LIÇÃO Nº 4 – QUANDO A CRIATURA VALE MAIS QUE O CRIADOR
INTRODUÇÃO
-Na sequência dos embates entre a Igreja de Cristo e o império do mal, analisaremos hoje o secularismo.
-O mundo despreza o Senhor
I – A CEGUEIRA ESPIRITUAL DO MUNDO
-Na sequência do estudo dos embates entre a Igreja de Cristo e o império do mal, analisaremos a desconsideração que há, no mundo, com relação ao Senhor.
-O diabo, príncipe deste mundo, pecou precisamente porque, na sua soberba, quis ficar acima de Deus.
Na sua expressão: “Subirei acima das altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is.14:14), vemos que seu objetivo era ter independência de Deus, acima do próprio Senhor, como se pudesse viver sem o seu Criador.
-Pois bem, este mesmo sentimento ele buscou incutir no primeiro casal, ao dizer a Eva que, se ela comesse do fruto da árvore da ciência do bem e do mal “seria como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn.3:5 “in fine”) e a mulher, e posteriormente o homem, creram nesta mentira, tanto que viu naquela árvore uma “árvore desejável para dar entendimento” (Gn.3:6).
-Conseguiu, portanto, o inimigo criar no ser humano este desejo de independência em relação ao Senhor, um verdadeiro desprezo com relação ao Criador.
Este mesmo desejo se percebe em Caim, que não quis se submeter a Deus (Gn.4:5,9) nem creu que o Senhor pudesse perdoá-lo (Gn.4:13), fazendo-se, assim, “senhor de seus próprios atos”, o “dono da verdade”, tanto que optou por sair da presença do Senhor (Gn.4:16).
-A civilização caimita, aliás, é um exemplo claro do que é o mundo dominado por Satanás, este sistema que está no maligno (I Jo.5:19), porque nela vemos como todo o desenvolvimento promovido pela criatividade humana só serve para que se aumente o pecado e a maldade, trazendo a corrupção generalizada da humanidade.
-Assim é que, ao mesmo tempo que vemos a edificação de uma cidade, o surgimento das tendas, da criação do gado, da música, da metalurgia, também contemplamos a imoralidade, o desprezo para com a monogamia, o aumento da violência, a desestruturação familiar e toda a situação que levou à destruição daquela geração pelo dilúvio.
-O apóstolo Paulo bem explica esta situação a nos dizer que o diabo, que ele chama de “deus deste século”, chegou os entendimentos dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (II Co.4:4).
-O homem, ao ceder à tentação do inimigo e pecar, fica sendo escravo do pecado (Jo.8:34), passa a habitar em “trevas espirituais” (Jo.1:5) e o adversário cega seu entendimento, de modo que ele não mais consegue ver o reino de Deus, não consegue mais contemplar a glória divina, da qual é destituído precisamente por causa da prática do pecado (Rm.3:23).
-Por não crer em Deus, o homem não consegue ver o Seu reino (Cf. Jo.3:3), não consegue compreender que o Senhor fez todas as coisas, que o Verbo é Deus, que em Deus está a vida e a vida é a luz dos homens (Jo.1:1-4).
-O homem não consegue ver nem compreender a realidade espiritual, a eternidade, o que há além dos sentidos físicos e, desta maneira, apenas observa o que há “debaixo do céu”, dedicando-se tão somente a esquadrinhar e a informar-se da vida terrena, da natureza (Ec.1:13),
o que traz um maior domínio acerca dos fenômenos naturais, mas nada significa em termos de eternidade e do que está reservado para os seres humanos para além desta peregrinação terrena.
-Este estado é o que podemos denominar de “cegueira espiritual”, pois o homem não vê o reino de Deus, não compreende as coisas relacionadas ao Senhor, o que o apóstolo denomina de “coisas de cima” (Cl.3:2), voltando-se tão somente para “as coisas da terra”.
-Apesar de a natureza e a própria consciência humana revelarem o Criador e Seu eterno poder (Rm.1:20; 2:14,15) e, por isto mesmo, não poderá homem algum alegar que não tinha tido como conhecer a Deus e tributar-Lhe a devida adoração, o fato é que a incredulidade na Palavra de Deus faz com que o homem peque e se torne participante desta cegueira espiritual, de modo que é alvo de discursos vãos, criados pela mente dominada pelo pecado, que faz com que haja o obscurecimento do coração insensato do ser humano, que não consegue contemplar as “coisas de Deus”.
-Aliás, é este o mesmo estado em que se encontra o príncipe deste mundo que, embora tenha perfeita noção da existência de Deus e de Seu poder, tanto que os demônios estremecem (Tg.2:19), também não compreende as coisas de Deus, mas tão somente as dos homens (Mt.16:23).
-Esta concepção do mundo única e exclusivamente por conta das “coisas da terra”, que desconsidera completamente as “coisas de Deus”, voltada para o que se costuma chamar de “século”, ou seja, aquilo que é passageiro, que é submetido ao tempo, é o que se denomina de “secularismo”, que é precisamente uma das notas marcantes do “império do mal”.
-Sem a perspectiva da eternidade, não crendo na própria realidade espiritual, o homem é facilmente iludido pelas coisas desta vida, passa a ter o seu objetivo única e exclusivamente nesta vida terrena. Por isso, o Senhor Jesus disse que os gentios, ou seja, os incrédulos procuram apenas o comer, o beber e o vestir (Mt.6:31,32).
-Por isso, buscam satisfazer estas suas necessidades básicas para a existência terrena, não tendo qualquer outra finalidade ou propósito senão “viver bem sobre a face da Terra”, esquecendo-se de terão uma eternidade a enfrentar.
-O secularismo impõe uma existência em que não se indaga nem se perquire sobre qual é o propósito da existência, qual é a vontade de Deus para o ser humano, vivendo como se Deus não existisse.
– Este obscurecimento do coração insensato faz com que se tenha uma verdadeira ignorância do ponto-de-vista espiritual, a tal ponto que a afirmação de que Deus não existe é considerada pelo salmista como um “certificado de ignorância” (Sl.14:1; 53:1).
-Este estado de trevas espirituais tem como consequência direta a prevalência da criatura sobre o Criador.
Na medida em que não se glorifica a Deus apesar de tê-l’O conhecido como tal por meio da natureza e da consciência, o que nada mais é que a manifestação da incredulidade, tem-se que o raciocínio humano é envolto pelo obscurecimento e, em virtude disto, o homem passa a valorizar a criatura em lugar do Criador.
-Se formos bem analisar a questão, não há outro caminho. O homem necessita ter um relacionamento com o seu Criador, foi criado assim, para manter comunhão com Deus e, como desconsidera e despreza o Senhor, não lhe resta senão dirigir esta sua necessidade de comunhão com o seu Criador para as criaturas, que são os únicos seres que restam, na medida em que despreza a Deus.
-Por isso, dizendo-se sábios, os homens se tornam loucos e mudam a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, aves, quadrúpedes e répteis (Rm.1:22,23), nascendo aí a idolatria e as manifestações das milhares e milhares de religiões que já surgiram ao longo da história da humanidade.
-Temos aqui a primeira valorização demasiada da criatura, quando ela é divinizada, considerada como um deus, tomando, assim, o lugar do Senhor.
É a idolatria, que começa com a própria divinização do ser humano (parece ter sido assim a primeira manifestação da idolatria em Babel, com a divinização de Ninrode, sua esposa Semíramis e seu filho Tamuz) e depois, na sequência da cegueira espiritual, atinge também outras criaturas, como aves, quadrúpedes, répteis e até seres imaginários.
-Esta supervalorização da criatura e o uso de ídolos, que são as representações físicas destas supostas divindades (ou semidivindades), faz com que os homens se ponham sob a influência dos demônios, pois, como bem esclarece o apóstolo Paulo, por detrás dos ídolos está a ação de espíritos malignos (I Co.10:20,21).
-Na idolatria, portanto, tem-se uma atividade demoníaca que mantém o homem na sua cegueira espiritual e o distancia ainda mais do único Deus verdadeiro. Assim, a adoração a Satanás e a seus anjos se apresenta como mais um aprofundamento desta ação desastrosa para o ser humano.
-A divinização das criaturas, pois, é o caminho para que se tenha a própria adoração do diabo e, quando notamos o crescimento que tem tido o satanismo em nossos dias, bem como terá ele destaque no período da Grande Tribulação (Ap.13:4), bem percebemos como estamos próximos do arrebatamento da Igreja e como urge estarmos alerta para que não sejamos surpreendidos e deixemos de escapar deste tempo tão angustioso que se avizinha.
-A divinização das criaturas gera deuses que possuem os mesmos defeitos dos seus adoradores, porque as divindades são criadas à imagem e semelhança dos seres humanos.
O filósofo grego Xenófanes de Colofão (560-478 a.C.) chegou a esta conclusão ao afirmar: “Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo aquilo que para os homens é objeto de vergonha e baixeza: roubar, praticar adultério e enganar-se… os mortais consideram que os deuses nasceram, e que possuem roupas, vozes e corpos como os seus… os Etíopes acreditam que seus deuses possuem narizes achatados e que são negros;
e os Trácios que os seus deuses possuem olhos azuis e cabelo vermelho… mas se os bois, cavalos e leões tivessem mãos e soubessem desenhar… os cavalos desenhariam figuras de deuses semelhantes a cavalos, os bois semelhantes a bois.”
-Se os deuses são como os seus adoradores, há como que uma confirmação da suposta correção da vida levada pelos seres humanos no mundo, há como que uma “normalização” das condutas pecaminosas e o resultado disto é que se tem uma justificativa, uma desculpa para a prática do pecado, uma vez que os deuses também pecam e, deste modo, há um aprofundamento da prática do mal.
-A mudança da verdade de Deus em mentira e a honra e serviço às criaturas e não ao Criador leva a um afastamento ainda maior do Senhor e da santidade, a ponto de se chegar a um nível de total domínio da concupiscência, ao que o apóstolo Paulo chama de imundícia, com a desonra do próprio corpo humano.
-A idolatria traz, assim, consigo, a prática da lascívia, da prostituição, da imoralidade sexual, com o total desprestígio do próprio ser humano, que passa a ser visto como mero objeto do prazer alheio.
Há um total desenfreamento dos desejos e das paixões e um distanciamento tão grande de Deus que as Escrituras afirmam que Deus os entrega às concupiscências do seu coração e à imundícia (Rm.1:24,25).
-Não é de se surpreender, portanto, que, nas civilizações antigas, dominadas pela idolatria e por este estado de coisas, tenham relatos e notícias, pela história, da total devassidão moral por que passavam aquelas gentes e a total desconsideração da pessoa humana enquanto tal.
Eram civilizações onde imperava a crueldade, a violência, a imoralidade, a escravidão e tantas outras mazelas que só seriam retiradas ou grandemente amenizadas com a chegada a estes povos do Evangelho a partir da cristianização vivida pelo Império Romano e que, inclusive, deu fim à Antiguidade.
-Hoje muitos se orgulham de dizer que estamos a viver o “pós-cristianismo”, ou seja, que entramos em uma “Nova Era”, onde os princípios e valores cristãos foram superados.
Esta superação, entretanto, nada mais que é o retorno ao tempo anterior ao Cristianismo, a retomada do desenfreamento do pecado e da maldade sem o freio da doutrina cristã.
-Na idolatria, o que se tem é a criação de deuses que, além de serem imagem e semelhança de seus adoradores, estão a serviço dos próprios adoradores, e, bem por isso, o que se tem é a autolatria, onde o homem pensa ter domínio inclusive sobre os deuses, onde a sua vontade é satisfeita, onde é possível a manipulação das divindades segundo os seus próprios caprichos.
-Tem-se, assim, que os deuses estão, na verdade, a serviço do suposto adorador, cuja vontade é a que realmente prevalece. Há, portanto, um antropocentrismo, pois o que se tem, na verdade, é o próprio homem como centro, numa manifestação de soberba idêntica a demonstrada por Satanás quando de seu pecado.
-É esta a lógica das religiões idolátricas, em que os ídolos são “agradados” para favorecerem os seus “adoradores”. Trata-se de um “toma-lá-dá-cá”, que, aliás, é a mesma linha de pensamento adotada pela
“teologia da prosperidade” e pela sua coirmã, a “teologia da confissão positiva”, mais um elemento a comprovar como estas duas “teologias” são falsos ensinos.
-Como afirma o padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior: “…Enquanto no cristianismo o homem crê que Deus é o Senhor e que deve estar a serviço d’Ele, no paganismo é justamente o contrário: Deus é que está a serviço do homem.
E cada vez mais novas ‘fórmulas’ são apresentadas para que Deus Se torne como que escravo do homem e atenda a todos os seus caprichos.…” (Teologia da prosperidade? Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/teologia-da-prosperidade Acesso em 18 maio 2023).
-Tem-se, portanto, uma inversão e o homem passa a ser o centro de todas as coisas, a sua vontade passa a ter prevalência, não havendo qualquer consideração do que seja a vontade de Deus.
-Por isso, a idolatria gera toda a sorte de pecados pois, em tornando o homem como centro de todas as atenções, leva ao desenfreamento dos instintos, à concupiscência, que é o desejo incontrolado e que gera o pecado (Tg.1:14,15).
-Esta busca de imposição da própria vontade em detrimento da vontade de Deus leva à feitiçaria. A palavra “feitiço” vem da raiz faz-, de onde vem a palavra latina “facticĭus ‘artificial (oposto a natīvus), cultivado, trabalhado’, depois ‘criado no todo, inventado’, panromânico: logd. fattittu, fr.ant. faitiz, provç.fachitz, esp. hechizo, port. feitiço…”.
“Feitiço” é, pois, algo proveniente do homem, a quem cabia “cultivar o Éden”, mas cujo objetivo era o de manipulação das forças espirituais, como se o homem pudesse fazê-lo.
-Feitiçaria é, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “utilização de hipotéticas forças mágicas, com finalidade divinatória e intenções malfazejas”, é a suposta possibilidade de manipulação das forças espirituais.
-Não é por outro motivo que as Escrituras dizem que a rebelião é como pecado de feitiçaria (I Sm.5:23), pois a feitiçaria é mais uma manifestação de rebelião, em que o homem se põe no lugar de Deus, dizendo poder manipular as forças espirituais, diz ter o próprio controle sobre o universo.
-Não é por acaso que o Senhor, ao entregar a lei a Israel, põe como primeiro mandamento nas tábuas precisamente a proibição da idolatria:
“Não terás outros deuses diante de Mim” (Ex.20:3; Dt.5:7) e que o primeiro e grande mandamento da lei seja o de amar o Senhor Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o pensamento (Mt.22:37), o que significa reconhecer o Seu senhorio, tanto que a profissão de fé do israelita é “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt.6:5), até porque a vida eterna é conhecer ao Pai por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem o Pai enviou (Jo.17:3).
-O mundo, portanto, descumpre este princípio básico e põe a criatura em lugar do Criador, passando o homem acreditar ser o centro de todas as coisas mas, em seus desvarios e ilusões, na verdade é levado a pecar cada vez mais, sendo escravizado pelo pecado e levado, conscientemente ou não, a adorar ao príncipe deste mundo.
II – AS CONSEQUÊNCIAS DA CEGUEIRA ESPIRITUAL DO MUNDO
-Verificada no que consiste a cegueira espiritual do mundo, tem-se que esta atitude gera diversas consequências.
-Já vimos que a divinização da criatura leva à idolatria e a idolatria causa o domínio da concupiscência e o afastamento de Deus a tal ponto que o Senhor deixa os homens se entregarem à prostituição, imoralidade e desenfreamento de seus instintos.
-Temos, então, o surgimento de diversos comportamentos que trazem imensas dificuldades para a vida terrena dos incrédulos e que, logicamente, influencia os que servem ao Senhor mas estão neste mundo.
-O primeiro deles é a egolatria. Vimos que o homem se ilude pensando ser o centro de todas as coisas, em condições até de manipular os deuses que, afinal de contas, são frutos de sua própria imaginação. Tem-se, assim, uma verdadeira egolatria, ou seja, cada indivíduo, achando-se senhor de si mesmo, adora o pior de todos os ídolos que é ele próprio, o seu “eu”.
-A egolatria traz, como consequência direta, o “amor de si mesmo” e, em virtude disto, os relacionamentos são sensivelmente prejudicados, pois as pessoas pensam única e exclusivamente em se satisfazer, em prevalecer sobre os demais, em serem servidos pelos outros, em terem o domínio sobre o próximo.
-O apóstolo Paulo mostra bem a consequência de os homens serem amantes de si mesmo, ao dizer que este amor de si mesmo gera avareza, presunção, soberba, blasfêmia, desobediência a pais e mães, ingratidão, profanidade, ausência de afeto natural, irreconcialiabilidade, calúnia, incontinência, crueldade, desamor para com os bons, traição, obstinação, orgulho, amizade aos deleites superior a amizade com Deus (II Tm.3:2-4).
-Porventura não é exatamente que vemos imperando no mundo? O amor de si mesmo leva à completa deterioração dos relacionamentos entre os homens, visto que não é possível amarmos o próximo se não amamos a Deus (I Jo.4:20,21).
-O segundo deles é o amor ao dinheiro. Já se viu que a primeira consequência da egolatria é a avareza, que nada mais é que se ter o dinheiro como um deus (Cl.3:5) e o senhor Jesus foi bem claro ao afirmar que quem ama as riquezas não ama a Deus (Mt.6:24).
-O amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10) e, quando não se tem qualquer visão da eternidade, a posse dos bens materiais passa a ser o objetivo de todos, até porque as riquezas fornecem poder e prevalência da própria vontade, é um instrumento para que o “eu” venha a se sobressair em seus desejos incontrolados.
-Bem por isso existe uma conhecida frase na língua inglesa, a saber: “money makes the world go around”, ou seja, “o dinheiro faz o mundo girar”.
O homem incrédulo, sem visão espiritual, ajunta tesouros neste mundo, que é o único que consegue ver, mal sabendo que tais riquezas, como tudo no mundo, são efêmeras e podem, de uma hora para outra, faltar (Mt.6:19; Lc.12:13-21; I Tm.6:17).
-Este amor ao dinheiro, como disse o apóstolo, é a raiz de toda espécie de males e estão aí todas as grandes mazelas do nosso tempo totalmente vinculadas a isto, como o tráfico de armas, tráfico de drogas, tráfico de mulheres e indústria do sexo, a concentração de renda, só para ficarmos nos exemplos mais gritantes.
-O terceiro deles é o aviltamento da pessoa humana. Paulo afirma que, no aumento da idolatria, temos a permissão divina para que os homens se entreguem à concupiscência e daí advém o que o texto sagrado chama de “desonra do corpo entre si” (Rm.1:24).
-Esta desonra do corpo se, num primeiro momento, pode nos levar à imoralidade e toda espécie de perversão sexual, contém em si algo mais profundo e amplo do que só este aspecto.
Isto porque, com a egolatria e o amor ao dinheiro, tem-se a total desconsideração da pessoa humana enquanto tal e os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus e dotados de dignidade precisamente por conta deste fator, passam a ser considerados como meros instrumentos para satisfação das vontades de cada indivíduo, são tidos como meros objetos de satisfação, não só no aspecto sexual, mas, também, em todos os relacionamentos.
-O próximo é visto como um mero objeto, como alguém que somente serve para a satisfação do “eu”. Não é à toa que os homens são considerados como mercadorias, e as últimas da lista na Babilônia (Ap.18:11-13).
-O amor às riquezas e aos bens materiais faz com que o “ter” prevaleça sobre o “ser” e, por isso mesmo, em Babilônia, as pessoas não choram por causa do sofrimento ou das misérias do próximo, mas, única e exclusivamente, porque há perdas materiais, porque ninguém mais compra as suas mercadorias (Ap.18:11).
-Recentemente, pude ouvir de um guia turístico que mostrava a todos o Coliseu de Roma uma frase muito elucidativa. Disse ele que o Coliseu era a mais pura demonstração do que é uma civilização onde a vida não vale nada.
Ora, esta civilização que deu origem ao Coliseu, o Império Romano, é a mesma civilização anticristã que persiste até hoje, até porque, como nos mostra o sonho de Nabucodonosor revelado a Daniel e por ele interpretado, Roma nada mais era que as pernas de ferro que depois se desdobrava nos pés em parte de ferro e em parte de barro (Dn.2:32).
-Em nossos dias, não é diferente. Os seres humanos têm sido cada vez mais aviltados, embora se diga que tenham dignidade em documentos internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tanto é assim que, muito propriamente, o ex-chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, João Paulo II, disse haver uma “cultura de morte” imperando neste mundo.
OBS: “…Com efeito, se muitos e graves aspectos da problemática social actual podem, de certo modo, explicar o clima de difusa incerteza moral e, por vezes, atenuar a responsabilidade subjectiva no indivíduo, não é menos verdade que estamos perante uma realidade mais vasta que se pode considerar como verdadeira e própria estrutura de pecado, caracterizada pela imposição de uma cultura anti-solidária, que em muitos casos se configura como verdadeira « cultura de morte ».
É activamente promovida por fortes correntes culturais, económicas e políticas, portadoras de uma concepção eficientista da sociedade.…” (EVANGELIUM VITAE, n.12. 25 mar. 1995. Disponível em https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25031995_evangelium-vitae.html Acesso em 18 maio 2023).
-Tanto assim é que, cada vez mais, encontram apoio, estímulo e aprovação medidas como o aborto, a eutanásia, o suicídio assistido, sem se falar na disseminação do uso de drogas e do aumento da prostituição e da perversão sexual, que levam ao mais completo aviltamento das pessoas para a satisfação da lascívia alheia.
-Assim, dentro do engano promovido pelo príncipe deste mundo (Ap.12:9), em nome de uma “prevalência do homem”, de uma “plena liberdade do ego”, tem-se, na verdade, a mais completa desconsideração e destruição do ser humano enquanto tal, que, de imagem e semelhança de Deus, passa a ser apenas um objeto e uma mercadoria completamente desvalorizada e desqualificada no mundo.
OBS: Vale a pena ainda transcrever outro trecho da encíclica “Evangelium vitae” de João Paulo II: “…as raízes da contradição que se verifica entre a solene afirmação dos direitos do homem e a sua trágica negação na prática, residem numa concepção da liberdade que exalta o indivíduo de modo absoluto e não o predispõe para a solidariedade, o pleno acolhimento e serviço do outro.
Se é certo que, por vezes, a supressão da vida nascente ou terminal aparece também matizada com um sentido equivocado de altruísmo e de compaixão humana, não se pode negar que tal cultura de morte, no seu todo, manifesta uma concepção da liberdade totalmente individualista que acaba por ser a liberdade dos « mais fortes » contra os débeis, destinados a sucumbir.…” (op.cit. n.19).
-Consegue, assim, o adversário, pois, atingir o seu objetivo que outro não é senão o de matar o maior número possível de seres humanos, porque é homicida deste o princípio (Jo.8:44).
III – COMO ENFRENTAR A CEGUEIRA ESPIRITUAL
-A Igreja de Cristo é a “luz do mundo” (Mt.5:14) e, como tal, tem o papel de trazer ao mundo o resplendor da luz do evangelho da glória de Cristo (II Co.4:4). Deste modo, a Igreja tem esta missão de fazer dissipar as trevas espirituais em que o mundo se encontra.
-Ora, sabemos que a luz dissipa as trevas e que, portanto, aonde a Igreja chega, as trevas desaparecem e as pessoas passam a ter fé em Jesus, porque o estado de escuridão espiritual somente se dá quando há a incredulidade (Cf. II Co.4:4).
-Desta maneira, o primeiro papel que cabe à Igreja é o de incentivar e estimular a fé em, Jesus Cristo e isto se faz mediante a pregação do Evangelho, porque ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, pois o justo viverá pela fé (Rm.1:16,17), já que a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17).
-A fé não é estática, mas algo que se desenvolve como o grão de mostarda (Mt.17:20; Lc.17:6) e, por isso, a Igreja de Cristo deve viver de “fé em fé”, buscando sempre o conhecimento das Escrituras e do poder de Deus (Mt.22:29), pois, com o crescimento da fé, diminui a incredulidade e, com isso, avança o Evangelho com a salvação das almas e seu resgate das trevas e do poder de Satanás.
-Neste passo, vê-se como a Igreja deve se dedicar tanto ao conhecimento das Escrituras quanto à busca do poder de Deus.
Lamentavelmente, o que temos visto é o contrário: o aumento da iniquidade é que tem influenciado os que cristãos se dizem ser que, deixando uma vida devocional, acabam adotando o modo de viver do mundo, o que leva a um esfriamento espiritual (Cf. Mt.24:12).
-Outro elemento a ser enfrentado pela Igreja de Cristo é o da submissão a Deus. Jesus diz que devemos aprender d’Ele que é manso e humilde de coração (Mt.11:29). Diante disto, não podemos deixar de verificar que a Igreja precisa ser este corpo manso e humilde de coração.
-Sendo mansos de coração, submetemo-nos e obedecemos ao Senhor. A Igreja, portanto, glorifica a Deus, pois esta é a sua principal função, como bem afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, “in verbis”:
“…Entendemos que a função primordial da Igreja é glorificar a Deus: “quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (I Co.10:31).
Isso é feito por meio da adoração, da evangelização, da edificação de seus membros e do trabalho social. A Igreja foi eleita para a adoração e louvor da glória de Deus [Ef.1:11-12] …” (DFAD XI.6, p.122).
-Ao glorificarmos a Deus, reconhecemos que Ele é o Criador, que nosso alvo é fazer a vontade d’Ele, pois é assim que alcançaremos a eternidade (I Jo.2:17). A Igreja mostra que há um alvo a ser perseguido, que vai além da existência terrena (Fp.3:13,14,20,21; I Ts.1:9,10), que existe uma “pátria celestial” (Hb.11:16).
-A mansidão leva ao reconhecimento do senhorio de Deus e, sob tal prisma, não há como prevalecer-se a soberba e a ideia de independência, pois a recusa a glorificação ao Senhor é que gera o desvanecimento do discurso e ao obscurecimento do coração insensato, que lança o homem na cegueira espiritual.
-Jesus é o exemplo a ser seguido que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas humilhou-Se a Si mesmo, assumiu a forma de Servo e, como tal, humilhou-Se, sendo obediente até à morte e morte de cruz (Fp.2:5-8).
-Nós temos de ter a consciência de que somos meros homens (Sl.9:20), não temos nem do que nos aniquilar, mas assumir a nossa própria insignificância e servirmos a este Deus que tanto nos ama e que nos dá a oportunidade de cremos n’Ele e mudarmos de direção em nossa existência, deixando as trevas e vindo para a luz.
-A mansidão, como vimos, leva-nos à humildade, à assunção da nossa condição de servos do Senhor, de nos amoldarmos à Sua vontade e a realizarmos a cada instante de nossa existência. Devemos nos humilhar debaixo da potente mão de Deus (I Pe.5:6), atender a vocação com que fomos chamados pelo Senhor (I Co.7:20).
-O Senhor Jesus disse que virá buscar o servo fiel e prudente constituído pelo Senhor sobre a Sua casa para dar sustento a Seu tempo (Mt.24:45).
Por isso, devemos sempre assumir a condição de servos, estarmos prontos a ter a Deus como único Senhor, como Aquele a quem devemos obedecer sem qualquer questionamento, pois, assim, fazendo, daremos testemunho de que estamos a agradar a Deus e isto servirá de fator a levar muitos para Cristo, pois precisamos ser testemunhas do Senhor (At.1:8).
-Precisamos mostrar que somos “novas criaturas” (II Co.5:17; Gl.6:15), pois, assim fazendo, resplandecendo como astros no mundo, como filhos de Deus inculpáveis, irrepreensíveis e sinceros no meio de uma geração corrompida e perversa (Fp.2:15),
refletindo , como um espelho, a glória do Senhor, transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor (II Co.3:18), levemos as pessoas a enxergar a luz do evangelho da glória de Cristo e, crendo no Senhor Jesus, abram os olhos e das trevas se convertam à luz e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em Cristo (At.26:18).
-Temos cumprido este papel? Pensemos nisto!
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9351-licao-4-quando-a-criatura-vale-mais-que-o-criador-i