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LIÇÃO Nº 4 – A VOCAÇÃO PARA SER APÓSTOLO

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo da vida do apóstolo Paulo, hoje analisaremos o seu chamado para o apostolado.

– Paulo mostra que cada um de nós tem um chamado na obra do Senhor.

I – O PREPARO MINISTERIAL DE PAULO

– Na sequência do estudo da vida do apóstolo Paulo, analisaremos hoje os seus chamados ministeriais, em especial, o seu chamado para o apostolado.

– A vida de Paulo é um exemplo clássico do que é servir a Deus, do que significa a salvação e a vida espiritual de um cristão sobre a face da Terra. Sendo o mais eminente dos cristãos cujas vidas estão registradas em o Novo Testamento, a análise da vida de Paulo nos permite entender perfeitamente o significado de ser “cristão”.

Não é por acaso, aliás, que os primeiros crentes a ser assim denominados o foram depois de terem sido discipulados pelo próprio Paulo, que fazia, então, companhia a Barnabé (At.11:26).

– Ao estudarmos a narrativa da conversão de Saulo, já vemos que o Senhor Jesus foi bem claro, desde o início, a respeito do papel que o apóstolo exerceria na obra de Deus. Já para Ananias, o Senhor disse que Paulo era

“um vaso escolhido para levar o nome de Jesus diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel” (At.9:15).

Esta mensagem foi transmitida ao novo convertido, que, desde o início, tinha pleno conhecimento que tinha sido designado para que conhecesse a vontade do Senhor e visse aquele Justo e ouvisse a voz da Sua boca e fosse testemunha para com todos os homens do que tinha visto e ouvido (At.22:14,15), para pôr a ele como ministro e testemunha tanto das coisas que tinha visto como daquelas pelas quais o Senhor Jesus apareceria ainda (At.26:16).

– Assim, desde o terceiro dia após a sua conversão, Paulo já sabia que havia sido escolhido por Jesus para ser “testemunha” e “ministro” do Senhor Jesus.

– Quando alcançamos a salvação, somos inseridos no corpo de Cristo (I Co.12:13) e esta inserção no corpo de Cristo é mostrada aos homens por meio no batismo em águas, porque assim ordenou o Senhor Jesus, e, como membros do corpo de Cristo, temos de ter ao menos uma atividade, porque o corpo de Cristo é vivo e cresce pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte (Ef.4:16).

– Portanto, não existe qualquer integrante do corpo de Cristo que não seja chamado a realizar uma tarefa específica, havendo aquelas tarefas que o texto bíblico denomina de “ministérios”, os chamados “dons ministeriais”, que são pessoas-dons, elencados em Ef.4:11.

 

– Paulo era um “vaso escolhido” e sua missão seria levar o nome de Jesus para os gentios, para os reis e para os filhos de Israel e, como tal, teria de ter todos os cinco “ministérios”, dada a singularidade de seu papel na disseminação do Evangelho.

– O Senhor Jesus bem sabia a dificuldade que seria transpor as barreiras culturais para a divulgação do Evangelho. Tendo vindo pregar o Evangelho do reino de Deus para os filhos de Israel (Mt.15:24; Mc.1:15), com a rejeição operada por Israel (Jo.1:12),

mister se fazia pregar o Evangelho a todo o mundo (Mc.16:15), mas a isto os cristãos primitivos resistiam, primeiro não deixando sequer Jerusalém para tal pregação (cfr. At.5:12-16,28);

segundo, não anunciando o Evangelho senão aos judeus, depois da dispersão motivada pela perseguição liderada pelo próprio Saulo (At.11:19) e isto apesar da eloquente demonstração de que o Evangelho também era para os gentios, como se verifica dos episódios que envolveram a salvação de Cornélio e os seus (At.10).

– Diante disso, na Sua presciência, já havia preparado, desde o ventre de sua mãe, Paulo para realizar esta importantíssima tarefa, o que explica a singularidade do apóstolo, inclusive a circunstância de ter tido, ele só, todos os dons ministeriais e carismáticos, o que não é o que se tem ordinariamente na Igreja do Senhor.

– Cabe aqui um pequeno parêntese para que se observe que o fato de Paulo ter sido escolhido por Deus desde o ventre de sua mãe em absoluto corrobora a doutrina da predestinação incondicional.

Paulo não foi escolhido previamente para a salvação, mas, sim, para a tarefa de levar o nome de Jesus para os gentios, para os reis e para os filhos de Israel.

Alcançou a salvação porque “combateu o bom combate, acabou a carreira e guardou a fé” (II Tm.4:7), como ele próprio dirá no ocaso de sua vida. Judas Iscariotes também foi escolhido para ser apóstolo, mas não perseverou e se perdeu. Tomemos, pois, cuidado, amados irmãos!

– Convertido, tanto que é chamado de “irmão” por Ananias (At.9:17; 22:13), curado, Paulo desce às águas e, no mesmo instante, é cheio do Espírito Santo (At.9:17,18) e, já devidamente revestido de poder, passa a pregar o Evangelho ousadamente nas sinagogas de Damasco.

– Todo salvo deve anunciar a Palavra de Deus aos pecadores, é a tarefa básica e cometida a todo o integrante do corpo de Cristo (I Pe.2:9,10; Mc.16:15), mas quem é revestido de poder deve fazê-lo ainda mais, porque o revestimento de poder tem por objetivo primeiro o de nos tornar “testemunhas” do Senhor Jesus (At.1:8).

– Fugindo de Damasco para Jerusalém, Paulo prosseguiu o seu trabalho, disputando nas sinagogas daquela cidade, notadamente as sinagogas frequentadas pelos “judeus gregos”, passando a fazer o que, outrora, Estêvão fazia, mas a perseguição crescente fez com que fosse mandado para Cesareia e, de lá, para Tarso, a sua cidade natal.

– Embora já fazendo o que deveria fazer como salvo, que era pregar o Evangelho, não era bem isso o que o Senhor Jesus havia planejado ao apóstolo e, para que ele fosse mandado aos gentios, ainda havia a necessidade de uma maior intimidade com o Senhor Jesus, de um período de introspecção, para que todo aquele conhecimento adquirido da cultura de seu tempo viesse agora a servir de “esterco” (Fp.3:8), como “adubo” para que era essencial: o conhecimento de Jesus Cristo.

– Paulo tinha tido o devido preparo intelectual e social para desempenhar a tarefa que lhe estava sendo cometida, mas, ainda, não tinha o devido preparo espiritual e tal preparo deveria se dar de maneira reservada, em certo isolamento, e, por isso, Cristo o manda de volta para a sua terra natal, onde, desambientado ante as novas circunstâncias, pudesse ter este contato mais íntimo com o Senhor.

– Paulo relata que, neste período, Deus revelou Seu Filho nele (Gl.1:16), tendo certamente havido um contato direto entre Paulo e Jesus, o que se infere do fato de o apóstolo revelar que recebeu revelações diretamente do Senhor (cfr. I Co.11:23), como também pelas próprias palavras de Cristo de que ainda faria outras aparições a Paulo (At.22:14,15; 26:16).

 

– É imperioso que tenhamos a nossa intimidade com o Senhor para que possamos realizar a Sua obra. A cabeça da Igreja é Jesus Cristo; o Consolador, ou seja, Aquele que está ao nosso lado, é o Espírito Santo e Cristo foi claro ao dizer que nada podemos fazer sem Ele (Jo.15:5 “in fine”), tendo Ele posto o Espírito Santo para nos ensinar (Jo.14:25), nos guiar em toda a verdade (Jo.16:13).

Diante deste quadro, precisamos ouvir a voz do Senhor e, para isto, é preciso um certo isolamento, um momento de intimidade, de estarmos sós com o Senhor.

– Para alguém ser enviado pelo Senhor, é necessário que tenha estado a sós com Ele e aprenda com Ele. Não foi assim que fez com os doze? Enviou-os no dia da ressurreição (Jo.20:21), depois que havia estado com eles durante três anos e meio, ensinando-os, instruindo-os (At.1:1-3). Jesus é o mesmo (Hb.13:8), continuando a proceder deste modo.

– Assim como ocorreu com Paulo, por vezes, pessoas promissoras na obra de Deus são envolvidas em circunstâncias adversas que as obrigam a uma “retirada de cenário”, o que muitos, precipitadamente, interpretam como “reprovação”, “demonstração de falsidade da chamada” ou coisas similares.

Não, amados irmãos, muitas vezes isto nada mais é que parte da preparação que Deus está fazendo para que se cumpra na vida daquele chamado aquilo que o Senhor quer lhe fazer.

– Em Tarso, o Senhor Se revelou a Paulo, dando ao apóstolo o cristocentrismo que lhe era necessário ter em todo o conhecimento tanto da lei quanto da filosofia.

Paulo precisava ver Cristo nas Escrituras que ele tanto conhecia; precisavam, também, ver Cristo na natureza e na ordem cósmica tão veneradas pela filosofia estoica; precisava compreender o mistério da Igreja e o fato de que ela não era uma “seita judaica”, mas um povo de Deus, que judeus e gentios eram alcançados igualmente pelo Evangelho da graça de Deus.

– Toda esta revelação que Cristo fez em Paulo tinha por objetivo fazê-lo pregar o Evangelho aos gentios (Gl.1:16) e, aprendendo a ser dirigido pelo Espírito Santo, Paulo não foi atrás de homens para se guiar, mas partiu para a Arábia e voltou outra vez para Damasco, tendo isto durado um período de três anos (Gl.1:16,17).

– Na sua formação, Paulo havia adotado uma linha de extrema importância aos doutores. Vivera num ambiente onde a sabedoria humana era prestigiada e exaltada. Entre os filósofos, havia aprendido a admirar os mestres, a segui-los; entre os fariseus, a admirar e seguir os doutores da lei.

Um dos pontos que o tornava hostil ao Cristianismo, sem dúvida, era o fato de que Jesus não havia frequentado nenhuma das escolas dos doutores da lei, não era um “legítimo rabi”.

– Agora, neste período de introspecção, Paulo foi ensinado a desprezar este “respeito humano”, a reconhecer que Cristo é a verdade e que se deve seguir ao Senhor Jesus e ao Espírito Santo, que glorifica a Cristo e nos faz lembrar o que Ele ensinou e falou.

Paulo passa a ser um imitador de Cristo (I Co.11:1) e a não mais viver, mas Cristo viver nele (Gl.2:20). Paulo aprendeu a se submeter ao Senhor Jesus e à Sua vontade (At.20:24), negando-se a si mesmo pela missão que lhe foi confiada (I Co.9:16-27).

– De Tarso, Paulo foi para a Arábia, região desértica, onde deve ter tido algumas experiências espirituais marcantes, pois o deserto sempre foi um lugar, que, por seu isolamento e peculiaridades, escolheu o Senhor para Se manifestar de modo especial aos Seus servos, como Moisés, Elias e João, sem falar que foi, no deserto, que o Senhor foi particularmente tentado pelo diabo.

– De lá, Paulo voltou a Damasco, onde certamente voltou a pregar nas sinagogas, numa espécie de “estágio” de seu novo patamar de pregação, ante os conhecimentos obtidos, ante a revelação de Cristo nele, tendo, então, tornado a Jerusalém, onde ficou durante quinze dias, tendo tido contato com Pedro, com quem, certamente, teve informações a respeito dos episódios a envolver Cornélio, bem com Tiago, o irmão do Senhor, que, como se verifica, já naquele tempo dirigia a igreja em Jerusalém e, com quem, também, teve o compartilhamento da experiência de conversão, pois Tiago, como revela o próprio Paulo, converteu-se depois da ressurreição numa aparição do Senhor Jesus (I Co.15:7).

 

– Esta ida de Paulo a Jerusalém, ademais, mostra que, quando Paulo diz que não buscava aos homens mas, sim, a Deus, não o fazia em sinal de rebelião ou de afronta aos apóstolos ou aos ministros da igreja em Jerusalém, tanto que reconhecia a sua autoridade, como revela esta ida até lá. Não se pode, pois, admitir o discurso de que “só obedeço ao Senhor e não a homens”, como justificativa para insubmissão aos que estão no governo da igreja local.

II – OS MINISTÉRIOS DE PAULO

– Depois desta ida a Jerusalém, Paulo retorna a Tarso e ali é encontrado por Barnabé, que vai buscá-lo para que ele o ajudasse no discipulado dos novos convertidos de Antioquia da Síria, onde se estabelece a primeira igreja gentílica (At.11:20-25).

– Paulo vem como auxiliar de Barnabé, que havia sido designado pelos apóstolos para dirigir aquele trabalho, e nesta condição de auxiliar vai ficar até o retorno da primeira viagem missionária. Ninguém começa pelo topo, é preciso subir os degraus, mesmo tendo um chamado da parte de Deus. Lembrem-se disso, portadores de promessas de Deus, chamados pelo Senhor ao ministério!

– Paulo era, então, iniciado no seu primeiro ministério: o de mestre. Tendo aprendido com os homens e com Cristo, agora Paulo podia ensinar, pois só pode ensinar quem antes tenha aprendido.

O ensino de Paulo foi tão eficiente e eficaz que, após um ano de discipulado, seus alunos passaram a ser chamados de “cristãos”, ou seja, “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo”, pelo povo de Antioquia, a mostrar que o ensino de Paulo transformou aquelas vidas, fê-las conformes à imagem do Filho de Deus (Rm.8:29). O trabalho de Paulo foi tão eficiente que não demorou para que, naquela igreja, surgissem outros mestres (At.13:1).

– Entendem alguns que já neste tempo Saulo começa a ser usado por Deus como profeta, porquanto é elencado na lista dos “profetas e doutores” da igreja de Antioquia em At.13:1. Isto, de pronto, nos revela que o ministério profético não se resume à pregação da Palavra de Deus, mas é algo além do que isto.

– Interessante notar que, quando Paulo fala da “profecia” em Rm.12:6, diz que ela deve ser “conforme a medida da fé”, de sorte que alguns têm entendido que esta “medida da fé” tem três níveis: o dom de serviço, que seria a pregação da Palavra de Deus, a sua simples exposição, que se mostraria, inclusive, nos dons de ministério, ensino e exortação;

o dom ministerial de profeta, que é a exposição da Palavra mas de forma aplicada, mediante a conformação da mensagem bíblica à vida e necessidade de cada um (como quando alguém diz “o pregador contou a minha vida”) e o dom espiritual da profecia, que é a mensagem dada pelo Espírito Santo diretamente à Igreja, independentemente das Escrituras, para fins de consolação, exortação e edificação.

– Em Antioquia, o Senhor já teria iniciado a usar Paulo no ministério profético, inclusive com visões, predições e revelações, como se verá ao longo de sua atividade missionária (cfr. At.16:9; 27:10,23-25)

– Trabalhando ativamente naquela igreja como auxiliar de Barnabé, vem a grande surpresa. Numa reunião de jejum e oração, o Espírito Santo Se manifesta e manda que a igreja enviasse como missionários, ou seja, como apóstolos, a Barnabé e a Saulo para a obra que os tinha chamado (At.13:2).

Chegava o momento da chamada apostólica, pois “apóstolo” é aquele que é enviado. Barnabé e Saulo eram enviados diretamente pelo Espírito Santo para plantar igrejas na Ásia, para levar Cristo aos gentios.

– Paulo é chamado, nas Escrituras, por diversas vezes, de apóstolo, inclusive ficando bem claro que ele era apóstolo pela vontade de Deus e não dos homens, como se vê em Rm.1:1; 11:13; I Co.1:1; 9:1,2; 15:9; II Co.1:1; Gl.1:1; Ef.1:1; Cl.1:1; I Tm.1:1;2:7; II Tm.1:1 e Tt.1:1.

 

– Paulo seria um dos “doze apóstolos do Cordeiro” (Ap.21:14)? Sem dúvida alguma, é tema que gera muita discussão, com diversas linhas de pensamento. Entendem alguns que assim como as doze tribos de Israel eram, na verdade, treze, já que Levi foi desconsiderada para fins de partilha e, em seu lugar, José foi considerada como sendo duas tribos, Efraim e Manassés (Js.14:4), também aqui teríamos uma mesma situação, com os doze apóstolos sendo, na verdade, treze.

– Outros, no entanto, entendem que Paulo, na verdade, é que o apóstolo que substituiu Judas Iscariotes. Lucas deixa claro que Matias, por voto comum, passou a ser contado entre os apóstolos, mas não afirma que tenha se tornado um verdadeiro apóstolo, tendo sido escolhido por sortes lançadas, um método que não se coadunava mesmo com o que havia sido feito pelo Senhor Jesus em Seu ministério terreno (At.1:26).

– Paulo, no entanto, foi escolhido diretamente pelo Senhor Jesus que, pessoalmente, O chamou no caminho de Damasco (At.9:1-18), tendo, através de Ananias, revelado que se tratava de um “vaso escolhido para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel” (At.9:15).

– Não é por outro motivo que Paulo afirma que era apóstolo pela vontade de Deus (I Co.1:1; II Co.1:1; Ef.1:1; Cl.1:1; II Tm.1:1), tendo, ainda, dito que sua constituição no apostolado não era da vontade de homem algum (Gl.1:1) e segundo o mandado de Deus (I Tm.1:1).

– Não há como negar que Paulo foi constituído como apóstolo diretamente pelo Senhor Jesus e que tal constituição estava dentro da própria realidade nascida com a Igreja, realidade esta que era um mistério revelado ao próprio Paulo, ou seja, de que os gentios eram coerdeiros de um mesmo corpo e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef.3:5,6). Paulo foi introduzido no colégio apostólico como um abortivo

(I Co.15:8), para ser o “apóstolo dos gentios” (Rm.11:13), como um “fundamento” de todos os gentios que, também, foram introduzidos como zambujeiro na oliveira (Rm.11:17-19).

– Pedro tinha razão quando verificou que havia necessidade de doze apóstolos, que o colégio apostólico tinha doze vagas, mas, dentro de sua compreensão ainda não completa da amplitude do Evangelho, que haveria de atingir também os gentios, precipitou-se ao querer preencher a vaga com algum daqueles que estavam no cenáculo aguardando a promessa do Pai.

– Esta vaga haveria de ser preenchida pelo próprio Jesus, foi é Ele quem dá dons aos homens, é Ele quem escolhe os apóstolos, escolha que era primeira (I Co.12:28), já que se constituía na formação da base da Igreja, mas que teria o seu tempo apropriado para isso, precisamente quando o Evangelho necessitasse atingir os gentios.

– Como nosso Deus não é Deus de confusão, Paulo preencheu todos os requisitos exigidos para o apostolado, pois, em primeiro lugar, era varão. Em segundo lugar, teve contato pessoal com o Senhor Jesus, tendo recebido d’Ele toda a revelação de tudo quanto se passou no ministério terreno de Cristo.

Afinal de contas, não é o próprio Paulo que diz ter visto o Senhor Jesus (I Co.9:1)? Não diz ele ter recebido mensagens diretas da parte do Senhor Jesus, inclusive ter contemplado a própria celebração da ceia do Senhor (I Co.11:23-25)?

– Por fim, quem como Paulo não se tornou testemunha da ressurreição de Cristo, visto que é o apóstolo que mais a explicita e que mais a entende em todas as Escrituras (Rm.1:1-5; I Co.15; Gl.1:1)?

– Vemos, portanto, que Paulo preenche todos os requisitos para ser parte integrante do colégio apostólico, de sorte que não há como entender que se possa ter mais de doze apóstolos do Cordeiro.

– Há aqueles, entretanto, que veem Paulo como um “apóstolo do Espírito Santo”, assim como o próprio Barnabé, por ter sido enviado pelo Espírito Santo, neste episódio da igreja de Antioquia e a estes “apóstolos” é que Paulo se referiria em Ef.4:11, o dom ministerial de apóstolo, que é próprio da Igreja após o dia de Pentecostes.

– Mas Paulo também se notabilizaria por ser evangelista. Ele mesmo assim se identifica, como se verifica em At.20:24; Rm.15:16-21; I Co.1:17 e 9:16.

 

– O desejo de ganhar almas é demonstrado logo nos primeiros instantes da vida cristã de Paulo. Ele vai às sinagogas com o mesmo ardor com que Estêvão havia feito, devendo ter mesmo se espelhado naquele de quem tinha sido algoz, almejando levar aos outros a própria verdade em que havia crido.

– Vemos o ímpeto evangelístico de Paulo, de modo proeminente, durante as suas prisões, sempre buscando ganhar almas para o Senhor Jesus, a ponto, inclusive, de ter gerado uma “congregação” entre os soldados da guarda pretoriana que lhe faziam escolta (Fp.1:12,13; 4:22).

– Aliás, em Roma, demonstrou todo este ardor evangelístico (At.28:30,31), cumprindo o desejo que há muito tivera a este respeito (Rm.1:13-15).

– Paulo bem sabia que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê e não se envergonhava de pregá-lo (Rm.1:16,17), mesmo sabendo que isto lhe trazia hostilidade tanto de judeus quanto de gentios (I Co.1:18-25) e até de sedizentes cristãos (Fp.1:14-18).

– Como evangelista, Paulo ganhou muitos para Cristo, tendo sido pai espiritual de muitos servos de Deus, como Timóteo (I Tm.1:2,18; II Tm.1:2), Tito (Tt.1:4) e Onésimo (Fm.10).

– Quanto ao ministério de pastor, Paulo diz que não foi chamado para cuidar de igrejas (I Co.1:17), de modo que, pelas palavras dele, não teria o dom ministerial de pastor.

– Dentro desta afirmação, há quem diga que o apóstolo não tenha tido o dom de pastor. Outros, no entanto, entendem que Paulo foi, sim, pastor, porquanto, além de ter “filhos espirituais”, a quem apascentava, efetivamente cuidava das igrejas que implantava até pôr pastores para dirigi-las (cfr. At.14:23), de sorte que, embora não fosse este o foco principal de sua missão, incidentalmente o fazia, tanto que chegou a batizar alguns de Corinto (I Co.1:16), sendo certo que, enquanto esteve preso, era o verdadeiro pastor da “congregação da casa de César ou da guarda pretoriana”.

As chamadas “epístolas pastorais” (I e II Timóteo e Tito), além do mais, são demonstrações de que o apóstolo bem conhecia como se devia pastorear uma igreja.

– Em duas oportunidades, durante as viagens missionárias de Paulo, temos efetivamente exercício pastoral por parte do apóstolo em Corinto, onde ficou por um ano e seis meses (At.18:11), verdadeiramente dirigindo aquela igreja, que também implantou, como testemunharia posteriormente (I Co.9:2) e em Éfeso, onde ficou por três anos (At.20:17-31).

III – PAULO E OS DONS DE SERVIÇO OU ASSISTENCIAIS

– O próprio Paulo, ao escrever aos romanos, falando a realidade do corpo de Cristo, elencou uma lista de dons que se denominaram de “dons de serviço” ou “dons assistenciais” ou, ainda, “dons de serviços práticos”, tarefas que são desempenhadas no dia-a-dia da igreja, que muitos identificam com as “operações” mencionadas em I Co.12:6, que o pastor Luiz Henrique de Almeida Silva, pioneiro das videoaulas de EBD na internet, bem denomina de “dons do Pai”.

– O primeiro destes dons é a “profecia”, entendida aqui, como já se disse supra, como sendo o “ministério da Palavra”, a pregação do Evangelho.

Ora, esta foi a primeira das atividades exercidas por Paulo, ainda em Damasco, nas sinagogas (At.9:20), o que prosseguiu a fazer em Jerusalém (At.9:29) e, posteriormente, em todas as suas viagens missionárias, sempre iniciando sua atividade com pregações em sinagogas e, depois, aos gentios.

– O segundo dom de serviço mencionado por Paulo é o “dom de ministério”, que é o de auxiliar alguém, de estar na assessoria de alguém.

Ora, Paulo foi chamado para auxiliar Barnabé em Antioquia (At.11:25,26), tendo, também, quando chamado pelo Espírito Santo para iniciar a abertura de igrejas, sido chamado para ser auxiliar de Barnabé, tanto que o Espírito Santo fala, primeiro, em o nome de Barnabé (At.13:2), sendo certo que era Barnabé quem tinha proeminência durante a primeira viagem missionária (At.13:7).

Paulo precisava aprender com Barnabé, que era um cristão mais experiente e que tinha a visão da graça de Deus, da transposição das barreiras culturais na pregação do Evangelho (cfr. At.11:19-24).

 

– O terceiro dom mencionado pelo apóstolo em Rm.12 é o dom de ensino, que foi exercido por Paulo já em Antioquia, ao discipular os crentes da primeira igreja gentílica (At.11:25,26), sendo certo que tal dom já se manifestara, certamente, em meio às pregações que fazia nas sinagogas desde a conversão em Damasco (cfr. At.9:22).

– O quarto dom é o dom de exortação, que é o incentivo, o ânimo e o estímulo que se dá aos irmãos de uma forma toda especial, algo que sempre será visto durante o ministério do apóstolo (At.14:21; a epístola aos filipenses e, se entendida ser de Paulo a sua autoria, a epístola aos hebreus).

– O quinto dom ali mencionado é o dom de repartição, que é o de repartir os bens com aqueles que precisam, outra característica do apóstolo, como no seu empenho pela coleta aos crentes pobres da Judeia (Rm.15:26; I Co.16:1; Gl.2:10), tendo ele mesmo resgatado uma fala de Cristo que nem nos Evangelhos constou, a de que é melhor coisa dar que receber (At.20:35).

– O sexto dom constante da lista de Rm.12 é o dom da presidência e este foi exercido pelo apóstolo em Corinto e em Éfeso, não apenas enquanto esteve no pastorado nestas duas cidades, mas depois, como nos dão conta passagens bíblicas como At.20:17-31, a segunda epístola aos coríntios ou as epístolas a Timóteo, onde vemos todo o cuidado que Paulo continuava a ter com aquelas duas igrejas, orientando os que estavam ali à frente do povo de Deus.

– O sétimo dom é o dom da misericórdia e aqui vemos como o apóstolo sempre exercitou misericórdia, tendo sempre a iniciativa de minorar os males daqueles que padeciam enfermidades, como o varão leso dos pés de

Listra (At.14:8), daqueles que se desesperavam, como o carcereiro em Filipos (At.16:28), com a já aludida situação dos pobres em Jerusalém.

– Notamos, portanto, que Paulo era um membro extremamente ativo na Igreja, exercendo diversas tarefas, sempre buscando a glorificação do nome do Senhor Jesus.

IV – LIÇÕES QUE PAULO DÁ SOBRE O SIGNIFICADO DO APOSTOLADO

– Tendo visto que Paulo possuía todos os dons ministeriais e os dons de serviços práticos, cumpre-nos, para finalizarmos esta lição, vermos como Paulo entendia o significado do apostolado, o que verificamos na segunda epístola aos coríntios, que é uma carta em que o apóstolo vai defender o seu apostolado, que era posto em dúvida por judaizantes que tinham ido perturbar a igreja em Corinto.

– Esta defesa do seu apostolado encontra especial realce no capítulo 10 da segunda carta aos coríntios e ali vamos verificar qual o significado do apostolado para Paulo e, portanto, como devemos nos portar diante do chamado que recebemos da parte de Deus, pois, tendo todos os dons, ao destacar aquele que é proeminente (o apostolado – cfr. I Co.12:28), Paulo nos ensina qual deve ser a nossa reação e o nosso entendimento diante dos dons que recebemos da parte do Senhor para servirmos à Igreja, para integrarmos o corpo de Cristo.

– Por primeiro, vemos que Paulo, ao tratar deste assunto, não o faz com soberba ou arrogância, mas, bem ao contrário, faz um pedido aos crentes de Corinto, pela mansidão e benignidade de Cristo, lembrando que, quando na companhia daqueles crentes, apresentava-se com humildade, embora fosse ousado na ausência (i.e., nas suas epístolas) (II Co.10:1), que, quando estivesse presente, não se visse obrigado a usar com confiança da ousadia que esperava ter com alguns, que o julgavam como se andasse na carne (II Co.10:2,3).

– É oportuno aqui observar que, foi a partir do instante em que é a partir do início da sua primeira viagem missionária, ou seja, quando começa a exercer o ministério de apóstolo, que as Escrituras vão passar a denominar o apóstolo de “Paulo” (At.13:9).

Ao contrário do que muitos dão a entender, não se tratou de uma mudança de nome por ordem divina, como ocorreu com Abrão, que teve seu nome mudado para Abraão (Gn.17:5) ou Jacó, que teve seu nome mudado para Israel (Gn.32:28).

Tudo indica que Paulo era assim apelidado, por ser pessoa de baixa estatura (“Paulus” significa “pequeno” em latim) e assumiu de vez este apelido, ao se dar conta de que, no exercício dos dons que lhe eram concedidos, deveria, sobretudo, comportar-se como “pequeno”, como servo, alguém que deveria sempre estar à disposição do Senhor Jesus.

 

– O gesto de Paulo, em fazer, por carta, um pedido, admitindo que a humildade da sua presença pessoal não se fizesse sentir na ousadia de suas epístolas, traz-nos um grande ensino.

Paulo retrocede, admitindo que tivesse sido um tanto quanto veemente em seus escritos, o que causava uma impressão falsa, a de que fosse soberbo ou arrogante quando escrevia (talvez, quem sabe isto não se tenha feito sentir na “carta severa”, mencionada em II Co.2:1, mais até do que nas demais…).

– O homem de Deus deve se lembrar, antes de mais nada, que é homem e, portanto, sujeito a falhas e imperfeições, de modo que deve, sim, quando for apanhado em alguma falha, retroceder, admitir seus erros, ainda que bem intencionados.

Paulo redigiu a “carta severa” envolvido pela tristeza decorrente da “visita dolorosa” e pode muito bem ter se excedido na sua redação e, assim, ter causado uma impressão de soberba e de arrogância que só fez fortificar a oposição à sua pessoa na igreja de Corinto.

– Agora, inspirado pelo Espírito Santo, o apóstolo faz um pedido àqueles crentes, que, pela mansidão e benignidade de Cristo, não agissem de modo a que o apóstolo fosse obrigado, uma vez mais, a fazer uso da sua autoridade apostólica, como saberia que haveria de usar com relação aos seus opositores, aqueles que negavam que o apóstolo era dirigido pelo Espírito Santo e que cuidavam que Paulo andasse segundo a carne.

– Neste seu pedido, Paulo traz-nos importantes lições a respeito do significado de seu apostolado e, por extensão, do ministério cristão exercido na atualidade.

Por primeiro, o exercício do ministério não é o exercício da perfeição. O ministro não deixa de ser homem, mesmo quando está a exercitar o ministério dado por Deus, não é infalível.

Esta passagem, aliás, é uma prova bíblica do equívoco da doutrina romana da infalibilidade papal, que, a propósito, somente foi acolhida pela Igreja Romana no Concílio Vaticano I, em 1870.

– Muitos, na atualidade, em especial os que se intitulam “apóstolos”, arrogam para si, como o Papa, a “infalibilidade em matéria de fé”.

Chegaram mesmo a criar a “teoria da cobertura apostólica”, segundo a qual deve haver “reverência e submissão de uma multidão de discípulos ao implantador de igrejas”, o que é um rotundo absurdo! Não há qualquer mediador entre Deus e os homens, a não ser Jesus Cristo homem (I Tm.2:5). O próprio Jesus disse que a ninguém poderíamos chamar Mestre ou “pai” (Mt.23:7-10).

– A relação de “paternidade espiritual” (I Co.4:15) que é mencionada como sendo a característica da “cobertura apostólica” nada tem que ver com submissão e reverência de crentes a um homem, a uma pessoa. Esta relação

é bem diversa, é a relação de afeição e serviço que o pai deve ter em relação a seu filho, como o próprio Paulo explica em II Co.12:14, uma relação de serviço, de trabalho em favor dos filhos e não o contrário, como tem sido alardeado pelos “apóstolos do século XXI” (Mt.23:11), o “hiperetes” (I Co.4:1), aquele que está no fundo do barco, fazendo-o andar mas na posição inferior, remando conforme o ritmo determinado pelo Senhor Jesus.

– Tanto assim é que Paulo, ao escrever esta carta, fá-lo na companhia de Timóteo (II Co.1:1), que é chamado pelo apóstolo, mais de uma vez, de “seu filho na fé” (I Tm.1:2; I Co.4:17), mas que, nem por isso, deixou de ser reconhecido como “irmão” (II Co.1:1; I Ts.3:2), a comprovar que não havia nenhuma “submissão espiritual” entre ambos.

Submeter-se espiritualmente a um líder (como ensina, também, o gedozismo que, neste particular, é indevidamente copiado por certos movimentos de igrejas em células) não tem qualquer respaldo bíblico. Há, sim, governo na igreja e devemos obedecer aos pastores e aos líderes, mas esta obediência não envolve, em absoluto, o nosso relacionamento com Deus, é uma obediência no Senhor, não uma mediação espiritual. Tomemos cuidado com isso!

– Pulo mostrou que não era infalível e, portanto, pediu aos crentes de Corinto que desconsiderassem qualquer impressão de arrogância ou soberba na redação de sua “carta severa” mas que, pela mansidão e benignidade de Cristo, lembrassem que, mesmo na “visita dolorosa”, o apóstolo havia se conduzido com humildade e que esta era a sua característica real, esta era a sua verdadeira posição.

 

– Temos, então, a segunda lição que nos dá Paulo: o líder, no meio do povo de Deus, deve ser humilde. A humildade é um requisito indispensável para o exercício da liderança cristã.

Hoje em dia, os “apóstolos do século XXI” caracterizam-se exatamente pelo contrário, ou seja, pela sua arrogância e soberba. Há, na verdade, uma confusão entre “poder de Deus”, “unção” com arrogância e soberba. Os pregadores, notadamente os midiáticos, gostam de se mostrar “ousados”, “atrevidos”, “arrogantes”, “soberbos”.

Quando verificarmos a presença destes predicados em alguém, fujamos dele, pois Paulo nos ensina que a característica do verdadeiro homem de Deus é a humildade, pois quem é de Deus aprende com Jesus, que é “manso e humilde de coração” (Mt.11:29).

– A terceira lição que nos dá o apóstolo Paulo é que, assim como deveria ser lembrada a humildade com que agia quando presente na igreja em Corinto, os crentes deveriam, também, agir conforme a mansidão e benignidade de Cristo. Não só os líderes devem ser humildes, mas os liderados também devem agir com a mansidão e benignidade de Cristo.

– O aprendizado de Cristo envolve tanto a mansidão quanto a humildade de coração (Mt.11:29). Se os líderes devem primar pela humildade, os liderados devem ser mansos.

Isto não significa que líderes não devam ser mansos (lembremo-nos de Moisés, que, para liderar Israel, teve de se tornar o mais manso varão sobre a terra

– Nm.12:3) ou que os liderados não devam ser humildes, mas, em virtude da função de cada um, o líder deve apresentar, primeiramente, a humildade, depois a mansidão, enquanto que os liderados, primeiramente a mansidão, depois a humildade.

– Os crentes de Corinto deviam, diz o apóstolo, exercitar a mansidão. “Manso” é aquele que se acostuma ao poder de um dono, aquele que se domestica, ou seja, aquele que passa a seguir as regras da casa de alguém, aquele que se submete ao poder de alguém.

Neste sentido, aliás, é que falamos em animais amansados ou mansos, isto é, animais que aprenderam a obedecer ao homem, ao contrário dos animais selvagens, que são animais que não se submetem a ordens nem a vontades dos homens.

– A mansidão é o resultado da aceitação do senhorio de alguém, é a submissão à autoridade de alguém, tanto que a palavra usada para “manso” no Antigo Testamento é “ ’anav” (ונע), que significa “estar inclinado” e que aparece por cerca de vinte vezes no texto sagrado (v.g., Nm.12:3; Sl.22:26; 25:9; 37:11; 76:9; 147:6-

“humildes” na ARC; Is.11:4-“pobres” na ARC; 29:19; 61:1; Am.2:7-“pobres” na ARC; Sf.2:3a). Esta palavra designa alguém que está sob autoridade, que admitiu a supremacia de alguém sobre si. Neste sentido, aliás, surgiu o costume ainda hoje observado em alguns países de se inclinar perante uma autoridade, em sinal de respeito e de submissão (como se vê em II Rs.5:18,19).

– O apóstolo pede que os crentes de Corinto exercitem “a mansidão de Cristo”, ou seja, aprendam com Jesus a obedecer a Deus e a seguir a orientação e direção do Espírito Santo, que glorifica o Filho (Jo.16:14).

O apóstolo, assim, mostra a sua confiança em Deus, pois sabia que se os crentes coríntios seguissem a orientação do Espírito de Deus, saberiam quem era aquele que fazia a vontade de Deus, discernindo que os judaizantes não eram os verdadeiros discípulos do Senhor.

– O verdadeiro e genuíno homem de Deus não fica atemorizado com a oposição, mas a suporta, a exemplo de Cristo Jesus (Hb.12:3), pedindo apenas aos crentes que sigam a orientação e parecer do Espírito Santo, pois sabe que o Senhor não muda e confirmará aquele que está a fazer a Sua vontade, mais cedo ou mais tarde.

Os crentes devem agir como a igreja de Éfeso, em procedimento que mereceu o louvor do próprio Senhor Jesus, pondo à prova os que dizem ser apóstolos (Ap.2:2).

– Um dos grandes problemas nas igrejas locais, hoje em dia, é que não estão a consultar a Deus a respeito dos problemas e dificuldades que surgem no dia-a-dia. Ao invés de imitarem a igreja primitiva que, diante da discussão a respeito da observância, ou não, da lei de Moisés, pediram a orientação e o parecer do Espírito Santo em primeiro lugar (At.15:28), preferem ingressar em intermináveis discussões e contendas, bem como se munir de argumentos e até de decisões de autoridades seculares, sem que disto resulte qualquer solução. Aprendamos com o apóstolo Paulo: ajamos com a mansidão de Cristo.

 

– Mas, além da mansidão, o apóstolo pede aos crentes de Corinto que exerçam a benignidade de Cristo.

Benignidade é a qualidade da boa-fé, da ausência de más intenções, de malícia e de maldade no coração ou no pensamento de alguém. Uma pessoa benigna é uma pessoa pura de propósitos e de objetivos. Jesus disse que não veio para condenar, mas para salvar o mundo (Jo.3:17).

Nós, como filhos de Deus, coerdeiros de Cristo (Rm.8:17), também não estamos no mundo para o condenarmos, mas para contribuir para a sua salvação, daí porque termos o dever de pregar o Evangelho (Mc.16:15), que é a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16). Quais têm sido os nossos pensamentos e intenções?

– Se temos a benignidade de Cristo, não acatamos toda e qualquer crítica ou acusação de pronto. Pelo contrário, primeiro avaliamos os fatos e as circunstâncias para podermos discernir se a notícia trazida é, ou não, verdadeira.

Nos dias em que vivemos, em que há uma abundância de informações, que não conseguimos sequer “digerir”, é extremamente necessário não acreditarmos na informação que nos é trazida de pronto, pois vivemos num mundo onde os “homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados” (II Tm.3:13).

– Muitos se iludem com a afirmação de que vivemos na “era da informação” e que temos “livre acesso” às informações. Temos acesso às “informações convenientes”. Toda e qualquer notícia não é desinteressada nem escapa ao controle daqueles que dominam a mídia.

Não pensemos nós que só na China, Rússia ou no Irã as informações são “filtradas”, mas, em todo o lugar, já vislumbramos o cenário do absoluto controle das informações que caracterizará o governo do Anticristo. Por isso, temos de ter o devido discernimento espiritual para bem entendermos aquilo que nos é apresentado como sendo “a verdade”.

– Por isso, precisamos ser benignos, querendo bem às pessoas, jamais delas suspeitando mal. Esta é uma das características do amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, se é que, realmente, somos filhos de Deus (I Co.13:5).

– Paulo pedia aos coríntios que não cressem em tudo que estão a dizer a seu respeito, mas que, antes de mais nada, fossem eles benignos, querendo bem ao apóstolo e bem apreciando, à luz da direção e orientação do Espírito Santo e dos fatos, se o que estavam a acusar o apóstolo era, ou não, real. Como procedemos diante dos inúmeros escândalos e acusações que são divulgados em nosso meio?

– A quarta lição que o apóstolo nos ensina é que o fato de estar a sofrer oposição não alterava em coisa alguma o seu papel como homem de Deus.

Paulo sabia que, ao chegar a Corinto, deveria enfrentar os seus opositores, que não mudariam a sua posição apesar daquela carta. Paulo não escrevera para os seus adversários, que não tinham o Espírito Santo nem agiam em prol do reino de Deus, mas, sim, para os santos, para os verdadeiros crentes que estavam sendo enganados por aquele discurso.

– Assim, admitia, desde já, que, quando chegasse a Corinto, haveria de usar com confiança da ousadia contra aqueles que o julgavam que ele andava segundo a carne, ou seja, com os que mentiam, duvidando da autoridade apostólica de Paulo. O homem de Deus não pode ser covarde e tem de combater o pecado. Embora Jesus suportasse a oposição contra Si mesmo (Hb.12:3), não deixou de combater o pecado, resistindo até o sangue (Hb.12:4; I Jo.3:8).

– A vida cristã é um combate contra o mal (Ef.6:11-13; I Tm.4:7) e, desta maneira, não temos como fazer qualquer “acordo” ou estabelecer qualquer “trégua” contra o mal.

Vivemos numa verdadeira “guerra santa”, guerra esta, porém, que não é travada com o uso do mal, mas, sim, com o uso do bem contra o mal (Rm.12:20,21).

 

– Paulo não tinha receio de, ainda nesta carta, antes da sua terceira visita, dizer que, ao chegar a Corinto, faria como da segunda vez, tomando as devidas providências que se fizessem necessárias para retirar o pecado do meio do povo de Deus. Paulo era humilde, manso e benigno, mas não tolerava nem compactuava com o pecado.

O líder de Deus usa a sua autoridade com o fim de combater o pecado e não combater o pecado é perder a autoridade divina. Entre ser “simpático”, “popular” e “carismático” e “santo”, o apóstolo compreendia que o homem de Deus tem de ser “santo” e, para tanto, além de não pecar, tem de combater o pecado.

– Nos dias hodiernos, os “apóstolos do século XXI” são bem diferentes. Preferem o prestígio, a popularidade, a simpatia, a fama e, para tanto, pecam e deixam o povo pecar. São os “falsos mestres” mencionados nas

Escrituras, que querem estar presentes nos banquetes, querem que os crentes se banqueteiem, andando segundo a carne, em concupiscências de imundícia, têm prazer nos deleites cotidianos e em seus enganos, não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza (II Pe.2:10,12-14).

São extremamente severos com que não lhe são submissos, mas demasiadamente tolerantes com os que pecam. Fujamos dessa gente!

– Paulo dizia-se em combate contra o pecado, tanto que diz que “não militava segundo a carne” (II Co.10:3).

Estava em combate e, por isso, andava armado, mas não com “as armas carnais, mas com armas poderosas em Deus para destruir as fortalezas, armas que destruíam os conselhos e a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus e que levam cativo todo o entendimento à obediência de Cristo”
(II Co.10:4,5).

– Estas armas não são discriminadas pelo apóstolo nesta carta, mas, ao escrever aos efésios, anos depois, o apóstolo bem diz do que se constituía a “armadura de Deus”: o cinturão da verdade, a couraça da justiça, os calçados da preparação do evangelho da paz, o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito.

Além destas armas, Paulo tinha, ainda, de se manter em forma com o exercício da oração em todo o tempo e com toda a oração e súplica no Espírito e da vigilância com toda a perseverança e súplica por todos os santos (Ef.6:13-18).

– Estas armas eram poderosas em Deus para destruir as fortalezas. Paulo mostra bem que a batalha espiritual cotidiana de cada crente é contra o diabo e suas hostes espirituais. As fortalezas aqui são espíritos malignos que estão a construir estruturas e sistemas contrários a Deus neste mundo que a Bíblia diz que está no maligno (I Jo.5:19).

Não são “espíritos territoriais”, como defendem os falsos ensinos da “teologia da batalha espiritual”, mas é inegável que há uma ação satânica e demoníaca mais intensa em certos lugares e áreas da vida humana, que são como que “fortalezas” do inimigo nesta guerra travada entre a Igreja e as “portas do inferno”.

– Em nossos dias, muitos têm ido para dois extremos perigosos. O primeiro é o da “demonização”, ou seja, em tudo se vê a ação satânica e demoníaca, em tudo se entende haver “fortalezas” ou “ação de espíritos malignos”. Sabemos que a atuação demoníaca e satânica está a aumentar, até porque se aproxima o arrebatamento da Igreja e, nestes dias, o Senhor Jesus disse que haveria a “multiplicação da iniquidade” (Mt.24:12).

No entanto, nem tudo é obra do demônio e não podemos cair num falso “dualismo”, doutrina que é desconhecida das Escrituras.

– O segundo extremo é o da descrença na atuação do diabo. Já há muitos que cristãos se dizem ser que até não creem na existência do inimigo como um ser pessoal.

Outros, embora creiam no diabo, acham que ele não opera mais ou não pode agir contra os crentes. Estes também estão enganados. A atuação satânica e demoníaca é uma realidade e sua presença no meio do povo de Deus é evidente.

A propósito, como bem disse um conhecido pregador midiático de nosso país, se há um lugar preferido para o diabo atuar é nas igrejas, pois é ali que ele ganhará almas para si, não em outros ambientes, que já pertencem a ele e lhe são submissos.

Tal afirmação, aliás, tem respaldo bíblico, pois o próprio apóstolo Paulo adiantou que, nos últimos dias, muitos apostatarão da fé porque dariam ouvido a espíritos enganadores (I Tm.4:1). Ora, irmãos, onde estão estes “espíritos enganadores”: nas igrejas, pois só ali há fiéis que podem apostatar!

 

– Paulo bem sabia da existência destas forças espirituais contrárias à pregação e desfrute do Evangelho que dizia que um dos objetivos das armas poderosas em Deus era a “destruição das fortalezas”.

Mas, alguém pode perguntar: por que, hoje em dia, não se manifestam tantos demônios quanto antigamente em nossas igrejas locais? Por que o diabo deixou de agir? Não, amados irmãos, simplesmente porque não temos mais as armas poderosas em Deus para destruir as fortalezas.

– As armas poderosas em Deus também destroem os conselhos, palavra que é traduzida na Nova Versão

Internacional por “argumentos”, o que mais se aproxima do original grego “logísmos” (λογισμός). Somente as armas espirituais podem destruir os argumentos humanos, os raciocínios baseados na lógica humana e que têm seduzido a muitos crentes na atualidade.

Não podemos nos esquecer que o inimigo nos engana com base nestes raciocínios humanos, pois ele conhece as coisas que dizem respeito aos homens (Mt.16:23).

– Muitos que cristãos se dizem ser já não mais creem nas Escrituras, já alteraram suas crenças porque a ciência e a lógica humanas têm apresentado “argumentos irrefutáveis” que apontam “erros” e “contradições” da

Bíblia. Tomemos cuidado com estes ensinos que somente fazem as pessoas se desviar da verdade, do Evangelho genuíno e autêntico. Quem tem armas poderosas em Deus destrói tais argumentos, estes falsos conselhos e consegue permanecer fiel ao Senhor.

OBS: Já se inicia um movimento entre os evangélicos em nosso país em que se procura atacar o “fundamentalismo”, cuidando que a apatia da

participação sócio-política da Igreja em nosso país é resultado desta posição de fidelidade ao conteúdo das Escrituras. Nada mais falso e enganador! Tomemos cuidado com tais pensamentos.

– As armas poderosas em Deus também são aptas para destruir toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo.

Uma das características do uso das armas espirituais é o de nos levar à submissão a Cristo, de nos levar à humilhação debaixo da potente mão de Deus (I Pe.5:6).

– Quando o homem de Deus se utiliza das armas espirituais, ele se torna cada vez mais dependente de Deus, cada vez mais obediente à Sua Palavra, que é, afinal de contas, a principal testemunha de Cristo entre nós (Jo.5:39). Quando observarmos que grandes líderes passam a questionar as Escrituras, passam a defender uma

“contextualização” do texto sagrado, uma “modernização” ou trazem “novas visões”, “novas revelações”, saibamos que são homens que não estão a usar das armas poderosas em Deus, homens que se têm deixado levar pela altivez, pelo orgulho, que não mais militam a boa milícia da fé. Vigiemos!

– O genuíno líder chamado por Deus e que continua a fazer a vontade de Deus não quer que as pessoas fiquem em volta de si, mas, sim, que estejam debaixo de Cristo, que obedeçam a Cristo, que Lhe sejam submissos.

São homens que, a exemplo de Paulo, ensinam o povo inclusive a abandoná-lo se passar a falar o que não está de acordo com as Escrituras (Gl.1:8,9).

– Nos dias em que vivemos, poucos são os líderes que querem diminuir para que Cristo cresça. Muitos estão tão dominados pela vaidade e pela altivez que não admitem sequer que o nome do Senhor seja mencionado, que dirá glorificado em seus movimentos, denominações e igrejas.

Há um crescente “culto da personalidade” no meio dito evangélico, algo extremamente perigoso e que é exatamente o contrário do que fazia o apóstolo Paulo.

– Os “apóstolos do século XXI” são altivos e não querem levar as pessoas a serem cativas de Cristo, mas, sim, a serem presa sua, a serem submissas à sua pessoa.

Não troquemos a liberdade que temos em Cristo pela sujeição a estes homens, que, com este comportamento, demonstram ser falsos apóstolos. Recordemos o que nos diz o próprio Paulo: “porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo. Fostes comprados por bom preço, não vos façais servos dos homens” (I Co.7:22,23).

– Temos de levar nosso entendimento à obediência de Cristo. Não podemos querer mais do que convém saber (Rm.12:3), tendo conhecimento tão somente daquilo que nos foi revelado nas Escrituras (Dt.29:29). Temos de nos ater ao que foi revelado e não admitir que líderes ou “sabichões” nos levem a algo que não se encontre na Bíblia Sagrada. Não creiamos a todo espírito, mas provemos se os espíritos são de Deus (I Jo.4:1).

– O apóstolo, ainda que combatesse o pecado, não estava interessado em discussões, debates, pelejas ou porfias. Muito pelo contrário, sabia que a vitória sobre o pecado se daria quando os santos cumprissem a obediência.

A vingança contra a desobediência não se dá através de atitudes hostis, mas, sim, por intermédio da nossa obediência a Cristo. O nosso testemunho é a maior arma contra as ciladas astutas do diabo (II Co.10:6).

 

 Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6805-licao-4-paulo-a-vocacao-para-ser-apostolo-i

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