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LIÇÃO Nº 4 – O ENCONTRO DE RUTE COM BOAZ

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo do livro de Rute, hoje analisaremos o encontro de Rute com Boaz.

-O encontro de Rute e Boaz tipifica a nossa redenção.

I – RUTE E NOEMI CHEGAM A BELÉM

-Na sequência do estudo do livro de Rute, analisaremos hoje a narrativa que nos dá conta do encontro de Rute com Boaz, que haveria de ser o remidor da família, o que abrange o trecho de Rt.1:19 até Rt.3:18.

— Ao chegar a Belém, a recepção não foi das melhores. Toda a população reconheceu Noemi, mas se espantou com a sua situação.

-O texto dá a entender que Noemi chegara bem diferente daquela “agradável” e “atraente” que partira dez anos atrás.

Houve uma comoção por parte do povo de Belém e, tanto assim foi, que a própria Noemia, reconhecendo a degradação sofrida, pede aos seus conterrâneos que passem a chamá-la de “Mara”, que significa “amarga”, revelando, assim, que se encontrava numa situação diametralmente oposta, absolutamente contrária ao que dizia o seu nome.

-Este espanto e admiração revelam os males que acompanham aqueles que se distanciam do caminho do Senhor, as consequências decorrentes de nossos pecados e de nossa desobediência.

-Poucos estão a meditar neste tema em nossos dias, dias de multiplicação de iniquidade (Mt.24:12) e onde muitos estão à busca de doutores conforme as suas próprias concupiscências (II Tm.4:3,4).

-O pecado gera consequências em todas as áreas da nossa vida e o perdão proporcionado pelo Senhor não retira tais efeitos nefastos. É a “lei da ceifa”, segundo a qual aquilo que o homem semear, isto também ceifará (Os.8:7; Gl.6:7).

-O texto sagrado diz que a “lei da ceifa” é uma manifestação da justiça divina, uma demonstração de que Deus não Se deixa escarnecer, é uma amostra do controle e da soberania de Deus sobre tudo e sobre todos.

-Noemi havia mantido seu temor a Deus, mas, até pelas circunstâncias, teve de seguir a senda tortuosa de seu marido e isto trouxe nefastas consequências: a morte do marido e dos filhos e o completo desamparo.

-Ao chegar a Belém, todos se admiraram de ver aquela outrora senhora de renome na sociedade, como uma viúva desamparada e a depender da caridade pública para sua sobrevivência. Este é o preço que se paga por sair-se da direção divina. Tomemos cuidado, amados irmãos!

-Em nossos dias, muitos são os lares em que o “agradável”, o “atraente” que caracterizava a vida familiar construída debaixo da mão do Senhor, hoje é tão somente o “amargo”, porque se deixou o Senhor de lado, destruiu-se o altar que era o próprio lar, abandonou-se o encontro periódico e rotineiro com Deus.

-Lares onde não há mais culto doméstico, onde o Senhor não é mais invocado e onde todo o tempo é dedicado a busca de coisas desta vida, das coisas que se veem e que, por isso mesmo, são temporais (II Co.4:18).

-Lares onde não há mais instrução dos pais aos filhos, até porque não há sequer convivência entre eles, já que os pais estão totalmente dedicados a suas vidas profissionais, querendo o enriquecimento ou a manutenção de um consumo desenfreado, e que, com tal comportamento, levam seus filhos também ao desprezo do Senhor e à morte espiritual e os que conseguem sobreviver, como foi o caso de Noemi, têm uma amargura, resultado da tristeza e dos traumas gerados por esta desobediência dos familiares.

-É importante observar que Noemi estava plenamente consciente da sua dura condição. Era uma pessoa “amarga”, que não tinha qualquer motivo para se alegrar, precisamente porque o Senhor Todo-Poderoso a havia afligido (Rt.1:21).

-Noemi entendera que a ação de seu marido havia contrariado a vontade divina e que não se poderia ter bênção divina diante de tal contraditoriedade. É preciso lembrarmos de onde caímos para voltar a desfrutar da benevolência divina (Ap.2:5).

-Chegando a Belém, totalmente desamparada e sem condições de sobrevivência e ainda acompanhada de sua nora, uma estrangeira, cuja nacionalidade era repugnada pelos israelitas, que poderia Noemi fazer?

-Noemi, já idosa e sem condições para trabalhar, não tinha o que fazer, mas Rute, que havia aprendido com sua nora a respeito dos costumes, tradições e leis hebraicas, bem sabia o que podia fazer: recolher as respigas, pois se estava no princípio da sega das cevadas (Rt.1:22-2:1,2).

-A atitude de Rute revela algumas lições importantes quando estamos a tratar a respeito da provisão divina.
-Rute cria que o Deus de Israel poderia prover a ela e a sua sogra. Noemi também tinha esta crença e sua afirmação aos belemitas era a prova de que bem sabia que agora estava a voltar ao centro da vontade de Deus, o Deus que amparava a viúva (Sl.68:5).

-No entanto, também tinham aquelas duas mulheres a perfeita noção dos parâmetros estabelecidos por Deus para o sustento dos homens e estes parâmetros começam com o princípio do trabalho, instituído por Deus ainda no Éden, quando mandou que o homem lavrasse e guardasse o jardim (Gn.2:15).

-Este mesmo princípio foi reafirmado por Deus quando da queda do homem, ao determinar que ele deveria obter seu sustento do suor do seu rosto (Gn.3:19).

-O trabalho é a forma criada por Deus para que o ser humano obtenha seu sustento sobre a face da Terra.

-Ao trabalhar, aliás, o homem se assemelha a Deus, que é um ser que trabalha (Jo.5:17). O próprio Senhor Jesus, que é o nosso exemplo (I Co.11:1; I Pe.2:21), foi um homem experimentado nos trabalhos (Is.53:3), alguém que era conhecido na cidade onde viveu a maior parte de sua vida terrena, como um trabalhador (Mt.13:55; Mc.6:3).

-Como chegou a afirmar o ex-chefe da Igreja Romana, o Papa Paulo VI (1897-1978), o trabalho foi uma das maiores lições deixadas por Cristo durante o silêncio de 18 anos que cerca a Sua vida, desde o episódio de Seu encontro com os doutores em Jerusalém até o Seu batismo e início do Seu ministério público.

OBS: Reproduzimos aqui trecho da alocução de Paulo VI feita em Nazaré, no dia 5 de janeiro de 1964:

“…Ó Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.…” (Disponível em: http://outeirodagloria.org.br/mons-sergio/das-alocucoes-do-papa-paulo-vi-alocucao-pronunciada-em-nazare-a-5-de-janeiro-de-1964/ Acesso em 29 ago.2016).

-A provisão divina depende da nossa disposição ao trabalho. Sem trabalho, não há como termos a bênção divina, como sermos por Ele abençoados, pois os preguiçosos são pecadores e, deste modo, estão contrariando a Palavra de Deus não tendo como agradar ao Senhor, portanto.

-As Escrituras contêm diversas repreensões aos preguiçosos (Pv.6:6,9; 10:26; 12:27; 13:4; 15:19; 19:24; 20:4; 21:25; 22:13; 24:30; 26:13-16), considerando-os ímpios, pessoas que rejeitam a sabedoria, ou seja, que rejeitam a Deus.

-Nos dias em que vivemos, ganha casa vez mais realce a mentalidade que considera como ideal de vida aquela vida em que não se precisa trabalhar, em que se tenham ociosidade e muito dinheiro, o tão procurado estado de “sombra e água fresca”, algo que, entretanto, é totalmente contrário ao estatuído por Deus, algo que é diametralmente oposto à moral, à ética bíblica.

Tomemos cuidado, pois, amados irmãos, com esta mentalidade, que, não por acaso, é o que se propaga na teologia da prosperidade.

-Por causa desta mentalidade, aliás, distorceu-se o conceito de “trabalho infantil” e o combate a indevida exploração da mão-de-obra infantil acabou se transformando em uma proibição do ensino do trabalho às crianças e adolescentes, a uma defesa de uma ociosidade que só fez surgir a malfadada “geração do nem nem”, milhões de jovens e adolescentes que, em nossos dias, não trabalham nem estudam e se tornam alvo preferencial do inimigo de nossas almas. No Brasil, estima-se que este número já tenha atingido o de 5 milhões e 400 mil pessoas.

-Enquanto Igreja, precisamos combater esta situação, ensinando crianças, adolescentes e jovens que é preciso trabalhar, que o trabalho nos assemelha a Deus e, deste modo, desde a meninice, a exemplo de Cristo, que aprendeu seu ofício de carpinteiro com José, moldarmos seres trabalhadores em nossos lares.

-Mas, além da observância do princípio do trabalho, Rute demonstra, com sua atitude de participar da respiga da colheita, uma profunda humildade.

-O instituto da respiga, previsto na lei de Moisés, determinava que os segadores não poderiam recolher as espigas que caíssem durante a colheita, nem tampouco as que estivessem nos cantos do campo, para que elas pudessem ser livremente colhidas pelos pobres, órfãos e viúvas (Lv.23:22).

-Ao se submeter a esta posição, Rute assumiu que se tratava de uma pessoa necessitada, de uma viúva desamparada e que necessitava da caridade pública. Como diz Alexander Whyte (1836-1921):

“…Mas aqui está uma moça gentia, uma moabita, que deixou sua própria terra proverbialmente abundante para colher e mendigar pela viúva de (…) Elimeleque…” (Personagens bíblicos do Antigo e Novo Testamentos. Trad. Ítalo Medeiros da Cunha. São Paulo: Fonte Editorial, 2021. p.253).

-Precisamos ser humildes para sermos alvo da provisão divina, até porque uma das primeiras características do servo de Deus tem de ser a “pobreza de espírito”, também denominada de “humildade de espírito” (Mt.5:3).
-É esta a principal característica de Jesus que temos de aprender com Ele, como nos deixa claro o texto de Mt.11:29.

-Jamais podemos pensar a provisão divina como sendo um “direito” de cada servo do Senhor, como sendo, por conseguinte, uma “obrigação” de Deus para conosco, como defendem os falsos pregadores da teologia da confissão positiva.

-A arrogância, a soberba são atitudes completamente contrárias ao caráter de quem é salvo, é uma atitude de um “filho do diabo” (I Jo.3:8-10), pois foi o acusador o primeiro a manifestar tal sentimento no universo (Is.14:13,14).

-Não nos esqueçamos do que diz o proverbista: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv.16:18).

-Havia, ainda, porém, uma terceira qualidade na atitude de Rute: a confiança em Deus.

-Ao se dispor a fazer a respiga da colheita, Rute demonstrou ter fé em Deus, Aquele que dizia ser o sustento das viúvas. Rute sabia que era estrangeira, que sua nacionalidade a impedia, inclusive, de comparecer perante o Senhor no tabernáculo, mas, como havia adotado o Deus de Israel como o seu Deus, sabia que o Senhor não a desampararia e forneceria o sustento necessário tanto para ela quanto para sua sogra.

-Rute confiou em Deus, a despeito das circunstâncias sociais adversas existentes. Para agradarmos a Deus, precisamos ter fé (Hb.11:6), mas confiança em Deus não nos dispensa de trabalhar e de sermos humildes. Lembremos disso!

-Noemi autorizou Rute a efetuar a respiga da colheita e aqui temos um outro princípio importante, máxime em se tratando de relações familiares, que é o princípio da autoridade.

-Rute respeitou Noemi, que era a sua sogra, quem detinha, no momento, a autoridade naquela família. Pediu permissão a Noemi para agir.

Em nossa família, também devemos atender ao princípio da autoridade, até porque a autoridade máxima na família é o próprio Deus, que foi quem estabeleceu este princípio (I Co.11:3).

-Esta atitude de submissão de Rute era corolário do amor que nutria por sua sogra. Como afirma Alexander Whyte: “…’Ela se apega à sua sogra’, diz as Escrituras. O coração de Rute estava tão cheio das cordas de amor a Noemi que aquelas cordas fortes a tiraram da terra de Moabe e a entrançaram profundamente na linhagem de Israel, e na linhagem de Jesus Cristo. (…).

Antes de Rute ter dado a Noemi a prova completa de seu amor, aquela mulher desolada havia feito seus maiores elogios ao amor passado de Rute, não apenas como esposa, mas ainda mais como nora.

O Senhor trate com bondade contigo, como tu trataste com os mortos, e comigo. E as mulheres de Belém imediatamente captaram esta característica bastante singular do afeto de Rute quando vieram para felicitar Noemi pelo nascimento de Obede.

‘Tua nora’, disseram a Noemi, ‘que te ama e que é melhor para ti do que sete filhos, o deu à luz’. E nesta saudação as mulheres de Belém estão em total harmonia com o mundo inteiro sobre o amor tão puro, tão nobre e tão inigualável de Rute.…” (op. cit., pp.249-50).

-Noemi e Rute prosseguiam, portanto, na sua tomada de decisão diametralmente oposta a que havia sido tomada, dez anos antes, por Elimeleque.

-Em vez de se iludir com uma provisão por conta própria, as duas mulheres passam a seguir a vontade do Senhor, a crer na Sua provisão, a se colocar nas mãos de Deus, fazendo precisamente aquilo que o Senhor havia ordenado na Sua lei. Que exemplo a ser seguido! Obedeçamos a Deus, observemos a Sua Palavra e, certamente, desfrutaremos do Seu cuidado, da Sua proteção.

-Este cuidado de Deus para com os que O servem, para com os que O temem é bem retratado no Salmo 107, de autoria desconhecida, onde o salmista dá alguns exemplos de pessoas que, por temerem ao Senhor, foram libertos de suas angústias e necessidades.

-O salmista cita os “que andavam desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários, que não acharam cidade que habitassem famintos e sedentos” (Sl.107:6); o “que se assenta nas trevas e sombra da morte, presa em aflição e em ferro” (Sl.107:10); “os loucos, por causa do seu caminho de transgressão e por causa de suas iniquidades” (Sl.107:17), “os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas” (Sl.107:23).

-Todos estes, quando passam a temer ao Senhor, são alvo da benignidade divina, que, aliás, é o tema do salmo, pois o cantor sacro convida todos a louvar o Senhor por ser Sua benignidade para sempre (Sl.107:1). Vemos, pois, que o primeiro caminho para desfrutarmos da provisão divina, uma vez tendo entrado em desobediência, é o arrependimento e o pedido de perdão dos pecados, a nossa santificação.

II – A AÇÃO DA DIVINA PROVIDÊNCIA

-Rute, devidamente autorizada, começou a apanhar as espigas no campo após os segadores e lhe caiu em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da geração de Elimeleque (Rt.2:1-3).

-Vemos aqui já em ação a Divina Providência. Em resposta às atitudes agradáveis ao Senhor de Rute, Deus faz com que Rute vá recolher espigas precisamente no campo de um parente de Elimeleque, que haveria de remi-la posteriormente.

Como dizia o saudoso pastor Severino Pedro da Silva (1946-2013): “Deus começa quando nós começamos”.

-Rute não sabia que o campo era de Boaz e também não escolheu onde trabalhar. Submeteu-se a um “sorteio”, às regras do lugar, dando graças a Deus por não ter sido excluída diante de sua condição de estrangeira.
-Temos aqui mais uma atitude de quem quer ser alvo da provisão divina: a prudência.

-O Senhor Jesus manda que sejamos prudentes como as serpentes (Mt.10:16), pois somos enviados como ovelhas no meio de lobos (Lc.10:3) e a prudência, ao lado da simplicidade (que é a humildade já analisada há pouco) são os elementos que nos impedem de ser devorados pelo inimigo ao longo desta nossa peregrinação terrena.

-Salomão, aliás, disse que a prudência é a “ciência do Santo” (Pv.9:10), ou seja, quem conhece a Cristo, o Santo (Lc.1:35), quem tem intimidade com Ele sempre será prudente.

-“Boaz” significa “nele há força”, “a força está nele”, a indicar, portanto, que era Boaz a pessoa escolhida pela Divina Providência para retirar de fez a fraqueza que havia caracterizado até então aquela família que desconsiderara a Divina Providência e que quisera uma provisão por conta própria, só encontrando “doença” (Malom) e “definhamento” (Quiliom).

-Há quem entenda que o significado de “Boaz” seja “força” ou “firmeza”, mas também se adotada esta orientação, vemos que será Boaz quem trará a força a esta família enfraquecida, como quem estabelecerá uma firmeza tal que se terá uma família que será a mais proeminente da Terra, por ser a família do Salvador, uma casa que se firmará e durará eternamente (II Sm.7:16)

-Por causa da obediência a Deus, da confiança no Senhor e da adoção dos princípios do trabalho e da humildade, Noemi e Rute haviam encontrado “a força”, que mudaria para sempre as suas vidas e histórias.

-Nós também se assim procedermos encontraremos aquele que é “Deus Forte” (Is.9:6; 10:21), Aquele que nos livra com mão forte (Ex.3:19; 13:3,9,14,16; Dt.7:19; 9:26; Js.4:24; Ne.1:10; Jr.32:21), o nosso Lugar Forte (II Sm.22:2; Sl.18:2), o Forte (Jó 9:19; Is.40:10)), o “Senhor forte’ (Sl.24:8), “Torre Forte contra o inimigo” (Sl.61:3; Pv.18:10), “Refúgio Forte” (Sl.71:7), o “Redentor Forte” (Pv.23:11; Jr.50:34), “o Forte de Jacó” (Is.49:26).

-Rute trabalhava com dedicação. Eis outra lição que nos ensina como devemos proceder se quisermos ter a provisão divina.

Não basta apenas trabalhar, mas é preciso que trabalhemos com dedicação, com ânimo, sabendo que não estamos prestando serviços a homens, mas, sim, a Deus (Ef.6:5-8), sabendo que a recompensa pelo nosso esforço vem de Deus.

-Temos de trabalhar com boa vontade, com gratidão, sabendo que tudo provém de Deus, pois tudo é d’Ele (Sl.24:1) e é mister que Lhe sejamos gratos por tudo que recebemos, pois coisa alguma é nossa, sendo apenas administradores de toda a boa dádiva que vem do Pai das luzes (Tg.1:17).

-Notamos, portanto, como é completamente equivocada e sem qualquer respaldo bíblico a denominada “doutrina da restituição”, que ensina que podemos “exigir” de Deus tudo aquilo que nos foi “tomado”, tudo aquilo que “perdemos”, porque, afinal de contas, era nosso.

-A única coisa que é nossa, exclusivamente nossa, são os nossos pecados que, quando o Senhor tira de nós, jamais voltarão, jamais serão restituídos, uma vez que o Senhor os lança no mar do esquecimento, para nunca mais se lembrar deles (Jr.31:34; Mq.7:18,19; Hb.10:17).

-A disposição de Rute era tanta que despertou a atenção de Boaz, que perguntou quem era aquela moça, tendo então lhe sido dito que era a viúva de um dos filhos de Elimeleque.

-Mas, além de identificar a linhagem da moça, o moço de Elimeleque ainda realçou a disposição de Rute, que estava a trabalhar desde a manhã, praticamente sem descanso.

-Entende Alexander Whyte que, ao tomar conhecimento disto, a consciência de Boaz o teria condenado. Eis o que afirma ele: “…Tanto o coração de Boaz, como sua consciência foram gravemente atingidos dentro dele pela resposta de seu servo. Pois Noemi era uma parente sua.

Ele tinha conhecido Noemi em dias melhores, E ele tinha ouvido falar de sua viuvez, e de seu retorno a Belém; mas ele ainda não havia ido vê-la, nem havia pedido que ela viesse vê-lo. Ele não tinha perguntado como ela conseguira viver sem marido ou filho.…” (op.cit., p.253).

-Boaz, então, já sabendo tratar-se de uma pessoa de sua família e de sua disposição, foi ao encontro de Rute e a mandou que permanecesse no seu campo, tendo, ainda, dado ordens para que ninguém tocasse nela, ou seja, que ninguém fosse se insinuar ou criar obstáculos ao seu serviço, permitindo, ainda, que tomasse água nos vasos onde bebiam os seus empregados.

Rute passou a ser tratada como se fosse uma empregada, não como uma necessitada que estava a recolher as espigas.

-Rute, então, diante de tamanha benevolência, caiu aos pés de Boaz, demonstrando gratidão e perguntando o porquê daquela atitude e, então, Boaz lhe disse que tinha sabido de sua conduta para com Noemi de como havia se submetido a viver entre os israelitas por amor a sua sogra, tendo, então, pedido a Deus que galardoasse o seu feito (Rt.2:8-12).

-Neste gesto de Boaz, vemos mais uma manifestação da Divina Providência. Por ter agido com dedicação ao trabalho, humildade e confiança em Deus, Rute alcançou a benevolência dos justos, e, mais do que isto, a intercessão de Boaz, que pediu a Deus que galardoasse a Rute e a Noemi.

-O Senhor põe à disposição dos Seus servos a intercessão e benevolência dos justos e isto é uma ação importantíssima a favor do que serve a Cristo, pois “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg.5:16 “in fine”).

-Rute agradece a Boaz e diz ter sido consolada por ele. Rute sabia, agora, que já tinha um meio de sustento, que o Senhor provera a subsistência dela e de sua sogra.

-Chegada a hora da refeição, Boaz convidou Rute a se alimentar junto com os segadores. Este gesto é de fundamental importância, pois a refeição, para os israelitas, era sagrada e uma demonstração de comunhão.

-Rute foi devidamente integrada na casa de Boaz, passando a ser considerada como uma integrante do grupo social. Como se isto fosse pouco, Boaz deu ordem a seus moços para que propositadamente deixassem cair mais espigas, para que Rute as pudesse apanhar e, deste modo, tivesse mais mantimento a levar para a sua casa.

-A Divina Providência não traz apenas o mantimento suficiente para o sustento de Rute e de Noemi, mas, também, trouxe integração social, comunhão e exercício de misericórdia por parte de Boaz àquelas mulheres.

-Nosso Deus continua sendo o mesmo: quando Lhe somos fiéis e cumprimos a Sua Palavra, Ele movimenta pessoas e circunstâncias a nosso favor. Basta que entreguemos nosso caminho ao Senhor e Ele tudo fará (Sl.37:5).

-Rute trabalhou o dia todo, depois debulhou o que apanhou, o que dava praticamente um efa de cevada, cerca de 36 quilos! Que mulher trabalhadora! Que bênção!

-Noemi logo percebeu não só a dedicação da sua nora, mas também a benevolência do dono do campo, perguntando, então, de quem se tratava.

-Vemos aqui que Noemi, embora “amarga”, não era uma pessoa alheia ao que acontecia nem que tivesse perdido a esperança. Como afirma Alexander Whyte:

“…Mas não se deve pensar em Noemi como uma cana quebrada.

Você não deve imaginar Noemi para si mesmo como uma mulher cujo espírito foi total e irrecuperavelmente esmagado.

A viuvez de Noemi, e a falta de filhos a ela acrescentada, não era a borra de sua vida. Não foram poucos anos de amargura, e de mau humor, e de apatia, e de tristeza ostensiva. Não! Noemi está cheia de experiência e cheia de recursos. Ela conhece o mundo. Ela conhece o coração de todos os homens e mulheres a seu respeito.

Ela conhece a maneira correta de agir, e o tempo certo de falar; viuvez, sem filhos e pobreza, e tudo mais. Com uma rara e delicada adivinhação de como eram as coisas entre Boaz e Rute; conhecendo seu parente e sua parentela melhor do eles próprios conheciam, Noemi bateu no ferro em brasa com o golpe certo e no momento certo.

A idade e a experiência têm seus privilégios e suas oportunidades, e Noemi possuía tanto a idade quanto a experiência, e as empregou para se dedicar ao assunto de Boaz e Rute.…” (op.cit., p.252).

-Ao vermos esta análise da atitude de Noemi, não há como não nos lembrarmos do apóstolo Paulo que, em defesa do seu apostolado diante dos coríntios, não hesitou em afirmar que somos vasos de barro, ainda que tenhamos a luz de Cristo em nós, este tesouro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós e, por isso mesmo, dizia o apóstolo, em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos, trazendo por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos (II Co.4:7-10).

-As adversidades têm um efeito pedagógico para o servo de Deus, pois fazem com que entendamos que somos dependentes do Senhor e, por meio das dificuldades, ganhamos experiência n(Rm.5:3-5) e se faz necessário, para sermos maduros na fé, que sejamos experimentados para podermos discernir entre o bem e o mal (Hb.5:13,14).

-Noemi não deixara de ser esta serva de Deus experimentada e já pôde perceber, no primeiro dia mesmo da respiga, que o Senhor já estava a agir e, deste modo, pôde, com esta visão espiritual, bem orientar sua nora Rute.

-Ao saber que era Boaz, Noemi reconheceu a benignidade divina e teve a convicção de que não tivera confiado em Deus em vão, tendo, então, revelado a Rute o fato de Boaz ser um dos remidores da família. Noemi orientou

Rute a que continuasse trabalhando naquele campo e ela assim o fez tanto na sega da cevada quanto na sega do trigo.

-Noemi fez questão de mostrar a Rute como Deus já estava a agir; “…Bendito seja do Senhor, que ainda não tem deixado a Sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos…” (Rt.2:20).

-Nesta expressão de Noemi vemos que, em momento algum, a memória de Elimeleque, Malom e Quiliom eram atingidos pela viúva que, a olhos humanos, teria todos os motivos do mundo para amaldiçoar aqueles que, por terem desprezado o Senhor, levaram-na àquela situação de desamparo.

-Noemi, porém, era uma mulher virtuosa e as Escrituras nos ensinam que uma mulher deste jaez faz bem ao seu marido todos os dias da sua vida (Pv.31:12). Elimeleque havia morrido, mas Noemi ainda estava viva e lhe cumpria fazer bem a seu marido, honrando a sua memória.

-Não nos esqueçamos quem, com a remição da família, a memória de Elimeleque seria resgatada, a família como que “ressuscitaria”, passar-se-ia da morte para a vida, independentemente da conduta que havia sido cometida por ele e que, inclusive, havia lhe trazido a morte.

-Noemi reconhecia que o Senhor queria, inclusive, resgatar o nome daqueles que Lhe haviam deixado, porque, acima de tudo, havia o compromisso divino de salvar a humanidade.

-Temos preservado a honra e a dignidade de nossos familiares e, por conseguinte, de nossa família? Ou, lamentavelmente, somos os primeiros a desnudar as mazelas e a violar a intimidade dos nossos lares? Pensemos nisto!

-Um servo de Deus não é instrumento de maldição nem tampouco de difamação do próximo, mais ainda de um familiar, pois temos o dever de atender primeiro aos de nossa família e, se não o fizermos, seremos piores que o infiel (I Tm.5:8).

-Ao saber que Boaz era um de seus remidores, Rute, então, contou a Noemi que ele havia dito para que continuasse a segar na sua propriedade e, ante esta proposta, Noemi, vendo aí a chance da remição, disse para que Rute atendesse a esta proposta, pois “Melhor é, filha minha, que saias com suas moças, para que noutro campo não te encontrem” (Rt.2:22).

-Neste conselho de Noemi, vemos claramente o que afirma Alexander Whyte: “…Ela [Noemi, observação nossa] ensinou às jovens moabitas a ser sóbria, a amar seus maridos, a amar seus filhos, a ser discreta, casta e a manter a casa. Em resumo, ela as ensinou a ser esposas e mães em Moabe, como as esposas e mães em Israel.

Tenho certeza de que não estaremos muito enganados em rastrear grande parte da coragem, devoção, extraordinária lealdade e amor requintado de Rute, não tanto pela escola de Noemi, mas pelo seu exemplo…” (op.cit., p.251).

-Uma vez tendo havido a ação divina, devia Rute manter-se no lugar mostrado por Deus. Nada de ir para “outro campo”.

Devemos permanecer onde Deus nos pôs, pois é ali que alcançaremos a bênção.
-Rute havia se mostrado disposta ao trabalho, humilde e confiante em Deus, mas não tinha qualquer direito, privilégio ou o que reivindicar naquela situação. Estava totalmente à mercê da boa vontade dos belemitas.

-Esta é a situação de cada um de nós diante de Deus. Somos pecadores e estamos destituídos da glória de Deus (Rm.3:23) e, portanto, nada merecemos senão a morte, pois este é o salário do pecado (Rm.6:23).
-Entretanto, quando invocamos o nome de Senhor, damos crédito à Sua Palavra, Ele vem como “o Forte”, ao nosso encontro e, a exemplo de Boaz, demonstra benevolência, encorajando-nos a que prossigamos em nosso intento de arrependimento e confissão dos pecados.

-Diante deste nosso gesto de confiança e de obediência, pois Rute obedeceu a Boaz e continuou a segar em seu campo, o Senhor, então, põe-nos em comunhão com Ele, assim como Rute pôde participar das refeições com os servos de Boaz.

-Trabalhando “no campo de Boaz”, Rute foi agraciada, sem o saber, por mais um gesto de benevolência, pois houve uma ordem para que deixassem ainda mais espigas para que Rute pudesse colhê-las.

-Uma vez iniciando o trabalho no campo do Mestre, desfrutando da Sua comunhão, passamos, também, a receber d’Ele bênçãos, pois, quem está nos lugares celestiais em Cristo recebe todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3).

-O encontro de Boaz com Rute tipifica, deste modo, esta boa vontade divina para com cada ser humano, a graça de Deus, este favor imerecido, que se manifestou a todos os homens trazendo salvação (Tt.2:11).

-A graça veio por Jesus Cristo (Jo.1:17). Esta boa vontade para com os homens veio por Cristo, como bem anunciaram os coros angelicais no dia do Seu nascimento (Lc.2:14).

-Rute, porém, só se encontrou com Boaz porque creu no Deus de Israel, deixou Moabe e veio para Belém, como também se submeteu aos mandamentos divinos, demonstrando amor, que a levou à disposição ao trabalho e à humildade, honrando sua sogra em todo o tempo.

-Se assim procedermos, certamente teremos o mesmo destino de Rute, não só tendo o sustento, mas obtendo a própria remição, como veremos na próxima lição.

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10704-licao-4-o-encontro-de-rute-com-boaz-i

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