LIÇÃO Nº 4 – O DRAMA DE JÓ
A provação de Jó abrangeu todos os aspectos da vida de um ser humano.
INTRODUÇÃO
Na continuidade do estudo do livro de Jó, veremos o sentido e a extensão das calamidades que abarcaram a vida do patriarca.
Não foi apenas a perda dos filhos, do seu patrimônio ou da saúde. Jó foi afetado em todos os prismas de um ser humano e sem saber o porquê de tudo isto. Será que suportamos provações menores do que esta?
I – JÓ SOFRE CALAMIDADES SOCIAIS
O livro de Jó relata um diálogo entre Deus e o adversário nas regiões celestiais, diálogo este que não era do conhecimento de Jó, que prosseguia com sua vida normalmente.
Um dia, entretanto, de repetente e de forma abrupta, sem que houvesse uma causa, o patriarca vê desmoronar tudo o que havia amealhado durante toda uma existência de justiça e de retidão diante de Deus.
A sucessão impiedosa dos acontecimentos que levou Jó à ruína é a demonstração de que tudo o que somos e tudo o que temos depende da indispensável proteção divina.
Foi Deus permitir que o adversário atingisse Jó, que tudo, num só dia, foi destruído. Que tenhamos sempre em mente que nada do que somos ou do que temos depende de nós, mas é uma concessão da vontade de Deus. Daí porque ter Jeremias se expressado em suas lamentações: ” as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”(Lm.3:22a).
Deus dá testemunho de Jó ao adversário, quando este se apresenta, entre os filhos de Deus, perante o Senhor.
Não esclarece o texto bíblico porque o diabo teve acesso ao trono de Deus, mas o fato é que isto ocorreu.
Diante do testemunho que Deus deu de Jó, o diabo colocou em dúvida a integridade e sinceridade de Jó na sua adoração ao Senhor e Deus, que tinha um propósito de tornar Jó uma “mensagem para os adoradores de Deus”1, permitiu que ele fosse atingido e que estas calamidades lhe adviessem.
Assim, devidamente autorizado pelo Senhor, o inimigo inicia a sua tarefa destruidora, que, afinal de contas, é sua especialidade no universo.
Observemos, em primeiro lugar, o momento escolhido pelo adversário para atacar. Diz o texto sagrado que era o dia de festa na casa do filho mais velho, ou seja, estava-se no início do turno de dias dos costumeiros banquetes do patriarca.
Ao fim deste turno é que Jó incumbia-se de fazer um sacrifício a Deus em favor de seus filhos. Portanto, podemos entender que o dia escolhido pelo adversário era o do começo do turno dos dias, ou seja, o momento mais distante do instante de maior devoção do patriarca.
Utilizamo-nos aqui de uma expressão que o Alcorão se refere a Jó, cf. 21:84.
É sempre assim, o inimigo procura atuar no momento em que estamos mais distanciados do Senhor. É, por isso, que devemos ser sempre vigilantes e jamais deixarmos de estar em oração (cf. II Ts.5:17).
Daí porque ser salutar a medida tomada pelas Assembleias de Deus de realizarmos, mensalmente, a ceia do Senhor, numa periodicidade que, além de ser uma figura do que ocorrerá na eternidade (cf. Ap.22:2),
possibilita-nos uma constante comemoração da morte do Senhor e uma contínua conscientização de Sua obra salvífica e de Sua iminente vinda, a impedir, assim, que fiquemos muito distantes de instante tão solene, onde o adversário pode e tem prazer em agir.
OBS: “…Nós a celebramos [a ceia do Senhor, observação nossa] numa frequência suficiente para evitar intervalos longos entre os períodos de reflexão, comunhão e ação de graças.…” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus, cap.XIII.1, p.132).
No instante mais distante da adoração, o adversário, que, na sua mente, entendia que o patriarca servia a Deus unicamente pelos benefícios d’Ele recebidos (como muitos crentes que servem a Deus, atualmente, por causa da prosperidade material…), tratou de, imediatamente, atacar Jó no seu patrimônio, mediante o furto de seus bois e jumentos (Jó 1:14,15).
Os sabeus, povo descendente de Cão (Gn.10:7), têm seu nome ligado à destruição e saque, que é a raiz da palavra hebraica “shebha”.
Era, pois, um povo que vivia do saque e da destruição e que angariava riquezas com esta prática ilícita.
Eram cruéis e sanguinários, tanto que, além de furtarem, mataram a todas as vítimas, não deixando coisa alguma a desejar em relação aos latrocidas dos nossos dias2.
Logo percebemos que estas pessoas criminosas são grandes instrumentos do adversário e lhe servem a seus propósitos.
Temos, neste episódio, a certeza de que é fundamental a proteção de Deus sobre o patrimônio do ser humano.
Sendo Jó o homem mais rico do Oriente (cf. Jó 1:3), deveria ter sido o alvo dos sabeus há muitos e muitos anos, mas, somente após a autorização divina, é que puderam tomar o patrimônio do patriarca.
Não queremos com isto dizer que o servo do Senhor não deve ser vigilante nem cuidar da segurança de seu patrimônio. Claro que não!
O servo de Deus deve ser vigilante, como já dissemos, não só no aspecto espiritual, mas também no aspecto material, mas deve ter a consciência de que “se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Sl.127:1″in fine”).
O aumento da criminalidade e, em especial, da criminalidade violenta contra o patrimônio é uma dura realidade dos nossos dias e resultado do aumento da iniquidade e da falta de Deus neste tempo que é o princípio das dores vaticinado pelo Senhor (Mt.24:12).
Por autorização divina e para que atinjamos os Seus propósitos, o Senhor deixará de poupar alguns de nós desta violência e desta situação, e, tal como Jó, também sofreremos perdas patrimoniais em decorrência da maldade e da perversidade reinantes.
É duro e revoltante ser vítima de um delito contra o patrimônio, ser roubado ou furtado, principalmente quando, em virtude do crime, perdermos entes queridos ou nossas próprias habilidades.
Mas temos de olhar para Jó e verificar que, apesar de toda esta perda, ele não se revoltou, não se indignou, não ficou clamando por vingança ou postulando a pena de morte para os delinquentes, mas chegou à constatação de que tudo que lhe pertencia era de Deus e Deus poderia, pois, legitimamente, permitir a sua retirada.
Não devemos prender nossos corações nas coisas que possuímos, ainda que angariadas com o suor do nosso rosto, pois “a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”(Lc.12:15b) , não sendo nosso propósito ajuntar tesouros na terra, “onde a traça e a ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam”(Mt.6:19).
A reação de Jó foi agradável a Deus, pois diz o texto que Jó não pecou ao assim reagir (Jó 1:22). Será que temos nos mantido sem pecado quando somos, igualmente, vítima dos ladrões?
Latrocínio – é o nome que recebe o roubo seguido de morte ou a morte seguida de roubo. O latrocida é aquele que mata para roubar. Em nosso direito penal, é considerado crime hediondo, tendo uma das maiores penas de nosso Código: quinze a trinta anos de reclusão.
As calamidades sociais estão atingindo os crentes dia após dia, e a Igreja, como luz do mundo e sal da terra, deve se esforçar para contribuir para que estas mazelas diminuam na sociedade.
Embora saibamos que os tempos são difíceis e que “os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados” (cf. I Tm.3:13),
é dever do povo de Deus colaborar para que medidas sejam tomadas para a repressão ao crime e para a recuperação dos criminosos, afinal só ela tem a mensagem que pode transformar os ladrões e criminosos em pessoas de bem, transformadas e servas do Senhor.
Só o Evangelho pode fazer com que “aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha que repartir com o que tiver necessidade“(Ef.4:28).
Só Jesus pode dizer a um latrocida “”hoje estarás comigo no Paraíso”(Lc.23:43b). Só a Igreja pode levar às vítimas da violência o conforto e a consolação do Espírito Santo, pode fazê-las compreender que Deus tem Seus propósitos e que devemos nos resignar como Jó. Será que temos agido assim?
Deus tem deixado a Igreja sofrer as agruras da violência para que tenha compaixão da sociedade que, sem Deus e sem salvação, está sendo ceifada e levada à perdição eterna por conta do consumismo e materialismo reinantes. Que, diante das calamidades sociais, possamos, como Jó, não pecar e adorar ao Senhor.
OBS: Nunca devemos deixar de reconhecer que todo o nosso patrimônio é do Senhor e que somos apenas seus mordomos (cf. Sl.24:1).
Esta ideia está bem explícita no Talmude, onde, na chamada ‘Ética dos Pais’ (em hebraico, Pirke Avot) é dito: ” Dá-Lhe o que já é d’Ele, porque tanto você quanto tudo que você tem a Ele pertencem.
Também o rei Davi dizia: ‘ Porque tudo recebemos de Ti e de Tua mão é o que Te devolvemos.’ (I Cr.29:14)”. (Pirke Avot 3,8).
Como afirma Irving M. Bunim, no comentário deste texto: ” Tudo que temos vem d’Ele(…) considere que:
1) A posse do dinheiro é transitória. Você pode perdê-lo num revés financeiro, ou devido a um roubo ou então num investimento mal feito. Poderia ter de gastá-lo em emergências imprevistas.
2) O dinheiro que você possui se deve inteiramente à obra e graça de Deus.
3) Ninguém pode viver exclusivamente de seu capital. Você deve ter uma entrada permanente, mas, se espera receber mais do Todo-Poderoso, deve administrar primeiro o que Ele lhe deu com justiça e generosidade. Deve mostrar-se como um curador prudente e digno de confiança do Todo-Poderoso.
A caridade é um investimento sólido que certamente lhe dará juros sobre o capital.
4) finalmente, dado que Deus é o dono do indivíduo e do que ele possui, devemos, em última instância, prestar contas a Ele pela forma como lidamos com nossos assuntos, nossa parte em Sua propriedade…”(BUNIM, Irving M. A ética do Sinai, p.151-2).
Mas não foi esta a única calamidade social vivida por Jó. As Escrituras também registram que a terceira má notícia recebida pelo patriarca, naquele dia, foi o roubo de seus camelos por parte dos caldeus (Jó 1:17), que, organizados em três bandos, também mataram a todos os servos, menos o que veio dar a triste notícia para Jó, levando, embora, seus camelos, que eram seus animais de transporte.
Aqui, embora tenhamos, em essência, a mesma violência mencionada quando dos sabeus, encontramos outro tipo de povo, os caldeus, que eram, na época em que vivia Jó, a “nata” da sociedade antiga, o povo mais desenvolvido, a potência mundial de então.
Vemos, então, aqui a violência exercida pelos grandes, a violência organizada, a violência tão cruel e danosa quanto a anteriormente mencionada, mas que está enrustida, travestida de civilidade e de dignidade.
É a criminalidade do colarinho branco, para se utilizar de uma expressão do nosso tempo e que nós, brasileiros, bem sabemos o que significa, já que foi em nossa terra que se perpetrou o maior esquema de corrupção da história da humanidade, desvendada pela chamada “operação Lava Jato”.
O texto bíblico diz que os caldeus, ao contrário dos sabeus, que são mencionados como tendo vindo e tomado as coisas, os caldeus vieram organizados (diz uma tradução “ordenados em três bandos”, outras versões, “divididos em três bandos”, mas sempre dando conta de uma organização) para o ataque.
Isto demonstra, claramente, que os caldeus eram criminosos de outra natureza, mais ardilosos, menos violentos em aparência, mas com igual potencial mortífero e mais perigosos até.
Tinham o poder e o conhecimento, mas o usavam para o mal. Eles representam o crime organizado, o crime que está com seus tentáculos nas camadas superiores da sociedade, que vive da injustiça e da maldade e que serão os “mercadores” beneficiados pelo governo cruel do anticristo, a ponto de lamentarem sua queda (cf. Ap.18).
Este tipo de crime também afligirá os servos do Senhor sempre que Deus tiver um propósito a favor do Seu povo.
Contra este crime também deve a Igreja lutar, intercedendo sempre pelos governantes e se dispondo a ajudá-los, a fim de que cumpram com seus deveres de trazer a paz, a ordem e o bem-estar da população.
Somente a Igreja poderá trazer os sábios conselhos da Palavra aos governantes e fazer com que seus projetos e planos de interesse da população sejam implementados.
Caso contrário, somente o crime organizado dirigirá os passos destes homens, prender-lhes-á em sua rede intrincada de favores e interesses e o resultado será funesto para todo o país.
“Que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda piedade e honestidade. Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador” (I Tm.2:1b-3).
Como estamos agindo? Estamos ingressando em lutas político-partidárias sem necessidade? Estamos afrontando governantes desnecessariamente?
Jó não quis fazer uma revolução nem questionar o porquê de ter sido espoliado por quem já tinha tanto, mas, pelo contrário, não pecou, adorando ao Senhor.
Que possamos agir como recomenda o cantor sacro: “quando vires outros com teu ouro e bens, lembra que tesouros prometidos tens! Nunca os bens da terra poderão comprar a mansão celeste em que vais habitar.” (3ª estrofe do hino 564 da Harpa Cristã).
II – JÓ SOFRE CALAMIDADES SOBRENATURAIS
Mal o patriarca recebera a notícia de que havia perdido parte significativa do seu gado por obra dos sabeus, os criminosos de seu tempo, chega outro servo remanescente com a notícia de que o restante do gado havia sido consumido de forma sobrenatural, pois “fogo de Deus caiu do céu e queimou as ovelhas e os moços, e os consumiu” (Jó 1:16).
Estamos aqui diante de uma calamidade sobrenatural, ou seja, de uma calamidade que não tem explicações entre os fenômenos da natureza, que a física e, por extensão, a ciência e o conhecimento humano não podem explicar.
Parafraseando o grande dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), “há entre os céus e a terra, mais mistérios do que possa imaginar a nossa vã filosofia”.
A tendência do mundo hodierno, onde reinam a tecnologia e a ciência, é buscar menosprezar e até negar a sobrenaturalidade, achando que tudo o que não puder ser explicado pela ciência, simplesmente não existe e não pode ter crédito.
Este comportamento tem demonstrado toda a sua insuficiência, até porque, se a ciência admite ter coisas ainda a descobrir e a explicar, é porque coisas há que não podem ser explicadas por ela, o que torna o discurso científico absolutamente insuficiente para dar conta do que está à nossa volta.
Este tipo de discurso, que podemos denominar de cientificista, está, realmente, dando grandes sinais de esgotamento, a ponto de os próprios grandes nomes das ciências estarem, cada vez mais, admitindo um nível sobrenatural e místico na ordem universal, o que, inclusive,
tem permitido que movimentos como a Nova Era e similares encontrem abrigo nos meios da elite científica e, através dela, nas camadas superiores da sociedade mundial,
num fenômeno que é mais um prenúncio da iminente revelação do anticristo e do falso profeta, que aproveitará este clamor de religiosidade para levar o mundo à adoração do anticristo (cf. Ap.13:12).
Um fenômeno inexplicável, até mesmo para Jó (nós, quando lemos o livro, sabemos que foi uma operação satânica permitida por Deus, mas o patriarca nada sabia, assim como, muitas vezes, não sabemos os desígnios divinos em nossas provações), fez com que do céu caísse um fogo que queimasse todas as ovelhas e os moços que dela cuidassem fossem consumidos.
No desespero, o único sobrevivente identifica este fogo como sendo “fogo de Deus”. É preciso termos cuidado com fenômenos sobrenaturais que aconteçam à nossa volta, pois o adversário é especialista em imitar o que Deus faz, como, aliás, dá-nos conta a Bíblia Sagrada (II Co.11:14).
A Bíblia não diz a reação de Jó quanto a esta qualificação feita pelo seu servo, mas temos a clara demonstração no texto sagrado de que o patriarca não pautava a sua vida espiritual com Deus através de sinais, maravilhas ou fenômenos extraordinários,
mas sua vida espiritual repousava numa comunhão e num mútuo conhecimento muito mais profundo, de forma que o fato de alguém lhe dizer que fogo de Deus havia caído do céu não era capaz de abalar a sua fé em Deus, pois ele não servia a Deus por causa dos sinais e das maravilhas que o beneficiassem, mas porque tinha uma vida de sinceridade, retidão, temor e desvio do mal.
A vida do cristão deve seguir o mesmo exemplo da do patriarca. Nossa âncora firme, nossa base é a fé em Cristo Jesus, é a justificação pela fé, por meio da qual somos perdoados de nossos pecados e temos comunhão com o Senhor, passando a andar na luz e a obedecer a Deus, sendo Seus amigos e não mais simples servos Seus.
Assim agindo, seremos, sim, revestidos do poder de Deus e os sinais e maravilhas seguir-nos-ão como confirmação do agrado do Senhor com a nossa vida de fé e obediência (Mc.16:20).
Note-se que os sinais seguem aos que creem, pois somos mais bem-aventurados porque cremos antes de vermos (cf. Jo.20:29). O crente é alguém que anda por fé e não por vista ( II Co.5:7).
Por causa disto, o crente fiel e verdadeiro não se deixa impressionar por fenômenos sobrenaturais, estranhos, que a razão não consegue explicar, pois, acima destes fenômenos, está firmado na fé no Senhor e na Sua verdade, que é a Sua Palavra (Jo.17:17), sua única fonte de santificação.
O servo de Jó, desesperado, sem visão espiritual, viu naquele fogo um “fogo de Deus”, mas jamais um “fogo de Deus” iria ter uma finalidade destrutiva, iria matar e destruir os bens de um servo fiel ou seus empregados, inocentes que eram diante de seu patrão.
O fogo destruidor foi, sem dúvida, uma demonstração inequívoca de poder sobrenatural, de poder acima do poder humano, mas não era de Deus, pois, Deus não veio para matar, roubar e destruir.
Devemos discernir o propósito de certos fenômenos extraordinários, de certas “maravilhas” e, assim fazendo, não teremos como nos confundir nem como prejudicar a obra do Senhor.
Paulo bem identificou a procedência daquela suposta proclamação evangélica que poderia lhe “ajudar” na sua pregação em Filipos (At. 16:17-19), expulsando aquele demônio.
O objetivo daquela proclamação era o lucro dos senhores daquela jovem, algo totalmente estranho à finalidade do trabalho que o Espírito Santo havia entregado nas mãos do apóstolo.
Por isso, devemos ter discernimento espiritual e nos deixarmos levar por qualquer “fogo de Deus que caia do céu”, pois nem todo fogo provém de Deus.
Assim fazendo, certamente não seremos enganados por dentes de ouro, quedas no Espírito, risadas santas, vômitos santos, dons de lagartixa etc. etc. etc., cujo propósito é apenas o de queimar as ovelhas bem como consumir os seus pastores, matar espiritualmente a todos.
Uma espiritualidade atiçada e movida por sinais levará sempre as pessoas ao engano. Não é por outro motivo, aliás, que será deste modo que o falso profeta levará todos a adorarem ao Anticristo e ao diabo na Grande Tribulação ( Ap.13:13-17). Que Deus nos guarde!
III – JÓ SOFRE CALAMIDADES METEOROLÓGICAS
Mal havia o servo remanescente contado a Jó a perda sobrenatural de suas ovelhas e dos empregados que dela cuidavam, chega o outro portador de más notícias, desta feita, avisando ao patriarca a perda dos seus camelos por parte dos caldeus, um outro tipo de crime, já comentado acima.
Após esta notícia, chega a mais dolorida de todas: “um grande vento sobreveio além do deserto e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os mancebos, e morreram” (Jó 1:19). Agora, era um fenômeno meteorológico que ceifava a vida dos filhos de Jó.
Embora tenha aumentado consideravelmente a sua condição de prever a ocorrência dos fenômenos meteorológicos, o homem não tem domínio sobre o tempo, a ponto de a atividade agrícola ter um tratamento legal diferenciado, no chamado “direito agrário”, exatamente por causa deste fator imponderável do tempo, que é chamado pelos juristas de “agrariedade”.
Pois bem, esta dependência do homem do tempo deveria ser mais um fator para que o homem reconheça a sua real posição diante de Deus, mas, antes, acaba sendo mais um ponto em que o homem sem Deus revolta-se contra o seu Criador.
Tragédias decorrentes de fenômenos meteorológicos ocorrem diariamente em todo o mundo e muitos se questionam e questionam a própria existência e o próprio caráter de Deus diante de tais circunstâncias.
Entretanto, tudo tem um propósito diante de Deus, devendo-se, ademais, observar que boa parte dos males ocasionados pelos fenômenos meteorológicos não devem ser imputados ao Senhor, mas, ao revés, à própria ganância do ser humano.
Assim, por exemplo, as enchentes que têm assolado enormes populações nas grandes cidades do mundo devem-se, essencialmente, à falta de planejamento no crescimento das cidades, que, sem qualquer previsão de impacto ambiental, geraram grande impermeabilização do solo,
ao mesmo tempo em que não se constroem redes suficientes de escoamento das águas pluviais e se esquece que os rios não foram feitos para suportar tamanho volume de águas, antes absorvidos pela vegetação e pelas próprias zonas de várzea antes existentes.
Isto sem falarmos no desmatamento, na poluição, na interrupção dos ciclos da natureza com a crescente industrialização, na produção de lixo não biodegradável etc. etc. etc.
Deus é um Deus de ordem e tudo estabeleceu na natureza e o homem, ao romper com esta ordenação, causa distorções das quais ele acaba sendo a própria vítima. Como disse o sábio Salomão: “Vede, isto tão somente achei: que Deus fez ao homem reto, mas eles buscaram muitas invenções” (Ec.7:29).
Nestas tragédias diárias, entretanto, Deus tem mostrado a Sua presença e o Seu poder soberano, pois também é diário o registro de verdadeiros milagres que o Senhor realiza poupando e salvando a vida de pessoas, como que anunciando, em meio a tanta dor e destruição, que ainda Ele está no controle de todas as coisas e está interessado em salvar o homem e providenciar que esta sua criação possa com Ele viver eternamente.
Não bastasse isso, através de fenômenos naturais deste tipo, como os terremotos (que não são fenômenos meteorológicos, mas que se inserem neste pensamento), o Senhor está, também, anunciando a Sua iminente vinda, alertando o Seu povo para que esteja preparado para ser arrebatado naquele dia, que tão breve está (Mt.24:7).
Apesar de ter perdido seus filhos por causa deste “grande vento”, Jó não fez como muitos que, mesmo desabrigados e necessitados, após estas catástrofes, maldizem e blasfemam do nome do Senhor, literalmente culpando a Deus pelas catástrofes que aconteceram em suas vidas (esquecendo-se, muitas vezes, que elas são resultado de sua própria imprudência e vida desregrada), mas, em tudo isto, não pecou, não atribuindo a Deus falta alguma.
Será que temos agido assim, ou temos feito coro com os desabrigados e necessitados rebeldes, muitas vezes maldizendo a tudo e a todos pelas cenas que presenciamos ou pelo que tenhamos sofrido na própria pele?
Mais importante do que um patrimônio, do que os próprios entes queridos que venhamos a perder, está a nossa salvação eterna.
Que catástrofes naturais não nos façam perder a salvação e criarmos para nós mesmos uma catástrofe muito maior e, o que é pior, eterna!
IV – JÓ SOFRE CALAMIDADES FÍSICAS E PSICOLÓGICAS
Mesmo tendo perdido tudo o que possuía, Jó não pecou nem atribuiu falta alguma a Deus. Sua confiança não estava nas coisas que tinha, no que estava à sua volta e o adversário foi envergonhado.
Deus dá novo testemunho de Jó e o diabo, não contente, vai procurar encontrar no “ego”, na “autoestima” do patriarca a razão de ser de sua fidelidade a Deus. Afinal de contas,
“… Jó personifica todos os pobres do mundo, os quais, mesmo perdendo tudo ou nada possuindo, não se revoltam contra Deus. Como eles costumam dizer, ‘enquanto a gente tiver saúde para trabalhar, tudo bem’.3
Todavia, o adversário, uma vez mais, mostrará seu engano e Deus, sabedor do que segurava Jó, permite que seja também provado na sua integridade física, na sua saúde.
A circunstância de o texto separar bem o primeiro estágio da provação do segundo mostra como é sagrada para o Senhor a integridade física de alguém.
O ser humano é feito imagem e semelhança de Deus e é composto de corpo, alma e espírito, mas nem por isso o corpo não é alvo da proteção divina.
Tanto assim é que, em o Novo Testamento, é revelado que o corpo é o templo do Espírito Santo (I Co.6:19).
Por isso, sem qualquer respaldo bíblico tanto o ensinamento que entende que o corpo é um obstáculo à espiritualidade, quanto aquele que diz que o corpo é totalmente irrelevante para Deus, que “quer só o coração”.
Assim que permitido por Deus, que não permitiu ao adversário que tocasse na vida de Jó (prova de que só Deus tem o poder sobre a vida de um ser humano), o adversário impõe a Jó uma chaga maligna, que o atingiu dos pés à cabeça, uma doença horrível que trouxe grande sofrimento ao patriarca.
O texto sagrado afirma-nos que ele mal foi reconhecido pelos seus amigos, o que indica que a doença era deformativa; que a doença atingia a sua pele e que perturbava o seu sono, pois devia haver uma intensa dor.
Era algo pior do que um câncer, era como um espécie de elefantíase, segundo os estudiosos das Escrituras.
A saúde é um bem extremamente valioso ao ser humano e poucos dão-se conta disso, somente o percebendo quando ela está ausente.
Com saúde podemos recuperar tudo o que eventualmente perdermos, pois, com saúde, poderemos trabalhar e buscar o nosso sustento, mas enfermos e doentes, nada poderemos fazer.
Temos, como servos de Deus e mordomos da saúde que Ele nos deu, o dever de cuidarmos de nossa saúde, de sermos comedidos e de prevenirmos males que têm acometido a nossa geração.
Por isso, é preciso que o servo de Deus seja criterioso na sua alimentação, no seu sono, no seu trabalho e que pratique, regularmente, exercícios físicos, pois o sedentarismo tem sido a principal fonte de doenças, inclusive entre as crianças.
Assim fazendo, estaremos sendo fiéis mordomos do Senhor, não tendo qualquer respaldo bíblico qualquer atitude que seja contrária à prática de exercícios físicos pelos cristãos.
Se a Bíblia diz que “o exercício corporal para pouco aproveita”( I Tm.4:8a), de modo algum está proibindo o exercício físico, mas dizendo que ele não deve ser buscado como prioridade na vida do cristão, que deve, em primeiro lugar, buscar o reino de Deus e a sua justiça (cf. Mt.6:33),
mas daí a banir o esporte do cotidiano do crente, é uma distância que não tem base bíblica, até porque o sedentarismo não era um problema nos dias de Timóteo, cuja origem grega, ademais, poderia fazê-lo tender para a busca da perfeição corporal, tão presente nos jovens seus contemporâneos.
Neste passo, totalmente antibíblico o comportamento de alguns sedizentes cristãos que, em meio à pandemia, tomaram atitudes de enfrentamento das medidas determinadas pelas autoridades sanitárias, dizendo que a sua observância seria “falta de fé” ou coisas do gênero.
Não se deixa de reconhecer que muitas das medidas tomadas, algumas inéditas, não tinham sua eficácia demonstrada e trouxeram sequelas enormes, mas não se pode achar que a prevenção e o cuidado com a saúde sejam “falta de fé”. BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral, nota a Jó 1.13-22, p.640.
Se, porém, vier sobre nós a prova da doença, a prova da enfermidade, devemos pedir a Deus a cura, mas sempre sabendo que, muitas vezes, não é propósito de Deus nos curar mas, através de nossa doença (e até morte), glorificar o Seu nome através de nós.
OBS: Parente nossa, após a cura de seu irmão do COVID-19 indagou ao Senhor porque muitos servos de Deus não foram curados e morreram desta terrível enfermidade e o Espírito Santo lhe falou que isto aconteceu porque tais servos nada mais tinham a fazer sobre a face da Terra para glorificar o nome do Senhor e, por isso, Deus para Si os tomou. Estamos neste mundo para glorificar a Deus, esta é a razão da nossa peregrinação terrena.
A doença não é, como muitos andam dizendo por aí, firmados na falsa doutrina da confissão positiva, um sinal de pecado, tanto assim que Jó não tinha pecado e ficou doente, como também não tinha pecado o profeta Eliseu, que morreu de uma doença que teve e da qual não foi curado (II Rs.13:14), como também o próprio cego de nascença, cuja doença foi curada para glória do nome de Deus (Jo.9:1-3).
A doença pode ser de causas físicas e naturais, como também, por operação maligna, como no caso de Jó.
O fato é que, em havendo a enfermidade, devemos nos manter na disposição do Mestre, descansando n’Ele e não perdendo a fé.
Como afirma o cantor sacro:
“Se a febre arde, se extingue a vida, e quer a morte te arrebatar. Nas Suas promessas, terás guarida bastante pra te abrigar”(3ª estrofe do hino 459 da Harpa Cristã).
Com relação à cura de enfermidades, devemos, também, observar que Deus pode curar tanto sobrenaturalmente como naturalmente, através dos médicos.
Não podemos rejeitar a ida aos médicos e o atendimento às suas prescrições, pois a ciência foi criada por Deus também para ajudar o ser humano.
Assim, se devemos pedir a Deus a cura e requerer que ela venha sobrenaturalmente, através da oração da fé, com unção do óleo (Tg.5:14) ou imposição de mãos (Mc.16:18) ou dos dons de curar (I Co.12:9), também devemos crer que Deus também atua através dos médicos (Mt.9:12).
Ao lado da saúde física, temos, também, a saúde mental, pois o homem é dotado de corpo, alma e espírito (I Ts.5:23).
Verdade é que um aspecto é relacionado ao outro, tanto que é conhecida a expressão “mens sana in corpore sano” (mente sã em corpo são).
Jó, naturalmente, diante de notícias tão ruins e que lhe foram trazidas concomitantemente, deve ter tido um grande sentimento de perda e ingressado em depressão, como, aliás, dá conta o texto sagrado ao afirmar que, diante das notícias recebidas, o patriarca levantou-se, “rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça e se lançou em terra”, numa clara indicação de que estava emocional e psicologicamente abalado.
Mas, diz-nos o texto sagrado que, apesar desta situação, absolutamente normal, ele não perdeu a sua comunhão com Deus, pois, ao se lançar em terra, não ficou, como o profeta Elias, pedindo a própria morte, completamente deprimido e sem ânimo (I Rs.19:4-7), mas adorou e reconheceu a soberania do Senhor.
Também devemos entregar nossa mente ao Senhor e não deixar que as muitas circunstâncias adversas venham a afetar a nossa mente.
Vivemos um tempo em que as mensagens subliminares, a mídia e as pessoas em geral criam ambientes cada vez adversos e contrários à vontade do Senhor, gerando-nos um sentimento de aflição e de angústia, como, aliás, já havia sido predito pelo Senhor (Jo.16:33).
Diante deste quadro, precisamos, mais do que nunca, zelar pela nossa integridade psíquica, tendo a mente de Cristo (I Co.2:12-16), procurando ocupar a nossa mente com o que é relevante para a nossa vida espiritual (Cl.3:2).
Meditemos continuadamente na palavra do Senhor (Sl.1:2), ocupando no que realmente é proveitoso para nós (I Tm.4:15,16).
Os problemas psicológicos demandam, às vezes, um tratamento, não havendo qualquer irregularidade em que se busque o tratamento de psicólogos e psiquiatras para a solução de problemas de ordem psicológica, muitas vezes decorrentes de deficiências orgânicas e até de criação por parte de pessoas que acumulam traumas e demais distúrbios no seu desenvolvimento.
Uma vez verificados estes males, ao lado de uma maior compreensão no lar, na igreja local e nos demais locais frequentados pela pessoa, é importante que haja um acompanhamento de um profissional.
Embora boa parte de problemas psicológicos possam ser de ordem espiritual, nem sempre estaremos diante de uma perturbação maligna, possessão demoníaca ou algo do gênero, devendo o crente, notadamente obreiro, ter a mente de Cristo para tudo bem discernir e tratar.
Como bem afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:
“CREMOS, professamos e ensinamos que a cura divina é um ato de soberania, graça e misericórdia divina [Mc.1:40,41; 14:14], que, através do poder do Espírito Santo [At.10:38; Lc.4:18,19], restaura física e/ou emocionalmente aqueles que demonstram fé em Jesus Cristo [At.13:6; 14:8-10].
Deus fez o homem um ser integral, formado por uma parte material e outra imaterial [Gn.2:7]. A parte material, o corpo, é tão importante quanto a imaterial, a alma e o espírito [I Co.6:19,20; I Ts.5:23].
A Bíblia mostra que a obra redentora de Cristo incluiu também o corpo: ‘Gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo’ (Rm.8:23).
A vontade de Deus é, portanto, curar tanto a alma como o corpo: ‘É Ele que perdoa todas as tuas iniquidades e sara todas as tuas enfermidades’ (Sl.103:3). Faz parte da natureza divina curar os enfermos, e Deus assim o faz para demonstrar o Seu poder e amor pelos afligidos [Lc.13:11-13]….” (Cap.XXI, p.179).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5862-licao-4-o-drama-de-jo-i