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LIÇÃO Nº 4 – GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE

 LIÇÃO 04

O salvo em Cristo Jesus é uma nova criatura.

 

INTRODUÇÃO

 – Na sequência do estudo do livro de Tiago, analisaremos hoje o que o irmão do Senhor fala sobre a nova realidade da vida do salvo em Cristo Jesus.

 – O salvo em Cristo Jesus é uma nova criatura, gerada pela palavra da verdade.

 I – A IGUALDADE EXISTENTE ENTRE OS SERVOS DE DEUS

 – Continuando o estudo da epístola universal de Tiago, o Setor de Educação Cristã da Casa Publicadora das Assembleias de Deus reservou para o estudo desta lição dois trechos da epístola; Tg.1:9-11 e Tg.1:16-18.

– Na lição anterior, já abordamos o trecho de Tg.1:9-11, sob o enfoque da humildade, uma vez que este trecho está, realmente, umbilicalmente relacionado com a necessidade de sermos humildes na presença de Deus.

 – Conforme já tivemos oportunidade de assinalar naquela lição, as provações têm o efeito de mostrar que todos os homens são iguais, dependem todos de Deus para poder suportar todas as aflições deste mundo e, assim, de forma perseverante, chegar aos céus após a sua peregrinação terrena.

 – Quando compreendemos nossa dependência de Deus e a absoluta necessidade de estarmos debaixo de Sua potente mão, passamos a não dar prioridade às coisas deste mundo e, por conseguinte, não nos achamos superiores a quem quer que seja, o que tem um efeito imenso em nosso relacionamento com o próximo, visto que passamos a respeitá-lo e a vê-lo como um igual a nós, como alguém que também precisa estar submisso ao Senhor.

 – Pois bem, é sob um novo ponto-de-vista que queremos aqui analisar este trecho da epístola, que é retomado pelo nosso comentarista, a saber, o da igualdade que existe entre os homens.

 – Vivemos dias em que, aos quatro ventos, se está a defender o princípio ético da igualdade entre os homens. Com efeito, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela Organização das Nações Unidas em 1948 e que é um norteador ético do mundo, diz, com todas as letras, em seu artigo 1º, que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direito. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.

 – Esta noção da igualdade essencial que existe entre os seres humanos é um dos grandes legados que a doutrina cristã trouxe para a humanidade. Com efeito, mesmo entre os mais destacados pensadores da história, como, por exemplo, os filósofos gregos, tal conceito era inexistente, pois se entendia que havia seres humanos que eram superiores a outros. Aristóteles, por exemplo, cria que os escravos eram dotados de uma “alma inferior” a de seus senhores e chegava mesmo a questionar se as mulheres eram dotadas de alma…

– Na Bíblia Sagrada, vemos que Deus sempre demonstrou que os homens têm igual dignidade, dignidade esta que é resultado de serem todos feitos à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27). Por mais de uma oportunidade, as Escrituras mostram que Deus trata a todos os homens de igual modo, imparcialmente, pois Ele não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; II Cr.19:7; Jó 34:19; Is.47:3; At.10:34; Rm.2:11; Ef.6:9; Cl.3:25; I Pe.1:17).

 – Há igualdade entre os homens, todos são dotados da mesma dignidade, todos devem se submeter a Deus, de quem são criaturas e o Senhor os trata da mesma maneira, sem privilegiar qualquer um deles.

 – Entretanto, ao mesmo tempo em que os homens têm a mesma dignidade e são tratados por Deus da mesma maneira, o fato é que cada ser humano e distinto do outro. Não há dois seres humanos que sejam idênticos sobre a face da Terra, tanto que é possível individualizar um do outro, como demonstram algumas características físicas únicas como as digitais ou a íris, que são, inclusive, utilizadas para a identificação peculiar, única e singular de cada ser humano.

 – Ao mesmo tempo que todos os homens são iguais em dignidade, devendo ser igualmente tratados, já que o Criador os trata do mesmo modo e maneira, cada ser humano também é diferente um do outro, não há dois seres humanos idênticos, nem mesmo os gêmeos univitelinos, como deixou a Bíblia registrado no caso de Jacó e Esaú que, apesar de serem gêmeos, eram completamente diferentes um do outro.

 – Assim, devemos entender o princípio bíblico da igualdade dentro desta dupla faceta: por primeiro, todos os homens são iguais em dignidade, devem ter o mesmo tratamento. É o que Deus estabeleceu na criação do ser humano, tendo-os criado “macho e fêmea”, à imagem e semelhança d’Ele (Gn.1:27).

 – Por segundo, embora sejam iguais em dignidade, são distintos uns dos outros, não há um ser humano idêntico ao outro, são “indivíduos”, ou seja, pessoas que são singulares, não podem ser confundidas com quaisquer outras e, por isso, não podem ser tomadas como uma “massa”, como um “número”, como um conjunto, tendo cada uma peculiaridades que exigem, assim, uma singularidade, um cuidado personalíssimo, uma especificidade que não se reproduz com qualquer outro.

 – Deste modo, embora a Bíblia Sagrada determine que, a exemplo do Senhor, todo ser humano deva tratar as pessoas sem acepção, sem qualquer parcialidade (Dt.16:19; Jó 32:21; Tg.2:1), tanto que o Senhor condena quem assim não age (Ml.2:9; Tg.2:9), também é evidente nas Escrituras que o Senhor tem um cuidado especial e único para com cada uma de Suas criaturas, tanto que as biografias das personagens bíblicas jamais se repetem, aliás, o Senhor Jesus, em Seu ministério terreno, agiu de tal maneira que até seus milagres foram singulares e diferentes uns dos outros, a mostrar a especificidade de cada ser humano.

 – Nos dias em que vivemos, infelizmente, muitos têm cedido ao falso ensino do “igualitarismo”, ou seja, a doutrina que entende que todos os homens são idênticos, absolutamente iguais e que devem, portanto, ser tomados como uma “massa”, sem qualquer especificidade. Tal teoria leva à aniquilação das individualidades, à completa desconsideração das peculiaridades e singularidades, o que é evidente contrário à natureza das coisas e deve ser repelido.

 – Tiago, ao falar da humildade que deve permear o ser humano, da absoluta necessidade que temos de Deus, mostra que esta dependência e esta humildade levam em conta as diferenças que existem entre os seres humanos, diferenças que devem ser respeitadas, apesar de todos serem iguais diante de Deus.

 – Tanto assim é que nos faz ver que, no meio da igreja, há ricos e pobres. Assim, ao falar da necessidade de sermos humildes e de sabermos enfrentar as provações, fala que o irmão abatido se glorie na sua exaltação e o rico, em seu abatimento (Tg.1:9,10).

 – Tiago mostra, assim, claramente que, na igreja, há tanto ricos como pobres, realidade esta, aliás, que, de pronto, devemos observar que foi de difícil compreensão para a igreja em Jerusalém que, nos seus primeiros dias, viveu um instante de comunhão material de bens, pois todos os que eram ricos vendiam suas propriedades e entregavam o preço aos pés dos apóstolos (At.2:45; 4:32,34).

 – Muito se discute sobre este comportamento dos primeiros cristãos em Jerusalém. Entendem alguns que tal conduta foi precipitada, fruto de uma equivocada consciência da iminente volta de Cristo; outros, ao contrário, já consideram que este comportamento era o “primeiro e genuíno amor cristão” e que revelava um desprendimento das coisas materiais que, pouco a pouco, foi desaparecendo entre os cristãos e que isto seria um “arrefecimento espiritual”. Outros, ainda, procuram ver nesta conduta uma “identificação” entre o cristianismo e o comunismo.

 – Não é fácil interpretarmos este comportamento dos primeiros cristãos. De qualquer sorte, já nos dias de Tiago, ou seja, cerca de vinte, trinta anos depois deste primeiro instante da igreja de Jerusalém, a realidade era outra e não vemos que o irmão do Senhor tivesse questionado esta nova realidade e, mais do que isto, considerado que a nova situação fosse pecaminosa ou errada.

 – O que se percebe é que aquele gesto dos primeiros crentes, embora animado por uma sinceridade e um espírito de amor fraternal, não representava algo que fosse essencial à fé cristã, até porque, como o Senhor Jesus mesmo ensinou, os pobres sempre existirão (Mt.26:11; Mc.14:7; Jo.12:8).

 – Assim, Tiago, ao falar da presença tanto de ricos quanto de pobres no seio da Igreja, mostra-nos que o “igualitarismo” é uma ficção humana, trata-se de mais uma doutrina que revela toda a presunção humana, que quer ser “mais realista do que o rei”, que está a revelar mais uma demonstração de soberba dos homens que insistem em querer modificar aquilo que foi soberanamente estabelecido pelo Criador.

 – Nesta Terra, sempre haverá ricos e pobres, mesmo entre os que servem a Jesus Cristo, e tanto ricos quanto pobres deverão sempre viver debaixo da potente mão de Deus, reconhecendo-O como o verdadeiro e único Senhor, como Aquele a quem todos devem se submeter.

 – É interessante notar que, entre os sábios rabínicos judeus (e aqui os citamos porque, como vimos já neste trimestre, Tiago é um escrito que segue um padrão judaico), era dito que “…quando Deus havia dado a riqueza aos abastados, não as havia entregue em caráter definitivo, nem como recompensa por suas ações ou por qualquer mérito especial.

 Era somente para que a retivessem em custódia para os pobres! Os ricos seriam, assim, meros agentes fiscais de Deus, por assim dizer, em favor dos pobres! Estender a tzedakah [caridade, observação nossa] aos pobres ‘com todo o coração’ tinha, portanto, a significação intrínseca de um ato de ‘virtude’. Daí ter-se desenvolvido o axioma que, se os ricos fossem realmente honestos e tementes a Deus, distribuiriam prazerosamente a riqueza que retinham em custódia de Deus, entre os inúmeros credores de Deus — os pobres, os doentes, os desamparados, os necessitados etc.…’ (AUSUBEL, Nathan. Caridade. In: A JUDAICA, v.5, p.114) (destaques originais).

 – Por isso, Tiago não recrimina a existência de pobres e ricos na igreja, nem considera isto como algo errado, mas faz questão de observar que ambos devem entender que a sua situação na sociedade não lhes pode fazer deixar de servir a Deus e de perder de vista o verdadeiro foco que é a eternidade.

 – Assim, o “irmão abatido”, que é o pobre, deve se gloriar na exaltação, ou seja, não deve se revoltar com a sua presente situação nem desejar que o Senhor lhe retire esta pobreza, mas considerar que, embora seja pobre e desconsiderado na sociedade terrena, está para ele reservada uma glória que não é para comparar com as coisas deste mundo (Rm.8:18), quando ocorrerá a sua verdadeira exaltação (Tg.1:9).

 – De igual modo, e com ainda maior cuidado, deve o rico não se deixar levar pelas suas riquezas nesta vida, que lhe trazem prestígio, comodidade e poder, mas, mesmo nesta situação, deve considerar que tudo neste mundo é passageiro e que a existência terrena é como a flor da erva, de modo que tudo o que o rico tem e goza neste mundo murchará como a flor da erva, rapidamente.

 – Por este motivo, aliás, disse o Senhor Jesus, em Seu ministério terreno, que é mais difícil um rico se salvar. A ilusão produzida pelas riquezas é, realmente, um obstáculo a mais para que alguém receba a Cristo como Senhor e Salvador de sua vida (Mt.19:23,24; Mc.10:25; Lc.18:25).

 – Devemos aqui evitar um pensamento equivocado, fruto, aliás, da doutrina igualitarista, de que o Senhor Jesus deu preferência aos pobres, de que o Evangelho é voltado primeiramente aos pobres. Tal pensamento é cabalmente desmentido pelas Escrituras, já que, como vimos, Deus não faz acepção de pessoas e o Senhor Jesus é a propiciação pelos pecados de todo o mundo (I Jo.2:2), tendo mandado pregar o Evangelho a toda criatura (Mc.16:15), o que, à evidência, inclui tanto ricos quanto pobres.

 – No entanto, o que o Senhor Jesus disse é uma constatação da realidade: o rico tem um obstáculo a mais para receber a Cristo como Senhor e Salvador, que são as suas riquezas. Quem é rico desfruta de uma situação vantajosa neste mundo terreno e, por isso mesmo, é mais fácil de ser iludido quanto às coisas desta vida, uma vez que vive regaladamente sobre a face da Terra. Assim, é mais difícil a ele entender que tudo de que está a gozar é passageiro e não leva a lugar algum, enquanto que o pobre, por sofrer carências e necessidades, tem mais fácil a percepção de que este mundo é enganoso e que há algo muito melhor a se buscar e a se desfrutar.

 – Tiago insiste, logo no limiar da sua epístola, portanto, de que as diferenças existentes entre ricos e pobres nada representam em termos de salvação, em termos de relacionamento com Deus.

 Tanto ricos quanto pobres devem se humilhar diante de Deus e entender que estas situações vividas sobre a face da Terra são passageiras e que ambos precisam servir a Deus e buscá-l’O, pois nada disso que aqui há representará qualquer privilégio ou vantagem para o mundo vindouro. Ambos são iguais diante de Deus e devem se humilhar diante d’Ele para que, por Sua graça e misericórdia, possam ter uma vida eterna com Ele. Temos tido esta consciência, amados irmãos?

 – Tiago aqui mostra claramente como o discurso materialista da teologia da prosperidade é vão e enganoso. Tiago não diz que o pobre deve buscar a riqueza, mas, antes, que o rico entenda que a posse de bens materiais é passageira e não leva a lugar algum. Devem todos reconhecer que dependem de Deus e buscá-l’O com prioridade, sabendo que o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17). Que este possa ser, também, o foco de cada um de nós.

 II – DEUS SEMPRE FAZ O BEM

 – Depois de ter mostrado a igualdade que há entre ricos e pobres, apesar da existência tanto de um quanto de outro, inclusive na igreja, o irmão do Senhor, depois de ter falado sobre a tentação maligna (assunto que já estudamos na lição 2), faz uma recomendação aos salvos, qual seja, a de que eles não deviam errar (Tg.1:16).

 – Tendo distinguido entre a provação e a tentação, ou seja, entre as provas dadas por Deus visando o nosso crescimento espiritual e as sugestões feitas pela carne, pelo diabo e pelo mundo visando a nossa morte espiritual, Tiago pede aos crentes que saibam discernir entre uma e outra e, assim, sabendo diferençar cada situação de sua vida, possam prosseguir a sua peregrinação terrena, perseverando até o fim para que alcancem a salvação (Mt.24:13).

 – O erro é algo que deve ser evitado a todo custo pelo salvo em Cristo Jesus. A palavra grega original aqui é “planáo” (πλανάω), cujo significado é “ ser seduzido, ser extraviado, ser feito errar, ser desencaminhado, ser iludido”.

 Vemos, pois, que a recomendação de Tiago em o sentido de alertar os salvos a que não saiam da orientação divina, que não deixem de se submeter a Deus, deixando-se enganar pela carne, pelo diabo ou pelo mundo.

 – Ante as circunstâncias adversas que são inevitáveis neste mundo, o salvo precisa ter o devido discernimento para saber se se tratam de providências divinas para o aprimoramento espiritual ou se são sugestões provenientes da carne, do mundo e do diabo para que fracassemos espiritualmente.

 – Este erro é tanto mais possível e provável quando não nos pautamos pela Palavra do Senhor, como também quando não buscamos o poder de Deus. O Senhor Jesus disse que o erro provém de não conhecermos as Escrituras nem o poder de Deus (Mt.22:29; Mc.12:24).Assim, para que bem saibamos discernir as circunstâncias que nos cercam em nossa peregrinação terrena, precisamos ter uma vida de meditação na Bíblia Sagrada como também incessantemente buscarmos o poder de Deus, tendo uma vida de oração e de busca das bênçãos espirituais que já nos foram concedidas por Cristo Jesus (Ef.1:3).

– Quando meditamos nas Escrituras Sagradas e buscamos o poder de Deus entendemos que toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em que não há mudança nem sombra de variação (Tg.1:17).

– Não podemos jamais esquecer que Deus é bom e que é a fonte de todo o bem. Deus jamais faz o mal e o que pensamos ser um mal em nossa pequenez de entendimento será sempre um meio para que alcancemos um bem maior, pois todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto (Rm.8:28).

– Deus é bom e não pode nem desejar nem fazer o mal a quem quer que seja. Então, se assim é, por que o mal existe e, mais, por que o profeta Isaías disse que Deus criou o mal , consoante vemos em Is.45:7?

 – O mal existe no mundo não porque provenha de Deus, mas, sim, como resultado da natural imperfeição que existe em toda criatura. O mal é antes o resultado de uma falta, de uma carência existente em toda criatura, nunca é uma ação direta de Deus.

 – O mal exsurge na criação como uma possibilidade. Ao fazer as Suas criaturas, Deus criou a possibilidade de o mal surgir, porquanto o mal está vinculado à imperfeição e toda criatura, por ser criatura, é imperfeita, pois só Deus pode ser perfeito em sua plenitude. Assim, no próprio ato da criação, gera-se a imperfeição e a imperfeição faz com que o mal seja uma possibilidade. No entanto, o mal só se converte em uma realidade quando as criaturas dotadas de livre-arbítrio (anjos e homens) resolvem se afastar de Deus, ter uma vida independente d’Ele e, neste ponto, então, surge o mal como uma realidade, surge o pecado.

 – Foi precisamente isto que ocorreu com Satanás que, ainda querubim ungido, desejou ser maior do que Deus, ter uma vida independente do Senhor (Is.14:12-15). Não é por outro motivo que as Escrituras dizem que a iniquidade do diabo foi achada nele (Ex.28:15), indicando, assim, que a origem do mal não estava em Deus, mas no próprio diabo.

 – O mesmo ocorreu com o ser humano. Ao aceitar a proposta enganosa do inimigo de nossas almas, o homem tornou realidade o pecado na humanidade, razão pela qual as Escrituras dizem que o pecado teve por origem o próprio homem, pois foi por um homem que ele entrou no mundo (Rm.5:12; I Co.15:21). Vemos, portanto, que jamais Deus é fonte do mal ou do pecado, pois d’Ele somente vem o bem.

 – Como diz Tomás de Aquino: “…o homem é a causa do seu pecado e do de seu próximo de duas maneiras: primeiro, diretamente, a saber, inclinando sua vontade ou a de outro a pecar. Segundo, indiretamente, isto é, quando não retraia alguns do pecado…” (Suma Teológica I-II, q.77 a.1. n. 1581. Cit. Tg.1:17,18. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 27 maio 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

 – Tudo o que é bom provém de Deus, pois Ele é bom e a Sua benignidade dura para sempre (Sl.107:1; 118:1,29), ou seja, Ele não somente faz o bem, mas quer o bem para todos os homens (Sl.145:9).

 – Temos de ter esta convicção de que o Senhor é bom e que Ele não deseja o mal para quem quer que seja. Quando temos esta certeza, passamos a confiar n’Ele (Sl.34:8) e esta confiança faz com que sejamos atingidos pela Sua graça e misericórdia.

 – Tiago mostra que esta noção de dependência de Deus somente será uma realidade na vida do ser humano quando este perceber que o Senhor é bom e que, portanto, devemos confiar n’Ele, entregando a Ele o nosso caminho, sabendo que Ele tudo fará (Sl.37:5).

 – Quando confiamos em Deus, percebemos que Ele é bom, experimentamos a Sua bondade. Não é por outro motivo que o salmista nos convida a “provar” que o Senhor é bom. Precisamos experimentar a Sua bondade e isto somente se dá quando nos pomos em Suas mãos, quando “nos escondemos nos braços do Senhor”. Como diz o poeta sacro Salomão Luís Ginsburg (1867-1927): “Em Teus braços eu me escondo, onde sempre quero estar, ao Teu lado, protegido, eu desejo caminhar” (estrofe do hino 310 do Cantor Cristão).

– O Senhor é bom e, por isso, trata-nos com a Sua misericórdia, e, por isso, sempre faz o bem ao ser humano.

 A misericórdia é não dar aquilo que merecemos. Deus, por ser bom, não trata o homem como devia ele ser tratado, ou seja, com desprezo e abandono, diante do pecado e da ingratidão do homem em relação ao seu Criador, mas, ao revés, o Senhor, por ser bom, não dá ao homem o juízo devido, mas, antes, o chama ao arrependimento, é longânimo, tardio em irar-se, dando ao homem a oportunidade de reconciliação, para que possa desfrutar da eterna companhia de Deus.

– Em virtude da bondade de Deus, o homem deve sempre louvá-l’O, ser-Lhe gratos (Sl.54:6; 106:1; 107:1; 118:1,29; 135:3; 147:1) e não é por outro motivo que quando celebramos a ceia do Senhor devemos fazê-lo em ação de graças, como um perfeito louvor ao Senhor que nos remiu do pecado, sendo, pois, bem propício que se denomine a participação no corpo e sangue do Senhor de “eucaristia”, que, em grego, significa “ação de graças”.

 OBS: Por sua biblicidade, ainda que não se possa considerar a Ceia um “sacrifício”, mas, sim, a celebração do sacrifício de Cristo, reproduzimos aqui a respeito expressão do ex-chefe da Igreja Romana João Paulo II: “…Na celebração do sacrifício eucarístico, a Igreja eleva a sua prece a Deus, Pai de misericórdia, para que conceda aos seus filhos a plenitude do Espírito Santo de modo que se tornem em Cristo um só corpo e um só espírito.(Anáfora da Liturgia de São Basílio) Quando apresenta esta súplica ao Pai das luzes, do Qual provém toda a boa dádiva e todo o dom perfeito (cf. Tg 1:17), a Igreja acredita na eficácia da mesma, porque ora em união com Cristo, Cabeça e Esposo, o Qual assume a súplica da Esposa unindo-a à do seu sacrifício redentor.…” (Carta encíclica Ecclesia de eucharistia. n. 43. Disponível em; http://www.vatican.va/holy_father/special_features/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_20030417_ecclesia_eucharistia_po.html Acesso em 27 maio 2014).

 – Tudo quando provém de Deus é bom, Deus não pode desejar nem praticar o mal. Portanto, por maiores que sejam as dificuldades vividas pelo salvo aqui nesta Terra, devemos sempre lembrar que é algo que nos proporcionará um bem maior do que aquilo que poderíamos almejar se não estivéssemos a passar as dificuldades da vida.

 – De igual modo, toda e qualquer vantagem, todo e qualquer benefício momentâneo que venha a trazer prejuízos e males vindouros, não pode ser considerado como proveniente de Deus. A bênção do Senhor enriquece e Ele não acrescenta dores (Pv.10:22).Deus não pode querer o mal a ninguém, por isso o próprio Tiago dissera que Deus não pode tentar a pessoa alguma (Tg.1:13). Assim sendo, se algo que, aparentemente é bom, traz males a alguém, isto não vem de Deus e não podemos titubear quanto a isto.

 OBS: “…ainda algumas vezes, segundo temos dito, o demônio tem aconselhado a alguma pessoas fazer algum bem particular, para com aqueles conselhos tornar-se digno de crédito, para depois enganar; mas fazer um homem perfeitamente bom e cumpridor da lei natural — a qual não pode negar-se ser boa, pois Deus é o autor da natureza — esta tal obra não a faz nem a pode fazer o demônio, pois não pode dar a bondade que não tem…” (ÁVILA, João de. Audi Filia. Cap. 37. n. 37. Citação de Tg.1:17,18. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 27 maio 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

 – Mas, além de mostrar que todo bem vem de Deus, Tiago faz questão de dizer que esta boa dádiva e este dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes (Tg.1:17). Precisamos entender, portanto, que o bem não pode ter origem neste mundo, que está no maligno (I Jo.5:19), nem tampouco no interior do homem, que, por causa de sua natureza pecaminosa, é essencialmente mau (Mt.7:11). O bem somente pode vir de Deus, vem do alto, não vem da terra.

 – É importante observarmos isto, porque há muito que os homens têm se enganado e iludido, achando que o bem pode se originar de alguma prática humana, de algum sistema filosófico-político ou econômico. Ao longo da história da humanidade, levantaram-se muitos homens que procuraram construir uma sociedade perfeita um verdadeiro paraíso aqui na Terra, criando, para isto, ideologias, filosofias, religiões e tantas outras invenções humanas, que, entretanto, uma após a outra, naufragaram, fracassaram, deixando, não raro, um sem-número de tragédias, rios de sangue e tantos prejuízos, muitos deles que perduram até os dias de hoje.

– Tudo isto se deveu ao fato de o homem não entender que o que é bom, o que é perfeito, não pode provir da mente ou do coração do homem, mas tem de vir do alto, descendo do Pai das luzes. Se Deus é a fonte de todo o bem, devemos buscar em Deus este bem, esta perfeição, jamais no homem, jamais na sociedade.

 OBS: “…Dádivas boas e perfeitas são flores ricas demais e raras para florescer debaixo do monturo da natureza humana…(SPURGEON, Charles H. Um tipo de primícias. Sermão ministrado na noite de domingo de 5 de janeiro de 1868 no Tabernáculo Metropolitano em Newington, p.1. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols55-57/chs3275.pdf Acesso em 27 maio 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

 – Os dias em que vivemos são dias em que se aumenta a iniquidade, em que o mal está crescendo intensamente, precisamente porque boa parte da humanidade está preocupada em viver sem buscar a Deus, em que boa parte dos homens insiste em querer viver como se Deus não existisse. O resultado disto é que a maldade se multiplica, precisamente porque há um afastamento e uma recusa em se ir à fonte do bem. Quanto menos bem tivermos, mais mal teremos. Pensemos nisto!

 – O Senhor é chamado por Tiago de “Pai das luzes”. O que é bom é relacionado com a luz, é transparente, visível, claro, público e notório. O Senhor Jesus, em Seu diálogo com Nicodemos, afirmou que todo aquele que pratica o mal aborrece a luz, uma vez que a luz reprova as más obras (Jo.3:20).

 – Temos aqui mais um indicador que nos permite distinguir o certo do errado, o bom do mau. Aquilo que é bom é transparente, claro, visível, público e notório. Aquilo que é obscuro, escondido, secreto, nebuloso não pode ser seguido por quem quer ter comunhão com o Senhor, pois é algo mau, algo que é reprovado pela luz.

 – Por isso, devemos rejeitar todo e qualquer esoterismo, entendido “esoterismo” como “…o nome genérico que designa um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões que buscam desvendar seu sentido supostamente oculto…” (Esoterismo. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Esoterismo Acesso em 27 maio 2014).

  Deus é o “Pai das luzes” e nos revelou claramente o Seu plano e a Sua vontade por intermédio da Sua Palavra. Assim, não nos deixemos iludir com supostos “conhecimentos espirituais secretos”, que só possam ser revelados a quatro paredes, em reuniões sigilosas. Nosso Deus é o “Pai das luzes”. O próprio Senhor Jesus dá-nos o exemplo ao dizer que tudo que ensino fê-lo abertamente, às claras (Jo.18:20).

 – Mas, além de ser luz e não haver n’Ele trevas nenhumas (I Jo.1:5), Deus é o “Pai das luzes”. Francisco de Sales, em um sermão, afirmou com absoluta biblicidade que “…as crianças que têm um bom pai devem imitá-lo e seguir as suas ordens em todas as coisas. Ora, nós temos um Pai melhor do que todos os outros e do qual toda bondade deriva (Tg.1:17), cujos mandamentos são sempre perfeitos e saudáveis e é por isso que devemos imitá-l’O o que mais perfeitamente que pudermos e obedecer às divinas ordenanças…” (Amor ao próximo 2: o novo mandamento. Sermão do terceiro domingo da Quaresma. 27 fev. 1672. n. 100. Citação de Tg.1:17,18. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 27 maio 2014) (tradução nossa de texto em francês).

 – Para que possamos, pois, desfrutar de todas as boas dádivas e de todos os dons perfeitos que nos vêm de Deus, é preciso que sejamos Seus filhos, que Ele nos seja Pai, o que somente ocorre quando recebemos a Cristo como nosso Senhor e Salvador, pois quem crê em Cristo é feito filho de Deus (Jo.1:12). E, como filhos, somos-Lhe obediente, fazemos o que Ele quer (Jo.15:14).

 – Deus não muda, diz o irmão do Senhor, lembrando, aqui, o que já dissera o profeta Malaquias (Ml.3:6). Em Deus não há mudança nem sombra de variação, de forma que não podemos, em hipótese alguma, achar que Deus vá alterar o Seu comportamento, a Sua conduta ou o Seu caráter. Deus é imutável.

 – Isto é importante, porque muitos, em nossos dias, acham que Deus pode mudar, que pode alterar a Sua maneira de agir. Entre os que assim pensam estão todos os que querem “contextualizar” a Bíblia Sagrada, que veem nas Escrituras um texto anacrônico e que deve ser “reinterpretado” à luz dos novos tempos. É muito triste vermos muitos que cristãos se dizem ser querendo abandonar o texto sagrado, por considerá-lo “antigo” e “ultrapassado”.

 – Deus é bom, por isso jamais poderá querer ou praticar o mal. O que vem de Deus é bom e, portanto, as Escrituras são boas, as fiéis testemunhas de Cristo Jesus (Jo.5:39), de modo que seu conteúdo jamais pode ser alterado, nem tampouco pode Deus deixar de agir e proceder como se contém na Bíblia Sagrada. Ela é a verdade (Jo.17:17) e a verdade jamais pode se modificar, nunca poderá alterar o seu conteúdo.

 – Os dias em que vivemos são dias de “relativismo ético”, ou seja, dias em que não se crê na existência da verdade. A verdade é tida, pelos “gurus” de nossos tempos, como um mero “consenso”, um mero “acordo de vontades” que pode variar de acordo com o tempo, com o lugar, com a situação. No entanto, sabemos que isto é uma ilusão satânica, um ardil demoníaco para fazer com que os homens se mantenham escravizados no pecado e no maligno, pois o conhecimento da verdade liberta (Jo.8:32) e a verdade é o próprio Cristo (Jo.14:6).

 – Por isso, não podemos nos deixar levar por esta mentalidade anticristã predominante, que procura considerar que todo aquele que crê na existência da verdade é um fanático, um obscurantista, um “fundamentalista”. Fujamos deste conceito e afirmemos que há, sim, uma verdade, uma verdade que nunca muda, uma verdade que liberta, uma verdade que nos permite desfrutar de toda boa dádiva e de todo o dom perfeito, pois esta verdade é o próprio Deus que nos quer e nos faz o bem (Jr.10:10). Aleluia!

 OBS: Como afirma o Catecismo Romano, que, por sua biblicidade aqui reproduzimos: “…Em realidade, se reconhecemos a Deus como é, isto é, eterno, imutável, sempre igual a Si mesmo, afirmamos com isso a Sua infinita veracidade e, por conseguinte, a obrigação de aceitar Suas palavras e de aderirmos a Seus preceitos com plena fé e reconhecimento de Sua autoridade (Ml.3:6; Tg.1:17 — Cf. Sl.102:28; Dt.32:4). Se reconhecemos ademais Sua onipotência, Sua bondade, Seus benefícios, como não colocar n’Ele nossa ilimitada confiança e esperança ? (Sl.7:2; 16:1; 17:7 – Cf. Sl.18:31; 71:2; 73:28 etc.; Pv.16:20). E se Ele é a infinita bondade e o infinito amor derramado sobre nós, como não oferecer o nosso amor? (Rm.2:4; Jo.17:26 – Cf. Rm.12:9)…” (Os mandamentos. Capítulo 1 – Primeiro mandamento do Decálogo. n. 3100. Cit. Tg.1:17,18. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 27 maio 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

 III – GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE

 – Tiago, então, dá-nos a principal prova da bondade e da benignidade de Deus para com o homem, ao afirmar que, por Sua vontade, fomos gerados pela palavra da verdade (Tg.1:18).

 – Deus é tão bom que, sabendo de nossa situação miserável por causa do pecado, quis nos “criar novamente”, nos “gerar” pela palavra da verdade, a fim de que, como “novas criaturas”, possamos, enfim, cumprir o Seu desejo de com Ele convivermos para sempre, de vivermos em comunhão eterna com Ele.

 – Deus, por Sua vontade, quis nos salvar, quis nos dar nova vida, quis lançar para trás de Si os nossos pecados e, com isso, dar-nos uma nova oportunidade de podermos conviver com Ele para sempre.

 OBS: “…A regeneração e todas as bênçãos dela consequentes vêm para nós inteiramente através da absoluta mas graciosa vontade de Deus’. Ele não é obrigado a dar. Ele pode, se quiser, reter. Nós nada temos de reclamar de Deus, a não ser justiça — e o que isto nos envolveria senão que Ele nos puniria pelos nossos pecados?…” (SPURGEON, Charles H.end.cit., p.1)

 – Deus é bom e, por isso, assumiu o nosso lugar, na pessoa do Filho, para pagar o preço dos nossos pecados e, assim, propiciar que fôssemos gerados de novo, agora pela palavra da verdade, para que tivéssemos vida eterna.

 – Por isso, o apóstolo Paulo disse que Deus prova o Seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8). Deus é bom e, por isso, nos gera novamente pela palavra da verdade.

 – Percebemos nesta expressão de Tiago, portanto, que a salvação provém de Deus, como, aliás, toda boa dádiva e todo dom perfeito. A salvação tem origem em Deus, na Sua vontade. Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4). Sua bondade e benignidade manifestam-se por esta iniciativa divina que dá origem a todo o processo da salvação.

 – Por isso, ninguém pode se salvar a não ser pela palavra da verdade. É a verdade que liberta (Jo.8:32), é a palavra que traz a fé ao homem, sem a qual não se pode ter salvação (Rm.10:17), sem a qual jamais se poderá agradar a Deus (Hb.11:6).

 – Vemos aqui, mais uma vez, que não há qualquer discrepância entre Paulo e Tiago. Tiago reproduz aqui o mesmo ensino de Paulo no sentido de que somente poderemos ser justificados pela fé, pois, ao dizer que somos gerados pela palavra da verdade, o irmão do Senhor nada mais faz senão repetir o que o apóstolo dos gentios também ensina, ou seja, que precisamos ouvir a Palavra para termos fé em Cristo, fé esta que nos dá entrada na graça de Deus (Rm.5:1,2).

 – A geração da nova criatura dá-se pela palavra da verdade. Não há como termos verdadeira geração de uma vida em Cristo Jesus se não for pela palavra. Por isso, estão muito equivocados aqueles que pretendem trazer as pessoas a Cristo sem que haja a pregação da palavra da verdade, sem que se tenha como base a pregação do Evangelho.

 – Vivemos dias em que muitos estão tentando “ganhar almas” para Cristo Jesus através das coisas do mundo, através de um discurso agradável, “politicamente correto”, por meio de entretenimento, de diversão e de desfrute de coisas carnais que são “travestidas” de cristãs. No entanto, o máximo que se conseguirá fazer com estas atitudes é reunir “adeptos”, “prosélitos”, que, a exemplo do que ocorria com os missionários fariseus, nada mais são que “filhos do inferno duas vezes mais do que os que assim agem” (Cf. Mt.23:15).

 – No entanto, quando pregamos a palavra da verdade, palavra que não muda e que permanece para sempre (I Pe.1:25), então veremos ser geradas “novas criaturas”, pessoas que abandonam o pecado, que nele não têm mais prazer algum, para quem tudo se fez novo (II Co.5:17) e que, por isso, passam a viver de modo diferente, de modo agradável a Deus. E isto que importa a Deus, “porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura” (Gl.6:15).

 OBS: “…Amados, vocês estão cônscios, esta noite, de que vocês são novas criaturas? Alguns, talvez, tenham dúvidas a respeito disto algumas vezes, mas um homem não pode ser uma nova criatura e não estar cônscio de alguma espécie de mudança. E haverá vezes, com o mais duvidoso dos santos, que se terá a certeza e a convicção de que não se é mais como se era, mas que se já se passou da morte para a vida!…” (SPURGEON, Charles H. end.cit., p.2).

 – “…E o que é esta palavra? O que é que geralmente traz os homens para serem gerados numa nova vida? A Palavra, a palavra vivificante, é a pregação da doutrina da cruz. Amados, nenhum homem foi gerado de novo pela pregação da lei.(…)Aqueles homens que retiram a expiação do Evangelho, matam o Evangelho — são como vampiros que sugam o sangue das veias dos homens viventes e os fazem morrer! Esta palavra, ‘sangue’ é uma das solenes e importantes de toda a Escritura! O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado’ é uma das mais graves de todas as verdades da revelação(…) Sussurre na orelha de cada pecador o fato de que Cristo morreu pelos pecadores.…” (SPURGEON Charles H. end.cit., p.3) (tradução nossa de texto em inglês).

 – “…É uma regra universal de a quem mais é dado, mais é cobrado — uma regra que tanto vale para a lei quanto para o Evangelho — é uma parte do governo da grande casa de Deus. Nós fomos gerados pela Palavra para um fim, para um propósito, a saber: ‘para que fôssemos primícias das Suas criaturas’…(SPURGEON, Charles H. ed.cit., p.3) (tradução nossa de texto em inglês).

 – Esta expressão de Tiago deve ser analisada segundo o conceito judaico de “primícias” e, para tanto, devemos nos reportar ao capítulo 26 do livro de Deuteronômio, onde se vê que as primícias da terra deveriam ser levadas até o lugar escolhido pelo Senhor e ali serem entregues ao sacerdote, num cesto, que seria posto diante do altar do Senhor, ocasião em que o israelita protestaria diante do Senhor, reconhecendo sua condição miserável e rendendo graças a Deus porque, apesar de sua miserabilidade, estivesse ele sendo sustentado por Deus na sua vida terrena (Dt.26:1-11).

 – Notamos, portanto, que as primícias são os primeiros frutos obtidos pelo israelita na terra que Deus lhe havia dito e que, portanto, deveriam ser totalmente entregues ao Senhor, com ação de graças, com o reconhecimento do caráter imerecido de tal bênção obtida.

 – As primícias se davam, então, inteiramente ao Senhor, como prova do Seu amor, da Sua graça, da Sua misericórdia para com o povo de Israel. Elas eram prova viva do amor de Deus, eram totalmente dedicadas ao Senhor, mantidas separadas do restante que havia sido plantado e colhido.

 – Quando Tiago diz, então, que os salvos foram gerados pela palavra da verdade para serem “primícias das Suas criaturas”, está a nos dizer que a Igreja deve ser a prova do amor de Deus no meio dos homens, deve ser a comprovação da graça e da misericórdia de Deus, o instrumento pelo qual os homens poderão agradecer a Deus por todos os benefícios que Ele tem feito à humanidade.

 – Nós somos os primeiros frutos da bênção de Deus sobre a Terra, somos a prova da bondade divina, somos a demonstração da boa vontade que Deus tem para com os homens. O salvo deve ter uma conduta, um comportamento, uma vida que faça com que os homens reconheçam a sua miserabilidade e a prontidão de Deus em atendê-los, em transformá-los, em vivificá-los.

 – Os primeiros frutos eram reunidos num cesto (Dt.26:2). Nós, como primícias das criaturas divinas, devemos também nos reunir, nos manter juntos porém à parte do mundo, não nos misturando com o pecado, a fim de nos tornarmos distintos dos demais e, com a nossa maneira de viver diferente, despertarmos a curiosidade e despertarmos, entre os incrédulos, o desejo de conhecer a Deus. É quando nos separamos, ou seja, nos santificamos a Cristo, em nossos corações, que levamos as pessoas a perguntar a razão da esperança que há em nós (I Pe.3:15). Não era, assim, porventura, que se comportavam os primeiros cristãos em Jerusalém (At.5:13)?

 – Por isso, somos salvos para constituir grupos sociais, as igrejas locais, reunião esta que nos permitirá não só crescer espiritualmente, mediante o exercício dos dons, mas, também, fazer com que a nossa união seja um fator que faça resplandecer a luz do evangelho de Cristo, que leve a glória de Deus aos que ainda não foram alcançados pela salvação em Cristo Jesus.

 Daí que se tem como absolutamente antibíblica a postura dos chamados “desigrejados” ou “sem-igreja”, que andam por aí a disseminar o entendimento de que se pode servir a Deus isoladamente, sem que haja uma reunião em um determinado grupo social. Não é isto que Tiago nos ensina: antes que fomos feitos novas criaturas para sermos “primícias de Suas criaturas” e as primícias, em primeiro lugar, eram reunidas num cesto.

 – Mas as primícias, após reunidas, eram levadas à presença do Senhor (Dt.26:2). Não basta que estejamos separados do mundo, que nos santifiquemos, mas é preciso que todos nós, reunidos, busquemos a presença do Senhor, compareçamos ante Ele, para O adorarmos. As primícias eram levadas ao sacerdote, ao lugar escolhido por Deus para ali fazer habitar o Seu nome.

 – Como primícias das criaturas de Deus, devemos ser os primeiros a ir à presença de Deus, a buscá-l’O de todo o nosso coração, pois só assim O encontraremos (Jr.29:13). Não se pode ser salvo e não querer buscar a Deus incessantemente. Não se pode ser salvo e não desejar ardentemente cada dia mais se aproximar de Deus. Como diz o próprio Tiago: “chegai-vos a Deus e Ele Se chegará a vós” (Tg.4:8a).

 – Fomos gerados pela palavra da verdade para irmos à presença de Deus, para nos chegarmos com confiança ao trono da graça (Hb.4:16), para entrarmos no santuário pelo sangue de Jesus com verdadeiro coração e inteira certeza de fé (Hb.10:19,22).

 – Fomos gerados pela palavra da verdade para termos uma nova vida, mas não podemos ser o que se costuma denominar de “almas retardatárias”, ou seja, almas que “…como consequência de sua negligência ou preguiça espiritual, nunca saem da idade dos principiantes para continuar na dos proficientes; elas são almas retardatárias, algo parecido com esses meninos, mais ou menos anormais, que não atravessam com sucesso a crise da adolescência e que, ainda não sejam crianças, não chegam nunca ao completo desenvolvimento da idade adulta.…” (GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald. Las tres edades de la vida interiorI, 2, 20. p. 268-269 apud AZEVEDO JÚNIOR, Paulo Ricardo de. A tragédia das almas retardatárias. Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/a-tragedia-das-almas-retardatarias Acesso em 27 maio 2014).

 OBS: “…Um cristão genuíno, entendo, faz o principal e essencial objetivo de sua vida a extensão do reino de seu Mestre e a manifestação da glória do Redentor. Dificilmente pode ser tido como um cristão, salvo nominal, quem, de semana a semana, vive uma espiritualidade que só o leva a ir algumas vezes à casa de oração, mas que, nem por seu poder, nem por suas dádivas, nem por seu tempo, nem por qualquer outro meio, faz algum serviço ao Senhor seu Deus!…” (SPURGEON, Charles H. end.cit., p.4) (tradução nossa de texto em inglês).

 – Uma vez gerados, temos de ter crescimento espiritual, pois a vida é sempre dinâmica, leva-nos a um crescimento e este crescimento se dá na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo (II Pe.3:18), ou seja, mediante a incessante meditação nas Escrituras e uma vida de oração que nos leva a uma intensa busca do Senhor e do Seu poder.

 – Assim como as primícias eram levadas até o altar do Senhor, devemos, também, ingressar na presença de Deus, junto ao altar do Senhor nos céus, ou seja, no Seu santuário, cujo acesso nos foi garantido pelo sangue de Cristo. Devemos nos apresentar diante de Deus, a fim de podermos mergulhar na profundidade das riquezas tanto da sabedoria como da ciência de Deus (Rm.11:33), mergulharmos no rio da graça de Deus, envolvendo-nos totalmente no Senhor, como fez o profeta Ezequiel (Ez.47:5).

 – As primícias eram oferecidas ao Senhor, ou seja, eram ofertas a Deus. Nós, também, fomos gerados pela palavra da verdade para sermos “ofertas agradáveis ao Senhor”. As ofertas eram consumidas pelos sacerdotes, ou seja, serviam de alimento para aqueles que trabalhavam para o Senhor, eram consumidas pela obra de Deus.

 – O salvo é gerado de novo pela palavra da verdade para ser uma “oferta agradável a Deus”, ou seja, para ser consumido na obra do Senhor, para servir de instrumento de Deus para a realização da Sua obra. Temo-nos tornado “ofertas” a Deus? Temo-nos oferecido integralmente ao Senhor? Temo-nos consagrado a Ele? Ou não nos dispomos a nos entregar a Deus?

 OBS: “…Prefiro falar a respeito de vocês mesmos — esta é uma ordenança de Deus: que toda alma redimida pelo sangue deve reconhecer que ela não é de si mesma, mas que ela foi comprada por um preço. Se vocês rejeitarem negar-se a si mesmas para Deus, então vocês rejeitarão a aquisição do sangue — mas se vocês reconhecerem que foram redimidos, vocês têm de também admitir que não são de si mesmos, mas que vocês pertencem a Cristo.…” (SPURGEON, Charles H. end. cit., p.4) (tradução nossa de texto em inglês).

 – Nós não fomos gerados pela palavra da verdade para nos recusarmos a nos entregar ao Senhor. Devemos estar à disposição d’Ele, devemos fazer apenas o que Ele quer, temos de nos renunciar a nós mesmos, a fim de podermos segui-l’O. As primícias ficavam à disposição do sacerdote. Assim, devemos nós também ficar à disposição do Senhor.

 – Paulo bem sabia esta realidade a ponto de ter dito de que não mais vivia, mas Cristo vivia nele e a vida que agora vivia , vivia-a na fé do Filho de Deus (Gl.2:20). Deve ser este o comportamento de todo aquele que é gerado pela palavra da verdade. Como disse o poeta sacro Samuel Nyström(1891-1960): “Jesus sou Teu e Tu és meu, me guiarás para o céu. Com graça e paz, me satisfaz, Cristo, meu Mestre veraz” (estrofe do hino 87 da Harpa Cristã). Temos agido assim?

 – Mas, no instante em que as primícias eram entregues ao sacerdote e deixadas no altar do Senhor, aquele que as entregava deveria fazer um protesto, onde assumia a sua miserabilidade e demonstrava sua gratidão a Deus pelo favor imerecido recebido de ser sustentado na terra que lhe havia sido dada pelo Senhor (Dt.26:5-11).

 – Fomos gerados pela palavra da verdade para levar os homens a reconhecer a sua situação de miséria bem como a graça e misericórdia de Deus para com eles. Somos instrumentos pelos quais os homens deverão reconhecer a sua pecaminosidade e pedir pela graça e misericórdia do Senhor.

 – Os salvos em Cristo Jesus devem levar os homens a refletir a respeito da sua própria maldade e da bondade e misericórdia de Deus. Temos ter uma conduta que leve os homens a reconhecer que são maus e que Deus é bom e está disposto a perdoar-lhes. Somente seremos “primícias de Suas criaturas” se despertamos nos homens este sentimento.

 – Vemos, portanto, como muitos que cristãos se dizem ser estão distantes anos-luz do que é ser, verdadeiramente, “primícia de Sua criatura”. Em vez de levarem os homens a reconhecer a sua miserabilidade e a graça e misericórdia de Deus, muitos estão a supervalorizar a figura humana, a enaltecer o ego humano, andando na contramão do que nos aconselham as Escrituras. Se somos “primícias das Suas criaturas”, precisamos mostrar que “…sempre seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso…” (Rm.3:4 “in medio”).

 – Depois deste protesto, o israelita, então, inclinava-se perante o Senhor Deus e O adorava, alegrando-se diante do Senhor (Dt.26:10,11). Como “primícias de Suas criaturas”, devemos, também, levar os homens a adorar a Deus e a se alegrar na Sua presença. Não devemos tão somente levar os homens a se humilhar diante de Deus, mas, também, a reconhecer o Seu senhorio (e é isto que significa adoração) e, assim, alcançarem a verdadeira alegria, que é a alegria da salvação, a alegria de estar em comunhão com o Senhor.

 – “…Tão certo quanto há leis e regras da natureza, você achará que por viver perto de Deus, você mesmo, você se tornará um canal de bênçãos para outros (…). As bênçãos vem para o Seu povo, primeiro, e, posteriormente, vêm para todas as nações. (…) Ó irmãos e irmãs, tragam vocês mesmos o cesto das primícias para o Senhor, agora, e haverá uma bênção na sua saída e na sua entrada!…( SPURGEON, Charles H. end.cit., pp.5-6) (tradução nossa de texto em inglês).

 – A nossa salvação não foi realizada para nós mesmos, mas para que nós a mostremos aos outros, para que, pelas nossas atitudes, pelos nossos frutos, o mundo venha a saber que Cristo é o Senhor. Temos vivido desta forma? Pensemos nisto!

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

 Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2014_L4_caramuru.pdf

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