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LIÇÃO Nº 4 – COMO SE CONDUZIR NA CAMINHADA

INTRODUÇÃO

-Na continuidade do estudo da vida cristã como “o Caminho”, veremos hoje como devemos nos conduzir na caminhada.

-A caminhada do cristão tem de seguir os ditames divinos.

I – ROMPENDO EM FÉ

-Temos visto que a vida cristã é uma “caminhada”, uma “peregrinação”, “um caminho”, que tem um ponto de partida, que é a entrada pela porta estreita (Mt.7:13) e um ponto de chegada, que, como vimos na lição anterior, é o céu (Fp.3:20,21).

-Entre o ponto de partida e o ponto de chegada há o “caminho”, que Nosso Senhor e Salvador disse ser “caminho apertado” (Mt.7:14) e no qual não podemos nos desviar nem para a direita nem para a esquerda (Dt.28:14; Js.1:7; 23:6; II Rs.22:2; II Cr.34:2; Pv.4:27; Is.30:21).

-Como diz o profeta Isaías, o caminho já está posto e devemos andar nele (Is. 30:21) e, bem por isto, muito feliz foi a utilização do verbo “conduzir-se” no título da lição, porque, na verdade, não se trilha neste caminho segundo a própria vontade, mas se é conduzido pelo Espírito Santo, ou seja, fazemos voluntariamente aquilo que nos é orientado pelo Consolador e, deste modo, guiado pelo conselho do Senhor, recebidos seremos em glória (Sl.73:24).

-O ponto de partida é a entrada pela porta estreita e somente nela entramos quando cremos em Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador de nossas vidas. Ao crermos em Cristo, confessando e nos arrependendo dos nossos pecados, são eles perdoados e somos justificados pela fé, entrando nesta graça (Rm.5:1,2).

-Aqui já vemos esta sinergia entre a vontade humana e a vontade divina, que caracteriza a salvação. Voluntariamente, cremos na pregação do Evangelho e invocamos o nome do Senhor e, como resultado disto, o Senhor, e só Ele o pode fazer, nos perdoa e nos faz adentrar pela porta estreita.

-Não há como cada um de nós, por nossas próprias forças, entrarmos na graça. Necessário se fez que Cristo viesse ao mundo e morresse por nós, pois Ele é a porta (Jo.10:9), como também se faz necessário que a fé seja ativada em nós pela pregação do Evangelho (Rm.10:17).

-“…Fé, estritamente falando, é divina, sobrenatural. É atributo de Deus. É força vital divina, criativa, fé sobrenatural. Baseia-se na Palavra de Deus (Rm.10:17). Tem assento no coração (Rm.10:10; Mc.11:23). Crer é humano, natural. É usar a força da vontade para aceitar algo. É o chamado ‘pensamento positivo’.

É uma força, mas na esfera do natural. É a chamada fé natural, fé intelectual, fé teórica. Ela pode levar o homem a reconhecer, como verídicos, fatos do Evangelho, mas não redunda em conversão. O pecador pode saber que Cristo é divino e, mesmo assim, rejeitá-l’O como Salvador. Já a fé do coração leva à entrega a Ele (Jo.1:12). A fé é realista; a crença humana é imaginária.

Milhares de pessoas tem Jesus na cabeça, mas não no coração, pelo que não são salvas.…” (SILVA, Antonio Gilberto da. Um estudo da doutrina da fé. In: Bíblia com comentários de Antonio Gilberto, p.2298).

-Na alegoria de John Bunyan, Cristão teve de ir até a porta estreita, que lhe foi mostrada pela pregação de Evangelista, demonstrando toda a sua disposição em ir até lá (tanto que teve de superar o Pântano da Desconfiança), mas não iniciaria sua jornada se por lá não entrasse. É a boa vontade divina quem nos permite iniciar tal jornada (aliás, é precisamente este o nome da personagem quem abre a porta para Cristão).

-Já vemos que não há outro modo de iniciarmos o caminho da salvação a não ser pela entrada da porta estreita e isto não se faz senão pela fé em Cristo Jesus. Por isso, Pedro pôde dizer ao Sinédrio: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At.4:12).

-Sem fé impossível agradar a Deus (Hb.11:6). Como disse o apóstolo Paulo ao carcereiro de Filipos, somos salvos quando cremos no Senhor Jesus Cristo (At.16:31).

-Ter fé em Jesus e invocar o Seu nome é a primeira atitude que devemos ter na caminhada. Esta fé, entretanto, não é episódica, nem momentânea.

-A Palavra de Deus é uma semente incorruptível, que, recebida, germina e, como o Senhor nos mostra na parábola do semeador, precisa crescer e dar fruto (Mt.13:3-9; Mc.4:3-8; Lc.8:5-8).

-A fé, portanto, deve ser constante e presente em toda a jornada e, mais do que isto, deve ser sempre crescente, daí porque Jesus a comparar a semente de mostarda (Lc.17:6), que sendo a mais pequenina das sementes, gera a maior das hortaliças (Mc.4:31,32).

-Não é por outro motivo que Paulo afirma, citando o profeta Habacuque, que “o justo viverá da fé” e que, no Evangelho, se descobre a justiça de Deus de fé em fé (Rm.1:17).

-Nunca é demasiado lembrar que, para os doutores da lei judaica, a expressão de Habacuque é a síntese da lei, a redução de toda a lei em um único mandamento.

OBS: Eis o pensamento da tradição judaica: “…Rabino Simlai ensinou: Havia 613 mitsvot declaradas a Moisés na Torá, consistindo em 365 proibições correspondentes ao número de dias no ano solar, e 248 mitsvot positivas correspondentes ao número de membros de uma pessoa. Rav Hamnuna disse: Qual é o versículo que alude a isso? Está escrito: “Moisés nos ordenou a Torá, herança da congregação de Jacó” (Deuteronômio 33:4).

A palavra Torá, em termos de seu valor numérico [ gimatriyya ], é 611, o número de mitsvot que foram recebidas e ensinadas por Moisés, nosso professor .

Além disso, existem duas mitsvot: “Eu sou o Senhor teu Deus” e: “Não terás outros deuses” ( Êxodo 20:2 , 3), os dois primeiros dos Dez Mandamentos, que ouvimos da boca de o Todo-Poderoso, num total de 613.

A Gemara fornece um mnemônico para as figuras bíblicas citadas no decorrer da discussão que se segue: Dalete, mem , shin , mem , kuf ; samekh , kuf ; representando Davi , Miqueias , Isaías , Amós , Habacuque , Amós e Ezequiel.

Rabi Simlai continuou: O Rei David veio e estabeleceu as 613 mitsvot em onze mitsvot, como está escrito: “Um Salmo de David . Senhor, quem permanecerá no Teu Tabernáculo? Quem habitará em Tua montanha sagrada? Aquele que anda de todo o coração, e pratica a justiça, e fala a verdade em seu coração. Que não tem na língua calúnia, nem faz mal ao próximo, nem lança injúria ao seu parente.

A cujos olhos o vil é desprezado, e ele honra os que temem ao Senhor; ele faz um juramento em seu próprio detrimento e não muda. Ele não dá seu dinheiro com juros, nem aceita suborno contra inocentes. Aquele que faz isso nunca será abalado” (Salmos, capítulo 15).

Onze atributos que facilitam a entrada no Mundo Vindouro aparecem nesta lista (…). A exposição do Rabino Simlai continua: Isaías veio e estabeleceu as 613 mitsvot em seis, como está escrito: “Aquele que anda retamente e fala retamente; aquele que despreza o ganho das opressões, que treme as mãos ao receber subornos, que tapa os ouvidos para não ouvir sangue e fecha os olhos para não olhar para o mal ” (Isaías 33:15).(…) Miqueias veio e estabeleceu as 613 mitsvot em três,

como está escrito: “Foi-te dito, ó homem, o que é bom e o que o Senhor requer de ti; somente para praticar a justiça, e amar a misericórdia, e andar humildemente com o teu Deus” ( Miqueias 6:8).(…) Isaías então estabeleceu as 613 mitsvot sobre duas,

como está declarado:

“Assim diz o Senhor: Observai a justiça e praticai a retidão” ( Isaías 56:1 ). Amós veio e estabeleceu as 613 mitsvot sobre um, como está declarado: “Assim diz o Senhor à casa de Israel : Busca-me e vive” (Amós 5:4).

Rav Naḥman bar Yitzḥak se opõe a isso: Não há prova de que o versículo em Amós estabeleça todas as mitsvot sobre uma pessoa; Digamos que Amós está dizendo: Busque-me em toda a Torá, pois o versículo não especifica a maneira pela qual alguém deve buscar o Senhor.

Em vez disso, diga: Habacuque veio e estabeleceu as 613 mitsvot sobre alguém, como está declarado: “Mas o justo viverá pela sua fé” (Habacuque 2:4) (TALMUDE DA BABILÔNIA. Makkot 23b-24a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Makkot.24a.27?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 17 fev. 2024) (tradução em português pelo Tradutor Google).

-Se compararmos o salvo como um veículo automotor, podemos dizer que a fé é o combustível, que fará o veículo andar e que exige um constante abastecimento, pois, sem combustível, o veículo não pode fazer a sua viagem. Sem fé jamais chegaremos até o céu.

-Viver da fé é, por primeiro, como vimos, dar ouvidos à palavra da verdade e crer em Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador (Ef.1:13).

-Recebida a palavra, é preciso haver a abnegação, ou seja, que se renuncie a si mesmo, que se abandonem seus desejos, que se morra para que haja o nascimento da nova criatura. A semente somente germina se ela morrer. Precisamos abandonar a nossa própria vontade e começar a fazer a vontade de Deus.

-Ora, para vivermos segundo a vontade divina, é preciso que continuemos a ouvir o Senhor, que com ele nos comuniquemos, de modo que não há como fazermos nossa caminhada se não tivermos uma vida de contínua oração, reforçada com o jejum, como também de meditação nas Escrituras, porque, assim fazendo, estaremos dialogando com o Senhor e aumentando nossa intimidade com Ele, já que não mais vivemos para nós mesmos, mas, sim, para Deus, visto que morremos para o mundo.

-Não há como fazermos crescer a nossa fé se não nos dedicarmos à oração, reforçada com o jejum, e à meditação na Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada alimenta-nos espiritualmente, garantindo a nossa sobrevivência na jornada (Mt.4:4; Lc.4:4), enquanto a oração, reforçada com o jejum, é o “oxigênio da alma”, que nos permite manter a “respiração espiritual”, o contato com o Espírito Santo, que é aquele que nos guia em toda a verdade (Jo.16:13).

-A fé também cresce por meio das provações. Nós precisamos ter a fé provada para que sejamos aprovados e, assim, adentremos nas mansões celestiais.

Como afirma o apóstolo Pedro: “…mediante a fé, estais guardados na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar no último tempo, em quem vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo, ao qual, não O havendo visto, amais; n’O qual, não

O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso, alcançando o fim da vossa fé, a salvação da alma” (I Pe.1:5-9).

-As provações são permissões divinas que fortalecem a nossa fé, dão-nos paciência, paciência esta que gera experiência e, experiência, que nos traz a esperança (Rm.5:3,4), que é a âncora da alma segura e firme (Hb.6:19), que nos impede de ser confundidos e que nos mantém, mesmo em meio aos movimentos deste mundo, no caminho, sem nos desviarmos dele.

-Não é por outro motivo que Barnabé e Paulo “…voltaram para Listra, Icônio, e Antioquia, confirmando o ânimo dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (At.14:21b).

-As provações fazem-nos buscar a presença do Senhor e é imperioso, na caminhada, estarmos sempre a nos aproximar do Senhor. Como disse o salmista Asafe: “Mas, para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor Deus, para anunciar todas as Tuas obras” (Sl.73:28).

-Como diz conhecido cântico: “Cada vez que minha fé é provada, Tu me dás a chance de Te conhecer um pouco mais. Nas montanhas e mares, desertos e vales que atravesso me levam para perto de Ti. Minhas provações não são maiores que o meu Deus e não me impedir de caminhar. Se diante de mim, não se abrir o mar, Deus vai me fazer andar por sobre as águas. Rompendo em fé, minha vida se revestirá do Teu poder.

Rompendo em fé, com ousadia vou mover o sobrenatural. Vou lutar e vencer, vou plantar e colher, a cada dia vou viver rompendo em fé”.

II– BUSCANDO AO SENHOR

-Além de “romper em fé”, mister se faz que, durante a caminhada, tenhamos o firme propósito de nos aproximar de Deus, independentemente de que isto ocorre quando somos submetidos a provações, como já vimos.

-O crescimento da nossa fé, que a vitória que nos faz vencer o mundo (I Jo.5:4), traz-nos, como já dissemos, a esperança e, como afirma o apóstolo Paulo, tal esperança não traz confusão porque o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm.5:5).

-Quando cremos em Cristo, quando adentramos pela porta estreita, o Espírito Santo nos é dado, recebemos o Espírito Santo, que vem para nos guiar em toda a verdade (Jo.16:13), para nos ensinar todas as coisas e nos fazer lembrar o que Jesus disse (Jo.14:26).

-Vemos, portanto, que não há como fazermos esta caminhada se não buscarmos o Espírito Santo, que foi posto para estar ao nosso lado (o “Paráclito” ou Consolador) (Jo.14:16). O Senhor Jesus foi claro ao dizer que deveríamos pedir o Espírito Santo ao Pai celestial (Lc.11:13).

-Esta busca apenas se inicia com a invocação do Senhor, ato pelo qual alcançamos a salvação (Jl.2:32; At.2:21; Rm.10:13), mas deve ser uma constante, porquanto quanto mais próximos do Senhor, mais longe estaremos do pecado; quanto mais próximos do Senhor, mais perto estaremos do céu.

-Como diz a poetisa sacra Sarah Flower Adams (1805-1848), traduzida por João Gomes da Rocha (1861- 1947): “Mais perto quero estar meu Deus de Ti, inda que seja a dor que me una a Ti. Sempre hei de suplicar, mais perto quero estar. Mais perto quero estar, meu Deus de Ti” (primeira estrofe do hino 187 da Harpa Cristã).

-Davi, quando levou a arca para Jerusalém, elaborou um salmo, em que afirma que se deve buscar ao Senhor e a Sua força, buscar a Sua face continuamente (I Cr.16:11), mostrando que, nos momentos de alegria e de jubilação, devemos buscar a Deus.

-Mas o mesmo Davi, quando fugia de seu filho Absalão, destronado e em grande aflição (segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen), também afirmou que se deveria buscar ao Senhor, pois é este o desejo divino quando assim estamos (Sl.27:8).

-Neste salmo, aliás, vemos que “buscar a face do Senhor”, “buscar o Seu rosto” é “morar na casa do Senhor” (Sl.27:4); “oferecer sacrifício de júbilo no seu tabernáculo” (Sl.27:6), que nada mais é que o “sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb.13:15); desejar o ensino da parte do Senhor (Sl.27:11); crer que verá os bens do Senhor na terra dos viventes (Sl.27;13).

-Ao longo de nossa peregrinação terrena, devemos ter uma vida de adoração ao Senhor, servindo a Deus a todo o tempo, estando em condições de Se apresentar diante d’Ele a cada instante, por uma vida de santidade e de obediência, sendo verdadeiro templo do Espírito Santo (I Co.6:19).

-Não é, aliás, por acaso que, na alegoria de Bunyan, Cristão, ao passar pela porta estreita, recebe uma marca na testa, que é o símbolo do selo do Espírito Santo que cada salvo recebe ao crer em Jesus (Ef.1:13). Somos agora propriedade de Deus e não podemos, por isso mesmo, deixar de buscá-l’O, de tudo fazer para estarmos em Sua companhia a todo tempo e a todo instante.

-Nos dias difíceis em que estamos a viver, não podemos nos descuidar desta busca do Senhor, distraindo-nos com as coisas desta vida. Temos de ter a mesma atitude de Neemias, quando, em resposta a seus inimigos,

afirmou: “…Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse a fosse ter convosco?“ (Ne.6:3).

-Buscar o Espírito Santo é, também, buscar o revestimento de poder. Jesus mandou que os discípulos ficassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc.24:49), mostrando a necessidade que temos de ser batizados com o Espírito Santo para podermos realizar a carreira que nos está proposta.

-Não há como servirmos ao Senhor da forma como Ele deseja sem este revestimento de poder, pois o próprio Jesus, para dar início ao ministério, foi cheio do Espírito Santo (Lc.4:1).

-Buscar a Deus é, também, uma vez revestidos de poder, procurar com zelo os dons espirituais (I Co.14:1).

Os dons espirituais são igualmente necessários para que haja exortação, consolação e edificação da Igreja (I Co.14:3), lembrando que nossa vida cristã, nossa caminhada se dá com a convivência e a comunhão com os irmãos.

-Ademais, a manifestação dos dons espirituais nada mais é que a manifestação do Espírito Santo e, portanto, uma maior intensidade do Espírito Santo ao nosso lado durante a jornada (I Co.12:4-7)., que nos sempre será útil.

-Esta busca do Senhor enriquece a nossa experiência com Deus, experiência que é também aumentada em virtude da paciência gerada pelas tribulações (Rm.5:4).

-É necessário que cresçamos na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pe.3:18) e este crescimento advém de uma maior intimidade com Deus, o que somente ocorre quando buscamos a Sua face, quando nos envolvemos com as coisas espirituais.

-É o que nos ensina o profeta Oseias, que manda que “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os.6:3), mostrando-nos que, como Ele Se mostra a nós como a alva na sua saída, ou seja, trazendo-nos a iluminação decorrente da luz do evangelho da glória de Cristo (II Co.4:4), depois se nos apresenta como chuva, a chuva serôdia que rega a terra, ou seja, envolve-nos com todas as bênçãos espirituais, pois a chuva serôdia era a chuva antes da colheita, aquela que trazia a maturidade da produção.

-Esta experiência faz-nos aprofundar na Palavra de Deus, entendermos as Escrituras, pois nosso entendimento é aberto pelo Espírito Santo, e, assim, experimentados na palavra da justiça (Hb.6:13), habituados a ter convívio com o Senhor, mais e mais identificamos a Sua voz (Jo.10:27) e, como resultado disto, passamos a ter discernimento espiritual, discernindo também o bem como o mal (Hb.6:14).

-Este discernimento torna-nos homens espirituais com a mente de Cristo (I Co.2:15,16) e, tendo ciência do Santo, passamos a ser prudentes (Pv.9:10) e avisados (Pv.22:3).

Como resultado disto, aumenta a nossa segurança na caminhada, porquanto identificamos mais facilmente as ciladas do diabo (Ef.6:11), os seus ardis (II Co.2:11) e, a exemplo do patriarca Jó, nos desviamos do mal (Jó 1:1,8; 2:3).

-Ainda recorrendo à alegoria de Bunyan, vemos que Cristão, tendo entrado pela porta estreita, recebe um rolo, que deveria continuamente ler, para se lembrar daquilo que constava das Escrituras. Temos aqui uma feliz figura desta busca incessante do Senhor, desta busca do Espírito Santo, que sempre nos fará lembrar o que Jesus disse (Jo.14:26) e que nos sempre transmitirá aquilo que tiver recebido de Cristo (Jo.16:14).

III- RENUNCIANDO À IMPIEDADE

-O apóstolo Paulo, escrevendo a Tito, lembra-o que a graça de Deus se há manifestado trazendo salvação a todos os homens e que ela ensina que, primeiramente, devemos renunciar à impiedade (Tt.2:11,12).

-Ao tomarmos o caminho da salvação, devemos ser “discípulos”, ou seja, alunos, pessoas dispostas a aprender, sabendo que o Senhor é o Mestre e Senhor (Jo.13:13). A graça de Deus nos ensina, temos de estar prontos para aprender com Cristo (Mt.11:29).

-Quem quer ser discípulo tem de renunciar a tudo quanto tem (Lc.14:33), ou seja, abrir mão de si próprio, reconhecer o senhorio de Cristo, a Sua condição de Todo-Poderoso, submetendo-se à Sua vontade.

-Observemos que o contexto em que o Senhor Jesus proferiu estas palavras sobre a renúncia vai muito além do chamado “voto de pobreza”, que seria o abandono completo e absoluto dos bens materiais, como foi enfatizado por Francisco de Assis (1181 ou 1182 – 1226).

-Na verdade, Cristo está a dizer que não se pode ser Seu discípulo se não se abandonar o seu ego, a prevalência dos compromissos familiares, não levando em conta que o prioritário é o que se relacionada com o reino de Deus e a sua justiça.

-Renunciar à impiedade é, primeiramente, admitir que nossa natureza é pecaminosa e que não podemos dar lugar a ela, que é a carne, mas, sim, buscar saber qual é a vontade divina, pois, quando nos pomos como centro, como alvo, apenas damos vazão a toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça e chamamos para nós a ira de Deus.

-Dizer não ao nosso ego, às vaidades deste mundo é a atitude primeira que temos de ter após a manifestação da salvação a nós por Cristo, que aborrece a impiedade (Sl.45:7). Deus quer que soltemos as ligaduras da impiedade (Is.58:5).

IV– RENUNCIANDO ÀS CONCUPISCÊNCIA MUNDANAS

-Mas além de renunciar à impiedade, torna-se necessário que também, na caminhada, renunciemos às concupiscências mundanas. A primeira renúncia diz respeito a nossa natureza pecaminosa, à carne; esta segunda, ao sistema que está no maligno (I Jo.5:19), cujo príncipe é Satanás (Jo.14:30).

-O apóstolo João diz-nos que, no mundo, existem três concupiscências: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (I Jo.2:16).

-Renunciar a estas concupiscências, portanto, nada mais é que deixar o mundo, não mais o amar, pois quem ama o mundo, o amor do Pai não está nele (I Jo.2:15).

-A concupiscência é um desejo incontrolado, uma cobiça por aquilo que está voltado única e exclusivamente para a satisfação pessoal, para as coisas terrenas, para as coisas naturais.

-A concupiscência da carne é o descontrole dos desejos provenientes da natureza pecaminosa do homem, e, por isso, são desejos que buscam a autossatisfação, o prazer egoísta, com a insaciabilidade dos instintos animais, daí resultando a lascívia, a imoralidade sexual, a gula, a bebedeira, o uso de substâncias entorpecentes etc.

-A concupiscência dos olhos é o descontrole das faculdades da alma, ou seja, sensibilidade, intelecto e vontade. O Senhor Jesus disse que os olhos são a candeia do corpo (Mt.6:22) e trazem luz para o corpo, mas, se forem maus, trarão trevas e grandes trevas (Mt.6:23).

-Não foi por outro motivo que o patriarca Jó, de que Deus dava testemunho, havia feito concerto com os seus olhos (Jó 31:1).

-Renunciar à concupiscência dos olhos é renunciar a todo e qualquer sentimento, pensamento ou vontade que desagradem ao Senhor. Swe somos servos de Cristo, devemos sempre agradar-Lhe e não aos homens (Gl.1:10).

-A soberba da vida é a recusa ao senhorio de Cristo, é a insubmissão a Deus, é crer na mentira satânica de que podemos ser iguais a Deus, sabendo o bem e o mal, definindo o que é certo e o que é errado, é recusar glorificar a Deus (Gn.3:5; Rm.1:21,22).

-Renunciar à soberba da vida é reconhecer que Jesus é Mestre e Senhor e que devemos servi-l’O e fazer-Lhe a vontade, não mais vivermos, mas deixar que Ele viva em nós (Gl.2:20).

-Nesta renúncia da soberba, passamos a amar a lei do Senhor, a observar os Seus mandamentos, pois sabemos que esta é a Sua vontade. No caminho da salvação, amamos extremamente a Palavra de Deus (Sl.119:167).

V– VIVENDO NO PRESENTE SÉCULO SÓBRIA, JUSTA E PIAMENTE

-Paulo diz, ainda, a Tito que, além de nos ensinar a renunciar à impiedade e às concupiscências mundanas,
devemos, também, neste presente século, viver sóbria, justa e piamente (Tt.2:11,12).

-Trafegar no caminho da salvação não nos retira desta Terra, é uma “peregrinação (I Pe.1:17), e, enquanto estamos neste mundo, embora indo para o céu, convivemos com todas as mazelas aqui existentes. Estamos no mundo e o Senhor Jesus não quer que dele sejamos tirados (Jo.17:11,15).

-Referindo-nos à feliz alegoria de Bunyan, ao longo de sua obra, vemos Cristão ter contato com diversas personagens que, embora cruzassem o caminho da salvação ou estivessem à sua margem, não eram salvos, tendo havido mesmo contato com demônios.

Cristão sempre estava consciente que caminhava para a Cidade Celestial, mas que, até atravessar o rio, lá não estaria. Houve até mesmo uma personagem que pensou poder entrar na cidade e até entrou no rio, mas lá não chegou, personagem esta chamada Ignorância.

OBS: Eis a história do fim de Ignorância, ao término das aventuras do peregrino: “…Enquanto eu observava todas aquelas coisas, olhei para trás e vi Ignorância saindo do outro lado do rio, mas logo recuperou o tempo perdido e chegou com menor esforço do que os peregrinos; pois havia seguido até um lugar onde havia um barqueiro chamado Vã Esperança que com seu barco ajudou-o a atravessar o rio, assim como já havia feito com muitos outros. Vi também que Ignorância começava a subir a montanha para chegar aos portões.

Ele, todavia, subia sozinho e não tinha ninguém que o ajudasse, nem mesmo para lhe dar uma palavra de encorajamento.

Quando ele chegou aos portões, viu o que estava escrito nos seus umbrais e logo em seguida começou a bater, supondo que rapidamente permitiriam sua entrada. Porém, foi inquirido pelos homens que olhavam por cima do portão: ‘Quem é você e de onde você vem?’ E Ignorância respondeu: “Eu comi e bebi na presença do Rei e Ele ensinou em nossas ruas’. Em seguida lhe perguntaram onde estava o seu diploma selado da salvação, para que fosse apresentado ao Rei. Ignorância tateou no bolso junto ao seu peito, mas nada encontrou. ‘Onde está o seu diploma?” — eles perguntaram novamente. Ignorância, contudo, nada respondeu. Informaram ao Rei da situação que acontecia.

Ele, contudo, não desceu para encontrá-lo. Ao invés disso, enviou os mesmos dois Homens Resplandecentes que conduziram Cristão e Esperançoso até a cidade, para que o retirassem dali. Ordenou-lhes, também, que amarrasse os pés e as mãos de Ignorância e o expulsasse da Cidade Celestial.

Os Resplandecentes pegaram Ignorância e o amarraram, levaram-no através dos ares até a porta que ficava ao pé da montanha — a mesma que fora mostrada aos peregrinos pelos Pastores e o lançaram porta adentro.

Foi nesse momento que compreendi que aquela porta era um caminho para o inferno, do mesmo como como havia um caminho desses na Cidade da Destriuição, também poderia ser encontrado um às portas do Céu. Então eu acordei e vi que tudo havia sido um sonho.” (BUNYAN, John. Trad. de Simone Lacerda de Almeida e Viviane Borges Soares Andrade. Cláudio Rodrigues (ed.). O peregrino – parte 1: as aventuras do peregrino, p.318).

-Enquanto estamos nesta peregrinação, mister se faz que vivamos sóbria, justa e piamente aguardando a bem- aventurada esperança e o aparecimento da glória do Senhor Jesus.

-A palavra grega traduzida por “sobriamente” é a palavra “sophronos” (σωφρόνως), cujo significado é “…com lucidez, i.e., moderadamente:— sobriamente, lucidamente” (BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS- CHAVE. Dicionário do Novo Testamento, verbete 4996, p.2419), palavra que deriva de “sophron” (σώφρων), cujo significado é “…são (seguro) na mente, i.e., controlado (moderado quanto à opinião ou paixão):— discreto, prudente, sóbrio, lúcido, moderado.”

-A vida sóbria é uma vida sem embriaguez, ou seja, uma vida sem excessos, equilibrada, com autodomínio e contenção. Temos aqui a ordem de amarmos a nós mesmos, de agirmos conscientes de nossa pequenez, de nossa dependência de Deus, de nossa condição de “pobres de espírito” (Cf. Mt.5:2).

-Não podemos confiar em nós mesmos (Jr.17:5), mas entregar nosso caminho ao Senhor e n’Ele confiar (Sl.37:5). A manutenção da confiança em Deus, inclusive, é condição para que permaneçamos sendo “casa de Deus” (Hb.3:6).

-A vida sóbria leva-nos a sofrer as aflições, fazer a obra do Senhor e cumprir o ministério (II Tm.4:5).

-Tem aqui lugar, aliás, uma das principais figuras pelas quais as Escrituras identificam os salvos, a saber, a figura de ovelha, um animal dependente do seu pastor, delicado e que não tem iniciativa própria. Nós somos feitos ovelhas pelo Senhor (Sl.100:3) e o próprio Cristo denomina Seus discípulos de ovelhas, sendo Ele o pastor (Jo.10:11,14-16,26-29).

-As ovelhas são animas dóceis, inteligentes, dotadas de emoções complexas e que pode até desenvolver laços de amizade, sendo ruminantes.

Todas estas características revelam como deve ser a vida sóbria do discípulo de Cristo: alguém que tem de ser manso e humilde de coração, sempre próximo ao Senhor, seu pastor, sempre se alimentando do pasto a que foi conduzido pelo pastor, de forma contínua (ruminação), desenvolvendo sempre a afeição aos irmãos e a Jesus.

-Neste ponto, aliás, chegamos à vida justa, outra exigência na condução desta peregrinação terrena. Cristo ensina-nos que não podemos julgar segundo a aparência mas segundo a reta justiça (Jo.7:24) e isto já nos mostra que não podemos nos guiar segundo a nossa mente, pois o homem sempre julga segundo a aparência (I Sm.16:7).

-Viver justamente é viver segundo a Palavra de Deus, fazer aquilo que agrada a Deus e não fazer aquilo que Lhe desagrada. Seremos justos se temermos ao Senhor, isto é, se Lhe obedecermos, cumprindo a Sua Palavra.

-O viver justo estabelece um saudável relacionamento com o próximo, a quem devemos amar como a nós mesmos (Lv.19:18; Mt.22:39; Mc.12:31).

Tanto assim é que, no Salmo 15, ao descrever a conduta daquele que habitará com o Senhor em Seu tabernáculo, Davi mostra como se está diante de alguém que se relaciona corretamente com o próximo: “anda em sinceridade, pratica a justiça, fala verazmente segundo o seu coração, não difama com a sua língua, não faz mal ao seu próximo, não aceita alguma afronta contra o seu próximo, despreza o réprobo, honra os que temem ao Senhor e, mesmo que jure com dano seu, não muda, não empresta seu dinheiro com usura, não recebe subornos contra o inocente”.

-Ao revés, aquele que não obedece ao Senhor, que recusa glorificar-Lhe, tem um comportamento que prejudica o semelhante, como bem descreve o apóstolo Paulo em Rm.1:28-31, a saber:

“cheios de toda iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade, cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade, sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e à mãe, néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia”.

-Bem disse o Senhor Jesus que, pelos frutos, conhecemos se alguém vive, ou não, justamente (Mt.7:16-20).

-O terceiro ponto da vida de quem trafega pelo caminho da salvação é a vida pia ou piedosa, ou seja, uma vida de correto relacionamento com Deus. Além de amarmos a nós mesmos e ao próximo, temos de amar a Deus sobre todas as coisas, de todo o coração, e de toda a alma e de todo o pensamento, o primeiro e grande mandamento da lei (Mt.22:37).

-Esta vida piedosa leva-nos a priorizar o nosso relacionamento com Deus e, por causa disto, estamos sempre a buscar o reino de Deus e a sua justiça, entendendo que as coisas desta vida são meros acréscimos,

necessidades que precisam ser satisfeitas, mas que não são o alvo de nossa existência neste mundo (Mt.6:31- 33).

-Nosso alvo, como disse o apóstolo Paulo, é a cidade celestial (Fp.3:14,20,21), como era o objetivo dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Hb.11:13-16). Desta forma, temos de seguir as pisadas de Jesus e, seguindo o Seu exemplo, almejarmos a glorificação, que é o estágio final do nosso processo de salvação. Quem tem esta esperança purifica-se a si mesmo (I Jo.3:3). Temos feito isto?

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10436-licao-4-como-se-conduzir-na-caminhada-i

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