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LIÇÃO Nº 3 – ORAÇÃO E RECOMENDAÇÃO ÀS MULHERES CRISTÃS

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A oração é indispensável para uma igreja local.   

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo, hoje estudaremos o seu segundo capítulo.

– Neste segundo capítulo, Paulo orienta Timóteo a respeito da oração e da recomendação que deveria dar às mulheres cristãs na igreja de Éfeso.

I – A NECESSIDADE E IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO   

– Depois de ter lembrado seu filho na fé Timóteo das razões pelas quais fora enviado para a igreja de Éfeso, qual seja, a missão de erradicar falsos ensinos que estavam contaminando a saúde espiritual daqueles crentes, o apóstolo Paulo iniciou, como vimos na lição anterior, recomendações ao próprio Timóteo, admoestando-o a conservar a fé e a boa consciência, para que não tivesse o mesmo triste fim que tiveram Himeneu e Alexandre, que haviam naufragado na fé.

–  Esta conservação da fé e da boa consciência, indispensáveis para que Timóteo pudesse empreender a sua missão para impedir a contaminação de falsos ensinos na igreja de Éfeso, deveria iniciar-se por intermédio da oração. Paulo é bem claro ao dizer a seu filho na fé: “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens” (I Tm.2:1).

– Notemos que a primeira atitude que o apóstolo Paulo manda que Timóteo tome juntamente com a igreja é a oração. “Antes de tudo”, diz o apóstolo, a nos mostrar a importância sem igual da oração para que tenhamos uma vida espiritual sadia, para que possamos vencer as tempestades no “mar da vida” e não naufraguemos na fé.

Se é essencial que conheçamos a Palavra de Deus para que condições tenhamos de impedir que alguns ensinem “outra doutrina”, tem-se que igualmente importante é que mantenhamos uma vida de oração, sem o que não conseguiremos vencer.

– A oração é indispensável para que vivamos espiritualmente. Alguém já disse que a oração é “o fôlego da vida espiritual”, é o “respirar da alma”. Sem oração, não haverá a necessária “oxigenação espiritual” e acabaremos por perecer espiritualmente. Jesus, que é o nosso exemplo (I Pe.2:21), em Sua peregrinação terrena, foi um exímio homem de oração, a ponto de Seus discípulos, vendo que Jesus era um orante por excelência, ter-Lhe pedido que os ensinasse a orar (Lc.11:1).

– Quando observamos a peregrinação terrena de Nosso Senhor e Salvador, vemos que, a partir do exato instante em que Se despojou de Sua glória, Ele iniciou uma vida de oração, a nos mostrar claramente que, enquanto não estivermos na glória divina, devemos viver em contínua oração. Ao entrar no mundo, diz o escritor aos hebreus, o Senhor fez uma oração (Hb.10:5-9).

Ao longo de Seu ministério terreno, viveu sempre em oração e, quando morria na cruz para nos salvar, despediu-se da vida terrena com uma oração (Lc.23:46). E, como se isto fosse pouco, agora, à direita do Pai, está a orar por nós (Is.53:12).

– O apóstolo Paulo, desde a sua conversão, também sempre foi um homem de oração. Os três primeiros dias de sua vida cristã foram exclusivamente de oração e jejum (At.9:9) e foi orando que Ananias o encontrou, curando-o de sua cegueira, ocasião em que foi batizado nas águas e também batizado com o Espírito Santo (At.9:17,18).

– Timóteo somente teria êxito em sua missão e a igreja de Éfeso se livraria dos falsos mestres se vivesse em oração, se desse prioridade a duas atividades indispensáveis numa igreja local: a meditação nas Escrituras e a oração. Como diz conhecido corinho ensinado há anos às crianças nas Escolas Bíblicas Dominicais: “leia a Bíblia e faça oração, se quiser crescer”.

– Os crentes chineses, dentro da milenar cultura em que estão inseridos, caracterizada pela adoção de provérbios e máximas curtas que trazem profundos ensinamentos, resumem magistralmente esta indispensabilidade da oração na vida cristã: “Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”. Em que situação estamos?

– A oração deveria ser feita em prol de todos os homens e não apenas da membresia da igreja local. A igreja deve ter a consciência de que Deus só ouve a quem O teme e faz a Sua vontade (Jo.9:31), ou seja, Deus somente ouve a Igreja, de modo que não há como a Igreja se negar a clamar em favor deste mundo que está sem Deus e sem salvação.

– Paulo orienta Timóteo a que se fizessem orações em prol de todos os homens e todo o tipo de oração, a saber: deprecações, orações, intercessões e ações de graças. Como ensina William Hendriksen: “…os quatro sinônimos aqui usadosnão equivalem a repetições sem sentido…” (Comentário I Timóteo, II Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, p.118).

– “…A primeira palavra, súplicas [deprecações, na Versão Almeida Revista e Corrigida – observação nossa], significa petições em prol de certas necessidades específicas que são agudamente sentidas.…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., p.118). Precisamos ter conhecimento das necessidades específicas das pessoas, para que, tendo compaixão por elas, exercendo nosso amor ao próximo, possamos mover a Deus pelas nossas orações (Ed.8:23).

–   Este é o motivo pelo qual adotamos a prática de escrever ou ouvir os “pedidos de oração” em nossos cultos, prática que, lamentavelmente, tem se tornado, em muitas igrejas locais, um ritual automático e cujo sentido tem se perdido. É triste vermos os irmãos tendo o cuidado de escrever suas necessidades e de os pedidos nem sequer serem lidos, sendo apenas “apresentados” em bloco, o que faz com que a congregação ore sem saber porque.

Como se isto fosse pouco, tais “pedidos”, em seguida, são jogados no lixo, completamente desprezados, quando deveriam ser encaminhados ao círculo de oração, onde deveriam ser novamente lidos e todos se empenhassem em interceder especificamente por eles. A igreja local precisa ter “deprecações”, diz o apóstolo Paulo a Timóteo.

– Mas não é só! Há necessidade de que o círculo de oração acompanhe os acontecimentos, pergunte aos necessitados se Deus operou, se a oração foi atendida e, quando isto ocorrer, mister se faz que isto seja notificado aos irmãos que suplicaram em favor daquela necessidade, o que contribuirá para o crescimento espiritual de todos.

Por isso, aliás, vemos com simpatia a prática adotada em algumas igrejas do “caderno de orações”, onde os pedidos são anotados, como também é anotada a resposta dada por Deus a cada petição, caderno este que, periodicamente, é lido e notificado a todos os irmãos e que serve como registro da presença de Deus no meio do Seu povo.

– Mas, além das deprecações, Paulo mandou que Timóteo também fizesse “orações”.  Como ensina Hendriksen, “…A palavra seguinte, orações, tem um sentido mais geral. Como frequentemente usada, ela cobre todas as formas de discurso reverente à Deidade.(…).

Entretanto, em vista do fato de que a palavra é aqui usada como numa lista de quatro sinônimos, e visto ser evidente que cada uma das outras três enfatiza um aspecto particular da vida de oração, parece correto concluir que seu sentido, nessa passagem específica (e provavelmente também em I Tm.5:5 e Fp.4:6) deve ser um tanto restrito.

Atrevo-me a pensar que aqui ela se refere a petições em prol de necessidades que estão sempre presentes (em contraste com súplicas  em situações específicas): necessidade de mais sabedoria, mais profunda consagração, progresso na  administração da justiça etc. Ainda quando interpretada desse modo, o sentido ainda é muito amplo…” (op.cit., p.118) (destaques originais).

– Essas “orações” são as orações amplas e que jamais podem faltar na igreja local, petições referentes à própria necessidade de progresso espiritual tanto da membresia quanto da obra de Deus. São pedidos para que o Senhor continue a salvar, curar, batizar com o Espírito Santo. Pedidos para que o Senhor venha trazer sempre a Sua Palavra e manifestar a Sua glória nas reuniões da igreja local.

Pedidos para que o Senhor manifeste os dons espirituais e sempre promova o exercício dos dons ministeriais na igreja local, bem como que fortaleça as famílias, que são a base da igreja local, mantendo todo o povo em vigilância e tendo sempre renovada a esperança da volta do Senhor.

– A terceira espécie de oração mencionada pelo apóstolo Paulo que deveria ter a igreja local são as “intercessões”. Mais uma vez trazendo à colação o ensino de Hendriksen: “…O substantivo intercessões aparece somente aqui e em I Timóteo 4:5. (…)A ideia básica contida tanto no verbo quanto no substantivo  é antes de ‘concordar com’, ‘reunir-se para conversar livremente com’, daí ‘livre acesso’. Uma pessoa (ou Pessoa) se encontra na mesmíssima sala de audiências de Deus o Pai.

O privilégio de ter uma entrevista com Ele lhe corresponde, quer por natureza , como no caso de Cristo ou do Espírito Santo, ou por graça, como no caso do crente. Mas ainda que seja essa a ideia básica da palavra, o contexto particular no qual ela é usada muda ligeiramente seu sentido.

Assim é deveras verdade que a forma verbal nas passagens neotestamentárias (…) indica uma entrevista confidente que visa ‘aos interesses de outrem’. Daí assumir o sentido de intercessão.(…). Em nossa presente passagem (I Tm.2:1), este sentido — a saber, suplicarem favor de outrem e fazer isso se de modo algum ‘hesitar’ — se ajusta com exatidão, como o demonstra o que se segue imediatamente: ‘por todos os homens, pelos reis e por todos os que ocupam posições elevadas’…” (op.cit., pp.118/9) (destaques originais).

– Estas “intercessões”, portanto, são manifestações de nossa fé diante de Deus, pedindo que Ele intervenha na vida de outras pessoas, sejam elas salvas, ou não. Aliás, no que toca aos não salvos, é a convicção de que, se não for a Igreja, jamais as necessidades destas pessoas serão ouvidas pelo Senhor, que somente ouve a quem O teme, a quem faz a Sua vontade.

– A quarta espécie de oração mencionada pelo apóstolo Paulo são as “ações de graça”.  Diz Hendriksen: “…A expressão final, ações de graças (ou seja, a que completa o círculo, de modo que as bênçãos que provêm de Deus voltem para Ele na forma de gratidão verbalmente expressa) é bastante clara.

Não obstante, deve ter-se em mente que não é só preciso fazer súplicas, orações e intercessões, mas também ações de graças em favor de todos os homens, , inclusive  dos reis etc.…” (op.cit., p119) (destaques originais).

– Precisamos ser agradecidos (Cl.3:15), pois a gratidão é uma demonstração de que estamos em comunhão tanto com Deus como com os irmãos, tanto que a ceia do Senhor é chamada de “eucaristia”, ou seja, “ação de graças”. A ingratidão é uma característica de quem não alcançou a salvação em Cristo Jesus (II Tm.3:2).

Assim, da mesma forma que os incrédulos não são ouvidos por Deus em suas petições, também não o são em suas ações de graças, devendo, pois, a Igreja ser também a portadora da gratidão daquilo que Deus faz em favor daqueles que ainda não O temem, pois é sabido que Deus abençoa tanto a justos quanto a injustos (Mt.5:45).

– Paulo diz que as orações, em todas as suas quatro espécies, devem ser feitas em favor de todos os homens. É a Igreja que deve ser o canal entre Deus e a humanidade, pois ela é o corpo de Cristo, Aquele que é o único mediador entre Deus e os homens (I Tm.2:5).

– No entanto, o apóstolo diz a Timóteo que a igreja local tem um papel importantíssimo na sociedade, pois é ela quem deve orar pelos reis e todos os que estão em eminência (I Tm.2:2). Temos aqui um papel importantíssimo que a igreja local deve desempenhar na sociedade e que, infelizmente, não é algo de que os crentes tenham plena consciência.

– Sabemos que a igreja local nada mais é que uma porção da Igreja, do povo de Deus aqui na Terra, que está situada num determinado lugar. Trata-se de um grupo social determinado, que habita num determinado espaço, que está inserida numa determinada sociedade.

– Também temos consciência de que toda sociedade é dotada de um governo, de um administração, que, politicamente organizada, constitui o que se denomina de Estado. Qual é, pois, o papel da igreja local em relação a este Estado? Diz-nos o apóstolo dos gentios: a de canal entre este Estado e a Deidade, por intermédio da oração.

– A Igreja tem o indeclinável dever de orar pelas autoridades, a fim de que a sociedade tenha “uma vida quieta e sossegada, em toda piedade e honestidade”. A arma que a Igreja possui para que a sociedade possa ter paz e promova o bem-estar de todos é a oração.

– O ensino de Paulo não é propriamente uma novidade. Já no cativeiro da Babilônia, o Senhor havia levantado o profeta Jeremias com a mesma mensagem para o povo judeu que estava no exílio. Dizia o “profeta chorão”: “E procurai a paz da cidade, para onde os fiz transportar e orai por ela ao Senhor porque, na sua paz, vós tereis paz” (Jr.29:7).

– A igreja tem um papel social relevantíssimo: é a ela, e somente a ela, que está imposto o dever de orar para que a sociedade tenha paz, para que os governantes tenham êxito, para que o Estado promova uma “vida quieta e sossegada, com toda piedade e honestidade”.

– Lembremos de que Timóteo estava em Éfeso e que, por causa do Evangelho, os inimigos dos cristãos tinham querido ali promover um tumulto com o fim de conseguir o apoio das autoridades no seu intento de perseguição à Igreja (Cf. At.19:23-41). Éfeso era uma cidade que vivia em torno da idolatria e da feitiçaria, de modo que todo o sistema social ali existente era avesso, evidentemente, à doutrina cristã.

– No entanto, era precisamente para este sistema completamente contrário e hostil à Igreja que se devia orar para que as autoridades fossem exitosas e promovessem a paz com toda piedade e honestidade. Somente através da oração, poderia a igreja promover, num ambiente espiritual tão adverso, o bem-estar de toda a sociedade.

– É triste verificarmos que as igrejas locais, em nossos dias, têm deixado de exercer este seu importantíssimo e relevantíssimo papel social.

Em vez de orar pelas autoridades, a fim de que haja paz e quietude, a fim de que prevaleça a piedade e a honestidade nas relações sociais, temos visto muitos usarem de outras armas que não são as que devem ser utilizadas pela igreja, como a participação político-partidária (inclusive a formação de partidos políticos), o ativismo sócio-político e, não raras vezes, a participação em conchavos e acordos políticos que nos fazem lembrar as palavras de Paulo aos próprios efésios, a saber :”porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe” (Ef.5:12).

– A igreja tem, sim, de ter uma participação social. Esta passagem da epístola de Paulo a Timóteo tem a ver precisamente com isso. Hendriksen diz que, neste capítulo, “…Paulo tem algo sobre o que ‘insistir’ com Timóteo. É como se o ‘chamasse à parte’ com o intuito de exortá-lo acerca de algum assunto de suprema importância (note o ‘antes de tudo’).

Tem algo que ver com a relação da Igreja com o Estado. Se as igrejas se destinam ao florescimento espiritual, é sublimemente desejável o culto público, para dizer o mínimo; mas tal culto público não pode ser conduzido a seu melhor proveito (calmamente, sem perturbação…), a menos que a Igreja cumpra seu dever para com o Estado…” (op.cit., p.117).

– Tal participação social, no entanto, deve se dar, prioritariamente, na intercessão em favor das autoridades, no pedido a Deus para que conduza os governantes de modo a que observem os princípios estabelecidos nas Escrituras Sagradas, para que sejam dotados de sabedoria de modo a que tragam para a sociedade quietude e sossego, piedade e honestidade.

Será pela oração que a igreja local  conseguirá que tais valores sejam alcançados no meio social onde vive, jamais pelo envolvimento em lutas político-partidárias, nem tampouco por meio de participação em movimentos sociais, em especial aqueles que têm nítido conteúdo revolucionário e contrário aos valores da ordem e do respeito às autoridades que são ministros de Deus (Cf. Rm.13:4).

– A igreja local pode, e deve manifestar-se sobre os grandes temas que são discutidos na sociedade, posicionando-se clara e publicamente sobre eles, à luz das Escrituras Sagradas. A igreja local pode, e deve procurar influenciar as decisões políticas, denunciando o pecado e se manifestando sobre como Deus vê cada problema e cada questão existente na vida social, afinal de contas tem uma missão profética e deve levar a mensagem divina a toda a sociedade.

– No entanto, a igreja local não pode querer se valer de armas carnais para militar a sua fé, para promover a prevalência dos valores que se coadunam com a vontade de Deus, com a Sua Palavra, mas, sim, usar das armas espirituais que estão à sua disposição e, entre as quais, sobressai a oração.

– Por isso, com razão alude Hans Bürki, ao tratar desta passagem escriturística: “…A oração em favor de reis e poderosos não era uma política de conformação, espertamente tramada, mas um agir da fé, um testemunho do verdadeiro Soberano, uma crítica e relativização dos poderes existentes através da intercessão por eles.(…).

É curioso que intérpretes modernos pensem que, com base nessa e em outras passagens, precisam acusar a epístola de ‘aburguesamento’, que seria um retrocesso diante das cartas incontestes de Paulo. A isso cabe retorquir: uma simples comparação com a palavra do profeta Jeremias já deveria levar à cautela, antes de se rotular a oração por paz de ‘desejo burguês’.

O que os judeus deportados suportavam e o que os cristãos sofreram sob Nero dificilmente pode ser comparado com aquilo que hoje é estigmatizado como ‘aburguesamento’ a partir de uma contraposição errada de elite e massas, e de uma diferenciação romântica entre gênio e revolucionário, e burguês.

Além disso cabe notar que no AT e NT, e consequentemente também Paulo, sempre associaram efeitos e bênçãos bem concretos com obediência e intercessão.(…) cabe notar que a vida tran     qüila e mansa desejada e pedida não deve ser de forma alguma vivida em autosuficiência e conforto burgueses, mas com toda a beatitude e santidade, com o objetivo de levar o evangelho do Deus-Redentor a todas as pessoas. Guerras e catástrofes sociais não permitem a necessária edificação da igreja nem seu serviço missionário em todo o mundo.…” (Cartas a Timóteo – I Timóteo: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.33).

– Vivemos dias terríveis em todo o mundo, pois são dias que antecedem o arrebatamento da Igreja, o princípio de dores vaticinado no sermão escatológico de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Mt.24). No entanto, quando observamos o nosso país, vemos quão negligentes temos sido neste dever de orar pelas autoridades.

O Brasil está às vésperas do estabelecimento de uma ditadura comunista, a violência assume níveis alarmantes, já que 11% (onze por cento) dos homicídios em todo o mundo são aqui cometidos, criminalidade e violência que estão umbilicalmente relacionadas com este projeto anticristão de poder que tem se consolidado nos últimos quatorze anos.

Este mesmo projeto tem gerado inúmeros casos de corrupção, entre os quais o chamado “petróleo” que é, de longe, o maior caso de corrupção de toda a história da humanidade E o que tem feito a igreja brasileira, que, supostamente, está a crescer vertiginosamente? Quase que nada!

– Poucos são os que têm se dedicado à oração em prol das autoridades e em prol da quietude, sossego, piedade e honestidade. Enquanto isto, muitas lideranças têm se embrenhado nas lutas político-partidárias, nos conchavos e em toda a espécie de acordos, que somente têm aprofundado o país nesta situação lamentável e altamente delicada em que nos encontramos.

Que este conselho de Paulo a Timóteo possa nos despertar para que venhamos a cumprir o papel que Deus quer de nós na sociedade e em relação ao Estado, pois, como diz o apóstolo: “isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (I Tm.2:3,4).

– Observemos, irmãos, que não estamos aqui a dizer que os salvos em Cristo Jesus não possam concorrer a cargos eletivos e a ter uma participação política ativa na sociedade. O crente é um cidadão e, como tal, tem  todo o direito de participar do governo e da administração. Aliás, é recomendável que os salvos tenham tal participação, pois, como diz Salomão: “Quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas, quando o ímpio domina, o povo suspira” (Pv.29:2).

– No entanto, tal participação há de se dar em nível individual, sem o envolvimento da igreja local enquanto tal, enquanto instituição. Com efeito, como nos ensina Paulo, Deus quer que “todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” e, por isso mesmo, não pode a igreja local tomar partido, pois isto vai contra o propósito universal da pregação do Evangelho.

– A igreja deve denunciar o pecado, mas não os pecadores. Deve aborrecer o pecado, mas amar os pecadores, de modo que não pode, enquanto instituição, enquanto grupo social, engajar-se em lutas políticopartidárias, portanto.

– A vida de oração é uma demonstração clarividente de que a igreja local crê que “há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo homem, O qual Se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a Seu tempo” (I Tm.2:5,6).

– Esta afirmação do apóstolo é demasiadamente profunda. Quando a igreja local deixa de recorrer à oração para se envolver em outras formas pelas quais entende promover o bem da sociedade está a negar a própria obra redentora de Cristo. Como podemos dizer que Jesus salva se não recorremos a Ele para o bem da população?

Como podemos dizer que Jesus liberta se estamos, em vez de recorrer ao Senhor, nos intrometendo em negociações políticas, pedindo ajuda a César e não a Deus? Como podemos dizer que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, se estamos tentando solução no poder político, social ou econômico? Pensemos nisto!

– A ênfase que Paulo dá à humanidade de Cristo para estabelecer a mediação exercida por Nosso Senhor leva-nos a entender que esta mediação, esta intercessão operada pelo Senhor junto ao Pai é fruto da Sua compaixão e da Sua experiência obtida na Sua encarnação.

Como diz o escritor aos hebreus (que muitos entendem ser o mesmo Paulo): “E visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.

Porque, na verdade, Ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão, pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo.

Porque naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb.2:14-18) e, ainda, “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas. Porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.” (Hb.4:15,16).

– A encarnação de Cristo, a Sua vitória sobre o pecado e a morte são a garantia de que devemos, sim, recorrer à oração para que possamos não só nos conservar na fé e na boa consciência, mas para que possamos trazer à sociedade onde vivemos uma “vida quieta e sossegada, com toda piedade e honestidade”.

Foi graças a isto que Paulo disse ter sido constituído pregador, apóstolo e doutor dos gentios na fé e na verdade. Foi graças a isto que temos condição de exercer nosso papel como luz do mundo e sal da terra (Mt.5:13-16). Estamos a cumprir este papel?

– Por isso, Paulo queria que todos os homens orassem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda (I Tm.2:8). Como afirma Matthew Henry: “…O intento da religião cristã é promover a oração; e os discípulos de Cristo devem ser pessoas de oração.…” (Comentário Novo Testamento – Atos a Apocalipse edição completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.687).

-“…Debaixo do evangelho, a oração não deve estar limitada a uma casa de oração específica, mas homens devem orar em todo lugar: nenhum lugar é impróprio para a oração, nenhum lugar é mais aceitável para  Deus do que outro (Jo 4.21). Orem em todo o lugar. Devemos orar em nossos aposentos, orar em nossas famílias, orar em nossas refeições, orar quando estamos viajando e orar em reuniões solenes, quer em lugares mais públicos, quer em lugares mais privados. (…).

A vontade de Deus é que em oração levantemos mãos santas: levantando mãos santas, ou mãos puras, puras da contaminação do pecado, lavadas na fonte aberta para o pecado e a impureza. Lavo as minhas mãos etc. (SI 26.6).(…)3. Devemos orar com caridade: Sem ira, ou malícia, ou raiva de uma pessoa (…). Devemos orar com fé, não duvidando (Tg 1.6), ou, como alguns entendem: sem questionar; e então ela está debaixo da caridade.…(HENRY, Matthew. op.cit., p.689).

– Paulo alude a uma posição costumeira da oração naquela época. Diz Hendriksen: “…Levantar os estender as mãos (…) — braços estendidos com as palmas das mãos para cima — é um símbolo adequado da completa dependência de Deus e de humilde esperança nele…” (op.cit., p.134).

Trata-se de uma postura de oração que era bem difundida entre os cristãos dos primeiros séculos, como nos dá conta Benjamin Scott, “in verbis”: “…As Catacumbas contêm muitas representações de homens e de mulheres em pé, com as suas mãos abertas; esses desenhos os católicos romanos supunham indicar as sepulturas de mártires.

É claro, contudo, que a suposição não tem fundamento e que a posição das figuras representa mais um sentimento do que um fato. O ato de estar em pé, com os braços abertos, indica a posição universal de oração que havia na Igreja primitiva em Roma.…” (As catacumbas de Roma: o testemunho e o martírio dos primeiros cristãos. Trad. de José Luiz Fernandes Braga Júnior, pp.114-5).

– Por isso, não há fundamento algum para se procurar nesta passagem a “base bíblica” para um péssimo costume que vemos em nossos dias, em que pregadores (que são verdadeiros “animadores de auditório”) venham a abusar deste expediente de mandar os irmãos “levantar as mãos” ao longo de sua prédica. Paulo estava a falar da oração e, na sua época, era esta uma posição costumeira para se orar, de modo que a menção a levantar as mãos deve ser entendida como uma menção à oração.

Como ensina Hendriksen: “…A postura na oração não é uma questão indiferente. É uma abominação ao Senhor assumir uma posição displicente quando se presume estar alguém orando ao Senhor.

Em contrapartida, é certo que a Escritura em parte alguma prescreve uma, e tão somente uma, postura correta durante a oração. Indicam-se diferentes posições dos braços, das mãos e do corpo. Todas essas são permitidas até onde simbolizem diferentes aspectos da atitude reverente de quem adora e interpretem genuinamente os sentimentos do coração…” (op.cit., pp.132-3).

II – OS DEVERES DAS MULHERES CRISTÃS   

– Depois de falar da oração, Paulo traz a Timóteo orientações concernentes ao papel da mulher na igreja local, mais uma das passagens que as feministas equivocadamente querem apresentar como “provas do machismo do apóstolo Paulo”.

– Por primeiro, cumpre observar que a simples existência de recomendações específicas às mulheres de Paulo a Timóteo mostra claramente que a mulher era dignificada pelos cristãos, pois seja no ambiente judaico, seja no ambiente gentílico, as mulheres, naquela época, não eram sequer contadas, eram totalmente desconsideradas.

Se Paulo dá orientações a seu filho na fé a respeito da conduta das mulheres é um sinal de que elas eram levadas em consideração nas igrejas locais, de que elas eram tidas como membros da igreja, como “concidadãs dos santos e da família de Deus” (Cf. Ef.2:19).

– Por segundo, tais recomendações tinham como objetivo mostrar que tanto homens como mulheres deveriam ter um comportamento diferente dos que não serviam a Deus, ressaltando, assim, a nova vida que tinham de ter depois que haviam se convertido ao Senhor Jesus, depois que haviam, pela fé, obtido a salvação, reforçando a ideia tão presente nos ensinos escriturísticos de que a fé tem de ser demonstrada pela presença de boas obras, por uma conduta completamente distinta daquela que havia antes da conversão.

– A primeira orientação que Paulo dá a Timóteo é que as mulheres deveriam usar traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos (I Tm.2:9).

– Temos aqui um princípio bíblico a respeito das vestimentas, que foram criadas como uma necessidade depois da queda do homem no Éden (Gn.3:7,21), quando se originou o pudor, que nada mais é que a vergonha que decorre da inserção da malícia no coração humano.  OBS: Como assevera mui propriamente o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II:

“…As palavras de Gn.3:10, «cheio de medo, porque estou nu, escondi-me» (…), documentam a primeira experiência de vergonha do homem perante o seu Criador: vergonha que poderia chamar-se «cósmica». Todavia, esta «vergonha cósmica» —  é possível descobrir-lhe os traços na situação total do homem depois do pecado original —  no texto bíblico dá lugar a outra forma de vergonha.

E a vergonha que se produz na humanidade mesma, isto é, causada pela íntima desordem naquilo pelo qual o homem, no mistério da criação, era «a imagem de Deus», tanto no «eu» pessoal como na relação interpessoal, através da primordial comunhão das pessoas, constituída juntamente pelo homem e pela mulher.

Aquela vergonha, cuja causa se encontra na humanidade mesma, é imanente e relativa ao mesmo tempo: manifesta-se na dimensão da interioridade humana e ao mesmo tempo refere-se ao «outro». Esta é a vergonha da mulher «quanto» ao homem, e também do homem «quanto» à mulher: vergonha recíproca, que os obriga a cobrir a própria nudez, a esconder os próprios corpos, a tirar da vista do homem o que forma o sinal visível da feminilidade, e da vista da mulher o que forma o sinal visível da masculinidade.

Em tal direção se orientou a vergonha de ambos depois do pecado original, quando deram conta de «estarem nus», como atesta Gn.3:7. O texto (…) parece indicar explicitamente o carácter «sexual» desta vergonha: «prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas como se fossem cinturões».

(…) O coração humano conserva em si contemporaneamente o desejo e o pudor. O nascimento do pudor orienta-nos para aquele momento em que o homem interior, «o coração», fechando-se ao que «vem do Pai», se abre ao que «vem do mundo». O nascimento do pudor no coração humano dá-se a par e passo com o início da concupiscência —  da tríplice concupiscência segundo a teologia joanina (cfr. I Jo.2:16) e em particular da concupiscência do corpo.

O homem tem pudor do corpo por causa da concupiscência. Mais, tem pudor não tanto do corpo quanto exatamente da concupiscência: tem pudor do corpo por causa da concupiscência. Tem pudor do corpo por causa daquele estado do seu espírito a que a teologia e a psicologia dão a mesma denominação sinônima: desejo ou concupiscência, embora com significado não de todo igual.

O significado bíblico e teológico do desejo e da concupiscência difere do usado na psicologia. Para esta última, o desejo provém da falta ou da necessidade, que o valor desejado deve satisfazer. A concupiscência bíblica, como deduzimos de I Jo.2:16, indica o estado do espírito humano afastado da simplicidade original e da plenitude dos valores, que o homem e o mundo possuem «nas dimensões de Deus».

Exatamente essa simplicidade e plenitude do valor do corpo humano na primeira experiência da sua masculinidade-feminilidade, de que fala Gn.2:23-25, sofreu sucessivamente, «nas dimensões do mundo», transformação radical. E então, juntamente com a concupiscência do corpo, nasceu o pudor.

O pudor tem significado duplo: indica ameaça do valor e ao mesmo tempo preserva interiormente esse valor (Cfr. Karol WOJTYLA, Amore e responsabilità, Torino, 1978, cap. «Matafisica del pudore», pp. 161-178). O fato de o corpo humano, desde o momento em que nele nasce a concupiscência do corpo, conservar em si também a vergonha, indica que se pode e deve fazer apelo a ele quando se trata de garantir aqueles valores, a que a concupiscência tira a sua original e plena dimensão.

Se conservamos isto na mente, estamos capazes de compreender melhor porque, falando da concupiscência, Cristo faz apelo ao «coração» humano.” (O corpo não submetido ao espírito ameaça a unidade do homem-pessoa. Audiência geral de 28 de maio de 1980. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/audiences/1980/documents/hf_jp-ii_aud_19800528.html Acesso em 11 maio 2015).

– O princípio é que o traje deve ser honesto, com pudor e modéstia. Traje honesto é traje com decoro, com pudor, ou seja, como na citação supra de escrito do ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, “…vergonha recíproca, que os obriga a cobrir a própria nudez, a esconder os próprios corpos, a tirar da vista do homem o que forma o sinal visível da feminilidade, e da vista da mulher o que forma o sinal visível da masculinidade.…” (op.cit).

Não é por outro motivo que Paulo, em outra passagem, diz que “…os [os membros, observação nossa] que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos o damos muito mais honra, porque os que em nós são mias honestos não têm necessidade disso; mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra aos que tinha falta dela…” (I Co.12:23,24).

– A vestimenta foi feita para esconder a nudez, assim Deus estabeleceu, já que foi o primeiro a dar trajes permanentes e hábeis a cumprir seu propósito. Desta maneira, não só as mulheres mas também os homens devem se vestir de modo a esconder as partes pudendas do corpo.

– Mas, além de trajes honestos, as mulheres deveriam, também, vestir-se com pudor e modéstia. Como diz Hendriksen: “…Modéstia (αίδώς) indica senso de pudor, receio de ultrapassar os limites da decência; daí, reserva própria. A palavra seguinte, a qual traduzimos bom senso, literalmente significa mente sadia (σωϕροσύνη).

Ao vestir-se para ir à igreja, as mulheres devem pôr em prática o juízo perfeito. Devem vestir-se com sensatez. Seu intuito não deve ser o de exibir-se, de ‘provocar indignação’, usando aparato apelativo com o intuito de levar outrem a invejá-las. Devem adornar-se, sem dúvida. Elas não têm que esquivar-se da moda, a menos que uma moda em particular seja imoral ou indecente…” (op.cit., p.136) (destaques originais).

– Entendemos que o princípio apresentado pelo apóstolo não se destinava apenas aos trajes no culto público, mas, sim, em todo e qualquer lugar, pois, assim como a vida de oração deveria se mostrar em todo e qualquer local, também se deveria ter o mesmo comportamento com relação às vestimentas.

É óbvio que a  vestimenta se altera de local para local, de evento para evento, mas em todos os momentos o cristão deve comparecer com traje honesto, com pudor e modéstia.

– De igual maneira, embora a orientação seja dada às mulheres, é evidente que também dizem respeito aos homens, assim como o apóstolo se dirige aos homens quando fala a respeito das orações e isto se refira também às mulheres.

Logicamente que, ante o quadro cultural da época, e às próprias funções diferentes entre homens e mulheres, tenha se dirigido aos homens para falar sobre as orações, dada a posição de liderança que os homens exercem, e falado de vestimenta às mulher4es, já que é próprio das mulheres o cuidado com a aparência.

– No Comentário Bíblico Moody de I Timóteo, aliás, há uma outra razão para que tenhamos aqui a aplicabilidade do texto tanto a homens como mulheres. Com efeito, assim diz Everett F. Harrison: “…As observações quanto à roupa das mulheres são paralelas a I Pe. 3:3-5.

O estilo condensado aumenta o contraste entre o dedicar-se à ostentação no vestir e o dedicar-se às boas obras. A implicação está em que o oposto ao primeiro é o uso da vestimenta modesta e apropriada – uma espécie de “boas obras”, o devido acompanhamento para a verdadeira confissão de piedade.…” (Comentário Bíblico Moody – I Timóteo, pp.15-6).

– Ao fazer o paralelo com trecho da Primeira Carta de Pedro, vemos como o texto é aplicável a ambos os sexos, uma vez que naquela epístola, quando está a falar das mulheres, o apóstolo Pedro é claro ao dizer, em I Pe.3:4, a respeito do “homem encoberto no coração”. Ora, como bem ensinava o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2013), este “homem” é tanto o macho quanto a fêmea, é o “ser humano”, o “homem interior”, que, enquanto alma e espírito, é evidentemente assexuado.

– Como diz Matthew Henry: “…As mulheres que professam ser piedosas devem agir, no seu vestir, bem como em outras coisas, de acordo com a sua profissão de fé. Em vez de gastar o seu dinheiro em roupas finas, deveriam gastá-lo em obras de piedade e caridade, que são, de maneira adequada, chamadas de boas obras. 2. As mulheres devem aprender os princípios da sua religião, conhecer a Cristo, conhecer as Escrituras; elas  não devem pensar que o seu sexo as desculpa de não aprenderem o que é necessário acerca da salvação…” (op.cit., p.689).

– A honestidade do traje, com pudor e modéstia, impede que a vestimenta seja utilizada como instrumento de sensualidade, como, lamentavelmente, temos visto em nossos dias, dias de multiplicação da iniquidade, dias que o Senhor Jesus diz serem os “dias de Noé” e os “dias de Ló”, ou seja, dias em que temos repetido todo o sensualismo e a imoralidade que caracterizaram aquelas épocas antigas.

– É certo que as vestimentas, por serem traços culturais, são, como todo elemento cultural, variáveis de lugar para lugar, de época para época e que, portanto, ao contrário do que entenderam alguns no passado, não seguem padrões imutáveis. De tempos em tempos, de lugar para lugar, os padrões de vestuário se alteram e a igreja local deve seguir tais mudanças, mas sem jamais abandonar os princípios da honestidade, modéstia e pudor.

– O mais importante é observar que a vestimenta, em si mesma, embora tenha um papel importante na questão da moral, não é um objetivo a ser alcançado nem representa, por si só, um padrão de espiritualidade, como alguns têm equivocadamente entendido.

Não nos esqueçamos de que o Senhor Jesus disse que o vestir é algo secundário, que devemos dar prioridade à busca do reino de Deus e da sua justiça (Mt.6:31-33). Assim, a vestimenta não pode ser um instrumento pelo qual pequemos ou levemos outros a pecar, mas, em si mesma, não é qualquer “atestado de santidade”.

– Reproduzindo este ensino do Senhor Jesus, Paulo, em sua orientação a Timóteo, é bem claro ao dizer que a mulher deve mostrar que serve a Deus não pelos seus trajes, mas, sim, pelas suas boas obras (I Tm.2:10).

– É evidente que ninguém produzirá boas obras trajando vestes indecentes, pois, com tal vestuário, estará apenas mostrando que usa o seu corpo como instrumento de iniquidade, o que é totalmente inadmissível para quem se diz salvo por Cristo Jesus, que tem de ter o seu corpo como instrumento de justiça (Rm.6:13).

– Entretanto, ninguém ache que já está provando sua salvação única e exclusivamente porque está a vestir um traje honesto, com modéstia e pudor.

Embora seja esta uma condição necessária para um servo de Deus, não é, em absoluto, suficiente. Paulo mesmo diz a Timóteo que as mulheres deveriam provar que serviam a Deus através de boas obras, pois, como disse o Senhor Jesus, é pelos frutos que conhecemos quem efetivamente está salvo na pessoa de Cristo (Mt.7:16-20).

– Por isso, equivocados estão tanto os “modernos fariseus”, que julgam as pessoas única e exclusivamente pelas vestimentas, ditando inúmeras regras de vestimentas, inclusive em regimentos internos, pelos quais pretendem medir a fidelidade de alguém a Deus, como também os “modernos libertinos” que, em “nome da liberdade”, em “nome da graça”, permitem todo e qualquer tipo de vestimenta, a adoção de toda e qualquer moda, como se a graça fosse permissão para pecar, o que contraria fundamentalmente o que ensinam as Escrituras a respeito, em especial o capítulo 6 de Romanos.

– Os adornos mencionados pelo apóstolo Paulo (tranças, enfeites com ouro, pérolas e vestidos preciosos) eram ornamentos na época do apóstolo que custavam fortunas, que demonstravam um luxo desmedido e uma ostentação que não correspondia à profissão de fé cristã. Em nossos dias, devem ser interpretados como toda e qualquer extravagância, como toda e qualquer ostentação, que deve ser repudiada por todo que cristão se diz ser.

– Neste particular, aliás, é interessante observar que o princípio bíblico repudia a ostentação, mesmo que ela venha através de produtos que, em si, sejam até baratos, muitas vezes por serem falsificações de marcas famosas, por serem imitações de produtos de luxo.

Nos dias de consumismo desenfreado em que vivemos, tem sido esta uma prática muito comum entre os que cristãos se dizem ser, o que deve ser completamente inadmitido nas igrejas locais. A própria ideia de uso de “produtos de marca” é algo que jamais deve estar na mente de um verdadeiro e genuíno cristão.

– Depois de ter falado a respeito da vestimenta das mulheres, o apóstolo Paulo fala a respeito do papel que tinham elas nas igrejas locais.

– Paulo diz que as mulheres deveriam aprender em silêncio, com toda a sujeição, não permitindo que ela ensinasse nem usasse de autoridade sobre o marido, mas que estivessem em silêncio, já que primeiro fora formado Adão, depois Eva, sendo certo que Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caíra em transgressão (I Tm.2:11-14).

– Esta passagem encontra um paralelo em I Co.14:34,35 e são trechos em que se procura mostrar o “machismo de Paulo” e o “machismo da Igreja Cristã”. Nada mais falso, porém.

– Tanto em Corinto, quanto aqui em Éfeso, precisamos lembrar que Paulo está se dirigindo a igrejas locais que viviam num ambiente de profunda idolatria, em cidades onde o culto seja a Afrodite (Corinto), seja a Diana (Éfeso), eram a própria razão de ser da vida da sociedade, era o ponto alto de toda a economia e de toda a grandeza destas duas importantes cidades do mundo greco-romano.

– Sendo cidades que viviam em função de cultos pagãos a deusas, é natural que houvesse uma concepção da participação da mulher no mundo religioso e que o papel que as mulheres exerciam em referidos cultos fosse querer ser reproduzido nas igrejas locais, até porque os crentes haviam saído precisamente daqueles cultos idolátricos.

– Em referidos cultos, as mulheres tinham um papel destacado, ligado à imoralidade existente nas devoções àquelas deusas, em que ocupavam elas papel de “mensageiras” das divindades e de “instrumentos” de contato entre os homens e as deusas, mediante rituais que envolviam, inclusive, a prática de relações sexuais.

Eram elas o “canal” entre as deusas e os homens, eram elas, que, por meio de sensualidade e prostituição, conseguiam obter as graças pretendidas junto às deusas.

– Assim como fizera com relação aos crentes de Corinto, Paulo orienta Timóteo que, em relação à igreja de Éfeso, não permitisse que as mulheres assumissem qualquer papel de “mediação” entre Cristo e os crentes, máxime quando, como ocorria em Corinto, tivessem elas o dom de profetizar.

– Como diz Everett F. Harrison: “…Estes dois versículos [ I Tm.2:11,12 – observação nossa] devem ser tomados juntos; as mulheres não devem ocupar cargo de liderança ou de ensino na igreja.…” (op.cit., p.16).

O que se está a ressaltar, portanto, assim como no trecho de I Co.14:34,35, é que o ministério da palavra, a direção da igreja local foi confiado exclusivamente a homens, já que Cristo somente escolheu homens para serem apóstolos e os próprios apóstolos somente separaram homens para o exercício tanto do presbitério quanto do diaconato, fazendo-o por nítida inspiração do Espírito Santo.

– As mulheres não podem, em absoluto, querer ser “pastoras”, “presbíteras”, “episcopisas” (nome correto do inexistente “bispas” que andam utilizando por aí) ou “diaconisas”. São funções deixadas pelo Senhor Jesus única e exclusivamente aos homens, já que são atividades que exigem a natureza masculina para o seu exercício, pois foi ao homem que deu Deus as habilidades para tanto.

– Quanto ao ensino, deve-se aqui entender que a proibição para que a mulher ensine na igreja está igualmente vinculada ao “ministério da palavra”. Nada impede que a mulher possa dar um ensinamento na igreja local, que seja professora da Escola Bíblica Dominical, desde que o faça na condição de “mestre”, ou seja, de auxiliar do pastor, sob a orientação e coordenação de quem está a apascentar o rebanho do Senhor.

– Paulo justifica esta diferenciação de funções, que não significa discriminação injusta nem qualquer superioridade ao homem em relação à mulher (até porque, como ensina o Senhor Jesus, na Igreja, ao contrário do que ocorre no mundo, quem está em posição de mando é servidor dos demais – Cf. Mc.10:42-45), pelo fato de Adão ter sido criado antes da mulher e de a mulher ter sido enganada e se tornado o veículo pelo qual o pecado entrou no mundo, ou seja, trata-se de um resultado do juízo divino sobre o pecado, algo que somente poderá ser totalmente retirado quando houver “nova terra onde habita a justiça” (II Pe.3:13).

– Temos aqui mais uma evidência de que o chamado “ministério feminino”, que tem sido adotado em muitas igrejas locais não tem qualquer respaldo bíblico e deve ser completamente repudiado, pois não podemos ir além do que está escrito (I Co.4:6). Trata-se de uma determinação divina, de uma opção feita pelo Senhor Jesus, que é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), contra a qual não temos que discutir, muito menos distorcer.

– A mulher é altamente considerada por Cristo Jesus, que lhe restituiu a dignidade. Tanto assim é que o apóstolo Paulo mostra, claramente, que a mulher alcançaria a salvação, tanto quanto o homem, tendo ainda o privilégio de dar à luz filhos, algo que homem algum pode fazer, a nos mostrar como há, sim, uma distinção entre homem e mulher.

– A verdadeira e genuína mulher cristã não só terá o prazer de alcançar a sublimidade da feminidade, que é a maternidade, como, também, a salvação, permanecendo com modéstia na fé, na caridade e na santificação (I Tm.2:15).

– É preciso, portanto, entender corretamente esta passagem, pois alguns acham que a mulher alcança salvação tendo filhos, o que é interpretação que não tem qualquer cabimento. Como ensina William  Hendriksen: “…Nenhuma forma de gravidez como tal se apropria de salvação.

O amor de Deus derramado no coração, a paz que excede todo o entendimento, o deleite que se experimenta quando alguém se submete às ordenanças divinas, o deleite da verdadeira maternidade cristã, tudo isso só será experimentado se a mulher ‘prosseguir na fé’ etc.…” (op.cit., p.143).

– Assim, não tem o menor cabimento querer utilizar esta passagem como uma suposta base bíblica para a proibição de um legítimo planejamento familiar, ou seja, de um projeto de ter uma determinada quantidade de filhos num determinado período, o que é perfeitamente lícito para um casal cristão, desde que não se vulnere o mandamento da procriação.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

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