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LIÇÃO Nº 3 – O PERIGO DO ENSINO PROGRESSISTA

A atuação maligna atinge até o estudo da Palavra de Deus, através do chamado liberalismo teológico.

INTRODUÇÃO

-Desde os primórdios da história da humanidade, a Bíblia nos revela que uma das armas de Satanás na sua luta contra a felicidade do homem é a distorção das Escrituras, da Palavra de Deus. Assim fez no Éden e assim também procedeu na tentação de Jesus.

-Neste período final da dispensação da graça, o adversário tem atuado através da chamada “teologia liberal”, que é uma tentativa racional de negativa da veracidade da Palavra de Deus. Devemos estar atentos, para não sermos enganados por mais esta astuta cilada do inimigo de nossas almas.

I – O QUE É A TEOLOGIA

-Ao criar o homem, Deus fê-lo com a capacidade do raciocínio, com a capacidade do pensamento. O homem foi feito um ser com condições de ter consciência de si mesmo e do que o cercava, inclusive da realidade da existência, da soberania e da companhia de Deus.

Por isso, Deus afirmou que o homem poderia dominar a criação terrena (Gn.1:26,28), como também guardar e lavrar o jardim que havia sido formado no Éden para ser sua habitação (Gn.1:15).

-No entanto, a mais exuberante demonstração de que o homem era capaz de raciocinar, de pensar é encontrada no gesto divino em que o Senhor delegou ao homem o poder de dar nome aos animais do campo e às aves do céu, tarefa da qual o homem se desimcumbiu muito bem (Gn.1:19). Com este gesto, Deus mostrou ao homem que ele tinha a capacidade de criação intelectual.

-Vemos, assim, que o homem tinha uma diferença em relação aos demais seres da Terra, esta capacidade de raciocínio, a razão, que tinha por objetivo fazer com que o homem dominasse a criação terrena, bem assim se relacionasse conscientemente com o seu Criador.

-Com base nestas evidências bíblicas, podemos afirmar, portanto, que o homem é um ser capaz de conhecer e de construir um conhecimento a partir de suas habilidades, habilidades estas dadas por Deus quando do ato da criação do ser humano.

Não se pode, pois, entender senão como plenamente natural e querido por Deus o desenvolvimento intelectual do homem.

-Mesmo após o pecado, estas habilidades do homem não lhe foram tiradas, ainda que a natureza pecaminosa do homem, que o domina (Gn.4:7; Rm.7:16-19), faça com que todas as realizações do engenho humano tenham uma utilização que produza o que não é bom para o homem.

Vemos, pois, a notícia do desenvolvimento tecnológico em plena civilização caimita (Gn.4:20,21) ou, então, da civilização da comunidade única pós-diluviana (Gn.11:3).

Nesta capacidade de criação e de raciocínio, o homem, ao longo dos séculos, produziu algumas espécies de conhecimento, a saber:

a) conhecimento artístico – A arte é uma demonstração da capacidade criativa do homem em que se expressa a sensibilidade.

O homem, através das obras de arte, extravasa os seus sentimentos e o produto da obra é feito para que as pessoas gostem ou não dele.

As próprias Escrituras dão-nos conta de pessoas aquinhoadas pelo Senhor com esta habilidade artística, como é o caso de Bezalel e Aisamaque (Ex.31:1-6).

b)conhecimento científico – A ciência é uma demonstração da capacidade criativa do homem em que se expressa o raciocínio, a razão.

O homem, através da atividade científica, consegue dar explicações sobre os fenômenos que o cercam e lhe permitem dominar a natureza.

As Escrituras descrevem a história humana como sendo a história do contínuo progresso científico (Dn.12:4 “in fine”).

c)conhecimento filosófico – A filosofia é uma demonstração da capacidade criativa do homem em que se expressa, também, o raciocínio, a razão.

O homem, através da atividade filosófica, consegue dar explicações globais a respeito do mundo e do universo, a partir da razão. A atividade filosófica é um meio válido para se descobrir a verdade, como se lê em Cl.2:8.

d)conhecimento teológico – A teologia é uma demonstração da capacidade criativa do homem em que se expressa, também, o raciocínio, a razão.

O homem, através do conhecimento teológico, consegue dar explicações a respeito do mundo e do universo, a partir da revelação divina, a partir das Escrituras Sagradas.

Embora a justificação seja pela fé (Rm.5:1), nosso culto deve ser racional (Rm.12:1). A razão deve sempre ser um acessório que amplifica o alcance da fé.

-“Teologia” é palavra grega que significa “estudo de Deus”. Trata-se, portanto, de um estudo, ou seja, de uma atividade intelectual, racional que tem por finalidade o entendimento a respeito das coisas relativas a Deus e à Sua Palavra, atividade esta exercida a partir da revelação divina ao ser humano.

-Deus fez o homem com a capacidade de raciocinar, de entender, de pensar e, por isso, é bem possível que, por intermédio da razão, o homem venha a aumentar o seu conhecimento a respeito de Deus, a partir daquilo que foi revelado pelo Senhor ao homem nas Escrituras Sagradas.

-As Escrituras Sagradas foram dadas ao homem por Deus para que fossem estudadas, examinadas, compreendidas. Ao se aproximar do eunuco que era o mordomo-mor da rainha Candace, Filipe lhe interrogou se entendia o que estava lendo (At.8:30b).

Isto nos mostra, claramente, que há não só a necessidade de lermos a Bíblia Sagrada, mas também de a entendermos, de a compreendermos. Com efeito, Deus revelou e mandou que fosse registrada a Sua Palavra para que cada ser humano a pudesse entender, o que só é possível mediante o exercício do intelecto, da razão.

-É dever de todo homem estudar a Palavra de Deus, pois, como disse Moisés ao povo de Israel, ela não é vã, mas, antes, é a nossa vida (Dt.32:47).

Com base, aliás, nesta passagem bíblica, encontra-se alicerçado o ensino do rabino judeu Jochanan ben Zacai, que, por sua vez, teria aprendido esta máxima de Hilel, um dos grandes mestres judaicos e que viveu cerca de cem anos antes de Cristo, segundo a qual, “…se tiveres estudado muito a Tora, não te louves a ti mesmo, pois para isto foste criado.” (Pirke Avot – tratado do Talmude – 2:9).

-O profeta Oseias conclama a todos a conhecerem e prosseguirem em conhecer o Senhor (Os.6:3), tendo, também, salientado que o povo das dez tribos do norte foram destruídas porque lhes faltou, precisamente, o conhecimento do Senhor (Os.4:6).

O exame das Escrituras é fundamental para o ser humano, pois é nelas que se encontra a vida eterna, bem como são elas que testificam de Jesus (Jo.5:39).

-De tudo o que vimos, portanto, não podemos nem sequer admitir como remota possibilidade a tese de que não se deve estudar teologia ou de que o estudo teológico é algo que não é aprovado pela Bíblia Sagrada.

Muito pelo contrário, a Bíblia não cessa de esclarecer o homem de que é necessário que nos aprofundemos nas riquezas das coisas espirituais reveladas por Deus (Rm.11:33-36), que meditemos dia e noite na lei do Senhor (Sl.1:2), que cresçamos na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pe.3:18a).

-O estudo das Escrituras pode e deve ser feito de modo sistemático, ou seja, independentemente de qualquer problema doutrinário ou dificuldade que alguém tenha, de uma forma organizada, ordenada, que leve em conta todo o conteúdo das Escrituras, como se faz nos cursos de teologia.

A teologia, por ser um estudo racional, deve ser estudada e ensinada com método, um método rigoroso, que é o método científico, ou seja, com uma organização de disciplinas, de matérias, num determinado período de tempo. Isto é o que tem em comum a teologia com a ciência e com a filosofia.

-No entanto, enquanto a ciência e a filosofia partem da razão humana, da capacidade criativa do homem, dos pensamentos e imaginações do ser humano, a teologia, pelo contrário, tem como ponto de partida as Escrituras Sagradas, a revelação divina que encontra seu ponto alto na Palavra de Deus, que é a testemunha do próprio Jesus, que é o próprio Deus revelado ao homem (Jo.1:1; Hb.1:1; Ap.19:13).

-Vemos, portanto, que mal algum há na existência e no estudo da teologia, que é uma forma de conhecimento criada pelo próprio Deus e através do qual o homem tem condições de compreender plenamente, fazendo uso da razão que o Senhor mesmo lhe deu, para se aprofundar no conhecimento a respeito do seu Criador, conforme estabelecido na Bíblia Sagrada.

A teologia apresenta-se, pois, como um instrumento importante para a segurança do cristão, para a ampliação da sua fé. Pela fé somos salvos (Ef.2:8), mas, acrescentando à fé nossa razão, mediante o estudo metódico e organizado da Palavra de Deus, passamos a “conhecer a certeza das coisas de que já estamos informados” (Lc.1:4).

-Portanto, tudo o que falaremos aqui a respeito da teologia liberal e dos males que ela ocasiona para a vida espiritual do cristão, nestes dias difíceis em que estamos vivendo, em absoluto significa qualquer repúdio ao estudo teológico ou à teologia, nem se poderá adotar uma postura contrária ao estudo da Palavra de Deus, um  “anti-intelectualismo” que não tem qualquer respaldo bíblico.

II – O QUE É O RACIONALISMO

-Vimos que as atividades de conhecimento exercidas pelo homem são todas elas dependentes da razão, ainda que o conhecimento artístico tenha a razão numa posição secundária, como verdadeira coadjutora da sensibilidade, que, nas artes, se sobressai como o principal atributo utilizado na produção da obra de arte.

-A razão, portanto, é um elemento que adquire no homem um papel importante, tendo sido, mesmo, nas palavras do filósofo grego Aristóteles, a grande diferença, a distinção essencial entre o homem e os demais seres que habitam a face da Terra.

-Cedo, pois, notadamente na tradição filosófica do Ocidente, a razão passou a ser enaltecida e entendida como o grande atributo do homem.

Para os filósofos gregos Sócrates e Platão (que viveram cerca de trezentos anos antes de Cristo), por exemplo, encontrava-se na razão a própria consciência do homem e a possibilidade de o homem atingir o pleno conhecimento e a felicidade se se guiasse apenas por este atributo, desprendendo-se do que consideravam ser a “ilusão deste mundo”.

Com Aristóteles, aluno de Platão, o homem encontrou na razão, como já dissemos, a sua própria essência, o seu caráter distintivo em relação aos demais seres.

Para os filósofos estoicos (At.17:18), a razão era o próprio fio condutor não só do homem, mas também de todo o universo, na medida em que consideravam que era o “logos” (como era chamada a razão) o próprio universo, de que o homem seria uma pequena partícula.

-No entanto, este elogio da razão humana cederia espaço, ante a evangelização do mundo, a uma postura de supremacia da fé.

Com a pregação do Evangelho, que triunfou notadamente na área do Império Romano, a razão assumiu um papel auxiliar diante da fé, que era, como diziam as Escrituras, o instrumento pelo qual o homem alcançava a salvação.

-Uma das grandes discussões das primeiras gerações cristãs, principalmente após o início da evangelização dos gentios, foi a posição da Igreja diante da filosofia.

O mundo greco-romano era impregnado da filosofia, tida, então, como a mais sublime das atividades intelectuais e a pregação do Evangelho, com a sua doutrina da salvação pela fé, punha em xeque os conceitos filosóficos então vigentes.

-Os primeiros a enfrentar a questão da filosofia diante da Palavra de Deus, que nada mais era senão a discussão do papel da razão ante a mensagem da salvação em Cristo Jesus, foram os chamados “apologetas cristãos”, ou seja, os servos de Deus que, tendo aceitado o evangelho entre as elites sociais e intelectuais de Roma e do seu Império, passaram a defender a fé cristã dos ataques que os intelectuais incrédulos começaram a fazer contra a nova doutrina.

-Destaca-se, nesta discussão, Justino (?-163 ou 167), que já era filósofo antes de se converter ao Cristianismo, foi o primeiro a mostrar que a filosofia não é contrária à doutrina cristã, mas que a revelação completa de Deus deu-se somente por intermédio de Cristo, mas que a filosofia já tinha representado uma revelação parcial, a partir da razão, da verdade que se apresentaria completamente no Senhor.

-A partir desta linha, que teve em Clemente de Alexandria, um dos “pais da Igreja” (nome que designa os grandes nomes do Cristianismo depois dos apóstolos até o final da Idade Média, nos cinco primeiros séculos da história da Igreja), um dos grandes expoentes, que considerou que a filosofia tinha sido para os gentios o que foi a lei para os judeus, ou seja, como uma preparação para a revelação de Cristo por intermédio da pregação do Evangelho, cristalizou-se a ideia de que a fé tinha a razão como grande auxiliar no processo do conhecimento humano.

-Durante toda a Idade Média (476-1453), a fé sempre ocupou lugar de destaque na produção intelectual. A teologia passou a ser a grande mestra de todas as ciências e até mesmo da filosofia. Todo o conhecimento intelectual encontrava-se submetido à doutrina da Igreja, sendo inadmissível que toda e qualquer atividade científica, artística ou filosófica viesse a contrariar a sã doutrina.

-Entretanto, confundiu-se a sã doutrina, a Palavra de Deus com os dogmas e os preceitos que foram adotados, muitos deles ao arrepio da própria Bíblia Sagrada, pela cúpula da Igreja Romana, ao longo dos séculos da Idade Média. Passou-se, então, a exigir que toda atividade intelectual do homem fosse concorde com os preceitos e doutrinas de homens e de demônios que foram incorporados ao chamado “Magistério da Igreja”.

OBS: Aliás, até hoje, é preciso frisar, a Igreja Romana entende que duas são as fontes de revelação divina: as Escrituras e a tradição, entendida esta tradição como sendo, precisamente, o que passou a ser praticado pela Igreja Romana ao longo dos séculos, tenha ou não respaldo bíblico.

Isto foi reafirmado no Concílio Vaticano II (1962-1965), como se vê deste trecho do documento Dei Verbum:

“…Portanto esta Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura de ambos os Testamentos são como o espelho em que a Igreja peregrinante na Terra contempla a Deus, de Quem tudo recebe, até que chegue a vê-lO face a face como é (cf. I Jo.3,2)…” (Dei Verbum, n.7).

-Ora, como só a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17), a partir do momento que se passou a dirigir e a orientar a atividade intelectual do homem, de forma impositiva e não raras vezes com o uso de violência física e moral (como aconteceu após a criação da Inquisição), para que se conformasse e concordasse com preceitos humanos e até de inspiração satânica, teve-se a porta aberta para a descoberta de elementos e de fenômenos que contrariavam os dogmas religiosos então estabelecidos.

-O contacto dos europeus com o Oriente, intensificado após a invasão dos árabes de regiões no Norte da África e da Península Ibérica (Portugal e Espanha), como também com a realização das Cruzadas, expedições militares patrocinadas pelo Papado para a “reconquista da Terra Santa” aos cristãos, depois da proibição da ida a cristãos ali pelos turcos seldjúcidas, muçulmanos radicais, que passaram a dominar a região, há o aumento da produção intelectual em desacordo com os preceitos da Igreja Romana.

-O resultado de todo este movimento foi o que os historiadores denominaram de “Renascimento” ou “Renascença”, um intenso movimento intelectual que, iniciado por volta do século XIII e XIV, na Europa, representou a dissociação entre o pensamento científico-artístico-filosófico e a Igreja Romana.

A produção intelectual dissociou-se do controle doutrinário da Igreja Romana. Simultaneamente, dentro da própria Igreja, surgem aqueles que começam a contestar os dogmas, fazendo o confronto entre a dogmática existente e as

Escrituras Sagradas. É o movimento conhecido como “Reforma Protestante”, que tem nas figuras de Martinho Lutero e de João Calvino as suas maiores expressões.

A partir de então, a Igreja Romana perde, também, o monopólio de dizer qual é a doutrina verdadeira, havendo milhares de pessoas que se voltam para a autenticidade das Escrituras, que reencontram na Bíblia a única regra de fé e de prática.

-Na recusa do controle por parte da Igreja Romana, os pensadores do Renascimento quiseram tornar ao período anterior ao Cristianismo, ou seja, aos princípios que haviam norteado os pensadores do mundo greco-romano, daí até porque terem chamado este movimento de “renascimento”, ou seja, um novo nascimento, um ressurgimento da antiga cultura greco-romana.

-Não foi difícil, portanto, chegar-se à ideia de que não se poderia ter outro mecanismo de conhecimento a não ser a razão, deixando-se de lado a fé como elemento de conhecimento.

Havia uma ânsia de libertação do jugo imprimido pelo controle estabelecido pela Igreja Romana e esta ânsia se concretizou numa tentativa de abandono das Escrituras como critério de verdade.

A ciência e a filosofia, doravante, dedicar-se-iam apenas ao uso da razão, ao estabelecimento de um método que garantisse a verdade das conclusões racionais, sem que se recorresse à revelação divina.

-Este comportamento de privilégio à razão é que se denominou de “racionalismo”, postura que teve seu máximo esplendor na figura do filósofo francês René Descartes (1596-1650), que, em vários escritos, demonstrou que o homem era portador de “ideias inatas”, ou seja, ideias que tinha desde o nascimento e que lhe permitiam chegar à verdade, independentemente de qualquer revelação.

Descartes, aliás, usando de uma antiga prova da existência de Deus que havia sido desenvolvida por Anselmo de Cantuária, primeiro bispo da Inglaterra e um grande teólogo e filósofo, mostra que, a partir da razão, se poderia chegar à comprovação da existência de Deus e de Seu papel de garantidor de todo o conhecimento, sem que, para tanto, fosse sequer necessário recorrer às Sagradas Escrituras.

-Mais ou menos na mesma época, o cientista católico italiano Galileu Galilei será condenado pela Igreja Romana por ter dito que a terra se movia, contrariando, assim, dogmas estabelecidos pela própria Igreja.

O seu caso, que passou para a história como um marco na luta entre fé e ciência, serviu e tem servido até hoje para mostrar a prevalência da ciência diante da religião ou da fé.

Entretanto, quando se leem os documentos do caso, vê-se, claramente, que nem Galileu tinha, na oportunidade, prova do que estava a afirmar (o que torna a sua teoria, do ponto-de-vista científico, imprestável, tanto que o movimento da Terra somente seria provado pouco mais tarde através de Isaac Newton),

como também a Igreja Romana se equivocara, seja porque não tinha respaldo bíblico o que elevara a nível de dogma, seja porque Galileu jamais renegou as Escrituras como fonte de verdade, mas, sim, questionou a manutenção de um dogma ante a presença de experimentos científicos comprovados que o desmentissem, aconselhando, então, que se deveria fazer a revisão da interpretação das Escrituras, pois reconhecia nelas a qualidade de verdade.

-O racionalismo, portanto, surge na Europa, a partir do século XIII e XIV, como uma reação aos dogmas da Igreja Romana, confundindo, assim, estes dogmas com a verdade da Palavra de Deus e proclamando uma independência entre ciência e filosofia, de um lado, e a fé e a teologia, de outro. Mais uma vez, o “mistério da injustiça” opera no sentido de desqualificar e desacreditar a Palavra de Deus.

III – O QUE É A CRÍTICA BÍBLICA

-É neste contexto que devemos entender o surgimento da chamada “crítica bíblica”, que, como tal, apareceu no século XVIII. Havia, como vimos, do lado intelectual, uma recusa de aceitação dos dogmas religiosos e um elogio à razão e, do lado religioso, uma recusa na aceitação dos dogmas religiosos que não tivessem fundamento na Bíblia Sagrada, cujo estudo, leitura e disseminação encontrou grande avanço após a Reforma Protestante.

-Com efeito, a partir do momento que os “protestantes” passaram a defender que a Bíblia era a Palavra de Deus e a única regra verdadeira a ser seguida, era indispensável e inevitável que a Bíblia fosse distribuída entre todos os fiéis, o que foi extremamente facilitado porque, concomitantemente à Reforma Protestante, foi inventada a imprensa, o que permitiu que a Bíblia fosse posta nas mãos dos europeus.

O próprio Lutero defendeu arduamente um projeto de alfabetização da população, como sendo uma política básica de todo e qualquer governo, pois somente aprendendo a ler poderia o homem conhecer as Escrituras e alcançar a salvação pela fé.

-Era, portanto, natural que, diante da disseminação das Escrituras, da busca do estudo da Bíblia Sagrada e da própria exigência de um método rigoroso e racional para que se reconhecer algo como verdadeiro que se iniciasse o estudo a respeito da Bíblia Sagrada, que se passasse a examinar a Bíblia não sob um aspecto de aprendizado e de entendimento da revelação divina, mas sob o aspecto de julgamento racional da Bíblia.

Passou-se, então, a “julgar” a Bíblia, a tentar, a partir do texto ou do contexto, “verificar” e “analisar” as Escrituras. É o que se denominou de “crítica bíblica” (“crítica” é palavra grega que significa “julgamento”, “análise”).

-A “crítica bíblica” costuma ser dividida em duas espécies, a saber:

a)“baixa crítica” – é a crítica do texto das Escrituras, ou seja, a análise dos textos bíblicos, das traduções, versões, dos manuscritos utilizados, estudo este que ganhou impulso com a elaboração do “Textus Receptus”, ou seja, “Texto Recebido”, uma compilação de manuscritos gregos da Bíblia Sagrada, feita por Erasmo de Roterdã, um dos grandes nomes do Renascimento, contemporâneo de Lutero (embora tenha sido católico), compilação que serviu de base para as principais traduções da Bíblia para as línguas europeias (inclusive a Versão de João Ferreira de Almeida para a língua portuguesa).

b)“alta crítica” – é a crítica que envolve qualquer coisa fora do texto, como as questões de autoria, propósito, problemas linguísticos, pano de fundo histórico, unidade, proveniência, datas etc.

-Quando falamos em “crítica bíblica”, devemos, de pronto, discernir duas condutas bem distintas. A primeira diz respeito ao julgamento que é natural em cada ser humano.

O homem é um animal racional e para que possa entender o que está escrito, é preciso que faça uma análise, um julgamento do texto enquanto tal.

Desta maneira, quando, ao lermos as sagradas letras, procuramos saber as circunstâncias em que o texto foi escrito, os costumes dos povos na época do escrito, outras versões do texto que estamos lendo, inclusive nas línguas originais, para que tenhamos uma melhor compreensão, estamos, sem dúvida alguma, fazendo uma “crítica” do texto, mas um julgamento que tem como objetivo uma melhor compreensão, um melhor entendimento, a correta absorção do conteúdo do texto.

OBS: “…A palavra crítica vem do grego kritiké, do feminino kritikós. Denota basicamente dois conceitos um positivo como Juízo crítico, discernimento, critério, discussão dos fatos históricos, apreciação minuciosa; e outro negativo, ato de criticar, de censurar, condenação, julgamento
ou apreciação desfavorável.…” (João FLÁVIO e Paulo CRISTIANO. Crítica bíblica.

http://www.google.com/search?q=cache:8xj0qZajx0gJ:www.cacp.org.br/criticismo-critica.htm+%22cr%C3%ADtica+b%C3%ADblica%22&hl=pt-BR Acesso em 21 set. 2005)

-Posição diversa, entretanto, é a que se toma quando se procura “julgar” o texto, mas não no sentido de entendê-lo, mas de “verificá-lo”, de “atestar a sua veracidade”, de “confirmar a sua autenticidade”.

Neste ponto, passamos a ser “juízes” do texto bíblico, a nos arvorarmos em “aferidores da medida de verdade” do texto, o que, evidentemente, é algo que deve ser recriminado, pois, como bem afirmam as próprias Escrituras:

“…Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? Ou a tua obra: Não tens mãos?” (Is.45:9b). Sendo a Bíblia, como o é, a Palavra de Deus, quem é o homem para verificar se o texto bíblico está correto ou não? Se ele é autêntico ou não? Se ele diz a verdade ou não?

-O homem do século XVIII, embriagado pela razão, achando que a razão tudo resolveria, tudo solucionaria, entende que a sua razão é capaz de examinar e de julgar o texto bíblico, que passou a ser considerado como um texto lendário, como um texto fantasioso, como um texto mitológico, assim como as antigas lendas dos povos antigos. Esta crítica bíblica é o gérmen, a origem da “teologia liberal”, que é o tema desta lição.

-A crítica bíblica surgiu, propriamente, com a obra do médico francês Jean Astruc “…em seu tratado sobre o Gênesis em 1753. Astruc, conquanto defendesse a autoria mosaica do livro, asseverou entretanto, que havia indícios de várias fontes entrelaçadas por todo o livro.

Em outras palavras, Moisés lançou mão de várias fontes e não somente uma para compor o livro. Pode-se dizer então que a Alta Critica se originou devido às investigações do Pentateuco, embora, de maneira naturalista e racional, relegando os milagres bíblicos a meras lendas e contos populares.

Até mesmo muitas passagens, locais, personagens e costumes considerados por cristãos e judeus durante séculos como verídicos, foram postos sob suspeita.

Tendo este pano de fundo histórico em mente, podemos então entender onde se firmam as bases do liberalismo teológico.

É de se considerar que, desde Astruc até aos dias de hoje, têm surgido várias escolas de Alta Critica, com as mais variadas teorias distanciando cada vez mais dos relatos bíblicos, levando assim, para mais longe da ortodoxia as conclusões delas resultantes.

Por isso em alguns círculos ela é chamada pejorativamente de “Alta Crítica destrutiva” ou “negativa”.…” (FLÁVIO, João e CRISTIANO, Paulo. Crítica bíblica. http://www.google.com/search?q=cache:8xj0qZajx0gJ:www.cacp.org.br/criticismo-critica.htm+%22cr%C3%ADtica+b%C3%ADblica%22&hl=pt-BR Acesso em 21 set. 2005)

-Como se pode perceber, portanto, a crítica bíblica passou a querer analisar a Bíblia sob o ponto-de-vista da razão, aceitando somente as narrativas bíblicas que pudessem ser objeto de comprovação, recusando-se tudo o mais.

A partir do chamado “criticismo”, portanto, a razão passou a ser o critério de verificação das Escrituras, como se a Bíblia Sagrada fosse um livro qualquer, pudesse ser comparada a qualquer relato mitológico de qualquer povo antigo.

-Na Alemanha, berço da Reforma Protestante, esta tendência racionalista também iria se mostrar com grande intensidade. Como diz R.N. Champlin, “…o racionalismo alemão tomou a posição que considerava suspeita toda e qualquer evidência, até que fosse provada válida…” (R.N. CHAMPLIN. Crítica da Bíblia. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.991). Tanto assim é que, entre os alemães, passou a haver uma distinção entre o “geschichtlich”, ou seja, o histórico que era baseado na tradição, na crença e o “historisch”, o histórico que era baseado em comprovações, em documentos.

-Entre os alemães, portanto, também ganhou força a ideia de que a Bíblia, ou, de início, pelo menos o Pentateuco, era o resultado de um entrelaçamento de diversas fontes, não tendo havido qualquer autoria por parte de Moisés, como defendiam, no final do século XVIII e início do século XIX, A. Geddes e J.S. Vater, o que resultou, por fim, na teoria JEDP ou teoria das quatro fontes, apresentada por Hermann Hupfeld, Karl Graf e Abraham Kuenen, em vários estágios, respectivamente nos anos de 1853 e 1869.

-Os estudos alemães desta chamada “hipótese documentária” encontraram sua máxima expressão em Julius Wellhausen (1844-1918). “…O alemão Julius Wellhausen deu expressão a esta teoria quando propôs que o

Pentateuco foi uma compilação de quatro documentos escrito por autores diferentes e independentes durante um período de cerca de 400 anos sendo finalmente redigido em sua forma básica por volta do quinto século a.C, ou seja, cerca de mil anos depois dos acontecimentos descritos.

Wellhausen, considerava as histórias bíblicas como tradições populares que funcionavam como um espelho para transmitir eventos históricos posteriores.

Por exemplo, a luta entre Jacó e Esaú nada mais era do que um reflexo da inimizade entre as nações de Israel e Edom, assim como as histórias de Sodoma e Gomorra, o Êxodo e até mesmo o rei Davi.…”
(João FLÁVIO e Paulo CRISTIANO, op.cit.).

-A crítica bíblica funda-se, portanto, na ideia de que a Bíblia deve ser entendida racionalmente, que nada que houver de sobrenatural deve ser acolhido como verdadeiro no texto bíblico, tudo não passando de imaginação e de mitologia.

-Ora, sabemos que a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e que, portanto, tudo o que nela está é a expressão do que efetivamente ocorreu e aconteceu.

Sabemos que há trechos das Escrituras que se encontram em significado figurado, ou seja, que o texto apresenta símbolos, figuras e alegorias, algo que, inclusive, segundo os estudiosos, cobre cerca de dois terços do texto bíblico.

Entretanto, daí a dizer que a Bíblia é um livro de lendas, de “histórias da carochinha” ou mitos, há uma grande distância. A crítica bíblica é inadmissível, mas, lamentavelmente, foi a partir dela que surgiu a chamada “teologia liberal”.

IV – O QUE É A TEOLOGIA LIBERAL

-Podemos denominar de “teologia liberal” a linha de estudo teológico que:

“… 1- é receptivo à ciência, às artes e estudos humanos contemporâneos, procura a verdade onde quer que se encontre.

Para o liberalismo não existe a descontinuidade entre a verdade humana e a verdade do cristianismo, a disjunção entre a razão e a revelação.

A verdade deve ser encontrada na experiência guiada mais pela razão do que pela tradição e autoridade e mostra mais abertura ao ecumenismo;

2- Tem-se mostrado simpatia para com o uso dos cânones da historiografia para interpretar os textos sagrados.

A Bíblia é considerada documento humano, cuja validade principal está em registrar a experiência de pessoas abertas para a presença de Deus.

Sua tarefa contínua é interpretar a Bíblia, à luz de uma cosmovisão contemporânea e da melhor pesquisa histórica, e, ao mesmo tempo, interpretar a sociedade, à luz da narrativa evangélica;

3- Os liberais ressaltam as implicações éticas do cristianismo. O cristianismo não é um dogma a ser crido, mas um modo de viver e conviver, um caminho de vida.

Mostraram-se inclinados a ter uma visão otimista da mudança e acreditar que o mal é mais uma ignorância.

Por ter vários atributos até divergentes, o liberal causa alergia para uns e para outros é motivo de certa satisfação, por ser considerado portador de uma mente aberta para o diálogo com posições contrárias. …” (RAPHAEL, Danilo. Teologia liberal. http://64.233.161.104/search?q=cache:Ic_OQ1sJ0d4J:www.ejesus.com.br/eforum/forum_posts.asp%3FTID %3D2053%26PN%3D1%26get%3Dlast+%22teologia+liberal+%C3%A9%22&hl=pt-BR Acesso em 21 set. 2005).

-Seguindo a definição acima, podemos ver, em primeiro lugar, que a teologia liberal se caracteriza por procurar se basear nos estudos científicos e filosóficos atuais, mais do que nas próprias Escrituras Sagradas.

Uma característica do teólogo liberal é, portanto, utilizar-se de conceitos, princípios e pensamentos de cientistas e filósofos do seu tempo e aplicá-los aos estudos das Escrituras.

Nada temos contra o uso de conceitos e de métodos estabelecidos nas ciências e na filosofia, mas o teólogo deve, em primeiro lugar, tomar como ponto de partida não a razão, mas, sim, a revelação que se encontra na Bíblia Sagrada.

-São as Escrituras que testificam de Cristo (Jo.5:39). A verdade é a Palavra (Jo.17:17). Tudo passa, menos a Palavra de Deus (Mt.24:35; I Pe.1:25).

É, portanto, um grande engano partir-se de pensamentos, conceitos e sistemas científicos e filosóficos para estudarmos a Palavra do Senhor, uma vez que todos os sistemas filosóficos e científicos, ao longo da história, foram superados, o que não ocorreu nem jamais ocorrerá com as Escrituras Sagradas.

-Nesta busca da verdade na razão e não na revelação, temos uma característica da teologia liberal que é a de não crer nos milagres nem em qualquer coisa sobrenatural que venha a ser relatada no texto bíblico. Por isso, aliás, dissertamos a respeito da crítica bíblica, que é a verdadeira mãe da teologia liberal.

Entre os críticos bíblicos, Thomas Woolson (falecido em 1731) já dissera que os milagres de Jesus eram superstições criadas muito tempo depois da morte de Jesus, bem como H. S. Reimarus (falecido em 1768), que os milagres teriam sido falsificações deliberadas.

-Os teólogos liberais, persistindo nesta descrença, não caminham noutro sentido. Quase todos consideram que os relatos bíblicos a respeito de milagres e fenômenos sobrenaturais nada mais são que “mitos”, que devem ser convenientemente interpretados e entendidos sob um prisma racional pelos leitores.

Dentre eles, destacou-se Rudolf Bultmann (1884-1976), segundo o qual, “…muitos dos relatos do Novo Testamento são produtos de uma imaginação superativa e/ou de elementos mitológicos que ali foram incorporados.

A tarefa do intérprete seria a de demitizar os textos sagrados, a fim de torná-los relevantes para o mundo contemporâneo…” (R.N. CHAMPLIN. Bultmann, Rudolph. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. v.1, p.570-1).

-Neste ponto, chega-se mesmo a questionar a própria existência de Jesus. Os teólogos liberais chegam, mesmo, a duvidar da existência de Cristo ou, no que acham ser o máximo que podem admitir, da existência de um “Jesus histórico”, ou seja, que veem em Jesus um grande pensador, um grande profeta, um homem extraordinário, cuja mensagem conseguiu transformar o mundo de seu tempo, mas que não conseguem ver n’Ele o Salvador do mundo.

Ao negar os milagres e a própria divindade de Cristo, os teólogos liberais questionam dados como o nascimento virginal do Senhor ou Sua ressurreição e ascensão aos céus, procurando, senão negar explicitamente estes eventos, não lhes dar o devido valor.

O que importa para eles é o efeito humano do trabalho de Cristo, as transformações sociológico-histórico-econômicas produzidas pela pregação de Cristo e de Seus seguidores.

-Entretanto, o papel principal de Cristo, a Sua obra, como Ele mesmo afirma na Sua oração sacerdotal, era o de propiciar a salvação do homem (Jo.17:1-5).

É certo que a obra de Cristo produziu enormes efeitos na dimensão social, política, econômica da humanidade, mas isto não se compara com o objetivo central da obra do Senhor, que era a de pagar o preço do pecado e permitir o perdão ao homem e a consequente reconciliação entre Deus e o homem.

Jesus veio desfazer as obras do diabo? (I Jo.3:8), restabelecer o convívio entre Deus e a humanidade, o que se consumará na Nova Jerusalém (Ap.21:3).

Uma verdadeira teologia jamais deixará isto em segundo plano e dará o devido e indispensável valor para fenômenos que, embora sobrenaturais, são fundamentais para a compreensão da obra de Cristo, como o Seu nascimento virginal (que, além de ser cumprimento profético, é indispensável para que se tenha a libertação do homem no sacrifício vicário de Cristo),

a Sua ressurreição (que é a garantia da aceitação do sacrifício vicário de Cristo, a garantia da nossa fé) e a Sua ascensão (que é a confirmação da promessa da nossa glorificação). O próprio Cristo ressaltou que Seu reino não era deste mundo (Jo.18:36).

-Não tem o menor cabimento o questionamento dos milagres registrados nas Escrituras. Deus é Todo-Poderoso e, por isso, os registros de milagres são verdadeiros e demonstram o cuidado que o Senhor tem para com os seres humanos.

Além do mais, a experiência da Igreja mostra claramente que Jesus é o mesmo e que ainda faz maravilhas no meio do Seu povo. Nós todos somos testemunhas do grande poder do Senhor, cuja operação é um sinal de confirmação da verdade da mensagem do Evangelho (Mc.16:20).

-A segunda característica da teologia liberal é considerar que a Bíblia é um documento humano, ou seja, não creem no caráter sobrenatural das Escrituras.

Consideram-na um livro igual a qualquer outro, um livro que reproduz a história de Israel (Antigo Testamento) e da Igreja primitiva (Novo Testamento), mas que seriam resultado da cultura e da história, tendo o mesmo valor que outros textos religiosos e mitológicos que têm sido encontrados pelos historiadores.

-Trata-se, mais uma vez, de um rotundo absurdo. A Bíblia é, sem dúvida, um livro escrito por homens, ao longo de mais de mil anos de história, mas é uma unidade que ultrapassa as diferenças culturais, históricas e individuais de cada um de seus escritores.

Só o tempo de elaboração da Bíblia e as diferenças brutais dos fatores que cercam a elaboração de cada um de seus livros já mostra que é impossível considerar a Bíblia como um simples livro humano.

Bem pelo contrário, a Bíblia revela-se como a Palavra de Deus, na medida em que suas profecias têm se cumprido literalmente (que o digam as profecias a respeito de Jesus, todas comprovadamente anteriores ao ministério terreno de Cristo e que se cumpriram integralmente), bem como em que se percebe uma unidade incrível entre seus mais diversos textos, como, por exemplo, a impressionante complementaridade entre Gênesis e Apocalipse, redigidos num espaço de mais de mil anos, ou entre Daniel e Apocalipse, redigidos num intervalo superior a quinhentos anos.

-Como se não bastasse isso, muitas das especulações surgidas através dos críticos bíblicos ou dos teólogos liberais ao longo destes três séculos de influência racionalista no estudo das Escrituras têm sido desmentidas entre si ou cabalmente desmentidas pelas descobertas arqueológicas.

Assim, por exemplo, durante muito tempo, muitos teólogos liberais passaram a duvidar da existência histórica do rei Davi (aliás, é comum entre os teólogos liberais colocarem em dúvida a existência desta ou daquela personagem bíblica) ou, quando muito, a achar que Davi não teria passado de um pequeno chefe tribal sem qualquer expressão na Palestina.

Entretanto, recentemente, a arqueóloga israelense Eilat Mazar descobriu os escombros do palácio de Davi tal como descrito em II Sm.5:11-12. Este fato, como outros, mostra claramente que a Bíblia é a verdade, ao contrário das mirabolantes teorias dos teólogos liberais ou que por eles sejam acolhidas.

-Por ser a Palavra de Deus, a Bíblia é uma palavra viva, que penetra a divisão da alma e do espírito (Hb.4:12), de modo que a sua aplicação ao mundo contemporâneo não exige que se adotem teorias científicas ou filosóficas que estejam em evidência na atualidade.

Os relatos bíblicos a respeito de fenômenos sobrenaturais ou milagres em nada alteram a atualidade da Palavra de Deus, pois ela é alimento para a alma do homem, notadamente nos dias em que vivemos, onde o aumento do pecado e da maldade só tende a crescer a fome e a sede pela Palavra de Deus.

Sem qualquer sentido, portanto, a linha da teologia liberal de achar que a Bíblia Sagrada somente terá efeito na atualidade se for considerada um relato mítico.

-A teologia liberal teria como terceira característica o fato de dar ênfase ao cristianismo como uma ética, ou seja, como uma norma de comportamento.

Esta postura dos teólogos liberais é, por sinal, característica que está presente entre os maiores críticos do Cristianismo.

Com efeito, homens como o Conde de Saint-Simon e Augusto Comte, filósofos franceses, na primeira metade do século XIX, defenderam a ética do cristianismo, tendo, ao mesmo tempo, feito severas críticas à doutrina cristã enquanto religião.

Vemos, pois, que reduzir o Cristianismo apenas a uma ética, é considerá-lo uma merca doutrina moral, é desconsiderar toda a obra salvadora de Cristo Jesus.

-Entretanto, a Bíblia é claríssima ao afirmar que toda a revelação divina tem como finalidade a salvação do homem, o resgate do homem que, imerso e dominado pelo pecado, não tem como se reconciliar com Deus.

A mensagem do Evangelho é a mensagem da salvação na pessoa de Jesus Cristo. A teologia, sendo o estudo racional a partir da revelação divina, não pode, em absoluto, deixar para segundo lugar o papel da salvação do homem.

Cumpre ao teólogo, pois, mostrar, de forma ordenada e organizada, à humanidade que Jesus veio para salvar o homem.

-Temos, pois, que a teologia liberal simplesmente abdica do seu papel de sistematizadora da mensagem divina, para substituí-la por uma mensagem ética, moral, sociológica, filosófica ou seja lá o que for, mas que não vislumbra, em momento algum, o “estudo de Deus”.

A teologia liberal, portanto, deixa de ser, em essência, uma teologia, para ser apenas um estudo humanístico, uma vertente filosófica, uma vã filosofia, que se constrói segundo os rudimentos do mundo, segundo a tradição dos homens e não segundo Cristo (Cl.3:8).

OBS: “…Nosso eloquente amigo, o sr. Artur Mursell, descreveu adequadamente a época atual: ‘Fomos longe demais ao dizer que o pensamento moderno impacientou-se com a Bíblia, com o evangelho e com a cruz? Vejamos. Que parte da Bíblia não foi atacada?

De há muito o Pentateuco foi varrido do cânon como inautêntico. O que lemos sobre a criação e o dilúvio é taxado de fábula. E as leis sobre limites, que Salomão não se acanhou de citar, são sepultadas ou largadas na estante. ‘Diferentes homens atacam diferentes porções do Livro, e vários sistemas assestam as suas baterias de preconceitos contra vários pontos.

A Escritura é até cortada em pedaços por alguns, e lançada aos quatro ventos do céu. E mesmo pelos mais tolerantes vândalos daquilo que é denominado pensamento moderno, é condensada, reduzindo-se a um magro panfleto de moralidade, em vez de ser o tomo de ensinamentos pelos quais temos a vida eterna.

Dificilmente sobra um profeta que não tenha sido revisado pelos sabichões destes dias, precisamente com o mesmo espírito com que fariam revisão de uma obra da biblioteca de qualquer alfarrabista. O temanita e o suíta jamais interpretaram mal o conturbado Jô com sequer a metade do preconceito dos renomados intelectos do nosso tempo.

Isaías, em vez de serrado ao meio, é esquartejado e picado em pedaços. O profeta das lamentações é afogado em suas lágrimas, Ezequiel é reduzido a átomos de pó entre as suas rodas. Daniel é corporalmente devorado pelos leões eruditos.

E Jonas é tragado pelos monstros do abismo com voracidade maior do que a do grande peixe, pois nunca mais o lançam fora.

Os relatos e os acontecimentos da crônica grandiosa são rudemente contestados e negados porque algum mestre-escola, de lousa e giz na mão, não consegue acertar as suas somas…” (SPURGEON, Charles Haddon. Lições aos meus alunos. Trad. Odayr Olivetti, p.56-7).

-Verdade é que, ultimamente, diante da própria crise por que vive a crença na razão humana, aumentada após as duas grandes guerras mundiais e o colapso dos países comunistas, a teologia liberal perdeu um pouco de força, cedendo a outras linhas teológicas mais envolvidas com o misticismo e com a ênfase na prosperidade material, mas sua presença é considerável, até porque, infelizmente, tem controlado boa parte das instituições educacionais de teologia em todo o mundo, a exigir, portanto, redobrada atenção em tudo o que se ler e se examinar entre os servos do Senhor.

-Como se não bastasse isso, tem surgido ultimamente uma outra praga teológica, denominada de “teologia aberta”, que é uma teologia que tem defendido que Deus não é tão soberano assim, porque construiria a história com o auxílio do homem, ou seja, é um Deus que depende do homem, o que é um rotundo absurdo!

Esta “dependência de Deus” é tão gritante, que os teólogos chegam ao abuso máximo de questionar a Deus, de interpelá-l’O a respeito de certos acontecimentos, como, aliás, recentemente, alguns pastores e pregadores chegaram a fazer quando da ocorrência do tsunâmi que arrasou boa parte da Ásia no final de 2004. Devemos ter todo o cuidado com esta nova tendência teológica, que, a pretexto de estudar a Deus, humaniza-O, retirando a Sua soberania.

OBS: “…Os expoentes dessa teoria são Clark Pinnock, John Sanders e Greg Boyd. O Teísmo Aberto, também chamado de Teologia Relacional, apresenta um ‘Deus mais humano’, mais vulnerável, que não tem tanto controle sobre as coisas e que, segundo seus defensores, é mais aceitável para quem quer entender o problema do mal no mundo sem culpar a Deus.

Essa teologia começou a se propalar no Brasil depois do terrível Tsunâmi do Natal de 2004, que ceifou a vida de milhares de pessoas. Líderes e pensadores aproveitaram esse contexto para fazer declarações pró-Teísmo Aberto. Desde então, os pilares desse pensamento têm sido largamente divulgados.…” (DANIEL, Silas. Os equívocos do Teísmo Aberto.
Mensageiro da paz ano 75, n. 1.444. set. 2005. p.14).

V – A VERDADEIRA TEOLOGIA E A DEFESA DA PALAVRA DE DEUS

-Como podemos observar, portanto, nos dias tão difíceis em que estamos, o adversário tem conseguido introduzir no meio do povo de Deus, falsos mestres, falsos doutores que trazem doutrinas completamente alheias à verdade da Palavra de Deus.

-Uma das principais ciladas que o inimigo tem trazido para o seio da Igreja está, precisamente, na teologia liberal.

Apesar de extremamente danosa, o fato é que a teologia liberal, por se apresentar como um estudo das Escrituras, consegue entrar, sem maiores problemas, no meio dos salvos, principalmente daqueles que têm prazer em estudar a Palavra de Deus e que se constituem nos grandes formadores de opinião na igreja local.

É preciso, portanto, ter redobrada atenção com os escritores e as obras que chegam às mãos dos crentes, até porque, infelizmente, não são sempre critérios de pureza doutrinária que norteiam o comportamento das editoras evangélicas nos dias de hoje.

OBS: “…Do jeito que as coisas andam em nossos dias, precisamos urgentemente nos libertar da teologia liberal.

É espantoso o crescente número de livros (inclusive publicados por editoras evangélicas) que esboçam os ensinamentos deste tipo de teologia ou tecem comentários favoráveis. Embora esta teologia tenha nascido com os protestantes, hoje, porém, seus maiores expoentes são os católicos romanos.

Em qualquer livraria católica encontramos grande quantidade de obras defendendo e/ou propagando a teologia liberal. E não é só isso.

A forma com que alguns seminários e igrejas vêm se comprometendo com os ensinos desta teologia também é de impressionar.…” (Danilo RAPHAEL, op.cit.).

-Para tanto, faz-se preciso que sempre saibamos quais são os pressupostos dos estudos bíblicos que nos chegam à mão. Como afirma João Flávio Martinez e Paulo Cristiano, “…O erudito liberal ao efetuar suas pesquisas parte necessariamente do pressuposto de que não existe nada de sobrenatural na Bíblia (…)

Deve-se ressaltar que muitos estudiosos abordam a história partindo de uma noção preconcebida não tanto de caráter factual, mas moral, religioso ou filosófico.

A razão está no fato de que essas abordagens pressupõem certas conclusões que forçosamente determinarão seu conceito filosófico. Consequentemente sua cosmovisão será forçosamente afetada.

Quando um crítico aborda certos milagres como as pragas do Egito, a criação de Adão e Eva ou a ressurreição, geralmente a reação imediata deles é “Deus não existe” ou “milagres não acontecem” ou ainda “Vivemos em um universo fechado”.

Por universo ou sistema fechado entende-se que tudo deve ter uma explicação natural dentro de nosso próprio mundo dispensando quaisquer intervenções dentro deste sistema vindas de fora.…” (FLÁVIO, João e CRISTIANO, Paulo, op.cit.).

-Outro pressuposto da teologia liberal é a consideração de que a Bíblia é um livro humano. Assim sendo, quaisquer estudos que ressaltem supostas imperfeições do texto bíblico, que façam questão de atacar a autoria dos livros ou de dizer que os livros foram escritos muitos anos depois dos fatos mencionados, ou, ainda, que os livros estão repletos de “emendas”, “correções de redação” ou coisas semelhantes devem nos alertar para o fato de que se trata de um escrito de um teólogo liberal.

-Todo e qualquer escrito que busque mostrar erros ou contradições no texto bíblico, a partir de teorias históricas, científicas, filosóficas ou de supostas descobertas da ciência, deve, no mínimo, ser recebida com grande reserva, pois demonstra, claramente, que o teólogo, o estudioso da Bíblia parte da razão e não da revelação, o que não se pode admitir de um genuíno teólogo.

-A verdadeira teologia, a teologia dita “ortodoxa” (palavra grega que significa “de opinião correta”, “doutrina correta”) é, antes de mais nada, um estudo racional, ordenado e organizado que parte da revelação divina, ou seja, que tem seu ponto de partida na Bíblia Sagrada.

Um estudo teológico não questiona a Bíblia, não procura julgá-la, censurá-la ou autenticá-la, como se o homem pudesse se fazer juiz de Deus, mas, sim, entendê-la em toda a sua profundidade.

-A verdadeira teologia, diante de aparentes contradições, de textos difíceis de entender (cf. II Pe.3:16), esclarece o povo de Deus, ordenando, sistematizando e entendendo os devidos pensamentos.

A teologia faz-se necessária, é parte do dom ministerial de mestre que Cristo tem dado a alguns de Seus filhos para o aperfeiçoamento da igreja (Ef.4:11-14), não sendo, pois, algo que deve ser combatido, mas que deve ser utilizado nos limites e para os fins previstos pela cabeça da Igreja, Jesus Cristo (Ef.1:22).

-A verdadeira teologia, diante das heresias e seitas, das falsas doutrinas, que só tendem a aumentar nos últimos dias da dispensação da graça, apresenta-se como indispensável para demonstrar a falsidade e a contrariedade e contraditoriedade destes ensinos diante da sã doutrina, fortalecendo, assim, a fé dos crentes e impedindo o desvio espiritual de muitos.

Somente através da persistência no estudo da Palavra (I Tm.4:3), persistência que tem como pressuposto a produção de obras e de reflexões por parte dos teólogos, poderemos perseverar até o fim e não sermos levados por qualquer vento de doutrina.

-A verdadeira teologia, como parte das Escrituras Sagradas, não deixa de reconhecer que a Bíblia Sagrada é inerrante, ou seja, não apresenta erros nem contradições, pois é a Palavra de Deus.

Ela é a verdade, todo o seu conteúdo é verdadeiro. A Bíblia não apenas contém a Palavra de Deus, mas é a Palavra de Deus.

Toda a revelação tem Deus como origem e em Deus não há qualquer mentira ou inverdade. Tudo quanto foi revelado pelo Senhor ao homem deve ser crido pelo ser humano.

OBS: Reproduzimos, aqui, por ser mui oportunas, considerações do grande pregador inglês Charles Spurgeon:

“…Temos igualmente a certeza de que o livro chamado ‘Bíblia’ é Sua Palavra, e é inspirado. Não no sentido em que Shakespeare, Milton e Dryden podem ter sido inspirados, mas num sentido infinitamente mais alto.

Assim, na medida em que temos o texto exato, consideramos as próprias palavras dele como infalíveis. Cremos que tudo que se afirma no livro que nos vem de Deus deve ser aceito por nós como inelutável testemunho dEle e nada menos que isso.

Não permita Deus que nos enredemos nas várias interpretações do modus da inspiração, as quais por pouco não a eliminam. O livro é uma produção divina. É perfeito. É o superior tribunal de recursos — o ‘juiz que põe termo à demanda’.

Tampouco sonharia com blasfemar contra o meu Criador, como também questionar a infalibilidade da Sua Palavra.…” SPURGEON,Charles Haddon. Lições aos meus alunos. Trad. Odayr Olivetti, p.47).

-A verdadeira teologia, em momento algum, questiona a origem divina das Escrituras. A Bíblia é a Palavra de Deus e os homens que a escreveram, fizeram-no por intermédio da inspiração do Espírito Santo (II Pe.1:21).

A Bíblia é, sim, obra de homens, pois vemos que cada livro tem um estilo, uma linguagem, uma forma de expressão.

Ao contrário do que disse há alguns anos o pastor presbiteriano Nehemias Marien, segundo o qual a Bíblia seria uma obra “psicográfica”, cada autor bíblico não procedeu como um “médium” espírita. Não, não e não!

-Cada escritor da Bíblia fez sua obra de modo consciente, sabendo o que estava fazendo, usando de suas peculiaridades, de seu estilo, da cultura que tinha ao tempo em que estava escrevendo.

Entretanto, o conteúdo que foi escrito, a mensagem que foi transmitida não veio dele mesmo, mas foi obra do Espírito Santo, que o inspirou.

Por isso, apesar de a forma do escrito retratar o autor humano, a essência, a matéria ali contida não évontade de homem algum, mas fruto da operação do Espírito Santo.

Por isso, embora seja importante para entender o texto bíblico, ter conhecimento das circunstâncias e condições sócio-político-econômicas em que se deu o texto, jamais podemos nos esquecer que a mensagem ali é de Deus e que, portanto, fala diretamente ao coração do homem, independentemente de tempo, lugar ou cultura.

-A verdadeira teologia, conquanto saiba que a conservação do texto bíblico ao longo dos milênios é algo difícil de acontecer, sob o ponto-de-vista humano, sabe que, por ser, como o é, a Palavra de Deus, a Bíblia foi mantida intacta durante todo este tempo, porque há um Deus que vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12).

Os séculos passaram-se, mas o Senhor cuidou de Sua Palavra para que as Escrituras se mantivessem intactas e chegassem até nós.

Prova disso é que os manuscritos do Mar Morto, encontrados por volta de 1947, os mais antigos registros conhecidos das sagradas letras, comprovaram que o texto bíblico se manteve praticamente o mesmo no intervalo de cerca de quinhentos a mil anos que distanciam os textos descobertos dos mais antigos até então conhecidos.

-É importante asseverar, aliás, que, num sincronismo que só se explica sobrenaturalmente, os judeus fecharam o cânon do Antigo Testamento pouco depois da destruição do templo de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C., ou seja, quando se cumpre a profecia de Cristo a respeito da destruição do templo e se sepulta o último símbolo do culto judaico, que estava destinado a não se realizar em plenitude durante o tempo da Igreja.

Não demorou muito para que, por volta do ano 100 d.C., terminasse também a inspiração para a escrita do Novo Testamento, através dos escritos joaninos, sendo certo que, pouco menos de um século depois, fechado foi o cânon do Novo Testamento pelos cristãos.

A partir de então, temos, assim, a Bíblia com um texto estabilizado, copiado geração após geração. A Reforma dá-se em concomitância com a invenção da imprensa, o que também permitiu que houvesse uma ampla divulgação do texto bíblico nesta parte final da dispensação da graça.

-Tudo nos mostra, portanto, que Deus cuidou para que Sua Palavra não tivesse qualquer dúvida quanto a sua extensão e a sua composição.

Verdade é que o adversário procurou, ao longo da história, perturbar esta estabilidade, através de um sem-número de livros apócrifos e fantasiosos, livros, porém, que jamais foram aceitos pela Igreja ou, quando aceitos, como aconteceu no Concílio de Trento, pela Igreja Romana, não tiveram o devido alcance.

-Nos últimos tempos, como consequência até da teologia liberal, não tem sido pequena a “febre dos escritos apócrifos” entre os homens.

Há algum tempo, mais precisamente a partir da descoberta do chamado “evangelho de Tomé” entre os manuscritos do Mar Morto, iniciou-se uma busca de pesquisa e de estudos a respeito dos escritos apócrifos, ou seja, escritos que foram rejeitados pela Igreja, que não viu neles a existência de textos inspirados pelo Espírito Santo.

-A luta da teologia liberal em dizer que a Bíblia é um livro humano, um livro de lendas, faz com que haja a permissão para que muitas pessoas passem a dar igual valor à Bíblia e a estes livros espúrios, que, quando não são grosseiras invencionices e fantasias, são, no máximo, relatos históricos.

Todavia, como muitos que dizem eruditos na Bíblia estão a dizer que a Bíblia não é a Palavra de Deus, que a Bíblia não é digna de crédito, colocam a Bíblia no mesmo nível destes livros.

-A “febre dos escritos apócrifos” é tanta que, há anos, um dos livros mais vendidos do mundo tem sido o “Código Da Vinci”, de Dan Brown, um romance cuja trama se desenvolve em cima, precisamente, de “verdades” que teriam sido omitidas dos cristãos pela Igreja Romana, a partir da omissão de escritos do cânon do Novo Testamento.

O próprio autor afirma que tudo não passa de ficção, mas a forma como isto é colocado no livro fez com que muitos milhões de leitores, muitos deles totalmente alheios à realidade bíblica, começassem a descrer na mensagem da Bíblia Sagrada, acreditando que o cânon é resultado de uma ardilosa política da cúpula de Roma.

Aliás, no espaço deixado pelo “Código Da Vinci”, muitos outros livros têm sido escritos na mesma linha e não são poucas as publicações de livros apócrifos em diversas línguas.

-Faz-se necessário que, a exemplo do que ocorreu nos primeiros séculos da igreja primitiva, levantem-se, hoje, defensores da fé cristã e das Escrituras Sagradas.

Faz falta hoje os “apologetas cristãos”, aqueles que, à luz do desenvolvimento da ciência e da filosofia, mostrem, de forma ordenada, organizada e sistematizada, a sublimidade da Palavra de Deus.

-A verdadeira teologia não pode temer as ciências e a filosofia. Estas três manifestações racionais têm como missão precípua a busca da verdade.

Ora, todos os homens sabem que a verdade é única e, nós, os crentes, sabemos que a verdade é uma pessoa, a saber, Jesus (Jo.14:6). Portanto, não temos que temer coisa alguma.

A teologia parte da verdade, que é a Palavra de Deus. Portanto, a ciência e a filosofia, se estão em busca da verdade, terão de chegar às mesmas conclusões da teologia.

-A verdadeira teologia não se opõe à ciência. Quem se opõe à verdadeira teologia não é a ciência, mas a ciência falsa (I Tm.6:20). A verdadeira teologia não se opõe à filosofia, mas as vás filosofias, que não são firmadas na verdade, é que são opostas à verdadeira teologia (Cl.3:8).

-Nestes dias de descrença generalizada, de desapontamento com os rumos tomados pela tecnologia e pelo desenvolvimento científico, na desilusão com o progresso, que tem trazido morte ao em vez de felicidade e vida para a humanidade, cumpre a cada servo de Deus, em especial aos estudiosos das Escrituras, continuar a dizer que a solução para o homem somente poderá ser encontrada na Palavra de Deus, o instrumento pelo qual vem a fé salvadora (Rm.10:17).

“… A palavra de Deus é doce mais que o mel, o que a toma pela fé, há de ser fiel. Porque Deus nos concedeu o Emanuel, Rocha viva donde mana leite e mel” (refrão do hino 306 da Harpa
Cristã).

 

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9350-licao-3-o-perigo-do-ensino-progressista-i

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