível. O espiritismo implica frequentemente práticas de adivinhação ou de magia. Por isso a Igreja adverte os fiéis a evitá-lo. O recurso aos assim chamados remédios tradicionais não legitima nem a invocação dos poderes maléficos nem a exploração da credulidade alheia.” (§§ 2115 a 2117 CIC).
– Esta circunstância vivida no reino da Babilônia era já uma demonstração da superioridade de Deus sobre todos os ídolos babilônios. O Senhor mandava Seus servos para o palácio de Nabucodonosor para ali, na potência do mundo de então, começar a mostrar a Sua superioridade, a Sua soberania, algo que seria registrado por Daniel, que o Senhor levantara exatamente para ser o porta-voz deste senhorio, não só para o povo judeu, mas para todas as nações.
– Os magos babilônios eram incapazes de descobrir qual era o sonho e revelaram esta incapacidade para o rei. Não tinham como mentir e enganar numa tal situação, visto que, se dissessem que o rei havia sonhado algo que não correspondia à realidade, seriam desmascarados em seus enganos e os espíritos por eles invocados não podiam descobrir o que havia sido sonhado, já que não eram oniscientes. Não lhes restara outra alternativa senão reconhecer a sua impotência.
– Nabucodonosor irou-se grandemente, ao descobrir que toda a “ciência” de seus altos funcionários era impotente, não tinha condições de descobrir qual fora o seu sonho. Nabucodonosor é confrontado com a realidade pura e simples de sua religião, com a sua inutilidade e, diante desta descoberta, extremamente decepcionado com tudo aquele em que havia crido até então, ficou enfurecido e ameaçou mandar matar todos os sábios babilônios (Dn.2:5).
– Nabucodonosor, como que não crendo na declaração de impotência vindo da parte dos magos, dá uma nova chance a eles para que descobrissem o sonho e dessem sua interpretação, mas os sábios, diante desta nova oportunidade, reafirmaram a incapacidade de fazê-lo, tendo, ainda, insistido para que o rei declarasse o sonho, que eles dariam a interpretação.
– O rei, então, enfureceu-se de vez e, decepcionado com a sua religião, resolveu, então, realizar o que havia ameaçado, mandando matar a todos os sábios babilônios, já que percebera, pela reação deles, que tudo quanto haviam feito até então era proferir palavras mentirosas e perversas. Dá-lhes, então, uma terceira oportunidade para que, diante desta deliberação, por medo ou desespero, descobrissem para ele o sonho e a sua consequente interpretação (Dn.2:9).
– Notamos, então, que, mesmo diante da dura e triste realidade de que sua religião era vã, o rei ainda teimava em reverter este quadro, não queria admitir que tudo quanto crera era mentiroso e perverso, tendo, mesmo depois da ordem dada de matança, ainda aberto uma chance para que tudo aquilo em que crera fosse renovado e afastada aquela decepção.
– Esta resistência do rei Nabucodonosor ainda existe em nossos dias. O homem, no pecado, mesmo confrontado com a mentira do mundo e do diabo, ainda insiste em querer acreditar naquilo, como se fosse verdadeiro. Esta tendência em crer na mentira é fruto de seu distanciamento de Deus e de sua escravidão na vida de pecado. Por isso, diz o apóstolo Paulo que Deus seja verdadeiro e todo homem, mentiroso (Rm.3:4), tendo ainda revelado que, quando o homem se afasta de Deus, o próprio Senhor o entrega à sedução do maligno, para que creiam na mentira (II Ts.2:11,12).
– Mesmo diante da sentença de morte, os sábios babilônios não tinham como conceder aquilo que era querido pelo rei, tendo, então, dito que ninguém poderia na terra atender ao pedido do monarca, pois isto apenas os “deuses” poderiam fazer, sendo uma ordem irrazoável, que nenhum rei ousara pedir de seus magos e astrólogos até aquela data (Dn.2:10,11).
– No desespero, os sábios babilônios acabaram por censurar a atitude do rei Nabucodonosor, o que, naqueles tempos, era quase que um crime de lesa-majestade, pois os governantes eram divinizados, considerados como deuses ou filhos de deuses, divinização esta que se iniciou precisamente em Babilônia, nos tempos de Ninrode, pois Babel foi o berço da idolatria.
OBS: “…Marduque, Melkart, Kemosh (deus de Moabe) seriam apenas algumas das várias representações pagãs de Ninrode. Afirma-se que o centauro, deus grego – um cavalo com uma cabeça de homem e com uma arca na mão – era adorado em memória de Ninrode, que foi o primeiro caçador e o primeiro homem a usar o cavalo para a caça e a guerra.
O famoso rei de Babilônia, segundo a religião desta ímpia cidade, casou-se com Semíramis, a mesma As tarte, Astorete, Ísis, Isthar, Afrodite, Vênus, Diana etc.(1) A imagem desta última, em Éfeso, com sua coroa de torres na cabeça, representava a mesma mulher e era adorada como a deusa da fortificação, por ter sido ela a primeira a fortificar Babilônia com muros e torres.…” (ALMEIDA, Abraão de. Babilônia ontem e hoje, p.21).
– Isto era demais para o rei Nabucodonosor. Já tendo achado que a religião por ele seguida era composta de palavras mentirosas e perversas, agora via os líderes religiosos o insultarem e considerá-lo irrazoável. Ora, além de ter se decepcionado com a sua religião, ainda passou a ver naqueles embusteiros pessoas que o desrespeitavam, que ousavam censurá-lo, logo ele que, por ser rei, era, ao menos, filho de um deus. Diante desta atitude, Nabucodonosor não pestanejou em mandar executar a sua ordem, tendo, então, mandado matar todos os sábios babilônios, expedindo o competente decreto, que deveria ser cumprido apressadamente (Dn.2:12,13).
II – DANIEL CONSEGUE RETARDAR O CUMPRIMENTO DA ORDEM REAL
– Saiu o decreto de Nabucodonosor para mandar matar todos os sábios de Babilônia e Arioque, o prefeito do rei, ou seja, o comandante da guarda do rei, apressadamente mandou que se cumprisse, devendo ser buscados todos os sábios para serem executados.
– Daniel e seus amigos Hananias, Misael e Azarias compunham este grupo, já que haviam sido aprovados para serem assistentes diretos do rei e, portanto, eram os primeiros a serem mortos, já que eram os mais próximos do monarca.
– Certamente, não estavam eles no grupo que havia ido conferenciar com o rei, pois eram ainda novatos, recém-ingressos no grupo de sábios e, portanto, não lhes era deferido que fossem logo incumbidos de resolver os principais problemas trazidos pelo rei aos sábios, algo mais apropriado para os mais antigos no serviço, para aqueles que já serviam na corte há muito mais tempo.
– Há, inclusive, discussão a respeito do momento em que ocorreu este episódio. O texto sagrado diz que foi “no segundo ano do reinado de Nabucodonosor” e, segundo Frank Klassen e Edward Reese, isto teria, então, ocorrido no ano de 604 a.C. Se isto foi assim, Daniel e seus amigos eram, ainda, alunos no curso de preparação, curso que durou três anos (Dn.1:5) e, portanto, Daniel e seus amigos ainda não haviam se formado e, por isso, não teriam sequer participado daquela conferência com Nabucodonosor. Tanto assim é que perguntaram a Arioque o que estava acontecendo, tendo eles lhes participado o assunto (Dn.2:15).
– Daniel e seus amigos, muito provavelmente durante os seus estudos, são surpreendidos pela chegada do comandante da guarda que os vinha buscar para que fossem mortos. Daniel e seus amigos, certamente, diante daquela notícia abrupta, jovens que eram, dedicando-se que estavam para ser altos funcionários do governo babilônio, já sabendo que esta era a vontade de Deus, tomaram grande susto e não seria de forma alguma surpreendente se, diante de tal circunstância caíssem em desespero.
– Entretanto, naquela circunstância, vemos como devem reagir os servos de Deus. Era uma situação surpreendente e desesperadora, mas, diante daquela situação, o texto sagrado nos diz que Daniel falou “avisada e prudentemente” a Arioque, indagando-lhe: “por que se apressa tanto o mandado da parte do rei?” (Dn.2:15).
– A situação era dificílima, mas Daniel, homem de oração que era, homem de meditação nas Escrituras, homem que tinha habilidade em lidar com outras pessoas e, especificamente, como lidar numa corte real, não entrou em desespero, mas quis saber o que estava acontecendo e, com muita prudência e cautela, indagou ao comandante da guarda do rei porque havia tanta pressa no cumprimento do mandado do rei.
– Enquanto os sábios babilônios haviam feito enfurecer o rei Nabucodonosor porque o censuraram diante da ordem real de lhes matar, Daniel, já diante da execução da ordem de cujo motivo não tinha sequer conhecimento, resolveu falar avisada e prudentemente, querendo saber o que estava acontecendo, não censurando a ordem real, mas apenas indagando porque tinha de ser cumprida apressadamente.
– O servo de Deus não pode entrar em desespero, nem se deixar levar pelos seus instintos nos momentos de dificuldade e de adversidade. Deve confiar em Deus e jamais perder a sua esperança n’Ele. Daniel sabia que o rei havia dado uma ordem e esta ordem deveria ser cumprida. Daniel sabia que não podia censurar nem reprovar o rei, mas tinha de saber o motivo desta ordem, que lhe era fatal.
OBS: “…Daniel demonstra uma grande capacidade de manter a clama sob tão grande desatino e pressão da parte do rei. Daniel provou ser um crente emocionalmente equilibrado. Será que nós, a exemplo de Daniel, estamos fazendo o mesmo? O texto em foco mostra que as palavras meigas de Daniel obtiveram a possibilidade de abrandar a ira do rei. Daniel era um servo fiel, conhecedor da Palavra de Deus que dizia: ‘A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira’ (Pv.15:1).…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, p.33).
– Por isso, sem questionar a ordem real, sem fazer qualquer censura a ela, de forma cautelosa, indaga o prefeito do rei o porquê da pressa e, tendo se conduzido com humildade e sabedoria, obteve a informação de que precisa de Arioque. Será que temos agido deste modo, amados irmãos? Temos sido prudentes e cautelosos diante das circunstâncias adversas, ou partirmos para o julgamento baseado na emoção, sentimento e pressão decorrentes da situação? Pensemos nisto!
– Daniel sabia que nada havia feito de errado para ser morto. Daniel sabia que Deus o estava abençoando, que havia um plano da parte de Deus para a sua vida e a de seus amigos pois, se não fosse assim, como estavam tendo a graça de não participar do manjar do rei? Deste modo, não fazia sentido morrerem daquela maneira, por um motivo para eles até então desconhecido e, por isso, o importante era saber o que estava acontecendo, para, então, depois saber como agir.
– Daniel, então, ao saber o que estava ocorrendo, logo percebeu que poderia ter o auxílio de Deus. Daniel sabia que os sábios babilônios eram falsos, não podiam, mesmo, revelar coisas que somente Deus tinha como revelar e que Deus era um Deus que tudo sabe e que poderia revelar o que havia sido sonhado e a sua consequente interpretação. Daniel sabia como Deus havia agido na vida de José na corte de Faraó e percebeu que isto poderia ocorrer novamente. Daniel confiava em Deus e viu nesta situação adversa uma oportunidade para que o nome do Senhor fosse glorificado.
– Eis a diferença entre quem serve a Deus e quem não serve. Quem serve ao Senhor sabe que as adversidades existem para que o nome do Senhor seja glorificado, pois, quando cremos em Cristo Jesus, tornamo-nos filhos de Deus, fazemo-lo para que o nome do Senhor seja glorificado.
É isto que o Senhor espera de nós, como vemos explicitamente no sermão do monte, quando o Senhor quer que nossas boas obras resplandeçam no meio dos homens para a glória do Senhor (Mt.5:16).
– Daniel, confiando em Deus, pediu, então, ao prefeito do rei que o levasse à presença do rei Nabucodonosor e, aqui, uma vez mais, a graça e a misericórdia de Deus é dada a Daniel diante do prefeito Arioque que, mesmo fora de todas as perspectivas, atende ao pedido de Daniel e o leva até a presença de Nabucodonosor.
– Esta circunstância já era um milagre. Nabucodonosor estava enfurecido, não queria saber dos sábios de Babilônia e queria que sua ordem fosse cumprida com toda a pressa. Arioque levar um dos alunos que estavam sendo preparados para ser sábio à presença do rei, em vez de mata-lo, era algo totalmente irrazoável e extremamente perigoso, pois devemos nos lembrar o que dissera o chefe dos eunucos Aspenaz a Daniel, ou seja, de que o rei podia matá-lo se descobrisse que suas ordens não estavam sendo cumpridas (Dn.1:10).
Imagine agora, quando o rei estava particularmente enfurecido. No entanto, Deus estava no controle de tudo e Arioque, contra todas as probabilidades, atendeu ao pedido de Daniel e o levou até a presença do rei.
– Daniel entrou na presença do rei. Não sabemos se tinha sido a primeira vez que o jovem tinha contato com Nabucodonosor, mas, ainda que o rei já tivesse visitado os alunos do curso de preparação, certamente não se tivera um encontro como aquele. Era uma situação nova e inusitada, mas, certamente, Daniel estava em oração quando ingressou na presença do rei.
– Usando mais uma vez de sabedoria, Daniel não apresentou ao rei qualquer censura ou reprovação da atitude real, também não lhe tendo pedido clemência. Apenas pediu ao rei que lhe desse um tempo para que pudesse revelar qual era o sonho e a sua consequente interpretação. Em mais uma demonstração da graça e misericórdia de Deus, o rei concedeu este tempo que, pelo texto sagrado, podemos deduzir que foi de um dia (Dn.2:16).
– Daniel dá-nos uma lição a respeito da confiança em Deus. Agindo diante da direção de Deus, tendo o discernimento de qual era a vontade do Senhor para a sua vida naquela terra estranha, Daniel não titubeou em tentar falar com o rei e, conduzindo-se prudentemente tanto com Arioque quanto com Nabucodonosor, conseguiu, ainda que por um dia, o retardamento do cumprimento da ordem real. Era o máximo que conseguia obter naquele momento, ainda que totalmente improvável, mas, confiando em Deus, pôde fazê-lo.
Eis o que devemos sempre fazer, amados irmãos, agir na direção de Deus, tendo o discernimento da vontade divina e, assim, não olhando para o que está ao nosso redor, para as circunstâncias, fazer o que está ao nosso alcance e, deste modo, o Senhor nos dará graça e misericórdia.
III – DANIEL E SEUS AMIGOS BUSCAM A PRESENÇA DE DEUS
– Tendo obtido este verdadeiro milagre que era o retardamento da ordem real de execução dos sábios de Babilônia mediante o pedido de um simples aprendiz, Daniel não perdeu tempo. Retornou para a sua casa e, de imediato, fez saber o caso a seus amigos Hananias, Misael e Azarias, que eram seus companheiros, ou seja, pessoas que mantinham comunhão com ele, para que pedissem a Deus a revelação do sonho e a sua interpretação (Dn.2:17).
– Daniel não perdeu tempo. Sabia que tinha vinte e quatro horas para conseguir sobreviver e que isto era possível, pois o que o rei Nabucodonosor queria podia ser providenciado por Deus. Daniel sabia que Deus é onisciente e podia muito bem revelar qual era o sonho e a sua interpretação. Daniel confiava em Deus mas sabia que tudo dependia de buscá-l’O. Havia necessidade de ação que se aliasse à confiança.
– Nos dias em que vivemos, precisamos ter esta mesma atitude de Daniel. Daniel confiava em Deus e, por isso, tomava atitudes, como a de pedir a Arioque que o levasse à presença do rei, como a de pedir ao rei um tempo para revelar o sonho e sua interpretação, como a de buscar a Deus em oração juntamente com seus companheiros, para que o Senhor lhe desse misericórdia e revelasse aquele segredo, para que não fossem mortos juntamente com os sábios de Babilônia.
– Muitos dizem confiar em Deus, mas não O buscam, nem tomam atitudes. São preguiçosos, aguardando que o Senhor lhes dará a vitória sem que eles tomem qualquer atitude, sem que eles revelem esta confiança em Deus por ações. Deus não age na nossa inércia, mas a confiança em Deus é sempre demonstrada por ações, atitudes, por uma conduta. Lembremos que a ressurreição de Lázaro, o maior milagre do ministério terreno de Cristo, exigiu da parte dos homens que se tirasse a pedra do túmulo do amigo de Jesus.
– Certamente, Daniel tinha, em seu coração, as palavras proferidas pelo profeta Isaías, que recomendava o povo a buscar ao Senhor enquanto se podia achá-l’O, invocá-l’O enquanto estivesse perto (Is.55:6). O tempo de buscar a Deus era aquele dia, pois o dia seguinte seria o da execução de todos os sábios de Babilônia e seria tarde demais.
– Não nos esqueçamos, aliás, que o tempo do cristão deve ser sempre o hoje (Mt.6:34; Hb.4:7) e, por isso, temos de ter a mesma noção de urgência que tinha Daniel a respeito da necessidade de se buscar a Deus. Daniel o fez porque sabia que, no dia seguinte, seria morto se o sonho não fosse revelado nem fosse dada a sua interpretação, mas nós devemos fazê-lo por saber que o amanhã também não nos pertence e que devemos estar sempre prontos para nos encontrar com o Senhor, seja pela morte física, seja pelo arrebatamento da Igreja.
– Daniel foi ao encontro de seus amigos, que a Bíblia diz que eram “companheiros”, ou seja, pessoas que tinham comunhão com ele, pois “companheiro” é aquele que compartilha o pão, o que, dentro da cultura judaica, era pessoa que tinha intimidade, que compartilhava a própria vida com a outra. Que bom se formos como Daniel, tivermos comunhão com pessoas que realmente servem a Deus, que têm uma vida santa e que também está peregrinando nesta terra rumo ao céu. Paulo diz que não podemos nos associar com os falsos cristãos, com aqueles que, embora se digam irmãos, vivem no pecado (I Co.5:9-11).
– Será que temos vivido desta maneira? Será que temos tido comunhão com pessoas santas, que se dedicam ao estudo das Escrituras e à oração, ou com pessoas que, embora se digam cristãs, têm uma vida no pecado e na maldade?
Tais pessoas não poderiam ajudar Daniel naquele momento tão delicado. Daniel era sociável, como vimos na lição anterior, mas não tinha comunhão com aqueles que participavam do manjar do rei, mas somente com aqueles que se mantinham em santificação. Façamos isto, amados irmãos!
– Daniel e seus amigos começaram, então, um culto de oração, com o objetivo determinado de pedir a Deus misericórdia para que o sonho fosse revelado e dada a sua interpretação, naquele mesmo dia, diante da urgência dada pelas circunstâncias.
– Daniel e seus amigos buscaram a presença de Deus e, como diria Jeremias alguns anos depois, quando buscamos a Deus de todo o coração, encontramo-l’O (Jr.29:13). Num determinado momento daquele culto, o Senhor revelou a Daniel o segredo numa visão de noite.
Daniel, então, era constituído por Deus como um profeta, estando aí, já, um dos propósitos de Deus para toda aquela situação. A adversidade, a aflição vivida por Daniel tinha um propósito: torná-lo um profeta de Deus. Nada há que ocorra na vida do servo de Deus que não seja para contribuir para o bem daquele que ama a Deus e é chamado por Seu decreto (Rm.8:28).
– Ao ter a visão que lhe revelou o segredo de Deus, Daniel louvou o Deus do céu, dizendo: “Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque d’Ele é a sabedoria e a força. E Ele muda os tempos e as horas, Ele remove os reis e estabelece os reis, Ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido, conhece o que está em trevas e com Ele mora a luz. Ó Deus de meus pais, eu Te louvo e celebro porque me deste sabedoria e força e agora me fizeste saber o que Te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei” (Dn.2:20-23).
– Daniel demonstrou toda a sua humildade e toda a sua gratidão para com Deus, ao ver que havia sido livrado da morte pela revelação do segredo de Deus. É fundamental que todo aquele que recebe de Deus algo sempre se porte deste modo, reconhecendo que tudo provém de Deus e que a dádiva divina não o torna mais importante ou merecedor. Daniel bem sabia que a revelação lhe viera por misericórdia e graça de Deus e, de pronto, agradece ao Senhor reconhecendo a Sua soberania.
– Nos dias em que vivemos, lamentavelmente, muitos são os que, por terem sido aquinhoados pelo Senhor com dádivas vindas do céu, ensoberbecem-se, esquecendo-se de que tudo é dado por graça e misericórdia, que a recepção dos dons divinos jamais representa qualquer merecimento da parte do receptor. Tomemos cuidado, amados irmãos e sejamos todos como Daniel, extremamente gratos pelas bênçãos recebidas e reconhecedores de que tudo provém da graça e misericórdia do Senhor.
– Assim que agradeceu a Deus e O louvou, Daniel, imediatamente, não perdeu tempo e foi até Arioque a fim de lhe pedir que fosse levado à presença do rei, pois tinha tido a revelação do sonho e a sua interpretação (Dn.2:24), que, apressadamente, levou Daniel até Nabucodonosor (Dn.2:25).
IV – O SONHO DE NABUCODONOSOR E A SUA INTERPRETAÇÃO
– Arioque levou Daniel à presença do rei e Nabucodonosor, então, indagou o jovem se ele tinha a revelação do sonho e a sua interpretação (Dn.2:26). Daniel, então, mostra toda a sua fidelidade a Deus, pois poderia, muito bem, ter respondido afirmativamente, mas, como era servo de Deus, fez questão de dizer ao rei que o que ele queria não podia ser dado por qualquer ser humano, mas única e exclusivamente por Deus.
Testificou, assim, do único e verdadeiro Deus, Deus que está nos céus, Deus que sabe todas as coisas e que fez, então, saber ao rei o que haveria de acontecer no fim dos dias (Dn.2:27,28), fazendo, ainda, questão de dizer que o fato de lhe ter sido revelado o sonho e a sua interpretação não o fazia melhor do que os outros sábios (Dn.2:30).
– Nabucodonosor estava pensando no futuro, que haveria de acontecer após os seus dias de glória. Era esta a preocupação do rei e, então, o Senhor lhe fez saber o que haveria de ocorrer no fim dos dias.
– Nabucodonosor viu uma grande estátua, cujo esplendor era excelente e cuja vista era terrível. Esta estátua tinha a cabeça de ouro fino, peito e braços de prata, ventre e coxas de cobre, pernas de ferro e pés em parte de ferro e em parte de barro. De repente, uma pedra sem mão foi cortada, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, esmiuçando-os, bem como todo o restante da estátua.
– Devemos observar que o sonho não só saciava o desejo e Nabucodonosor a respeito do futuro, como também representava, desde o início do ministério profético de Daniel, qual seria o futuro do povo judeu, que Daniel havia sido constituído e escolhido pelo Senhor para revelar o futuro do povo escolhido do Senhor, da Sua propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5,6).
– Daniel não só revelou o sonho do rei, mas lhe deu a interpretação. A cabeça de ouro fino simbolizava o próprio rei Nabucodonosor, que é chamado de “rei de reis”, posição sublime esta que não era fruto de uma divinização do próprio Nabucodonosor, mas, sim, algo que lhe fora dado por Deus (Dn.2:37). Babilônia era a cabeça de ouro fino, havia sido constituído como império mundial, império este que seria o primeiro do tempo final do sistema das nações em todo o mundo.
– Daniel aprendia, então, com Deus que o cativeiro da Babilônia não significava um momento apenas de juízo sobre Judá, mas o início de um novo momento, que o Senhor Jesus denominará de “os tempos dos gentios” (Lc.21:24), em que o protagonismo político passaria para as demais nações que não Israel, mas em que tudo terminaria com o cumprimento da promessa messiânica. Deus não perdera o controle das coisas, mas tudo se realizava segundo o Seu propósito.
A perda da independência do povo judeu não significava a submissão de Deus aos deuses dos gentios, mas, sim, era apenas a demonstração de que toda a terra pertencia ao Senhor.
– A cabeça de ouro era Babilônia, porque todo o sistema gentílico estava baseado em Babel, havia sido fundado por Ninrode, um sistema rebelde contra Deus, que se levantou contra o Senhor, querendo ter uma vida independente de Deus, de onde saiu não só a idolatria, mas a tentativa do exercício do poder de modo soberbo, sem qualquer consulta a Deus.
OBS: “…Nabucodonosor foi o primeiro rei da história do mundo então conhecido que conseguiu dominar toda a terra, coisa que nenhum outro monarca conseguira antes dele a não ser Ninrode, o poderoso caçador diante da face de Deus (Cf… Gbn. 10:8-10).…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, p.25).
– Cabeça nos fala de mentalidade e toda a mentalidade do sistema gentílico tem origem nesta rebeldia de Babel. Deus quis que Babilônia construísse o primeiro império mundial deste tempo final para nos mostrar a verdadeira natureza deste sistema, para que não nos impressionemos com o poder humano, sabendo que nada disso permanecerá.
– Entretanto, este reino não perduraria para sempre. Embora Babilônia fosse o máximo esplendor, fosse a “cabeça de ouro fino”, seria substituído por um outro reino, que seria inferior ao babilônio, mas o sucederia. Nabucodonosor ficava a saber, assim, que, além do esplendor que tinha era dádiva do Deus do céu, não seria algo que perduraria para sempre.
A mentalidade de rebeldia contra Deus perduraria, pois é a cabeça que controla todo o corpo, mas não seriam mais os babilônios que continuariam a dominar o mundo.
– Este novo reino, inferior ao babilônio e que, por isso mesmo, era de prata e não de ouro, era o peito e os braços da estátua. O peito nos fala do coração e do pulmão, que sabemos que são órgãos que são os responsáveis pela circulação e pelo trânsito do oxigênio em todo o corpo. Os braços, que são em número de dois, permitem-nos dizer que era um reino constituído de dois povos que se uniriam na construção deste império.
– Ora, sabemos todos que o Império Babilônico foi substituído, na história, pelo Império Medo-Persa, que era formado de dois povos (os dois braços) e que desenvolveu, como ninguém, o sistema administrativo dos impérios mundiais, com a figura dos “olhos e ouvidos dos reis”, funcionários que viajavam por todo o império e traziam informações para o governo central, que deram à administração pública uma nova noção (o peito).
– O próprio Daniel iria testemunhar a concretização deste sonho, pois, quando da interpretação da escrita na parede, já nos dias do rei Belsazar, pôde dizer claramente que o reino babilônio havia findado e transferido para os medos e perdas (Dn.5:28).
– Depois deste segundo reino, surgiria um terceiro reino, representado pelo ventre e coxas de cobre, que, seria, por isso mesmo, inferior ao reino anterior, que, porém, teria domínio sobre toda a terra (Dn.2:39). Isto já nos permite identificar este reino como sendo o Império Greco-Macedônio, constituído por Alexandre, o Grande, cujos domínios foram os mais amplos da história antiga, já que chegou até as proximidades da Índia, algo que nenhum outro império conseguiu alcançar, nem mesmo os romanos.
OBS: “…O primeiro reino (o babilônico) foi de fato o mais ilustre em todos os aspectos, menos em extensão geográfica, pois, nesse sentido, o maior de todos foi o Império Greco-Macedônico. Isso pode ser visto na própria extensão que existe entre o ventre e as coxas da terrível imagem. Essa extensão é maior que a cabeça.…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, pp.45-6).
– O ventre e as coxas de cobre representam este Império Greco-Macedônio, sendo certo que o ventre possui as vísceras do corpo (rins, fígado, baço, aparelho digestivo etc.), vísceras que representam o íntimo do organismo, onde se dão a absorção de energia para todo o organismo.
O grande legado de Alexandre, o Grande foi a síntese da cltura grega com a cultura ocidental, que redundou na “cultura helenística”, que foi a grande forjadora dos traços culturais que não só nortearam a Antiguidade até o seu final mas que, de certa forma, perdura até a atualidade, tendo todos os elementos que caracterizam o paganismo, o pensamento alheio à doutrina judaico-cristã.
– Depois deste terceiro reino, surgiria um outro, representado pelas pernas de ferro, reino que se caracterizaria pela sua força, a força do ferro, que tudo quebraria e esmiuçaria. Este quarto reino representava o Império Romano, que se notabilizaria pelo seu grande poderio militar, que não teria quem o pudesse enfrentar.
– Como eram duas pernas, porém, este Império se dividiria em dois, como, realmente, ocorreu, com a divisão do Império em Império Romano do Ocidente e em Império Romano do Oriente, ambos militarmente fortes durante o seu tempo.
OBS: “…É evidente que as pernas de ferro são o Império Romano, que começou como uma unidade, mas depois foi dividido. É representado pela parte inferior do corpo, dividindo-se nas duas pernas. Estas correspondências encontram-se outra vez nas outras visões deste livro. Este império de ferro teve um princípio de unidade, mas, mesmo assim, essa foi fundada dentro de um paralelismo (as duas pernas). Roma:
1) Fundada por dois irmãos: Rômulo e Remo, depois Rômulo se desentendeu com Rêmulo e o matou em combate.
2) Governada por monarquia e república (mais tarde),
3) Divisão do império em dois: o do Ocidente e o do Oriente. Condição atual: Socialismo versus Capitalismo. Comunismo versus Religião.…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, pp.42-3).
– É curioso observar, também, que, por falar em pernas, que são longas, pois a estátua era grande, isto revela um longo período em que este império, mesmo em sua divisão, haveria de perdurar e, com efeito, em relação aos impérios precedentes, este foi o que mais durou.
– Depois deste reino, surgiria um “reino dividido”, representado pelos pés e pelos dedos da estátua e, neste ponto, temos de dar razão ao escritor Joel Richardson, que vê sempre na interpretação tradicional destes reinos do sonho de Nabucodonosor, nascida nos dias de Jerônimo (347-420), o tradutor da Bíblia para o latim, em seu comentário sobre Daniel, uma indevida consideração de que os pés e dedos são mero desdobramento do Império Romano.
OBS: “…O primeiro problema com a visão preterista de Daniel 2 é a sua inabilidade para dar conta da divisão em duas partes do quarto reino entre as pernas e os pés. Embora a passagem fale de ‘quatro reinos’, quando se analisa a estrutura da passagem, a estátua é vista como dividida em cinco componentes. Há tanto uma continuação quanto uma divisão entre as pernas de ferro e os pés de ferro e de barro. (…).
Porque a posição preterista é incapaz de dar conta satisfatoriamente da clara distinção entre as pernas de ferro e os pés com mistura de ferro e de barro, é forçoso argumentar se os pés meramente representam um período particular no mais largo Império Romano (…). A visão futurista, entretanto, entende os pés da estátua como descrevendo um período final mais largo do quarto império como definido como sua restauração nos últimos dias.
Esta restauração dos últimos dias é claramente articulada pelo apóstolo João no livro do Apocalipse.…” (RICHARDSON, Joel. Uma crítica da interpretação preterista de Daniel 2. Disponível em: http://www.joelstrumpet.com/?p=4115 Acesso em 23 ago. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).
– Com efeito, podemos observar que se trata de um outro reino, de uma outra parte da estátua, ainda que signifique uma continuidade em parte do quarto reino, já que apresenta o mesmo ferro do quarto reino, mas que vem mesclado com o barro, a mostrar que haveria nele “alguma coisa de firmeza do ferro”, mas que não deixa de ser um outro reino, um “reino dividido”, tanto que formado por “dez dedos” dos pés.
– Este reino dos pés e dedos representa o Império Romano restaurado, que será, ainda, restabelecido, conquanto tudo já indique que está em plena formação no cenário político internacional atual. É um reino que tem suas raízes na cultura romana, ou seja, tem suas bases no território que foi dominado por Roma, que abrange tanto o Ocidente, quanto o Oriente, na mais pura tradição sócio-político-econômica forjada no Império Romano, que vemos nitidamente na chamada cultura pós-cristã hoje prevalecente na Europa e nos Estados Unidos da América, potência mundial mas que foi colonizada por europeus.
– Ao mesmo tempo em que temos esta “tradição romana”, representada pelo ferro, temos, também, o barro, temos, também, de um lado, a força do ferro, mas, de outro, a fragilidade do barro, barro que não nos traz outra lembrança senão o do próprio ser humano, ele próprio formado do pó da terra (Gn.2:7).
Trata-se, pois, de um reino que se notabilizará por uma mentalidade humanista, de exaltação do homem, de sua supervalorização, algo que discrepa do pensamento romano, que, como todo pensamento da Antiguidade, notadamente após a “cultura helenística”, via sempre o homem como inferior aos deuses, resultado até do capricho das divindades.
– Na interpretação do sonho, Daniel ainda diz que assim como o ferro não se mistura com o barro, haveria uma coexistência deste dois pontos-de-vista, a tradição romana, forjada na Antiguidade, e o humanismo representado pelo barro, circunstância que podemos verificar claramente em nossos dias, em que, ao lado de todo o humanismo que repudia até a ideia de Deus, vemos, também, aumentar a religiosidade e a definição do homem como sendo guiado por uma divindade ou várias divindades, em movimentos como o Islamismo ou a Nova Era.
– A propósito, bem diz o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho que, no mundo de hoje, podemos distinguir basicamente três projetos de dominação global, forças históricas que disputam o poder no mundo, a saber: o “russo-chinês”, o “ocidental” e o “islâmico”.
Nestes três projetos, podemos ver, perfeitamente, a força do ferro nos projetos “russo-chinês” e “islâmico” e o barro, no projeto “ocidental”.
OBS: “…Os agentes que hoje os personificam são respectivamente:
- A elite governante da Rússia e da China, especialmente os serviços secretos desses dois países.
- A elite financeira ocidental, tal como representada especialmente no Clube Bilderberg, no Council on Foreign Relations e na Comissão Trilateral.
- A Fraternidade Islâmica, as lideranças religiosas de vários países islâmicos e também alguns governos de países muçulmanos. Desses três agentes, só o primeiro pode ser concebido em termos estritamente geopolíticos, já que seus planos e ações correspondem a interesses nacionais e regionais bem definidos.
O segundo, que está mais avançado na consecução de seus planos de governo mundial, coloca-se explicitamente acima de quaisquer interesses nacionais, inclusive os dos países onde se originou e que lhe servem de base de operações.
No terceiro, eventuais conflitos de interesses entre os governos nacionais e o objetivo maior do Califado Universal acabam sempre resolvidos em favor deste último, que embora só exista atualmente como ideal tem sua autoridade simbólica fundada em mandamentos corânicos que nenhum governo islâmico ousaria contrariar de frente.
As concepções de poder global que esses três agentes se esforçam para realizar são muito diferentes entre si porque brotam de inspirações ideológicas heterogêneas e às vezes incompatíveis. Não se trata, portanto, de forças similares, de espécies do mesmo gênero.
Não lutam pelos mesmos objetivos e, quando ocasionalmente recorrem às mesmas armas (por exemplo a guerra econômica), fazem-no em contextos estratégicos diferentes, onde o emprego dessas armas não atende necessariamente aos mesmos objetivos.…” (CARVALHO, Olavo de. Debate com Duguin-I. Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/textos/110307debate.html Acesso em 23 ago. 2014).
– Temos, assim, claramente um reino dividido, com forças irreconciliáveis, que, entretanto, se aliam aqui e ali para tentar alcançar seus objetivos. É este verdadeiro “quinto reino”, continuação de certa forma do quarto, que foi visto por Nabucodonosor em seu sonho.
– De repente, porém, uma pedra era cortada sem mão e esmiuçava os pés e dedos da estatua e, em seguida, esmiuçava toda a estátua, enchendo toda a terra. Esta pedra sem mão foi interpretada por Daniel como sendo um reino que jamais seria destruído, que substituiria todo este sistema gentílico e que seria estabelecido pelo próprio Deus. Era este o futuro que estava reservado para a humanidade e que Deus havia revelado a Nabucodonosor, satisfazendo a curiosidade do rei, respondendo às suas preocupações.
– Este reino que jamais será destruído e que é representado pela pedra cortada sem mãos, outro não é senão o reino milenial de Cristo, o único reino que abarcará literalmente toda a Terra (por isso a pedra encheu a Terra). Cristo é a pedra (Mt.16:18; I Co.10:4; I Pe.2:4), pedra que virá do céu, a fim de estabelecer um reino que nunca será destruído.
– É interessante notar que a pedra, embora tenha sido cortada sem mãos, ou seja, tenha sido inserida na história de modo sobrenatural, não atingiu a cabeça da estatua, mas, sim, os dedos e os pés, a nos mostrar, claramente, que a sequência da estátua é uma sequência cronológica, que tem final nos pés e dedos. Logicamente que, destruindo os pés e dedos, ela acabou por destruir toda a estátua, mas esta destruição é a destruição da memória de rebeldia contra Deus, dos legados deixados pelos impérios precedentes, que perdurariam no “reino dividido”.
OBS: “…A pedra (Cristo), cortada do monte, haveria de ferir a estátua, não na cabeça (Império Babilônico) nem no peito e braços (Império da Medo-Pérsia) nem no ventre e coxas (Império Greco-macedônico) nem nas pernas (Império Romano daqueles dias), mas cairá sobre os ‘pés’ do colosso (fragmentos do Império Romano restaurado: os dez reis escatológicos).
Isso ocorrerá no vale do Armagedom. Isso acontecerá em virtude das predições contemporâneas preditas pelos apóstolos e pelo próprio Senhor (Mt.24:30). Elas indicam que, no retorno de Cristo à Terra, com poder e grande glória, Jesus será visto fisicamente na Palestina, quando forças confederadas do Anticristo tiverem conquistado a Terra Santa, ameaçando aniquilar o povo judeu. Devemos observar que, quando o Filho de Deus veio a este mundo (durante o Império das pernas de ferro), Roma não sentiu nada, não sentiu qualquer choque, nem começou a enfraquecer. Ao contrário, sob esse império de ferro foi morto nosso Salvador.
Portanto, é evidente que a pedra cairá ‘nos pés’ da estatura numa era ainda futura.…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, p.43).
– Após a revelação e interpretação do sonho, o texto sagrado diz que Nabucodonosor se lembrou do sonho e, atônito, caiu sobre o seu rosto e adorou Daniel, ordenando-lhe que se lhe fizesse uma oferta de manjares e perfumes suaves (Dn.2:46).
– Alguns perguntam como Daniel aceitou ser adorado, já que, como judeu, sabia que somente Deus devia ser adorado, tendo, aliás, no início de sua fala, exaltado o único e verdadeiro Deus e feito questão de dizer que não era ele o responsável por aquela revelação, mas, sim, o Deus que havia no céu, expressão que alguns estudiosos veem como sendo uma forma de Daniel procurar mostrar ao rei Nabucodonosor que o “deus primordial” dos babilônios, chamado de “An” ou “Anu”, que tanto significa “céu” como “Senhor do céu”, era o Deus que tinha o controle de todas as coisas e que revelara o sonho e sua interpretação.
OBS: Sobre este deus único que fora reverenciado pelos mesopotâmios, interessante assistir ao programa Evidências, com o título “As origens do monoteísmo”, da TV Novo Tempo, que pode ser visto no seguinte endereço: http://novotempo.com/evidencias/videos/as-origens-do-monoteismo/ .
– Como, porém, Daniel aceitou ser adorado? Responde o pastor José Serafim de Oliveira: “…Por que Daniel também não recusou a adoração de Nabucodonosor e as ofertas de manjares e suaves perfumes? Daniel, na condição de súdito, não podia se opor â vontade do rei. Deus estava exaltando o Seu servo na corte de Babilônia. Deus exalta o nome dos Seus obreiros (Js.3:7, 4:14).…” (Panorama teológico e histórico dos livros de Daniel e Apocalipse, p.10). (cópia para revisão, com a obra ainda no prelo).
– Daniel tinha habilidade para viver no palácio do rei e, como tal, não se opôs àquela atitude de Nabucodonosor. Ele fizera a sua parte, mostrando ao monarca que Deus era o único responsável por aquela revelação. Podemos, sim, ver aí uma falha da parte de Daniel que, tão corajoso para pedir para ir até a presença do rei e para pedir-lhe um tempo para revelação do sonho e sua interpretação, poderia, também, ter sido mais enérgico para evitar aquela circunstância, mas isto, em vez de desmerecer Daniel, apenas revela que ele era homem e que não há homem que não peque e, portanto, como ocorre com todas as personagens bíblicas, com exceção de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, apresentou aqui uma fraqueza, uma tibieza que teria sido melhor evitar.
– Devemos, também, levar em conta que o próprio rei Nabucodonosor havia dito que quem revelasse e interpretasse o sonho seria coberto de honrarias (Dn.2:6), de modo que Daniel não poderia, simplesmente, mandar que o rei revogasse a ordem que havia dado, sendo este mais um fator a demonstrar que Daniel não poderia simplesmente se opor àquele atitude real.
– Nabucodonosor, embora tenha adorado Daniel e lhe ofertado manjares e perfumes suaves, não se esqueceu daquilo que Daniel havia dito antes mesmo de revelar o sonho e a sua interpretação. Reconheceu que o Deus de Daniel era o Deus dos deuses, o Senhor dos reis e o revelador dos segredos (Dn.2:47), prova de que, da parte de Daniel, aquela aceitação não passou de uma tibieza, jamais de uma atitude de vanglória.
– Como resultado disto, Daniel foi engrandecido na corte babilônia, tendo sido posto como governador de toda a província da Babilônia, que era a província principal do reino, tendo sido posto, também, como chefe de todos os sábios da Babilônia.
– Daniel, ao receber tais honrarias, não se esqueceu de seus companheiros, que, com ele, haviam passado o dia e a noite em oração clamando ao Senhor. Daniel pediu ao rei que também honrasse a Hananias, Misael e Azarias e eles foram constituídos sobre os negócios da província de Babilônia, ou seja, como assessores diretos, portadores de cargo de confiança de Daniel (Dn.2:49).
– Neste ponto é que alguns estudiosos entendem que o tempo deste episódio não poderia se dar quando ainda Daniel e seus amigos estavam sendo alunos, ou seja, no segundo ano da preparação, pois teriam sido alçados a posições de honra antes mesmo da avaliação descrita em Dn.1:19. Por isso, postulam que isto se tenha dado dois anos após a aprovação daqueles jovens.
– Vemos aqui como a sabedoria dada a Daniel era, realmente, uma sabedoria vinda do alto, para se utilizar da expressão cunhada por Tiago (Tg.3:17). Daniel não só fez questão, em sua fala com o rei, de “salvar a pele” dos demais sábios babilônios, fazendo questão de mostrar ao rei que o ele pedira era algo que estava além da capacidade humana, como também, após ser honrado, não deixou de interceder pelos seus companheiros.
– Daniel não foi egoísta, não quis a glória somente para si, mas pensou nos demais sábios babilônios, como também nos seus companheiros. O verdadeiro e genuíno servo de Deus não se orgulha, não pensa somente em si, mas tem prazer no bem-estar do outro, quer o bem dos outros, não folga com a injustiça, mas é benigno e bom.
– Daniel sabia que os sábios de Babilônia seriam injustamente executados, que, apesar da mentira e ilusão do misticismo religioso de Babilônia, não podiam eles ser executados, tinha-se ali uma oportunidade para mostrar quem era o verdadeiro e único Deus e, nesta glorificação do nome do Senhor, deveria haver a marca da misericórdia e da graça, que caracterizam a única e verdadeira divindade. Ao mesmo tempo, Daniel bem sabia que aqueles que haviam compartilhado a aflição e a adversidade, também deveriam compartilhar a honra e a glória.
– Temos agido desta maneira, amados irmãos? Temos sido altruístas, ou seja, pensado nos outros? Temo-nos visto como instrumento da glória do nome do Senhor, mas também canal de bênçãos para com aqueles que são injustiçados, mesmo vivendo no erro e no pecado, como também para com aqueles que compartilham as nossas aflições e dores? Daniel nos dá um grande exemplo de como devemos agir com relação ao próximo.
– Daniel havia se tornado profeta de Deus, como também alcançado, juntamente com seus companheiros, lugar de destaque no reino da Babilônia. Tinham sido alçados a uma posição de honra, mas para continuar a glorificar o nome do Senhor, como veremos na sequência deste livro.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/4T2014_L3_caramuru.pdf