LIÇÃO Nº 4 – A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO ENFRENTOU OPOSIÇÃO
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da formação da “Comunidade do Segundo Templo” para extrairmos lições sobre avivamento, estudaremos o capítulo 4 de Esdras.
– O avivamento não exclui a oposição do mundo ao povo de Deus.
I – A MOVIMENTAÇÃO DOS INIMIGOS DO POVO DE DEUS
– Deixamos a lição anterior num momento singular por que passava o povo de Deus. Os judeus haviam retornado para a sua terra depois de 70 anos e visto a fidelidade do Senhor, que mantivera a terra deserta por 70 anos, não permitindo que ninguém a ocupasse, bem como cumprindo à risca a profecia de Jeremias.
– Quando da chegada dos judeus, porém, logo perceberam eles que, apesar da proteção divina que permitiu o descanso da terra de seus sábados, os povos vizinhos não eram amistosos, não ficaram contentes com o retorno dos exilados.
– Logo no início da reocupação, já houve uma movimentação destes povos a demonstrar seu desagrado, tanto que veio pavor sobre os judeus (Ed.3:3), pavor que, como vimos, levou o povo a voltar a priorizar as coisas de Deus e a se reunir como um só homem em Jerusalém para renovar o altar e, mais do que isto, iniciar a reconstrução do templo.
– Vemos, de pronto, que, embora não tenha o condão de impedir as ações divinas, a oposição ao povo de Deus é uma realidade sempre presente.
As nações que viviam à volta de Judá não tinham podido ocupar a terra deixada pelos judaítas, não porque não a quisessem, mas única e exclusivamente porque Deus não o permitiu.
– O povo de Deus aqui na Terra, por definição, é odiado pelo mundo. Que é o mundo? É o sistema comandado por Satanás, sistema este que está no maligno (I Jo.5:19), onde está o império da morte (Hb.2:14), ou seja, onde todos estão separados de Deus, sob o domínio do pecado (Jo.8:34), indo de mal a pior (II Tm.3:13), numa corrupção generalizada.
– Sendo este sistema comandado por Satanás, que é o inimigo de Deus, temos que o mundo é, também, inimigo de Deus, tanto que as Escrituras nos dizem que quem se constitui em amigo do mundo, por esse fato se torna inimigo de Deus (Tg.4:4).
Assim, a partir do momento que Israel, no monte Sinai, aceitou a proposta divina de se tornar propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos (Ex.19:5,6), passou a ser alvo do mundo, que, a partir de então, sempre se movimentou no intuito de destruir Israel como povo, o que prosseguirá até a redenção de Israel na batalha do Armagedom, quando o mundo estará na iminência de conseguir seu intuito destruidor contra os israelitas.
– Israel só não é destruído porque o Senhor cuida dele e não o permite. Ele é o guarda de Israel, que não dorme nem tosqueneja (Sl.121). Por isso o salmista pôde dizer que, se não tivesse sido o Senhor, há muito que os israelitas já teriam sido engolidos vivos (Sl.124:1-5).
– Isto também acontece com a Igreja. O Senhor Jesus foi claro ao nos ensinar que o mundo nos aborrece (Jo.15:18,19) e isto se dá pelo simples fato de que o mundo aborrece Jesus e a Igreja nada mais é que o corpo de Cristo (I Co.12:27).
– Para fazer parte da Igreja, é preciso sair do mundo, pois “igreja” significa “chamados para fora”. Feliz, aliás, é o item 8 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, quando afirma que a Igreja é formada “…pelos chamados do mundo pelo Espírito Santo para seguir a Cristo e adorar a Deus”.
– Quem ama o mundo, diz o apóstolo João, o amor do Pai não está nele (I Jo.2:15), havendo, pois, uma verdadeira exclusão mútua entre Igreja e mundo, de modo que é natural que haja uma oposição entre a Igreja e o mundo.
Por isso, o Senhor Jesus disse que deve haver um alerta e uma reavaliação por parte do discípulo de Cristo quando perceber que está a agradar o mundo (Lc.6:26), pois o normal é serem odiados e maltratados por causa do Senhor Jesus (Lc.6:22).
– O pavor causado pela movimentação dos povos vizinhos logo após a chegada somente serviu para que se retomasse a prioridade das coisas de Deus e o altar, então, foi levantado e determinado o início da construção do segundo templo, sendo lançados os fundamentos da nova casa, como já tivemos ocasião de estudar.
– Entretanto, a oposição não cessou, antes, diante da constatação de que a intimidação feita por primeiro tivera um efeito contrário, os inimigos trataram, então, de intensificar a sua oposição, a fim de impedir que os judeus viessem a cumprir seu desejo de reconstruir o templo, no que, inclusive, estaria a obedecer à ordem do rei Ciro.
– Não nos iludamos, jamais o diabo e seus anjos irão ficar quietos e assistir passivamente ao cumprimento e à realização de tudo quanto Deus quer que façamos para Ele enquanto aqui peregrinarmos na Terra.
Cristo, assim que revelou o mistério da Igreja, também revelou que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt.16:18), a indicar, portanto, que havia uma constante luta por parte do maligno enquanto se desse a edificação da igreja de Cristo.
II – A OPOSIÇÃO DOS INIMIGOS DE JUDÁ
– Tendo os inimigos de Judá ouvido que os que retornaram do cativeiro estavam a edificar o templo foram até Zorobabel, o governador, apresentando uma proposta, qual seja, a de ficarem com os judeus porque, assim como eles, buscariam ao Senhor, como, aliás, já haviam sacrificado desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que os havia mandado vir para aquela terra (Ed.4:1).
– Notemos, de pronto, que estes “inimigos de Judá” eram os samaritanos, este povo que resultou da mistura de diversas nações que vieram ocupar o norte da Terra Prometida, a parte que constituía o reino de Israel, o reino das dez tribos, que havia sido levado cativo para a Assíria (I Rs.17:6-41).
– Os assírios tinham uma política de retirada dos povos vencidos de suas terras de origem, pois entendiam que, assim fazendo, destruíram o sentimento nacional de cada povo, obrigando-os a se misturar com outros em outros lugares, de modo que nunca haveria rebelião dos vencidos, consolidando-se o domínio conquistado pela guerra.
– Assim, além de tirar os israelitas das dez tribos de sua terra e fazê-los perder a identidade nacional (o que efetivamente ocorreu porque estas tribos se perderam na mistura com outros povos), mandou também estrangeiros de várias nações para ocuparem aquele território, fazendo-os também perder sua identidade (II Rs.17:24).
– Estes povos acabaram por se misturar e dar origem a um novo povo, os samaritanos, que, a propósito, ainda existem até hoje, que eram 650 pessoas em 2003 que vivem em duas cidades, Holon, em Israel e Nablus, na Cisjordânia (território sob administração da Autoridade Nacional Palestina).
– Estes povos eram idólatras, adoravam os seus deuses, mas, quando passaram a ocupar a terra que era das dez tribos do norte, temerosos com a vinda de leões que mataram alguns deles, pediram ao rei da Assíria que fossem mandados sacerdotes para que os ensinassem os costumes do Deus de Israel, o que foi feito, tendo, então, passado também a cultuar a Deus, embora não tivessem abandonado seus deuses (II Rs.17:26-41).
– Desta maneira, embora tenham sentido o poder de Deus no episódio dos leões e recebido o ensinamento de sacerdotes israelitas (ainda que tais sacerdotes fossem os que cuidassem dos bezerros de ouro construídos por Jeroboão), não se converteram e entenderam que Deus era apenas “mais uma divindade” e que, como tal, deveria receber sacrifícios para que tivesse aplacada a Sua ira, já que estavam a ocupar a “sua” terra.
– O que fizeram os samaritanos também é feito nos dias de hoje. Muitos são os que entendem que agradar a Deus é dedicar-Lhe algum tempo, alguma honra, a fim de aplacar a Sua ira, mas sem qualquer compromisso ou comprometimento, apenas com uma religiosidade vazia e que repete o que Caim tentou fazer no início da história da humanidade.
– Deus não necessita de nós, não precisa de nosso culto ou de nossos sacrifícios. Ele é o Senhor de todas as coisas (Sl.24:1), toda a terra é d’Ele (Ex.19:5).
Nós é que precisamos d’Ele e devemos reconhecer Sua soberania e dar a Ele toda a honra e todo o louvor, sabendo que é o único e verdadeiro Deus.
– A crença fundamental de Israel, ensinada pelo próprio Deus, é que Deus era o único Senhor (Dt.6:6), de modo que era inadmissível, aos olhos do Senhor, o que fizeram os samaritanos, que era temer ao Senhor e, simultaneamente, servir às imagens de escultura, aos seus deuses nacionais (II Rs.17:41).
– Atualmente, há também os que querem, simultaneamente, servir a Deus e a outros deuses, ter uma vida dupla, onde procuram honrar ao Senhor em tempos determinados, em ocasiões especiais, mas querem, no restante do tempo, fazer o que bem entenderem, servir a outros deuses, como o dinheiro, o prazer e tantas outras coisas mais, vivendo como se Deus não existisse.
Tais pessoas, definitivamente, podem ser religiosas, como eram os samaritanos, mas não pertencem ao povo de Deus, como os samaritanos não faziam parte de Israel.
– Esta conduta dos samaritanos, aliás, está hoje muito em voga em movimentos como o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, que buscam congregar todas as religiões em uma só fé, que pretendem criar uma “religião mundial”.
Diversas organizações têm buscado este intento como o Conselho Mundial das Igrejas, fundado em 1948, e o Parlamento Mundial das Religiões, surgido em 1893, mas que tem tido grande apoio nos últimos anos por parte da Organização das Nações Unidas, passando a atuar de forma mais ativa a partir de 1993.
– Tal movimento defende a ideia de que “todas as religiões levam a Deus”, o que, sabemos todos, é absolutamente falso e mentiroso.
Na verdade, o que se está a costurar é a religião mundial que, capitaneada pelo Falso Profeta, fará toda a humanidade a adorar ao Anticristo e a Satanás (Ap.13:4,5,11-15).
OBS: Neste ponto, aliás, de se verificar que o atual Papa, Francisco, tem dado prioridade máxima tanto ao ecumenismo quanto ao diálogo inter-religioso, como atesta matéria jornalística do próprio Vaticano – https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-05/francisco- ecumenismo-papa-igreja.html. Parece aqui estar se cumprindo literalmente Ap.17.
– Os samaritanos chegaram a Zorobabel e pediram para que lhes fosse permitido ficar com os judeus.
– Este é o primeiro pedido feito pelos samaritanos e que continua sendo feito pelo mundo ao povo de Deus: querem ficar conosco.
Os samaritanos queriam conviver com os judeus, queriam estabelecer uma vida em comum com os judeus, fazer parte da mesma nação.
– O mundo traz a primeira proposta, que é a da comunhão com o povo de Deus, que é o compartilhamento da vida, das atitudes, dos valores e das crenças. Quer fazer parte de nossa vida, quer que nos unamos a ele.
– Isto porém é impossível. Quando cremos em Cristo, quando somos vivificados pelo Senhor Jesus, não mais andamos segundo o curso deste mundo, não mais fazemos os desejos da carne, a vontade dos pensamentos, não sendo mais filhos da desobediência nem filhos da ira (Ef.2:1-3).
– Se não mais vivemos como as pessoas do mundo, como poderíamos compartilhar nossas vidas com o mundo?
Como poderíamos adotar o mesmo estilo de vida mundana que acabamos de deixar exatamente porque passamos a servir a Deus?
A vida com Deus, a salvação implica em conversão, ou seja, mudança de direção, mudança de sentido, mudança de vida.
– O pedido dos samaritanos de ficar com os judeus não fazia o menor sentido. O modo de vida dos samaritanos, de temer a Deus e, simultaneamente, servir a outros deuses, havia sido exatamente o modo de vida que havia levado os judeus para o cativeiro.
– Em sua apostasia espiritual, os judeus, antes do cativeiro, estavam também adorando a Deus no templo, mas também adorando a outros deuses em suas casas e em altares construídos para este fim.
Iam ao templo em Jerusalém, mas, também, em Tofete (o “lixão” de Jerusalém), sacrificavam seus filhos ao deus Moloque; ofereciam, ainda, sacrifícios à “rainha dos céus” (provavelmente a deusa Asera), e adoravam a tantos outros deuses.
O resultado disto havia sido o exílio. Como, agora, retornando do cativeiro, haveriam de conviver com pessoas que faziam a mesma coisa que lhes resultara no máximo castigo previsto na lei de Moisés?
– A proposta dos samaritanos faz lembrar as propostas que Faraó fez a Moisés em meio às pragas que afligiam o Egito.
Por primeiro, queria que só fossem os homens para fazer festa ao Senhor, deixando as mulheres, crianças e bens (Ex.10:10,11) e, depois, que fossem todos, mas que deixassem os bens (Ex.10:25), Faraó queria que os israelitas ficassem com os egípcios, mesmo começando a servir a Deus, o que é impossível.
Moisés recusou tais propostas e o Senhor tirou o povo do Egito, pois a libertação importava na ruptura de qualquer comunhão com os egípcios e, sabemos todos, o Egito é uma figura do mundo.
– Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14), de modo que jamais poderemos querer compartilhar nossas vidas, comprometer-se com o mundo.
Esta é nada mais, nada menos que uma forma pela qual se quer retirar a vida do povo de Deus, se quer não só pôr fim a um avivamento, mas à própria vida espiritual. Tomemos, pois, cuidado!
– Dirão, então, alguns, que, se assim é, devemos nos isolar dos pecadores, para não haver este comprometimento, este compartilhamento de vidas, esta comunhão. Não é, porém, correto tal pensamento.
– O apóstolo Paulo, quando fala da necessidade que temos de nos separar do mundo, é bem claro ao dizer que isto não é sair do mundo (I Co.5:9).
Estamos no mundo e é desejo de Cristo que não sejamos tirado dele (Jo.17:15) e, portanto, inevitável que travemos relações com as pessoas do mundo.
O que não podemos é nos comprometer com elas, a imitá-las, viver como elas vivem e, principalmente, não permitir que elas estejam no meio da igreja, vivendo como “falsos irmãos” (I Co.5:10), que era o que pretendiam os samaritanos.
Abrão é um exemplo a ser seguido. Ele era “o hebreu” (Gn.14:13), ou seja, uma pessoa que tinha uma identidade própria e que vivia de modo diferente de todos os habitantes de Canaã, mas que tinha relações amistosas com tais moradores,
tanto que foram juntamente com ele empreender guerra para livrar Ló, que estava cativo, pessoas que são chamadas “confederadas” (Gn.14:13), ou seja, aliadas que não estavam comprometidas, que tinham autonomia, tanto que, ao contrário de Abrão, poderiam tomar dos despojos da guerra (Gn.14:24).
– Assim devemos viver: no meio das pessoas, até porque, se temos de pregar o Evangelho, não podemos ficar alheios ao convívio social, mas jamais no meio do pecado ou do modo de vida pecaminoso. Como diz um querido pastor: “no meio, porém à parte”.
– O povo vivia um avivamento e o avivamento traz o aguçamento da sensibilidade espiritual. Diante da proposta dos samaritanos, Zorobabel, que era o governador, Jesua (ou Josué),
que era o sumo sacerdote e os chefes dos pais disseram que não era conveniente que os samaritanos também edificassem o templo e que somente os judeus o fariam, como, aliás, havia ordenado o rei da Pérsia (Ed.4:3).
– A recusa dos judeus demonstra toda a prudência de quem serve a Deus, pois quem está em comunhão com o Senhor tem sabedoria, tem prudência (Pv.9:10).
– Não houve nenhum destrato dos judeus em relação aos samaritanos. Não foram eles chamados de “cães” ou algo que o valha, nem de “ímpios”, “pecadores”. Nada disso.
Os líderes de Israel apenas disseram que não era conveniente, que não convinha que os samaritanos também participassem da reconstrução, até porque a ordem do rei Ciro era de que os judeus o fizessem.
– Também devemos ser prudentes em nossas afirmações e atitudes quando nos defrontarmos com as propostas do mundo.
A palavra do salvo tem de ser temperada com sal (Cl.4:6), ou seja, ser equilibrada, de modo a não provocar ira desnecessária (Pv.15:1).
– Nesses dias de intensa comunicação em virtude do avanço das redes sociais, devemos aprender a ter sabedoria no falar, para que não chamemos para nós um furor desnecessário.
Se sabemos que há oposição do mundo, que ela é inevitável e natural, para que provocar ainda mais os inimigos, para que, como diz o povo, “cutucar a onça com a vara curta”?
– Prudência, ademais, não significa covardia. Zorobabel, Josué e os chefes dos pais não se deixaram intimidar pelos samaritanos que, a propósito, tinham soldados, ao contrário dos judeus.
Não tiveram receio de lhes falar a verdade, ainda que de forma branda e polida, ou seja, de que os judeus não poderiam se comprometer com outros povos e que deveriam edificar sozinhos o templo de Jerusalém.
– Ante esta resposta, a reação dos samaritanos não poderia ser outra. Evidentemente que não iriam se conformar e começaram, então, a debilitar as mãos do povo de Judá, inquietando-os no edificar (Ed.4:4).
– Uma das estratégias militares mais conhecidas é a chamada “inquietação”, ou seja, o inimigo precisa deixar o adversário inquieto, intranquilo, inseguro.
Por isso, por vezes, a tropa começa a atirar a esmo, de forma intensa, para dar a impressão ao inimigo de que possui muita munição e tem condições de resistência, o que paralisa a ação do outro lado, que, temerosa, em vez de atacar, começa a se defender, a utilizar táticas defensivas, dando, inclusive, tempo para que o inimigo se recomponha ou aguarde a vinda de reforços.
– A inquietação é uma arma que busca retirar a tranquilidade e a segurança do adversário, fazendo-o criar, em sua mente, uma realidade que nada tem que ver com os fatos e, em cima destas suposições, ele deixa de fazer o que tinha de fazer e, assim, permite que o inimigo altere o curso dos fatos ou, pelo menos, supere este instante de inferioridade em que se encontra.
O diabo não age de modo diferente. Ele é o nosso adversário (I Pe.5:8) e, quando verifica que está em desvantagem, o que sempre ocorre quando se está diante de um avivamento espiritual, procura lançar seus “tiros de inquietação”, a fim de desestabilizar os servos do Senhor, de retirar-lhes a paz e a segurança, fazendo-os deixar de avançar, paralisando-os, de modo a poder “recompor as suas forças” e prosseguir no seu intento de levar os salvos a perder a salvação.
– O texto sagrado não nos diz o que os samaritanos fizeram para inquietar os judeus na reedificação do templo, mas procuraram, de todas as maneiras, debilitar as mãos do povo de Judá e, pelo que diz o texto, conseguiram em certa medida, pois é dito que isto efetivamente ocorreu. Os judeus foram debilitados pelos samaritanos.
– As investidas do inimigo são realmente fortes e capazes de nos debilitar. Não nos esqueçamos que os seres celestiais são mais poderosos que os homens (Sl.8:5), mas maior é o que está conosco do que o que está no mundo (I Jo.4:4).
Assim, quando somos atacados pelo adversário, devemos buscar ao Senhor, ao Deus Forte (Is.9:6), fortificando-nos na graça que há em Cristo Jesus (II Tm.2:1).
– Além de debilitar o povo judeu, os samaritanos também recorreram às instâncias políticas, alugando conselheiros para frustrarem os planos dos judeus, todos os dias de Ciro até o reinado de Dario (Ed.4:5).
– O Senhor sabia muito bem que o segmento político era importante dentro do sistema vigente nos impérios mundiais que se estabeleciam, dentro do propósito divino para a redenção de Israel, a partir de Babilônia, como havia, aliás, revelado ao profeta Daniel.
– Devemos observar que o Senhor está acima de tudo e de todos e que nenhum sistema político pode Lhe fazer frente. O salmista deixa claro que o Senhor Se ri quando este sistema gentílico mundial quer se levantar contra Ele (Sl.2:1-5).
– No entanto, o Senhor, sabendo da influência que esta instância exerce no mundo, nunca deixa de criar condições e mecanismos pelos quais, utilizando-se da própria lógica do sistema, venha ele a ser usado em favor do Seu povo.
– Assim, por exemplo, fez com que Daniel ocupasse, durante quase todo o período do cativeiro, posições de destaque na corte babilônia e, depois, medo-persa, a fim de gerar uma boa impressão ao povo judeu, o que foi crucial para que os judeus retornassem para a sua terra, como também pôs Ester estrategicamente no palácio real persa para impedir a destruição do povo judeu segundo os planos de Hamã.
– Os samaritanos procuraram, então, junto aos conselheiros do rei da Pérsia (o rei da Pérsia era auxiliado no governo por sete conselheiros – Et.1:13,14), fazer um “lobby”, a fim de que se proibisse a construção do templo em Jerusalém.
– Os judeus, envolvidos com a reconstrução do Templo, descuidaram deste aspecto, não fizeram uma contraofensiva e, assim, deixaram o caminho aberto para que os inimigos obtivessem do poder real uma medida favorável a eles.
– Houve aqui falta de vigilância por parte dos judeus. É verdade que Deus estava no controle de todas as coisas e que havia feito com que Ciro, sem qualquer intervenção de ninguém, nem mesmo de Daniel, viesse a pôr fim ao cativeiro, mas Zorobabel,
que era pessoa próxima a pessoas poderosas na Pérsia, como nos dá conta o historiador Flávio Josefo, deveria ter feito a sua parte de tentar obter nada mais, nada menos que a manutenção da ordem do rei Ciro, até porque era costume entre os persas de que as ordens reais não podiam ser revogadas (Dn.6:15).
Assim, também, em nossos dias, a Igreja, embora confiando em Deus e buscando a Ele em todos os momentos, notadamente os de dificuldade, também tem de ter uma vigilância constante no que respeito à tomada de decisões políticas, a fim de defender e patrocinar os interesses do reino de Deus,
sempre atuando para que sejam tomadas decisões que sejam de acordo com a Palavra de Deus, de acordo com a sã doutrina. Mas, a exemplo de Zorobabel, a Igreja anda vacilando muito neste ponto…
– Parece que, durante o reino de Ciro, não tiveram eles êxito. Ciro realmente era uma pessoa escolhida por Deus para trazer bem-estar ao povo judeu.
Diz Flávio Josefo que o rei ficara muito impressionado com o fato de ter sido profetizado a seu respeito pelo profeta Isaías séculos antes e jamais permitiu que se prejudicassem os judeus em seu governo.
OBS: “…Esse soberano falava assim porque tinha lido nas profecias de Isaías, escritas duzentos e dez anos antes que ele tivesse nascido e cento e quarenta anos antes da destruição do Templo, que Deus lhe tinha feito saber que constituiria a Ciro rei sobre várias nações; e inspirar- lhe-ia a resolução de fazer o povo voltar a Jerusalém, para reconstruir o Templo.
Esta profecia causou-lhe tal admiração que, desejando realizá- la, ele mandou reunir em Babilônia os principais dos judeus e disse-lhes que lhes permitia voltar ao seu país e reconstruir a cidade de Jerusalém e o templo…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas, XI, 1, 436. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.233).
– Mas, quando morreu Ciro, os samaritanos não perderam a oportunidade e, já no início do reinado de Cambises, que era o filho de Ciro, escreveram uma acusação contra os habitantes de Judá e de Jerusalém, dizendo que os judeus haviam sido levados cativos pelos babilônios por causa de sua rebeldia e que os judeus estavam agora reconstruindo o templo e a cidade de Jerusalém,
que haviam sido destruídos naquela ocasião, com o objetivo de se libertar do domínio persa, deixando de pagar os tributos e diminuindo o império (Ed.4:6-16).
– Já tendo comprado alguns conselheiros com suborno e não tendo mais Ciro em defesa dos judeus, os samaritanos conseguiram seu intento e o rei Cambises determinou que a obra fosse embargada e, incontinenti após receberem a resposta favorável, os samaritanos foram até Jerusalém e, de forma violenta, impediram a continuidade da obra, cessando, então, a reconstrução da casa do Senhor (Ed.4:17-24).
– É importante aqui dizer que o texto de Esdras 4 fala que o embargo se deu no reinado de “Assuero” (Ed.4:6), mas não podemos nos esquecer que “Assuero” não é um nome próprio, mas o título que recebiam os reis da Pérsia, assim como “Faraó” é o título dado aos reis do Egito.
– Também o texto sagrado, ao reproduzir a carta escrita pelos samaritanos, escrito, inclusive, que é transcrito nas Escrituras na língua original em que foi escrita, o aramaico, fala de “Artaxerxes” como sendo o rei persa, mas, na verdade, não se trata de Artaxerxes, que somente reinaria muitos anos depois, mas, sim, de Cambises, como, aliás, afirma o próprio Flávio Josefo em seu livro.
– Com efeito, quando vamos à história do Império Persa, vemos que o rei Ciro, que era Ciro II, foi sucedido em 529 a.C. pelo seu filho Cambises II, que foi o rei persa que conquistou o Egito e que reinou até 522 a.C.
– A acusação feita pelos samaritanos é um exemplo de que o inimigo opera em suas acusações, pois “diabo” significa acusador e é trabalho dele acusar os servos de Deus de dia e de noite diante do Senhor (Ap.12:10).
Esta técnica, aliás, é a que se tem denominado ultimamente de “desinformação”, ou seja, construir narrativas, histórias a partir de dados que são verdadeiros e que são divulgados de forma distorcida e capaz de gerar falsas impressões nos ouvintes.
– Os samaritanos informaram ao rei persa que eles haviam ocupado as terras onde habitavam por ordem do rei da Assíria, querendo, com isso, mostrar a legitimidade de sua ocupação, o que era verdadeiro.
– Depois, contaram que Jerusalém era uma “cidade rebelde e malvada”, que havia sido destruída por causa desta sua rebeldia e maldade, o que também era verdade, pois, realmente, Nabucodonosor a destruiu porque o rei Zedequias o traiu, passando a fazer aliança com o Egito e deixando de pagar os tributos combinados.
Entretanto, a partir destes dois fatos verdadeiros, os samaritanos, então, acusaram os judeus de querer reconstruir os muros de Jerusalém e reparar os seus fundamentos para que, então, a exemplo do que ocorrera no passado,
deixassem de pagar tributos à Pérsia e proclamasse a sua independência, o que era mentira, seja porque a cidade não estava sendo reconstruída e tão só o templo, seja porque a reedificação fora ordenada pelo próprio rei da Pérsia.
– Assim continua a trabalhar o inimigo: usa da mentira, mas a mentira nunca é completa, sempre está misturada com verdades.
Mas não nos esqueçamos: uma meia verdade é uma mentira inteira. Por isso, diante de qualquer notícia, é fundamental que bem examinemos antes de proferirmos um julgamento, porquanto quem não investiga é o ímpio, jamais o justo (Sl.10:4).
– Como nos mostra a história, Cambises II conquistou o Egito, ou seja, sua preocupação era, precisamente, estender o império para o norte da África e a notícia de que havia um movimento dos judeus que poderia pôr em risco o domínio dos persas sobre esta região sul de seu reino evidentemente trouxe preocupação ao monarca, não tendo sido difícil que os conselheiros subornados o tenham convencido a atender à reivindicação dos samaritanos.
– Para piorar a situação, Daniel, a este tempo, talvez nem mais vivesse, pois a Bíblia só fala dele até o terceiro ano do reinado de Ciro (Dn.10:1), sendo certo que parece ter atuado no governo persa só até o primeiro ano deste rei (Dn.1:21) e a história diz que o reinado de Ciro durou 20 anos.
– Como Zorobabel descuidou, como já vimos, quanto ao “lobby” na corte do rei da Pérsia, vemos que não houve, mesmo, dificuldade para que o pleito dos samaritanos fosse atendido.
– Cambises II, então, acatou o pedido dos samaritanos e enviou uma carta onde, confirmando que realmente tinha havido rebelião e sedição por parte dos judeus em Jerusalém contra os seus dominadores, mandou que se mandasse cessar a obra na casa de Deus e que se proibisse a edificação da cidade até que se desse ordem real neste sentido.
– Os samaritanos, de posse desta ordem do rei, então, foram até Jerusalém, e, com violência, determinaram a paralisação da edificação do templo, e o templo ficou com sua construção paralisada até o segundo ano do rei Dario.
Segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, o embargo da obra se deu em 529 a.C., logo no primeiro ano do reinado de Cambises II, o que faz com que a paralisação da construção do templo tenha durado 7 anos, só sendo retomada em 522 a.C.
III – O CUMPRIMENTO DA ORDEM REAL TRAZ NOVO TORPOR ESPIRITUAL
– Mesmo com todo o suborno praticado pelos samaritanos, quando observamos a ordem real, vemos que ela estava a proibir a reconstrução da cidade e que isto fosse temporário até que viesse uma ordem definitiva do rei.
– Ora, a cidade não estava sendo reconstruída e, portanto, os judeus deveriam ter continuado a reconstruir o templo, pois isto não fora proibido e eles tinham a ordem do rei Ciro para que se o fizesse.
– Quando muito, Zorobabel, na condição de governador, que tinha, portanto, acesso ao rei da Pérsia, deveria procurar os conselheiros e o próprio monarca, a fim de esclarecer bem a situação,
já que tinha uma ordem real para fazer o que estava fazendo e os samaritanos estavam a mentir, até porque o rei, mesmo, havia dado ao seu mandado um caráter provisório, ou seja, havia aberto a oportunidade para que se discutisse a questão diante dele.
– No entanto, os samaritanos, de forma bem ardilosa, de posse da ordem real, usaram do espetáculo, da intimidação e da violência para fazer prevalecer a sua vontade.
Eles queriam era que o templo deixasse de ser reedificado e, embora a ordem real não falasse disso, conseguiram, através do uso da violência, pôr medo nos judeus e paralisar o próprio governador, assim como o sumo sacerdote, e o resultado foi que todos deixaram de fazer a obra.
– Não podemos nos deixar intimidar pelo inimigo que, normalmente, usa do espetáculo, da aparência ruidosa, dos “clamores vãos e profanos” (II Tm.6:20), que procuram sempre esconder a mentira, a falsa fundamentação, a vaidade dos argumentos e a fragilidade de todos quantos procuram se levantar com o Senhor e o Seu povo.
– Não podemos nos deixar levar por este ambiente de espetáculo que, inclusive, é o que encontra guarida em nossos dias, numa sociedade que está cada vez mais refém do audiovisual, do que é apresentado, sem que haja reflexão ou análise mais aprofundada.
– O uso da violência por parte dos samaritanos, que justificavam tal atitude com uma ordem real que, como vimos, não era bem o que eles diziam que era, fez com que o povo temesse.
– O resultado deste temor, deste medo foi que os judeus abandonaram todos os planos de reedificação do templo, abandonando a obra.
Zorobabel, também, não tomou qualquer atitude para reivindicar os direitos dos judeus junto ao rei da Pérsia, mesmo tendo a ordem de Ciro.
– Cada um voltou a pensar única e exclusivamente nos seus afazeres, na reconstrução de suas cidades, na edificação de uma vida diária, enfim, conformaram-se em viver em Judá sem ter um momento para Deus, sem buscar adorá-l’O no Seu santo templo. Desanimaram diante do aparente triunfo do inimigo.
– O povo judeu não tinha exército, não tinha armas, os samaritanos tinham uma e outra coisa e fizeram uso disto. Por causa disso, os judeus se acovardaram, esquecidos de que o Senhor havia guardado a terra para eles durante todos os 70 anos do cativeiro e que havia confirmado a Sua Palavra pela boca de Jeremias.
– O povo judeu desanimou porque quis confiar em carros e cavalos em vez de fazer menção do nome do Senhor dos Exércitos (Sl.20:7) e se acomodou, tendo uma visão puramente secular e terrena a respeito do episódio.
– Quando deixamos de te uma visão espiritual, quando deixamos de olhar para as promessas de Deus e só nos utilizamos da razão humana para nos guiarmos, fazemos o caminho inverso do avivamento espiritual.
Daniel havia orado dizendo que não se fiava nas justiças do povo, mas sim, nas muitas misericórdias do Senhor (Dn.9:18). Mas, agora, o povo descria no Senhor e se submetia à intimidação e violência dos samaritanos, nem sequer buscando a Deus para que a obra fosse retomada.
– Agindo com violência e ameaça, os samaritanos haviam feito o povo tornar à situação dos primeiros dias depois do retorno, ou seja, fez com que se deixasse de dar prioridade às coisas de Deus e se dedicasse cada um a um dia-a-dia em que Deus estava ausente, em que a preocupação era a pura satisfação das necessidades materiais. Os judeus passavam a viver como qualquer gentio (Mt.6:31,32).
– O pior de tudo isto é que isto foi se consolidando e o torpor espiritual se tornou dominante e repetitivo. Deus e a reconstrução do Seu templo foram totalmente deixados de lado e sete anos se passaram sem que nada se alterasse. O Senhor tinha de agir e realmente o fez, como haveremos de estudar na próxima lição.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5475-licao-4-a-construcao-do-templo-enfrentou-oposicao-i