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LIÇÃO Nº 4 – A ATUALIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS

Uma das formas de operação do Espírito Santo, na atual dispensação, é através da concessão de dons aos servos do Senhor.

INTRODUÇÃO

– O batismo com o Espírito Santo, a chamada “segunda bênção”, é apenas o primeiro degrau da manifestação do poder do Espírito Santo na Igreja.

Depois do revestimento do poder, também chamado de “dom do Espírito Santo” (cf. At.2:38; 10:45), o Senhor deixa à disposição uma série de dádivas para que Seu povo possa eficazmente cumprir as tarefas cometidas à Igreja até que o Senhor Jesus volte para buscá-la.

São os “dons do Espírito Santo” que o Espírito reparte particularmente a cada crente como quer (I Co.12:11).

– Preocupante, porém, tem sido a negligência da esmagadora maioria dos crentes pentecostais na atualidade na busca destes dons, uma necessidade premente na Igreja, notadamente quando se aproxima o dia da volta de Cristo, o que faz com que vivamos dias trabalhosos, de aumento da iniquidade e, portanto, de grande opressão maligna, a exigir, de cada um de nós, o máximo de poder de Deus que pudermos obter de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

I – OS DONS ESPIRITUAIS FORAM POSTOS À DISPOSIÇÃO DA IGREJA PELO PRÓPRIO SENHOR

– Uma das operações do Espírito Santo entre os homens é a de transmitir poder a fim de que o nome do Senhor seja glorificado.

A transmissão de poder dá-se a partir do revestimento de poder, que é o batismo com o Espírito Santo, conforme dito pelo próprio Jesus em Lc.24:49.

– Entretanto, a transmissão de poder não se limita ao batismo com o Espírito Santo. Ao contrário do que muitos crentes acham, o batismo com o Espírito Santo é apenas o início desta transmissão de poder, o estágio inicial para uma vida de consagração a Deus e de vaso para que o poder de Deus se manifeste a favor da humanidade.

– Não é por outro motivo que o batismo com o Espírito Santo é o primeiro ato revelador da Igreja para os homens, no limiar do livro de Atos dos Apóstolos. Que tenhamos este entendimento para que, ao contrário do que anda ocorrendo na igreja dos nossos dias, os crentes não se satisfaçam com o batismo com o Espírito Santo e encerrem sua jornada espiritual no seu primeiro degrau.

OBS: É elucidativo verificar que uma das reuniões da Congregação Cristã no Brasil, denominação pentecostal criada em 1910, no Brasil, também sob o impacto do avivamento da rua Azusa, é chamada de “busca de dons”, a refletir, portanto, qual era o pensamento e a mentalidade vigentes no início do avivamento que deu início ao movimento pentecostal mundial, pensamento e mentalidade que precisam ser resgatados na atualidade, máxime quando se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja.

Como nos alerta a Palavra de Deus, “quem é santo, seja santificado ainda” (Ap.22:11 “in fine”), “porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.” (Rm.13:11 “in fine”).

– Os dons espirituais são chamados, no original grego, de “charismata” (χαρισματα), palavra que significa “graças”, ou seja, os dons espirituais são dádivas, são favores imerecidos que Deus concede aos homens que estão dispostos a servi-l’O e que, por obediência, já alcançaram o batismo com o Espírito Santo.

– A verificação do significado da palavra “charismata” é muito importante, pois demonstra, de forma cabal, que os dons espirituais são concessões divinas, decorrem do exercício da Sua infinita misericórdia, não havendo, portanto, qualquer merecimento, qualquer mérito por parte daqueles que são aquinhoados pelo Espírito Santo com um dom espiritual.

O dom espiritual é concedido não porque alguém seja mais espiritual ou melhor do que outro, mas em virtude da soberana vontade do Senhor.

Quem o diz não somos nós, mas a própria Palavra de Deus: “Mas um só mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” (I Co.12:11).

– Nem sempre temos esta noção na igreja. Muitos são os que acham que os portadores de dons espirituais são crentes superiores aos demais, que têm um nível maior de espiritualidade e que, em razão disto, desfrutam de uma posição diferenciada no meio da comunidade.

– Este pensamento, inclusive, tem feito com que muitos crentes andem à procura destes irmãos a fim de que obtenham curas divinas, maravilhas, sinais ou profecias, num comportamento totalmente contrário ao que determina a Palavra de Deus, que ensina que os sinais seguem os crentes e não os crentes correm atrás de sinais (Mc.16:17,20).

Jesus não aprovou esta conduta, típica dos judeus formalistas e descrentes (Mt.12:38,39). Nenhum outro sinal devemos buscar, como disse nosso Senhor e Salvador, senão a Sua ressurreição, que é a garantia da aceitação do Seu sacrifício e do perdão dos nossos pecados. Creiamos em Deus e em Seu Filho(Jo.20:29).

OBS: “…Um ministro verdadeiramente cristão buscará muito mais fazer o bem espiritual para as almas dos homens do que obter para si os maiores aplausos…” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Conciso, p. 1524.In: Master Christian Library, CD-ROM) (tradução nossa). Como este ensino precisa ser rememorado por muitos ministros do evangelho nos dias de hoje.

– Por isso, muito feliz foi a Declaração de Fé das Assembleias de Deus ao afirmar que “…Eles [os dons espirituais, observação nossa] não são atestados pessoais de santidade que induzem as pessoas a acreditar que são mais santas ou mais espirituais que outras; também não transformam as pessoas em superespirituais, nem as tornam melhores ou superiores a outros crentes; não são para exibição ou superioridade particular no seio da Igreja, mas são para a glória de Deus [At.3:12]…” (DFAD XX.2, p.173).

A posse dos dons espirituais é, sem dúvida, uma grande bênção que Deus nos dá, é mais um talento concedido pelo Senhor aos Seus servos, é mais uma ferramenta que é colocada à disposição da Igreja através de um vaso escolhido.

Indubitavelmente, devemos, como servos do Senhor, buscar os dons espirituais, pois eles indicam que há um crescimento espiritual do seu detentor, mas por vontade e misericórdia de Deus, para a Sua glorificação e a edificação espiritual do povo de Deus, menina dos olhos do Senhor (Zc.2:8).

Quem recebe um dom espiritual deve estar consciente que, em razão deste dom, não foi feito melhor dos que os demais irmãos, mas, bem ao contrário, foi-lhe dada uma responsabilidade ainda maior, de forma que deverá, sempre, usar este dom conforme a vontade do Senhor e de acordo com as Escrituras, pois deve sempre exercer este dom para a glória do nome do Senhor.

OBS: Neste ponto, aliás, é interessante observar o que diz a respeito a Constituição ‘Lumen Gentium”, o principal documento doutrinário do Concílio Vaticano II, que estabeleceu as diretrizes da Igreja Romana a partir da década de 1960:

“…Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja.…” (Lumen Gentium 12. In: Frederico VIER O.F.M. Compêndio do Vaticano II, p.53).

Também oportuno é o ensinamento do prof. Felipe Aquino, católico romano: “…A nossa vida espiritual tem duas dimensões, primeiro uma dimensão voltada para dentro de nós e depois outra voltada para fora.

Na segunda dimensão está a Igreja, é a dimensão de comunidade, a dimensão de caminhar com o povo de Deus, e Dês nos concede então os dons carismáticos, que não são necessariamente para nós mas para os outros, por exemplo o dom da sabedoria que não a sabedoria para alimentar a nós mas para alimentar os outros, não apenas para nos orientar, o dom da fé, da ciência, o dom de cura, de milagres que são dons como diz São Paulo para o bem da Igreja, para os outros, para utilidade de todos.

Quando nós exercemos os dons carismáticos não quer dizer que já somos santos, porque Deus pode usar quem Ele quiser da maneira que quiser, mas é preciso dizer que quanto mais santo a pessoa for mais fácil é para Deus usar essa pessoa, por isso os dons carismáticos não estão separados dos dons de santificação, e eu até diria que existe uma grande interface entre eles, quanto mais a pessoa vive os dons de santificação mais aptidão ela tem para viver os dons carismáticos. Na dimensão interior estão os dons de santificação.” (Dons carismáticos. cancaonova.com/portal/canais/rcc/pg_dons_carism.php?menu_id=9 Acesso em 31 dez. 2003)

– Somente possuem dons espirituais aqueles que forem, antes, revestidos de poder. Este princípio bíblico, nem sempre ensinado pelos estudiosos da Bíblia Sagrada, decorre do próprio teor das Escrituras.

Não vemos os discípulos exercerem os dons espirituais antes de serem revestidos de poder. Na nossa atual dispensação, é necessário que o Espírito Santo reparta os dons espirituais conforme a Sua vontade entre os crentes, mas somente aqueles crentes que já estiverem envolvidos pelo Espírito, a quem se transmitiu poder, transmissão esta que é feita única e exclusivamente por força do batismo com o Espírito Santo.

– Todos os crentes que são mencionados como portadores de dons espirituais no livro de Atos dos Apóstolos, são crentes que foram, antes do exercício destes dons, revestidos de poder, batizados com o Espírito Santo. É o que vemos na vida de Pedro, Paulo, Filipe e Estêvão, para ficarmos nos principais exemplos.

– Os dons espirituais, portanto, são dádivas, poderes que o Espírito Santo concede a alguns crentes, a fim de que seja evidenciada, no meio do povo de Deus, a presença do Senhor e seja confirmada a pregação do Evangelho (Mc.16:20), ele próprio poder de Deus para a salvação de todo aquele que nele crê (Rm.1:16).

– Por isso dizemos que o crente pentecostal, ou seja, o crente que crê na operação ainda hoje do Espírito Santo como agente transmissor de poder divino na pregação do Evangelho, é um crente que crê no Evangelho completo, pois a pregação do evangelho abrange não só a notícia de que Jesus é o Senhor e Salvador do mundo e que é preciso n’Ele crer para alcançar o perdão dos pecados e a salvação da alma, obtendo, assim, a vida eterna,

como também esta mensagem é confirmada da parte de Deus mediante a operação do Seu poder, através do batismo com o Espírito Santo e, depois, dos dons espirituais, cuja recepção se torna possível em virtude do revestimento de poder, do mergulho, da imersão do ser do crente no fogo do Espírito de Deus, no seu completo envolvimento com a terceira Pessoa da Trindade Divina.

– Uma pregação do evangelho, sem a confirmação dos sinais, é um evangelho incompleto. Não resta dúvida de que se trata de uma genuína pregação do Evangelho, pois o Evangelho é poder de Deus para salvação e, portanto, não está no pregador a capacidade para o convencimento dos pecadores,

para o seu arrependimento e para o novo nascimento, mas, sim, na virtude que emana da própria Palavra de Deus, que é mais penetrante do que espada alguma de dois gumes e que penetra na divisão da alma e do espírito e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hb.4:12).

– Entretanto, tal pregação será, sempre, algo que ficará sem a devida confirmação, sem o devido respaldo, que ateste que o que foi falado não foi apenas palavra persuasiva de sabedoria humana, uma grande exposição retórica, um discurso emocionador, mas demonstração de Espírito e de poder (I Co.2:4).

– Em o nosso cotidiano, temos algo que pode bem ilustrar esta situação: o serviço postal abre-nos a possibilidade de, quando encaminhamos um telegrama, termos a recepção de uma confirmação.

Quando optamos pelo recebimento da confirmação, temos a certeza de que a correspondência foi entregue, podemos até usar a confirmação como prova caso surja algum problema posterior. Se não temos a confirmação, temos a ideia de que a correspondência tenha sido entregue, mas não teremos como provar. Assim é a pregação do evangelho que é confirmada pela demonstração de Espírito e de poder.

– Devemos, também, aqui distinguir entre os dons espirituais dos dotes naturais, dos talentos individuais que alguém tenha. Sabemos que todas as coisas pertencem ao Senhor (Sl.24:1) e que somos simples administradores do que Deus nos concede desde quando passamos a existir como seres humanos, o que nos é explicado pela doutrina da mordomia (Gn.1:26-28). Assim, tudo que achamos ter não é nosso, mas, sim, algo que nos foi confiado pelo Senhor.

– Entretanto, não podemos confundir os dons espirituais, que são “…meios pelos quais o Espírito revela o poder e a sabedoria de Deus, através de instrumentos humanos, que os recebem e bem usam…”(BÉRGSTEN,

Eurico. Teologia sistemática: doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação, p.39-40) , com habilidades que Deus tenha concedido a alguém, que as possua naturalmente, que façam parte da sua natureza.

– Assim, por exemplo, sabemos que há pessoas que têm habilidades musicais ou artísticas, alguém que tem uma memória prodigiosa, outros que têm uma capacidade de liderança, e assim por diante, que são, sim, como sabemos, dádivas dadas por Deus aos indivíduos, mas que são dádivas inseridas na natureza de cada um, sem que, para tanto, tenha havido a operação sobrenatural de Deus, através do Espírito Santo, sem que tenha existido o envolvimento, o revestimento de poder.

– Tais dotes naturais não podem, portanto, ser considerados como dons espirituais, pois são talentos, dotes, dádivas naturais que, como tudo, provém de Deus, mas sem o sentido que aqui estamos estudando. São habilidades, tendências e dotes que são dados ao homem natural, ou seja, a qualquer ser humano, qualidades que existem independentemente de um relacionamento de comunhão entre Deus e o homem.

Já os dons espirituais, porém, são manifestações sobrenaturais do poder de Deus através de um indivíduo, é o próprio Espírito Santo atuando, através de um servo do Senhor, para a realização de ações que fogem às leis naturais e que são feitos que não se encontram na natureza do indivíduo, mas algo que foi adquirido pelo instrumento de Deus pela Sua própria e soberana vontade.

– Os dons espirituais, também, distinguem-se das qualidades decorrentes da conversão, do novo nascimento.

Quando uma pessoa aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador passa por uma completa transformação, pois o trabalho do Senhor é este mesmo: fazer com que as pessoas passem da morte para a vida (Jo.5:24), saiam das trevas para a luz (I Pe.2:9).

– Como disse Paulo, quem está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas passaram e tudo se fez novo (II Co.5:17).

Em razão disto, a pessoa nascida de novo, convertida ao Senhor, passa a ter um novo caráter, tendo novas qualidades e realizando outras obras (Gl.5:22), o que caracteriza o que se denomina, nas Escrituras, de fruto do Espírito Santo, algo que será objeto de lições futuras neste trimestre.

– Não obstante, este fruto do Espírito não se confunde com os dons espirituais. O fruto do Espírito está presente em toda pessoa convertida, em toda nova criatura, em todo filho de Deus, o que não acontece com os dons espirituais, que são dados individualmente, não a todos mas apenas a alguns dentre os servos do Senhor, pois a Bíblia nos ensina que é repartido particularmente (I Co.12:11), enquanto que o fruto é geral, tanto que Jesus disse que, por ele, seriam identificáveis os Seus seguidores (Mt.7:17-20).

– Os dons espirituais não se confundem, ainda, com os dons ministeriais, também chamados de dons de Cristo, ainda que sejam também dádivas divinas deixadas à disposição da Igreja e que, neste sentido, foram também incluídas na lição pelo ilustre comentarista, que, ao tratar dos “dons do Espírito Santo”, incluiu tanto os dons espirituais, como os dons ministeriais e as operações de Deus.

– A distinção está na própria forma pela qual as Escrituras mencionam e tratam cada uma destas figuras.

Enquanto que os dons espirituais são mencionados como sendo repartidos particularmente pelo Espírito Santo, segundo a Sua vontade, para a edificação espiritual dos crentes, para utilidade dos crentes (I Co.12:4-11), os dons ministeriais são tratados como dádivas vindas da parte de Jesus, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação da igreja (Ef.4:11,12), ou seja,

os dons ministeriais são dádivas que são concedidas à igreja pelo seu máximo governante, pela sua cabeça que, como comandante-em-chefe da Igreja, escolhe, dentre os Seus servos, aqueles que devem coordenar, dirigir e orientar o povo de Deus.

– Os dons ministeriais não deixam, assim, de ser dádivas sobrenaturais, como são os dons espirituais, mas sua função, no corpo de Cristo, é diferente: não se trata de operações episódicas, de demonstrações esporádicas e temporalmente limitadas, com vistas a um consolo, uma exortação, o suprimento de uma necessidade ou uma instantânea manifestação do poder de Deus para a igreja e, mesmo, para os não salvos, mas de uma atividade

contínua, no meio do povo de Deus, para que a igreja cumpra com suas tarefas neste mundo, quais sejam, a evangelização e o aperfeiçoamento dos salvos.

Enquanto que, com os dons espirituais, de forma sobrenatural, os crentes são usados pelo Senhor como instrumentos para a manifestação de Seu poder, através dos dons ministeriais, Cristo concede à Igreja homens que, diuturnamente, estarão servindo ao corpo de Cristo, que serão, eles mesmos, verdadeiros dons para a igreja.

Muito oportuno, aliás, o título que R.N. Champlin deu, na sua Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, para o verbete que estuda os dons ministeriais: ” homens como dons espirituais”.

Os dons ministeriais são indivíduos, seres humanos que Deus destaca para que suas vidas passam a ser um serviço para a igreja do Senhor.

– Além dos dons espirituais e dos dons ministeriais, existem, também, as chamadas “operações de Deus” (I Co.12:6), que seriam os poderes conferidos por Deus à igreja, conhecidos como os sinais que seguem aos que creem e descritos em Mc.16:17,18.

Sua presença, como se verifica, independe do revestimento de poder por parte dos crentes, pois seu intuito é confirmar a palavra que é pregada, complementando, assim, com uma cooperação direta do Senhor (cf. Mc.16:20), a pregação do Evangelho.

Entretanto, à evidência, quando os crentes são revestidos de poder, estas operações se intensificam e se multiplicam sobremaneira, não tendo sido por outro motivo que o Senhor Jesus determinou que os discípulos aguardassem antes o revestimento de poder para que, então, iniciassem a evangelização do mundo.

– Por fim, temos, ainda, uma outra classe de dons do Espírito Santo que não se confundem com os dons espirituais, que são os dons chamados de “serviçais”, “dons de serviço” ou, ainda, como denominou o ilustre comentarista, em “dons espirituais de ministérios práticos”, constantes da relação de Rm12:6-8, que se distinguiriam dos outros dons ministeriais porque seriam relacionados mais às ações dos crentes, à prática cristã, não tendo em vista o aperfeiçoamento espiritual dos crentes, como ocorre com os outros dons, que aqui denominamos de “dons ministeriais”, estes elencados em Ef.4:11.

II – OS DONS ESPIRITUAIS PROPRIAMENTE DITOS

– É comumente dito que os dons espirituais são nove, dizer este que se baseia na lista mais completa de dons espirituais que se encontra no Novo Testamento, que se encontra em I Co.12:8-10.

Entretanto, além desta relação, que é a mais conhecida e a mais pormenorizada, temos, também, a relação constante de Rm.12:6-8, que não é uma relação tão completa quanto a primeira e que parece misturar dons espirituais com dons ministeriais (até porque o texto não é específico com relação aos dons espirituais como é o anteriormente mencionado).

– Mesmo se levarmos em consideração apenas a relação de I Coríntios, não podemos nos esquecer de que um dos itens da relação fala dos “dons de curar” (I Co.12:9), dando a entender, portanto, que há mais de um dom de curar, o que torna, também, precário o entendimento de que os dons espirituais sejam apenas nove. Assim, não podemos afirmar com respaldo bíblico que somente haja nove dons espirituais.

Entretanto, tal posição bíblica não pode servir de base para que se adicionem outros dons de modo aleatório e sem qualquer respaldo escriturístico, manifestações que, no mais das vezes, não se coadunam com os propósitos e finalidades dos dons espirituais, cuja presença na igreja, inevitavelmente, trará confirmação da pregação do Evangelho, edificação espiritual, consolação, exortação e um maior envolvimento da igreja local com o Senhor e a Sua obra.

– Tomando-se, porém, a relação mais minudente das Escrituras, podemos dividir os dons espirituais em três categorias, a saber:

a) dons de poder: fé, dons de curar, operação de maravilhas – são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas efetuem demonstrações sobrenaturais do poder divino, com a realização de milagres, de maravilhas e de coisas extraordinárias, que confirmem a soberania de Deus sobre todas as coisas e a Sua presença no meio da igreja. São evidências da onipotência divina no meio do Seu povo.

b) dons de ciência: palavra da sabedoria, palavra da ciência, dom de discernir os espíritos – são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas revelem mistérios ocultos aos homens, com a tomada de atitudes e condutas que evidenciem que Deus sabe todas as coisas e que nada Lhe fica oculto. São evidências da onisciência divina no meio do Seu povo.

c) dons de elocução ou de fala: variedade de línguas, interpretação de línguas e profecia – são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas sejam instrumentos da voz do Senhor, para que o Espírito Santo demonstre que Se comunica com o Seu povo. São evidências da onipresença divina no meio do Seu povo, uma presença que nos faz descansar e que nos traz edificação.

– Observamos, portanto, que cada dom espiritual tem uma finalidade específica no meio do povo de Deus, tem um propósito, que é o de dar condições para que o crente prossiga a sua jornada em direção a Jerusalém celestial, desvencilhando-se, pela manifestação do poder divino na sua vida, de todo o embaraço que tão de perto o rodeia (Hb.12:1) e, assim, não venha a se envolver com as coisas desta vida, agradando, assim, ao Senhor (II Tm.2:4).

Tem-se, portanto, no exercício dos dons espirituais, uma inequívoca demonstração do poder de Deus (I Co.2:4), mas sem qualquer oportunidade de exibicionismo ou de glorificação humana, mas única e exclusivamente para a glória de Deus e para pregação do Cristo crucificado (I Co.2:2).

É com base nesta peculiar circunstância que podemos identificar e repudiar todas as inovações que hoje contagiam muitas igrejas locais, em especial os “novos dons” e a tão desejada e nunca explicada “nova unção”.

– Os dons de poder, como vimos, são três e, por meio deles, o Senhor manifesta a Sua onipotência no meio da Igreja, para que não percamos nossa esperança e, ao vislumbrarmos um Deus que tudo pode, confiantes marchemos para a Canaã celestial.

– O primeiro deles são os dons de curar. É o poder que Deus dá a alguns de seus servos para a cura de enfermos de forma extraordinária, sobrenatural.

Não devemos confundir os dons de curar com o sinal de cura de enfermos, que se trata de uma operação divina feita para a confirmação da pregação do Evangelho. O

s dons de curar são repartidos pelo Espírito Santo especificamente a alguns, enquanto que, na operação de cura, Deus Se manifesta para confirmar a Sua Palavra.

– O segundo dom de poder é dom de operação de maravilhas, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que eles operem milagres, operações sobrenaturais distintas da cura de enfermidades.

A Bíblia ressalta que, pelas mãos de Paulo, maravilhas extraordinárias eram realizadas (At.19:11). O milagre ou maravilha é um acontecimento cuja explicação foge à razão humana, é uma intervenção divina direta no curso das coisas, que contraria as próprias leis naturais.

– O terceiro dom de poder é o dom de fé, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que alguém tenha uma fé especial, pela qual se fez, num instante, algum sinal ou prodígio específicos.

Esta fé extraordinária, que se aproxima daquela do “grão de mostarda” de que disse Jesus (Mt.17:20), permite a realização de algo igualmente inexplicável por parte do cristão, num momento, para a glorificação do nome do Senhor.

– Os dons de ciência (também chamados “dons de revelação”) também são três e, por meio deles, o Senhor manifesta a Sua onisciência no meio da Igreja, para que jamais venhamos a nos esquecer de que Deus sabe todas as coisas e, assim, pode sempre nos orientar na nossa jornada, devendo ser sempre o nosso referencial.

– O primeiro deles é o dom da palavra da ciência, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que tenham conhecimento sobrenatural de coisas. Sem que haja qualquer comunicação natural a respeito de um fato, o Senhor permite ao servo portador deste dom que tenha acesso a fatos e as ocorrências que estavam ocultas, com o propósito único e exclusivo de edificar, exortar e promover o crescimento espiritual de alguém.

Vemos, pois, que nada há, neste dom, que o nivele a um mero exercício de adivinhação, como, lamentavelmente, se tem disseminado em muitos lugares.

A adivinhação não passa de uma imitação fajuta e irrazoável deste dom, no mais das vezes sendo pura operação maligna (At.16:16), vez que tal prática é abominável aos olhos do Senhor (Lv.20:27; Ez.12:24).

– O segundo dom de ciência é o dom da palavra da sabedoria, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que deem, em ocasiões especiais e de forma sobrenatural, palavras orientadoras e que nos fazem sair de situações difíceis.

A sabedoria, aqui, é a habilidade de agir ou falar em conformidade com a razão e a moral, com prudência e experiência de vida, com sensatez e equilíbrio.

Trata-se não só de uma pessoa que tenha conhecimento (o que é “erudição”), nem tampouco da pessoa que demonstra criatividade e, diante dos recursos existentes, consegue construir algo que lhe dá o máximo de aproveitamento da oportunidade surgida (o que é “inteligência”), mas, sobretudo, a capacidade de associar os recursos, o ambiente, a situação para dela se obter o máximo proveito, não só para si, mas, principalmente, para a glória do nome do Senhor.

A sabedoria, como as Escrituras informam, é algo que está além da razão humana, vem diretamente de Deus e tem no temor ao Senhor o seu princípio (Sl.111:10a). Como, nestes dias de desequilíbrio e de incontinência (II Tm.3:3), tem faltado sabedoria, mesmo no meio do povo do Senhor!

– O terceiro dom de ciência é o dom do discernimento dos espíritos, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que identifiquem operações espirituais em acontecimentos e fatos do cotidiano.

Por intermédio deste dom, percebemos o aspecto espiritual envolvido nas mais diversas e simples ocorrências do dia-a-dia, não nos deixando cair nos laços do adversário, bem como nos precavendo até aquele grande dia, cuja proximidade também é resultado do nosso discernimento espiritual.

É importante observar, como vimos na lição 13 do trimestre anterior, que o dom do discernimento é uma identificação súbita e momentânea, numa determinada situação, da operação espiritual, não se confundindo com o discernimento corriqueiro que todo cristão deve ter, por estar em comunhão com o Senhor e ter em si o Espírito Santo que o orienta a cada dia.

– Por fim, temos os dons de elocução ou de fala (também chamados “dons de eloqüência”), que também são em número de três, cuja finalidade é realizar a comunicação entre Deus e o Seu povo, mostrando assim que Deus está presente no meio do Seu povo e que é um Deus vivo, que ainda fala aos Seus filhos. Por meio destes dons, sentimos o descanso do Senhor, pois a Sua presença nos faz descansar (Ex.33:14).

– O primeiro deles é o dom de variedade de línguas ou dom de línguas, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que falem em línguas estranhas, de forma sobrenatural, para o fim de edificação própria de quem fala. É o dom mais disseminado no meio do povo de Deus, até porque é, também, aquele que é mais buscado.

– O dom de línguas não se confunde com o sinal do batismo com o Espírito Santo. O sinal do revestimento de poder é o falar em línguas estranhas, mas o dom de variedade de línguas é algo diverso, pois se trata de uma comunicação que se estabelece em mistério entre Deus e o homem, uma comunicação direta do espírito humano com o Espírito de Deus, tanto que o intelecto humano dele não participa. Sua finalidade, como vimos, é promover a edificação espiritual individual daquele que fala.

– O segundo dom de elocução é o dom de interpretação de línguas, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que interpretem as línguas estranhas faladas por eles ou por outros, para o fim de que a mensagem edifique também a igreja e não apenas quem está falando em línguas.

É, por isso, que o apóstolo Paulo aconselha que quem tem o dom de variedade de línguas busque o dom de interpretação (I Co.14:13), pois, assim fazendo, a sua edificação individual se tornará coletiva, além do que seu entendimento também será enriquecido com a sua edificação espiritual.

Partir-se-á de uma operação íntima, da qual nosso intelecto não participa, para uma operação que trará fruto para a igreja e para a própria alma do que fala em língua estranha.

Entretanto, é com pesar que verificamos que este dom é um dos que menos se apresenta na igreja na atualidade, o que causa grande prejuízo espiritual.

Se hoje muitos se surpreendem com o fato de grupos idólatras estar falando em línguas estranhas e se existe muita mistificação e falsificação do dom de línguas nas nossas próprias igrejas locais, na atualidade, isto se deve, em grande parte, a esta negligência na busca do dom de interpretação de línguas, pois se o dom de interpretação estivesse tão ativo quanto o dom de variedade de línguas, identificaríamos as falsificações e as imitações demoníacas não causariam tanto abalo na fé de muitos como têm causado.

Não nos esqueçamos de que o apóstolo Paulo disse que a associação do dom de variedade de línguas com o de interpretação proporciona o mesmo efeito do dom de profecia (I Co.14:5) e que um dos principais efeitos da profecia é evitar a corrupção do povo de Deus (Pv.29:18a).

– O terceiro dom de elocução é o dom de profecia, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para trazer mensagens de Deus aos crentes com a finalidade de edificar, exortar e consolar a igreja.

A profecia é uma demonstração de que Deus está conosco a todo instante e que compartilha de nossos sentimentos, fazendo questão de lhos manifestar para que, sentindo a Sua compaixão, ajamos de acordo com a Sua vontade.

A profecia, também, é uma forma de os incrédulos perceberem a presença de Deus e, ante esta percepção, terem o devido temor, que poderá lhes levar à conversão (I Co.14:22-25).

Além do mais, como já dissemos supra, a profecia é necessária para impedir a corrupção do povo de Deus. Apresenta-se, assim, como uma verdadeira manifestação de alívio e de descanso ao crente que, revigorado pela profecia, tem alento para prosseguir na sua caminhada rumo ao céu.

– Observamos que, na relação dos dons espirituais, não há o chamado “dom de revelação” ou “dom de visão”, “dons” que são constantemente mencionados e considerados no meio de alguns integrantes do povo de Deus que não têm o costume de ler e meditar na Palavra de Deus.

O “dom de revelação”, na verdade, é o dom da palavra da ciência, não podendo ser confundido, como já dissemos, com verdadeiras adivinhações que têm perturbado o povo de Deus nos nossos dias. Deus não tem qualquer propósito de fazer com que alguns de Seus servos sejam “adivinhos”, pois abomina a adivinhação, típica operação maligna.

A revelação de fatos ocultos tem tão somente o propósito de edificar o povo de Deus, jamais de envergonhar quem quer que seja. Já o chamado “dom de visão” não tem qualquer respaldo bíblico. Verdade é que existe a operação de visão, uma operação divina em que Deus mostra algo para algum servo Seu, mas também com o propósito de proporcionar a edificação de quem vê ou da igreja, jamais para devassar a intimidade ou envergonhar alguém.

– Além da expressão “dons de curar”, não temos qualquer texto bíblico que nos permita dizer que há dons espirituais além dos relacionados neste texto da primeira carta de Paulo aos coríntios. A expressão “dons de curar” apenas permite dizer que há diversos dons de curar, nada além disto. Por isso, não podemos aceitar “dons” que têm aparecido no meio do povo de Deus, como acima já mencionamos.

OBS: Por isso, repudiemos com veemência certas inovações que se apresentam no meio do povo de Deus como “dons” tais como a “risada santa”, o “cair pelo Espírito”, o “dom de lagartixa”, o “vômito santo” e outras “neobobagens pentecostais”, como bem denominou o jornalista cristãos Jozadak Pereira.

III – A ATUALIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS

– Vistos os dons espirituais propriamente ditos, que são aqueles decorrentes do prévio revestimento de poder, que é o batismo com o Espírito Santo, ele próprio chamado de “dom” (At.2:38), resta-nos analisar se são eles atuais, ou não.

– O pentecostalismo diz que, assim como o batismo com o Espírito Santo, os dons espirituais estão presentes durante toda a história da Igreja e não cessaram com a completude da revelação da Bíblia Sagrada, como defendem os cessacionistas.

– O item 12 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma que “[CREMOS] Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme Sua soberana vontade para o que for útil (I Co.12:1-12)”.

O introito do Capítulo XX da Declaração de Fé assim afirma:

“CREMOS, professamos e ensinamos que os dons do Espírito Santo são atuais e presentes na vida da Igreja.

O batismo no Espírito Santo é um dom: ‘e recebereis o dom do Espírito Santo’ (At.2:38) e é para todos os crentes: ‘Porque a promessa voz diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus , nosso Senhor, chamar’ (At.2:39);

mas os dons do Espírito Santo, ou ‘espirituais’ na linguagem paulina: ‘Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes’ (I Co.,12:1) são restritos [I Co.12:29,30].

Esses dons são capacitações especiais e sobrenaturais concedidas pelo Espírito de Deus ao crente para serviço especial na execução dos propósitos divinos por meio da Igreja: ‘Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil’ (I Co.12:7).

São recursos sobrenaturais do Espírito Santo operados por meio dos seres humanos, os crentes em Jesus [II Co.4:7; Cl.1:27], enquanto a Igreja estiver na terra, pois, no Céu, não precisaremos mais deles [I Co.13:8-10].

É por meio da Igreja que o Espírito Santo manifesta ao mundo o poder de Deus [Ef.3:10], usando os dons espirituais.…” (DFAD XX, p.171).

– Nota-se, pois, que, por primeiro, o próprio batismo no Espírito Santo é chamado de dom por Pedro na sua pregação no dia de Pentecostes, de modo que se ele próprio é um dom e já vimos que o batismo no Espírito Santo perdurará até o grande e glorioso dia do Senhor (At.2:20), temos que os dons espirituais também devem durar até o final do tempo da Igreja sobre a face da Terra.

– Se os dons espirituais são distribuídos pelo Espírito para edificação, consolação e edificação da Igreja, por que haveriam de ser dados só até a completude da revelação das Escrituras?

Se o batismo com o Espírito Santo, pressuposto para os dons espirituais, perdura até o arrebatamento da Igreja, por que os dons, que decorrem deste revestimento de poder, cessariam depois da morte do apóstolo João?

– Assim como no caso do batismo com o Espírito Santo, ao longo da história da Igreja, há registros de atuação dos dons espirituais, notadamente no avivamento pentecostal que ainda vigora, tem-se a prova de que são eles atuais.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6140-licao-4-a-atualidade-dos-dons-espirituais-i

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